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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Brasil quer que China cometa os mesmos pecados protecionistas em que incide...

Não se trata, obviamente, de alguma frase usada e abusada do tipo "é a homenagem que o vício presta à virtude", mas sem dúvida o governo brasileiro quer obrigar os companheiros chineses -- são companheiros, pois não? -- a cometerem os mesmos pecados contra seus interesses nacionais a que ele obriga os industriais brasileiros -- para desgosto da FIESP, por exemplo -- no confronto com o protecionismo deslavado argentino: conter "voluntariamente" as exportações, um eufemismo tosco para dizer o seguinte: "olha aqui pessoal, se vocês não se comportarem, vou ser obrigado a usar meu arsenal protecionista e anti-ricardiano".
Patético, não é mesmo?
Sobretudo quando, como informa a matéria da BBC, o superávit bilateral brasileiro equivale a quase dois quintos de todo o superávit comercial brasileiro (mas, shrinking fast...).
Mas é a isso a que estamos assistindo nesse balé pouco diplomático, feito de meias palavras e intenções plenas, mas que não vão dar resultado, obviamente.
Ou alguém imagina o governo chinês dizendo a seus dinâmicos capitalistas: "Olha aí, pessoal, contenham-se, não exportem muito para o Brasil porque senão o governo deles vai querer abusar do protecionismo contra vocês" ?
Não imagino, eu pelo menos não. No máximo ele pode dizer: calma, pessoal, não façam dumping muito deslavadamente, pois isso pode virar contra vocês. De resto, virem-se, o mundo é de vocês e viva a globalização...
Paulo Roberto de Almeida 

Brasil e China discutem temas sensíveis sem chegar a acordo
Terra Notícias, 13 de fevereiro de 2012 • 18h55 •  atualizado 19h49

Os problemas comerciais entre Brasil e China foram amplamente discutidos nesta segunda-feira durante a segunda reunião da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (Cosban), mas nenhum acordo foi anunciado pelos dois países, que apesar de terem incrementado a corrente de comércio acumulam reclamações recíprocas.
O vice-presidente Michel Temer, que representou o governo brasileiro, pediu que os chineses façam um "dimensionamento voluntário das exportações" para o Brasil, principalmente em setores sensíveis. "Nos preocupamos com o aumento maciço e indiscriminado de produtos chineses no mercado brasileiro e somos obrigados a registrar que ocasionam deslocamentos da produção brasileira", discursou Temer para a comitiva chinesa.
O dimensionamento voluntário pedido pelo Brasil serve justamente para proteger setores como o têxtil e calçadista e evitar que sejam adotadas medidas drásticas como a adoção de salvaguardas contra produtos chineses, segundo disse a jornalistas um diplomata que participou das negociações da Cosban.
O vice-primeiro ministro chinês, Wang Qishan, que chefiou a delegação chinesa, assumiu o compromisso de aumentar as importações de bens manufaturados brasileiros para a China, mas não se comprometeu publicamente a controlar as exportações chinesas. "A parte chinesa vai continuar a aumentar a importação de produtos de alto valor agregado do Brasil", afirmou em breve declaração à imprensa no final do encontro.
Segundo um diplomata, que pediu para não ter seu nome revelado, o governo chinês entendeu "perfeitamente" o recado brasileiro e se comprometeu tratar a questão com "urgência". Apesar disso não ficou acertado nenhum mecanismo ou cotas. Ele contou que os chineses reclamaram das recentes medidas adotadas pelo governo brasileiro na área automobilística, aumentando o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) sobre carros que não tenham pelo menos 60% de conteúdo nacional. "Dissemos que essa era uma medida temporária", disse o diplomata brasileiro.
Brasileiros e chineses também falaram sobre problemas específicos da Vale e da Embraer, mas nos dois casos também não houve grande avanço. No caso da Embraer, o governo brasileiro voltou a pedir que a China acelere as liberações de entrada dos aviões já encomendados e que a autorização para produção do jato Legacy naquele país seja concedida. Os chineses disseram que estão analisando os pedidos e que já tinham permitido a entrada de 14 aeronaves E-190, segundo uma fonte do governo que participou das reuniões.
O governo brasileiro também pediu que os chineses permitissem a atracação dos supercargueiros usados pela mineradora Vale e argumentaram que as embarcações tinham sido fabricadas na China e, portanto, não havia motivo para restrições. Segundo relato da fonte do governo, que falou sob condição de anonimato, os chineses alertaram que eram responsáveis "pelo aço e a pela mão-de-obra" usados para fabricar os supernavios, mas não pelo seu projeto. A fonte diplomática disse que há espaço para negociações em relação aos supercargueiros, dependendo de cada transporte, e que as restrições são por questões técnicas e não comerciais.
Economia internacional
Os dois países voltaram a reafirmar que querem ter posições conjuntas no âmbito internacional e nos fóruns do G20 e no grupo dos Brics, que também inclui Índia, Rússia e África do Sul.
"As duas partes concordaram que na atual conjuntura internacional de grande complexidade a tarefa mais importante é assegurar a recuperação da economia mundial. A China e o Brasil como dois grandes emergentes devem reforçar a nossa cooperação", afirmou Qishan. Na reunião que manteve com a presidente Dilma Rousseff, o chinês informou que o primeiro-ministro Wen Jiabao comandará a comitiva chinesa na Cúpula da Rio+20 no Brasil.
O governo brasileiro tem se esforçado para atrair o maior número de chefes de Estado e de governo para a Conferência das Nações Unidas Sobre o Desenvolvimento Sustentável, que será realizada no Rio de Janeiro em junho.
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Brasil pede à China que controle exportações ao país

Atualizado em  13 de fevereiro, 2012 - 19:18 (Brasília) 21:18 GMT
Wang Qishan e Michel Temer. ABr
Qishan e Temer participaram da segunda reunião da Cosban; eles voltarão a se reunir ainda este ano
O vice-presidente Michel Temer cobrou nesta segunda-feira a China a controlar o fluxo de produtos chineses vendidos ao Brasil, para evitar prejuízos à indústria nacional.
"Nos preocupamos com o aumento maciço e indiscriminado de produtos chineses no mercado brasileiro, o que, somos obrigados a registrar, ocasiona o deslocamento da produção brasileira", afirmou Temer, em discurso durante o segundo encontro da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (Cosban), em Brasília.
Em seu discurso, antes do almoço com o vice-premiê chinês, Wang Qishan, Temer disse ter solicitado à China que considere um "eventual dimensionamento voluntário" das exportações chinesas ao Brasil.
Segundo um diplomata brasileiro, o Brasil está preocupado com os efeitos de exportações chinesas de baixo custo sobretudo nos setores têxtil e calçadista, num momento em que a crise na Europa e nos EUA faz com que exportadores recorram ao mercado brasileiro para escoar sua produção.
O diplomata diz que, no encontro, o governo brasileiro defendeu que os dois países orientem seu comércio bilateral de modo a explorar a "complementariedade das economias". Em outras palavras, o Brasil gostaria que as exportações chinesas se concentrassem nas áreas em que a indústria nacional não é capaz de atender às demandas do mercado doméstico.
Temer também se queixou do predomínio de matérias-primas (commodities) nas exportações brasileiras à China. A reclamação ecoa posição expressa pela presidente Dilma Rousseff em viagem a Pequim em abril de 2011
À época, Dilma afirmou que o Brasil gostaria de exportar aos chineses mais produtos industrializados, com maior valor agregado. Hoje, os principais itens exportados pelo Brasil à China são minério de ferro, soja e petróleo, responsáveis por quase 80% das vendas brasileiras ao país asiático.
Segundo um diplomata brasileiro, durante a reunião da Cosban, a comitiva chinesa se comprometeu a trabalhar para atender às duas reivindicações do Brasil.
Antes do almoço e da declaração à imprensa, Wang se reuniu com a presidente Dilma Rousseff e com empresários brasileiros.

Queixas chinesas

No encontro com os chineses, o governo brasileiro também ouviu queixas. De acordo com o Itamaraty, o Brasil foi cobrado pela decisão de aumentar em 30 pontos percentuais o IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para veículos importados que não usem ao menos 65% de componentes fabricados no Mercusul.
Adotada em setembro, a medida afetou principalmente montadoras chinesas e coreanas.
Segundo o Itamaraty, o governo chinês afirmou que gostaria de dialogar sobre a decisão e sobre formas de aumentar o uso de componentes fabricados no Mercosul em carros chineses.
No encontro, Temer disse ainda ter tratado do interesse brasileiro em ampliar a venda de carnes de frango, boi e porco à China, bem como da venda de aviões da Embraer ao país asiático.
Segundo o Itamaraty, já foi confirmada a compra de 13 das 35 aeronaves da Embraer cuja venda foi acordada na viagem de Dilma à China, em 2011.
Outros temas tratados no encontro, de acordo com Temer, foram a facilitação à instalação de empresas brasileiras na China, o andamento de acordo para que a China receba ao menos cem estudantes brasileiros intercambistas (no âmbito do plano Ciências Sem Fronteiras) e a crição de centros culturais Brasil-China.

Cosban

Criada em 2004, a Cosban é a comissão de mais alto nível entre os governos do Brasil e da China, responsável pelo acompanhamento de diferentes áreas do relacionamento bilateral. Integram sua estrutura onze subcomissões, encarregadas dos campos político; econômico-comercial; econômico-financeiro; de inspeção e quarentena; de agricultura; de energia e mineração; de ciência, tecnologia e inovação; espacial; de indústria e tecnologia da informação; cultural e educacional.
A comissão deveria se reunir a cada dois anos, mas este foi o segundo encontro – o anterior ocorreu em 2006. Nesta segunda-feira, Temer disse ter solicitado que o próximo encontro ocorra até o fim de 2012. Segundo ele, o vice-premiê chinês concordou com a sugestão.
Desde 2009, a China é o maior parceiro comercial do Brasil. Em 2011, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, as trocas bilaterais alcançaram US$ 77,1 bilhões, com superavit brasileiro de US$ 11,5 bilhões.
O superávit comercial brasileiro com a China equivale a 38% do superavit global do Brasil.

Fenix diplomatica: retirando um texto (PRA) do limbo

De vez em quando, por puro acaso -- OK, OK, com uma pequena ajuda do Google Alert, um instrumento indispensável para quem, como eu, não quer perder nada, e que mantém uma obsessiva mania de se informar sobre tudo, o tempo todo -- eu "tropeço" com algum texto meu, perdido nos escaninhos sempre surpreendentes da internet e dos blogs informativos (e alguns opinativos, também).
Raramente meus inimigos -- e os tenho, muitos, eu sei -- transcrevem um texto meu, obviamente por estar em oposição completa ao que eles gostariam de ler, e não encontram, para maior frustração dos AAs. Esses só escrevem comentários maldosos em meus posts, geralmente de caráter puramente adjetivo, para corrigir alguma falha ortográfica minha, ou para dizer que os companheiros, pegos em alguma falcatrua material ou pilantragem subintelectual, também têm predecessores, e aí sempre vem uma denúncia barata contra o Ancien Régime tucanês...
Mas, os amigos e seguidores -- e acho que também os tenho -- acabam compensando esses pequenos desprazeres da vida cibernética, transcrevendo algum escrito meu.
O que vai abaixo está um pouco atrasado, pois é do último trimestre de 2010, logo depois das eleições presidenciais, e nele eu arriscava algumas previsões sobre nossa diplomacia pós-mito, pós-NuncaAntesNestePaís, pós várias coisas, enfim,
Surpreso pelo "atraso" da transcrição, ainda assim acho útil que ele venha publicado agora num blog -- RI, Relações Internacionais -- que até aqui eu desconhecia, pois isso me permite confrontar algumas de minhas "previsões imprevisíveis" com o que efetivamente se passou, Wie es Eigentlich gewesen, como diria Leopold Ranke (um historiador alemão do século XIX, para os que não sabem).
Agradeço, de toda forma, aos responsáveis, por lembrar-me de um texto do qual eu mesmo não mais me lembrava. Enfim, coisas da hiperprodutividade (um mal que não corre o risco de atingir o governo brasileiro, por exemplo...).
Enfim, divirtam-se, apontando vocês também o que se confirmou e o que não se confirmou nestas minhas previsões sobre a diplomacia pós-tudo...
Paulo Roberto de Almeida

A diplomacia brasileira numa nova conjuntura política

A crer nas declarações, após o 31 de outubro de 2010, do presidente Lula, responsável inquestionável pela vitória eleitoral da candidata oficial Dilma Rousseff, o novo governo será constituído e conduzido à imagem e semelhança da presidente eleita. Ele também negou que vá ter, pessoalmente, qualquer influência sobre as decisões de governo a partir de 2011.
A despeito dessas declarações, é provável que o novo governo conserve, grosso modo, as grandes linhas seguidas durante os dois mandatos do presidente Lula, o que foi aliás confirmado pela candidata eleita, que pautou sua campanha como estando marcada pela continuidade das mudanças empreendidas desde 2003. A rigor, a afirmação vale tanto para a economia e para as políticas sociais, que respondem por grande parte do sucesso do mandato que se encerra, quanto para a política internacional do Brasil e suas relações diplomáticas, de modo geral, terreno no qual as avaliações são mais circunspectas.
Crédito da imagem Lisa Henderling

Partindo, justamente, do pressuposto de que a base política do novo governo se manteve, e até se reforçou, como resultado das eleições de outubro de 2010, bem como da possibilidade de que o principal artífice pela vitória de Dilma nestas eleições pretenda, em função de projetos políticos futuros, manter-se ativo no “mercado de consultoria presidencial”, é possível, assim, vê-lo articulando contatos e iniciativas que compreendam a frente interna, mas que também alcancem, de algum modo, a esfera diplomática. Independentemente, porém, desse tipo de interface operacional, aparentemente inevitável nas circunstâncias que cercaram o mais recente escrutínio presidencial – a mais de um título inédito na história política nacional –, a força do cargo, quando assumido plenamente, e características pessoais ligadas a cada uma das personalidades citadas, fazem com que se venha a assistir, necessariamente, um cenário bastante diferente daquele registrado nos últimos oito anos.
Peculiaridades especiais na forma de conduzir os assuntos de Estado, seja na frente interna, seja no âmbito externo, assim como simbologias ligadas a histórias de vida diferentes, sustentam o diferencial que pronto se observará. Dificilmente se poderá reproduzir, por exemplo, o protagonismo de Lula nos foros internacionais e nas relações bilaterais (em especial na África), assim como não se deve assistir novamente às suas formas especiais de interlocução, mais baseadas no instinto e no gosto da improvisação, do que propriamente no seguimento dos cânones burocráticos tradicionalmente ligados à figura presidencial. Assim, mesmo deixando de lado escolhas funcionais quanto ao novo titular da chancelaria – se de carreira ou não, de um ou outro gênero, como especulado abundantemente na imprensa – o mais provável é que a nova presidente imprima suas preferências pessoais e suas prioridades políticas à diplomacia que lhe caberá comandar a partir de 1o. de janeiro de 2011. Nessa área, porém, o peso da continuidade costuma ser maior do que no campo das políticas internas, inclusive porque a agenda vem em grande parte “pronta” do exterior. Alguns temas encontram-se inclusive na ordem do dia, como é sempre o caso nesse tipo de atividade, a exemplo dos que serão examinados a seguir.
Das três grandes prioridades do governo Lula na frente diplomática, não se pode dizer que alguma tenha sido encaminhada a seu termo lógico ou a resultados exitosos do ponto de vista do Brasil: o ingresso do Brasil no Conselho de Segurança das Nações Unidas, por exemplo, encontra-se no terrenos das possibilidades difusas, e assim promete permanecer no futuro indefinido, ainda que ostatus do Brasil, como ator de relevo no cenário internacional, seja hoje amplamente reconhecido; as negociações comerciais multilaterais, por sua vez, devem se arrastar penosamente por pelo menos mais um ano inteiro, completando assim um ciclo frustrante de dez anos de tergiversações, mas sempre com o ativo envolvimento do Brasil em todas as fases e configurações negociadoras; a integração sul-americana, finalmente, caminha num ritmo ambíguo, com muitas iniciativas no plano político, mas resultados menos seguros nos terrenos econômico e comercial (que deveriam ser, aliás, a base da integração). Todos esses temas serão retomados pela nova administração, que talvez queira imprimir novas características às demandas e ofertas brasileiras nos diferentes capítulos e frentes de negociação. Vários dos itens na agenda, não dependem, a rigor, da postura brasileira, já que cada um deles, em seus contextos respectivos, carregam o peso de interesses muito diversificados por parte dos principais parceiros envolvidos.
No plano da governança global, os avanços continuam sendo muito lentos ou frustrantes: meio ambiente, coordenação econômica internacional, segurança e terrorismo, constituem, por sinal, temas que transcendem a tradicional postura Norte-Sul, que, segundo certas visões maniqueístas, dividiria o mundo em países desenvolvidos, de um lado, e em desenvolvimento, do outro. Não se pode dizer, assim, que a ênfase na diplomacia Sul-Sul que caracterizou o governo Lula tenha as respostas e o formato adequados ao encaminhamento de todos esses temas inscritos na ordem do dia das negociações internacionais, tanto porque alguns dos supostos aliados na causa do desenvolvimento podem perfeitamente exibir posturas protecionistas e subvencionistas que confrontam diretamente nossos interesses exportadores agrícolas, entre outros exemplos. Assim, algum pragmatismo na formação de coalizões negociadoras é sempre recomendável.
Em temas como o da integração regional, qualquer observador isento pode constatar a imensa distância que existe entre um modelo tradicional de liberalização comercial e de abertura econômica – que deveria situar-se, lógica e necessariamente, na base de qualquer processo “normal” de integração baseado em clássicas vantagens ricardianas – e um outro “modelo”, de caráter mercantilista, dirigista, estatizante e politizado, avesso ao capital estrangeiro e aos sistemas de mercados, como o que vem sendo impulsionado por alguns países na região. Assim, dificilmente se poderá dizer que o Mercosul sairá reforçado ou dotado de maior coerência intrínseca ao integrar novos membros que de fato perseguem um modelo situado nas antípodas do que se entende normalmente por integração econômica.
Em temas essencialmente políticos, talvez se tenha, igualmente, de proceder a uma revisão de conceitos, a partir de questionamentos que surgiram quanto à postura brasileira em matéria de direitos humanos, por exemplo. Observadores da área, em geral representantes de ONGs humanitárias, não deixaram de observar – e alguns interlocutores até  a questionar concretamente votos brasileiros nos foros pertinentes –  a mudança de postura do Brasil em diversas ocasiões que envolveram resoluções críticas em relação a países reconhecidamente violadores dos direitos humanos, a pretexto de “não politização” desses temas e de uma preferência pelo “diálogo direto”. Causou especial constrangimento, nessas áreas, visitas e palavras amigáveis dirigidas pelo presidente Lula a dirigentes desses países, que são os mais visados pela comunidade internacional envolvida na proteção dos direitos humanos e na defesa das liberdades democráticas de maneira geral.
Em qualquer hipótese, a presença do Brasil cresceu enormemente no cenário internacional nesses anos de intenso protagonismo político e de uma ativa diplomacia presidencial, a um ritmo que talvez seja difícil de manter para personalidades menos carismáticas ou menos suscetíveis de manter a credibilidade nacional em situações de ambiguidade em face dessas questões de direitos humanos ou de clara seletividade no tratamento do princípio de não-intervenção. Amizades ostensivas com personalidades autoritárias e relações políticas com países vistos com desconfiança pela comunidade internacional – geralmente pelas mesmas razões, acima apontadas, que preocupam entidades voltadas para os direitos humanos e as liberdades democráticas – podem até se inscrever na lógica política de partidos cujos instintos primários se situem nessa tradição filosófica antidemocrática, mas certamente não contribuem para elevar a reputação moral de um país ou de seus dirigentes.
Finalmente, a questão das parcerias seletivas certamente ganharia em ser vista menos do lado do antihegemonismo instintivo, com alguns laivos de anti-imperialismo démodé, e mais pelo lado pragmático dos benefícios que possa trazer uma cooperação bilateral fundada em critérios de excelência, independentemente de suas coordenadas geográficas. Para todos os efeitos práticos, fases de transição política são sempre carregadas de incerteza quanto ao itinerário futuro, mas nunca se pode excluir boas surpresas com base na renovação de quadros e de políticas.
Paulo Roberto de Almeida é Doutor em ciências sociais pela Universidade de Bruxelas (1984); diplomata de carreira do serviço exterior brasileiro desde 1977; professor de Economia Política Internacional no Programa de Pós-Graduação em Direito do Centro Universitário de Brasilia – Uniceub; autor de diversos livros de história diplomática e de relações internacionais (www.pralmeida.org – pralmeida@mac.com).

Minhas previsoes "previsiveis": a Telesur e os companheiros...

Quem me segue há certo tempo, sabe que eu tenho as minhas "previsões imprevisíveis", ou seja, aquelas que estão destinadas a nunca serem realizadas, por teoricamente plausíveis, mas materialmente impossíveis.
Querem um exemplo? O MST deixar de ser um partido neobolchevique, parar de invadir propriedades do agronegócio e de acusá-lo de exportar alimentos que faltam na mesa dos brasileiros. Impossível, não é? E, no entanto, você também pode fazer, como eu, uma previsão imprevisível como essa.
Querem outra?
O governo vai deixar de exibir ministros com ficha corrida, que ele precisa defender antes e demitir depois, que ele vai parar de fazer protecionismo barato e reclamar da "concorrência desleal" de produtos estrangeiros, e dar início, enfim, ao conjunto de reformas INTERNAS capazes de devolver competitividade à indústria brasileira, essas coisas banais de reforma tributária, infraestrutura decente -- sem precisar fazer contorsionismos verbais em torno das privatizações meia-boca que são as concessões, incompetentes, além do mais --, diminuição do custo Brasil, etc. Acham que isso vai acontecer? Posso apostar que não, e pago em livros, como sempre, se alguém apostar que isto ocorre este ano da graça das eleições de 2012...
Pois bem, desta vez quero fazer uma previsão completamente previsível, e posso apostar com quem quiser como ela vai se realizar (e pago, como sempre...).
Vejam primeiro a nota abaixo, do blog de Marcos Guterman, no Estadão (e vejam o video, no link):

A emissora TeleSur, estatal latino-americana com sede na Venezuela, deu o tom de como será a eleição presidencial venezuelana. Assim que a boca-de-urna das primárias da oposição confirmou a vitória de Henrique Capriles como o candidato que enfrentará Hugo Chávez em outubro, a TV deu a “ficha” do sujeito: golpista, depredador da Embaixada de Cuba e filiado à TFP, entre outras qualidades.
É justo que a biografia de Capriles seja objeto desse tipo de escrutínio; afinal, a imprensa tem de ser vigilante em relação àqueles que almejam cargos públicos. Por isso, espera-se que a TeleSur, financiada com dinheiro público e que se orgulha de não discriminar ninguém por sua posição política, dispense o mesmo tratamento vigilante a Chávez. A não ser que a “construcción de un nuevo orden comunicacional”, prometida pela TeleSur em sua “missão”, signifique somente a construção da realidade conforme as conveniências chavistas.

Pois eu aposto, com quem quiser, que o mesmo tom sectário, mentiroso, oportunista, falso, aproveitador, deformado, enganoso (chega, vocês completam...), vai estar, logo, logo, nos veículos dos companheiros, esses pasquins que atendem pelo nome de "Correio do Brasil", esses sites patéticos com personagens ainda mais patéticos, que respondem com alguma coisa Maior, enfim, vocês conhecem esses esportistas do pensamento único.
Querem apostar?
Não vai passar uma semana antes que os mentirosos locais reproduzam as mentiras dos mentirosos amigos bolivarianos. Eles estão aí para isso mesmo...
Quem quer apostar?
Como já disse alguém (o romancista Moacir Scliar, na boca de um revolucionário inventado do fabuloso exército do Birobidjan), uma mentira progressista vale muito mais do que uma verdade reacionária...
Paulo Roberto de Almeida 

É a competitividade, estúpido - Rubens Barbosa (OESP)


É a competitividade, estúpido

Rubens Barbosa
Ex-embaixador em Washington e em Londres.
O Estado  de S.Paulo, 14/02/2012

            Apesar dos níveis recordes em 2011, a preocupação sobre a evolução do comércio exterior é grande. A concentração das exportações em poucos produtos e a perda de mercados dos manufaturados aumentaram a vulnerabilidade do setor externo e mostraram os problemas do setor produtivo industrial.
            O governo anuncia mais um pacote de medidas de apoio ao setor produtivo e exportador, com ênfase na redução do custo do crédito e na abertura de novos mercados para os manufaturados. Certamente serão medidas discutidas e adotadas sem consulta ao setor privado e a maioria não deverá ser implementada. Nos últimos meses, as decisões na área de comércio exterior visaram, sobretudo, a isenções fiscais e crescente proteção a setores mais vulneráveis á concorrência externa, além de cortes nos programas de financiamento á exportação. Na realidade, são providencias ad hoc, sem visão estratégia e de futuro e que não levam em conta as transformações produtivas que estão ocorrendo no mundo, diante da crescente presença da China como motor da produção industrial global.
O sucesso da política econômica e do comércio exterior, que quadruplicou em 10 anos, esconde os verdadeiros problemas da economia em geral e do setor externo em particular. A desindustrialização é um triste fato. A indústria, que já representou 25% do PIB hoje está reduzida a menos de 15%. O consumo doméstico é atendido cada vez mais por importações (22,3%), fazendo desaparecer fornecedores nacionais e empregos. O déficit na balança comercial industrial subiu a mais de US$90 bilhões. As exportações se re-primarizam (produtos primários representam 70% das exportações e 4 produtos, quase 50%).
Não havendo uma politica de estado que defenda a indústria nacional, nem liderança politica para tentar resolver os problemas estruturais que afetam os setores industrial e exportador, o governo não está preparado para enfrentar as causas da perda de espaço da indústria e de mercado dos manufaturados.
 “Os números de janeiro da balança comercial comprovam o descaso do governo brasileiro com o setor produtivo do país. Estamos diante de uma situação muito grave, que pode comprometer nossa capacidade de gerar riquezas e empregos. O governo não pode ficar parado e se limitar apenas ao discurso. Há meses estamos alertando para o problema da avalanche de importados, que afeta severamente a nossa indústria. O Brasil não pode mais esperar, é preciso que as autoridades adotem imediatamente medidas eficazes que garantam a igualdade de condições para a produção nacional”, afirmou dura, mas corretamente Paulo Skaf, presidente da Fiesp.
Na área da negociação externa, nos últimos dez anos, o aumento das exportações pouco teve a ver com a abertura de mercados por meio de acordos comerciais, pois somente acordos com Israel, Egito e agora com a Autoridade Palestina foram assinados, no âmbito do Mercosul. A exemplo da China e dos EUA, uma nova estratégia de negociação de acordos de livre comércio para acompanhar as mudanças que estão ocorrendo no mundo deveria estar sendo discutida com o setor privado.
Enquanto essa é a situação no Brasil, o presidente Obama, na mensagem anual ao Congresso (“State of the Union”), ofereceu um bom exemplo de como defender de forma vigorosa a indústria manufatureira com visão de futuro.
Com milhões de empregos ameaçados, o governo americano ajudou as empresas, exigindo sua reestruturação, como ocorreu na indústria automobilística. Procurando trazer de volta empregos para a economia, anunciou um ambicioso programa de apoio á indústria doméstica. O conjunto de medidas incluiu a aprovação de ampla reforma tributária, novos impostos para as multinacionais que se instalam no exterior e exportam empregos, e redução de tributos para as empresas de transformação e de alta tecnologia, além de programas de treinamento profissional especializado.  Na área de comércio exterior, Obama reiterou a meta de dobrar as exportações em cinco anos, o avanço na negociações de novos acordos de livre comércio e o reforço da promoção das exportações e da defesa comercial com a criação de uma unidade de acompanhamento da aplicação das regras comerciais, responsável pela investigação de práticas desleais de comércio em países como a China.
Por aqui, nos últimos dez anos, as medidas de apoio a indústria ignoraram a principal causa da rápida perda da competitividade da economia nacional. O custo Brasil está tendo um efeito devastador na economia. De imediato, com a perda de mercado no setor exportador e a crescente saída de empresas brasileiras e, a médio e longo prazo, com o aumento do desemprego e com a redução de investimentos.
 A exemplo dos EUA, a desoneração tributária deveria encabeçar a agenda do governo para enfrentar a competição externa. Defesa comercial apenas não melhora a competitividade. O custo da energia, a alta taxa de juros, a apreciação cambial que anula a proteção tarifária, as ineficiências burocráticas, a guerra de incentivos nos portos e seus altos custos operacionais, o descalabro da infra-estrutura, o peso dos gastos com a corrupção e com a aplicação da legislação trabalhista poderiam, se atenuados, representar significativa redução dos mais de 35% no custo final dos produtos.
Do ponto de vista empresarial, não se trata de reivindicar uma politica industrial, mas de demandar medidas pontuais com imediata repercussão sobre a competitividade do setor produtivo. Medidas recentes, ao invés de reduzir, estão fazendo aumentar o custo Brasil.
Em resumo, é a competitividade, estúpido. O setor privado já fez a sua parte com o aumento da produtividade das empresas. Se o governo não atacar de frente o custo Brasil, a re-industrialização brasileira ficará seriamente ameaçada.

Rubens Barbosa, presidente do Conselho de Comércio Exterior da Fiesp.

Machismo migratorio e turistico: a reciprocidade como arma (dos impacientes)

Já tivemos demonstrações de machismo comercial, como todos sabem.
Já que os argentinos -- contra o espírito e a letra do Tratado de Assunção, e contra suas obrigações sob o código de salvaguardas do Gatt-OMC -- impõem restrições indevidas, abusivas, arbitrárias e ilegais a nossos produtos de exportação, nós também fazemos o mesmo, bloqueando caminhões na fronteira, impondo licenças especiais de importação, enfim, fazendo birra como duas crianças que disputam uma bola de futebol (por favor, não, não fale de futebol com os argentinos, pois eles logo vêm com o seu Maradona, o seu Messi, etc...), nós também vamos impor restrições discriminatórias contra os espanhóis, que andam perturbando a paz dos nossos turistas que demandam aquele país, junto com alguns candidatos e candidatas a ficar em determinadas profissões.
É o que se chama de princípio da reciprocidade machista...
Paulo Roberto de Almeida


Igreja Anglicana apoia a Cameron, por nao dialogo sobre as Falklands...

O título do post é uma broma, obviamente, mas poderia ser a resposta dos britânicos a esta causa "sagrada" dos argentinos, que ademais se está convertendo -- novamente, depois da funesta e frustrada tentativa dos militares de desviar a atenção do público para os reais problemas do país, em 1982 -- numa espécie de substitutivo à discussão dos verdadeiros problemas internos desse país tão esquizofrênico quanto jamais o foi em sua história...
Paulo Roberto de Almeida 



El presidente de la Pastoral Social de la Iglesia argentina, monseñor Jorge Lozano, manifestó su apoyo al reclamo de soberanía sobre las islas Malvinas "en el ámbito de la diplomacia" y a través "de la búsqueda del diálogo".

“Cristina Fernández ha puesto al conflicto con Gran Bretaña como prioridad de su política exterior. No habría nada para objetar. Aalgunos episodios de los últimos días han comenzado a desperezar otras sospechas. ¿Cuáles? Que la Presidenta, como el premier inglés David Cameron, estén atizando el problema posando sus ojos, sobre todo, en la política doméstica”. (Clarín. Argentina)