Depois de passar cinco anos seguidos com atitudes e discursos contrários ao mercado financeiro internacional, o governo federal quer, agora, que bancos e investidores institucionais do exterior tragam seus dólares para o Brasil. No Planalto circula, até mesmo, bordão em inglês: "é preciso ser market friendly (amigável ao mercado)".
O governo está preocupado com a trajetória do déficit nas transações correntes, que representam todas as entradas e saídas de dólares. Nos últimos três anos, as contas externas têm fechado com rombos próximos a 2% do Produto Interno Bruto (PIB), mas em 2013, esse buraco pode superar 3% do PIB.
Da última vez que esse patamar foi rompido, entre 1997 e 1998, o País entrou em trajetória de grave crise econômica, que explodiu em janeiro de 1999, com a hiper-desvalorização do real e pedido de socorro ao Fundo Monetário Internacional (FMI). A repetição desse cenário está totalmente descartada de todas as previsões feitas nos gabinetes de Brasília, mas os economistas do governo temem que o déficit corrente saia de controle.
A forma mais "simples" de resolver o problema das contas externas seria a desvalorização do real, admitem os técnicos da equipe econômica do governo. Dessa forma, as exportações do País dariam maior rentabilidade ao fabricante nacional, ao mesmo tempo que as importações, que ficariam automaticamente mais caras, recuariam. Assim, o saldo comercial - hoje em franca deterioração - seria a principal fonte de dólares na economia.
"Mas isso não é mais possível", disse uma fonte do Planalto. Na área econômica do governo há o temor de que uma mudança no patamar do dólar, hoje em torno de R$ 2,10, poderia ter efeito reverso ao desejado. O motivo é simples, dizem os técnicos: as captações externas feitas por empresas brasileiras aumentaram a exposição do setor produtivo ao dólar. Uma desvalorização do real pioraria o balanço dessas empresas, neste momento.
A aposta é que ao apresentar um Brasil mais "market friendly", o rombo nas contas externas seja coberto pela entrada de dólares. Os investimentos externos no País devem aumentar, acredita o governo, com os leilões de aeroportos, rodovias, portos, ferrovias, e blocos de petróleo e gás e também com as jazidas e minas que serão ofertadas à iniciativa privada a partir do segundo semestre.
Outro caminho é mais controverso, inclusive dentro do próprio governo. Antes reativo e até agressivo ao "capital especulador" - como o ministro da Fazenda, Guido Mantega, se referiu aos investidores estrangeiros que aplicavam em títulos da dívida pública brasileira -, o governo tem mudado de lado.
Imposto. Em apenas uma semana, o governo elevou a taxa básica de juros em 0,5 ponto porcentual e zerou o IOF cobrado das aplicações de capitais estrangeiros em títulos de renda fixa. Segundo apurou o Estado, a decisão de reduzir a zero a alíquota de 6% do IOF foi tomada pela presidente Dilma Rousseff - o ministro da Fazenda também era favorável a essa estratégia, mas defendia com a presidente uma redução da alíquota, não sua zeragem.
O discurso, no governo, está mudando. Uma fonte palaciana deixou escapar uma nova visão de política econômica ao explicar a estratégia dos últimos dias: "Há 15 dias, o estrangeiro que aplicasse em títulos públicos tinha uma taxa de curto prazo próxima a 7,5% ao ano, e um IOF de 6%. Hoje, tem um título que paga cerca de 8% ao ano, e não recolhe nenhum imposto".
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