Paulo Roberto de Almeida
David S. Landes:
Prometeu Desacorrentado: transformação tecnológica e desenvolvimento industrial na Europa ocidental, de 1750 até os dias de hoje
(2. ed. Rio de Janeiro: Campus, 2005, 628 p.).
O titã liberado é o sistema fabril: seu aparecimento na Inglaterra chocou Marx, que condenou a vil exploração do proletariado. Ele ainda não tinha visto nada, pois a China modorrava na imobilidade industrial. Hoje as fábricas chinesas não se distinguem, pelas condições de trabalho, das manufaturas de Manchester do século 19. A história é européia, mas esse Prometeu desajeitado que é a grande indústria leva seus grilhões ao mundo, o que desespera os antiglobalizadores, mas encantaria Marx, que confiava no papel revolucionário do capitalismo para destruir as "muralhas da China", o despotismo asiático e os reinos bárbaros do Oriente.
A China, a Índia e as nações islâmicas fracassadas do Oriente Médio constituem, precisamente, o objeto do epílogo, a parte verdadeiramente nova do livro. Landes argumenta que a globalização "não é uma causa, nem uma ideologia. É simplesmente a procura de riqueza". A civilização industrial do Ocidente foi a mais formidável máquina de criação de riquezas da história, ao associar possibilidades tecnológicas com o faro pelos negócios de homens liberados das restrições do mercantilismo. Por que esse processo revolucionário ainda não conseguiu romper os grilhões do subdesenvolvimento? É que empréstimos, ensinamentos e presentes podem até ajudar, mas de nada adiantam se o movimento não for conduzido a partir de dentro.
Landes demonstra como as condições tecnológicas e institucionais foram reunidas na Europa Ocidental e continuam a distinguir o Ocidente desenvolvido, ainda que países do Oriente - como o Japão, a Coréia e, agora, a China - lhe tenham seguido os passos. Esses bons alunos da escola européia, a começar pelos Estados Unidos, copiaram as técnicas, não necessariamente as instituições e as políticas econômicas. Landes diz que não é relevante que os "orientais" não tenham seguido a via do liberalismo, e sim que tenham integrado suas economias aos mercados globais, algo que os pregadores de uma industrialização à la List dificilmente reconhecem.
O cerne do livro não é uma discussão das economic policies dos "copiadores" e sim um fascinante racconto storico do desenvolvimento tecnológico da industrialização européia. São seis capítulos, com poucas seções internas e relativamente poucas estatísticas, mas muitos dados qualitativos e análises sobre cada fase. Uma introdução metodológica explica por que a revolução industrial ocorreu na Europa e não em outros lugares. Coloca a questão - que será seguida ao longo do livro - das razões pelas quais as mudanças ocorreram em épocas e locais determinados da Europa, isto é, como o padrão de desenvolvimento diferiu de um país para outro. Nesse sentido, a Europa é um grande laboratório, por ter nações ricas e pobres, grandes e pequenas, todas as formas de governo e um rico mosaico de tradições culturais.
Desde a Revolução Industrial inglesa, disseminada pelo continente, até o período entre guerras e a reconstrução subseqüente, Landes descreve as indústrias mais relevantes do ponto de vista tecnológico: têxtil, metalúrgica, química e de maquinaria, além da mineração de carvão por seu papel energético. Todas elas são situadas no contexto da organização industrial, isto é, da coordenação dos fatores de produção e do manejo dos produtos manufaturados. O resultado é um painel fascinante das raízes da "hegemonia" ocidental, não em virtude de uma história colonialista e opressora, e sim da capacidade de mobilizar e transformar as forças da natureza, liberando o Prometeu desengonçado do capitalismo industrial dos velhos grilhões da miséria educacional e da secular opressão da pobreza material.
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