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quarta-feira, 30 de abril de 2014

A maior fraude da politica brasileira volta a grasnar - Editorial Estadao

Não dá para levar a sério

Editorial O Estado de S. Paulo, quarta-feira, 30 de abril de 2014

Não se deve levar a sério quem não leva a sério a si mesmo. Diante das nuvens que ameaçam carregar de sombras o cenário eleitoral, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu abrir a caixa de ferramentas e "partir para cima" de quem ou o que quer que seja que represente risco para o projeto de perpetuação do PT no poder.

Tem aproveitado todas as oportunidades para exercitar sua conhecida e inexcedível desfaçatez. Na noite de sábado passado, em entrevista à TV portuguesa, chegou ao cúmulo, ao interromper a entrevistadora que queria saber o nível de suas relações com José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares e sair-se com uma inacreditável novidade: "Não se trata de gente de minha confiança".

Então está tudo explicado. E toda a Nação tem a obrigação de reconhecer que o ex-presidente falava a verdade em agosto de 2006, quando o escândalo do mensalão estourou: "Quero dizer, com franqueza, que me sinto traído. Não tenho vergonha de dizer ao povo brasileiro que nós temos que pedir desculpas". O fato de as pessoas (a "gente") a que Lula se referia serem o seu então ministro-chefe da Casa Civil - na verdade, um primeiro-ministro ad hoc -, o presidente nacional e o tesoureiro de seu partido tinha então toda a importância, a ponto de o presidente se sentir traído.

Mas, em 2006, surfando no prestígio popular garantido pelo sucesso de seus projetos sociais, Lula reelegeu-se presidente e, cheio de si, subestimando como de hábito o discernimento das pessoas, começou a, digamos, mudar de ideia sobre o mensalão.

Afinal, se estava tão bem na foto, por que posar de vítima?

Em novembro de 2009, já na pré-campanha eleitoral do ano seguinte, passou uma borracha nas declarações anteriores e proclamou diante das câmeras de televisão: "Foi uma tentativa de golpe no governo. Foi a maior armação já feita contra o governo".

Exatamente um ano depois, já comemorando a eleição da sucessora que havia escolhido a dedo, anunciou, onipotente, sua primeira proeza tão logo deixasse o governo: "Vou desmontar a farsa do mensalão".

Os fatos acabaram demonstrando que Lula não estava com essa bola toda. Provavelmente até hoje ele não entendeu direito como é que um colegiado de 11 ministros, dos quais 8 - esmagadora maioria - foram escolhidos por ele próprio e por sua sucessora, foi capaz de armar uma falseta dessas contra "nós".

Mas Lula nunca foi de dar bola para os fatos. Quando não gosta deles, simplesmente os descarta. Prefere criar suas próprias versões.

Uma dessas criativas versões, novidade no repertório do grande palanqueiro pela precisão quase científica que aparenta conter, foi revelada nessa entrevista televisiva que concedeu em Lisboa, durante sua estada em Portugal para as comemorações dos 40 anos da Revolução dos Cravos. E bota criatividade nisso: "O mensalão teve praticamente 80% de decisão política e 20% de decisão jurídica". Quer dizer: a Suprema Corte de Justiça do País tornou-se politicamente cúmplice da "maior armação já feita contra o governo".

A entrevistadora da TV portuguesa estranhou a esdrúxula divisão, mas o ilustre personagem não hesitou em, novamente, sacrificar a lógica e a coerência em benefício de sua cruzada contra o Mal. E encerrou o assunto: "O que eu acho é que não houve mensalão".

Pelo menos ele está "achando" - não tem a categórica certeza que demonstrou quando garantiu, na prematura apoteose do pré-sal, que o Brasil se tornara "autossuficiente" em petróleo.

Outra pérola do pensamento lulista foi oferecida aos telespectadores quando a entrevistadora provocou o entrevistado sobre o fato de sua popularidade manter-se incólume enquanto a de sua sucessora despenca. Ato falho ou exacerbação do ego, Lula sentenciou: "O povo é mais esperto do que algumas pessoas imaginam".

De resto, o fato de, certamente julgando a partir de seu próprio exemplo, entender que a "esperteza" é uma grande virtude do povo brasileiro, Lula dá a exata medida dos valores éticos que cultiva, na hipótese generosa de que cultive algum.

Levá-lo a sério é cada vez mais difícil.

domingo, 23 de junho de 2013

O que acontece quando uma autoridade mente, no Brasil? E nos Estados Unidos?

Reproduzo apenas a chamada da revista Veja:

E agora general?

A Abin mentiu quando disse que seus agentes nunca estiveram no Porto de Suape. Documentos comprovam que quatro espiões não só foram flagrados pela segurança do porto como ficaram detidos por mais de duas horas.

O que acontece, pergunto, novamente, quando alguém que tem status de ministro de Estado mente?
No Brasil, não acontece absolutamente nada. Fica por isso mesmo.

Nos Estados Unidos, essa autoridade seria imediatamente convocada por uma comissão do Congresso, da House ou do Senado, e seria constrangida a se demitir também imediatamente.

Talvez seja por isso que os EUA sejam uma democracia intolerante, e os poderes estatais no Brasil se assemelhem a uma casa de tolerância, a começar pela mais alta instância...
Paulo Roberto de Almeida 

domingo, 2 de junho de 2013

Brasil dos companheiros: o pais da mentira - Augusto Nunes


Augusto Nunes, 1/06/2013

Incumbida de identificar os responsáveis pelo sábado espantoso, a Polícia Federal já desperdiçou duas semanas com investigações tão necessárias quanto o Ministério da Pesca. Alguns agentes gastaram tempo e verbas na perseguição à maquiavélica  empresa de telemarketing que nunca existiu. Outros seguem interrogando beneficiários do Bolsa-Família: querem saber por que sacaram antes da hora, mais precisamente no dia 18, o dinheiro depositado pela Caixa antes da hora – e colocado à disposição da freguesia pelo menos desde o dia 17. É como perguntar a uma vítima da seca por que bebeu mais cedo a água do carro-pipa que chegou mais cedo.
Escalado para impedir o esclarecimento do episódio, José Eduardo Cardozo tem interpretado com muita aplicação o papel de Inspetor Clouseau que fala dilmês. “Não é um delito fácil de ser investigado por força da atuação difusa em todo o território nacional”, pontificou na primeira cena. Na segunda, ficou alguns segundos em silêncio de sábio chinês antes de deslumbrar os jornalistas com a mistura de concisão e sagacidade: “Nenhuma hipótese pode ser descartada”.
Na terceira cena, Cardozo esvaziou o estoque de advérbios para emitir um parecer de sherloque doidão: “Evidentemente houve uma ação de muita sintonia em vários pontos do território nacional, o que pode ensejar a avaliação de que alguém quis fazer isso deliberadamente, planejadamente, articuladamente”. Numa única frase, quatro palavras terminadas em “mente”. Quatro rimas pobres para gente que mente.
Se o governo efetivamente pretendesse desvendar a gestação da corrida aos guichês de pagamento da mesada, é na Caixa que a Polícia Federal estaria em ação. Se os homens da lei quiserem de fato enquadrar vilões, é lá que estão homiziados. A operação que terminou com um tiro no pé foi concebida e executada pelos diretores da instituição, todos nomeados ou mantidos no cargo por Dilma Rousseff.
Os companheiros da Caixa teriam evitado a onda de saques e sobressaltos se tivessem guardado uma gota do oceano de publicidade enganosa para comunicar aos interessados que a distribuição dos donativos fora antecipada. Por motivos ainda ignorados, optaram pelo adjutório secreto. Na sexta-feira, alguns clientes do Bolsa-Família descobriram que o dinheiro chegara antes da data aprazada. Transmitiram a boa notícia a parentes, amigos e vizinhos, que passaram adiante a informação. A coisa ganhou volume e o estouro da boiada aconteceu no dia seguinte.
Como o governo lulopetista jamais perde uma chance de acrescentar outro capítulo ao espetáculo do cinismo encenado há mais de dez anos, o Brasil que pensa foi afrontado durante cinco dias pelo recomeço da Ópera dos Malandros. A procissão de mentiras foi aberta pelo presidente da Caixa, Jorge Hereda. Caprichando na pose de pronto-socorro dos aflitos, ele jurou que tivera de montar um esquema de emergência para distribuir pelos postos de pagamento, ainda no sábado, os R$ 2 bilhões de maio.
“É algo absurdamente desumano”, encolerizou-se a presidente. “O autor desse boato é criminoso”. Lula enxergou por trás de tudo a mão de “gente do mal”. O ex-jornalista Rui Falcão ficou à beira do chilique com o “terrorismo eleitoral”. A tuiteira Maria do Rosário acusou a “central de boatos da oposição” de espalhar rumores dando conta do fim iminente do maior programa oficial de compra de votos do mundo.
A verdade só escapou de mais assassinatos porque a Folha de S. Paulo provou que a liberação dos recursos do Bolsa-Família fora autorizada antes do sábado. Desmascarada a farsa, Jorge Hereda apelidou a delinquência de “erro” e transferiu a culpa para um subordinado que teria decidido mudar a data do pagamento sem consultar o chefe. Mesmo na mixórdia em que a Caixa se transformou desde que se subordinou a interesses político-partidários, ninguém ousaria montar uma operação bilionária sem o aval do presidente – que não se atreveria a endossá-la sem o amém da presidente.
Apesar disso, ou por isso mesmo, Dilma fez questão de comunicar à nação que nenhum dos envolvidos na história muito mal contada ficará desempregado. “A diretoria é formada por técnicos íntegros e comprometidos com as diretrizes da CEF, com seus clientes e com os beneficiários de programas tão importantes para o Brasil como o Bolsa Família e o Minha Casa, Minha Vida”, avisou a nota oficial divulgada pelo Planalto.
Baiano de Salvador, o arquiteto e urbanista Jorge Hereda tem tanta intimidade com assuntos bancários quanto Lula com o plural. Coerentemente, a equipe de “técnicos íntegros”que comanda produz proezas como a que inspirou a nota do jornalista Carlos Brickmann: No tumulto do Bolsa-Família, a Caixa descobriu que 692 mil famílias têm dois cadastros e recebem dois auxílios (talvez seja por isso que, como disseram à TV, haja quem compre jeans de R$ 300 para a filha e pingue mensalmente algum na poupança). Custo do pagamento ilegal? R$ 100 milhões por mês.
“Nos governos do PT há os incapazes e os capazes de tudo”, afirmou o deputado Duarte Nogueira, presidente do PSDB paulista. “Maria do Rosário talvez seja os dois tipos: uma incapaz capaz de tudo”. O dirigente tucano teria formulado um diagnóstico irretocável se examinasse mais atentamente a fauna no poder. Alguma degeneração genética provocou a fusão das duas categorias. Hoje só há marias-do-rosário. Todos são ineptos sem pudores nem limites.
A Polícia Federal pode dispensar-se de continuar investigando o que houve no sábado delirante. Foi só mais uma realização dos incapazes capazes de tudo.

domingo, 5 de maio de 2013

Sob o dominio da mentira...

Existem muitos povos que vivem sob o domínio das mentiras oficiais, alguns com consequências desastrosas até para sua sobrevivência física ou conforto material; outros, apenas (ou ainda) para sua saúde mental, ou simples bem-estar social e convivial, pois as mentiras oficiais também trazem desconforto nas relaçöes sociais ou raciais, entre outras esquizofrenias coletivas.
Listo apenas alguns exemplos:
Coreia do Norte, Cuba, China, Rússia, Síria, Somália, Venezuela, Argentina, Bolívia, Equador, República dos Companheiros...
Paulo Roberto de Almeida

domingo, 3 de março de 2013

Pode-se enganar muitos durante algum tempo... - Mansueto Almeida

O governo dos companheiros vem se especializando em manobras contábeis, o que é apenas um nome mais sofisticado para falar de mentiras nas contas públicas. A maquiagem pretensamente enganosa pode enganar os incautos, mas não pessoas comprometidas com a verdade dos números, com a simples honestidade intelectual, ou com o puro bom senso. Só pilantras e mentirosos contumazes costumam enganar os outros com essa frequência.
Esta vai ser mais uma das heranças pouco benditas do governo dos companheiros...
Paulo Roberto de Almeida

O Menu de Truques Contábeis

Na última terça-feira dia 26 de fevereiro, a pedido da associação dos funcionários do IPEA, dei uma palestra para explicar para funcionários de fundos de pensão de algumas empresas estatais quais são os truques contábeis feitos pelo governo federal.
Na semana passada havia dado uma palestra sobre o mesmo tempo mas não consegui explicar muito bem. Dessa vez acho que consegui de forma bem didática fazer uma tipologia dos cinco truques contábeis que poderíamos chamar de contabilidade criativa.
Esses cinco truques contábeis são os seguintes:
(1) emitir novas dívidas para emprestar para bancos públicos e, simultaneamente, recolher dividendos desses bancos (inclusive dividendos antecipados). Se um banco público precisa de recursos, o correto seria o governo deixar a instituição reter os dividendos que seriam distribuidos e, assim, reduzir as emissões de dívida.
TC1
(2) O segundo truque contábil é vender receitas futuras (dividendos) de outras estatais para o BNDES e, assim, o Tesouro transforma uma receita que entraria no futuro em receita primária hoje. Isso foi feito, em 2009 e 2010, com créditos (dividendos) a receber da Eletrobrás e agora será feito com a receita futura de Itaipu.
TC2
(3) O terceiro truque contábil foi um dos maiores absurdos recentes que envolveu BNDES e Petrobras. Originalmente, a operação aprovada no Congresso Nacional, em 2010, permitiu ao governo ceder 5 bilhões de barris de petróleo (que estão lá no fundo do mar) por R$ 74,8 bilhões à Petrobras que pagaria ao governo com ações da companhia. Mas alguém “esperto” resolveu emitir R$ 25 bilhões em novas dívidas para mandar para o BNDES que, em conjunto com o Fundo Soberano, compraram R$ 32 bilhões de ações da Petrobras que pagou parte dos 5 bilhões de barris de petróleo ao Tesouro não com ações, mas com esse dinheiro.
Assim, uma operação que deveria ser neutra do ponto de vista fiscal, troca de barris de petróleo por ações, acabou gerando uma receita primária de R$ 32 bilhões (1% do PIB). A pessoa que bolou essa operação vai pleitear em breve uma menção especial no livro Guinness World Record de “maior cara de pau do mundo”.
TC3
(4) O quarto truque contábil é a tentativa de redefinir o conceito de primário. Resultado primário é receita primária menos despesa primária. Mas desde 2008 tem essa idea esquisita de descontar despesas do PAC e agora está em estudo descontar parte das desonerações. Truque, truque e mais truques!!!!
TC4
(5) O quinto truque contábil é postergar o  pagamento de despesas que dão origem a uma montanha de restos a pagar. Os cálculos que fiz mostram que, por baixo, pelo menos R$ 40 bilhões dos restos a pagar não podem ser cancelados: (a) R$ 13,6 bilhões do Minha Casa Minha Vida, (b) R$ 6,3 bilhões dos subsídios orçamentários do programa de sustentação do investimento (PSI); (c) R$ 14 bilhões da saúde que precisa ser executado para cumprir com o mínimo constitucional; (d) R$ 2,6 bilhões do FGTS que não foi pago no ano passado; e (e) mais uns R$ 2,2 bilhões de equalização de juros do crédito agrícola.
Ou seja, se o governo terminasse hoje, ele deixaria de presente para o próximo presidente perto de 1% do PIB de despesa ainda não contabilizada na despesa primária . E a propósito, isso não entra na estatística da dívida pois “restos a pagar” é dívida flutuante – não é contabilizado como dívida bruta ou líquida.  Isso entra no meu menu da contabilidade criativa.
Abaixo descrevo as várias fases da despesa pública. Quando termina o ano (linha pontilhada) e o dinheiro que está empenhado não foi liquidado, isso dá origem a um resto a pagar não processado. Se o recurso empenhado foi liquidado, mas não pago, temos um resto a pagar processado.
TC5
Será que ficou claro para todo mundo agora o menu de opções que podemos chamar de contabilidade criativa? Tentei ser o mais didático possível e espero ter conseguido explicar.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

A mistificacao das massas pela mentira politica (uma nota multipartidaria)

Parodiando Churchill (que ele me desculpe), nunca, tão poucos, tentaram enganar tantos, com tão poucos e tão pobres argumentos, com tantas mentiras e mistificações juntas.
Paulo Roberto de Almeida 
PS.: Aliás, considero uma vergonha ter de postar uma nota tão canhestra, tão medíocre, neste espaço. Só o faço porque ela é indicativa de toda uma falta de pensamento, que no entanto alimenta um discurso político mentiroso, e que pode servir a fins didáticos de educação cidadã.


À SOCIEDADE BRASILEIRA
O PT, PSB, PMDB, PCdoB, PDT e PRB, representados pelos seus presidentes nacionais, repudiam de forma veemente a ação de dirigentes do PSDB, DEM e PPS que, em nota, tentaram comprometer a honra e a dignidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Valendo-se de fantasiosa matéria veiculada pela Revista Veja, pretendem transformar em verdade o amontoado de invencionices colecionado a partir de fontes sem identificação.
As forças conservadoras revelam-se dispostas a qualquer aventura. Não hesitam em recorrer a práticas golpistas, à calúnia e à difamação, à denúncia sem prova.
O gesto é fruto do desespero diante das derrotas seguidamente infligidas a eles pelo eleitorado brasileiro. Impotentes, tentam fazer política à margem do processo eleitoral, base e fundamento da democracia representativa, que não hesitam em golpear sempre que seus interesses são contrariados.
Assim foi em 1954, quando inventaram um “mar de lama” para afastar Getúlio Vargas. Assim foi em 1964, quando derrubaram Jango para levar o País a 21 anos de ditadura. O que querem agora é barrar e reverter o processo de mudanças iniciado por Lula, que colocou o Brasil na rota do desenvolvimento com distribuição de renda, incorporando à cidadania milhões de brasileiros marginalizados, e buscou inserção soberana na cena global, após anos de submissão a interesses externos.
Os partidos da oposição tentam apenas confundir a opinião pública. Quando pressionam a mais alta Corte do País, o STF, estão preocupados em fazer da ação penal 470 um julgamento político, para golpear a democracia e reverter as conquistas que marcaram a gestão do presidente Lula .
A mesquinharia será, mais uma vez, rejeitada pelo povo. 
Rui Falcão, PT
Eduardo Campos, PSB
Valdir Raupp, PMDB
Renato Rabelo, PCdoB
Carlos Lupi, PDT
Marcos Pereira, PRB.
Brasília, 20 de setembro de 2012.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Concepcao alucinada da historia: "mensalao" como "golpe da imprensa"

Poderia ser alucinação, mas pode ser simplesmente cinismo, ou tentativa desesperada de, mais uma vez fraudar não só a história, real, objetiva, do país, mas as próprias instituições do Estado, que denunciaram uma trama sórdida de compra de partidos e políticos.
Nunca antes na história deste país, alguém que exerceu cargos de tão alta responsabilidade desceu tão baixo na mentira e na fraude para defender comportamentos mafiosos que marcaram indelevelmente seu partido e seus dirigentes.
O Editorial do Estadão, reproduzido mais abaixo, caracteriza Lula como "prisioneiro do ressentimento". Acho que o jornal se engana: não se trata de ressentimento. Lula tem ódio dos que não aderem incondicionalmente a seu estilo  bizarro de governar (e o bizarro só figura aqui para não colocar um conceito mais forte, próximo das famiglias conhecidas no submundo de certos países). Ele tem despeito, inveja, ódio, e uma tremenda necessidade de que os outros o reconheçam como o primus inter pares, o melhor de todos, o único, o semi-deus da história brasileira.
Além da megalomania, e da obsessão narcissista, certos traços beiram o totalitarismo dos tiranos, aqueles que só podem convive com quem os bajula.
Paulo Roberto de Almeida


Mensalão foi tentativa de golpe da imprensa, diz Lula

Portal Comunique-se, 22/05/2012
Em discurso após receber o título de cidadão paulistano e a medalha Anchieta, em solenidade na noite dessa segunda-feira, 21, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva falou sobre o mensalão. Para o petista, o escândalo não passou de uma tentativa de golpe contra o seu governo.
Sem citar nomes, Lula disse que tal atitude contou com a participação de veículos de comunicação. "O PT era atacado por grande parte dos políticos da oposição e por uma parte da imprensa brasileira. Na verdade, era um momento em que tentaram dar um golpe neste país", disse.


A declaração do ex-presidente foi publicada nesta terça-feira, 22, pela Folha. O texto, assinado por Diógenes Campanha e Bernardo Mello Franco, foi reproduzido em blogs e outros sites, como as páginas dos jornalistas Ricardo Noblat, colunista de O Globo, e de Fábio Pannunzio, repórter da TV Bandeirantes.
O ex-presidente disse que a oposição recuou diante do apoio dos movimentos sociais e populares que recebeu. Lula declarou que não seria o novo Getúlio Vargas, que cometeu suicídio, e nem a versão do século XXI de João Goulart, deposto do cargo de presidente em 1964 pelo Golpe Militar.
“Só tem um jeito de eles me pegarem aqui. É eles enfrentarem o povo nas ruas deste país. Aquilo foi a coisa que mais deixou eles com medo de continuar na luta pelo impeachment", afirmou”, discursou Lula durante a homenagem que recebeu da Câmara da capital paulista.
Leia mais:
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Prisioneiro do Ressentimento
Editorial O Estado de S.Paulo, 23/05/2012
Mais velho, mais sofrido - e nem por isso mais sábio -, o ex-presidente Lula levou para a Câmara Municipal de São Paulo, onde receberia na segunda-feira o título de Cidadão Paulistano, as suas obsessões e os seus fantasmas: as elites e o mensalão. Ao elogiar no seu discurso a gestão da prefeita Marta Suplicy, ele se pôs a desancar a "parte da elite" de cujo preconceito ela teria sido vítima "porque ousou governar para os pobres". Marta fez os CEUs (centros educacionais unificados), exemplificou, para acolher crianças de favelas, algo inaceitável para aqueles que não querem que os outros sejam "pelo menos iguais" a eles.
O ressentimento de que Lula é prisioneiro o impede de aceitar que, numa megalópole como esta, há de tudo para todos os gostos e desgostos - e não apenas no topo da pirâmide social. Os que nele se situam, uma população que o tempo e as oportunidades de ascensão de há muito tornaram heterogênea, não detêm o monopólio do preconceito de classe. Durante anos, até eleitores mais pobres, portadores, quem sabe, do proverbial complexo de vira-lata, refugaram a ideia de votar em um candidato presidencial que, vindo de onde veio e com pouco estudo, teria as mesmas limitações que viam em si para governar o Brasil.
Lula tampouco admite, ao menos em público, que dificilmente teria chegado lá se o destino não o tivesse levado a viver na mais aberta sociedade do País - que também abriga, repita-se, cabeças egoístas e retrógradas, mas onde o talento, o trabalho e a perseverança são os mecanismos por excelência de equalização social. Em 1952, quando a sua mãe o trouxe com alguns de seus irmãos para cá, estava em pleno andamento, aliás, a substituição das tradicionais elites políticas paulistas por nomes que expressavam as mutações por que vinha passando desde a 2.ª Guerra Mundial o perfil demográfico da capital.
Pelo voto popular, chegaram ao poder descendentes de imigrantes e outros tantos cujas famílias, vindas de baixo, prosperaram com a industrialização, educaram os filhos e os integraram, à americana, na renovada estrutura política. O curso natural das coisas, pode-se dizer, consumou a metamorfose na pessoa do carismático torneiro mecânico pau de arara ungido presidente da República. No Planalto, é bom que não se esqueça, ele vergastava as elites nos palanques e se acertava na política com o que elas têm de pior. Lula se amancebou com expoentes do coronelato do atraso, do patrimonialismo e da iniquidade - o mesmo estamento oligárquico que contribuiu para confinar à miséria incontáveis milhões de nordestinos.
Elas não lhe faltaram no transe do mensalão - "um momento", repetiu pela enésima vez o mais novo cidadão paulistano, "em que tentaram dar um golpe neste país". Na sua versão da história, as elites, a oposição e a mídia só desistiram de destituí-lo de medo de "enfrentarem o povo nas ruas". Falso. Lula ainda não havia completado o trajeto da contrição - "eu não tenho nenhuma vergonha de dizer ao povo brasileiro que nós temos que pedir desculpas" - à ameaça de apelar ao povo, quando a oposição preferiu não pedir o seu impeachment para não traumatizar o País pela segunda vez em 13 anos. Pelo menos um dos homens do presidente, ministro de Estado, procurou os líderes oposicionistas para dissuadi-los da iniciativa.
O estopim foi o depoimento do marqueteiro de Lula, Duda Mendonça, na CPI dos Correios, em agosto de 2005. Ele revelou ter recebido em conta que precisou abrir no paraíso fiscal das Bahamas, a conselho de Marcos Valério, o publicitário que viria a ser o pivô do mensalão, a soma de R$ 10 milhões pelos serviços prestados três anos antes à campanha presidencial do petista e ao partido. Afinal, parcela da bolada já estava no exterior e outra sairia do caixa 2 da agremiação - os famosos "recursos não contabilizados" que Lula admitiria existir na reunião ministerial que convocou para o dia seguinte da oitiva de Duda. Tecnicamente, o PT poderia ter o seu registro cassado, e o presidente poderia ser afastado, se as elites quisessem levar a ferro e fogo o combate político. Se conspiração houve, em suma, foi para "deixar pra lá".

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Minhas previsoes "previsiveis": a Telesur e os companheiros...

Quem me segue há certo tempo, sabe que eu tenho as minhas "previsões imprevisíveis", ou seja, aquelas que estão destinadas a nunca serem realizadas, por teoricamente plausíveis, mas materialmente impossíveis.
Querem um exemplo? O MST deixar de ser um partido neobolchevique, parar de invadir propriedades do agronegócio e de acusá-lo de exportar alimentos que faltam na mesa dos brasileiros. Impossível, não é? E, no entanto, você também pode fazer, como eu, uma previsão imprevisível como essa.
Querem outra?
O governo vai deixar de exibir ministros com ficha corrida, que ele precisa defender antes e demitir depois, que ele vai parar de fazer protecionismo barato e reclamar da "concorrência desleal" de produtos estrangeiros, e dar início, enfim, ao conjunto de reformas INTERNAS capazes de devolver competitividade à indústria brasileira, essas coisas banais de reforma tributária, infraestrutura decente -- sem precisar fazer contorsionismos verbais em torno das privatizações meia-boca que são as concessões, incompetentes, além do mais --, diminuição do custo Brasil, etc. Acham que isso vai acontecer? Posso apostar que não, e pago em livros, como sempre, se alguém apostar que isto ocorre este ano da graça das eleições de 2012...
Pois bem, desta vez quero fazer uma previsão completamente previsível, e posso apostar com quem quiser como ela vai se realizar (e pago, como sempre...).
Vejam primeiro a nota abaixo, do blog de Marcos Guterman, no Estadão (e vejam o video, no link):

A emissora TeleSur, estatal latino-americana com sede na Venezuela, deu o tom de como será a eleição presidencial venezuelana. Assim que a boca-de-urna das primárias da oposição confirmou a vitória de Henrique Capriles como o candidato que enfrentará Hugo Chávez em outubro, a TV deu a “ficha” do sujeito: golpista, depredador da Embaixada de Cuba e filiado à TFP, entre outras qualidades.
É justo que a biografia de Capriles seja objeto desse tipo de escrutínio; afinal, a imprensa tem de ser vigilante em relação àqueles que almejam cargos públicos. Por isso, espera-se que a TeleSur, financiada com dinheiro público e que se orgulha de não discriminar ninguém por sua posição política, dispense o mesmo tratamento vigilante a Chávez. A não ser que a “construcción de un nuevo orden comunicacional”, prometida pela TeleSur em sua “missão”, signifique somente a construção da realidade conforme as conveniências chavistas.

Pois eu aposto, com quem quiser, que o mesmo tom sectário, mentiroso, oportunista, falso, aproveitador, deformado, enganoso (chega, vocês completam...), vai estar, logo, logo, nos veículos dos companheiros, esses pasquins que atendem pelo nome de "Correio do Brasil", esses sites patéticos com personagens ainda mais patéticos, que respondem com alguma coisa Maior, enfim, vocês conhecem esses esportistas do pensamento único.
Querem apostar?
Não vai passar uma semana antes que os mentirosos locais reproduzam as mentiras dos mentirosos amigos bolivarianos. Eles estão aí para isso mesmo...
Quem quer apostar?
Como já disse alguém (o romancista Moacir Scliar, na boca de um revolucionário inventado do fabuloso exército do Birobidjan), uma mentira progressista vale muito mais do que uma verdade reacionária...
Paulo Roberto de Almeida 

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Quem disse que o governo ia fazer economia? Ele mesmo? Mentiroso, entao...


Gustavo Patu e Ana Carolina Oliveira
Folha de S.Paulo, 20/09/2011
O governo Dilma Rousseff reduziu o ajuste fiscal dos R$ 50 bilhões anunciados em fevereiro para R$ 39 bilhões e, pela primeira vez, estima gastar mais neste ano do que no ano eleitoral de 2010. A reformulação das projeções foi divulgada ontem, sem alarde, no relatório feito a cada bimestre sobre a evolução das metas orçamentárias.
O documento deixa claro que a melhora nas contas do Tesouro está amparada no desempenho da arrecadação de impostos. As despesas chegarão ao equivalente a 18% do Produto Interno Bruto, patamar recorde. Até então, indicava-se uma queda dos 17,9% de 2010 para 17,7% do PIB. Impulsionada por receitas extraordinárias, decorrentes de vitórias judiciais ou da renegociação de dívidas tributárias, a estimativa de arrecadação foi elevada em R$ 21 bilhões.
Ela chegará ao recorde de 20,2% do PIB, já descontados os repasses obrigatórios para Estados e municípios. Foram esses recursos que permitiram o compromisso, anunciado há três semanas pelo ministro Guido Mantega, de elevar em R$ 10 bilhões a meta federal de superavit primário, ou seja, a parcela do Orçamento poupada para abater a dívida pública. Os R$ 11 bilhões restantes se transformarão em aumento de despesa, concentrado, segundo as novas projeções, em gastos obrigatórios que a equipe econômica prometia reduzir no início do ano. Do valor original do ajuste fiscal, R$ 3 bilhões deveriam vir da redução dos gastos com o pagamento do seguro-desemprego e abono salarial. Agora, a previsão foi elevada em quase R$ 5 bilhões. Também houve alta de R$ 5,5 bilhões na estimativa de gastos da Previdência Social.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Compulsao da mentira, e da apropriacao de obras alheias...

O que mais me incomoda, neste nosso mundo desigual, injusto, cruel e desumano -- desculpem o dramalhão mexicano, mas é para dar tons de tragédia à questão -- não é tanto o equívoco, os erros de julgamento (que se supõe tenham sido causados por insuficiência de informação) ou a mentira involuntária (derivada de uma propensão a enaltecer posições com as quais se concorda, e negar outros aspectos da realidade), mas sobretudo a desonestidade intelectual, embora o termo "intelectual" não se aplica em 99% dos casos, ficando só a desonestidade.
Quem mente por compulsão o faz, não por insuficiência de informação, mas por desvio de educação, um defeito de caráter que fica muito feio em homens públicos, já que eles podem ser desmentidos publicamente.
O único senão é que, sendo a população, em sua vasta maioria, pouco educada politicamente, ou pouco educada simplesmente, determinadas mentiras passam por verdades.
Um ex-presidente era useiro e vezeiro em mentiras deslavadas, em deformações deliberadas, que acabavam até passando por verdades pela repetição à la Goebbels. Por exemplo, a corrupção e o roubo de recursos públicos que se convencionou chamar de "caixa 2" de partidos, de "recursos não contabilizados", de que "todo mundo faz isso"...
Agora tem essa coisa de que eles são os donos da estabilidade, dos programas sociais, da defesa dos direitos humanos (das ditaduras, talvez), e outras coisas do gênero.
Certas coisas me dão alergia: burrice é uma delas, mas desonestidade me dá ojeriza e asco.
Paulo Roberto de Almeida

TENDÊNCIAS/DEBATES
Gente que mente
EDUARDO GRAEFF
Folha de S.Paulo, 20/04/2011, pág. A3

O grande problema do PT é a desonestidade, e não falo só da corrupção desenfreada: pior é o uso sistemático da mentira como arma política


Vou andar com uma cópia do artigo que o senador Walter Pinheiro publicou aqui contra Fernando Henrique Cardoso ("O príncipe e o povo", 17/4/2011). Vai ser útil quando me perguntarem qual é, afinal, o problema do PT.
O grande problema é a desonestidade. Não falo só da corrupção desenfreada. Pior que isso, para mim, é a desonestidade intelectual: o uso sistemático da mentira como arma política. Este é o pecado original que inspira outros pecados do PT, idiotiza seus quadros, polui sua relação com os aliados, azeda o diálogo com adversários e o indispõe com a liberdade de imprensa.
O ataque do senador petista escancara esse problema. A leitura deturpada de um artigo de FHC ("O papel da oposição", reproduzido pela Folha.com em 13/4/2011) foi o pretexto do senador para martelar numa velha tecla: FHC não tem "sentimento de povo"!
O PT repete baboseiras como essa desde que escolheu FHC como inimigo. A escolha, como se sabe, deu-se em 1993. FHC pediu apoio ao PT para o Plano Real.
Em troca, o PSDB poderia apoiar Lula para presidente em 1994, como apoiara em 1989. O PT preferiu apostar contra o real. O plano deu certo, o PSDB lançou FHC para presidente e ele derrotou Lula no primeiro turno. Imperdoável!
Um erro leva a outros. Do Fundo Social de Emergência à Lei de Responsabilidade Fiscal, o PT se opôs a tudo que representou consolidação da estabilidade e modernização da economia no governo FHC.
Como se opôs a tudo que representou inovação das políticas sociais, do Fundo de Desenvolvimento do Ensino Fundamental (Fundef) à Bolsa Escola, que Lula chamou de "Bolsa Esmola".
A inconsistência das "bravatas" ficou clara quando Lula chegou ao governo e abraçou as políticas de FHC. Isso não impediu Lula de inventar a "herança maldita". Nem impede o PT de atacar a sua caricatura de Fernando Henrique com tanto mais fúria quanto menos evidentes ficam as diferenças de suas políticas com as do FHC real.
Walter Pinheiro levou esse expediente ao nível do grotesco. Segundo ele, no governo FHC o povo "comia uma vez a cada três dias". Só foi comer três vezes por dia no governo Lula. Supõe-se que o povo foi votar em 1998 de barriga vazia.
Na verdade, reelegeu FHC porque queria manter as conquistas do real. Nos oito anos antes de FHC, o valor real do salário mínimo, roído pela inflação, diminuiu 36%; o valor das aposentadorias do INSS maiores que o mínimo diminuiu 56%. Nos oito anos de FHC, o salário mínimo teve aumento real de 44% e as aposentadorias tiveram aumento real de 21%.
Como se o repertório de mentiras do PT não bastasse, o senador desenterrou uma lorota de Jânio Quadros. Com um toque pessoal: a "arguição" a que o senador se refere, sobre onde fica Sapopemba, nunca ocorreu, porque Jânio fugiu dos debates com FHC. A frase colou pelo jeito histriônico como Jânio pronunciou "Sa-po-pem-ba".
Se ele sabia chegar lá, esqueceu como prefeito. O PT também. As grandes obras da prefeitura petista de São Paulo foram dois túneis malfeitos ligando os bairros ricos das margens do rio Pinheiros. E as palmeiras imperiais na frente do Shopping Iguatemi. Fino "sentimento de povo", com efeito.

EDUARDO GRAEFF, 61, é cientista político. Foi secretário-geral da Presidência da República de Fernando Henrique Cardoso. Blog: www.eagora.org.br

sábado, 4 de dezembro de 2010

Mentira: um apego patologico, uma obsessao (e minha aversao por tudo isso)...

Sou normalmente tolerante com ideias equivocadas, inclusive porque gosto de aproveitar da ocasião para debater temas relevantes.
Mas tenho uma ojeriza à mentira e à desonestidade que podem até beirar a intolerância, como expresso aqui, imediatamente.
Existem pessoas que têm necessidade psicológica de mentir, é quase uma segunda natureza, e elas já nem percebem mais quando estão cometendo esses desatinos. Mas creio que isso deriva de uma desonestidade que faz parte do caráter das pessoas que assim procedem.
Seja de onde forem, seja que estatuto tiverem, seja que autoridade exibirem, é preciso sempre denunciar a mentira.
Acho até que o editorial do Estadão, abaixo, foi muito delicado, ao falar que os fatos desmentem esse personagem incontornável de nosso panorama político dos últimso 30 anos (e talvez de vários outros mais à frente). Em todo caso, o jornal poderia ter dito simplesmente: trata-se de um mentiroso contumaz
Paulo Roberto de Almeida 

Os fatos desmentem Lula
Editorial - O Estado de S.Paulo,
Sábado, 4/12/2010

Fiel a seu costume de contar a história à sua maneira, sem o mínimo compromisso com os fatos e a verdade, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva mais uma vez falou sobre a “herança maldita” recebida em 2003, ao iniciar seu primeiro mandato. Desta vez, o rosário de inverdades foi desfiado perante o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. O evento foi uma das várias despedidas programadas pelo presidente para este mês. De novo ele falou sobre o País quebrado e sobre o mau estado da economia no momento da transição do governo. De novo ele se entregou a uma de suas atividades prediletas, a autolouvação despudorada, atribuindo a si e a seu governo a inauguração de uma economia com fundamentos sólidos, estabilidade e previsibilidade. As pessoas informadas e capazes de discernimento conhecem os fatos, mas talvez valha a pena recordá-los mais uma vez, para benefício dos mais jovens e dos vitimados pela propaganda petista.

A primeira informação escamoteada pelo presidente Lula e pela companheirada é a origem da crise inflacionária e cambial de 2002. Os problemas surgiram quando as pesquisas mostraram o crescimento da candidatura petista. Não surgiram do nada e muito menos de uma perversa maquinação dos adversários. Os mercados simplesmente reagiram às insistentes ameaças, costumeiras no discurso petista, de calote na dívida pública e de outras lambanças na política econômica. Figuras importantes do partido haviam apoiado um irresponsável plebiscito sobre a dívida e mais de uma vez haviam proposto uma “renegociação” dos compromissos do Tesouro.

Tinha sólidos motivos quem decidiu fugir do risco proclamado pelos próprios petistas. A especulação cambial e a instabilidade de preços foram o resultado natural desses temores. A Carta ao Povo Brasileiro, com promessas de seriedade, foi o reconhecimento do vínculo entre a insegurança dos mercados e as bandeiras petistas.

Essas bandeiras não foram inventadas pelas fantasmagóricas elites citadas pelo presidente nas perorações mais furiosas. São componentes de uma longa história. Petistas apoiaram algumas das piores decisões econômicas dos últimos 30 anos. Uma de suas figuras mais notórias aplaudiu entre lágrimas uma das mais desastradas experiências dos anos 80, o congelamento de preços do Plano Cruzado. Nenhum petista ensaiou uma discussão séria quando os erros se tornaram mais que evidentes e o plano começou a esboroar-se.

Naquele período, como nos anos seguintes, petistas continuaram pregando o calote da dívida externa. Ao mesmo tempo, torpedearam todas as tentativas importantes de reordenação política e econômica e resistiram a assinar a Constituição.

O PT combateu as inovações do Plano Real. Foi contra a desindexação de preços e salários. Resistiu ao saneamento das finanças estaduais e municipais. Combateu - como já vinha combatendo - a privatização de velhas estatais, mesmo quando não havia a mínima razão estratégica para manter aquelas empresas sob o controle do Tesouro. Criticou a Lei de Responsabilidade Fiscal e atacou todas as iniciativas de ajuste das contas públicas.

A economia foi retirada do caos e seus fundamentos foram consertados, nos anos 90, contra a vontade do PT. O saneamento e a privatização de bancos estaduais permitiram o resgate da política monetária. Graças a isso foi possível, em 2003, conter o surto inflacionário em poucos meses. O Banco Central simplesmente manejou ferramentas forjadas na administração anterior.

Todos os princípios e instrumentos de política econômica essenciais à estabilidade nos últimos oito anos são componentes dessa herança mais que bendita. Se os tivesse abandonado há mais tempo, o governo Lula teria sido não só um fracasso, mas um desastre. Mas a fidelidade aos princípios do governo FHC nunca foi total. O inchaço da administração, o loteamento de cargos, a desmoralização das agências de regulação e o desperdício são partes da herança deixada à sucessora do presidente Lula, além de compromissos irresponsáveis, como o de um trem-bala mal concebido e contestado econômica e tecnicamente. Esse legado não será descoberto aos poucos. Já é bem conhecido.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

A era da mentira, 2: um remake de muito mau gosto...

Caro leitor,
Estão querendo, novamente, meter a mão no seu, no meu, no nosso bolso (e no caixa das empresas, também, cela va de soi).
Parece que "a pedido dos governadores", a presidenta que ainda nem tomou posse, já cogita em "consentir" que eles se articulem para fazer voltar a CPMF, supostamente para financiar a saúde.
A candidata oficial tinha prometido que não iria aumentar impostos, e que iria até abaixar alguns.
Tudo isso prometendo uma saúde funcionando a 150% (sim, porque o presidente sainte já tinha dito que o SUS era quase perfeito).
Agora fazem volta atrás, contando com a nossa indiferença ou a nossa falta de lembrança.
Não com a minha, ou as minhas: eu não sou indiferente, e não tenho problemas de memória. Aliás, tenho os meus dois neurônios empregados na tarefa em perfeitas condicões de funcionamento (não precisao mais do que dois para se lembrar de coisas desagradáveis).
Tampouco gosto que mintam para mim, e acho que você também não gosta, caro leitor.
Aux armes citoyens?
Paulo Roberto de Almeida

Demanda de aluguel

Dora Kramer - O Estado de S.Paulo
05 de novembro de 2010

O tema não foi tocado nem de leve em toda a campanha eleitoral. Aliás, tirando o presidente Luiz Inácio da Silva, nunca mais, desde dezembro de 2007, se ouviu ninguém alimentar nostalgia pelo imposto do cheque.
Nem os governadores falaram mais no assunto e isso inclui os agora reeleitos, os eleitos e os que eram senadores à época da derrubada da CPMF e muito contribuíram para o resultado de uma votação que até hoje deixa o presidente Lula inconformado.
A tal ponto que ele foi "caçar" um a um os senadores oposicionistas nessa eleição, dedicando-se com empenho pessoal e especial a lhes impor derrotas. Saiu-se bem em alguns casos, em outros fracassou.
Convém recordar que a derrota na votação da renovação da CPMF no Senado enterrou o projeto do terceiro mandato, pois ali ficou claro que se passasse pelos deputados, pelos senadores não passaria. Portanto, aquela não foi uma derrota qualquer.
Foi uma derrota política surpreendente e definitiva.
A história contada pela presidente eleita de que não poderá se furtar a uma discussão levantada pelos governadores parece conto da Carochinha. De uma hora para outra, sem mais nem menos, os governadores - note-se, de partidos aliados ao governo - resolveram considerar a volta da CPMF uma urgência urgentíssima?
Um desses governadores, Renato Casagrande, do Espírito Santo, foi um dos mais combativos senadores na derrubada do imposto há três anos.
Dilma, quando candidata, negou intenção de recuperar o imposto. Compreende-se, dada a impopularidade do tema.
Então, nem bem é eleita Lula a chama com urgência ao Planalto - tanta que ela já estava com as malas no carro para sair em viagem - para uma entrevista coletiva em que o assunto de maior destaque é justamente a demanda dos governadores do PT e do PSB.
Não é necessário exercício muito elaborado de observação e dedução para perceber de quem é a ideia de pôr a CPMF de volta na agenda e tentar uma revanche logo no início do mandato para aproveitar a boa vontade geral com a presidente que entra e testar a força do novo Congresso de maioria governista folgada.
Seria uma bela vitória para a estreante nas lides político-palacianas. Os governadores, até de partidos de oposição, não teriam constrangimento algum em aderir, como de resto os politicamente fiéis não estão encontrando dificuldades para aparecer na cena como autores do plano.
Com a ampla maioria agora também no Senado, em tese não seria impossível pensar que o imposto do cheque passasse pelo Congresso.
Enfrentaria, no entanto, obstáculos difíceis de serem transpostos, exatamente por causa da amplitude, heterogeneidade e voracidade da "base". Dilma Rousseff precisaria administrar um problema de altíssima monta logo na estreia.
Sozinha ainda não reúne experiência para tal. Com o antecessor manejando os cordéis? Não combina com a promessa de Lula de cumprir uma quarentena.
Há também aquele outro problema chamado opinião pública. Em 2007 houve uma mobilização forte que inicialmente não foi dos partidos, DEM e PSDB.
Eles embarcaram na onda da campanha deflagrada pelo setor produtivo e conseguiram capitalizar a insatisfação da sociedade somada a contrariedades na base parlamentar governista e à displicência da articulação política.
No ano seguinte o governo tentou retomar o assunto mudando o imposto de nome e, depois, no ano passado, fez um novo ensaio. Não deu certo.
Desta vez pode ser que dê, exatamente porque a correlação de forças está ainda mais favorável ao governo e há Lula solto para poder articular.
Seria, porém, o caso de se fazer a conta se para a presidente Dilma seria um bom negócio comprar uma briga desse tamanho com a opinião pública e o empresariado logo aos primeiros acordes da sua sinfonia.
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E um comentário, de quem vocês já conhecem. Alguns podem até não gostar, mas isso não me importa; o que importa, para qualquer pessoa inteligente, são os argumentos, não que os expressa. Este blog é um blog de ideias, nao de pessoas...



Reinaldo Azevedo, 5.11.2010
Vejam como a coisa pode começar facinha, facinha, para Dilma Rousseff. O Estadão conseguiu ouvir 25 dos 27 governadores eleitos (ou reeleitos) sobre a volta da CPMF. Disseram-se favoráveis ao imposto 14 deles. O único oposicionista do grupo é Antonio Anastasia, de Minas (PSDB).
Agora a boa notícia: disseram “não” Geraldo Alckmin (PSDB-SP), Beto Richa (PSDB-PR), Marconi Perillo (PSDB-GO), Simão Jatene (PSDB-PA), Rosalba Carlini (DEM-RN) e Raimundo Colombo (DEM-SC). Três outros oposicionistas, embora ouvidos, preferiram não opinar: Teotônio Vilela (PSDB-AL), Anchieta Júnior (PSDB-RR) e Siqueira Campos (PSDB-TO). Entre os governistas, só dois não disseram nem “sim” nem “não”: Sérgio Cabral (PMDB-RJ) e Confúcio Moura (PMDB-RO). Roseana Sarney (PMDB-MA) e Omar Aziz (PMN-AM) não foram encontrados. Os outros 13, todos da base aliada, são favoráveis.
Publiquei ontem aqui um post com um vídeo sobre o paraíso em que Dilma prometeu transformar a saúde brasileira. Teria sido honestíssimo ter dito: “Olhem, quero fazer tudo isso, mas conto com a colaboração de vocês. Nós vamos recriar a CPMF…” Sim, eu sei, eleitoralmente não teria sido muito inteligente. Então se promete o céu e depois se vai atrás de um imposto… É mais inteligente, mas muito pouco honesto.
Esse debate já começa na pura malandragem. Dilma vai ter uma maioria acachapante no Congresso. Lá é o lugar de propor impostos novos e debater com a sociedade. O truque, posto em prática pelos governadores do PSB, é dividir o ônus da criação de mais um imposto com as oposições. Antonio Anastasia, governador de Minas — e, supõe-se, o senador eleito Aécio Neves — topam a parada. Seria a primeira promessa descumprida por Dilma. Usará os governadores como laranjas. Que os da situação ofereçam seu auxílio, vá lá. Que um oposicionista já tenha se oferecido…
Não se trata de saber se é preciso ter mais dinheiro ou não, se o importo será grande ou pequeno. Claro que é preciso mais grana. É defensável, sob certo ponto de vista, criar contribui8ções para a educação, para o transporte público, para a segurança, para engordar os magros, emagrecer os gordos, construir casas… Para todas as demandas da sociedade, existem os tributos arrecadados. A carga no Brasil já beira a extorsão. O que está em debate é o caminho. E o caminho está errado.
Qual vai ser a orientação? Vai se criar primeiro o imposto da saúde para, depois, debater a queda da carga tributária? Ora, tenham paciência! O truque é primitivo!
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Editorial O Estado de S.Paulo, 5/11/2010
CPMF - primeiro recuo de Dilma

- O Estado de S.Paulo
A promessa da presidente eleita de conter o gasto, controlar sua qualidade e aliviar a tributação já está prejudicada. Ela se declarou disposta a discutir a recriação do malfadado imposto sobre o cheque, a CPMF, uma das maiores aberrações do sistema tributário brasileiro. O recuo indisfarçável ocorreu na entrevista de anteontem no Palácio do Planalto, na qual, primeiro, negou a intenção de mandar ao Congresso uma proposta sobre o assunto e, depois, prometeu conversar com os governadores favoráveis à contribuição. Ao anunciar essa disposição, não apenas tornou seu discurso ambíguo, mas abriu uma brecha nos compromissos formulados na primeira fala depois da eleição e deu mais um argumento a quem recebeu com ceticismo o pronunciamento de domingo à noite.

Segundo a presidente eleita, governadores estão mobilizados para a defesa da volta da CPMF, extinta em dezembro de 2007. Foi uma referência ao movimento anunciado pelo governador reeleito do Piauí, Wilson Martins (PSB). Ele disse ter conversado sobre o assunto com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Além de Martins, também os governadores Cid Gomes (PSB-CE), Eduardo Campos (PSB-PE), Renato Casagrande (PSB-ES) e Jacques Wagner (PT-BA) defendem a proposta.

O presidente Lula encarregou-se de levantar o assunto na quarta-feira, antes da entrevista de sua sucessora. Ele mais uma vez lamentou a extinção da CPMF e acusou a oposição de haver prejudicado a maioria dos brasileiros.

Mas os tão pranteados R$ 40 bilhões anuais da CPMF nunca fizeram falta para a política de saúde. A arrecadação e a carga tributária continuaram crescendo nos anos seguintes. Se o presidente quisesse, poderia ter destinado verbas maiores aos programas de saúde. Bastaria conter despesas menos importantes ou claramente improdutivas. Frear o empreguismo e renunciar ao inchaço da folha de pessoal teriam sido boas providências.

Em nenhum outro país emergente a carga tributária é tão pesada quanto no Brasil, onde está próxima de 35% do Produto Interno Bruto (PIB). Além disso, a tributação brasileira é maior que a de várias economias avançadas, como Estados Unidos, Japão, Suíça, Espanha e Canadá. Emergentes com tributação menor que a do Brasil, incluídos México, Chile, Argentina e alguns asiáticos, têm padrões sanitários e educacionais superiores aos brasileiros.

A CPMF é desnecessária. União, Estados e municípios arrecadam, em conjunto, mais que o suficiente para custear os programas de saúde. Só não cumprem seus compromissos como deveriam por ineficiência e porque muitas administrações padecem de empreguismo e corrupção. Dinheiro não falta, mas falta usá-lo bem.

A CPMF serviu sobretudo para dar ao governo maior liberdade de gasto - não necessariamente um gasto bem dirigido. O grau de competência dos administradores continuou - e continua - sendo o fator mais importante para o sucesso ou insucesso das políticas de saúde. Mas o presidente Lula, seu partido e seus aliados nunca deram muita importância a variáveis como produtividade e competência.

Com o aumento dos gastos nos últimos dois anos, era previsível a volta da CPMF à pauta política depois das eleições, disse o economista Raul Velloso, especialista em contas públicas. A única surpresa, segundo ele, foi um retorno tão cedo.

Só "ricos e grandes" pagavam a CPMF, segundo o governador Wilson Martins. Mais que uma tolice, o argumento é indício de notável desinformação. O imposto do cheque incidia sobre toda liquidação financeira e, portanto, sobre cada operação da malha produtiva. Quanto mais complexa a malha, maior o peso dessa tributação, maior o dano ao poder competitivo do produtor nacional e maior o prejuízo para a criação de empregos.

A presidente eleita prometeu valorizar a seriedade fiscal e a eficiência administrativa. Se não quiser comprometer desde já sua credibilidade, deve ser fiel àquelas ideias, definindo-se claramente contra a criação de impostos para financiar a gastança e renunciar de forma inequívoca às aberrações do tipo da CPMF.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Interrupcao eleitoral (18): pequena grande lista das trapacas e falcatruas (mas poderia ser enorme...)

Calma, pessoal, esta série já está acabando (embora tivesse material para mais cem anos de malversações, roubos, patifarias, fraudes, e todo tipo de desvios de conduta que vocês possam imaginar).
Sempre quando alguém me chama a atenção para o lado incrível, inaceitável de tudo isso, e diz que isso é inadmissível e coisa e tal, que não é possível que ninguém faça nada, que não podemos descer mais no fundo do poço, eu costumo lembrar casos exemplares de decadência, de roubalheira, de estagnação ou regressão, geralmente por ação e omissão dos mandarins que controlam o Estado.
Digo: vejam o caso da China, decaiu por 200 anos, por obra de seus mandarins corruptos e seus eunucos manipuladors, até começar a se recuperar, embora pelas vias erradas. Veja o caso da Itália, e o domínio das máfias, da Camorra e outros grupos criminosos sobre o Estado. Veja aqui mesmo ao nosso lado, um país que decai há pelo menos 80 anos, e outro que está afundando ainda mais rápido.
Ou seja, ainda há espaço para decairmos mais um pouco, se vocês me permitem um pouco de humor negro.
Não quero ser pessimista, mas pior que os retrocessos materiais -- o que não acredito que ocorra, pois o Brasil apenas vai crescer mais lentamente, e portanto ficar para trás de outros países que avançam mais rapidamente -- é a retrogressão mental que estamos atravessando, visivel no comportamento de acadêmicos durante este periodo eleitoral. O atraso mental e o subdesenvolvimento intelectual já eram conhecidos, mas o retrocesso mental tem sido vertiginoso.
Portanto, acalmem-se, tem muito mais patifaria vindo por aí...
Não vou relaxar não: vou continuar minha obra de resistência intelectual, neste pequeno quilombo de ideias pretensamente inteligentes, em todo caso comprometidas com a democracia, com a dignidade do saber, com a defesa da verdade.
OK, deixo agora vocês com uma dose cavalar de pessimismo...
Paulo Roberto de Almeida

Em 14 dias, 27 notícias revoltantes sobre o governo Lula
Sérgio Vaz
Do site 50 anos de textos: http://50anosdetextos.com.br

:: Incompetência administrativa, corrupção, ilegalidades, uso indecente da máquina...

Entre os dias 14 e 27 de outubro, a imprensa divulgou pelo menos 27 notícias que mostram a incompetência do governo Lula, casos de corrupção e ilegalidades, exemplos do absurdo, ilegal, imoral uso da máquina governamental para eleger a candidata oficial e de imensas besteiras ditas pelo presidente e sua candidata.
Pelo menos 27, em apenas 14 dias. Pelo menos 27, porque foram as que eu anotei e transcrevi abaixo. Não sou tão organizado assim, e portanto pode certamente ter havido outras que deixei escapar.

E não estão incluídas aqui as mentiras diárias ditas por Dilma Rousseff ao vivo, em seus discursos, e por sua campanha, na propaganda eleitoral. Não sei se seria humanamente possível relacionar todas. Eu, pelo menos, não conseguiria.

Aí vão elas:

Incompetência – e a conta virá depois

* 1 – O governo Lula faz manobra e cria superávit bilionário falso. Uma manobra fiscal da União na capitalização da Petrobras rendeu R$ 31,9 bilhões e levou o governo a registrar superávit primário recorde em setembro, de R$ 26,1 bilhões. Sem isso, haveria déficit, e o pior do ano: R$ 5,8 bilhões. Analistas criticam o artifício contábil. Para Raul Velloso, especialista em contas públicas, a “gambiarra” permitirá cumprir a meta fiscal do ano, mas os números do governo já não inspiram confiança. (Todos os jornais, 27/10/2010.)

“O governo Lula está produzindo o maior retrocesso na História recente do país na transparência das contas públicas”, escreveu Miriam Leitão em sua coluna no Globo. “Ontem foi um dia de não esquecer. Dia em que o governo fez a mágica de transformar dívida em receita.”

* 2 – A Casa Civil decidiu adiar para depois do segundo turno a apresentação do 11º balanço quadrimestral do PAC, o Plano de Aceleração da Candidatura Dilma. A última apresentação tinha sido em junho. Naquela ocasião, o governo informou que menos da metade das obras previstas no plano havia sido concluída. Com as obras não andam mesmo, são peça de marketing, adiaram a apresentação do vexame. (Veja, 20/10/2010.)

* 3 – O governo Lula prometeu construir um milhão de casas no programa Minha Casa, Minha Vida. Entregou 181 mil. Mas Lula disse, em discurso, no Rio, na segunda-feira, 26 de outubro, que o programa entregará 2 milhões de casas a partir de 2011. Ah, bom.

* 4 – A Justiça Federal de Brasília suspendeu a contratação da Fundação Cesgranrio para organizar concurso público para admissão de funcionários. Segundo o juiz, a lei não permite que a estatal contrate sem licitação qualquer entidade para aplicar as provas. “A suspensão é mais um capítulo da série de irregularidades recentes envolvendo os Correios, cujo presidente foi indicado pela ministra Erenice Guerra, braço-direito de Dilma Rousseff.

* 5 – “A direção atual da Petrobras é meio lunática. A empresa perdeu quase US$ 100 bilhões de valor de mercado, está sendo mal avaliada em relatórios de bancos, é a única ação que perde do Ibovespa em um ano. Tem suas reservas em águas profundas, área em que no mundo inteiro estão sendo reavaliadas as normas de segurança. Em vez de tratar disso, o presidente da estatal entra na briga eleitoral. (…) Há muito a fazer na Petrobras. O que a empresa não deve fazer é se comportar como um braço de partido político.” (Miriam Leitão, em sua coluna no Globo, 15/10/2010.)

* 6 – Embora não tenha havido estudos detalhados sobre o projeto, a licitação para as obras do tal trem-bala entre Rio e São Paulo e Campinas está prevista ainda para este ano. No primeiro balanço do PAC, o trem-bala não constava; no décimo, está em primeiro lugar, absorvendo metade dos investimentos previstos para o setor. Essa versão lulo-petista do aerotrem de Levi Fidelis, sem qualquer estudo sério que a justifique, já foi avaliada em R$ 18 bilhões, agora em R$ 34 bilhões e pode chegar a R$ 70 bilhões. Enquanto isso, o investimento no muito mais importante Ferroanel de São Paulo caiu de R$ 528 milhões na previsão do primeiro balanço do PAC para apenas R$ 20 milhões, no décimo balanço. (O Globo, 17/10/2010.)

* 7 – “A turma do PT está procurando cadeira para se sentar”, disse o presidente da Vale, Roger Agnelli, que sofreu duras críticas de Lula – como se empresa, privatizada e saneada durante o governo FHC, hoje extremamente lucrativa, ainda pertencesse ao governo. Em meio a um tiroteio de palpites sobre seu futuro na Vele num eventual novo governo do PT, Agnelli afirmou: “Eu me sinto à vontade, tranqüilo (em relação a seu futuro na empresa). Tem muita gente procurando cadeira, essa é a realidade. E normalmente é a turma do PT. Toda eleição acontece isso. Agora, a empresa, quem decide são os acionistas.” (O Globo, 15/10/2010.)

Corrupção, ilegalidades

* 8 – Ao depor à Polícia Federal, a ex-ministra Erenice Guerra, braço-direito da candidata Dilma Roussef, entrou em contradição com a versão oficial que vinha sendo dada até então, e admitiu que, sim, de fato se reuniu com dois lobistas. Disse ter recebido na Casa Civil Rubnei Quicoli, da EDRB, empresa interessada num financiamento do BNDES. E confirmou dois encontros, um na casa dela, com Fabio Bacarat, da MTA, que tentava renovar contratos com os Correios. (Todos os jornais, 27/10/2010.)

É sempre assim no governo Lula. Quando a denúncia é publicada na imprensa, eles negam tudo. Depois vai se contradizendo.

* 9 – Em depoimento de mais de duas horas à Polícia Federal, a empresária Ana Veloso Corsini confirmou que seu irmão, o piloto de motocross Luís Corsini, pagou propina de R$ 40 mil a Israel Guerra, filho da ex-ministra Erenice Guerra (Casa Civil), pela intermediação de um patrocínio de R$ 200 mil da Eletrobrás, em 2008. (O Estado, 27/10/2010.)

* 10 – “Não agüento mais receber pedidos da Dilma e do Gilberto Carvalho (chefe de gabinete de Lula) pra fazer dossiês. Eu quase fui preso com um dos aloprados.” A frase foi dita por Pedro Abramovay, secretário nacional de Justiça do Ministério da Justiça, ao seu antecessor no cargo, Romeu Tuma Júnior. “O Pedro reclamou várias vezes que estava preocupado com as missões que recebia do Planalto. Ele realmente me disse que recebia pedidos da Dilma e do Gilberto para levantar coisas contra quem atravessava o caminho do governo”, disse Tuma Júnior.  A história foi contada na reportagem de capa da revistaVeja que circula com data de 27/10/2010.

* 11 – Investigação da Polícia Federal revela que partiu da pré-campanha de Dilma Rousseff a iniciativa de contratar o jornalista Amaury Ribeiro Jr., que está na origem da quebra de sigilo fiscal de tucanos, entre os quais o vice-presidente do partido, Eduardo Jorge Caldas Pereira, e a filha de José Serra. Apesar disso, a PF negou que houvesse vinculação entre a violação e a campanha de Dilma. (O Estado e O Globo, 21/10/2010.)

* 12 – O PT e o chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho, tornaram-se réus num processo em que são acuados de participar de quadrilha que cobrava propina de empresas de transporte na Prefeitura de Santa André. O desvio dos cofres públicos, segundo a acusação, chegou a R$ 5,3 milhões, num esquema que seria o precursor do mensalão petista no governo federal. (O Estado, 23/10/2010.)

 * 13 – O deputado Roberto Rocha (PSDB-MA) acusa Vladimir Muskatirovic, chefe de gabinete da Casa Civil, levado ao Palácio do Planalto por Dilma, de ter cobrado R$ 100 mil para autorizar uma mudança societária na TV Cidade, afiliada da Record no Maranhão. A família do deputado é sócio da emissora. A denúncia foi publicada em reportagem da revista Veja que circulou a partir de 16/10/2010.

* 14 – Edgar Cardeal negociou projeto de R$ 1 bilhão com a Eletrosul, cujo conselho é presidido por seu irmão, Valter Cardeal, aliado de Dilma Rousseff e seu homem de confiança há 20 anos. (O Globo, 18/10/2010.)

Os irmãos Cardeal embolsaram R$ 2,7 milhões graças a contrato entre a empresa Cardeal engenharia e a Eletrobrás para “desenvolvimento de projetos”. (Veja, 27/10/2010.)

* 15 – O banco público de desenvolvimento da Alemanha, Kreditanstalt fur Wiederaufbau (KfW), entrou com ação de danos materiais e morais no Brasil, envolvendo um dos homens de confiança de Dilma, Valter Luiz Cardeal de Souza, presidente de uma subsidiária da Eletrobrás, num escândalo de fraude milionária em empréstimos internacionais de 157 milhões de euros. A denúncia foi publicada em reportagem da revista Época que circulou a partir de 16/10/2010.

* 16 – O Ministério Público de São Paulo denunciou o tesouro do PT, João Vaccari Neto, por formação de quadrilha, estelionato, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro no caso Bancop, a Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo. Esquema de desvios deixou um rombo de R$ 170 milhões na cooperativa. Segundo o promotor José Clarlos Blat, o Bancop é “um verdadeiro balcão de negócios criminosos”. O Bancop recolheu dinheiro de 1.133 famílias, com a promessa de entregar apartamentos a elas; o dinheiro foi desviado para as contas dos diretores da cooperativa e para o caixa dois do PT. (Todos os jornais, 20/10/2010.)

* 17 – Menos de um ano após ter sua concessão renovada pela Agência Nacional de Aviação Civil, com a ajuda de Israel Guerra, filho da ex-ministra Erenice Guerra, a MTA está em crise financeira e não honra mais seus compromissos com os Correios. A contratação de empresas para substituí-la custará mais caro ao governo. (O Globo, 13/10/2010.)

A MTA está devendo dois meses de combustível à Petrobrás Distribuidora. São quase R$ 300 mil. Erenice já foi membro do conselho fiscal da estatal, onde ganhava uns milhares de reais a mais. (Veja, 20/10/2010.)

* 18 – Finalmente, depois das diversas denúncias da imprensa, os Correios rescidiram os dois últimos contratos com a MTA, por abandono das linhas de transporte de cargas postais. (O Globo, 21/10/2010.)

O indecente uso da máquina

* 19 – Lula e o presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, anunciam a antecipação do início da exploração comercial de uma área do pré-sal, programada para acontecer perto do fim do ano, ainda para outubro, antes do segundo turno da eleição presidencial. (O Globo, 19/10/2010.) Editorial do jornal no mesmo dia sintetiza: “O candidato José Serra tem razão quando diz que a Petrobrás e tantas outras precisarão ser reestatizadas, pois foram privatizadas por interesses de grupos políticos e corporações variadas”.

* 20 – Mecanismos de comunicação da Petrobrás continuam sendo usados em apoio à candidatura de Dilma Rousseff (PT) à Presidência. O coordenador de Patrocínio da empresa usou e-mail funcional para convocar fornecedores a partir de ato político a favor da campanha petista. (O Globo, 16/10/2010.)

* 21 – A Casa Civil da Presidência prorrogou por 30 dias os trabalhos da comissão de sindicação que apura as denúncias de tráfico de influência na gestão de Erenice Guerra, o braço-direito de Dilma. Ou seja: empurrou para depois do segundo turno. (O Globo, 19/10/2010.)

* 22 – Em evento que deveria lançar programa de governo para a saúde, três ministros – o da Saúde, o de Relações Institucionais e a da Secretaria Especial de Política para as Mulheres -, ao lado do candidato a vice na chapa de Dilma, desfilam críticas ao PSDB e pedem empenho na reta final da campanha petista a uma platéia formada por servidores públicos, sindicalistas e deputados da base governista. (O Globo, 19/10/2010.) 

Mais dois ministros – o do Trabalho e o da Educação – entraram na campanha, fazendo críticas a Serra. (O Globo, 20/10/2010.)

Lula fala besteiras, a campanha de Dilma faz besteiras

* 23 – Do palanque de onde jamais desceu, em sete anos, nove meses e meio de governo, Lula disse, no Piauí, que Deus impediu a eleição de senadores oposicionistas. “Como Deus escreve certo por linhas tortas, Deus fez a vingança que acho que era necessária. Colocar gente mais digna, de mais respeito, para representar com mais dignidade o Piauí.” Os senadores Heráclito Fortes (DEM) e Mão Santa (PSC), que votavam contra o governo Lula, não foram eleitos em 3 de outubro. (O Globo, 15/10/2010.)

A essa idiotice, diversos leitores dos jornais responderam com cartas indignadas. Um deles, Alvimar Santos Jr., sintetizou, no Fórum dos Leitores do Estadão: “Deus é bom, generoso, humilde e piedoso, quem é vingativo é Satanás”.

* 24 – Lula diz uma das maiores besteiras, entre tantas milhares e milhares de besteiras que disse nos últimos anos: afirma que Serra praticou “farsa”, “mentira descarada”, por ter ido ao médico após ser atingido por “uma bolinha de papel” durante ato de campanha em Campo Grande, no Rio de Janeiro. “Ele se despiu dos rigores do cargo e assumiu papel do cabo eleitoral mais energúmeno que possa haver”, escreveu Merval Pereira no Globo de 22/10/2010. “O presidente da República dá razão ao antecessor que o chefe de ‘chefe de facção’, quando escolhe insuflar a violência no lugar de contribuir para apaziguar os ânimos”, escreveu Dora Kramer no Estadão de 22/10/2010. “A grande questão não é o que acertou a cabeça de Serra, mas o que há na cabeça do presidente Lula”, escreveu Miriam Leitão no Globo de 23/10/2010. “O presidente sai desta eleição menor do que entrou”, resumiu Aécio Neves.

* 25 – Carreata de Lula e Dilma enfrenta alguns protestos em bairros nobres de Belo Horizonte. E ele se sai com esta: “Fico constrangido. Os ricos foram os que mais ganharam dinheiro no meu governo. O que eles não conseguiram superar foi o preconceito contra um metalúrgico ser presidente e fazer pelo Brasil o que eles não conseguiram. Agora, é preconceito e medo de ver uma mulher ganhar as eleições.” (Todos os jornais, 17/10/2010.)

* 26 – A campanha de Dilma mente até em abaixo-assinado. Puseram o nome do cineasta José Padilha na lista de artistas e intelectuais que apóiam a candidata do PT. Ele negou estar apoiando Dilma. (Todos os jornais, 20/10/2010.)

Mais grave do que terem colocado o nome de José Padilha no manifesto sem sua autorização, diz Merval Pereira no Globo de 20/10/2010, “é o fato de que dirigentes da Agência Nacional de Cinema (Ancine) atuarem fortemente para que pessoas ligadas à indústria assinassem o documento. Há indicação de que vários outros cineastas e atores, muitos inscritos à revelia, foram procurados por funcionários da Ancine na tentativa de engrossar a lista dos apoiadores da candidatura oficial.”

* 27 – O que o PT tem dito sobre dívida externa brasileira é falso”, diz Miriam Leitão na sua coluna do Globo de 20/10/2010. “O governo anterior de fato pegou um empréstimo no FMI, mas 80% dele foram deixados para ser sacados no governo Lula.” (…) Foi mais fácil para o governo Lula fazer a colheita. Ele encontrou a terra arada, e sementes germinando.
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domingo, 19 de setembro de 2010

A necessidade de destruir reputacoes - traco obsessivo de personalidades esquizofrenicas

Em política ocorrem frequentemente ataques entre os contendores de partidos diferentes na tentativa de se elegerem de maneira excludente, o que é traço característico dos sistemas majoritários, mas que também pode ocorrer nos de representação proporcional.
O que poderia ser uma saudável competição, acaba se tornando, por vezes, um feroz jogo de acusações recíprocas, em alguns casos de forma absolutamente doentia, ou até esquizofrênica.
Apenas personalidades sem qualquer caráter se dedicam a denegrir, falsamente, aqueles que consideram como seus inimigos pessoais, para disso extraírem vantagens políticas, ou ganhos eleitorais.
Esse tipo de jogo sujo vem sendo muito utilizado na campanha atual.
Por isso, talvez seja útil recordar uma carta escrita ao atual chefe do Estado pelo ex-ministro da Fazenda, no governo anterior, Pedro Malan.
É uma lição de caráter, embora os interlocutores objeto da missiva possam não ter nenhum.
Em política externa também costuma ocorrer o mesmo: inventam uma "submissão ao FMI, aos Estados Unidos", para denegrir, acusar, difamar os executores anteriores. Insistem numa história ridícula de "descalçar sapatos" para atacar os que os precederam. Proclamam, retoricamente, a "defesa da soberania", para impingir aos que os antecederam uma suposta falta de coragem na defesa dos interesses nacionais. Isso só pode revelar traços de caráter (ou falta de) que não deveriam ser admitidos no convívio entre pessoas civilizadas.
Em todo caso, deve-se sempre registrar aquilo que é digno e distinguir absolutamente de atitudes condenáveis em comportamentos políticos minimamente civilizados.
Paulo Roberto de Almeida


Prezado Lula, ou recordar é viver
Pedro S. Malan*
O Estado de S.Paulo, 08.10.2006

Prezado Lula foi o título de carta pública que dirigi ao então candidato em abril de 2002 e reproduzida a seguir (não na íntegra, por razão de espaço), dadas as tentativas de esquecer o passado recente e distorcer o passado já mais distante.

'Lamento incomodá-lo. É bem provável que você considere o que me leva a escrever como um assunto menor na ordem maior das coisas ou das suas legítimas preocupações com seu futuro político. O problema é que o assunto não é menor para mim. Porque tem a ver com minha honra, com meu nome, legado maior que deixarei a meus filhos. Algo que vou defender até o fim de meus dias. Espero que você entenda por quê...

Em longa entrevista publicada pelo Correio Braziliense em agosto de 2001, você se referiu à minha pessoa nos seguintes termos: '... o ministro Pedro Malan... parece que tem uma chave sagrada dos cofres públicos, guarda o dinheiro só para ele... e em época de eleição libera dinheiro para obras de amigos...'

Bem sei que no mundo da política as pessoas, por vezes, se deixam levar pela emoção e pela paixão e que nem sempre medem com cuidado o uso e o significado de suas palavras, principalmente quando atacam pessoalmente supostos adversários políticos. Com muito boa vontade, talvez a sua entrevista pudesse ser lida, como sugeriu uma grande admiradora sua, como uma simples metáfora, destituída de maior significado, própria do calor da hora. Infelizmente, como fui acusado diretamente, não foi assim que a interpretei.

A entrevista ocupou duas páginas inteiras do jornal. É uma entrevista importante e merece ser lida por petistas e não-petistas, pelo que revela sobre você e suas idéias. O jornal a apresentou como a primeira grande entrevista em que você assumiu, publicamente, a sua quarta candidatura à Presidência...

... em meados de novembro de 2001, antes de se encerrar o prazo-limite legal de 90 dias após a publicação da acusação, ajuizei contra você uma interpelação judicial, na 16ª Vara Federal do Distrito Federal, sem fazer divulgação dessa iniciativa. Na interpelação, reproduzi as suas próprias palavras, extraídas da entrevista, e pedi que, em juízo, você as confirmasse, desmentisse, desse as explicações que lhe parecessem necessárias, ou apresentasse as provas que justificassem as suas declarações a meu respeito.

A carta precatória enviada em dezembro pelo juiz de Brasília à 2ª Vara Federal de São Bernardo do Campo (SP) foi devolvida com a sua resposta apenas no fim de fevereiro, pois somente na oitava tentativa o oficial de Justiça conseguiu citá-lo, e assim mesmo depois de o juiz determinar que o fizesse com dia e hora marcados...

Lamento, mas a curta resposta à interpelação judicial, assinada por você e por um advogado pelo qual tenho grande respeito, Márcio Thomaz Bastos, é absolutamente insatisfatória para mim, e me leva não só a tornar pública agora a minha indignação, como a considerar a possibilidade de medidas judiciais cabíveis. A sua resposta apenas defende algo que eu jamais imaginaria questionar: o direito à crítica como inerente ao debate público. Para mim, é absolutamente trivial a observação de que homens públicos estão sujeitos, gostem ou não, a intenso escrutínio e dele não podem reclamar. É dispensável, portanto, para quem é ministro da Fazenda há sete anos e três meses, período de plena vigência das liberdades democráticas, a lembrança de que a crítica é direito assegurado a qualquer cidadão brasileiro, e também a referência óbvia de que o debate franco e aberto sobre qualquer tema é condição essencial para o desenvolvimento do processo democrático.

Vamos ser claros, Lula. O que você fez não foi uma crítica política. Apesar de na última linha de sua resposta à minha interpelação afirmar que 'em nenhum momento pretendeu atacar a honra do interpelante', o fato é que você o fez. Você me acusou de um crime. Porque guardar dinheiro público para si, e o liberar pessoalmente para 'obras de amigos', é crime, Lula. É crime grave. O acusador tem que ter provas, evidências, e você não as tem, não as tinha e nunca as terá, porque nunca fiz, não faço e nunca farei tal coisa. E você sabe ou deveria saber disto.

Não tenho absolutamente nada contra críticas. Ao contrário. Eu próprio as faço e farei, inclusive quanto ao que considero insustentáveis ambigüidades de seu discurso e de seu partido. Sou servidor público há mais de 35 anos. Nos últimos 15 anos ocupando posições de responsabilidade: representante do governo brasileiro nas diretorias executivas do Banco Mundial (Bird) e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), negociador-chefe da dívida externa brasileira, presidente do Banco Central e ministro da Fazenda... E sempre, volto a repetir, sem qualquer projeto político pessoal. Nunca, em momento algum ao longo de minha carreira, qualquer pessoa acusou-me de crime ou fez qualquer ofensa à minha honra. Você foi o primeiro - e único. E gostaria que fosse o último a me acusar de crime grave - sem qualquer evidência.

Posso estar equivocado, mas acredito que a opinião pública está se cansando desse cipoal de baixarias, agressões pessoais e acusações sem provas. Creio que a população espera - e merece - um debate público sobre idéias, projetos e programas viáveis, que possam consolidar os ganhos já alcançados pelo País e avançar mais no sentido de melhorar as condições de vida da população brasileira. É com esse espírito que sempre trabalhei, aceitando quaisquer críticas como normais. É com esse espírito que sempre procurei participar do debate público...'

Peço perdão ao leitor que até aqui chegou pela longa reprodução de texto antigo (O Globo, 14/4/2002). Mas tive o privilégio de servir a um governo honrado, com muitos colegas de integridade e caráter, em nome dos quais creio que me expresso. E para os quais, definitivamente, não era 'a mesma coisa' de agora, como pretendem alguns.

*Pedro S. Malan, economista, foi ministro da Fazenda no governo Fernando Henrique Cardoso; E-mail: malan@estadao.com.br