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quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Sobre a Revolucao Industrial - Ludwig Von Mises

Recebi, de um leitor regular deste blog, que apreciou minha resenha do livro David Landes sobre a Revolução Industrial, este texto, que desconhecia, do conhecido economista liberal Von Mises, publicado no site do instituto do mesmo nome no Brasil.
Um texto impecável, e desmistificador.
Paulo Roberto de Almeida

Fatos e mitos sobre a "Revolução Industrial"

 

Industrial.jpgAutores socialistas e intervencionistas costumam dizer que a história do industrialismo moderno, e especialmente a história da "Revolução Industrial" na Inglaterra, constitui uma evidência empírica da procedência da doutrina denominada "realista" ou "institucional", e refuta inteiramente o dogmatismo "abstrato dos economistas".[1]
Os economistas negam categoricamente que os sindicatos e a legislação trabalhista possam e tenham beneficiado a classe dos assalariados e elevado o seu padrão de vida de forma duradoura.  Porém, dizem os antieconomistas, os fatos refutaram essas ideias capciosas.
Segundo eles, os governantes e legisladores que regulamentaram as relações trabalhistas revelaram possuir uma melhor percepção da realidade do que os economistas.  Enquanto a filosofia do laissez-faire, sem piedade nem compaixão, pregava que o sofrimento das massas era inevitável, o bom senso dos leigos em economia conseguia terminar com os piores excessos dos empresários ávidos de lucro.  A melhoria da situação dos trabalhadores se deve, pensam eles, inteiramente à intervenção dos governos e à pressão sindical.
São essas ideias que impregnam a maior parte dos estudos históricos que tratam da evolução do industrialismo moderno.  Os autores começam esboçando uma imagem idílica das condições prevalecentes no período que antecedeu a "Revolução Industrial". Naquele tempo, dizem eles, as coisas eram, de maneira geral, satisfatórias.  Os camponeses eram felizes.  Os artesãos também o eram, com a sua produção doméstica; trabalhavam nos seus chalés e gozavam de certa independência, uma vez que possuíam um pedaço de jardim e suas próprias ferramentas.  Mas, aí, "a Revolução Industrial caiu como uma guerra ou uma praga" sobre essas pessoas.[2]  O sistema fabril transformou o trabalhador livre em virtual escravo; reduziu o seu padrão de vida ao mínimo de sobrevivência; abarrotando as fábricas com mulheres e crianças, destruiu a vida familiar e solapou as fundações da sociedade, da moralidade e da saúde pública.  Uma pequena minoria de exploradores impiedosos conseguiu habilmente subjugar a imensa maioria.
A verdade é que as condições no período que antecedeu à Revolução Industrial eram bastante insatisfatórias.  O sistema social tradicional não era suficientemente elástico para atender às necessidades de uma população em contínuo crescimento.  Nem a agricultura nem as guildas conseguiam absorver a mão de obra adicional.  A vida mercantil estava impregnada de privilégios e monopólios; seus instrumentos institucionais eram as licenças e as cartas patentes; sua filosofia era a restrição e a proibição de competição, tanto interna como externa.
O número de pessoas à margem do rígido sistema paternalista de tutela governamental cresceu rapidamente; eram virtualmente párias.  A maior parte delas vivia, apática e miseravelmente, das migalhas que caíam das mesas das castas privilegiadas.  Na época da colheita, ganhavam uma ninharia por um trabalho ocasional nas fazendas; no mais, dependiam da caridade privada e da assistência pública municipal.  Milhares dos mais vigorosos jovens desse estrato social alistavam-se no exército ou na marinha de Sua Majestade; muitos deles morriam ou voltavam mutilados dos combates; muitos mais morriam, sem glória, em virtude da dureza de uma bárbara disciplina, de doenças tropicais e de sífilis.[3]
Milhares de outros, os mais audaciosos e mais brutais, infestavam o país vivendo como vagabundos, mendigos, andarilhos, ladrões e prostitutos.  As autoridades não sabiam o que fazer com esses indivíduos, a não ser interná-los em asilos ou casas de correção.  O apoio que o governo dava ao preconceito popular contra a introdução de novas invenções e de dispositivos que economizassem trabalho dificultava as coisas ainda mais.
O sistema fabril desenvolveu-se, tendo de lutar incessantemente contra inúmeros obstáculos.  Teve de combater o preconceito popular, os velhos costumes tradicionais, as normas e regulamentos vigentes, a má vontade das autoridades, os interesses estabelecidos dos grupos privilegiados, a inveja das guildas.  O capital fixo das firmas individuais era insuficiente, a obtenção de crédito extremamente difícil e cara.  Faltava experiência tecnológica e comercial.  A maior parte dos proprietários de fábricas foi à bancarrota; comparativamente, foram poucos os bem-sucedidos.  Os lucros, às vezes, eram consideráveis, mas as perdas também o eram.  Foram necessárias muitas décadas para que se estabelecesse o costume de reinvestir a maior parte dos lucros e a consequente acumulação de capital possibilitasse a produção em maior escala.
A prosperidade das fábricas, apesar de todos esses entraves, pode ser atribuída a duas razões.  Em primeiro lugar, aos ensinamentos da nova filosofia social que os economistas começavam a explicar e que demolia o prestígio do mercantilismo, do paternalismo e do restricionismo.  A crença supersticiosa de que os equipamentos e processos economizadores de mão de obra causavam desemprego e condenavam as pessoas ao empobrecimento foi amplamente refutada.  Os economistas do laissez-faire foram os pioneiros do progresso tecnológico sem precedentes dos últimos duzentos anos.
Um segundo fator contribuiu para enfraquecer a oposição às inovações.  As fábricas aliviaram as autoridades e a aristocracia rural de um embaraçoso problema que estas já não tinham como resolver.  As novas instalações fabris proporcionavam trabalho às massas pobres que, dessa maneira, podiam ganhar seu sustento; esvaziaram os asilos, as casas de correção e as prisões.  Converteram mendigos famintos em pessoas capazes de ganhar o seu próprio pão.[4]
Os proprietários das fábricas não tinham poderes para obrigar ninguém a aceitar um emprego nas suas empresas. Podiam apenas contratar pessoas que quisessem trabalhar pelos salários que lhes eram oferecidos.  Mesmo que esses salários fossem baixos, eram ainda assim muito mais do que aqueles indigentes poderiam ganhar em qualquer outro lugar.  É uma distorção dos fatos dizer que as fábricas arrancaram as donas de casa de seus lares ou as crianças de seus brinquedos.  Essas mulheres não tinham como alimentar os seus filhos.  Essas crianças estavam carentes e famintas.  Seu único refúgio era a fábrica; salvou-as, no estrito senso do termo, de morrer de fome.
É deplorável que tal situação existisse.  Mas, se quisermos culpar os responsáveis, não devemos acusar os proprietários das fábricas, que — certamente movidos pelo egoísmo e não pelo altruísmo — fizeram todo o possível para erradicá-la.  O que causava esses males era a ordem econômica do período pré-capitalista, a ordem daquilo que, pelo que se infere da leitura das obras destes historiadores, eram os "bons velhos tempos".
Nas primeiras décadas da Revolução Industrial, o padrão de vida dos operários das fábricas era escandalosamente baixo em comparação com as condições de seus contemporâneos das classes superiores ou com as condições atuais do operariado industrial.  A jornada de trabalho era longa, as condições sanitárias dos locais de trabalho eram deploráveis.
A capacidade de trabalho do indivíduo se esgotava rapidamente.  Mas prevalece o fato de que, para o excedente populacional — reduzido à mais triste miséria pela apropriação das terras rurais, e para o qual, literalmente, não havia espaço no contexto do sistema de produção vigente —, o trabalho nas fábricas representava uma salvação. Representava uma possibilidade de melhorar o seu padrão de vida, razão pela qual as pessoas afluíram em massa, a fim de aproveitar a oportunidade que lhes era oferecida pelas novas instalações industriais.
A ideologia do laissez-faire e sua consequência, a "Revolução Industrial", destruíram as barreiras ideológicas e institucionais que impediam o progresso e o bem-estar.  Demoliram a ordem social na qual um número cada vez maior de pessoas estava condenado a uma pobreza e a uma penúria humilhantes.  A produção artesanal das épocas anteriores abastecia quase que exclusivamente os mais ricos.  Sua expansão estava limitada pelo volume de produtos de luxo que o estrato mais rico da população pudesse comprar.  Quem não estivesse engajado na produção de bens primários só poderia ganhar a vida se as classes superiores estivessem dispostas a utilizar os seus serviços ou o seu talento.  Mas eis que surge um novo princípio: com o sistema fabril, tinha início um novo modo de comercialização e de produção.
Sua característica principal consistia no fato de que os artigos produzidos não se destinavam apenas ao consumo dos mais abastados, mas ao consumo daqueles cujo papel como consumidores era, até então, insignificante. Coisas baratas, ao alcance do maior número possível de pessoas, era o objetivo do sistema fabril.  A indústria típica dos primeiros tempos da Revolução Industrial era a tecelagem de algodão.  Ora, os artigos de algodão não se destinavam aos mais abastados.  Os ricos preferiam a seda, o linho, a cambraia.  Sempre que a fábrica, com os seus métodos de produção mecanizada, invadia um novo setor de produção, começava fabricando artigos baratos para consumo das massas.  As fábricas só se voltaram para a produção de artigos mais refinados, e portanto mais caros, em um estágio posterior, quando a melhoria sem precedentes no padrão de vida das massas tornou viável a aplicação dos métodos de produção em massa também aos artigos melhores.
Assim, por exemplo, os sapatos fabricados em série eram comprados apenas pelos "proletários", enquanto os consumidores mais ricos continuavam a encomendar sapatos sob medida.  As tão malfaladas fábricas que exploravam os trabalhadores, exigindo-lhes trabalho excessivo e pagando-lhes salário de fome, não produziam roupas para os ricos, mas para pessoas cujos recursos eram modestos.  Os homens e mulheres elegantes preferiam, e ainda preferem, ternos e vestidos feitos pelo alfaiate e pela costureira.
O fato marcante da Revolução Industrial foi o de ela ter iniciado uma era de produção em massa para atender às necessidades das massas.  Os assalariados já não são mais pessoas trabalhando exaustivamente para proporcionar o bem-estar de outras pessoas; são eles mesmos os maiores consumidores dos produtos que as fábricas produzem.  A grande empresa depende do consumo de massa.  Em um livre mercado, não há uma só grande empresa que não atenda aos desejos das massas.  A própria essência da atividade empresarial capitalista é a de prover para o homem comum.  Na qualidade de consumidor, o homem comum é o soberano que, ao comprar ou ao se abster de comprar, decide os rumos da atividade empresarial.  Na economia de mercado não há outro meio de adquirir e preservar a riqueza, a não ser fornecendo às massas o que elas querem, da maneira melhor e mais barata possível.
Ofuscados por seus preconceitos, muitos historiadores e escritores não chegam a perceber esse fato fundamental.  Segundo eles, os assalariados labutam arduamente em benefício de outras pessoas.  Nunca questionaram quem são essas "outras" pessoas.
O Sr. e a Sra. Hammond [citados na nota de referência número 2] nos dizem que os trabalhadores eram mais felizes em 1760 do que em 1830.[5]  Trata-se de um julgamento de valor arbitrário.  Não há meio de comparar e medir a felicidade de pessoas diferentes, nem da mesma pessoa em momentos diferentes.
Podemos admitir, só para argumentar, que um indivíduo nascido em 1740 estivesse mais feliz em 1760 do que em 1830.  Mas não nos esqueçamos de que em 1770 (segundo estimativa de Arthur Young) a Inglaterra tinha 8,5 milhões de habitantes, ao passo que em 1830 (segundo o recenseamento) a população era de 16 milhões.[6]  Esse aumento notável se deve principalmente à Revolução Industrial.  Em relação a esses milhões de ingleses adicionais, as afirmativas dos eminentes historiadores só podem ser aprovadas por aqueles que endossam os melancólicos versos de Sófocles: "Não ter nascido é, sem dúvida, o melhor; mas para o homem que chega a ver a luz do dia, o melhor mesmo é voltar rapidamente ao lugar de onde veio".
Os primeiros industriais foram, em sua maioria, homens oriundos da mesma classe social que os seus operários. Viviam muito modestamente, gastavam no consumo familiar apenas uma parte dos seus ganhos e reinvestiam o resto no seu negócio.  Mas, à medida que os empresários enriqueciam, seus filhos começaram a frequentar os círculos da classe dominante.  Os cavalheiros de alta linhagem invejavam a riqueza dos novos-ricos e se indignavam com a simpatia que estes devotavam às reformas que estavam ocorrendo.  Revidaram investigando as condições morais e materiais de trabalho nas fábricas e editando a legislação trabalhista.
A história do capitalismo na Inglaterra, assim como em todos os outros países capitalistas, é o registro de uma tendência incessante de melhoria do padrão de vida dos assalariados.  Essa evolução coincidiu, por um lado, com o desenvolvimento da legislação trabalhista e com a difusão do sindicalismo, e, por outro, com o aumento da produtividade marginal.  Os economistas afirmam que a melhoria nas condições materiais dos trabalhadores se deve ao aumento da quota de capital investido per capita e ao progresso tecnológico decorrente desse capital adicional.  A legislação trabalhista e a pressão sindical, na medida em que não impunham a concessão de vantagens superiores àquelas que os trabalhadores teriam de qualquer maneira, em virtude de a acumulação de capital se processar em ritmo maior do que o aumento populacional, eram supérfluas.  Na medida em que ultrapassaram esses limites, foram danosas aos interesses das massas.  Atrasaram a acumulação de capital, diminuindo assim o ritmo de crescimento da produtividade marginal e dos salários.  Privilegiaram alguns grupos de assalariados às custas de outros grupos.  Criaram o desemprego em grande escala e diminuíram a quantidade de produtos que os trabalhadores, como consumidores, teriam à sua disposição.
Os defensores da intervenção do governo na economia e do sindicalismo atribuem toda melhoria da situação dos trabalhadores às ações dos governos e dos sindicatos.  Se não fosse por isso, dizem eles, o padrão de vida atual dos trabalhadores não seria maior do que nos primeiros anos da Revolução Industrial.
Certamente essa controvérsia não pode ser resolvida pela simples recorrência à experiência histórica.  Os dois grupos não têm divergências quanto a quais tenham sido os fatos ocorridos.  Seu antagonismo diz respeito à interpretação desses fatos, e essa interpretação depende da teoria escolhida.  As considerações de natureza lógica ou epistemológica que determinam a correção ou a falsidade de uma teoria são, lógica e temporalmente, antecedentes à elucidação do problema histórico em questão.  Os fatos históricos, por si só, não provam nem refutam uma teoria.  Precisam ser interpretados à luz da compreensão teórica.
A maioria dos autores que escreveu sobre a história das condições de trabalho no sistema capitalista era ignorante em economia e disso se vangloriava.  Entretanto, tal desprezo por um raciocínio econômico bem fundado não significa que esses autores tenham abordado o tema dos seus estudos sem preconceitos e sem preferência por uma determinada teoria; na realidade, estavam sendo guiados pelas falácias tão difundidas que atribuem onipotência ao governo e consideram a atividade sindical como uma bênção.  Ninguém pode negar que os Webbs, assim como Lujo Brentano e uma legião de outros autores menores, estavam, desde o início de seus estudos, imbuídos de uma aversão fanática pela economia de mercado e de uma entusiástica admiração pelas doutrinas socialistas e intervencionistas.  Foram certamente honestos e sinceros nas suas convicções e deram o melhor de si.  Sua sinceridade e probidade podem eximi-los como indivíduos; mas não os eximem como historiadores.  As intenções de um historiador, por mais puras que sejam, não justificam a adoção de doutrinas falaciosas.  O primeiro dever de um historiador é o de examinar com o maior rigor todas as doutrinas a que recorrerá para elaborar suas interpretações históricas.  Caso ele se furte a fazê-lo e adote ingenuamente as ideias deformadas e confusas que têm grande aceitação popular, deixa de ser um historiador e passa a ser um apologista e um propagandista.
O antagonismo entre esses dois pontos de vista contrários não é apenas um problema histórico: está intimamente ligado aos problemas mais candentes da atualidade.  É a razão da controvérsia naquilo que se denomina hoje de relações industriais.
Salientemos apenas um aspecto da questão: em vastas regiões — Ásia Oriental, Índias Orientais, sul e sudeste da Europa, América Latina — a influência do capitalismo moderno é apenas superficial.  A situação nesses países, de uma maneira geral, não difere muito da que prevalecia na Inglaterra no início da "Revolução Industrial".  Existem milhões de pessoas que não encontram um lugar seguro no sistema econômico vigente.  Só a industrialização pode melhorar a sorte desses desafortunados; para isso, o que mais necessitam é de empresários e de capitalistas.
Como políticas insensatas privaram essas nações do benefício que a importação de capitais estrangeiros até então lhes proporcionava, precisam proceder à acumulação de capitais domésticos.  Precisam percorrer todos os estágios pelos quais a industrialização do Ocidente teve de passar.  Precisam começar com salários relativamente baixos e com longas jornadas de trabalho.  Mas, iludidos pelas doutrinas prevalecentes hoje em dia na Europa Ocidental e na América do Norte, seus dirigentes pensam que poderão consegui-lo de outra maneira.  Encorajam a pressão sindical e promovem uma legislação pretensamente favorável aos trabalhadores.  Seu radicalismo intervencionista mata no nascedouro a criação de uma indústria doméstica.  Seu dogmatismo obstinado tem como consequência a desgraça dos trabalhadores braçais indianos e chineses, dos peões mexicanos e de milhões de outras pessoas que se debatem desesperadamente para não morrer de fome.


[1] A atribuição da expressão "Revolução Industrial" ao período dos reinados dos dois últimos reis da casa de Hanover — George III e George IV (1760-1830) — resultou do desejo de dramatizar a história econômica, de maneira a ajustá-la aos esquemas marxistas procustianos.* A transição dos métodos medievais de produção para o sistema de livre iniciativa foi um processo longo que começou séculos antes de 1760 e que, mesmo na Inglaterra, em 1830, ainda não tinha terminado.  Entretanto, é verdade que o desenvolvimento industrial na Inglaterra acelerou-se bastante na segunda metade do século XVIII.  Consequentemente, é admissível usar a expressão "Revolução Industrial" ao se examinarem as conotações emocionais que lhe foram imputadas pelo fabianismo, pelo marxismo e pela Escola Historicista.
* Relativo a Procusto, gigante salteador da Ática que, segundo a mitologia grega, despojava viajantes e torturava-os deitando-os num leito de ferro: se a vítima fosse maior, cortava-lhe os pés; se menor, esticava-a por meio de cordas até que atingisse as dimensões do leito. O termo serve para metaforizar o ato de se tentar ajustar arbitrariamente a realidade a um sistema ou teoria previamente concebidos. (N.T.)
[2] J.L. Hammond and Barbara Hammond, The Skilled Labourer, 1760-1832, 2. ed., Londres, 1920, p. 4.
[3] Na guerra dos Sete Anos, 1.512 marinheiros ingleses morreram em combate, enquanto 133.708 morreram de doenças ou desapareceram. Ver W.L.Dorn, Competition for Empire 1740-1763, Nova York, 1940, p.114.
[4] No sistema feudal inglês, a maior parte da área rural constituía-se de campos e florestas. Grande parte dessas áreas era utilizada para o cultivo de grãos e criação de gado para consumo próprio. Com o advento da produção agrícola para o mercado e não para o senhor feudal, essas terras começaram a ser cercadas e apropriadas.  Diversos atos do Parlamento, no século XVIII e parte do século XIX, endossaram esse movimento, que tinha oposição das classes inferiores.  Tal situação resultou num aumento da produção agrícola e na criação de um proletariado rural, que veio a se tornar a força de trabalho usada pelas fábricas inglesas na "Revolução Industrial".
[5] J.L. Hammond e Barbara Hammond, op. cit.
[6] F.C. Dietz, An Economic History of England, Nova York, 1942, p. 279 e 392.

Ludwig von Mises  foi o reconhecido líder da Escola Austríaca de pensamento econômico, um prodigioso originador na teoria econômica e um autor prolífico.  Os escritos e palestras de Mises abarcavam teoria econômica, história, epistemologia, governo e filosofia política.  Suas contribuições à teoria econômica incluem elucidações importantes sobre a teoria quantitativa de moeda, a teoria dos ciclos econômicos, a integração da teoria monetária à teoria econômica geral, e uma demonstração de que o socialismo necessariamente é insustentável, pois é incapaz de resolver o problema do cálculo econômico.  Mises foi o primeiro estudioso a reconhecer que a economia faz parte de uma ciência maior dentro da ação humana, uma ciência que Mises chamou de "praxeologia".

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Para nao dizer que nao falei de dores... (sim, as dores da entrevista...)

Por exemplo, ter de suportar perguntas chatas de jornalistas, questionando sobre direitos humanos em Cuba, êta coisa chata sô...
Se eles apenas falassem de negócios, comércio, tudo seria mais fácil, mas eles logo vêm com essas coisas incômodas.
Será que eles não percebem que isso constrange nossos anfitriões?
Enfim, vamos lá: 

Entrevista coletiva concedida pela Presidenta da República, Dilma Rousseff, após visita ao Memorial José Martí


Havana-Cuba, 31 de janeiro de 2012

Jornalista: Bom dia, Presidente. Bom dia.
Presidenta: Vamos fazer assim: um quebra-queixo, pode ser levinho? Então, um quebra-queixo levinho.

Jornalista: Presidente.
Presidenta: Calma, três perguntas, quebra-queixo levinho, não é? Levinho.

Jornalista: Levinho. Então, vamos começar falando dos Direitos Humanos.
Presidenta: Nós vamos começar a falar de Direitos Humanos em todo o mundo?

Jornalista: Vamos, vamos.
Presidenta: De todo o mundo?

Jornalista: Não, não, é só para a gente...
Presidenta: Pois é. Nós começaremos a falar de Direitos Humanos no Brasil...

Jornalista: Como o Brasil (incompreensível) essa abertura econômica?
Presidenta: No Brasil. Nós vamos começar a falar de Direitos Humanos nos Estados Unidos, a respeito de uma base, aqui, chamada Guantánamo. Vamos falar de Direitos Humanos em todos os lugares.
Então, eu prefiro falar de outra coisa, eu prefiro falar de uma coisa que é muito importante, que é o fato de que o mundo precisa se comprometer em geral. E não é possível fazer da política de Direitos Humanos só uma arma de combate político-ideológico. O mundo precisa se convencer de que é algo que todos os países do mundo tem de se responsabilizar, inclusive o nosso. Quem atira a primeira pedra tem telhado de vidro. Nós, no Brasil, temos os nossos.
Então, eu concordo em falar de Direitos Humanos dentro de uma perspectiva multilateral. Acho que esse é um compromisso de todos os povos civilizados. Há, necessariamente, muitos aspectos a serem considerados.
Agora, de fato, é algo que nós temos de melhorar no mundo, de uma maneira geral. Nós não podemos achar que Direitos Humanos é uma pedra que você joga só de um lado para o outro. Ela serve para nós também. Bom...

Jornalista: (incompreensível)
Jornalista: A senhora vai interceder a favor da blogueira Yoani Sanchéz (incompreensível) do Brasil?
Presidenta: Olha, eu dei, o Brasil deu seu visto para a blogueira. Agora, os demais passos não são da competência do governo brasileiro.

Jornalista: Presidenta (incompreensível)
Presidenta: Calma, calma, calma. Como o Brasil pode ajudar Cuba? Vamos discutir como o Brasil pode ajudar Cuba. A grande ajuda que o Brasil vai dar a Cuba é contribuir para que esse processo, que é um processo que eu não considero que leve a grande coisa, leva mais à pobreza e a problemas sério para as populações que sofrem a questão do bloqueio, a questão do embargo, a questão do impedimento do comércio. Eu sou a favor e o Brasil é a favor e, por isso, eu acho que é um compromisso de todos nós, brasileiros, que somos um povo pacífico. Eu acredito que a grande contribuição que nós podemos dar, aqui em Cuba, é ajudar a desenvolver todo o processo econômico.
Primeiro, o Brasil, hoje, participa, aqui em Cuba, de várias iniciativas que eu considero importantes: a primeira, que é uma política de alimentos. É impossível se considerar que é correto o bloqueio de alimentos para um povo. Então, nós participamos aqui, financiando, através de um crédito rotativo, US$ 400 milhões de compra de alimentos no Brasil. Financiamos, também, através... aprovamos esse financiamento através do Programa Mais Alimentos, que aí é de equipamentos, máquinas, pequenos tratores, colheitadeiras para estimular aqui a própria produção de alimentos, aqui em Cuba, através de 200 milhões de crédito, sendo que 70 milhões a Camex aprovou recentemente.
E acho que também uma grande contribuição na construção do Porto de Mariel, que não é só um porto. O Porto de Mariel, ele é, de fato, um sistema logístico de exportação de bens produzidos aqui em Cuba, no valor de... o Porto de Mariel, no total, tem um pouco mais de US$ 900 milhões, dos quais nós contribuímos com algo como 640 e poucos milhões de dólares também. Por que nós achamos importante participar do Porto de Mariel? Porque nós achamos que é fundamental que se crie, aqui, condições de sustentabilidade para o desenvolvimento do povo cubano.
E nós participamos, não só construindo o Porto, mas também trazendo para cá uma cooperação que eu considero estratégica para o Brasil e para Cuba. É o tipo da cooperação em que todo mundo ganha. Quem ganha? Ganha o Brasil, por fazer uma cooperação com um país e um povo e toda uma estrutura institucional que é visivelmente competente, capaz na área de biotecnologia, na área das ciências médicas e com uma grande competência para todas as questões ligadas à biotecnologia. Então, o Brasil ganha com isso. Ganha Cuba também porque é uma parceria em que o Brasil entra também com os seus conhecimentos nessa área, suas empresas privadas, que também implicam em uma capacidade tecnológica do nosso país, e nós queremos uma parceria estratégica e duradoura. Nós estamos fazendo aqui uma parceria com essas... através desses projetos, que eu acredito que vai levar, para o Brasil e para Cuba, um processo de desenvolvimento.
Então, acredito que é isso o que nós estamos fazendo isso aqui no Brasil... em Cuba... que o Brasil está fazendo aqui em Cuba. 

Jornalista: Presidenta...
Presidenta: É essa a contribuição.

Jornalista: A senhora começou o ano indo ao Fórum Social e agora vem a Cuba. São gestos políticos mais à esquerda. Por que a senhora fez isso aqui?
Presidenta: Olha, eu acho o seguinte. Eu acho interessante a forma como a mídia analisa meus atos. Posso te dizer uma coisa? Eu fico estarrecida com esse tipo de pergunta, estarrecida, porque significa que no ano passado eu fui à União Europeia, recebi os Estados Unidos, depois onde mais que eu fui? Bom, eu andei para danar. Fui ao G-20, fui para a Argentina, e como é que a gente interpretaria o ano passado? O Brasil faz política internacional com todos os países. Nós somos um povo absolutamente pacífico, acreditamos no diálogo e achamos que é fundamental também dialogar com os movimentos sociais. Não acredito, nem para nós, internamente, que as práticas violentas de tratamento dos movimentos sociais se justificam. Nem tampouco nós acreditamos que a guerra, e o conflito, e o confronto levem a grandes resultados. Nós temos uma política, claramente, de conversa com todo o mundo sem nenhum preconceito, de nenhuma ordem. Agora, somos contra a violência, e isso tem sido a característica, e eu acho que não é só do meu governo, não é só do governo do presidente Lula. Acho que é uma certa característica do Brasil ter 140 anos – e nós temos que ter orgulho disso – de paz com todos os nossos vizinhos no mundo, com conflitos regionais sistemáticos. Então, eu tenho imenso orgulho, primeiro, de estar aqui em Cuba; segundo, de ter ido ao Fórum Social Mundial; terceiro, de ter ido ao G-20, no ano passado, de ter conversado com o Presidente dos Estados Unidos, com o presidente Hu Jintao, com o presidente Medvedev, com o presidente [primeiro-ministro] Singh, ter ido na África do Sul e conversado com todos os líderes. É minha obrigação, como Presidente, estabelecer uma posição do Brasil que, além de manifestar o crescente poder econômico que o Brasil tem tido e reconhecido internacionalmente, também mostra essa disposição do Brasil de diálogo, de parcerias construtivas e de parcerias pacíficas.
Aqui em Cuba, nós queremos uma grande parceria com o governo cubano e o povo cubano, no sentido de auxiliar todos os processos de desenvolvimento e de garantia de uma condição de desenvolvimento e de vida melhor. Esta é uma região na qual nós estamos presentes, não é? Nós atuamos na América Latina toda, no Caribe e na América Central. É a nossa região aqui e, inclusive, nós temos mais obrigação do que nas outras regiões. É aqui e na África, eu acho, que o Brasil tem obrigação de ter uma política descente de cooperação econômica. Não uma política que só olhe o seu interesse, mas seja capaz de construir, com o seu interesse, o interesse do outro povo. Eu acho que essa é a novidade da nossa presença internacional.

Jornalista: (incompreensível) la Celac? La Celac, Presidenta?
Presidenta: La Celac, la Celac. A Celac foi uma reunião... Aliás, muito bem lembrado. Uma outra reunião, assim, interessante, foi a da Celac, foi toda essa América que é a partir do México até a Patagônia argentina, estavam todos os presidentes, primeiros-ministros ou altos representantes nessa reunião, que eu acho que foi no final do ano. Muitas vezes, a imprensa não deu, assim, tanta importância, mas para mim foi uma das mais importantes feitas aqui na região, naquele período.

Jornalista: Presidente, como é que fica a situação do ministro Negromonte agora?
Presidenta: Olha, as questões relativas ao Brasil - eu já disse isso para vocês anteriormente – vocês são insistentes, eu sei.

Jornalista: Ai da gente se não perguntar, não é?
Presidenta:... insistentes, inteligentes e rápidos, rápidos. Então, as questões relativas ao Brasil nós discutimos no Brasil, a partir de quinta-feira.

Jornalista: (incompreensível) aumentar o investimento e a (incompreensível)
Jornalista: A senhora vai encontrar com o Fidel Castro?
Presidenta: Sim, com muito orgulho, eu vou.

Jornalista: (incompreensível)
Jornalista: Obrigada.
 Ouça a íntegra da entrevista (11min26s) da Presidenta Dilma

Guantanamera... Yo soy un hombre sincero...

De donde cresce la palma...
Homens sinceros, e corajosos, só tem uma palavra, e nunca se dobram à conveniência e à acomodação com quem ocupa (temporariamente, se espera) o poder.
Quem o ocupa, pode ordenar muita coisa e, claro, espera contar com a obediência dos passivos.
Mas não pode contar, pelo menos não em todos os casos, com que os homens de Guantanamo -- os da canção e mesmo os atuais ocupantes -- pensem exatamente como pensa o poder. Isso nenhum poder superior consegue assegurar, mesmo sob ameaça de fuzilamento, ainda que virtual.
Homens sinceros conservam autonomia de pensamento, mesmo em condições adversas.
Nunca se deve esperar hipocrisia de quem não depende de favores ou de concessões.
Acho que fui claro...
Paulo Roberto de Almeida

Reinaldo Azevedo, 1/02/2012
Revejam esta foto:

Aquele que aparece com ar quase infantil amarrando a venda do condenado à morte é Raúl Castro. Pelo menos 17 mil pessoas foram assassinadas assim na ilha. Estima-se em 83 mil as que morreram afogadas tentando fugir do país! Adiante.
Em janeiro do ano passado, o presidente da China, Hu Jintao, visitou os EUA. Ele e Barack Obama concederam uma entrevista coletiva conjunta. O americano afirmou com todas as letras:
“A história mostra que as sociedades são mais harmônicas, as nações são mais bem-sucedidas, e o mundo é mais justo quando os direitos e as responsabilidades de todos os países e todos os povos são cumpridos, incluindo os direitos de cada ser humano. Os EUA vêem os direitos humanos como um valor universal, até mesmo para a China”.
Não parou aí. Defendeu o diálogo do governo daquele país com o Dalai Lama, líder religioso do Tibete. Obrigou Jintao a sair do silêncio: “A China fez um enorme progresso na área de direitos humanos. Reconhecemos e respeitamos a universalidade dos direitos humanos. Ainda há muito o que fazer em matéria de direitos humanos. Mas devemos ter em conta as diferenças e o princípio da não intervenção”.
No Estadão de hoje, Maria Aparecida de Aquino, petista que é professora de história da USP, fala como membro de partido, não como acadêmica — que é o que fazem todos os professores universitários brasileiros ligados à legenda, o que evidencia má destinação do dinheiro público: comportam-se como esbirros da organização, como meros “apparatchiki”. Segundo a preclara, se Dilma cobrasse respeito aos direitos humanos, “estaria ferindo todas as normas diplomáticas”. Como se vê pelo exemplo que abre o texto, esta senhora não sabe o que diz e põe a sua reputação acadêmica a serviço da causa. Trata-se de uma fala vergonhosa. Essa gente tem coragem de encarar os alunos no dia seguinte?
Pergunto a Maria Aparecida — e, se ela tiver uma boa resposta, publico: Jimmy Carter “feriu todas as normas diplomáticas” quando defendeu os direitos humanos em sua visita ao Brasil em 1978? Fez mal? Não que as duas ditaduras se igualassem, é claro! Numa contagem bastante alargada, já informei aqui, morreram 424 pessoas durante o regime militar brasileiro; a tirania cubana responde pela morte de 100 mil. E ainda não parou de matar. No Chile, a ditadura de Pinochet (que serve como o ”Judas de direita” a Maria Aparecida e a seus amiguinhos de esquerda) matou três mil pessoas. Mesmo a carnificina argentina, com escandalosas 30 mil vítimas, perde feio dos irmãos Castro, os tarados por cadáveres.
Estou fazendo campeonato de mortes ou livrando a cara das ditaduras latino-americanas? Eu não! Que vão todas elas para a lata do lixo. Eu tenho compromisso é com a vida. São bem poucas as pessoas que se atrevem a defender esses regimes. Se o fazem, tendem a ser severamente combatidas como partidárias da violência e da truculência. E é justo. O que me pergunto é por que temos de considerar respeitáveis algumas vozes que se alinham com os porcos  da esquerda. Não gostamos de assassinos porque assassinos ou porque “de direita”? Se forem “companheiros”,  tudo bem? É por isso que essa escória matou 25 milhões na antiga URSS, 70 milhões na China, 3 milhões no Camboja, para citar os casos mais escandalosos. Dêem-me uma boa razão para um comunista ser considerado uma pessoa mais decente do que um nazista — nem do discurso anti-semita essa escória escapou.

Guantánamo
A fala de Dilma que foi divulgada pelo jornalismo online não fazia jus à delinqüência da política externa por ela vocalizada, que segue sendo a de Celso Amorim — só mudou o gerente da padaria, mas o serviço continua péssimo. Vamos ver.
“Nós vamos falar de direitos humanos em todo o mundo? Vamos ter de falar de direitos humanos no Brasil, nos EUA, a respeito de uma base aqui que se chama Guantánamo”.

Pouco treinado que anda o jornalismo em análise de discurso, poucos se deram conta de que Dilma se nega a cobrar de Cuba respeito aos direitos humanos, mas se acha no direito de cobrar dos EUA, ainda que em solo cubano. Uma coerência  mínima, então, deveria levá-la a silenciar também sobre Guantánamo, certo? Mas este é um governo que segue, nesse particular, o brilhante raciocínio do sambista Chico Buarque: fala grosso com os EUA e fino com ditaduras. O que Dilma sugere? Aquele anão homicida que governa Cuba, Raúl Castro, pode, então, fazer o que bem entender enquanto existir Guantánamo e enquanto perdurar o embargo — que já não embarga, de fato, coisa nenhuma? Essa é só uma das fantasias da esquerdopatia sobre Cuba. Então que se registre: a Dilma que não se mete na realidade de outros países acha-se, no entanto, em condições de questionar os EUA.

Não que as questões se igualem, é bom deixar claro. Os leitores antigos sabem — e os mais recentes podem procurar em arquivo — que escrevi aqui dezenas de vezes que Barack Obama não iria desativar a prisão de Guantánamo porque se criou, de fato, um nó jurídico e tanto, decorrente de uma situação inédita. Os presos que lá estão eram mercenários ou militantes religiosos oriundos de diversos países que foram “defender” o regime do Taliban, no Afeganistão. Há muitos casos, pesquisem, de prisioneiros que deixaram a base e voltaram para os campos de treinamento terroristas. É o que vai acontecer com uma boa parcela se forem devolvidos a seus respectivos países. Se levados a julgamento em solo americano, há uma boa possibilidade de que sejam soltos.
Então Guantánamo é uma maravilha e deve continuar lá indefinidamente? As repostas são “não” e “não”, mas Dilma incorre em estupidez semelhante a seu antecessor ao evocar Guantánamo. Em visita a Cuba em fevereiro de 2010, questionado sobre Orlando Zapata, prisioneiro que morrera no dia de sua chegada à ilha em decorrência de uma greve de fome, o Apedeuta afirmou: “Imaginem se todos os bandidos presos em São Paulo fossem fazer greve de fome”… Lula, que já havia comparado a oposição iraniana a uma torcida que perde o jogo, não via diferença ente oponentes do regime e marginais. Agora chegou a vez de Dilma fazer uma escolha entre os cidadãos comuns de Cuba, que anseiam por liberdade, e cento e poucos presos que restaram em Guantánamo, que lá não estão porque gostem de brincar de amarelinha… A exemplo do Babalorixá, Dilma tripudia sobre um cadáver ainda fresco. O opositor Wilmar Villar Mendoza morreu, também de greve de fome, no dia 19 de janeiro.
Encerrando
É evidente que o Brasil não pode impor a sua pauta a países com os quais mantém relações. Não é isso o que se está a cobrar do Itamaraty ou de Dilma Rousseff. Nem mesmo se esperava que a presidente censurasse Cuba. O que se está a pedir é bem menos do que isso: só uma defesa enfática, clara, insofismável e sem ressalvas dos direitos humanos, como Carter fez ao regime militar brasileiro em 1978 e como Obama fez à China no ano passado.

Mas isso não vai acontecer. O coração dos companheiros ainda dispara de emoção quando vê um inimigo de olhos vendados, pronto para ser executado. É o que teriam feito a milhões no Brasil se tivessem vencido a batalha e implementado o regime dos sonhos, ainda vigente em Cuba. Dilma, afinal, não consegue ir contra esta outra ilha de sua antiga utopia.
Como seu discurso dá a entender, se pudesse escolher, A Soberana soltaria todos os presos de Guantánamo e manteria prisioneiro o povo de Cuba, com Raúl a lhes vendar os olhos e a atar os braços. Em nome do sonho!
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Reinaldo Azevedo
As declarações de Dilma sobre os direitos humanos, feitas em Cuba, chegam a ser mais vergonhosas do que as do Apedeuta, seu antecessor. Ele, com a grossura teórica peculiar, decidiu ignorar a questão e pronto! Ela ameaçou criar uma espécie de teoria, segundo a qual todos os países, em certa medida, Brasil inclusive, têm telhado de vidro. Sim, sempre há transgressões — a situação dos presos comuns no Brasil, por exemplo, é detestável.
Mas há uma diferença considerável entre países que têm instituições em defesa das liberdades públicas e das liberdades individuais, como o Brasil — e que devem fazer um esforço cotidiano para que sejam respeitadas —, e aqueles que têm na tirania e na violência o seu modo ótimo de fazer política. Num caso, a justiça é um norte a ser perseguido; no outro, tem-se a morte da esperança.
Por que Dilma e os seus não reconhecem essa distinção? Porque têm a ditadura entranhada na alma, ora essa! Ela é presidente de um país democrático, mas pertence a uma corrente de pensamento que, a despeito de algumas dissensões internas (irrelevantes), atua cotidianamente para eliminar o adversário, para apagar o passado, para reescrever a história.
O que estou afirmando é que o norte moral da presidente, no fim das contas, continua a ser aquele vigente em Cuba, onde uma elite de iluminados decide os destinos da sociedade — condenando-a, como se sabe, ao atraso. O Brasil teve a sorte de manter essa gente longe do poder por um bom tempo. O Brasil teve o bom senso de recusar em 1989, 1994 e 1998 os métodos que o PT propunha. Quando chegou ao poder, em 2003, já estava mais domesticado, e as instituições democráticas já haviam avançado o suficiente para dificultar a tarefa de construção do partido único.
Não obstante, no 10º ano do poder petista, vemos a) as oposições com as pernas quebradas — também em razão de sua ruindade, já que não entenderam até agora como funciona o petismo; b) boa parte da imprensa ou rendida ou experimentando uma espécie de esquizofrenia, que exalta as qualidades interventoras de Dilma em seu próprio governo; c) um rebaixamento contínuo e sistemático do padrão ético na vida pública; d) o uso descarado na máquina do estado para difamar personalidades e políticos considerados incômodos; e) uso do dinheiro público para financiar as diversas formas de subjornalismo a soldo, cuja tarefa é difamar os, vejam vocês!, “inimigos do regime”; f) uso de juros subsidiados para transformar o empresariado em clientela do governo — os cordatos ganharão o leite de pata…
Trata-se do mesmo espírito ditatorial, só que exercido por outros meios — os meios possíveis num sistema ainda democrático, mas exibindo cada vez mais a musculatura de um regime ditatorial.
O que Dilma fez em Cuba? Resolveu generalizar a transgressão aos direitos humanos — seria um problema universal — para, na prática, poder endossar as práticas vigentes em Cuba. Alinhou-se com a ditadura e cuspiu em cada um dos presos políticos da ilha, que sofrem lá, de modo comprovado, as mesmas agruras que ela diz ter sofrido quando presa no Brasil. Membro então de uma organização terrorista, a detenção fez dela uma heroína; simples opositores pacíficos do governo, os que estão presos em Cuba ou são “bandidos”, como comparou o Babalorixá de Banânia, ou merecem ser evocados ao lado dos terroristas da Al Qaeda.
Querem saber? É puro lixo moral!



Um governo impoluto (de toda honestidade)...

Onde, onde?
Deve ser em algum canto do planeta, pois as notícias que aqui chegam -- agora só por internet -- são as piores possíveis.
Eu vou continuar dando trabalho aos AAs -- Adesistas Anônimos -- os tradicionais patrulheiros de plantão, mercenários a soldo e outros comprados (ou convertidos, também existe, embora mais por ingenuidade ou limitações intrínsecas, do que propriamente de modo sincero), enfim todos aqueles que gostariam de ver o pensamento único (o deles, claro) na internet e nos veículos de comunicação, pois vou continuar publicando matérias tão singelas quanto estas, um simples comentário sobre como são e como ocorrem as coisas em determinados setores do público espaço, se ouso dizer...
Os AAs ficam furibundos -- e tentam responder mandando matérias requentadas sobre a corrupção alheia -- mas eles também concordariam comigo: nunca antes na história deste país, tantos casos exemplares vieram a tona, para maior desconforto de todos, os que são assim expostos à opinião pública, que toma conhecimento de suas bandalheiras e patifarias, e nós, os que pagamos por tudo isso, e que vemos nosso dinheiro se esvair nos bolsos, cofres e contas de verdadeiros larápios da democracia.
Um companheiro sincero podia até se perguntar (entre eles, claro): "Companheiros, como é que fomos decair para essa roubalheira generalizada, essa corrupção sistêmica, essas patifarias recorrentes, essas fraudes renitentes, essa falta de vergonha que nos faz esquecer antigos slogans de governo ético e descambar para a moral dos mafiosos, das quadrilhas organizadas?"
Pois é, companheiros, eu também pergunto, e na verdade, sinto vergonha pelo meu país, ao ter de reconhecer que, sim, somos campeões -- não em corrupção, pois existem concorrentes mais sérios em liça -- mas na impunidade e na falta de vergonha...
Durmam com esse silêncio arrasador, se puderem AAs, eu vou continuar atento...
Paulo Roberto de Almeida 

Corrupção e incompetência

Editoral O Estado de S.Paulo01 de fevereiro de 2012 | 3h 09

O tempo está sendo implacável com a imagem que arduamente a presidente Dilma Rousseff tenta construir para si - como fez durante a campanha eleitoral de 2010, com a inestimável colaboração de seu patrono político, o ex-presidente Lula -, de administradora capaz, tecnicamente competente e defensora da lisura e da moralidade dos atos públicos. É cada vez mais claro que tudo não passa da construção de uma personagem de feitio exclusivamente eleitoral.
As trocas de ministros no primeiro ano de mandato por suspeitas de irregularidades são a face mais visível dos malefícios de um governo baseado não na competência de seus integrantes - como seria de esperar da equipe de uma gestora eficiente dos recursos públicos -, mas em acordos de conveniência político-partidárias que levaram ao loteamento dos principais postos da administração federal. O resultado não poderia ser diferente do que revelam os fatos que vão chegando ao conhecimento do público.
A amostra mais recente dos prejuízos que essa forma de montar equipes e administrar a coisa pública pode causar ao erário é o contrato assinado em 2010 pelo Ministério do Esporte com a Fundação Instituto de Administração (FIA) para a criação de uma estatal natimorta. O caso, relatado pelos repórteres do Estado Fábio Fabrini e Iuri Dantas (30/1), espanta pelo valor gasto para que rigorosamente nada fosse feito de prático e porque o contrato não tinha nenhuma utilidade.
A FIA foi contratada para ajudar na constituição da Empresa Brasileira de Legado Esportivo Brasil 2016, legalmente constituída em agosto de 2010 para executar projetos ligados à Olimpíada de 2016. De acordo com o contrato, a FIA deveria "apoiar a modelagem de gestão da fase inicial de atividade da estatal". A empresa não chegou a ser constituída formalmente - não foi inscrita no CNPJ nem teve sede, diretoria ou empregados -, pois, em agosto do ano passado, foi incluída no Programa Nacional de Desestatização, para ser liquidada. E por que, apenas um ano depois de a constituir, o governo decidiu extingui-la? Porque ela não tinha nenhuma função. Mesmo assim, a fundação contratada recebeu quase R$ 5 milhões - uma parte, aliás, paga depois de o governo ter decidido extinguir a empresa, cuja criação fora objeto do contrato com a FIA.
Em sua defesa, o Ministério do Esporte afirma que a contratação se baseou na legislação. É risível, no entanto, a alegação de que "os estudos subsidiaram decisões, sugeriram alternativas para contribuir com os debates que ocorreram nos governos federal, estadual e municipal e deram apoio aos gestores dos três entes para a tomada de decisões mais adequadas".
Mas tem mais. Pela leitura da mesma edição do Estado em que saiu a história acima, o público fica sabendo que, de 10 contratos na área de habitação popular firmados pela União com Estados e municípios, 7 não saíram do papel. Pode-se alegar, como fez a responsável pela área de habitação do Ministério das Cidades, que alguns Estados e prefeituras não estavam tecnicamente capacitados para executar as obras ou realizar as licitações previstas nos contratos de repasse de verbas federais. Isso significa que o governo federal se comprometeu, por contrato, a transferir recursos a quem não estava em condições de utilizá-los adequadamente, o que mostra no mínimo falta de critério.
Além disso, o programa que assegurou boa parte dos votos da candidata do PT em 2010, o Minha Casa, Minha Vida, sobre o qual Dilma falou maravilhas, na Bahia, antes de partir para Cuba, praticamente não saiu do papel no ano passado, e continuará parado em 2012, se não for mudado em alguns aspectos essenciais, alertam empresários do setor de construção civil.
E muitos outros programas considerados prioritários pelo governo Dilma se arrastam. Os investimentos efetivos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), outra grande fonte de votos para Dilma em 2010, são bem inferiores aos programados, e boa parte se refere a contratos assinados em exercícios passados.
O problema não é novo. A má qualidade da gestão é marca da administração do PT. E Dilma tem tudo a ver com isso, pois desempenha papel central nessa administração desde 2003.

O perfil do futuro (hope so) jovem diplomata - Valor Economico


O novo perfil dos futuros jovens diplomatas brasileiros
Por Adriana Fonseca | De São Paulo
Valor Econômico – pág. D10
01.02.2012

Marcella Winter, 23 anos, faz este ano sua segunda tentativa no exame de admissão do Instituto Rio Branco para poder seguir carreira diplomática
Uma mudança no conteúdo das provas do Instituto Rio Branco, que forma diplomatas, alterou a história de um dos mais disputados concursos do país. Até dez anos atrás, era mais fácil para filhos de diplomatas serem aprovados no exame. Por residirem no exterior, eles dominavam o francês, idioma que antes era antes era mais popular e eliminatório no teste. Além disso, a prova da primeira etapa era de cultura geral, o que também beneficiava quem tinha passagem por diversos países.
"Desde a modificação no conteúdo do concurso, ficou até mais difícil a aprovação deles. Como muitos passam boa parte da infância e adolescência fora do Brasil, não têm o conhecimento necessário sobre a história do país, disciplina exigida atualmente", explica o secretário do ministério de Relações Exteriores Márcio Rebouças, um dos responsáveis pela organização do concurso do Instituto Rio Branco. Segundo ele, hoje são poucos os aprovados que têm familiares na carreira diplomática.
O secretário explica que foram criadas 400 novas vagas para diplomatas em 2006. Essas posições foram distribuídas em cinco diferentes concursos anuais. "Nos últimos anos, o Brasil se interessou mais pelo exterior e vice-versa. Isso tem impacto direto na demanda de trabalho do corpo diplomático", diz.
No ano passado, o número de postos abertos voltou ao usual. Para Rebouças, a reposição natural de diplomatas no país requer o ingresso de 25 a 30 novos profissionais a cada ano. Assim, em 2011 foram 26 vagas abertas e neste ano são 30.
O salário inicial para quem consegue a aprovação e passa a ocupar o cargo de terceiro secretário é de R$ 12,9 mil. Para concorrer a uma das vagas é preciso ter curso superior, ser brasileiro nato, estar em dia com as obrigações eleitorais e do serviço militar e ter 18 anos completos.
Formada em relações públicas pela PUC do Rio de Janeiro, Marcella Winter, 23 anos, tentará neste ano a aprovação no concurso do Instituto Rio Branco pela segunda vez. A jovem concluiu a faculdade em julho de 2010 e, depois disso, dedicou seis meses aos estudos preparatórios para a prova que seleciona os futuros diplomatas brasileiros. "Eu sabia que não iria passar, pois tinha pouco tempo de estudo. Fiz para ganhar experiência", diz. Agora, no entanto, é para valer.
O ano em que Marcella fez a prova foi o mais concorrido da história do concurso, chegando ao recorde de 276 candidatos para cada vaga oferecida - nos anteriores, essa relação ficava entre 70 e 80. Com a concorrência acirrada, ela sabe que tem uma batalha dura pela frente. Sua rotina de estudos reflete o tamanho do desafio, com quase 15 horas diárias de dedicação à prova. Na unidade carioca do Curso Clio, onde faz todas as matérias do programa avançado que prepara os candidatos para o concurso, além de aulas de redação e simulados, ela chega ao meio-dia. Ali permanece até às 20 horas. Depois, já em casa, continua estudando até às 3 horas da madrugada.
Essa programação acontece de segunda à sexta-feira. Aos sábados, Marcella faz um curso preparatório complementar no período da manhã. "A parte da tarde tento dedicar ao lazer", diz.
Aos domingos, ela elabora as questões da monitoria on-line de política internacional, responsabilidade dela no Curso Clio. "Procurei emprego nessa escola quando ainda estava na faculdade. Já sabia que queria seguir a carreira diplomática, mas não tinha dinheiro para pagar o cursinho. Dessa forma, consegui uma bolsa de estudos", conta. "O lado positivo é que o meu trabalho me ajuda a estudar para o concurso."
Marcella não é a única que tenta a carreira diplomática pela segunda vez. João Batista da Costa, coordenador pedagógico e fundador do Curso JB, uma das escolas preparatórias mais tradicionais de Brasília, diz que a grande maioria dos alunos não passa na primeira tentativa. O mais comum, de acordo com ele, é ter êxito na segunda ou na terceira vez.
"O que define a aprovação de um aluno é a bagagem de conteúdo que ele traz, uma boa quilometragem de leitura e uma formação sólida", ressalta. A recomendação dele é que o aluno dedique pelo menos seis horas por dia aos estudos, mas há exceções. "Tem gente que consegue bons resultados com menos horas de preparo", afirma.
O perfil dos aprovados é variado, mas, na média, eles têm entre 25 e 28 anos e de 20% a 30% são mulheres. Por área de formação, as mais representativas são direito, curso escolhido por um terço dos aprovados, e relações internacionais, opção de mais um terço. Também são comuns pessoas que estudaram economia, comunicação social, letras e história.
Para quem se interessa pela carreira diplomática, as inscrições para a prova deste ano estão abertas até 12 de fevereiro ao custo de R$ 150. A seleção é dividida em quatro etapas, sendo as três primeiras de caráter eliminatório. Apenas a primeira fase tem questões objetivas e, segundo Rebouças, somente 200 de todos os inscritos, em média, passam para a segunda etapa. As demais fases são compostas por provas escritas.
As disciplinas presentes no exame são português, história do Brasil e do mundo, geografia, política internacional, inglês, economia, direito e direito internacional público. Na última etapa são avaliados conhecimentos de espanhol e francês, em caráter classificatório.

Debate: O Fim do FED (helas, not yet...)

DEBATE: O Fim do Fed - Por que Acabar com o Banco Central



Fecomercio-SP - Rua Doutor Plínio Barreto, 285 02/02/2012 15:00
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 "O Fim do FED -- Porque acabar com o Banco Central"
Dia 2 DE FEVEREIRO DE 2012
Das 15h às 17h30 (RECEPÇÃO A PARTIR DAS 14hs)
CONSELHO SUPERIOR DE ECONOMIA DA FECOMERCIO &
Instituto LUDWIG von MISES BRASIL

14h -Recepção

15h - Abertura Oficial

·         Dr. Paulo Rabello de Castro - Presidente do Conselho Superior de Economia da FECOMERCIO
·         Dr. Helio Beltrão - Presidente do Instituto LUDWIG von MISES BRASIL

15h30 - Debate

·         Steve Horwitz - Mestre e Doutor em Economia pela George Mason University e professor da St. Lawrence University, em Canton, NY.

·         Dr. Paulo Rabello de Castro - Presidente do Conselho Superior de Economia da FECOMERCIO

·         Dr. Helio Beltrão - Presidente do Instituto LUDWIG VON MISES BRASIL

·         Dr. Francisco Coelho - ABBC e diretor do Corecon

17h - Perguntas e Respostas

17h30 - Conclusões e Encerramento

·         Dr. Helio Beltrão - Presidente do Instituto LUDWIG von MISES BRASIL
·         Paulo Rabello de Castro - Presidente do Conselho Superior de Economia da FECOMERCIO

The End of Central Banks (as we know them...) - coloquio em SP, 2/02

Paulistanos, paulistas, passantes e turistas econômicos: sortudos ocasionais...
Mas esse debate deveria se estender a todos os quadrantes, latitudes, escolas econômicas.
As pessoas não se dão conta de como os problemas econômicos são afetados pela existência de um banco central monopolista, que decide punir os poupadores -- colocando a taxa de juros de juros em 0,25% por exemplo -- e premiar os credores, devedores e outros relapsos...

Os iluminados atrás das cortinas
por , terça-feira, 31 de janeiro de 2012

 

N. do T.: nesta próxima quinta-feira, dia 2, convidamos a todos os moradores da cidade de São Paulo e adjacências a comparecer ao debate que será realizado na FECOMERCIO sobre o fim do Banco Central americano (o Federal Reserve).  Entre os debatedores, Steve Horwitz (Mestre e Doutor em Economia pela George Mason University e professor da St. Lawrence University, em Canton, NY), Paulo Rabello de Castro (Presidente do Conselho Superior de Economia da FECOMERCIO) e o presidente do IMB, Helio Beltrão.

Untitled-1.jpgO debate sobre o fim do Banco Central americano (o Fed) vem crescentemente ganhando tração, e ainda bem.  Porém, assim como vários debates políticos, este é mais um debate que sequer deveria ser necessário.  Tampouco deveria ser algo tido como controverso.  Isso porque, se você parar para pensar a respeito, a simples ideia de existir um banco central em uma economia não faz absolutamente nenhum sentido.
Não existe hoje, graças aos céus, um repositório central — gerido pelo governo — para planejar e administrar a distribuição de sapatos.  O mercado cuida desta tarefa com perfeição.  Não há escassez de nenhum tamanho ou tipo de sapato.  Da mesma maneira, não há nenhuma agência responsável por planejar e administrar a produção e a distribuição de alfaces, de teclados ou de cortinas.  De alguma maneira, todos nós conseguimos obter livros, roupas, serviços de limpeza e tudo o mais de que necessitamos e desejamos sem que nenhuma agência de planejamento central administre a quantidade disponível destes itens e serviços, especifique os preços dos produtos e socorra as empresas quando elas se expandirem mais do que deveriam e se tornarem insolúveis.
Por que então a realidade deveria ser distinta para o dinheiro e para o setor bancário?  O dinheiro é uma mercadoria.  O setor bancário é um empreendimento como qualquer outro.  Nenhum deles é criação do estado.  Ambos surgiram no mercado e assim deveriam ter permanecido, pois somente assim a qualidade do produto poderia estar constantemente sujeita à disciplina imposta pelo mercado.  Em uma economia de mercado, as coisas funcionam por si sós, sem a necessidade de nenhuma supervisão de um comitê central.  Há demanda e há oferta para satisfazer esta demanda.  Empreendedores atentos descobrem oportunidades de lucro no mercado e se apresentam para fazer com que haja oferta para satisfazer uma determinada demanda.
É assim que o mundo funciona para nós.  É assim que ele sempre funcionou.  E desta maneira que obtemos nosso café, nossos produtos de informática, nossas partituras e nossa carne.  É assim que obtemos nossos carros, os componentes que o permitem funcionar, e o combustível que os alimenta.
O mundo em que vivemos foi fabricado pelo homem em todos os aspectos, e as mãos que o tornaram produtivo, eficiente, dinâmico e socialmente benéfico atuaram dentro da matriz do mercado.  As simples relações de troca, aprendizado e concorrência geraram um sistema glorioso que consegue sustentar uma população global de 7 bilhões de pessoas.
O Banco Central é uma instituição criada não pelo mercado, mas por conveniências políticas, assim como moradias públicas e ônibus espaciais.  É uma criação da Idade das Trevas que ainda existe sem nenhum motivo aparente.  Por Idade das Trevas me refiro, é claro, ao mundo de antes de 1995, quando a internet — o que significa todo o conjunto de informações disponíveis ao público — se tornou acessível ao mundo.  Antes disso, o mundo permanecia majoritariamente na escuridão, com o governo controlando a informação que podíamos acessar e com as verdades privadas tendo de ser compartilhadas exclusivamente por meio de papeis enviados através do sistema estatal de correios.
Durante a Idade das Trevas, apenas gênios como Ludwig von Mises e F.A. Hayek sabiam que a instituição do banco central era uma fraude.  Todo o resto imaginava que as pessoas no comando desta instituição estavam realizando coisas mágicas e magníficas dentro daquelas muralhas santificadas, de modo que a economia seria estável e cresceria continuamente.  Seu comitê era formado exclusivamente por pessoas que não apenas eram capazes de prognosticar o futuro econômico, como também tinham o poder de conduzir a economia de moda a beneficiar a todos.
Graças à era digital, hoje temos acesso a tudo o que realmente ocorre.  Somente nos últimos 12 meses, fomos inundados com relatos sobre o que realmente acontece dentro do Fed.  Em 2006, de acordo com as transcrições de suas reuniões de cúpula, os sábios e sensatos gerentes da economia estavam totalmente ocupados com a tarefa de se assegurarem mutuamente de que tudo estava absolutamente perfeito e que nada havia de fundamentalmente errado com o mercado imobiliário e nem com todas as outras estruturas da economia, as quais estavam totalmente azeitadas.
Ler aquelas transcrições sinceras e francas é algo absolutamente fascinante.  Longe de ser um fórum aberto de discussões, Greenspan e Bernanke presidiram a instituição com plenos poderes para determinar resultados, praticamente desafiando qualquer um de seus subordinados a discordar do consenso ao qual ambos já haviam chegado antecipadamente.  Vez ou outra, algum economista do Fed ousava se manifestar dizendo que nem tudo estava tão bem quanto parecia, mas o que ocorria com ele era idêntico àquilo que você faz naquele jogo de fliperama em que você dá uma martelada no boneco que põe a cabeça pra fora do buraco.
Trata-se do pior exemplo de gerenciamento corporativo que você poderá analisar na prática.  O Fed faz com que o mundo de Dilbert pareça um modelo de sucesso administrativo.  Não há franqueza, não há autenticidade, não há honestidade.  Se o presidente contar uma piada, todos têm de rir estrepitosamente.  Se o presidente disser que tudo está ótimo, todos têm de concordar efusivamente.  Se o presidente disser que sabe o futuro, todos têm de prestar reverência e demonstrar estupefação a este seu poder premonitório.  Qualquer discordância deve se restringir à demonstração de uma ínfima preocupação com algum fator desimportante e irrelevante.  E, ainda assim, corre-se o risco de ser punido por tal comportamento.
E há, finalmente, aquele problema supremo que não está totalmente claro, mesmo para os iluminados da instituição: o que exatamente eles podem fazer a respeito de qualquer coisa.  Eles sabem que o que estão fazendo é importante, e querem acreditar que de fato possuem poderes enormes.  Mas aqui jaz o problema: o Fed possui de fato apenas um poder significativo: alterar a quantidade de dinheiro na economia e, com isso, afetar a oferta de crédito.
Trata-se de um poder enorme, mas não é algo preciso e meticuloso.  A oferta monetária é muito parecida com uma criança rebelde e indisciplinada.  Muitas vezes, ela irá obedecer você.  Outras vezes, e de modo imprevisível, não.  Tudo depende do humor, do contexto, do temperamento vigente, dos incentivos, das recompensas e das punições.  E mesmo quando a criança obedece, os resultados não são sempre aqueles que você planejou.  Os pais podem se reunir e fazer planos diariamente o dia todo; porém, no final, a criança tem a sua própria mentalidade e dificilmente seguirá ordens.  Mesmo se seguir, dificilmente produzirá os efeitos imaginados pelos pais.
Dois notáveis exemplos: no início dos anos 1930, o Fed estava desesperado para expandir a oferta monetária da economia americana.  Não havia nenhuma intenção de permitir que a oferta monetária entrasse em colapso, como Murray Rothbard demonstrou.  O problema, no entanto, era que o Fed dependia do sistema bancário — mais especificamente, do mercado de concessão de crédito — para atingir seu intento.  No entanto, o sistema bancário estava quebrado, e o objetivo do Fed jamais foi alcançado.
A mesma coisa vem ocorrendo novamente desde 2008.  O Fed fez todo o possível para criar uma enorme inflação monetária, cujos efeitos benéficos deveriam ser amplos.  No entanto, ele não foi capaz de fazer com que fosse lucrativo para o sistema bancário cooperar nesse esforço.  Contrariamente aos desejos do Fed, seu objetivo jamais se materializou.  Seus esforços serviram apenas para subsidiar instituições falidas e impedir uma extremamente necessária e profunda correção no mercado.
O poder absoluto do Fed foi totalmente explicitado em 2008, e todos os relatos mostram com qual objetivo ele foi utilizado.  O Fed forneceu liquidez para seus amigos.  Em público, seus burocratas dizem que fizeram tudo isso para o bem da nação, mas não está claro que a nação tenha ganhado alguma coisa de positivo com essas negociatas.  O que realmente está claro é que seus amigos sobreviveram e prosperaram.  Várias instituições que deveriam ter ido à falência, como preconiza o sistema capitalista, se mantêm atuantes à custa de uma inflação monetária que incidirá mais cruelmente sobre os mais pobres.  Esta é a essência do poder de um banco central.
Mas não há nada de novo nisso tudo.  A única diferença é que agora tudo está mais explícito, e todo o mundo pode ver e entender o que de fato está acontecendo.  E é por este motivo que o Fed está hoje sob um escrutínio jamais visto em toda a sua história.  A era digital levantou as cortinas.  Em vez do poderoso Oz, descobrimos que havia apenas um bando de pessoas atordoadas operando alavancas descoordenadamente, e recorrendo ao típico truque ilusório de espelhos e fumaças para tentar passar a impressão de que sabiam exatamente o que estavam fazendo.
Antes de 1989, o mundo estava repleto de agências de planejamento central.  Elas estavam por todo o Leste Europeu e por todo o velho império conhecido como União Soviética.  E então, um belo dia, tudo se esfacelou, e toda a arrogância e irracionalidade dos planejadores centrais foram reveladas para o mundo.  Estruturalmente, um banco central em nada difere daquelas instituições.  Tudo se baseia na mentira de que o poder governamental é necessário para se ter um bom sistema monetário.
Bom em qual sentido?  A desvalorização do dólar ocorrida desde 1913, ano da criação do Fed, foi catastrófica para a prosperidade.  O dólar vale hoje menos do que $0,05 em relação a 1913 — o que significa que, o que naquele ano você comprava com US$ 0,05, hoje você terá de desembolsar US$1, não obstante todo o aumento da oferta de bens e serviços ocorrida desde então.  A poupança dos cidadãos foi expropriada e dizimada.  A política de juros do Fed aboliu qualquer vantagem trazida pela poupança.  Os ciclos econômicos se tornaram internacionais e amplos, quando no século XIX eram apenas um fenômeno local e de curta duração.  O risco moral gerado pelo Fed fez com que os sistemas financeiros não mais se tornassem responsáveis e capazes de fazer uma análise correta dos riscos.
Na era digital, os custos de oportunidade criados pelo monopólio monetário têm sido enormes.  Poderíamos já ter hoje um sistema monetário concorrencial.  Ele poderia ser baseado no ouro, na prata ou em qualquer outra commodity.  Mas a triste realidade é que não se permitiu que o livre mercado pudesse operar nesta área.  O Fed, trabalhando em conjunto com o governo que o criou e que o sustenta, atacou e vem atacando duramente toda e qualquer tentativa do mercado de criar um sistema monetário paralelo e mais bem gerido do que o dólar.  Há hoje pessoas perecendo nas penitenciárias pelo "crime" de ter tentado reinstituir a solidez monetária e bancária ao mercado.
Qual é o pior custo gerado por um banco central?  Ele faz com que o governo federal, não importa o quão grande ele se torne, seja imune a qualquer insolvência.  Não há risco moral maior e mais perigoso do que este.  No caso do Fed, ele permitiu o inchamento do estado leviatã americano para um nível muito além de qualquer outro já havido na história humano; ele criou o maior, mais poderoso, mais intruso e mais homicida governo do mundo.  Não foram os impostos que fizeram isso.  Foi o Fed.  Desta maneira, o Fed se transformou no inimigo máximo da liberdade.  E, quando a liberdade vai embora, os direitos humanos vão junto.
Toda a catástrofe se tornou impossível de ser ignorada.  Ron Paul fez com que todo o assunto se tornasse uma questão política.  Newt Gingrich, oportunista, aproveitou a onda e entrou no coro para acabar com o Fed.  O ex-CEO do BB&T deu uma entrevista na qual disse: "Enquanto o Fed existir, o Congresso pode efetivamente imprimir dinheiro.  E não importa se são democratas ou republicanos; eles irão preferir imprimir dinheiro a aumentar impostos.  Eles querem ter dinheiro para gastar, pois isto é algo que certamente garante votos, e eles não querem aumentar tributos, pois isto tira votos."
O problema de abolir o Banco Central não é técnico.  Tampouco é intelectual.  São necessários apenas alguns minutos para perceber que toda a coisa se baseia em mitos.  O problema de abolir o Banco Central é totalmente político.  O governo depende de seus poderes.  Portanto, sim, faz bastante sentido a classe política e seus defensores quererem que o Banco Central continue existindo.  Porém, para nós, não há mais nenhuma desculpa para continuarmos defendendo esta instituição.  A esta altura, já deveríamos saber o suficiente.
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