O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Bolsas da Fundação Lemann para universidades americanas




A Fundação Lemann oferece bolsas de estudos parciais e integrais em algumas das melhores universidades do mundo para pessoas de talento e potencial, comprometidas com o desenvolvimento do Brasil. O objetivo do programa é  ajudar a formar capital humano qualificado no país, especialmente em áreas cruciais para o nosso desenvolvimento. Além de entrarem para uma rede que abre oportunidades e amplia o potencial de cada um, os Lemann Fellows ainda recebem apoio da Fundação Lemann para desenvolvimento da carreira no retorno ao Brasil. Confira as áreas e as universidades parceiras.

       Columbia
o    Bolsas para os programas de mestrado da School of International and Public Affairs (SIPA)

       Harvard
o    Bolsas para os programas de mestrado da Graduate School of EducationSchool of Public Health e Kennedy School of Government

       Illinois (Urbana and Champaign)
o    Bolsas para mestrado e doutorado, em todas as áreas da universidade    

       Stanford
o    Bolsas para programas de mestrado e doutorado na Escola de Educação

       Universidade da California (Los Angeles)
o    Bolsas para mestrado e doutorado, em todas as áreas da universidade

       Yale
o    Bolsas para o programa World Fellows

O que é preciso para se tornar um Lemann Fellow?
                - Ser admitido em um dos programas conveniados nas universidades parceiras, cumprindo todo o processo regular de candidatura, definido e coordenado por cada instituição de ensino;
- Demonstrar claro comprometimento em retornar ao Brasil ao final do curso;
- Demonstrar claro comprometimento em trabalhar em áreas de crucial importância para o desenvolvimento do país: saúde pública, educação, políticas públicas, segurança pública, governo, responsabilidade social empresarial, entre outras.

Atenção: São as próprias instituições de ensino – e não a Fundação Lemann – que selecionam os bolsistas e realizam todo o processo de admissão e concessão das bolsas.

Novo livro: Globalizando - Paulo Roberto de Almeida

Recebi, em minha caixa, um anúncio de uma livraria que eu sequer desconfiava que tinha o meu cadastro, aliás, sobre o meu mais recente livro disponível na praça: 


GlobalizandoEnsaios sobre a Globalização e a AntiglobalizaçãoGlobalizando
  • ISBN: 9788537508756
  • Editora: Lumen Juris
  • Edição: 1 º Edição
  • Acabamento: brochura
  • Formato: 16x23 cm
  • Paginas: 292
  • Autor(s): Paulo Roberto de Almeida
  • Ano Publicação: 2011





http://www.livrariaultimainstancia.com.br/Produto/132911/Globalizando/


A globalização não precisa de defensores: ela simplesmente existe! Ela segue seu curso independente dos globalizadores, como este que aqui escreve, mas também totalmente indiferente aos protestos ingênuos, ou irracionais, dos antiglobalizadores, que só podem ser considerados ingratos, pois tudo o que eles são, tudo o que eles fazem, eles o devem à globalização. Este livro reúne escritos que tanto explicam os mecanismos da globalização contemporânea - sim, ela já existia antes de nossa era - quanto desmontam as críticas toscas, equivocadas e irracionais dos antiglobalizadores. Se suas propostas fossem seguidas, o mundo seria um lugar pior, mais miserável e menos livre do que ele é, justamente graças à globalização. Paulo Roberto Almeida é doutor em ciências sociais, diplomata de carreira e professor de Economia Política Internacional na pós-graduação do Uniceub (Brasília).


Sumário:
À maneira de prefácio:
O altermundialismo, uma enfermidade infantil da globalização


Parte I
Globalização
1. O Brasil e os primeiros 500 anos de globalização capitalista
2. Contra a corrente: treze idéias fora do lugar sobre as relações internacionais
3. A globalização e as desigualdades: quais as evidências?
4. Três vivas ao processo de globalização: crescimento, pobreza e desigualdade
5. Distribuição mundial da renda: evidências desmentem concentração e divergência
6. O Brasil e os impactos econômicos e sociais da globalização
7. Globalização perversa e políticas econômicas nacionais: um contraponto

Parte II
Antiglobalização
8. Contra a anti-globalização: Contradições, insuficiências e impasses do movimento
9. A globalização e seus descontentes: um roteiro sintético dos equívocos
10. A globalização e seus benefícios: um contraponto ao pessimismo
11. Fórum Social Mundial: nove objetivos gerais e alguns grandes equívocos
12. Um outro Fórum Social Mundial é possível… (aliás, é até mesmo necessário)
13. Fórum Social Mundial 2008: menos transpiração, mais inspiração, por favor...
14. Fórum Surreal Mundial: pequena visita aos desvarios dos antiglobalizadores
15. Uma previsão marxista...

16. Perguntas impertinentes a um amigo anti-globalizador
17. Fórum Social Mundial 2010, uma década de embromaçãoÀ guisa de conclusão:
Se, nouvelle manière (ou as qualidades do homem na globalização)

Obras de Paulo Roberto de Almeida
Livros do Autor
Livros
 Um texto mais recente sobre o mesmo problema: 
Triste Fim de Policarpo Social Mundial

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

New Book: Starting Over: Brazil since 1985 - Albert Fishlow


New Book Publication:
Starting Over: Brazil since 1985
by Albert Fishlow

Tuesday, September 13, 2011
5:30 p.m. - 8:30 p.m.
Presentation: 6:00 - 7:30 p.m. Reception: 7:30 p.m. - 8:30 p.m.
AS/COA (In cooperation with the Brazilian-American Chamber of Commerce, Inc.)
680 Park Avenue, New York, NY

In Starting Over: Brazil since 1985, author Albert Fishlow reflects on how the changes that Brazil has undergone over the last twenty years have transformed the social, political, economic, and diplomatic realms in that country and will affect its future, and especially influence Dilma Rousseff's presidency.

Albert Fishlow is Professor Emeritus at both the University of California-Berkeley and Columbia University. He was a Paul A. Volcker Senior Fellow for International Economics at the Council of Foreign Relations and professor of economics and director of the Center for International & Area Studies at Yale University. He served as deputy assistant secretary of state for Inter-American Affairs from 1975 to 1976, and received the National Order of the Southern Cross from the government of Brazil in 1999. 
Fishlow's published research has addressed issues in economic history, Latin American development strategies, as well as economic relations between industrialized and developing countries. Since the 1960s he has written extensively about the Brazilian economy, with seminal contributions ranging from the history and impact of import substitution, industrialization policies and debt crises, income distribution and social welfare, inflation and macroeconomic policies.

Confirmed Speakers:
 •Otaviano Canuto, Vice President and Head of Poverty Reduction and Economic Management (PREM), World Bank
•Albert Fishlow, Professor Emeritus, International and Public affairs, Columbia University, Director, Center for Brazilian Studies, and Director, Institute for Latin American Studies, Columbia University.
•Christopher Sabatini, Senior Director, Policy, Americas Society/Council of the Americas and Editor-in-Chief, Americas Quarterly
•Lisa Schineller, Director, Latin American Sovereign Ratings, Standard & Poor's
•Paulo Vieira da Cunha, Principal, Emerging Markets, Tandem Global Partners

Prior registration is required.
Registration Fee: $35.00 for AS, COA and BACC members; $50.00 for non-members. Includes a signed Copy of Starting Over.
Event Information: Please contact Sophia Costa at scosta@as-coa.org or 212-277-8369 or visit www.as-coa.org.
Press Inquiries: Please contact Alex Andrews at aandrews@as-coa.org or 212-277-2384.
Cancellation Policy: Please contact Juan Serrano via e-mail at jserrano@counciloftheamericas.org, by 3:00 p.m., Monday, September 12, 2011.

Keynesian economics: the best charge, ever...

No legend, no undertitles, no need...


David Landes: Prometeu Liberado -- a Revolução Industrial na Europa


Uma resenha de 2005, quase esquecida:

Um Prometeu industrial desengonçado
Paulo Roberto de Almeida



David S. Landes: 
Prometeu Desacorrentado: transformação tecnológica e desenvolvimento industrial na Europa ocidental, de 1750 até os dias de hoje
(2. ed. Rio de Janeiro: Campus, 2005, 628 p.).



A tradução do título para o português é imprecisa: trata-se de um Prometeu unbound, isto é, liberado, não unchained. Mas isso não tira o valor da segunda edição deste clássico, agora com novo prefácio e epílogo - no mais o texto permanece igual ao de 1969, originalmente um ensaio da Cambridge Economic History. David Landes, professor emérito de Harvard, já tinha feito um complemento a Adam Smith, em A Riqueza e a Pobreza das Nações (Campus, 1998), soberbo nos desenvolvimentos globais, mas falho no que toca à América Latina e ao Brasil, analisados pela ótica enviesada da ("esqueçam-o-que-escrevi") teoria da dependência de FHC.

O titã liberado é o sistema fabril: seu aparecimento na Inglaterra chocou Marx, que condenou a vil exploração do proletariado. Ele ainda não tinha visto nada, pois a China modorrava na imobilidade industrial. Hoje as fábricas chinesas não se distinguem, pelas condições de trabalho, das manufaturas de Manchester do século 19. A história é européia, mas esse Prometeu desajeitado que é a grande indústria leva seus grilhões ao mundo, o que desespera os antiglobalizadores, mas encantaria Marx, que confiava no papel revolucionário do capitalismo para destruir as "muralhas da China", o despotismo asiático e os reinos bárbaros do Oriente.

A China, a Índia e as nações islâmicas fracassadas do Oriente Médio constituem, precisamente, o objeto do epílogo, a parte verdadeiramente nova do livro. Landes argumenta que a globalização "não é uma causa, nem uma ideologia. É simplesmente a procura de riqueza". A civilização industrial do Ocidente foi a mais formidável máquina de criação de riquezas da história, ao associar possibilidades tecnológicas com o faro pelos negócios de homens liberados das restrições do mercantilismo. Por que esse processo revolucionário ainda não conseguiu romper os grilhões do subdesenvolvimento? É que empréstimos, ensinamentos e presentes podem até ajudar, mas de nada adiantam se o movimento não for conduzido a partir de dentro. 

Landes demonstra como as condições tecnológicas e institucionais foram reunidas na Europa Ocidental e continuam a distinguir o Ocidente desenvolvido, ainda que países do Oriente - como o Japão, a Coréia e, agora, a China - lhe tenham seguido os passos. Esses bons alunos da escola européia, a começar pelos Estados Unidos, copiaram as técnicas, não necessariamente as instituições e as políticas econômicas. Landes diz que não é relevante que os "orientais" não tenham seguido a via do liberalismo, e sim que tenham integrado suas economias aos mercados globais, algo que os pregadores de uma industrialização à la List dificilmente reconhecem. 

O cerne do livro não é uma discussão das economic policies dos "copiadores" e sim um fascinante racconto storico do desenvolvimento tecnológico da industrialização européia. São seis capítulos, com poucas seções internas e relativamente poucas estatísticas, mas muitos dados qualitativos e análises sobre cada fase. Uma introdução metodológica explica por que a revolução industrial ocorreu na Europa e não em outros lugares. Coloca a questão - que será seguida ao longo do livro - das razões pelas quais as mudanças ocorreram em épocas e locais determinados da Europa, isto é, como o padrão de desenvolvimento diferiu de um país para outro. Nesse sentido, a Europa é um grande laboratório, por ter nações ricas e pobres, grandes e pequenas, todas as formas de governo e um rico mosaico de tradições culturais.

Desde a Revolução Industrial inglesa, disseminada pelo continente, até o período entre guerras e a reconstrução subseqüente, Landes descreve as indústrias mais relevantes do ponto de vista tecnológico: têxtil, metalúrgica, química e de maquinaria, além da mineração de carvão por seu papel energético. Todas elas são situadas no contexto da organização industrial, isto é, da coordenação dos fatores de produção e do manejo dos produtos manufaturados. O resultado é um painel fascinante das raízes da "hegemonia" ocidental, não em virtude de uma história colonialista e opressora, e sim da capacidade de mobilizar e transformar as forças da natureza, liberando o Prometeu desengonçado do capitalismo industrial dos velhos grilhões da miséria educacional e da secular opressão da pobreza material.


1420. “Um Prometeu industrial desengonçado”, Brasília, 17 abr. 2005, 2 p. Resenha de David S. Landes: Prometeu Desacorrentado: transformação tecnológica e desenvolvimento industrial na Europa ocidental, de 1750 até os dias de hoje (2. ed. Rio de Janeiro: Campus, 2005, 628 p.). Publicada na Desafios do Desenvolvimento (Brasília: IPEA-PNUD, a. I, n. 10, mai. 2005, p. 76 link: http://desafios2.ipea.gov.br/desafios/edicoes/10/artigo13441-1.php); sob o título “Prometeu desacorrentado: transformação tecnológica e desenvolvimento”, no Meridiano 47 (Brasília: IBRI, n. 61, ago. 2005, p. 16-17; link: http://www.mundorama.info/Mundorama/Meridiano_47_-_1-100_files/Meridiano_61.pdf); na revista Plenarium (Brasília: Câmara dos Deputados, a. II, n. 2, nov. 2005, p. 340-341). Relação de Publicados n. 561, 582, 595 e 652. 

Doze trabalhos de Hercules? Não até agora, so pouco trabalhos de Madame Herculea...

Acho que não dá para comparar com o heerói mitológico da antiga Grécia (que aliás precisaria dar uma ajuda aos seus descendentes contemporâneos, que talvez necessitassem de faxina igual nas estrebarias governamentais).
Mas este economista lembra apropriadamente uma faina de enorme envergadura, cuja analogia seria extremamente apropriada se, reis, princesas, cortesãos e outros frequentadores do Palácio Real (e de suas estrebarias ministeriais) se dedicassem, de fato, a essa faxinas periódicas que todo governo heteróclito (e fruto de uma verdadeira herança maldita) merece receber, com toneladas de água, detergente, limpa-tudo, removedor de mofo, mata-insetos, raticida, desodorisante e outros produtos de limpeza todos combinados.
Não creio que isso venha a ocorrer.
A tarefa "hercúlea", até o momento, se resumiu a varrer o lixo (e que lixo!) para baixo do tapete, que já está alto assim de porcarias acumuladas...
Bem, espero que um dia venha essa faxina verdadeira.
Por enquanto vocês ficam com um artigo inteligente para pessoas inteligentes.
Comentários em contradição com estas categorias melhor guardar embaixo do tapete...
Paulo Roberto de Almeida


Limpando as estrebarias
Marcelo de Paiva Abreu
O Estado de São Paulo, segunda-feira, 5/09/2011
 
Têm sido curiosas as reações às iniciativas da presidente da República que resultaram no afastamento de funcionários públicos envolvidos em irregularidades, especialmente no Ministério dos Transportes. Ganhou força a ideia de que a presidente poderia estar empenhada numa "faxina", tratando de limpar a verdadeira estrebaria de Augias que herdou do presidente Lula. Os leitores de Monteiro Lobato lembrarão que, na mitologia grega, o quinto trabalho de Hércules foi limpar as estrebarias do rei, dono dos mais belos rebanhos do país, que deixava que o esterco se acumulasse gerando gases tóxicos.

Os limites de tal "faxina", no quadro da coalizão fisiológica que assegura o apoio ao governo Dilma Rousseff, são naturalmente dados por pedestre cálculo político do qual são ingredientes principais o apoio ao governo no Congresso Nacional e a remuneração dos interesses especiais lá representados. Não foi por acaso que a "faxina" não tenha ido tão longe quanto seria desejável, sob pena de abalar a grande coalizão fisiológica que controla a vida política do País. As demissões devem ser explicadas com base nas peculiaridades de estilo pessoal da presidente, e não a qualquer reorientação estratégica.

O episódio sugere que o combate à corrupção continua a ser pilar importante em eventual plataforma política capaz de granjear significativa popularidade. Terreno perigoso, vulnerável à exploração demagógica, como mostra a história relativamente recente em que a propalada caça a marajás acabou em impeachment do presidente da República. Por outro lado, tornou-se reação-padrão dos acusados de improbidade a denúncia de "udenismo", em tentativa meio pífia de confundir a legítima ênfase da velha UDN no combate à corrupção com o seu contumaz golpismo durante a Terceira República.

O episódio também suscita reflexão sobre se, quando e como poderá haver salto qualitativo na repressão às práticas corruptas no Brasil. Não custa lembrar a mudança de regime que significou o episódio do mensalão, em 2005. Até então o PT se apresentava como partido renovador, uma espécie de Partido Comunista Italiano, cuja gestão da coisa pública em nível municipal contrastava com o fisiologismo de outros partidos. Pós-mensalão, o que se viu foi o PT abandonar o seu projeto inovador e mergulhar na fisiologia, tratando de dominar a tecnologia das coalizões perversas baseadas no "é dando que se recebe". Nesse ambiente prosperou a veia personalista do ex-presidente e o lulismo acabou por dominar amplamente o petismo.

A Grã-Bretanha é o exemplo histórico mais conhecido de sociedade que, no início do século 19, abandonou a "velha corrupção" e começou a desmantelar a corrupção sistemática que havia caracterizado o período anterior. Corrupção baseada na coalizão entre políticos que se perpetuavam no poder distribuindo benesses para "interesses especiais" e os próprios interesses beneficiados. Em meio à ampliação da representatividade do colégio eleitoral, reformas acabaram com sinecuras, venda de cargos, distribuição de contratos, cargos e pensões a parentes e amigos, e também com os "burgos podres". Políticas públicas centradas na defesa de "interesses especiais", em detrimento do interesse coletivo, foram reformuladas. Para que isso fosse possível foi importante o sentimento entre os beneficiados pela patronagem anterior de que melhor seria perder os anéis que arriscar a perda dos dedos, ainda com a experiência da Revolução Francesa viva na memória. E, também, que o projeto passasse a fazer parte das plataformas dos grupos políticos em ascensão.

Para que o abandono da "velha corrupção" seja possível no Brasil, seria necessário que tal objetivo fosse efetivamente incorporado ao programa de partidos. E que estes disputassem as eleições defendendo tal plataforma. O que forçaria o abandono de políticas que beneficiam "interesses especiais" em detrimento do interesse coletivo, que vão do acesso a crédito subsidiado por bancos públicos até a provisão de educação universitária gratuita independentemente da renda familiar dos estudantes, passando pelos privilégios das aposentadorias do setor público, entre muitas outras anomalias distributivas.

É difícil que isso ocorra. Parece impossível que as correntes do PT que repudiam a alternativa fisiológica tenham condições de reverter a contaminação do partido pelo gosto do poder a qualquer custo. Dilma Rousseff não tem cacife político para mudar os rumos do PT, encalhado na fisiologia. Lula, como presidente-sombra e candidato perpétuo, não parece ter nenhuma inquietação quanto à mudança de rumos de 2005. Caso houvesse oposição minimamente estruturada, e com projeto efetivamente renovador, seria possível, em tese, pensar em redefinição da coalizão governista que criasse "valores republicanos" efetivos, decentes e críveis. Cenário que está, também, por enquanto, fora de cogitação.

O mais provável é que a forma de governar da atual presidente continue a ser balizada pelo modelo lulista pós-2005, com o uso bissexto de mero pano de pó para controlar as irregularidades mais incômodas politicamente. Faxina jamais, pois comprometeria o cimento da coalizão governista.

* Doutor em Economia pela Universidade de Cambridge, é professor titular no Departamento de Economia da PUC-Rio.


Oriente Medio: um blog de especialista



Um blog a serviço do conhecimento e da informação sobre o Oriente Médio: 
A autora, Carmen Lícia Palazzo acaba de postar, hoje, um artigo sobre xiitas e sunitas que está muito bom (embora eu seja suspeito para dizer...).
Existe uma coluna, à esquerda, que se atualiza automaticamente com notícias sobre o Oriente Médio (cortesia do serviço do blog).

http://carmenlicia.blogspot.com/

Aliás, eis o artigo mencionado:

Sunitas e xiitas no processo de reconstrução do Iraque

Carmen Lícia Palazzo (5/09/2011)

A análise dos conflitos entre as duas principais correntes muçulmanas, sunitas e xiitas, procurando entendê-las numa perspectiva histórica de longa duração, permite lançar algumas luzes no complexo quadro de violência que retrata o Oriente Médio contemporâneo. Múltiplos são os fatores que têm levado a guerras na região, mas a luta dentro do próprio Islã, com seus desdobramentos merece uma atenção especial na medida em que se faz presente nas mais diversas realidades regionais.

A fratura interna no mundo muçulmano ocorreu muito cedo, já no século VII, como conseqüência de uma guerra civil na disputa pela sucessão do califado. Após a morte do quarto califa, Ali, primo e genro de Maomé, a comunidade (”umma”) cindiu-se em dois grupos ou facções. Aqueles que defendiam que os candidatos à sucessão fossem necessariamente membros da família do Profeta ficaram conhecidos como os partidários de Ali (”xiit’Ali”). No entanto venceu o conflito a facção que havia se insurgido contra a descendência familiar e que pregava a escolha do califa entre os membros mais respeitados da “umma” e que melhor representassem a tradição (”sunna”). Aqueles que mais tarde seriam denominados xiitas, derrotados, não apenas eram vistos como contestadores da ordem vigente mas tornaram-se também suspeitos de conspirar contra o poder. O trágico fecho da disputa sucessória foi o assassinato, no ano de 680, de Hussein, filho de Ali, em Karbala (atual Iraque). Consolidava-se, assim, a hegemonia sunita mas, ao mesmo tempo, criava-se um mártir. Ainda hoje a morte de Hussein ecoa na memória coletiva das comunidades xiitas, erguendo-se como um símbolo da opressão dentro do próprio Islã. 

Muitos foram os percalços e as lutas que envolveram as duas principais facções muçulmanas no decorrer dos séculos. É importante lembrar que, apesar da ênfase que costuma ser dada aos aspectos religiosos das disputas, no rompimento do século VII o que estava em jogo era essencialmente uma questão de ordem política. Naquele momento não havia diferença significativa de dogma e nem de prática religiosa. Mas com o passar do tempo, os rituais de um e de outro grupo foram se distanciando e os xiitas, minoritários no conjunto do Islã, desenvolveram uma cultura do martírio e uma espiritualidade carregada de emoções, muito visível no chamado festival de Ashura, quando é anualmente evocada a morte de Hussein.
Com exceção do Irã onde o xiismo, a partir do século XVI, passou a se constituir em religião oficial, com o apoio da dinastia safávida, em outros países tem sido registrada uma história de discriminação e muitas vezes de perseguições, especialmente no Líbano, na Arábia Saudita, no Bahrein, no Kuwait e no Iraque na época de Saddam Hussein.
O grau extremo de violência anti-xiita por parte do ditador iraquiano encontra-se bem documentado já que o seu partido, o Baath, realizava abertamente perseguições sistemáticas cujo intuito era o de disseminar o medo. Um dos exemplos mais marcantes de tais atos foi o assassinato do respeitado aiatolá Baqr al-Sadr que, antes de ser executado, em 1980, foi obrigado a presenciar o estupro e a morte de sua própria irmã.
O fosso existente entre sunitas e xiitas iraquianos tornou-se quase intransponível à custa da crescente violência. Assim, por mais que, atualmente, o moderado e pragmático aiatolá Sistani se esforce no sentido de lembrar que ambas as facções pertencem a uma única raiz islâmica, o contencioso político entre elas continua muito grande. E amplia-se o espaço para as ações da Brigada Mahdi, liderada por Muqtada al-Sadr, portador de uma mensagem de revolta, pouco afeito ao diálogo e ancorado em representações passionais do xiismo, como a do retorno do Imã oculto, o Mahdi.

Outro dado importante a ser levado em conta quando se analisa o relacionamento entre sunitas e xiitas no Iraque e as possibilidades de um entendimento duradouro entre ambas as partes é o da discriminação étnica. Há muitos iranianos entre a comunidade xiita, principalmente na região de Karbala, Najaf e Kufa, e a elite árabe do país sempre os tratou como cidadãos de segunda categoria, acentuando ainda mais as diferenças numa sociedade onde o federalismo poderia ser uma solução viável para a reconstrução do Estado.
Ainda que a chamada questão curda tenha conduzido aos dramáticos ataques de extermínio por parte de Saddam Hussein e envolva também problemas de fronteiras e de relacionamento com países vizinhos, são as disputas entre xiitas e sunitas que maiores dificuldades podem trazer para a consolidação de um governo unido e administrativamente eficaz. E, se por um lado, a tão temida ingerência do Irã é algo a ser observado no decorrer do processo de maiores conquistas políticas por parte dos xiismo iraquiano, por outro lado não seria demais lembrar que, em 1991, a Arábia Saudita conseguiu convencer os Estados Unidos de que estes não deveriam apoiar uma revolta xiita que tinha como objetivo a derrubada de Saddam.
O frágil equilíbrio da política interna iraquiana fica, pois, dependente não apenas de seus próprios problemas mas também da atuação de duas grandes forças regionais, a dos aiatolás iranianos e a do imanato wahabita que é o esteio da casa de Saud. E bem maior do que a preocupação com os inflamados discursos xiitas deveria ser a atenção dada às ações do sunismo, o qual, no Iraque, tem buscado apoio nos grupos fundamentalistas que consideram o xiismo uma heresia do Islã.
A invasão americana inverteu a ordem no poder abrindo espaço para uma representação xiita mais justa no governo mas não levou em conta as conseqüências que inevitavelmente se seguiriam após o desmantelamento do baathismo, ou seja, o enfraquecimento das elites sunitas moderadas e dos componentes laicos na política do Iraque. Assim, a tendência atual é a de que o sunismo, antes pouco afeito, no país, a uma religiosidade estrita, agora passe a estreitar os laços com o wahabismo saudita e com os chamados neo-salafistas da Al Qaeda, que fornecem uma ideologia jihadista de luta para a recuperação do poder perdido.
Partilhando o mesmo livro sagrado, sunismo e xiismo foram, ao longo dos séculos, aprofundando o rompimento que os separou nos primórdios do Islã. A tal ponto que, atualmente, uma análise acurada de ambas as correntes deixa claro que as diferenças são mais significativas do que as semelhanças.
No caso do Iraque, qualquer proposta para uma paz efetiva terá que levar em conta tanto a enormidade da fratura quanto o crescimento do componente religioso. Ou seja, a maneira como política e espiritualidade interagem de modo a enfatizar não apenas o discurso do messianismo xiita, que vem assumindo grandes proporções na região mesopotâmica, mas também o recrudescimento do fundamentalismo sunita. Se, inicialmente, as diferenças de caráter religioso eram pouco significativas na divisão entre os dois grupos, hoje em dia, e principalmente no Iraque, etnia e religião são elementos incontornáveis na busca da construção da Nação.

The Great Contraction - Kenneth Rogoff


THE UNBOUND ECONOMY

The Second Great Contraction

Project Syndicate2011-08-02
CAMBRIDGE – Why is everyone still referring to the recent financial crisis as the “Great Recession”? The term, after all, is predicated on a dangerous misdiagnosis of the problems that confront the United States and other countries, leading to bad forecasts and bad policy.
The phrase “Great Recession” creates the impression that the economy is following the contours of a typical recession, only more severe – something like a really bad cold. That is why, throughout this downturn, forecasters and analysts who have tried to make analogies to past post-war US recessions have gotten it so wrong. Moreover, too many policymakers have relied on the belief that, at the end of the day, this is just a deep recession that can be subdued by a generous helping of conventional policy tools, whether fiscal policy or massive bailouts.
But the real problem is that the global economy is badly overleveraged, and there is no quick escape without a scheme to transfer wealth from creditors to debtors, either through defaults, financial repression, or inflation.
A more accurate, if less reassuring, term for the ongoing crisis is the “Second Great Contraction.” Carmen Reinhart and I proposed this moniker in our 2009 book This Time is Different, based on our diagnosis of the crisis as a typical deep financial crisis, not a typical deep recession. The first “Great Contraction” of course, was the Great Depression, as emphasized by Anna Schwarz and the late Milton Friedman. The contraction applies not only to output and employment, as in a normal recession, but to debt and credit, and the deleveraging that typically takes many years to complete.
Why argue about semantics? Well, imagine you have pneumonia, but you think it is only a bad cold. You could easily fail to take the right medicine, and you would certainly expect your life to return to normal much faster than is realistic.
In a conventional recession, the resumption of growth implies a reasonably brisk return to normalcy. The economy not only regains its lost ground, but, within a year, it typically catches up to its rising long-run trend.
The aftermath of a typical deep financial crisis is something completely different. As Reinhart and I demonstrated, it typically takes an economy more than four years just to reach the same per capita income level that it had attained at its pre-crisis peak. So far, across a broad range of macroeconomic variables, including output, employment, debt, housing prices, and even equity, our quantitative benchmarks based on previous deep post-war financial crises have proved far more accurate than conventional recession logic.
Many commentators have argued that fiscal stimulus has largely failed not because it was misguided, but because it was not large enough to fight a “Great Recession.” But, in a “Great Contraction,” problem number one is too much debt. If governments that retain strong credit ratings are to spend scarce resources effectively, the most effective approach is to catalyze debt workouts and reductions.
For example, governments could facilitate the write-down of mortgages in exchange for a share of any future home-price appreciation. An analogous approach can be done for countries.  For example, rich countries’ voters in Europe could perhaps be persuaded to engage in a much larger bailout for Greece (one that is actually big enough to work), in exchange for higher payments in ten to fifteen years if Greek growth outperforms.
Is there any alternative to years of political gyrations and indecision?
In my December 2008 column, I argued that the only practical way to shorten the coming period of painful deleveraging and slow growth would be a sustained burst of moderate inflation, say, 4-6% for several years. Of course, inflation is an unfair and arbitrary transfer of income from savers to debtors. But, at the end of the day, such a transfer is the most direct approach to faster recovery. Eventually, it will take place one way or another, anyway, as Europe is painfully learning.
Some observers regard any suggestion of even modestly elevated inflation as a form of heresy. But Great Contractions, as opposed to recessions, are very infrequent events, occurring perhaps once every 70 or 80 years. These are times when central banks need to spend some of the credibility that they accumulate in normal times.
The big rush to jump on the “Great Recession” bandwagon happened because most analysts and policymakers simply had the wrong framework in mind. Unfortunately, by now it is far too clear how wrong they were.
Acknowledging that we have been using the wrong framework is the first step toward finding a solution. History suggests that recessions are often renamed when the smoke clears. Perhaps today the smoke will clear a bit faster if we dump the “Great Recession” label immediately and replace it with something more apt, like “Great Contraction.” It is too late to undo the bad forecasts and mistaken policies that have marked the aftermath of the financial crisis, but it is not too late to do better.
Kenneth Rogoff is Professor of Economics and Public Policy at Harvard University, and was formerly chief economist at the IMF.

domingo, 4 de setembro de 2011

Coreia do Norte: devorando seus tecnocratas


Posted By Thomas E. Ricks  Foreign Policy, 

That seems a bit extreme, even for Pyongyang. But a South Korean press quotes a South Korean government source as saying that:
"Thirty people have been confirmed to have died or gone missing until recently. About 10 partners of inter-Korean talks with the South were executed by firing and about 20 others were said to have died in traffic accidents."
"As of now, the North has no partners to talk with the South. There will likely be major change in inter-Korean relations."