O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Procurando o proximo salvador da patria? - Luiz Felipe D'Avila

Concordo com o articulista em que o Brasil precisa de estadistas, mas se estamos procurando o proximo salvador da Patria, então nada poderá ser feito, sem os principais interessados na matéria.
Sinto dizer, mas não é o povo brasileiro, e sim os empresários. Enquanto estes não perceberem o que está errado e o que precisa ser feito, nada dará certo.
Paulo Roberto de Almeida 

Procura-se um estadista

O cientista político e especialista em gestão pública diz que o Brasil precisa de um líder capaz de fazer as reformas institucionais sem as quais estamos condenados à mediocridade
O Brasil precisa de uma nova safra de estadistas dispostos a arriscar o seu capital político em defesa de reformas capazes de retirar o país da atual trajetória decepcionante. A análise é do cientista político Luiz Felipe D’Ávila, presidente do Centro de Liderança Pública, entidade dedicada à preparação de administradores empenhados em aprimorar a eficácia na gestão da máquina governamental. “Se o país continuar no piloto automático, como estamos há mais de uma década, caminharemos para uma mediocridade terrível”, adverte.
Em seu mais recente livro, “Caráter e Liderança”, lançado no fim do ano passado, D’Ávila, de 50 anos, trata do papel essencial exercido pelos estadistas nos avanços institucionais. Inspirado no critério do cientista político americano Joseph Nye, para o qual os objetivos, os meios e as consequências das ações dos governantes devem ser avaliados do ponto de vista ético e da eficácia de suas políticas, D’Ávila escolheu os nove maiores estadistas brasileiros: José Bonifácio de Andrada e Silva, pela defesa da Independência; Joaquim Nabuco, a maior voz contra a escravidão; dom Pedro II, pela promoção das liberdades; Prudente de Morais, Campos Salles e Rodrigues Alves, os três primeiros presidentes civis, pela consolidação da República; Oswaldo Aranha, defensor da democracia nos anos da ditadura Vargas; Ulysses Guimarães, líder das Diretas Já; e Fernando Henrique Cardoso, pela estabilização da economia.
Veja: Como o senhor chegou aos nomes dos maiores estadistas da história brasileira?
Luiz Felipe D’Ávila: Os estadistas entendem quais são as travas ao desenvolvimento e ao fortalecimento das instituições democráticas. Apenas instituições sólidas asseguram a tríade da prosperidade: a confiança no país; a previsibilidade política e econômica; e a continuidade das boas ações públicas. A ascensão da burguesia, nas sociedades modernas, delimitou o fim da arbitrariedade dos monarcas e ensejou a transferência de poder para as demais instituições. Quanto mais sólidas as instituições, maiores a confiança e a previsibilidade. Aumenta o número de empreendedores dispostos a assumir riscos e a fazer investimentos. Na minha avaliação, esses nove estadistas foram essenciais para o fortalecimento das instituições democráticas, promovendo a superação de valores retrógrados.
Veja: Alguns analistas acham que basta a alternância de poder para depurar o sistema e promover as reformas necessárias. Nesse cenário os estadistas seriam desnecessários. O senhor concorda?
Luiz Felipe D’Ávila: As grandes reformas estruturais da história contemporânea sempre foram lideradas por estadistas. A liderança faz falta hoje ao mundo, e não apenas ao Brasil, diante da crescente complexidade dos problemas. Como disse o ex-primeiro-ministro de Luxemburgo Jean-Claude Juncker: “Todos sabemos como superar a crise europeia; apenas não sabemos como fazer isso e ganhar a próxima eleição”. Esse parece ser, tristemente, o espírito do tempo atual na política. As pessoas esclarecidas sabem o que deve ser feito, mas ninguém parece disposto a comprar a briga política. Daí a necessidade do verdadeiro estadista. No Brasil, precisamos hoje de um novo Joaquim Nabuco para promover a urgente revolução na educação — ou na saúde, ou na segurança.
Veja: Esses temas são sempre apontados como prioridade pelos políticos brasileiros. O que tem sido feito não basta?
Luiz Felipe D’Ávila: Os avanços graduais, lentos, dos últimos anos, não respondem plenamente às necessidades do país, diante do atraso de décadas e décadas. A importância da educação, lamentavelmente, parece ainda não ter sido devidamente compreendida. Não precisamos mais de mudanças graduais, mas de uma verdadeira revolução. Estamos sempre atrasados. O Brasil gasta 6% do PIB com educação, um porcentual superior ao do Japão e semelhante ao da Suíça. Mas o gasto efetivo por aluno no Brasil fica em 3.000 dólares, enquanto no Japão ele é de 10.000 dólares e na Suíça, de 15.000 dólares. O dinheiro brasileiro se perde na máquina e não chega ao aluno. O enorme custo do governo, sustentado por uma carga de impostos elevadíssima, e os recursos que não chegam aos que mais precisam — eis aí a grande reforma a ser feita no país.
Veja: Como escapar da “maldição de Juncker” quando fala em fazer o que é preciso e não perder votos?
Luiz Felipe D’Ávila: As pessoas, de fato, temem reformas. Para elas, reforma significa perder algo — e ninguém quer perder nada. Ninguém aceita perder privilégios, benefícios, subsídios. É preciso criar uma narrativa e mostrar os ganhos futuros para a maior parte da população. No Brasil falta uma narrativa que convença as pessoas a se envolver com as mudanças necessárias. As pessoas só estarão dispostas a fazer certo sacrifício se for criada essa narrativa. Daí a necessidade de um estadista. Existem os líderes que usam o poder apenas para fortalecer o mando pessoal, e existem aqueles que buscam reformar e fortalecer as instituições. Vivemos, hoje, de reformas feitas no passado. As instituições, porém, não suportam desaforos por muitas décadas. Precisamos de uma nova safra de estadistas virtuosos para dar sequência às reformas. Estamos há mais de uma década sem nenhuma grande reforma institucional no país. Estamos consumindo um capital importante que vai faltar. Fica evidente o descrédito das instituições, algo muito ruim, porque corrói os valores da democracia.
Veja: Qual o cenário para o país, caso não haja uma mudança de rota?
Luiz Felipe D’Ávila: Se o Brasil continuar no piloto automático, como estamos há mais de uma década, caminharemos para uma mediocridade terrível. Deixaremos para os nossos filhos um país com a educação falida. A evasão escolar entre os jovens de 15 a 17 anos é de 16%. Serão jovens sem condições de trabalhar nas profissões do futuro — e portanto veremos a desigualdade aumentar. Teremos uma previdência quebrada, com uma demografia negativa a partir de 2030. Vamos deixar para os nossos filhos um país sem as condições de sustentar os benefícios atuais e sem o preparo para a nova economia.
Veja: Qual é essa nova narrativa a ser apresentada aos eleitores?
Luiz Felipe D’Ávila: Haveria três objetivos centrais, na minha avaliação. Em primeiro lugar, estabelecer como meta dobrar a renda per capita em vinte anos. Se dobrássemos a renda em vinte anos, e depois a dobrássemos novamente no período seguinte, nossos filhos atingiriam uma renda quatro vezes maior que a atual, e os nossos netos teriam uma renda equivalente a dez vezes a nossa. O crescimento, quando mantido ao longo do tempo, tem efeito exponencial. É factual. Isso significa manter um crescimento médio de 4,5% ao ano. Uma vez estabelecido esse objetivo, é preciso saber quais as reformas e também os sacrifícios a ser feitos para chegarmos lá. O segundo objetivo seria colocar o país entre os dez primeiros no exame Pisa, de avaliação internacional de ensino. O terceiro objetivo seria atrair 4 trilhões de dólares em investimentos na infraestrutura. Só assim, alinhando essas três metas, o Brasil conseguirá escapar da barreira que o condena a ser, atualmente, um país de renda média.
Veja: Os objetivos da presidente Dilma Rousseff, no início de seu mandato, não eram muito diferentes desses. O que deu errado?
Luiz Felipe D’Ávila: A presidente acreditou que atingiria essas metas sem fazer nenhuma reforma. Houve uma melhora recentemente, com o governo sendo mais pragmático nas privatizações, mas ainda é pouco. Não adianta ir a Davos e dizer que o Brasil está aberto a investimentos. Os investidores estrangeiros sabem avaliar as perspectivas reais para a economia. E muito ruim quando o Brasil apresenta um resultado desastroso, como foi o caso nas notas do exame Pisa divulgadas recentemente, e o governo tenta enxergar melhoras que, na verdade, foram insignificantes. Trata-se de um caso de ausência de liderança, porque vai no sentido contrário ao de criar o necessário senso de urgência. A perda de credibilidade é rápida e a reconquista é lenta. Dilma agora luta para recuperar a confiança. Conseguirá isso apenas com ações concretas, não com discursos. Quando não existe uma visão maior, clara, voltamos para a política miúda da barganha de cargos e verbas.
Veja: Poderá haver uma mudança significativa a favor das reformas, caso algum dos candidatos de oposição saia vitorioso?
Luiz Felipe D’Ávila: Não consigo antever, hoje, uma grande mudança política mesmo com a vitória da oposição. Eduardo Campos e Aécio Neves passaram pelo governo estadual, deverão ser mais pragmáticos, e, por isso, deverão dar mais eficiência à administração da máquina pública. Mas não os vejo comprometidos com as reformas mais profundas. Falta a eles convicção. Parecem incapazes de mobilizar a opinião pública para defender a aprovação das reformas. Acredito que o Brasil terá uma mudança geracional importante a partir das eleições de 2018.
Veja:Por quê?
Luiz Felipe D’Ávila: Existe uma geração de políticos que descobriu que boa gestão dá voto. Um bom ex-prefeito será um deputado mais consciente. Serão políticos mais dispostos a correr riscos. Alguns governadores e prefeitos têm se mostrado mais pragmáticos para resolver problemas, deixando questões ideológicas e partidárias de lado. Minas Gerais, por exemplo, conseguiu avanços na educação depois de implementar critérios baseados na meritocracia, superando a resistência da máquina pública. A prefeitura do Rio de Janeiro seguiu no mesmo caminho. O prefeito precisou enfrentar a greve dos professores contrários à reforma com base no mérito. Canoas, no Rio Grande do Sul, praticamente acabou com as filas de atendimento médico. Graças a um sistema informatizado, foram marcadas 600 mil consultas por telefone. Existem bons exemplos que podem e devem ser replicados. Votuporanga, no interior paulista, é outro caso de sucesso na melhoria da educação — e por pouco não foi punida por isso.
Veja: O que ocorreu?
Luiz Felipe D’Ávila: O Ministério da Educação ameaçou cortar os recursos para o financiamento do programa por causa do bom desempenho da rede municipal no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica). A prefeitura ficou desesperada. Chegou-se até a pensar em importar maus alunos de municípios vizinhos para baixar a média e assim preservar os recursos. Mas acabou havendo um acordo com outros municípios da região, e a verba do programa foi mantida.
Veja: Getúlio Vargas costuma encabeçar todas as listas feitas sobre os maiores brasileiros do século XX. Muitos o apontam como o maior estadista da história do país. Por que ele não mereceu um lugar na sua lista de grandes estadistas?
Luiz Felipe D’Ávila: Não adianta apenas os objetivos serem louváveis. Getúlio fez as reformas trabalhistas, ampliou os direitos sociais, incentivou a industrialização. Mas não podemos perder de vista como isso foi feito. Não podemos esquecer também as conseqüências. Getúlio conduziu a revolução de 30 com a bandeira de fortalecer as instituições brasileiras. Mas fez o contrário. Usou o poder para enfraquecer as instituições democráticas e implementar a ditadura do Estado Novo. Getúlio fez tudo a seu alcance para enfraquecer a democracia. Ele rejeitava a alternância de poder.
Veja: Lula não se mostrou um verdadeiro estadista, ao manter a política econômica de FHC e recusar um terceiro mandato?
Luiz Felipe D’Ávila: Sem dúvida, Lula teve seu momento de estadista com a divulgação da Carta ao Povo Brasileiro, na campanha eleitoral de 2002. Nela, ele se compromete a manter a política econômica de Fernando Henrique e respeitar os contratos. Ao assumir a presidência, porém, a busca incessante — e quase narcisística — pela popularidade o fez deixar de lado as reformas. Então, na minha avaliação, ele não pode ser considerado um grande estadista. Se os políticos pensarem sempre na próxima eleição, se tiverem o receio de correr riscos em benefício da próxima geração, nunca vão fazer ou liderar as reformas estruturais. Foi o que aconteceu com Lula. Ele tinha capital político para fazê-las, mas foi avaro e optou por investir apenas na própria popularidade.
Fonte: Veja (Edição de 5 de fevereiro de 2014)

2


SOBRE LUIZ FELIPE D´ÁVILA


Luiz Felipe D´Ávila

É formado em ciências políticas pela Universidade Americana em Paris e mestre em administração pública pela Harvard Kennedy School. Preside o Centro de Liderança Pública (CLP). É sócio-fundador da SYKUE Bioenergya e da ACCION Microfinanças - instituição sem fins lucrativos, especializada em microcrédito, que atua na região norte do Brasil. Fundou a Editora D’Avila, que lançou as revistas “República” e “BRAVO!”. Escreveu editoriais de política para os jornais “Gazeta Mercantil” e “O Estado de S. Paulo”. Foi comentarista político das TVs "Manchete" e "Record" e da rádio "Trianon". É membro do Conselho Consultivo do Grupo Pão de Açúcar (CBD) e “Member at Large” do Conselho do Human Rights Watch. Foi diretor do Instituto Brasileiro de Direito Constitucional e membro do Conselho da Associação de Apoio ao Programa Comunidade Solidária. É autor dos livros: "O crepúsculo de uma era" (Maakron Books,1995), “Dona Veridiana: a trajetória de uma dinastia paulista" (A Girafa, 2004), “Os virtuosos” (A Girafa, 2006) e “Cosimo de Médici” (Ediouro, 2008); “Memórias de um líder renascentista” (Ediouro, 2008).

Pequena aula de economia para governantes impermeaveis - Raul Velloso


Custos da guinada populista

Os movimentos de subida e descida dos preços são a essência do funcionamento das economias de mercado. Se algo se mostra escasso, os preços devem subir. Se abundante, devem cair. Os preços são os sinalizadores básicos para a movimentação de recursos e determinação das quantidades produzidas e consumidas. Por isso precisam deslocar-se o mais livremente possível. Interferir no processo implica, em geral, desvirtuar o sistema de mercado para agradar a alguns e impor custos a outros segmentos da sociedade que, mais cedo ou mais tarde, pagarão a conta.
Quando os governos e os dirigentes políticos em geral entram na estória, a lógica do mercado se vai. Visando à eleição, a palavra de ordem da grande maioria é agradar aos eleitores no prazo relevante para a duração dos mandatos, ainda que isso se dê à custa do comprometimento dos objetivos de longo prazo. Assim, enquanto alguns são paparicados no presente, os que serão prejudicados no futuro quase nunca são consultados.
Para os políticos, a velha saída é buscar alinhar as demandas sociais às mudanças inevitáveis de preços relativos. Ou seja, defende-se a suavização do efeito das subidas dos preços de determinados bens ou serviços relativamente aos demais, basicamente à custa do orçamento público ou, no pior caso, da desorganização da economia.
São várias as instâncias em que isso ocorre no nosso dia a dia. Há países que levam esse processo a extremos e, sem muita demora, acabam entrando em colapso. Ao longo de vários anos em que parecia ir bem, a Argentina tanto abusou de medidas populistas, e agora se vê diante de uma de suas mais sérias crises econômicas. Com tarifas de energia elétrica muito abaixo de onde deveriam estar, o consumo desse insumo fundamental está completamente fora da realidade do país. A ponto de quase ninguém se preocupar em fechar janelas de salas onde o ar-condicionado está ligado. Quem vai investir nesse setor sabendo que dependerá de subsídios prometidos por um governo em grave crise financeira? Em países em que o preço da gasolina está muito abaixo do custo real, como na Venezuela, os engarrafamentos gigantescos são corriqueiros e as ruas estão cheias de carrões bebedores de combustível. Ou seja, não são exemplos a serem seguidos.
Mesmo assim, em que pese certo sucesso obtido em anos recentes, o Brasil acaba de ser incluído por um banco internacional num time pouco recomendável: o dos “cinco frágeis”, juntamente com Indonésia, Turquia, África do Sul e Índia. Esses países apresentam déficits altos no setor público e nas contas externas, além de outras mazelas macroeconômicas. Diariamente, os jornais publicam informações sobre saídas de recursos e a consequente subida das taxas do risco Brasil. Muito disso tem a ver com a guinada populista que o país deu nos últimos anos.
Por mais que o Brasil disponha de estoque inédito de reservas em divisas, é hora de repensar o modelo populista em vigor e preparar o país para uma nova fase
Nas concessões de transportes, a palavra de ordem no ambiente governamental tem sido perseguir as menores tarifas imagináveis — e não as menores possíveis. As próprias tarifas-teto dos leilões de concessões, que deveriam ser bem altas para permitir forte competição do máximo possível de candidatos, foram achatadas ao limite, levando a eventos completamente vazios de postulantes. Após um ano de conversas com o setor privado, o governo acabou recuando e montando certames minimamente eficientes. Agora canta vitória com a sucessão de leilões que ficaram em pé, vencidos por candidatos tradicionais desse mercado.
O mesmo ocorre em energia elétrica, onde, levada ao extremo, a busca excessiva de modicidade tarifária no curto prazo tem estimulado o consumo além da conta e, ao mesmo tempo, comprometido a justa remuneração dos investidores e, por consequência, sua capacidade de investimento. Além disso, prejudica-se a qualidade do serviço e a universalização do atendimento, enquanto outros objetivos em tese são perseguidos. Sem falar na obtenção de ganhos de produtividade, fundamentais para viabilizar a modicidade tarifária a longo prazo.
No momento, diante dos equívocos da política oficial e da escassez hidrológica, que reduz a capacidade de produção das hidrelétricas, usinas de custo cada vez mais alto vêm sendo acionadas, elevando fortemente os custos energéticos. Como o governo não quer o desgaste de repassar esses aumentos aos consumidores, resolveu bancar a manutenção das tarifas atuais por meio do orçamento federal, vale dizer, dos contribuintes em geral, agravando o problema de queda da credibilidade fiscal, em que também está imerso. Outro sério problema é a decisão de não reajustar as tarifas de ônibus e os pedágios, um claro desrespeito aos contratos respectivos. A virtual derrocada das economias da Argentina e da Venezuela e a deterioração do cenário internacional deveriam acender uma luz amarela nos radares do governo. Por mais que o Brasil disponha de estoque inédito de reservas em divisas, é hora de repensar o modelo populista em vigor e preparar o País para uma nova fase. As políticas que fazem sentido devem assumir a linha de frente do processo, incluindo as tão propaladas, mas nunca implementadas, reformas estruturais.
Fonte: O Globo, 10/02/2014

2


SOBRE RAUL VELLOSO


Raul Velloso

Raul Velloso é consultor econômico e ex-secretário de Assuntos Econômicos do Ministério do Planejamento. Tem especialização em análise macroeconômica e finanças públicas. É Ph.D em economia pela Universidade de Yale, nos EUA. Foi membro do Conselho de Administração do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), membro do Conselho de Administração da Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer) e membro do Conselho Técnico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Perguntas ao governo que permanecerao sem resposta - Jose Roberto Guzzo

“Outras perguntas”, por J.R. Guzzo

Encaminhamos à apreciação das autoridades federais, novamente, algumas perguntas sobre questões de possível interesse para o leitor. Como costuma acontecer, não virá nenhuma resposta, mas é dever desta revista fazer o que pode, mesmo sabendo que o governo não reconhece a existência no Brasil de cidadãos capazes de ter dúvidas — brasileiros que terminaram o ensino básico, pensam com a própria cabeça e podem, eventualmente, não entender direito que diabo está acontecendo com seu país.

Por que o governo continua a olhar sem fazer nada, como se o fato estivesse acontecendo na Transilvânia, o estelionato praticado sistematicamente contra o trabalhador brasileiro pelas altas autoridades que decidem qual é o saldo que ele tem, ao fim de cada mês, no Fundo de Garantia? Ao longo dos últimos quinze anos, cerca de 20% do dinheiro que os trabalhadores têm no FGTS sumiu, mastigado por cálculos de reajuste que sempre ficam abaixo da inflação. O Partido dos Trabalhadores, a esse respeito, já teve onze anos inteiros para fazer alguma coisa a favor dos trabalhadores. Não fez. Por quê?

Os jornalistas Gustavo Patu e Mario Kanno, do blog “Dinheiro Público & Cia”, tiveram a paciência de ler do começo ao fim a ata que o Banco Central soltou depois de sua última reunião, no fim de janeiro. Chegaram a uma conclusão assombrosa: os dirigentes do BC precisaram escrever nada menos de 74 parágrafos para explicar por que subiram a taxa de juro em 0,5 ponto percentual. Embora o idioma oficial do Brasil seja o português, a maior parte do texto era ocupada por frases como a seguinte: “O Copom entende ser apropriada a continuidade do ritmo de ajuste das condições monetárias ora em curso”. Ou: “Não obstante a concessão neste ano de reajuste para o salário mínimo não tão expressivo quanto em anos anteriores, bem como a ocorrência nos últimos trimestres de variações de salários mais condizentes com as estimativas de ganhos de produtividade do trabalho, o Comitê avalia que a dinâmica salarial permanece originando pressões inflacionárias de custos”. Se era para ninguém entender nada, por que escrever tanto?

Por que Dilma deu de presente a Cuba um porto novo em folha, no valor de 1 bilhão de dólares, enquanto nossa soja ficará apodrecendo no pé?

Haveria alguma explicação lógica para a presidente da República anunciar a “construção de 6 000″ creches e, ao fim do prazo fixado para isso, entregar só 1 000? Ou, pior ainda, por que Dilma prometeu um ano atrás construir “mais de 880 aeroportos regionais”, como lembrou há pouco o colunista Lauro Jardim, de “Veja”, e conseguiu a proeza de não entregar nenhum — um só que fosse? Como se pode explicar, mesmo para uma classe do 1º ginasial, que um governo com um mínimo de amor-próprio cometa erros tão grosseiros assim? Dilma também prometeu ferrovias que não vai entregar, e águas que não vai transpor, nem do São Francisco nem de lugar nenhum. “Falta de dinheiro” é a resposta comum em todos esses casos. Mas então por que, se o dinheiro está tão escasso, o governo paga 54 000 reais por mês de aluguel para dar um teto ao seu diplomata-mor em Nova York?

O Brasil, como já se estima há bom tempo, deve ter uma safra recorde de 90 milhões de toneladas de soja em 2014. Também já se sabe que mais de 20% desse total será simplesmente jogado no lixo, porque os portos brasileiros não têm condições de escoar uma produção de tamanho volume. Por que, sabendo perfeitamente disso tudo, o governo aplicou miseráveis 15 milhões de dólares em seus portos em todo o ano de 2013 — contra, por exemplo, 1,4 bilhão de reais gastos para construir o Estádio Mané Garrincha, em Brasília? Pior: por que Dilma deu de presente a Cuba um porto novo em folha, no valor de 1 bilhão de dólares, enquanto nossa soja ficará apodrecendo no pé?

Sabe-se que o bacharel José Eduardo Cardozo é ministro da Justiça, mas de que país? Recentemente, comentando os horrores sem paralelo ocorridos na penitenciária de Pedrinhas, no Maranhão, ele disse o seguinte: “O sistema carcerário no Brasil é medieval”. E quem é o responsável por isso? O governo brasileiro, claro, e especialmente a área dirigida por ele próprio, Cardozo. Não dá para dizer que a calamidade — o Brasil tem no momento 550 000 presos para 350 000 vagas na cadeia — seja obra das elites de direita: o PT já está há onze anos no governo, e isso é tempo mais do que suficiente para melhorar alguma coisa, por menor que seja, em qualquer situação de catástrofe. De lá para cá, o ministro não mexeu um palito para eliminar o inferno de Pedrinhas; fez questão, porém, de levar a “solidariedade” do Palácio do Planalto à governadora Roseana Sarney, a quem cabe cuidar do presídio. Por quê?

Fonte: Veja


Niall Ferguson e os seis fatores que explicaram a ascendencia ocidental (agora em declinio)

Palestra do historiador Niall Ferguson no TED: 


TALKS

Niall Ferguson: The 6 killer apps of prosperity

FILMED JUL 2011 • POSTED SEP 2011 • TEDGlobal 2011
TEDGlobal 2011

TED CONVERSATIONS





Notas para sua exposição oral, neste link:
http://www.themindseye.ca/kyotsu/killerapps-notes.pdf

Carreira diplomatica: Portaria abre o concurso de 2014: 18 vagas apenas

Atenção, interessados em seguir a carreira diplomática: foi publicada no Diário Oficial da União a portaria que estabelece as normas para o Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata de 2014.

PORTARIA N° 77, DE 13 DE FEVEREIRO DE 2014

O MINISTRO DE ESTADO, INTERINO, DAS RELAÇÕES EXTERIORES, no uso de suas atribuições, de acordo com o estabelecido no Decreto nº 6.944, de 21 de agosto de 2009 e tendo em vista o disposto nos artigos 1º e 5º do Regulamento do Instituto Rio Branco, aprovado pela Portaria de 20 de novembro de 1998, publicada no Diário Oficial da União de 25 de novembro de 1998, resolve:

Art. 1º. Ficam estabelecidas as normas que se seguem para o Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata de 2014.

Art. 2º. O Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata de 2014 constará, na Primeira Fase, de prova objetiva, de caráter eliminatório e classificatório, constituída de questões de Português, de História do Brasil, de História Mundial, de Geografia, de Política Internacional, de Inglês, de Noções de Economia e de Noções de Direito e Direito Internacional Público.
Parágrafo Único. Será estabelecida reserva de vagas na Primeira Fase para candidatos afrodescendentes.

Art. 3º. A Segunda Fase constará de prova discursiva eliminatória e classificatória de Português.
Parágrafo Único. Será estabelecida nota mínima para a prova de Português.

Art. 4º. A Terceira Fase constará de provas discursivas de: a) História do Brasil; b) Geografia e Política Internacional; c) Língua Inglesa; d) Noções de Economia; e) Noções de Direito e Direito Internacional Público; f) Língua Espanhola e Língua Francesa.
Parágrafo 1º. As seis provas da Terceira Fase terão peso equivalente.
Parágrafo 2º. Será estabelecida nota mínima para o conjunto das provas da Terceira Fase.

Art. 5º. Serão oferecidas, no Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata de 2014, 18 (dezoito) vagas para a classe inicial da Carreira de Diplomata.

Art. 6º. O Diretor-Geral do Instituto Rio Branco fará publicar o Edital do Concurso.

Art. 7º. O prazo de realização da primeira prova, com relação à data de publicação do Edital do Concurso, será reduzido para 48 (quarenta e oito) dias, nos termos do Art. 18, §2º. do Decreto nº 6.944, de 21 de agosto de 2009.

EDUARDO DOS SANTOS

http://pesquisa.in.gov.br/imprensa/jsp/visualiza/index.jsp?data=14%2F02%2F2014&jornal=1&pagina=39&totalArquivos=176

Uniao Europeia preocupada com o seu futuro (havera futuro para a UE?) - documentos de discussao

Alertado pela mensagem do economista e blogueiro Mansueto Almeida, que está partindo hoje para a Europa para participar de dois dias de debates sobre o futuro da Europa no mundo globalizado, fui buscar os documentos, não linkados em seu post (aqui).
Descobri um exercício do qual sei existirem exemplos anteriores: a Estratégia de Lisboa, por exemplo, que elaborada em 2000, previa para a Europa, em 2010, apresentar-se como a mais avançada sociedade do conhecimento do mundo, o que, sabemos, revelou-se completamente errado.
Mas, enfim, sempre se deve continuar tentando...
 Minha impressão é a de que os europeus ainda não decaíram o suficiente, que ainda falta muito desastre e retrocesso para que eles se convençam, finalmente, que o seu modelo social não se sustenta sem um alto crescimento da produtividade, e que as atitudes auto-satisfatórias que eles assumem são uma cortina de fumaça sobre os problemas reais.
Por isso não hesito em prever um pouco mais de decadência.
Mas, vamos ao exercício intelectual, neste link:
http://europa.eu/espas/pdf/espas_report_ii_01_en.pdf
Paulo Roberto de Almeida

The European Union needs a strategic capacity to carry out effective foresight across key long-term trends shaping society. This has led to the creation of the European Strategy and Policy Analysis System (ESPAS), a unique inter-institutional project aimed at strengthening the EU's efforts in the crucial area of forward planning. ESPAS brings together the European Commission, the European Parliament, the Secretariat General of the Council of the European Union and the European External Action Service to strengthen the Union's collective administrative capacity to identify and analyse the key trends and challenges, and the resulting policy choices, which are likely to confront Europe and the wider world in the decades ahead.
More


The European Strategy and Policy Analysis System (ESPAS) was initiated in 2010, when a pilot project launched by the European Parliament laid the foundations for cooperation and dialogue between the four participating organisations. The result of this pilot was the publication of a report in the spring of 2012 by the European Union Institute for Strategic Studies (EUISS) entitled 'Global Trends 2030 – Citizens in an Interconnected and Polycentric World' pdf - 5 MB [5 MB] which assessed the long-term political and economic environment facing the EU over the next 20 years. The report identified several global trends that will shape the world in 2030. They include:
  • The empowerment of the individual, which may contribute to a growing sense of  belonging to a single human community;
  • Greater stress on sustainable development against a backdrop of greater resource scarcity and persistent poverty, compounded by the consequences of climate change;
  • The emergence of a more polycentric world, which could also be characterised by a shift of power away from states;
  • Growing governance gaps as the mechanisms for inter-state relations may fail to respond adequately to global public demands.
In 2011, the EP gave the go-ahead for a second stage in the project – a so-called 'Preparatory Action' – with a view to putting in place by 2014 a permanent inter-institutional system to identify and analyse long-term trends.
In 2012, three inter-institutional working groups were set up to oversee an intensive analytical process, including outreach to those interested in engaging with ESPAS,  in order to draft trend reports in three key fields: the economy, society, and governance and power. The process will result, in 2014, in the publication of a detailed appraisal of long-term global trends and the challenges and options for the period 2014/2019. This will be submitted to the incoming Presidents of the EU institutions.
Mission
By 2014, when ESPAS’ final report is published, the institutions’ shared commitment to collective, strategic thinking should have laid the ground for more permanent cooperation and dialogue. The report itself will help define strategic options for the next EU institutional cycle – from 2014 to 2019 – and beyond.
Task force
ESPAS is steered by a ‘quadrilateral’ inter-institutional Task Force bringing together the European Parliament, the General Secretariat of the Council of the European Union, the Bureau of European Policy Advisers (BEPA) of the European Commission and the European External Action Service (EEAS). The Task Force has a supervisory role, while the shared nature of ESPAS’ political ownership also provides a basis for a permanent foresight capacity.
Legal basis


Draft Report on Forward Policy Planning and long-term trends: budgetary implications of capacity-building