O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

sábado, 6 de junho de 2009

1143) Paranoia amazonica: o mito da internacionalizacao...

De vez em quando, ao limpar minha caixa de entrada (o que ocorre a cada ano bissexto, mais ou menos), deparo com velhas mensagens, esquecidas na fileira das que esperam, algum dia, tratamento mais elaborado, como algum trabalho a respeito, artigo esclarecedor, seja lá o que for.
Esta aqui entra na categoria do denuncismo vazio sobre a internacionalização da Amazônia. O mais curioso é que a presidência da República, que tem alguns milhares de funcionários, pede para o interessado acessar o meu site pessoal para se informar sobre esses boatos fraudulentos.
Enfim, fica o registro, mais uma vez...

(PS: deixo os e-mails das pessoas, posto que elas foram irresponsáveis ao ponto de disseminarem boatos sem fundamento)
PRA

Bobagens amazônicas (o título é meu, PRA)

ilmos Srs.
Acessei a pagina do Exmo. Sr. Ministro Conselheiro da Embaixada do Brasil em Washington, Senhor Paulo Roberto de Almeida, entretanto, me parece um tanto simples a visão que vem sendo apresentada, direcionada simplesmente como boatos, porem para que venha a tona uma histeria coletiva resultante de um denucismo desenfreado, obviamente deva ser investigado mais profundamente os reais motivos dos denunciantes, ou quiçá verdades, não posso tecer comentários pois espero informações para formar juízo.
Não querendo atribuir veracidade a denuncia, ou indicar culpa ou culpados pela postura relativamente ao assunto em questão, na condição de cidadão Brasileiro, eleitor e pai de família, zelo pelo futuro dos meus e de todos os filhos dessa nossa "Pátria Mãe", que deve ser preservada. Isto posto, acredito que a investigação deva tomar outros rumos e não somente o da boataria, pois a própria historia passada e recente no mundo nos mostra, intervenções pacificas e armadas, que visam atender interesses puramente econômicos, por tanto, não devemos excluir simplesmente essa real possibilidade.

José Alves Peixoto Filho

----- Original Message -----
From: pr@planalto.gov.br
To: peixoto.peixoto@terra.com.br
Sent: Thursday, May 27, 2004 5:40 PM
Subject: ENC: RORAIMA é do USA- A B S U R D O ! ! ! ! !

Prezado Senhor,

Registramos o recebimento de sua mensagem, à qual o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva gostaria de responder, não fossem os inúmeros compromissos diários.

Devemos esclarecer que algumas mensagens veiculadas pela internet não passam de manipulações grosseiras de indivíduos inescrupulosos atuando clandestinamente, sem qualquer sentido de ética ou respeito à verdade.

Permita-nos sugerir que acesse o site preparado pelo Ministro Conselheiro da Embaixada do Brasil em Washington, Senhor Paulo Roberto de Almeida, sobre esse assunto: http://www.pralmeida.org/01DossierAmazonia/00SumarioAmazonia2003.html

Atenciosamente

Diretoria de Documentação Histórica
Gabinete Pessoal do Presidente da República


-----Mensagem original-----
De: PROTOCOLO da PR (DIDOC)
Enviada em: quinta-feira, 27 de maio de 2004 09:20
Para: Presidência da República
Assunto: ENC: RORAIMA é do USA- A B S U R D O ! ! ! ! !


-----Mensagem original-----
De: Peixoto [mailto:peixoto.peixoto@terra.com.br]
Enviada em: quarta-feira, 26 de maio de 2004 15:16
Para: gabinetemj@mj.gov.br; Governo@brasil.gov.br; protocolo@planalto.gov.br
Cc: Peixoto
Assunto: RORAIMA é do USA- A B S U R D O ! ! ! ! !

Exmo.Sr. Presidente Luiz Inácio Lula da Silva
Exmo. Sr. Ministro de Estado da Justiça Márcio Thomas Bastos
É com grande preocupação que retransmito este e-mail abaixo, pois se confirmando as graves revelações, providências urgentes devem ser tomadas para que a soberania do nosso Pais não seja ameaçada, por nações que através dos povos indígenas invadem nossos territórios.

José Alves Peixoto Filho

----- Original Message -----
From: gisele felinto
To: mcmholanda@hotmail.com ; evila_feitosa@hotmail.com ; nevesgeorgia@hotmail.com ; ivanioribeiro@hotmail.com ; fha_c@hotmail.com ; fbarros19@hotmail.com
Sent: Saturday, May 22, 2004 1:03 PM
Subject: Fw: RORAIMA é do USA- A B S U R D O ! ! ! ! !

>
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> > Segue abaixo o relato de uma pessoa conhecida e séria, que passou recentemente em um concurso público federal e foi trabalhar em Roraima.
>
> Trata-se de um Brasil que a gente não conhece. As duas semanas em Manaus foram interessantes para conhecer um Brasil um pouco diferente, mas chegando em Boa Vista (RR) não pude resistir a fazer um relato das coisas que tenho visto e escutado por aqui. Conversei com algumas pessoas nesses três dias, desde engenheiros até pessoas com um mínimo de instrução.Prá começar o mais difícil de se encontrar por aqui é roraimense, pra falar a verdade, acho que a proporção de um roraimense para cada 10 pessoas é bem razoável, tem gaúcho, carioca, cearense, amazonense, piauiense, maranhense e por aí vai. Portanto falta uma identidade com a terra.
>
> Aqui não existem muitos meios de sobrevivência, ou a pessoa é funcionária pública, e aqui quase todo mundo é, pois em Boa Vista se concentram todos os órgãos federais e estaduais de Roraima, além da prefeitura é claro. Se não for funcionário público a pessoa trabalha no comércio local ou recebe ajuda de programas do governo. Não existe indústria de qualquer tipo.
>
> Pouco mais de 70% do território roraimense é demarcado como reserva indígena portanto restam apenas 30%, descontando-se os rios e as terras improdutivas que são muitas, para se cultivar a terra ou para a localização das próprias cidades. Na única rodovia que existe em direção ao Brasil (liga Boa Vista a Manaus, cerca de 800km) existe um trecho de aproximadamente 200km (reserva indígena Waimiri Atroari) por onde você só passa entre 6:00 da manhã e 6:00 da tarde, nas outras 12 horas a rodovia é fechada pelos índios (com autorização da FUNAI e dos americanos) para que os mesmos não sejam incomodados. Detalhe: você não passa se for brasileiro, o acesso é livre aos americanos, europeus e japoneses. Desses 70% de território indígena, diria que em 90% dele ninguém entra sem uma grande burocracia e autorização da FUNAI. Detalhe: americanos entram na hora que quiserem, se você não tem uma autorização da FUNAI mas tem dos americanos então você pode entrar. A maioria dos índios fala a língua nativa além do inglês ou francês, mas a maioria não sabe falar português.
>
> Dizem que é comum na entrada de algumas reservas encontrarem-se hasteadas bandeiras americanas ou inglesas. É comum se encontrar por aqui americanos tipo nerds com cara de quem não quer nada, que veio caçar borboleta e joaninha e catalogá-las, mas no final das contas, pasmem, se você quiser montar um empresa para exportar plantas e frutas típicas como cupuaçu, açaí ,camu-camu etc, medicinais, ou componentes naturais para fabricação de remédios, pode se preparar para pagar royalties para empresas japonesas e americanas que já patentearam a maioria dos produtos típicos da Amazônia...
>
> Por três vezes repeti a seguinte frase após ouvir tais relatos: é, os americanos vão acabar tomando a Amazônia e em todas elas ouvi a mesma resposta em palavras diferentes. Vou reproduzir a resposta de uma senhora simples que vendia suco e água na rodovia próximo de Mucajaí: "Irão não meu filho, tu não sabe mas tudo aqui já é deles, eles comandam tudo, você não entra em lugar nenhum porque eles não deixam. Quando acabar essa guerra aí eles virão pra cá , e vão fazer o que fizeram no Iraque quando determinaram uma faixa para os curdos onde iraquiano não entra, aqui vai ser a mesma coisa.
> " A dona é bem informada não? O pior é que segundo a ONU o conceito de nação é um conceito de soberania e as áreas demarcadas têm o nome de nação indígena. O que pode levar os americanos a alegarem que estarão libertando os povos indígenas. Fiquei sabendo que os americanos já estão construindo uma grande base militar na Colômbia, bem próximo da fronteira com o Brasil numa parceria com o governo colombiano com o pseudo objetivo de combater o narcotráfico. Por falar em narcotráfico, aqui é rota de distribuição pois essa mãe chamada Brasil mantem suas fronteiras abertas e aqui tem estrada para as Guianas e Venezuela. Nenhuma bagagem de estrangeiro é fiscalizada, principalmente se for americano, europeu ou japonês, (isso pode causar um incidente diplomático)...
>
> Dizem que tem muito colombiano traficante virando venezuelano, pois na Venezuela é muito fácil comprar a cidadania venezuelana por cerca de 200 dólares. Pergunto inocentemente às pessoas; porque os americanos querem tanto proteger os índios? A resposta é absolutamente a mesma, porque as terras indígenas além das riquezas animais e vegetais, da abundância de água, são extremamente ricas em ouro (encontram-se pepitas que chegam a ser pesadas em quilos), diamantes, outras pedras preciosas, minério e nas reservas norte de Roraima e Amazonas, ricas em PETRÓLEO.
>
> Parece que as pessoas contam essas coisas como que num grito de socorro a alguém que é do sul, como se eu pudesse dizer isso ao presidente ou a alguma autoridade do sul que vá fazer alguma coisa. É pessoal, saio daqui com a quase certeza de que em breve o Brasil irá diminuir de tamanho. Um grande abraço a todos." Será que podemos fazer alguma coisa??? Acho que sim. Repasse esse e-mail para que um maior número de brasileiros fique sabendo desses absurdos...
>
>
> Mara Silvia Alexandre Costa Depto de Biologia Cel.Mol.Bioag.Patog. FMRP - USP.
>
> Por favor se vc se indignou também, repasse, para que o Brasil saiba que o Brasil é o Brasil. Vamos amá-lo e defendê-lo. Muitas vezes depois de receber uma mensagem perguntamos: quem me mandou como descobriu meu e-mail?Temos o cuidado de mandor somente mensagens que sejam edificantes e as de conteúdo degradantes...

1142) Um dialogo sobre a globalizacao

Um diálogo sobre a globalização
Intercâmbio de idéias nunca faz mal

Paulo Roberto de Almeida

Transcrevo abaixo um diálogo com um dos meus leitores (ocorrido em 2006), a partir de perguntas elaboradas anteriormente e que tinham permanecido sem respostas. Tentarei ser breve, mas suficientemente claro para permitir a compreensão de meus pontos de vista.

As perguntas numeradas são as que eu tinha elaborado em 12 de janeiro de 2006 (1530), sob o título “Perguntas impertinentes a colegas que me acusam de ser ‘liberal fundamentalista’”, e que tinham sido postadas em meu primeiro blog, sob nr. 154, neste link. Elas estavam, justamente, concebidas como perguntas incômodas aos que defendem as posições do movimento anti-globalizador, que são em geral também contra a abertura econômica.
Em versão diferente, mas com as mesmas perguntas, elas foram publicadas sob o título “Perguntas impertinentes a um amigo anti-globalizador”, no boletim Relnet (no. 13, 2006; no link, mas não estou certo de que ainda esteja lá, em razão da descontinuidade do Relnet).
Aparentemente, elas estarão sendo republicadas no Meridiano 47 - Boletim de Análise da Conjuntura em Relações Internacionais (Brasília: Instituto Brasileiro de Relações Internacionais, ISSN 1518-1219, nº 65, dezembro 2005, p. 2-4; link a ser determinado, mas que pode ser encontrado atualmente no site do Mundorama.neet).

Quem me responde, identificado abaixo como RR, é o Roberto Ruiz, que se apresenta como sou doutorando em Economia em uma escola Ortodoxa de SP. Ele me disse, em mensagem de 15 de abril de 2006, que gostaria de dialogar sobre o assunto.
Pois não, com prazer: meus novos comentários seguem abaixo com a sigla PRA.

1. Quais são as evidências materiais, ou seja, provas estatísticas, dados quantificáveis, observáveis e verificáveis, de que a globalização, como pretendem os anti, aprofunda a miséria, cria mais desemprego e acarreta mais desigualdades no mundo? Isso vale tanto para dentro dos países, como entre os países, esclareço.

RR: Quais são os dados provando o contrário? A globalização construiu riqueza aonde? É só pegar Amarthya Sen nos EU para ver como a globalização impós miséria nos EU e AL pós 90 a miséria que causou....

PRA: Existem muitos dados sobre a criação de riqueza pela globalização, sendo os dois exemplos mais eloquentes dados pela China e pela Índia. Veja meu trabalho nº 1574, “Sorry, antiglobalizadores: a pobreza mundial tem declinado, ponto!”, apresentando, resumindo e discutindo o estudo de Xavier Sala-i-Martin, “The World Distribution of Income: Falling Poverty and... Convergence, Period”, The Quarterly Journal of Economics (vol. 126, nº 2, 2006; link), com comentários adicionais sobre o processo de globalização; disponível no site pessoal (link). Tenho vários outros trabalhos sobre o assunto, alguns deles citados nesse mesmo.

2. Se as políticas liberais só conseguem produzir recessão e desemprego, privilegiando unicamente os setores financeiros – o capital financeiro monopolista internacional, como se dizia antigamente –, por que, exatamente, os países que mais crescem e que ostentam as menores taxas de desemprego são, justamente, esses ditos “neoliberais”?

RR: Quais países são estes? Desconheço. Na última tabela dos 10 países mais competitivos do Forum Econômico apareciam mais países de bem-estar social do que liberais (Canada, Finlândia, Suécia, ...). Cidades estado (Singapura, HK) são uma análise a parte.

PRA: Recomendo uma consulta aos dados da OCDE e de sites do gênero. Ou se desejar pegue qualquer The Economist: as taxas de crescimento de países como EUA, GB, NZ, Austrália e alguns outros são bem superiores aos da Europa, que contínua no pântano, em virtude de estruturas rígidas. Os países asiáticos não podem ser descritos como liberais, ainda, mas estão crescendo, justamente, por se inserirem de modo mais afirmado nos circuitos da globalização.

3. Se o “consenso de Washington” fracassou redondamente na América Latina, por que os países que mais são contrários às suas regras não são, longe disso, exemplos de crescimento, de dinamismo e de inserção competitiva na economia internacional? E por que, a contrário senso, os países que mais se identificaram com essas medidas “neoliberais”, a começar pelo Chile, conseguem ostentar taxas sustentadas de crescimento ao mesmo tempo em que fazem progressos no caminho da redução das desigualdades distributivas e da qualificação competitiva de suas economias?

RR: O Chile teva alto aumento das desigualdades distributivas (há vasta literatura sobre o assunto) e a qualificação competitiva é em produtos de baixo valor agregado (salmão, frutas e minérios).... vinho (é produto artesanal???). Algum outro exemplo na AL de país neoliberal bem sucedido - não vejo Chile crescendo na cadeia de valor internacional, enfim, teve um êxito relativo?

PRA: Você está muito enganado quanto ao desempenho econômico chileno. É o único país da América Latina que está reduzindo as desigualdades, justamente com suas políticas de abertura econômica e de inserção na globalização. Quanto aos produtos que você cita, eles têm, justamente, alto valor agregado, todos eles, independente de serem do primário. Não creio que existam mais países liberais na América Latina: o México se abriu e cresceu muito, tem um comércio exterior muito superior ao do Brasil – com o mesmo PIB – e por isso já tem investment grade.

4. Se os processos de abertura econômica e de liberalização comercial significam, ipso facto, sucateamento da indústria e desmantelamento de setores inteiros da economia nacional, como explicar as evidências de que países que adotaram essas medidas de modo unilateral, como o Brasil do início dos anos 1990, por exemplo, registraram, nesses anos justamente, as maiores taxas de crescimento da produtividade, além de ganhos significativos e comprovados de competitividade internacional?

RR: Poderia definir produtividade? Lembro de plano Collor como crise geral e decrescimo de PIB de 4,5%.

PRA: Qualquer economista define produtividade, como sendo a produção agregada dividida pelo número de homens/hora de trabalho. Os indicadores de crescimento de produtividade do Brasil foram elevados no início dos anos 1990, com a abertura e início da privatização, depois eles voltaram a cair. Leia o último estudo da CNI sobre esse aspecto, comparando países, justamente.

5. Se as regras liberais impõem, como acusam os anti-globalizadores, total liberdade aos movimentos de capitais e a plena abertura cambial, o que facilitaria as atividades especulativas nos mercados de divisas, como explicar o fato que de que a Argentina, no auge do seu “fundamentalismo liberal”, impunha a rigidez cambial, em direção oposta aos regimes cambiais praticados pela maior parte dos países e contrariamente ao que sempre prega o FMI em caso de correção de desequilíbrios de balanço de pagamentos?

RR: Que período o Sr. refere? Poderia especificar o governo e ministro?

PRA: Todo mundo sabe que a política cambial argentina, de 1991 a 2001, foi de rigidez cambial. País único no mundo, pois o FMI sempre recomenda desvalorização para os casos de desajuste. Acusar a Argentina de neoliberal por manter o câmbio fixo é de uma incompreensão total do que significa neoliberalismo, que se bate justamente por regras de mercado. É o mercado que deve ditar o câmbio, não os governos.

6. Se a flexibilização neoliberal do mercado de trabalho produz desemprego e perda de direitos consagrados, resultando em precarização ampliada das relações de trabalho e terceirização, por que os países que mais adotaram essa postura são os que exibem as menores taxas de desemprego e o maior crescimento da produtividade do trabalho?

RR: Bem, China tem baixa taxa de desemprego e jornadas de 14 horas 24x7 sem adicional noturno ou benefício fora da provincia de nascimento. Tem uma questão quantitativa e qualitativa misturada.

PRA: Todos os países de regras laborais mais flexíveis têm menores taxas de desemprego. Consulte os dados da OCDE a esse respeito. A China está em transição e não pode ser meodelo para absolutamente nada, a não ser o fato de que abertura traz crescimento.

7. Se o livre-comércio internacional acarreta desigualdades crescentes e dependência de empresas multinacionais, o que compromete políticas públicas, macroeconômicas e setoriais, por que os países, ou melhor, as economias que mais se inseriram nos fluxos internacionais de intercâmbio comercial são as que melhoraram de padrão de vida, viram o surgimento de suas próprias multinacionais e diminuíram, justamente, sua dependência de alguns poucos mercados de matérias-primas ou manufaturados leves, que são dominados por alguns poucos oligopolistas mundiais?

RR: Muito abstrato, quais são os exemplos de paises que criaram multinacionais baseados em livre comércio? Coréia criou com reserva de mercado violenta, China tb (obrigação de joint venture 50% Estado).

PRA: Dois exemplos não fazem maioria. O processo histórico de criação de multinacionais se dá quando os países se inserem nos mercados globais. Foi assim com a GB, com os EUA, com a Alemanha e outros países. Coréia e China estão justamente criando multinacionais ao se inserirem de modo mais afirmado nos circuitos de comércio internacional. O Brasil também, aliás.

8. Se os direitos de propriedade intelectual são inerentemente injustos, transferindo renda dos países mais pobres para os mais ricos, condenando os primeiros a uma “eterna dependência tecnológica” dos segundos, por que países como China e Índia, que são ainda relativamente pobres para os padrões internacionais, estão aderindo de forma crescente a normas mais elevadas de proteção patentária?

RR: CONCORDAMOS... quando o Brasil copiar o suficiente como China e India podemos aderir de forma "lenta gradual e progressiva" aos direitos de PI. Trabalhava em uma grande multinacional escandinávia de telecom e a Huawai copiava centrais sem a menor cerimônia. Hoje eles podem aceitar as patentes. Brasil produziu algum vendor de telecom depois de décadas de Sist. Telebrás?

PRA: O Brasil já tem status de criatividade para reforçar os direitos de PI. China e Índia estão justamente fazendo isso. Chega um momento em que a cópia é naturalmente substituída pela adaptação, pela inovação e pela invenção.

9. Se os investimentos estrangeiros são criadores de maior dependência econômica e de remessa ampliada de divisas e de royalties para o exterior, por que tantos países em desenvolvimento vêm aumentando o volume e a qualidade da proteção dada ao IDE, assinando acordos de garantia de investimentos e assegurando livre transferência dos resultados produzidos?

RR: Nem um extremo nem outro, investimento estrangeiro deve ser tratado pontualmente: área interessam outras não. Alto valor agregado e transferência de tecnologia podem vir...maquiladoras ou pagando impostos ou não obrigado.

PRA: Você também acredita que burocratas devem ditar aos empresários o que eles devem fazer com o dinheiro deles? Por que simplesmente não permitir que os investimentos se façam livremente, em função das oportunidades percebidas. Ou você acha que os planejadores governamentais sabem melhor do que os donos do dinheiro?

10. Se já existem evidências concretas de que as políticas agrícolas, subvencionistas e protecionistas, de países desenvolvidos, como os EUA, a União Européia e o Japão, entre outros, são absolutamente condenáveis, em primeiro lugar em função de sua inerente irracionalidade econômica, em segundo e principal lugar em virtude do enorme prejuízo trazido aos países mais pobres, por que os movimentos anti-globalizadores, que dizem atuar em prol do desenvolvimento e da inserção dos mais pobres e do bem estar de suas populações, não são mais incisivos na oposição a essas políticas?

RR: realismo político.

PRA: Eles estão sendo conviventes com um crime, que é o de impedir a qualificação produtiva dos países mais pobres, geralmente africanos. Aliás, por simples medida de racionalidade econômica, os países também deveriam abolir o protecionismo agrícola: sairia mais barato para eles importar do que produzir internamente. Numa palavra: toda a sociedade está sendo refém de um punhado de agricultores que, na verdade, são assalariados do Estado.

11. Se os países em desenvolvimento são, por definição e historicamente, importadores líquidos de capitais dos países mais ricos, por que os movimentos anti-globalizadores insistem tanto na adoção de uma taxação internacional sobre os movimentos de capitais, sabendo-se que esse novo imposto irá necessariamente aumentar o custo dos empréstimos e de captação de recursos financeiros nos mercados livres?

RR: Há uma diferente de hot money e investimento, É preciso trabalhar as duas coisas em separado.

PRA: Por certo que existem diferentes tipos de investimento, mas isso não elimina o fato de que o custo da taxação será absorvida pelo país importador de capital, apenas isso.

12. Finalmente, se mercados livres já provaram, ao longo da história, sua funcionalidade absoluta do ponto de vista da modernização tecnológica, dos ganhos de oportunidade, da distribuição de renda via especialização produtiva e outros benefícios indiretos da livre circulação de fatores, por que os anti-globalizadores, e com eles o contingente bem maior de protecionistas de todos os tipos, insistem tanto na administração política dos mercados internacionais, como se os governos soubessem melhor do que agentes econômicos ou do que os indivíduos consumidores o que é melhor para o bem estar dos cidadãos dos mais diversos países?

RR: Desculpe, se o Sr. ler H.J. Chang, Robert Wade e muitos mais, a história nunca provou a funcionalidade dos livres mercado como promotor de Pareto..... Governos não sabem melhor que os agentes, as instituições estruturadas procuram minimizar os problemas com uma posição neutra na sociedade. O mercado possui a leitura singular do interesse no curto prazo. Voltando as raízes, é a leitura de Adam Smith em Riqueza das Nações sem a Teoria dos Sentimentos morais, o homem não tem compaixão pelo próximo no médio prazo, seu egoísmo é maior do que qualquer sentimento. Não sou contra globalização, mas não apoio o liberalismo.

PRA: Surpreendentemente contraditório: o Chang faz uma leitura seletiva dos dados da história e não consegue desmentir Adam Smith: ele simplesmente contorna o problema. Mercados sempre agem no curto prazo, pois são o resultado do comportamento de indivíduos buscando maximizar o seu bem-estar. Sempre foi assim e sempre será assim. A visão supostamente onisciente dos governos querendo “corrigir” os mercados sempre faz mais mal, pois que produz o que os economistas chamam de “misallocations”. Se você não é contra a globalização, já está sendo a favor do liberalismo, pois o que você pretende colocar no lugar da globalização? Comércio administrado, economias dirigidas?

1141) Teoria do capital bibliografico

Teoria do capital bibliográfico
Teses marxianas sobre relações de leitura e modo de redação

Paulo Roberto de Almeida

Arriscando-me a decepcionar alguns amigos – que por vezes me advertem que eu acabo escrevendo mais rápido do que eles conseguem ler minha produção – confesso que não tenho nenhuma receita particular sobre como e o quê fazer para ler bastante, digerir o máximo de informação possível e depois destilar esses insumos acumulados no conta-gotas da produção ensaística de pequeno porte ou no torrencial mais forte da elaboração livresca. Ou talvez eu tenha, sim, mas não sei se isso conforma um método muito efetivo ou aplicável em outros casos de atração pelos livros e pela arte da “escrevinhação”. Vejamos em todo caso o meu “modo peculiar de produção”.
(...)

OK, interrompo aqui a leitura, pois se trata de um texto antigo, bem maior, que desapareceu de seu site original (e único) de publicação, tendo por isso recebido uma reclamação de um leitor de meus artigos.
Para satisfazer a curiosidade, coloquei-o provisoriamente em meu site, até encontrar destinação mais apropriada em outro lugar.
Em todo caso, trata-se de um simples divertissement, ou seja, uma brincadeira em torno de leituras, livros e escritos.
Boa leitura, a quem pretender se arriscar...

O texto encontra-se neste link.

1140) Obama e seu discurso "muculmano": comentarios desabusados

Não, ainda não tive tempo, assoberbado que andei por bancas, artigos e outros trabalhos acadêmicos, de comentar o discurso reputado como "histórico" de Mister Obama no Cairo, na mesma universidade que ele classificou como "centro de saber" e que já condenou os livros do Prêmio Nobel Mafouz e várias outras práticas modernas.
À falta de reflexão própria, transcrevo comentários de um leitor desabusado...

Mr. X: O discurso no Cairo
05 Jun 2009

Comento aqui o inútil discurso de Obama. Após algumas platitudes sobre o Holocausto, o restante da sua fala parece ter sido o equivalente oral ao seu gesto de submissão frente ao monarca saudita. De qualquer modo, por melhor que tivesse sido, de pouco adiantaria. Sou da escola que acha que discursos não mudam nada. Eis alguns trechos comentados:

[Israel must] “live up to its obligations to ensure that Palestinians can live, and work, and develop their society… Progress in the daily lives of the Palestinian people must be part of a road to peace, and Israel must take concrete steps to enable such progress.”

Os israelenses é que devem “garantir” que os palhestinos possam viver, trabalhar, e desenvolver sua sociedade? Que tal os próprios palestinos fazerem isso? E se os palestinos não quiserem viver, trabalhar e desenvolver sua sociedade? Acho que ninguém nunca pensou nessa possibilidade. Até por que não há como sustentar essas pessoas, o máximo a que a “Palestina” pode aspirar é a virar um Kosovo, um “país” de marginais (80% de desemprego) sustentado pela ONU.

“any nation - including Iran - should have the right to access peaceful nuclear power”

Pacífica como a cara do Amadinehjad. E aliás, se Obama gosta tanto da energia nuclear pacífica, por que está acabando com ela em solo americano?

“a world in which no nations hold nuclear weapons.”

Enquanto Obama delira, a Coréia do Norte testa mísseis, o Paquistão pode perder o controle dos seus, Japão e vários países árabes pensam em se armar e o Irã já quase tem sua bombinha.

tension “has been fed by colonialism that denied rights and opportunities to many Muslims, and a Cold War in which Muslim-majority countries were often treated as proxies without regard to their own aspirations.”

Blablablá. Típico esquerdismo. “As veias abertas do Mundo Muçulmano”. Ora, as “aspirações” dos islâmicos são converter todo o mundo ao islã e impor a sha’ria. Que importam as suas aspirações? De que país Obama é presidente?!?

“And I consider it part of my responsibility as president of the United States to fight against negative stereotypes of Islam wherever they appear,”

Hã?!? Isto é o mais próximo que Obama já chegou de confessar abertamente que é muçulmano. Um presidente americano que tem a missão de “lutar contra estereótipos negativos do Islã onde quer que apareçam”? Quem é ele, Super Islamic Boy? Estamos fritos. Um muçulmano na Casa Branca. Quanto será que os sauditas pagaram? Aquele colar de ouro deve valer bastante…

Outros comentários seguirão...

sexta-feira, 5 de junho de 2009

1139) Curiosidade sobre "A Grande Mudanca" e meu status

Um leitor recente de meu livro "A Grande Mudança" (escrito em 2002, antes das eleições presidenciais, e publicado no início de 2003), escreveu-me o seguinte:

Uma curiosidade: você é muito audacioso em seus textos! Nunca sofreu retaliações por isso? Não me parece nada "comum", alguém falar tão livremente dos problemas do país, sendo um diplomata...
E quanto às dez propostas ao governo...Algum dia sentiu vontade de segurar as "rédeas do poder"? Ainda que fosse como o acessor do Príncipe...?


Respondo de imediato: de fato, esse meu livro foi escrito justamente com essa intenção, provocar, ou pelo menos apresentar propostas audaciosas para tentar "consertar" o Brasil num momento eleitoral. Não que eu tivesse qualquer ilusão de que minhas "propostas" de políticas públicas fossem ser lidas e menos ainda acatadas. Mas não posso evitar essa responsabilidade cidadã que me impeliu a também apresentar algumas novas soluções a velhos problemas que amarram o Brasil no baixo crescimento e no subdesenvolvimento político.
Foi o meu único livro polêmico, já que todos os demais são de pesquisa, ou classicamente acadêmicos.
De fato, esse livro me trouxe retaliações, imediatas, se ouso dizer, sem que eu lamente especialmente esse fato. Cada um deve assumir responsabilidade pelo que fala, escreve, divulga, e eu assumi plenamente a minha parte de responsabilidade, por propor coisas manifestamente heterodoxas (em relação ao pensamento temporariamente dominante, quero dizer).

Como transcrevi no frontspício:

A inconsciência de certos homens os faz por vezes levantar-se contra algumas verdades evidentes da vida humana e da ordem natural das coisas (natura naturans). A estupidez de alguns outros os faz pretender opor-se a essas verdades verdadeiras, abatendo-se com fúria sobre aqueles que delas se fazem portadores.
A uns e outros, a Divina Providência (Mente divina) há de aconselhar e a Ordem dos Justos corrigir, desde que lhe seja dada a oportunidade de assim fazer.

Apud Giordano Bruno, Dei segni dei tempi (Veneza, 1576)

Singela homenagem ao filósofo cuja religião era a da “pacifica convivenza tra le religioni, fondata sull’unica regola della mutua intesa e della reciproca libertà di discussione”, e que, na hora decisiva, pronunciou estas palavras: “Tremate forse píù voi nel pronunciar la sentenza, ch’io nel riceverla” (1600).

Tributo a Hipólito José da Costa Pereira Furtado de Mendonça (1774-1823), o homem que criou a imprensa livre brasileira, fora do Brasil, colocando este dever ao cidadão redator de idéias públicas:
“O primeiro dever do homem em sociedade é ser útil aos membros dela, e cada um deve, segundo suas forças físicas ou morais, administrar, em benefício da mesma, os conhecimentos ou talentos que a natureza, a arte ou a educação lhe prestou. O indivíduo, que abrange o bem geral de uma sociedade, vem a ser o membro mais distinto dela: as luzes que ele espalha tiram das trevas da ilusão aqueles que a ignorância precipitou no labirinto da apatia, da inépcia e do engano. Ninguém mais útil, pois, do que aquele que se destina a mostrar, com evidência, os conhecimentos do presente e desenvolver as sombras do futuro. Tal tem sido o trabalho dos redatores das folhas públicas, quando estes, munidos de uma crítica sã e de uma censura adequada, representam os fatos do momento, as reflexões sobre o passado, e as sólidas conjecturas sobre o futuro.”
Abertura do número inaugural do Correio Braziliense (1808)


Capa, sumário e algumas partes desse livro podem ser vistos neste link.
Provavelmente vou escrever um novo livro, numa próxima transição presidencial, no mesmo estilo deste, mas com conteúdo bem diferente, oferecendo um balanço e propondo novas medidas. Sei que não adianta muito, mas não posso me impedir de pensar e de dizer o que penso. Difícil é cultivar a mediocridade.
Dependendo de quem ganhar, vem retaliação, mas espero pequena melhoria dos costumes políticos em nossa terra...

quinta-feira, 4 de junho de 2009

1138) Brazil's Candidacy for Major Power Status

Esse é o título de um capitulo co-escrito por mim e pelo especialista Miguel Diaz, ex-diretor para a América Latina do CSIS de Washington (Center for Strategic International Studies), em um livro que está agora sendo lançado em Washington, de conformidade com o convite que segue abaixo.
Maiores informações sobre o livro podem ser encontradas em meu site, neste link.

Powers and Principles: International Leadership in a Shrinking World
On behalf of the Stanley Foundation, I would like to invite you to a reception on July 1 celebrating the publication of a new book, Powers and Principles: International Leadership in a Shrinking World (Lexington) that collects the results of a recent Stanley Foundation initiative.

In early 2008, my former colleague Michael Schiffer and I launched a project using the concept of responsible stakeholdership to gauge the prospects for a stronger international community. In other words, what if the world's major global and regional powers came into closer alignment with shared approaches to 21st-century threats and challenges? The project asked experts to examine nine powerful nations, the EU, and the case of a generic oil company and speculate how each might deal with the internal and external challenges posed by international norms.

We were fortunate to recruit a group of highly accomplished analysts to take part and are eager to share the results with you and other colleagues. Complimentary copies of the book will be available at the event but, in the meantime, the table of contents and other details can be found on the Lexington Books Web site. We expect many of the contributing writers will be at the reception.

The reception will take place on July 1, 2009, from 5:30 to 7:30 p.m. at the Washington office of the Stanley Foundation (co-located with the Henry L. Stimson Center) at 1111 19th Street, NW, 12th Floor.

To respond to this invitation or for questions about logistics, please contact Elaine Schilling, program assistant, by e-mail at eschilling@stanleyfoundation.org or telephone 563-264-6888.

Best regards,
David Shorr
Program Officer, The Stanley Foundation

quarta-feira, 3 de junho de 2009

1137) Um debate sobre as cotas raciais e outras medidas em favor do Apartheid no Brasil

Comentários em blogs se perdem muito facilmente, pois os visitantes precisam clicar em cima dos comentários para poder seguir o fio dos argumentos desenvolvidos por cada um dos participantes.
Por isso resolvi transcrever num post independente, os comentário sobre este tema, que primeiro apareceu neste blog, sob a forma seguinte:

Segunda-feira, Junho 01, 2009
1133) De volta ao problema do Apartheid racial: o problema das cotas

'País, que não se pensava dividido, está sendo dividido', aponta antropóloga
Yvonne Maggie elogia decisão do TJ do Rio, critica cotas raciais e defende investimentos na educação básica
José Meirelles Passos escreve para O Globo, 31.05.2009:

1) Transcrevo aqui os comentários encaminhados na sequência pela Gláucia, uma interlocutora habitual de meu blog, ainda que até aqui desconhecida, se ouso dizer:

Glaucia disse...

Professor,
Continuo aqui, ja que a alta produtividade do blog vai arrastando discussões até que bem recentes para o historico. Não faço questão de outroladismo, não, ja fico honrada com a aceitação da critica neste espaço.
Perdoe a falta de referência no post anterior; falava de um texto que esta em outro blog seu, e que identifica como a grande falha do sistema de cotas o aumento da disparidade intra-negros nos EUA.
Ora, esse, me parece, é o objetivo do sistema de cotas (ou de qualquer ação afirmativa) numa sociedade capitalista: igualar a "amplitude de desigualdade" na raça negra à do resto da sociedade.
Acho curioso - e um pouco comovente - como os mais conservadores e autoproclamados meritocratas se tornam igualitaristas, quando se trata de negar uma chance a quem esta no fundo.
Sobre essa entrevista, o que posso dizer? Trata-se de uma antropologa que vem à midia falar sobre direito, constituição, educação, eficacia de politicas sociais, sociologia - tudo, em suma, menos aquilo que ela apresenta como sua especialidade. Maior autoridade que ela, nisso, so se chamassem o Caetano para contribuir no debate.
Interessante também como parece não incomodar a xenofobia quase chavista dessa mesma autoridade intelectual juridico-politico-filosofica, em geral apontada como uma praga de latinoamérica, quando a conclusão é favoravel.
Pra mim, quando a midia faz isso confessa o proprio fracasso.
Não preciso então nem comentar a insinuação de que a picaretagem de politicos ligados a categorias profissionais seja uma consequência da "divisão da sociedade em raças".
De resto, pra uma abordagem juridica séria, recomendo o capitulo correspondente em Dworkin, Taking Rights Seriously. A tese principal é: não ha nada que, isoladamente e a priori, possa ser considerado como constituindo o que chamamos "mérito". "Mérito" é o que é socialmente aceito como tal.
Não vejo então por que negar com tanta veemência que se considere como mais meritorio um estudante que ultrapassou varias barreiras do que um que teve tudo na mão, quando estes obtenham depois de 17 anos de tratamento continuo a mesma nota, ou notas semelhantes.
E verdade que nem todos os estudantes negros terão tido tratamento horrivel, e que nem todos os brancos terão morado em mansões. Mas não é esse o ponto.
Trata-se de verificar empiricamente a existência de um desequilibrio, com base na lei dos grandes numeros, e de procurar corrigir - também com base na lei dos grandes numeros - esse desequilibrio. As historias individuais vão, algo tolstoicamente, se dissolvendo nalgo que é a historia do pais. O fato de que pudesse haver escravos brancos em rincões do pais, e de que do outro lado muitos negros pudessem ser livres, não impede de dizer que o que ocorreu no Brasil foi uma "escravidão negra".
A antropologa, no caso, esta fazendo o que se espera da intelectualidade brasileira: raciocinar a partir de principios abstratos e dai tirar conclusões bem-pensantes - ainda que sem nenhum suporte na realidade.
O que me impressiona, nesse debate, é o quanto gente acostumada ao "bottom line", às analises empiricas, afferrada à prevalência da eficiência sobre a filosofia, de repente se põe a divagar sobre nossa consciência enquanto sociedade, a nivel de povo. E se recusa a pinçar uma estatistica, a fazer um estudo de caso, a olhar em volta um segundo que seja.
Se fizerem isso, torna-se dificil argumentar que politicas color blind vão resolver o problema do Brasil num prazo de menos de três gerações.
Como sempre, um abraço!
(P.S. - Reconheço a façanha que é usar a expressão "apartheid social" pra argumentar contra as quotas; Adorno ficaria orgulhoso)
Quarta-feira, Junho 03, 2009 1:15:00 PM

2) Transcrevo aqui o comentário por mim efetuado, em 3.06.2009:

Glaucia,
Não vou tecer longos comentários ao seu já longo comentário. Vou me ater a fatos simples.
Fato 1: O Brasil, sim, conheceu a escravidão negra, africana.
Fato 2: Os negros libertos foram, sim, discriminados socialmente, não recebendo terras, compensações, educação ou trabalho.
Fato 3: Isso comprometeu, sim, suas chances de progresso social ao longo dos anos e décadas seguintes, por não disporem de condições mínimas de inserção no mercado de trabalho em condições de igualdade com outras categorias sociais, mas provavelmente no mesmo plano dos mestiços do interior -- quero aqui me referir aos "bugres", "cafuzos" ou mesmo mulatos livres vivendo no campo desde os tempos coloniais, como vaqueiros, agregados, trabalhadores de latifúndios etc -- que tampouco tiveram muitas chances na sociedade capitalista atrasada que era o Brasil do final do século 19 e início do século 20.
Fato 4: Sim, os negros constituem boa parte da população pobre e deseducada no Brasil, ou seja, na incidência estatística é mais fácil encontrar negros do que brancos nos estratos mais desfavorecidos.

Desses fatos se pretende extrair "conclusões" que levariam aos seguintes equívocos:
Equívoco 1: Selecionar certo número de negros para serem contemplados com cotas universitárias, no serviço público, nos filmes, etc.
Equívoco 2: Fazer os descendentes de outros negros, brancos pobres, mestiços remediados, netos de imigrantes analfabetos, burgueses, aristocratas, privilegiados em geral, pagarem por esse tipo de "inserção social".
Equívoco 3: Substituir o mérito individual, obtido através do estudo, do empenho pessoal, do trabalho duro, por uma seleção política, por parte de um tribunal racial ou uma medida legislativa de caráter aparentemente genérica, fazendo dos seus beneficiários cidadãos especiais, premiados com algum tipo de escada oficial, governamental, para ascender na escala social, e isso unicamente em virtude da cor de sua pele, e não de seu caráter, esforço ou condição social de origem.
Equívoco 4: Chamar essa política racial discriminatória de combate à desigualdade social, quando ela está criando, como apontado, uma desigualdade supostamente equivalente àquela existente na sociedade capitalista.
Equívoco 5 e mais perigoso: Considerar que esse tipo de política racialista vai criar uma sociedade mais inclusiva, mais solidária, em lugar de uma sociedade contaminada pelo ódio racial, o que nunca existiu no Brasil, a despeito da discriminação "natural" existente na sociedade (como em qualquer outra sociedade, infelizmente, por enquanto, se espera).
Estes são os meus fatos e minha leitura dos equívocos que se cometem em promover uma política de cotas e, mais ainda, uma Lei da Desigualdade Racial, que, se aplicada na Alemanha de Hitler em favor dos brancos e contra os judeus, deixaria os nazistas muito contentes.
Paulo Roberto de Almeida

1136) Tiananmen: 20 anos da revolta estudantil na China

Uma matéria do jornal francês Le Figaro sobre os 20 anos da revolta estudantil que terminou no massacre da Praça da Paz Celestial (que nome tão irônico, em retrospecto), uma etapa, provavelmente não a mais decisiva, infelizmente, do longo caminho da China em direção à democracia, um sistema político (ou um regime de governança) que ela jamais conheceu em toda a sua história milenar.
Talvez os filhos desta geração sacrificada conheçam a democracia, mas terão primeiro de romper o monopólio político do Partido Comunista. Nenhuma democracia é possível no atual sistema.

Tiananmen, la révolte qui a ébranlé la Chine
De notre correspondant à Pékin, Arnaud de La Grange
Le Figaro, 03/06/2009

Quand le mouvement de grève de la faim se déclenche le 13 mai et que l'occupation de la place Tiananmen devient effective, la population pékinoise s'est largement rangée aux côtés des étudiants.
Quand le mouvement de grève de la faim se déclenche le 13 mai et que l'occupation de la place Tiananmen devient effective, la population pékinoise s'est largement rangée aux côtés des étudiants. Crédits photo : AP
Dans la nuit du 3 au 4 juin 1989, l'Armée populaire de libération ouvre le feu sur les jeunes contestataires qui manifestent depuis plusieurs semaines dans la capitale. C'est la fin du «printemps de Pékin».

Il y aura vingt ans exactement cette nuit, le sang coulait au cœur de la capitale d'un pays que, durant une décennie pourtant, le monde avait regardé s'adonner avec frénésie aux réformes. La Chine venait de connaître six semaines où le cours de l'histoire avait débordé, dépassant tout le monde, le pouvoir comme le camp prodémocratique.

Tout a commencé le 15 avril 1989, avec l'annonce de la mort du réformateur Hu Yaobang, dont la popularité n'a cessé de grandir depuis qu'il avait été limogé deux ans auparavant. Des étudiants se rendent alors en grappes pour lui rendre hommage devant le monument aux héros place Tiananmen. Ils ne veulent pas renverser le régime, juste obtenir une réaffirmation de la réforme politique. Le 20 avril, ils sont des milliers à se rendre devant l'entrée de Zhongnanhai, la «nouvelle cité interdite» des barons communistes, pour demander la «réévaluation du rôle de Hu Yaobang», plus de liberté d'expression et moins de corruption. Devant l'absence de réponse, hormis quelques coups de matraque, le mouvement va se structurer. Dans les universités, les étudiants créent des associations autonomes pour remplacer les unions officielles liées au Parti.

Un «immense gâchis»
Quand le mouvement de grève de la faim se déclenche le 13 mai et que l'occupation de la place Tiananmen devient effective, la population pékinoise s'est largement rangée aux côtés des étudiants. C'est l'occasion de protester contre l'augmentation du coût de la vie, de demander plus de justice, plus de liberté de la presse pour lutter contre la corruption et l'arbitraire des cadres du Parti. Mais les ouvriers, longtemps tenus à distance par les étudiants d'ailleurs, ont à peine le temps de commencer à s'organiser. Il n'y aura pas de «Solidarnosc chinois».

L'histoire bascule en deux journées. Le 17 mai, lors d'une réunion chez Deng Xiaoping, le patron du PC, Zhao Ziyang, et son bras droit Bao Tong sont accusés d'avoir favorisé l'essor du mouvement étudiant. Deng Xiaoping dresse le tableau d'une anarchie croissante, du risque de perte de contrôle total de la situation et suggère l'instauration de la loi martiale. Le 18 au matin, la décision est prise. Zhao Ziyang décide de jeter l'éponge. «Je me suis dit que quoi qu'il arrive, je refuserai d'être le secrétaire général du Parti qui aura mobilisé la troupe pour tirer sur les étudiants», raconte-t-il dans ses mémoires posthumes qui viennent d'être publiés aux États-Unis et à Hongkong. Le soir du 19 mai, on voit ces images terribles de Zhao Ziyang - accompagné de l'actuel premier ministre Wen Jiabao - descendre au-devant des étudiants sur la place Tiananmen. Il les exhorte à rentrer chez eux, fait ses excuses. «Nous sommes venus trop tard», finit-il par lâcher, les larmes aux yeux.

Trop tard, en effet. La loi martiale est promulguée le 20 mai et l'armée reçoit l'ordre de faire mouvement. Partout, des barricades sont dressées, des murs humains se forment pour freiner l'avancée des soldats. Parfois, la violence éclate. Entre le 20 mai et le 3 juin, l'armée se trouve paralysée dans une ville en ébullition. Les soldats avaient l'ordre de ne pas menacer la foule, de ne pas tirer et beaucoup n'auront longtemps pas de munitions dans leurs chargeurs. Dean Peng, alors assistant de recherche à l'Institut de l'énergie atomique de l'université de Pékin, était sur la place Tiananmen la nuit du 3 au 4 juin. Il se souvient qu'à ce moment-là, il y avait de moins en moins d'étudiants et de plus en plus de chômeurs dans les rues. Le mouvement étudiant donnait des signaux contradictoires d'essoufflement et de radicalisation. «Rétrospectivement, je me rends compte de l'immense gâchis que tout cela a été, raconte-t-il, même chez les durs du pouvoir, personne ne voulait de ce bain de sang, d'où ce sentiment de honte qui perdure jusqu'à aujourd'hui chez nos dirigeants.»

Nettoyer la place
Pour Dean, le drame est venu d'une montée aux extrêmes presque mécanique. Pourtant peu suspect de sympathie pour le Parti, qui pour lui n'est plus aujourd'hui le PCC mais «la FCC, fraction communiste de Chine», cet homme de 41 ans estime qu'«il y a eu des erreurs tactiques des deux côtés». «Les étudiants ont poussé trop loin à un moment, laissant croire à Deng que son pouvoir était menacé sur le fond. Le pouvoir a fait lui une erreur énorme en décrétant la loi martiale, qui a irrité les gens, alors que tout aurait pu se gérer sans violence, les revendications étant très vagues et pas structurées politiquement». Le problème, selon lui, c'est qu'aucun des deux camps n'avait l'expérience de ce type de confrontation. «Et c'est devenu un problème de “face”, poursuit-il. Les étudiants, s'ils se retiraient, montraient qu'ils avaient peur. Deng, s'il ne parvenait pas à rétablir l'ordre alors qu'il avait poussé à la loi martiale, perdait la face.»

L'ordre est donné le 3 juin de nettoyer la place à tout prix. Mais les consignes stipulent que le sang ne coule pas sur Tiananmen. De fait, la plupart des morts seront à déplorer dans les avenues adjacentes ou dans différents quartiers de la capitale. Lynchages de soldats, tirs contre des barrages humains de civils, la violence court avec la nuit qui avance. «Avec mon mari, nous avons cherché notre fils Wu Xiangdong toute la nuit, raconte Xu Jue, une adorable femme de 70 ans, qui était géographe chercheur à l'époque. On a vu une foule se déchaîner contre un soldat. Je n'ai pas compris. Et puis j'ai vu ces mêmes soldats abattre un rang entier de manifestants qui barraient la rue. Je ne comprenais plus rien. C'était terrible.» Après avoir couru tous les hôpitaux, le couple ne retrouvera son fils qu'au petit matin. Mort, son cadavre aligné auprès d'autres dans le garage à vélos de l'hôpital. Il avait 21 ans.

Aujourd'hui, avec bien d'autres «mères de Tiananmen», Xu Jue a écrit son histoire, archivée sur un site américain «pour que la mémoire ne meure pas». Elle montre la chemise que portait son fils à Tiananmen, bardée des signatures de ses amis. Son testament, aussi, écrit le 20 mai, quand la loi martiale a été instaurée. «Mes chers parents, pardonnez-moi si je ne suis pas très obéissant, a écrit le jeune homme, mais ce que je fais est digne de mon nom chinois». Officiellement, la «tempête politique» de mai 1989 a fait 241 morts. Xu Jue ne demande aujourd'hui que trois choses : que la vérité sur les faits et le bilan des victimes soient rétablis, que l'on dise officiellement qui a donné l'ordre de tirer et qu'une indemnité soit donnée aux familles, «pas pour l'argent, mais pour le principe». Et que l'État de droit et la liberté d'expression ne soient pas aussi en retard sur le développement économique. «L'année dernière, j'ai voulu aller me recueillir sur la tombe de Zhao Ziyang, dit-elle, six policiers m'ont arrêtée et emmenée dans une voiture. Un grand pays peut-il traiter comme cela une femme âgée, dont le seul crime est d'avoir perdu son fils il y a vingt ans ?»

» Pékin sur la défensive avant l'anniversaire de Tiananmen

» BLOG - L'espérance indéfectible de Bao Tong

terça-feira, 2 de junho de 2009

1135) O Fim do Desenvolvimento: um texto provocador

O Fim do Desenvolvimento
(agora só falta melhorar socialmente o Brasil)

Paulo Roberto de Almeida (www.pralmeida.org)

Pretendo, neste texto deliberadamente provocador e voluntariamente desprovido do aparato referencial constante dos ensaios “científicos”, formular uma série de argumentos sobre o que eu entendo ser o caráter basicamente desenvolvido da formação econômica e política do Brasil. A ausência de citações e remissões a obras acadêmicas não quer dizer que meus argumentos tomem como base apenas opiniões pessoais ou que eles refletem tão somente uma interpretação subjetiva da realidade que pretendo descrever. Ao contrário, meus argumentos tendem a expressar o resultado de vários anos – talvez décadas – de estudo dos problemas de desenvolvimento econômico, político e social do Brasil, em perspectiva histórica e numa visão comparada com outras experiências internacionais.
As seções seguintes estão, justamente, organizadas em função desses argumentos, que constituem uma série de afirmações um tanto quanto provocadoras, consoante meu desejo de confrontar a opinião corrente, que reputo como de “senso comum”, sobre o processo evolutivo e o estágio atual do que chamei de “desenvolvimento brasileiro”. Isto é, ao considerar que o processo de desenvolvimento está “acabado” no Brasil, parto da idéia de que o Brasil conseguiu realizar o essencial de uma trajetória relativamente bem sucedida de desenvolvimento, ainda que isto não se reflita inteiramente nos indicadores sociais mais eloqüentes a este respeito. Sei que meus argumentos são controversos, mas estou disposto a sustentar o “fogo adverso”, com base em argumentos bem informados sobre os problemas aqui levantados.
Todo exercício de “contrarianismo acadêmico” tende a provocar reações que se dirigem, muitas vezes, mais ao formulador dos argumentos expostos do que à substância da matéria em si, o que espero não ocorra no presente caso. Convido, em todo caso, o leitor destas linhas a tentar abstrair o invólucro “desenvolvimentista” que costuma enquadrar as análises econômicas e sociais sobre a situação brasileira, para ver a condição do país do ponto da ciência social “normal”, isto é, aquela que se dirige à própria essência da questão, não diferenciando entre países em função de categorias políticas, criadas artificialmente.

Sumário:
1. O Brasil é um país desenvolvido
(mas ele ainda não sabe disso e parece não querer ser informado a respeito)
2. Como o Brasil se tornou desenvolvido
(pequeno manual de desigualdades sociais)
3. O desenvolvimento é uma “fatalidade”, humana e civilizacional
(mas muitos insistem em velhas atitudes mentais)
4. Quais problemas impedem o Brasil de se considerar realmente desenvolvido?
(um outro manual sobre tarefas aparentemente simples)
5. O fim do desenvolvimento
(só falta trabalhar mais um pouco)

Para ler este texto completo, clicar aqui.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 15 de novembro de 2004

segunda-feira, 1 de junho de 2009

1134) Economia Politica do Intelectual

Um site de Direito de uma faculdade de Belo Horizonte republicou, recentemente, um antigo texto meu, com o titulo acima. Reproduzo aqui a parte inicial e o sumario.

Economia política do intelectual

O intelectual pode ser definido como sendo, essencialmente, um produtor de saber ou, pelo menos, de idéias (nem sempre originais).
Pretendo, nestas breves considerações em torno da economia política dos intelectuais, oferecer uma visão cética, ou pelo menos crítica, sobre alguns dos mitos da nossa época, entre eles o do intelectual público enquanto figura de proa dos movimentos vanguardistas, ou progressistas, e portanto, de uma figura isenta que encarna, supostamente, os melhores valores da racionalidade e do humanismo. Ainda que tudo isso possa ser justificado, em bases racionais, ou legitimado socialmente, nenhuma restrição de ordem conceitual ou filosófica deveria nos impedir de examinar essa figura ímpar da modernidade – mas, na verdade, eles não são tão modernos assim, nem tão excepcionais quanto se quer fazer acreditar –, tendo como base analítica essencial a relação de custo-benefício que eles costumam apresentar para a sociedade e como único critério a dissecação sem compaixão desse obscuro objeto de admiração (por vezes indevida).

Sumario:
1. Certidão de nascimento ou temporalidade difusa?
2. Natureza do produto e valor agregado: ativos tangíveis e intangíveis
3. Volatilidade e imperfeição dos mercados intelectuais
4. Um tipo específico de intelectual: a “vaca sagrada”
5. Intelectuais de marca ou genéricos?
6. A substituição de importações intelectuais no caso brasileiro
7. Regulação e concorrência do mercado de intelectuais
8. As finanças dos intelectuais: transparência e recursos não-contabilizados
9. Uma lei de responsabilidade social para os intelectuais?

Interessados, invejosos, candidatos a intelectuais (mas nao recomendo, neste caso), enfim, curiosos em geral, podem ler a integra neste link:
http://www.domtotal.com/colunistas/detalhes.php?artId=676

1133) De volta ao problema do Apartheid racial: o problema das cotas

Sinto voltar a insistir, mas se trata de evitar a criação, no Brasil, de uma sociedade racialmente dividida, como pretendem, talvez involuntariamente, os patrocinadores das cotas raciais e os promotores de todas essas políticas afirmativas de corte racial.
Abaixo transcrevo mais uma entrevista de conhecida antropologa que rejeita o sistema.
Não, não vou colocar aqui nada que seja a favor do sistema: sou radicalmente contrário, mas totalmente a favor de um debate sério, honesto, de base científica, sobre essa questão. Em geral sou contra as simplificações, como promovidas pelos promotores da idéia, tipo: "as cotas são importantes para resgatar uma injustiça histórica".
Isso é simplesmente aberrante. Minha avó foi tratada praticamente como escrava nas fazendas de café e não creio que seja o caso de pedir qualquer reparação por isso.


'País, que não se pensava dividido, está sendo dividido', aponta antropóloga
Yvonne Maggie elogia decisão do TJ do Rio, critica cotas raciais e defende investimentos na educação básica
José Meirelles Passos escreve para O Globo, 31.05.2009:

Fervorosa ativista contra o sistema de cotas raciais para o ingresso nas universidades, a antropóloga Yvonne Maggie, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, comemorou a recente suspensão, pelo Tribunal de Justiça, da lei estadual que estipulava a reserva de vagas em universidades estaduais, como um primeiro passo para a revogação de leis raciais.

A seu ver, elas servem apenas para dividir os brasileiros que, no geral, diz, rejeitam o racismo. Segundo ela, o sistema de cotas é fruto de pressão internacional alimentada por milhões de dólares da Fundação Ford: 'Essa pressão talvez tivesse caído no vazio se não houvesse dinheiro americano nessa história'.

- O sistema de cotas é apresentado como forma de criar oportunidades iguais para todos. A senhora discorda. Por quê?
Porque ele faz parte de leis raciais que querem implantar no Brasil. E elas são inconstitucionais. A Constituição Federal proíbe criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si. A do Estado do Rio também. Estou defendendo o estatuto jurídico da nação brasileira, com base no fato de que raça não pode ser critério de distribuição de justiça. Raça é uma invenção dos racistas para dominar mais e melhor.

- Que critério usaram para criar tal sistema?
Surgiu no governo de Fernando Henrique Cardoso, propondo cotas para negros ou pardos, hoje chamados de afrodescendentes, sob o critério estatístico do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Mas isso não significa que as pessoas se identifiquem com aquilo. Nós, brasileiros, construímos uma cultura que se envergonha do racismo.

- Mas existe racismo no Brasil, não?
Eu nunca disse que não há racismo aqui. Mas não somos uma sociedade racista, pois não temos instituições baseadas em lei com critério racial. É interessante ver que o Brasil descrito nas estatísticas foi tomado como verdade absoluta. Há uma espécie de alucinação coletiva. Uma coisa é dizer que o Brasil é um país desigual, com uma distância muito grande entre ricos e pobres. Outra coisa é atribuir isso à raça.

- Quais os motivos para a criação de leis raciais no país?
Outra alucinação: a de que a forma de combater a desigualdade no Brasil deve ser via leis raciais. Elas propõem dividir o povo brasileiro em brancos e negros. Há quem diga que o povo já está dividido assim. Digo que não. Afinal, 35% dos muito pobres no Brasil se definem como brancos.

- Qual é o melhor critério?
Em vez de lutar contra o racismo com ações afirmativas, colocando mais dinheiro nas periferias, o governo optou pelas cotas raciais reservando certo número de vagas na escola e, com o estatuto racial, no mercado de trabalho. Então, o país que não se pensava dividido está sendo dividido.

- Seja como for, a ideia das cotas está ganhando adeptos.
Nem tanto. Pesquisa recente feita no Rio pelo Cidan (Centro Brasileiro de Informação e Documentação do Artista Negro), mostrou que 63% das pessoas são contra as cotas raciais. A maioria do povo brasileiro acha que todos somos iguais. Aprendemos isso na escola.

- O objetivo era beneficiar negros e pardos. Agora no Rio já existem cotas para portadores de deficiência, para filhos de policiais, de bombeiros. A tendência é esse leque aumentar?
A lógica étnica ou racial não tem fim. Tudo surgiu porque houve pressão internacional com o sentido de combater o racismo. Mas quem domina os organismos internacionais são os países imperialistas, sobretudo Inglaterra e Estados Unidos, que têm uma visão imperialista de mundo dividido. Os EUA são um país dividido. Não pensam como nós. Lá a questão racial é a primeira identidade. Você pergunta 'quem é você?', e dizem: 'sou afroamericano', etc. Como não vivemos ódio racial no Brasil não sabemos o que é isso. O problema é que ao dividir e criar uma identidade racial fica impossível voltar atrás.

- O Brasil sucumbiu à pressão internacional?
A pressão talvez tivesse caído no vazio se não houvesse dinheiro americano nessa história. A Fundação Ford investiu milhões de dólares no Brasil, formando advogados, financiando debates, criando organizações não governamentais (ONGs). Não temos mais movimentos sociais. Quem luta em favor das cotas se transformou em ONG que recebe dinheiro do governo e da Fundação Ford. Juntou-se a fome com a vontade de comer. O governo inventa as ONGs, financia, e depois diz que as cotas são uma demanda do povo.

- Como combater a desigualdade no acesso à universidade?
O Brasil tem que enfrentar a questão da educação básica de forma madura e consciente, investindo. Precisamos de recursos financeiros e humanos. Melhorar o salário dos professores e sua formação. E mudar a concepção de educação. Sem investimento não construiremos uma sociedade mais igual. Estamos criando uma sociedade mais desigual, escolhendo um punhadinho entre os pobres. Na verdade, a competição pelos recursos não é entre o filho da elite e o filho do pobre: ocorre entre os pobres.

- Como a senhora vê a educação no Brasil?
A formação de professores e a concepção de educação são precárias. Não se obriga as escolas a ensinar. Obama acaba de fazer uma grande melhoria nos EUA: premia os bons professores. São os que ensinam melhor. E pune os maus. Quem não consegue fazer com que o seu aluno tire nota boa nas provas de avaliação externas, sai ou é reciclado.

- Há luz no fim do túnel?
Sou otimista. Acho que as leis raciais não vingarão no Brasil. Creio que os congressistas têm mais juízo. E que em vez de lutar pelas cotas, o ministro da Educação deve fazer com que prefeitos e governadores cumpram as metas. Elas são excelentes. A ideia dele é fazer com que os municípios mais pobres recebam mais dinheiro. A opção é investir nas escolas e nos bairros mais pobres.

- É possível conter o lobby das ONGs favoráveis às cotas?
É muito difícil ir contra grupos que se apresentam como o povo organizado. Temos que lutar pelo povo desorganizado, o povo que anda pela rua, que casa entre si, que joga futebol junto, que bebe cerveja, e não está o tempo todo pensando de que cor você é, de que cor eu sou. Povo é o que nos ensina que é melhor dar a mão do que negar um abraço.

1132) Escritos sobre a crise: nao, o capitalismo nao vai morrer...

Tenho recebido inúmeras perguntas do mesmo teor, ou seja, sobre a crise atual como um prenúncio de derrocada final do nossos sistema econômico, e sempre tenho de descartar essas interpretações catastrofistas acerca do capitalismo.
Sinto muito decepcionar os anticapitalsitas, mas a saúde do sistema não está absolutamente em causa, e sim os desequilíbrios naturais de uma economia de mercado.
Ou seja, uma forte gripe, com alguma recuperação delongada.
O resto é conversa fiada.
Exemplo de perguntas recebidas recentemente:
A crise atual não faz parte da própria dinâmica do capitalism ou possui alguma especificidade que a torna diferente de varias outras? Podemos falar na morte do neoliberalismo e na retomada de um período keynesiano?

Como já escrevi amplamente sobre esses temas, permito-me remeter aqui a alguns dos meus textos mais recentes, que poderão interessar eventuais curiosos, catastrofistas, keuynesianos, eventuais anti-keynesianos e talvez até, quem sabe, gente que ama com o capitalismo (acho improvável que exista, mas sempre pode ter algum maluco por aí).

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Paulo Roberto de Almeida
www.pralmeida.org

1995. “A crise do capitalismo”, Indianapolis, IN, 11 abril 2009, 5 p. Respostas a questionário colocado por estudante de jornalismo da UNESP. Blog Diplomatizzando (11.04.2009; link). Publicado, so b o titulo de “A crise e a morte anunciada do capitalismo (provavelmente exageradas, como diria Mark Twain)”, em Via Política (11.05.2009; link).

1985. “Planes de rescate pueden ser paralizantes” e “Impacto de la crisis en Latinoamerica”, Brasília, 25 e 26 fevereiro 2009, 3 p. Entrevistas a Radio Nederland, edición en español, sobre (a) el plan americano de recuperación econômica y sus consecuencias para la región, transmitida em 25.02.2009 (links para: (a) matéria sobre o plano de recuperação do governo Obama; (b) para minha entrevista em arquivo mp3; (c) para a mesma entrevista em WindowsRealPlayer); (b) sobre los planes de rescate de los gobiernos: transmitida en 26.02.2006 (links para (a) matéria sobre Planes de Rescate; (b) para minha entrevista em áudio WMP; (c) para Mp3.

1955. “Uma reorganização da ordem econômica mundial?: rumores a esse respeito são altamente exagerados...”, Brasília, 26 novembro 4 p. Revista digital Espaço da Sophia (ano 2, nr. 21, Dezembro 2008, p. 1-5). Ampliado sob o título “No limiar de uma reorganização da ordem econômica mundial?: rumores a esse respeito são altamente exagerados...”, para a revista Custo Brasil. Publicado sob o título de “O lugar do Brasil na governança mundial” na revista Custo Brasil (ano 3, n. 17, outubro-novembro 2008, p. 30-36; link).

1953. “As crises do capitalismo e a crise do marxismo: qual a mais grave?”, Brasília, 18 novembro 2008, 6 p. Reelaboração do trabalho 1945; publicado em Via Política (23.11.2008).

1952. “Falácias acadêmicas, 4: o mito do Estado corretor dos desequilíbrios de Mercado”, Brasília, 15 novembro 2008, 12 p. Da série programada, com críticas a economistas keynesianos. Espaço Acadêmico (ano VIII, nr. 91, dezembro 2008; arquivo em pdf).

1944. “Crises financeiras internacionais: uma síntese histórica dos últimos 80 anos”, Brasília, 28 outubro 2008, 11 p. Texto-guia para palestra no curso O Diplomata (sexta, dia 31/10, 19h30 às 22h45; sábado, dia 1o/11, 9h às 12h15).

1940. “Sobre a proposta de uma nova autoridade financeira mundial”, Brasília, 13 outubro 2008, 4 p. Comentários à demanda de um novo Bretton Woods. Publicado em Domtota 2l.10.2008 (link). Publicado em Via Política (17.11.2008). Publicado na revista digital Espaço da Sophia (ano 2, nr. 20, novembro 2008, p. 1-4; link).

1131) Volta ao padrao-ouro: proposta de um economista francês

Interessante ponto de vista deste economista francês, que parece discípulo de Jacques Rueff (o economista que assistiu à conversão dos antigos francos pré-Primeira Guerra, em francos Poincaré (baseados no ouro), em 1928, situação que se manteve at=e 1936, quando tudo saltou pelos ares. Mas, o mesmo Rueff assistiu o General De Gaulle na reconversão dos antigos francos em novos francos (em 1958), no contexto do sistema de Bretton Woods, consistindo, portanto, numa paridade legalmente estabelecida (que depois o General De Gaulle se encarregou de cobrar dos EUA, retirando os seus lingotes de ouro de Fort Knox, em contrapartida das montanhas de dólar-papel acumulados como saldos superivitários no comércio bilateral).
Não considero viável, a idéia desse economista, que recomenda o abandono da moeda-papel, pela simples razão que os Estados contemporâneos são amigos da inflação e querem manter o privilégio de imprimir papel-moeda cada vez que eles sentem necessidade.
Mas, talvez se pudesse considerar uma legislação que punisse os criadores irresponsáveis de inflação...
A seguir, o artigo do Le Monde:

Point de vue
Il faut rétablir l'étalon-or de l'euro
Philippe Simonnot
LE MONDE, 01.06.09

Il y a quelque chose de tellement pourri au "royaume" de l'euro que l'on se demande par quelle aberration l'Europe s'est engagée dans la voie à sens unique de la monnaie unique. Peut-être y a-t-il une ruse de l'histoire dans ce cheminement calamiteux. Mais alors, quelle pourrait être la raison cachée de l'euro ?

Elles sont toujours là, en effet, elles ont même été redoublées par la crise, les forces qui avaient obligé à réajuster les changes du "protoeuro", à savoir le système monétaire européen (SME) par douze fois entre 1979 et 1991, avant son explosion en 1992.

Dans un espace géographique donné, une monnaie unique suppose une libre circulation des biens, des capitaux et de la main-d'oeuvre et une flexibilité complète des prix et des salaires. Si le travail n'obéit pas à cette loi d'airain, alors que marchandises et capitaux lui sont soumis, des poches de chômage apparaissent dans certaines régions, dans certains pays, qui ne pourraient être réduites que par des efforts budgétaires hors de portée de l'Union européenne dans l'état actuel de ses institutions.

Toujours là, ces forces de dissolution sont, non pas contenues, mais masquées par l'euro en ce qu'il a supprimé les thermomètres qui permettaient de mesurer les divergences entre les Etats membres. Il en résulte que beaucoup de pays membres empruntent à des taux plus bas et se permettent des déficits plus élevés qu'ils ne le pourraient s'ils avaient encore leur propre monnaie. Ces subterfuges ne peuvent évidemment pas durer.

Autre aberration du point de vue des princes qui nous gouvernent : les Etats ont abandonné ce qui était considéré, génération après génération, comme un attribut régalien, à savoir le pouvoir de frapper monnaie, pour le confier à une banque centrale, sise à Francfort, qui, par un coup de force institutionnel, a été proclamée indépendante. Il avait été prévu, au départ, du plan Werner (1970) au plan Delors (1989), que ce pouvoir monétaire exorbitant serait contrebalancé par une instance économique intergouvernementale. Le deuxième pilier de l'édifice a été oublié en route. L'édifice actuel est non seulement bancal, mais en plus il n'a aucune légitimité démocratique.

Enfin, faut-il le rappeler, il n'y a rien dans le pacte fondateur de l'Union européenne, le traité de Rome du 25 mars 1957, qui laisse entrevoir que cette Union nécessiterait une unification monétaire - et de fait, elle n'en nécessitait aucune du seul point de vue économique et financier.

Si, toutefois, l'on ne renonce pas à trouver un sens à ce cheminement extravagant, on observera d'abord cet "avantage acquis" de l'euro : la monnaie, en Europe, a été éloignée du pouvoir politique, et si des peuples recrus d'histoire ont si facilement abandonné des signes monétaires auxquels ils étaient accoutumés depuis des siècles, c'est justement que, las des manipulations étatiques de la planche à billets, ils ont accueilli avec soulagement cette autonomisation de la monnaie, laquelle pourrait servir de plate-forme au rétablissement de l'étalon-or par l'Europe.

Le pacte de stabilité et de croissance de 1997 - certes fragile, on le voit bien aujourd'hui -, pouvait même être considéré comme un premier pas dans cette direction. Mais à quoi bon subir les disciplines de l'étalon-or sans jouir de ses avantages ?

Grâce à l'existence même de l'euro, Nicolas Sarkozy peut réussir là où le général de Gaulle, qui ne disposait que du franc, a échoué : mettre fin au vice du système monétaire international en rétablissant la convertibilité métallique. Le président français a, du reste, laissé la porte ouverte pour une telle solution en appelant de ses voeux lors de son allocution du 5 février l'instauration d'"un régulateur international".

Dans cette démarche, l'Europe peut trouver des alliés : la Russie, l'Organisation des pays exportateurs de pétrole (OPEP), le Brésil, l'Inde, mais aussi, bien sûr, la Chine, encombrée de ses milliards de dollars, qui vient de donner un signal intéressant en révélant après coup qu'elle avait quasiment doublé ses réserves en or.

Si l'Europe ne choisit pas cette voie, elle risque de subir une fois de plus, tel un satellite, les ravages de l'inflation américaine. C'est bien cette dernière qui est responsable de la fantastique flambée des cours du pétrole et des autres matières premières en 2008.

La nouvelle vague d'inflation, voire d'hyperinflation américaine qui arrive, obligera l'euro à se réévaluer de facto. On peut donc redouter une exportation du chômage américain (et anglais) vers l'Europe, avec son cortège de misère, de crises sociales, voire politiques.

L'histoire enseigne que la monnaie-papier n'est tout simplement pas viable à long terme. Une course pour le rétablissement de la convertibilité métallique est déjà engagée entre les grandes puissances du monde. Le premier qui rétablit l'étalon-or gagnera un afflux immédiat d'épargne permettant de financer sainement la relance. Il est imaginable que certains, aux Etats-Unis, tiennent le même raisonnement et pensent rétablir le Gold Exchange Standard de Bretton Woods pour perpétuer le privilège du dollar.

Si l'Europe réussit ce coup de maître, facilité par l'euro, elle peut détourner vers elle l'épargne mondiale qui continue d'être drainée par les Etats-Unis, et retrouver la place au centre du système monétaire international qu'elle a perdue en 1914. Une manière de solder enfin les comptes du XXe siècle.

Philippe Simonnot est directeur, Atelier de l'économie contemporaine, Observatoire de l'économie méditerranéenne

1130) Os pontos quentes do planeta (de guerra, quero dizer)

Nenhuma situação em melhoria, apenas deterioração (algumas graves e arriscadas, como o problema nuclear da Coréia do Norte) e estabilização na crise...

New CrisisWatch bulletin from the International Crisis Group
CrisisWatch N°70, 1 June 2009

Nine actual or potential conflict situations around the world deteriorated and none improved in May 2009, according to the new issue of the International Crisis Group’s monthly bulletin CrisisWatch, released today.

Somalia’s capital was rocked by intense fighting as an alliance of anti-government Islamist factions led by influential Islamist cleric Sheikh Hassan Dahir Aweys launched a large-scale offensive in and around Mogadishu. Close to 200 civilians were killed, hundreds wounded and over 46,000 displaced by heavy shelling into residential areas. The effects of severe drought have compounded fears for a further deterioration in security and humanitarian conditions in June.

Conditions for civilians in Pakistan also deteriorated considerably over May, as the army offensive against the Taliban continued in the north west. The total number of displaced has reportedly reached over 2.4 million since the operation’s launch in late April, prompting UN calls for “urgent and massive” humanitarian assistance on the ground.

Tensions between Chad and neighbouring Sudan escalated sharply, as an early month agreement to cease hostilities quickly unravelled following a fresh assault in Chad’s volatile east by Chadian rebels operating from bases across the border in Darfur. Retaliatory air strikes by Chadian forces on Sudanese soil have since prompted vehement accusations of military aggression between capitals and threats of further action. The situation in Nigeria also deteriorated, as the government launched a major ground, air and naval offensive against militia groups in the restive Niger Delta. Dozens of civilians have reportedly been killed and thousands displaced since mid-May, amid reports of government efforts to restrict humanitarian access.

In North Korea, Pyongyang’s 25 May announcement of the completion of an underground nuclear test prompted widespread condemnation over its brazen contravention of UN Security Council Resolution 1718 and fears for the further escalation of regional tensions. The situations in Guatemala, Myanmar/Burma and Niger also saw significant deteriorations in May.

May 2009 TRENDS

Deteriorated Situations
Chad, Guatemala, Myanmar/Burma, North Korea, Niger, Nigeria, Pakistan, Somalia, Sudan

Improved Situations
-

Unchanged Situations
Afghanistan, Algeria, Armenia/Turkey, Armenia, Azerbaijan, Bangladesh, Basque Country (Spain), Belarus, Bolivia, Bosnia, Burundi, Cameroon, Central African Republic, Chechnya, Colombia, Côte d’Ivoire, Cyprus, Democratic Republic of Congo, Ecuador, Egypt, Ethiopia, Eritrea, Georgia, Guinea, Guinea-Bissau, Haiti, India (non-Kashmir), Indonesia, Iran, Iraq, Israel/Occupied Palestinian Territories, Kashmir, Kazakhstan, Kenya, Kosovo, Kyrgyzstan, Lebanon, Lesotho, Liberia, Macedonia, Madagascar, Mauritania, Morocco, Nagorno-Karabakh (Azerbaijan), Nigeria, North Caucasus (non-Chechnya), Northern Ireland, Philippines, Rwanda, Serbia, Sierra Leone, Sudan, Syria, Taiwan Strait, Tajikistan, Togo, Turkey, Turkmenistan, Uganda, Ukraine, Uzbekistan, Venezuela, Yem en, Zimbabwe

June 2009 OUTLOOK

Conflict Risk Alert
Somalia

Conflict Resolution Opportunity
-

*NOTE: CrisisWatch indicators - up and down arrows, conflict risk alerts, and conflict resolution opportunities - are intended to reflect changes within countries or situations from month to month, not comparisons between countries. For example, no "conflict risk alert" is given for a country where violence has been occurring and is expected to continue in the coming month: such an indicator is given only where new or significantly escalated violence is feared.

Search current and all past editions of CrisisWatch by using the CrisisWatch database.

1129) Elogio por um "servico publico": concessao (excepcional) ao narcisismo

Confesso que não pretendia fazer isto, mas eis-me aqui, noite adentro, rendendo-me a um ataque de fraqueza narcisistica. Eu estava tentando encontrar uma correspondência em meus arquivos ou agenda eletrônica, sem sucesso, e já quase desistindo da empreitada, quando topei com o intercâmbio abaixo reproduzido.
Não sei bem por que, mas guardei uma mensagem recebida de um leitor desconhecido (até então), através do formulário de meu site, e sua respectiva resposta, também registrada.
Sem pretender fazer disso uma demonstração de exibicionismo deplacé (e totalmente em contradição com meu natural reservoso) permito-me transcrever aqui esse intercâmbio, posto que acredito ser ele revelador de uma das principais funções de meu site: oferecer textos que possam eventualmente apresentar algum interesse para candidatos à carreira diplomática e outros curiosos em temas internacionais em geral.
Acredito que vale como um elogio, como pretende meu correspondente, mas aceito apenas como reconhecimento de meu esforço.

Elogio

Mensagem enviada pelo formulário de Contato do SITE: 8.02.2009
Nome: Xxxxxxx Xxxxxx Xxxx
Cidade: Xxxx Xxxxxxxx
Estado: XX
Email: xxxxxx@uol.com.br
Assunto: Sem assunto
Mensagem: Elogio.

É isso que quero fazer a você ! E porquê não há esta palavra na lista de opções de \"assunto\" ? Você não se acha merecedor de um elogio ? Ou esta opção pareceria um pouco pretenciosa de sua parte ?... Pois lhe digo.. você merece sim um elogio...Dr. Paulo Roberto.. seu site é inspirador, autêntico e rico. Sua entrevista com você mesmo é de uma clareza e autênticidade que nos faz pensar em nossas próprias vidas.. Vou prestar o concurso do IRB este ano e estava buscando mais informações sobre o dia-a-dia de um diplomata e seu site foi fundamental pois, também sou professora, e pensava que ao ser diplomata teria que abrir mão da área acadêmica. Engano enorme.
Muito obrigada pelos seus ensinamentos... e pode ter a certeza... se na sua lápide estiver escrita \"multiplicador de conhecimentos\"...vou assinar embaixo... \"Sim ! Ele me ensinou !
Abraços !
Sucesso nas relações humanas ! Pq no resto você já é.
Xxxxxxx X. Xxxx

Minhs resposta:

Xxxxxxx,
Muito obrigado pelas belas palavras, que muito me estimulam a continuar labutando, madrugada adentro, em temas que não são propriamente "alimentares" -- posto que correspondendo a uma atividade "secundária", ou puramente voluntária -- mas que aparentemente contribuem para o enriquecimento intelectual dos mais jovens e o estimulo a que eles tambem se dediquem ao estudo e à pesquisa.
As tentativas de ingresso na carreira representam justamente isso: a necessidade de muito estudo, o que sempre será util a todos e a cada um, mesmo quando não expressamente vinculados aos exames de ingresso, ou quando este não foram coroados de êxito, o que obviamente não deveria frustrar ninguem, pois a preparação e o aprofundamento intelectual estao garantidos.
Tenho tentado transmitir essas ideias aos jovens.
Quanto à sugestão de uma seção "Elogio", sinceramente não creio apropriado. Nao costumo ser narcisista, ainda que todos possamos ter como fraqueza individual uma certa vaidade própria.
Fico apenas contente de poder ser util a outros, e sobretudo de poder devolver à sociedade aquilo que dela recebi, outrora, como presente mais precioso: uma escola publica de qualidade, que me formou, parcialmente, e me preparou para ser aquilo que sou hoje, um cidadao bem formado e bem informado.
Muito foi meu proprio esforco individual, mas tambem credito minha preparacao inicial à escola publica de qualidade, o que, infelizmente, já não mais existe. Faço votos, e esforços, para que essa realidade volte, no futuro, para que tantos jovens de recursos modestos como eu tenham chances reais na vida.
O abraco do
-------------
Paulo Roberto de Almeida

domingo, 31 de maio de 2009

1128) Um manifesto anti-escravista seriamente enviesado

Abaixo figura uma petição contra um concurso português que pretende protestar contra o "encobrimento" do passado escravista desse país.
Ele foi redigido, em três idiomas, por um conjunto de acadêmicos, em grande parte professores de história, que criticam a visão mistificadora do referido concurso, cujas características estão descritas abaixo.
Ainda que concordando em grande medida com a descrição dos horrores da escravidão atlântica, eu me pergunto por que apenas atlântica, quando a escravidão é um processo mundial que, desde a antiguidade envolveu não apenas povos africanos e o tráfico atlântico. Mesmo considerando-se apenas a escravidão dos povos africanos, o comércio escravo náo foi apenas atlântico, tendo aliás persistido no Indico durante mais tempo que no Atlântico, sendo os comerciantes árabes os mais ativos no tráfico. Países árabes, por sinal, aboliram a escravidão apenas na segunda metade do século XX (a Árabia Saudita em 1962 e a Mauritânia em 1975, sendo que, na verdade, a escravidão ainda não acabou totalmente nesse últiumo país).
Considero, portanto, altamente enviesado esse manifesto e, embora transcrevendo-o aqui, não pretendo firmá-lo. Reputo seu teor digno de atenção, mas entendo que os historiadores que o compuseram pecam por parcialidade e falta de objetividade na consideração do processo histórico como um todo, além de exibirem um revisionismo histórico totalmente ilegítimo para verdadeiros historiadores.
Que a escravidão -- não apenas africana -- tenha sido uma tragédia da humanidade, disso ninguém tem dúvidas, embora ela deva ser considerada como um dos elementos de um passado histórico que deve ser considerado em seu próprio contexto, e não julgado com base em nossos valores e critérios históricos e filosóficos atuais.

O concurso 'As 7 maravilhas portuguesas no mundo' ignora a história da escravidão e do tráfico atlântico
link

Há mais ou menos vinte anos, vários países europeus, americanos e africanos vêm afirmando a memória dolorosa do comércio de africanos escravizados e valorizando o patrimônio que lhe é associado. Essa valorização se traduziu não somente na publicação de um grande número de obras historiográficas, mas também se expressou na realização de projetos como A Rota do Escravo iniciado pela UNESCO em 1994.

Apesar das dificuldades e das lutas políticas que envolveram a emergência da memória do passado escravista das nações europeias, americanas e africanas, de dez anos para cá a memória e a história do comércio atlântico passaram a fazer parte da memória pública de muitos países nos três continentes circundando o Atlântico. Em 2001, através da Lei Taubira, a França foi o primeiro país a reconhecer a escravidão e o tráfico atlântico como crimes contra a humanidade. Também na França, o 10 de Maio é doravante “dia nacional de comemoração das memórias do tráfico negreiro, da escravatura e das suas abolições”. Em 2001, em Durban na África do Sul, a Terceira Conferência da ONU contra o racismo inscreveu em suas declarações finais a escravidão como “crime contra a humanidade”. Em 1992, na Casa dos Escravos na Ilha de Gorée no Senegal, o Papa João Paulo II expressou suas desculpas pelo papel desempenhado pela Igreja Católica durante o tráfico atlântico. Bill Clinton, George W. Bush, e o próprio Presidente do Brasil, Luis Inácio Lula da Silva, condenaram publicamente a participação passada de seus países no comércio atlântico de africanos escravizados. Em 2006, Michaelle Jean, governadora geral do Canadá, escolheu o Castelo de Elmina em Gana para denunciar passado escravista. Em 2007, durante as comemorações do aniversário de duzentos anos da abolição do tráfico de escravos pela Inglaterra, foi a vez do ministro Tony Blair expressar publicamente seu profundo pesar pelo papel da Grã-Bretanha no comércio de africanos escravizados.

Em pleno ano de 2009, o governo de Portugal e instituições portuguesas como a Universidade de Coimbra, escolheram um caminho oposto ao descrito acima. No primeiro semestre desse ano essas instituições apoiaram a realização de um concurso para escolher as Sete Maravilhas Portuguesas no Mundo. Na lista das Sete Maravilhas a serem votadas pelo público na internet (http://www.7maravilhas.sapo.pt), constam não somente o Castelo São Jorge da Mina (Elmina), entreposto comercial fundado pelos portugueses em 1482, mas também a Cidade Velha (Ribeira Grande) na Ilha de Santiago em Cabo Verde, além de Luanda e da Ilha de Moçambique. Ao descrever esses sítios, a organização do concurso optou por omitir o uso desses lugares para o comércio de escravos. No texto descrevendo o Castelo São Jorge da Mina ou Elmina chegou-se ao cúmulo de afirmar que aquele local foi entreposto de escravos somente a partir da ocupação holandesa em 1637.

Para ser fiel à história e moralmente responsável, consideramos que a inclusão desses “monumentos” no dito concurso deveria ser acompanhada de informações completas sobre o papel deles no tráfico atlântico, assim como sobre seu uso atual. O Castelo de São Jorge da Mina ou Elmina, por exemplo, é hoje um museu que tenta retratar a história do tráfico. Trata-se de um lugar visitado por milhares de turistas de todo o mundo, entre os quais muitos representantes da diáspora africana que buscam ali prestar homenagem a seus ancestrais. O governo português, as instituições que apóiam o concurso e sua organização ignoraram a dor daqueles que tiveram seus antepassados deportados desses entrepostos comerciais e muitas vezes ali mortos. Seria possível desvincular a arquitetura dessas construções do papel que elas tiveram no passado e que ainda têm no presente enquanto lugares de memória da imensa tragédia que representou o tráfico transatlântico e a escravidão africana nas colônias européias ? Segundo as estimativas mais recentes (www.slavevoyages.org), Portugal e posteriormente sua ex-colônia, o Brasil, foram juntos responsáveis por quase a metade dos 12 milhões de cativos transportados através do Atlântico.

Em respeito à história e à memória dos milhões de vítimas do tráfico atlântico de escravos, viemos através desta carta aberta repudiar a omissão do papel que tiveram esses lugares no comércio atlântico de africanos escravizados. Convidamos todos aqueles que têm um compromisso com a pesquisa do tráfico atlântico de escravos e da escravidão a repudiar que essa história seja banalizada e apagada em prol da exaltação de um passado português glorioso expresso na suposta "beleza" arquitetural de tais sítios de morte e tragédia.

Ana Lucia Araujo, Howard University, Washington DC, Estados Unidos
Arlindo Manuel Caldeira, professor, Centro de História de Além-Mar, Universidade Nova de Lisboa, Portugal
Mariana Pinho Candido, Princeton University, Princeton, Estados Unidos
Michel Cahen, CNRS, Centre d’Études de l’Afrique, Bordeaux, França
Christine Chivallon, CNRS, Centre d’Études de l’Afrique, Bordeaux, França
Myriam Cottias, CNRS, Diretora do Centre International de recherches sur les esclavages, Paris, França
Hebe Mattos, Universidade Federal Fluminense, Rio de Janeiro, Brasil
Maurice Jackson, Georgetown University, Washington, Estados Unidos
Hendrik Kraay, University of Calgary, Canadá
Jane Landers, Vanderbilt University, Nashville, Estados Unidos
Jean-Marc Masseaut, Cahiers Anneaux de la Mémoire, Nantes, França
Claudia Mosquera Rosero-Labbé, Universidad Nacional de Colombia, Bogotá, Colombia
João José Reis, Universidade Federal da Bahia, Salvador, Brasil
Anna Seiderer, Museu Real da África Central, Tervuren, Bélgica
Simão Souindola, Historiador, Luanda, Angola
Jean-Michel Mabeko-Tali, Howard University, Washington, Estados Unidos

Sincerely,
The Undersigned

Em inglês e em francês neste link
The contest « The Seven Portuguese Wonders » ignores the history of slavery and the slave trade
Le concours « Les 7 merveilles portugaises » ignore l’histoire de l’esclavage et de la traite transatlantique

sábado, 30 de maio de 2009

1127) O pais mais importante do mundo, ou pelo menos da America Latina

El país más importante de Latinoamérica
MOISÉS NAÍM
El País, 31/05/2009

La pequeña isla de Cuba suscita más interés que una potencia dinámica como Brasil

Bill Clinton y George W. Bush acaban de tener un debate cara a cara en Canadá donde discutieron los grandes temas de nuestro tiempo. ¿Cuál fue el único país de América Latina mencionado en la conversación? Cuba. En abril se reunieron en Trinidad los jefes de Estado de las Américas. ¿El tema central? Cuba -el único país que no fue invitado a esa cumbre-. Ahora, se reúne la Organización de Estados Americanos (OEA) en Honduras. ¿Cuál es el problema central que domina las deliberaciones de los ministros del continente y que obliga a Hillary Clinton a distraer su atención de la bomba atómica norcoreana y de las crisis en Oriente Próximo, Afganistán y Pakistán para viajar a esta cumbre de la OEA? Cuba, por supuesto.

Hace poco, el Brookings Institution, un think tank de Washington, organizó una reunión para debatir la situación de Cuba. La sala se llenó. Pocos días después convoco a otra reunión a la que no fue casi nadie. ¿El tema? Brasil.

Este enorme interés por Cuba no es sólo de presidentes, ministros y periodistas de América. En Europa pasa lo mismo. Y según Google, Cuba casi duplica a Brasil en número de sitios de Internet relacionados con cada uno de los dos países.

Así las cosas, si un marciano aterrizase en nuestro planeta le sería obvio que Cuba es el país más importante de América Latina. Pero esta conclusión duraría sólo hasta que tuviese que ubicar a la isla en un mapa. O comparar a Cuba con otros países de la región: con Brasil, por ejemplo.

Brasil ocupa casi la mitad de todo el territorio de Suramérica y es el quinto país más vasto del mundo. Su superficie es casi 80 veces más grande que la de Cuba. En una sola ciudad brasileña -São Paulo- vive más gente que en toda Cuba. La economía brasileña es una de las más grandes y dinámicas del mundo, y es 31 veces más grande que la de Cuba. El intercambio comercial entre Brasil y el resto del mundo es 25 veces mayor que el de Cuba. Las fuerzas armadas de Brasil son diez veces más numerosas que las de Cuba. En las negociaciones mundiales sobre medio ambiente, comercio, seguridad nuclear, sistema financiero, energía o la lucha contra la pobreza, Brasil es un actor principal.

¿A qué se debe, entonces, esta atención casi obsesiva a la pequeña isla caribeña? ¿Por qué hay más interés en Cuba que en Brasil?

La explicación más común es que Cuba tiene un valor simbólico más potente que el de Brasil. Es el pequeño país que decidió enfrentarse al imperio yanqui y al cual el imperio no ha podido doblegar. Es la isla con líderes icónicos como Fidel Castro y el Che Guevara, y el país latinoamericano que encarna la lucha del humanismo socialista contra el materialismo capitalista. Cuba también fue la pequeña nación que en otras épocas envió sus tropas a América Latina y a África a luchar y morir por defender a los más pobres [y los intereses del Kremlin, pero ésa es otra historia]. Y también el país cuyos avances en materia de atención médica y educación para la mayoría fueron legendarios. Es el pequeño país al cual Estados Unidos agrede desde hace décadas con un absurdo embargo.

Lástima que también sea el país en el cual hay gente dispuesta a echarse al mar y arriesgar la vida con tal de escapar de las privaciones materiales, la represión y la asfixia política. Un país cuya economía depende de las limosnas de sus aliados para subsistir, y donde la escasez y el desabastecimiento son la norma. También el país donde, por más de medio siglo, el poder ha estado en manos de la misma familia.

Mientras tanto, en Brasil... Gobierna un presidente de izquierda, líder sindical que fue democráticamente electo dos veces y goza de los niveles de popularidad más altos del mundo. También es el país que más ha logrado reducir la desigualdad económica. Sucesivos Gobiernos brasileños -de partidos rivales- han logrado mejorar la calidad de vida, la educación y la salud de millones de pobres y Brasil es hoy uno de los modelos por sus éxitos en la lucha contra el sida, el analfabetismo o el uso de fuentes alternas de energía. En fin, un país que no es tan interesante como la fracasada isla del Caribe.

1126) Saida da Bolivia ao mar: por um tunel, direto ao mar...

Artigo do Le Monde, de seu correspondente no Rio de Janeiro. As informações devem ter saído da imprensa chilena ou boliviana, pois nunca li qualquer comentário a esse respeito na imprensa brasileira.
Em todo caso, se espera que esse túnel resolva o problema diplomático, e não constitua nenhum novo problema financeiro para a Bolívia, pois deve ficar caro todo o projeto. Talvez investidores internacionais se interessem pela sua construção, desde que a Bolívia possa pagar em gás.
O problema é que a Bolívia tem um regime de investimentos estrangeiros muito restritivo, tendo nacionalizado todos os seus recursos de hidrocarburos, que agora ela não consegue explorar por falta de capitais e de competência.
A seguir...
PRA

Un tunnel de 150 km, et la Bolivie "retournera à l'océan"
LE MONDE, 30.05.09

Un long tunnel, en partie creusé sous la cordillère des Andes, pourrait résoudre le plus douloureux conflit territorial d'Amérique du Sud, en redonnant un accès maritime à la Bolivie. Ce projet titanesque, à première vue utopique, a été proposé par trois architectes chiliens renommés, qui le jugent techniquement plus facile à réaliser que le tunnel sous la Manche.

Ce tunnel serait long de 150 km, un record mondial. Il partirait de la ville bolivienne de Charana et suivrait la frontière entre le Pérou et le Chili. Après avoir traversé les Andes et le désert d'Atacama, il déboucherait sur une île artificielle construite dans le Pacifique, à 800 mètres au large.

L'île serait propriété bolivienne. Elle marquerait la pointe d'un triangle maritime transformé en zone internationale. L'ouvrage abriterait une voie routière et un gazoduc permettant le transport du gaz bolivien, principale source de devises du pays. Cette solution permettrait de satisfaire la Bolivie sans porter atteinte à la souveraineté du Chili et du Pérou.

Les gouvernements bolivien et chilien ont accueilli favorablement le projet. La Paz s'est dit prêt à étudier "cette proposition d'avant-garde et imaginative". Santiago s'est déclaré ouvert "à toutes les suggestions susceptibles d'améliorer l'intégration latino-américaine".

GUERRE DU PACIFIQUE
La Bolivie a perdu son littoral lors de la guerre du Pacifique (1879-1884), qui eut pour enjeu le contrôle des richesses du désert d'Atacama, notamment le guano et le salpêtre. A l'issue de ce conflit armé entre un Chili conquérant et ses deux voisins du Nord, la Bolivie fut privée de sa souveraineté sur une bande côtière de 400 km. Depuis, elle est, avec le Paraguay, le seul Etat enclavé en Amérique du Sud.

Cent vingt-cinq ans plus tard, cette profonde blessure de l'Histoire reste à vif. La Constitution bolivienne fait de l'"accès souverain à la mer" un "droit imprescriptible". Chaque 23 mars, le pays commémore le Jour de la mer. "Tôt ou tard nous retournerons à l'océan", promet le président Evo Morales.

Au fil des décennies, diverses solutions ont été imaginées : couloir d'accès terrestre, enclave bolivienne au statut douanier spécial, sectorisation de la ville côtière d'Arica, frontalière entre Chili et Pérou.

En 2007, pour la première fois, le Chili a accepté que l'accès à la mer fasse partie d'un agenda de discussion de 13 points, malgré l'absence de relations diplomatiques depuis 1978. On y parlera peut-être, un jour, du projet de tunnel. En attendant son éventuelle construction, les navires de la marine bolivienne continueront de patrouiller sur le lac Titicaca, à 3 800 m d'altitude.

Jean-Pierre Langellier (Rio de Janeiro, correspondant)
Article paru dans l'édition du 31.05.09.

1125) O soft power brasileiro: incipiente, mas prometedor

Tendo, recentemente, efetuado palestra em curso de RI, recebi, ao final da palestra uma pergunta escrita que obviamente não pude responder. Faço-o agora, transcrevendo abaixo a pergunta e a minha resposta, embutidas em mensagem despachado a meu questionador.

Não foi possivel responder à sua pergunta durante minha palestra e assim formulo aqui alguns comentarios à questão colocada por voce, que foi a seguinte:
"Na sua (minha) opiniao, qual o papel do soft power brasileiro nas negociacoes diplomaticas?"

Eu diria que ele é importante, menos, talvez, nas negociações diplomáticas estrito senso, e mais no ambiente contextual que envolvem essas negociações, ou mais propriamente as relacoes bilaterais.
Soft power é um conjunto de atributos que tem a ver mais com a influência, o exemplo, a inducao por vias indiretas, do que a projecao direta de poder, por pressoes economicas, militares ou politicas, que seriam atributos do hard power e se apresentam nas relacoes muito desequilibradas, geralmente entre uma grande potencia e paises menores ou satelizaveis.
Soft Power tem a ver com a exportacao de capitais, de tecnologia, de bens tangiveis e intangiveis que vao conformado uma crescente influencia de um parceiro sobre outros, ou varios outros. Trata-se de uma outra maneira de dominacao, ou poder, segundo a definicao classica de Max Weber, que dizia que este era a capacidade de determinar a acao de outros pelo exercicio de sua vontade unilateral.
No caso do soft power o que está em jogo é mais a doce persuasao, ou a rendicao a argumentos indiretos de autoridade, do que a determinacao unilateral pela via da imposicao da vontade. Falamos de soft power, por exemplo, quando as pessoas consomem produtos americanos (hamburgueres, Coca-Cola, filmes, musica), usam ou desejam usar tecnologia produzida naquele pais (iPod, iPhone etc) e se beneficiam amplamente da cultura cientifica e tecnologica produzida nesse pais em beneficio proprio, sem necessariamente contrair obrigacoes ou fazer contratos expressando uma relacao de reciprocidade direta. Geralmente isso é adquirido ao longo de uma expansao global dos bens, servicos e ideias produzidos num centro dinamico, que por isso mesmo se torna dominante e adquire condicoes de "extrair renda" dos demais paises, sem recorrer às formas classicas da dominacao colonial antiga, ou a manifestacoes do velho imperialismo, baseado na forca bruta.
Os EUA possuem inegavel poder de inducao, atraves do soft power, bem superior, obviamente ao do Brasil, que possui modesta capacidade de soft power, alias comensuravel com a modesta expressao de seus produtos materiais ou culturais exportados pela economia nacional. Podemos falar de soft power quando as novelas brasileiras fazem sucesso no exterior (em Portugal, nos paises vizinhos, ou até em continentes distantes), divulgando nosso modo de vida, nossas paisagens, induzindo portanto os estrangeiros a visitarem o Brasil ou a comprarem produtos brasileiros.
Outra maneira é o acolhimento de estudantes estrangeiros em nossas universidades, por meio de bolsas, ou toda a cooperacao tecnica prestada pelo Brasil a paises lusofonos da Africa ou outros paises em desenvolvimento. Tudo isso, mais a exportacao de capitais brasileiros (a Petrobras está instalada em varios paises, assim como diversas outras empresas brasileiras), cria um ambiente favoravel ao Brasil no plano das relacoes internacionais. Nao podemos esquecer nossa "exportacao" de futebolistas, de modelos e da propria musica brasileira, que tem excelente acolhimento no exterior, embora nao com a disseminacao da musica pop anglo-saxa, por falta de merchandising ou maraketing, ou de canais proprios de distribuicao. Tampouco ostentamos muitas marcas internacionais, praticamente nenhuma, o que diminui bastante nossa capacidade de exercer soft power.
Em sintese, ele tem a ver mais com a penetracao natural de produtos e servicos brasileiros no exterior por forca de sua economia, cultura, boa imagem (por vezes nao muito boa, por causa dos problemas de direitos humanos e devastacao ambiental), do que propriamente com negociacoes, terreno no qual os diplomatas tendem a medir diretamente vantagens e desvantagens de um acordo determinado mais na expressao literal de um tratado do que com base em elementos externos a ele.

Se voce escrever soft power nos instrumentos de busca tradicionais, terá uma vasta literatura a respeito, mas provavelmente quase nada relativo ao Brasil; isso tem a ver com a nossa baixa producao teorica e analitica no campo das relacoes internacionais, o que confirma, alias, que o nosso soft power é ainda muito incipiente.