As consequências sempre vêm depois, já dizia um filósofo popular (não me perguntem quem).
Pois é, os luminares da economia competitiva -- sejam eles os da FIESP, o Bresser Pereira, os economistas keynesianos de botequim -- tanto pediram desvalorização do câmbio que ela veio, sem avisar, assim meio sorrateira, mas decisiva, o que já empurrou o real lá para baixo, e o dólar lá para cima.
Acharam que seria bom para todos: para os exportadores, para os industriais, para os consumidores (ao premiar a produção nacional e, portanto, o emprego) e sobretudo esses economistas que sempre prevêem catástrofes quando o real está muito valorizado.
Eles gostam de povo pobre, e de economia desvalorizada.
Enfim, quase não pensaram na inflação.
Agora aí está o governo, que antes reclamava da guerra cambial, e do tsunami monetário, que valorizava a nossa moeda, que passou a reclamar da valorização "excessiva" do dólar.
O castigo vem a cavalo, se dizia antigamente. Agora acho que vem nas telas dos computadores, e nas bancas de feiras, por mais humildes que sejam...
Paulo Roberto de Almeida
O fator câmbio
27 de junho de 2013 | 2h 07
CELSO MING - O Estado de S.Paulo
A disparada da cotação da moeda estrangeira no câmbio interno passou a ser um dos maiores focos de inflação. Falta saber o tamanho dessa conta, que, afinal, será repassada para os brasileiros.
Um dólar mais caro, é fácil entender, aumenta em reais os preços dos produtos importados e as dívidas em moeda estrangeira. Mas há um número considerável de itens aqui produzidos e também consumidos internamente que são cotados em dólares. São, em geral, as commodities, mercadorias cujos preços são formados em dólares no mercado internacional, como soja, milho, café, alumínio, cobre e fertilizantes.
Sempre tem gente que estranha explicações de que os preços dos ovos e da carne de frango ou de porco estejam subindo em consequência da alta do dólar. No entanto, frango e porco são organismos vivos que transformam proteína vegetal (soja e milho, principais componentes das rações animais) em proteína animal. Como soja e milho são commodities cotadas em dólares na Bolsa de Chicago, lá vai o câmbio para os preços da omelete, do frango assado e da linguiça.
Nos últimos anos aumentou a dependência brasileira dos importados. Em vez de produzir aqui dentro, a indústria achou mais conveniente intensificar a importação de máquinas, componentes, peças, capital de giro e tantas coisas mais. A Zona Franca de Manaus, por exemplo, não passa hoje de uma zona de processamento de importações. Limita-se quase exclusivamente a montar aparelhos eletrônicos, eletrodomésticos e motocicletas a partir de peças, chips e componentes importados, pagos em dólar. O impacto da alta do dólar sobre o custo do produto final será inevitável, tanto mais quanto maior for a dependência de fornecimentos externos.
O cálculo do impacto da oscilação do câmbio nos preços, aquilo que naquela linguagem empolada os economistas chamam de pass-through (repasse) é um exercício complicado, sempre sujeito a erros. Hoje, os analistas tendem a concluir que cada dez pontos porcentuais de alta ou baixa do dólar no câmbio interno produz 0,70 ponto porcentual de inflação mais alta ou mais baixa ao longo de um tempo.
Quando roda seus computadores para definir o tamanho dos juros básicos para empurrar a inflação para dentro da meta, o Banco Central tem de avaliar qual o impacto do câmbio na formação dos preços da economia. No Relatório de Inflação do primeiro trimestre, editado em março, o Banco Central trabalhou com um câmbio médio, em 2013, de R$ 1,95 e projetara uma inflação para o ano de 5,7%. Na última Ata do Copom, já havia revisto esse número para R$ 2,05. De lá para cá, o câmbio deu uma esticada de 8,3% e ainda não se estabilizou, fator que complica as novas projeções.
Hoje sai nova edição do Relatório de Inflação em que se espera que o Banco Central organize com mais clareza todos esses números que, por sua vez, devem definir a dosagem da alta dos juros, que tende a ficar próxima dos 10% ao ano no final de 2013.
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