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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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sábado, 8 de fevereiro de 2020

A bolha da Bolsa trumpista? Vai estourar antes ou depois de novembro? - Thomas I. Palley (The Globalist)

A US Stock Market Boom is Not the Basis of Shared Prosperity

The U.S. addiction to stock price inflation is rooted in an illusion. It is promoted by Donald Trump, Wall Street, the Fed and mainstream economists.

The Globalist, February 4, 2020

The United States is currently enjoying another stock market boom. If history is any guide, it may well end in a bust. In the meantime, the boom is having a politically toxic effect. Donald Trump uses it to make the case for his reelection in the fall.
But his argument, at a minimum, requires a big leap of faith. Trump’s assertion – that a stock market boom is the basis for shared prosperity – is just that, an assertion. It certainly hasn’t led to any broad-based prosperity. The beneficiaries are the happy few at the top of the U.S. economic pyramid.

Galbraith’s “bezzle”

Anyone who ever read John Kenneth Galbraith’s The Great Crash 1929, his 1954 classic, has run across Galbraith’s idea of the “bezzle.” In addition to Ponzi schemes, Galbraith’s bezzle also captures the dynamic of speculative bubbles.
Those bubbles are a form of fraud we collectively inflict on ourselves. Investors buy in believing they will be able to sell at a higher price, and their purchases drive up prices and attract new investors who hope to jump on the price appreciation band wagon.
The bubble continues until belief in ever higher prices is punctured, whereupon buyers evaporate and the bubble implodes. Once again, all feel richer along the way.
Today’s stock market increasingly has the smell and feel of another bezzle. That smell is metaphorically rather perfectly reflected in President Trump who has all the integrity of a con man.
Better yet, Trump’s business history, in addition to reliance on funding from suspect sources, is marked by serial bankruptcies.

The Fed as stock market booster

Trump has also managed to use the presidential bully pulpit to cajole the U.S. Federal Reserve into further inflating asset prices by enjoining it to lower interest rates.
In addition to directly impacting asset pricing, the Federal Reserve has given a green flag for speculative buying. In that process, it has strengthened beliefs that it stands ready to guarantee stock prices, via the so-called “Powell put.”
That put is an amplification of the prior “Bernanke put,” which was in turn an amplification of the “Greenspan put” which launched the Federal Reserve’s commitment to stock prices.
To be honest, it did not take much cajoling from Trump as the Federal Reserve has evidently learned little from the past 35 years of serial asset price bubbles.
Furthermore, the composition of its current Board of Governors leans strongly toward Wall Street. Moreover, all of the Fed’ Board members have a strong personal interest in higher U.S. stock market prices from which they each stand to gain.

Mainstream economists as stock market boosters

This already artful policy pyramid is further supported by the mainstream economics profession, many of whom are also beneficiaries of higher stock prices.
Mainstream economists have now embraced asset price inflation as the preferred tool for combating recession and sustaining economic expansions. And some are arguing for the Fed to purchase equities in the next recession.

Conclusion

The wheel has come full circle. Whereas in the post-War era economic policy aimed to provide a floor for labor, now it openly aims to provide a floor for capital.
The U.S. addiction to stock price inflation is politically and economically toxic. It is rooted in an illusion promoted by Wall Street, the Federal Reserve and mainstream economists.
The case they present to an all too gullible American public deliberately conflates stock market returns (for the few) with shared prosperity (for all). 
The simple reality is a stock market boom is not the basis of shared prosperity. But don’t expect Mr. Trump ever to tell anyone that truth.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Bolhas: as reservas cambiais do Brasil vao se volatilizar - Francisco Lopes

Um artigo do mês de junho último, do economista e ex-presidente do BC (por breve período em 1999) Francisco Lopes, sobre a trajetória das bolhas especulativas.
Como eu também suspeitava, a partir de certo ponto na deterioração das transações correntes, o movimento se acelera, e mesmo reservas enormes como as de que o Brasil dispõe atualmente podem se dissipar rapidamente, uma vez iniciado o refluxo.
Ou seja, quando o déficit de TCs ultrapassa 4%, a coisa degringola...
Paulo Roberto de Almeida

BRASIL: A BOLHA ESPECULATIVA VAI ESTOURAR EM ALGUM MOMENTO ENTRE 2013 - 2015! 
Do artigo 'Besouros e Borboletas', do economista Francisco Lopes
Valor Econômico - quinta-feira, 15 de junho de 2011

Bolhas especulativas são fenômenos complexos que não entendemos bem, mas com certeza sabemos que sempre evoluem para o colapso. Nosso palpite é que essa nossa bolha de acumulação de reservas vai estourar em algum momento entre 2013 e 2015.
            
É impossível saber o momento exato e a sequência exata dos eventos na ruptura, apenas sabemos que ela se tornará mais provável quando o mercado de câmbio transitar da atual posição de excesso permanente de oferta para uma posição de equilíbrio ou de excesso de demanda. Isto inevitavelmente vai resultar da deterioração continuada do déficit no balanço de pagamentos em transações correntes.
            
Na ruptura, os primeiros a sair tipicamente são os especuladores profissionais.  O especulador sabe que nosso regime de livre flutuação na prática tem sido um regime de flutuação amortecida assimétrica. A maior volatilidade do câmbio torna menos favorável a relação risco-retorno e induz o especulador a reduzir sua posição vendida na moeda brasileira.                 

Esse ajuste é muito facilitado pela dimensão do nosso mercado de derivativos de dólar, que é inusitadamente grande para uma economia emergente. A grande liquidez desse mercado torna muito fácil travar qualquer posição vendida em dólar, e isso vale tanto para os especuladores profissionais como para qualquer empresa ou investidor.
            
Como em todo colapso de bolha, o movimento pode ser iniciado por um pequeno grupo de profissionais, mas depois se alastra rapidamente e ganha amplitude e intensidade. O resultado é uma forte e rápida depreciação da taxa de câmbio.

Da coluna diáraia do ex-prefeito Cesar Maia (12/07/2013)

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Euforia dos mercados, depressao na economia: contraditorio, pois nao?

O perfeito retrato da situação nos EUA: o Dow Jones subiu a picos nunca antes vistos na história deste país, já tem gente que começa a falar em bolha da Bolsa (vejam o artigo de hoje do Paul Krugman no NYT), embora sabendo que com os juros tão baixos mantidos pelo FED (quase a zero), e as casas ainda com preços não recuperados em relação a 2007, a liquidez tinha mesmo de vir para o mercado de capitais.
É dele, também, uma boa definição de bolha: quando o preço de um ativo sobe acima do aumento médio da renda ou das expectativas de ganhos a partir do faturamento das empresas.
Parece que é isso...
Paulo Roberto de Almeida


PATRICK CHAPPATTE

Markets vs. the Economy


Patrick Chappatte

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

O estouro da bolha de Bruzundanga - Marco Antonio "Lima Barreto" Villa

Também se pode invocar "O Homem que sabia Javanês", para certos improvisos verbais da mestra da bolha, ou seja, não se sabe bem o que fala, o que pretende, o que anda fazendo por ali; mas consegue impressionar os jornalistas ingênuos e a maioria de incautos, de que é feita grande parte do eleitorado.
Corrijo: jornalistas não costumam ser ingênuos. Podem ser ignorantes ou coniventes, o que é mais provável, ambos os casos ao mesmo tempo, diga-se de passagem.
Eu realmente fico surpreendido com o grau de desinformção, e de equívocos interpretativos, de muitos colegas acadêmicos, pessoas supostamente preparadas para buscar, saber ler e interpretar as notícias. Sempre me perguntei como, por que, pessoas que deveriam normalmente ser bem informadas, escolhiam a desinformação, a ilusão, no limite a mentira...
Paulo Roberto de Almeida

Vou-me embora pra Bruzundanga

11 de fevereiro de 2013 | 11h 04
Marco Antonio Villa
 
O Brasil é um país fantástico. Nulidades são transformadas em gênios da noite para o dia. Uma eficaz máquina de propaganda faz milagres. Temos ao longo da nossa História diversos exemplos. O mais recente é Dilma Rousseff.
Surgiu no mundo político brasileiro há uma década. Durante o regime militar militou em grupos de luta armada, mas não se destacou entre as lideranças. Fez política no Rio Grande do Sul exercendo funções pouco expressivas. Tentou fazer pós-graduação em Economia na Unicamp, mas acabou fracassando, não conseguiu sequer fazer um simples exame de qualificação de mestrado. Mesmo assim, durante anos foi apresentada como "doutora" em Economia. Quis-se aventurar no mundo de negócios, mas também malogrou. Abriu em Porto Alegre uma lojinha de mercadorias populares, conhecidas como "de 1,99". Não deu certo. Teve logo de fechar as portas.
Caminharia para a obscuridade se vivesse num país politicamente sério. Porém, para sorte dela, nasceu no Brasil. E depois de tantos fracassos acabou premiada: virou ministra de Minas e Energia. Lula disse que ficou impressionado porque numa reunião ela compareceu munida de um laptop. Ainda mais: apresentou um enorme volume de dados que, apesar de incompreensíveis, impressionaram favoravelmente o presidente eleito.
Foi nesse cenário, digno de O Homem que Sabia Javanês, que Dilma passou pouco mais de dois anos no Ministério de Minas e Energia. Deixou como marca um absoluto vazio. Nada fez digno de registro. Mas novamente foi promovida. Chegou à chefia da Casa Civil após a queda de José Dirceu, abatido pelo escândalo do mensalão. Cabe novamente a pergunta: por quê? Para o projeto continuísta do PT a figura anódina de Dilma Rousseff caiu como uma luva. Mesmo não deixando em um quinquênio uma marca administrativa - um projeto, uma ideia -, foi alçada a sucessora de Lula.
Nesse momento, quando foi definida como a futura ocupante da cadeira presidencial, é que foi desenhado o figurino de gestora eficiente, de profunda conhecedora de economia e do Brasil, de uma técnica exemplar, durona, implacável e desinteressada de política. Como deveria ser uma presidente - a primeira - no imaginário popular.
Deve ser reconhecido que os petistas são eficientes. A tarefa foi dura, muito dura. Dilma passou por uma cirurgia plástica, considerada essencial para, como disseram à época, dar um ar mais sereno e simpático à então candidata. Foi transformada em "mãe do PAC". Acompanhou Lula por todo o País. Para ela - e só para ela - a campanha eleitoral começou em 2008. Cada ato do governo foi motivo para um evento público, sempre transformado em comício e com ampla cobertura da imprensa. Seu criador foi apresentando homeopaticamente as qualidades da criatura ao eleitorado. Mas a enorme dificuldade de comunicação de Dilma acabou obrigando o criador a ser o seu tradutor, falando em nome dela - e violando abertamente a legislação eleitoral.
Com base numa ampla aliança eleitoral e no uso descarado da máquina governamental, venceu a eleição. Foi recebida com enorme boa vontade pela imprensa. A fábula da gestora eficiente, da administradora cuidadosa e da chefe implacável durante meses foi sendo repetida. Seu figurino recebeu o reforço, mais que necessário, de combatente da corrupção. Também, pudera: não há na História republicana nenhum caso de um presidente que em dois anos de mandato tenha sido obrigado a demitir tantos ministros acusados de atos lesivos ao interesse público.
Com o esgotamento do modelo de desenvolvimento criado no final do século 20 e um quadro econômico internacional extremamente complexo, a presidente teve de começar a viver no mundo real. E aí a figuração começou a mostrar suas fraquezas. O crescimento do produto interno bruto (PIB) de 7,5% de 2010, que foi um componente importante para a vitória eleitoral, logo não passou de uma recordação. Independentemente da ilusão do índice (em 2009 o crescimento foi negativo: -0,7%), apesar de todos os artifícios utilizados, em 2011 o crescimento foi de apenas 2,7%. Mas para piorar, tudo indica que em 2012 não tenha passado de 1%. Foi o pior biênio dos tempos contemporâneos, só ficando à frente, na América do Sul, do Paraguai. A desindustrialização aprofundou-se de tal forma que em 2012 o setor cresceu negativamente: -2,1%. O saldo da balança comercial caiu 35% em relação à 2011, o pior desempenho dos últimos dez anos, e em janeiro deste ano teve o maior saldo negativo em 24 anos. A inflação dá claros sinais de que está fugindo do controle. E a dívida pública federal disparou: chegou a R$ 2 trilhões.
As promessas eleitorais de 2010 nunca se materializaram. Os milhares de creches desmancharam-se no ar. O programa habitacional ficou notabilizado por acusações de corrupção. As obras de infraestrutura estão atrasadas e superfaturadas. Os bancos e empresas estatais transformaram-se em meros instrumentos políticos - a Petrobrás é a mais afetada pelo desvario dilmista.
Não há contabilidade criativa suficiente para esconder o óbvio: o governo Dilma Rousseff é um fracasso. E pusilânime: abre o baú e recoloca velhas propostas como novos instrumentos de política econômica. É uma confissão de que não consegue pensar com originalidade. Nesse ritmo, logo veremos o ministro Guido Mantega anunciar uma grande novidade para combater o aumento dos preços dos alimentos: a criação da Sunab.
Ah, o Brasil ainda vai cumprir seu ideal: ser uma grande Bruzundanga. Lá, na cruel ironia de Lima Barreto, a Constituição estabelecia que o presidente "devia unicamente saber ler e escrever; que nunca tivesse mostrado ou procurado mostrar que tinha alguma inteligência; que não tivesse vontade própria; que fosse, enfim, de uma mediocridade total".
* HISTORIADOR, É PROFESSOR DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS (UFSCAR)