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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Itamaraty bolivariano? Ou diplomacia partidaria? - Marcelo Coutinho

A decadência do Itamaraty petista

Em artigo publicado no jornal O Globo, Marcelo Coutinho sugere mudança profunda na política externa, indicando seis pontos. Faltou concluir que, com o Partido Totalitário no poder, não haverá qualquer mudança: o Brasil continuará apoiando ditaduras, a serviço da ideologia e não dos interesses nacionais:

Há um consenso crescente na sociedade de que a política externa brasileira deixou de atender aos interesses nacionais. Do comércio exterior aos direitos humanos, o Brasil hoje não aparece bem. Recuamos à era dos militares dos anos 1970 na agenda internacional da democracia e retrocedemos ainda mais nas exportações para um padrão anterior a JK.

Nos últimos anos, o governo deu repetidas demonstrações de apreço a regimes autoritários, inclusive na América do Sul, enquanto também tratou de acelerar o processo de desindustrialização nacional. O país foi resumido a uma fonte de produtos básicos que apoia ditaduras. Isso ocorreu porque desde a crise de 2008 palacianos e diplomatas do Itamaraty apostaram na derrocada dos EUA e em tudo o que a “América” representa em termos de regime político e econômico.

Daí vieram o apoio ao Irã, a embaixada na Coreia do Norte, a tentativa de piorar a situação em Honduras, a descompostura nos fóruns de direitos humanos na ONU e na OEA, o perdão de dívidas de antigas ditaduras na África, a recusa a apoiar a Primavera Árabe, a aceitar refugiados, o alinhamento incondicional ao Brics, o abandono do Mercosul e a cumplicidade com retrocessos autoritários em países como a Venezuela.

O último grande erro da nossa diplomacia foi a abstenção na resolução da ONU pela integridade territorial de uma nação soberana, apresentada pela Ucrânia. O Itamaraty deixou de reafirmar o princípio da inviolabilidade de espaços nacionais apenas para garantir a vinda do presidente russo ao Brasil. Ficamos isolados na Assembleia Geral das Nações Unidas. Foi a gota d’água. Chegou o momento de uma mudança profunda na política externa a partir de seis pontos principais.

Primeiro, flexibilizar a Tarifa Externa Comum do Mercosul, para que possamos estabelecer acordos comerciais livremente. Podemos revisitar a TEC de maneira permanente ou por um prazo de até cinco anos, preservando o restante do bloco. Com isso, fecharíamos de imediato o acordo com a Europa e daríamos início a outras negociações.

Segundo, integrar a nossa indústria ainda competitiva às redes globais de produção. Particularmente, deveríamos promover um programa de integração das cadeias produtivas industriais na América Latina, a começar pelo setor automotivo, dentro de uma estratégia bilateral eficiente.

Terceiro, fazer a reconciliação do Brasil consigo mesmo, da política externa com o que a população brasileira espera dela, defendendo com clareza os temas do meio ambiente, da democracia e dos direitos humanos no mundo, e fortalecendo suas instâncias multilaterais. Na maior parte das vezes, uma palavra contra os abusos já basta. Apenas com essas bandeiras valeria a pena lutar por um assento fixo no Conselho de Segurança da ONU.

Quarto, buscar para valer a reaproximação com os EUA e com o Ocidente em geral, sem prejudicar as relações com o mundo emergente, de uma maneira mais efetiva que ultrapasse as meras cordialidades de praxe. O Brics deve ser uma plataforma a mais da inserção brasileira no mundo, e não a suprema. O universalismo das nossas relações não pode ser confundido com antiamericanismo.

Quinto, desenvolver um plano regional de combate ao narcotráfico e ao tráfico de armas. A segurança humana assumiria bem mais importância do que tem hoje no Conselho de Defesa da Unasul. Países como Paraguai, Bolívia e Colômbia seriam alvos principais dessas articulações com os governos vizinhos.

Sexto e último, modernizar o Itamaraty, tornando-o menos insulado e mais permeável aos interesses da sociedade, bem como das análises dos melhores especialistas de área oriundos da academia. Essa nova agenda de trabalho recolocaria o Ministério das Relações Exteriores e o país em um patamar mais elevado.

Ofensas e xingamentos: a maneira correta de se desfazer de politicos incompetentes, corruptos, fraudulentos, etc - Claudio Schamis

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A coluna Grita Brasil é publicada às quintas
GRITA BRASIL

OH Dilmaaaaaaaaaaaaaa!!!

Dilma, o que aconteceu no estádio foi um 'malfeito'. Mas, agora, estou acreditando mais que o 'xingamento' oficial poderá ser dado nas urnas

por Claudio Schamis
fonte | A A A
Danou-se agora!
Por um momento voltamos aos tempos de Fred Flinstone. Pode isso não. Xingar uma presidente em rede nacional e para o mundo é uma coisa muito feia. Apesar de não termos Educação, a outra educação, aquela que vem de berço, deve ser preservada. Devemos mostrar ao governo que apesar de tudo, apesar de todas as pancadas que eles nos dão há anos, desde os tempos do Lula, sabemos separar as coisas. Sabemos separar o joio do trigo. Sabemos respeitar apesar de não sermos respeitados. Afinal não devemos adotar o olho por olho, desrespeito por desrespeito.
Sim, meu caro leitor, o governo com todos os seus desmandos, “malfeitos”, palavras e promessas vem nos desrespeitando todos os dias. E lá se vão mais de dez anos de um governo omisso, podre, corrupto e mesquinho. E não me venham dizer que porque o governo criou o Bolsa Família, o Minha Casa, Minha Vida ele não o é. Menos meu povo, menos.
Foi um episódio tão feio quanto foi a abertura da Copa. O que foi aquilo lá? Abafa o caso. Foi bem “padrão Brasil”, como a Dilma quer pregar.
Aliás, Dilma disse que já superou agressões físicas quase insuportáveis e nada a tirou do rumo. Que rumo é esse, nós sabemos. Infelizmente. E Dilma disse ainda que o povo brasileiro não age assim. É civilizado, generoso e educado. Mas convenhamos que quem estava no estádio também é parte do povo. Não sabemos se a plateia fosse outra a reação ia ser diferente. E nunca vamos saber, porque a Copa do Mundo dentro dos estádios não pertence aos que ganham o Bolsa Família e ao proletariado que mal ganha para se sustentar.
Mas, Dilma, fica triste não. Isso passa. Sei que você ficou até gripada para não ter que ir à convenção de Padilha, em São Paulo, o que constrangeu um pouco o PT. Mas quer saber? Eu não tô nem aí. Você é do PT e vocês é que se entendam. Eu achei muito feio da sua parte.
Dilma, isso é tudo fruto do que você e o PT fizeram e também não fizeram. Aqui, fazer e não fazer andam de mãos dadas, e você não percebeu isso. E nunca vai. Porque na cabeça de vocês, vocês já fazem muito. E ainda trouxeram a Copa do Mundo para um país que realmente não precisa disso agora. Só falta agora você dizer que foi um erro de avaliação, que algum relatório não lhe foi entregue, tipo Pasadena.
Então, Dilma, aproveito esse espaço para te pedir desculpas por essas pessoas terem te xingado dessa forma. Desejo toda a sorte do mundo pra você. Quero de coração que você, depois de encerrada as eleições, possa ir tomar uma água de coco em Tristan de Cunha. Por que Tristan de Cunha? Dizem que é perto de lá.
Eu nunca na minha vida disse um palavrão (Reprodução/Internet)
E o Lula? O Lula…
O Lula tem me causado um asco tão grande em suas últimas aparições que não sei não. Um dia eu não me seguro e mando ele… Vai Lula, vai Lula! Vade retro!
Lula e o Rui Falcão foram os únicos do time deles que se manifestaram em defesa da presidente pela agressão sofrida na abertura da Copa. Lula inclusive disse que aquilo não foi uma ofensa à presidente, foi um ato de cretinice. E arrematou que a vitória deles será a vingança. Uma vingança – caso ocorra – bem das malignas.
Se bem que o Lula não tem propriedade para falar nada. E o cretino dessa história é ele, vamos combinar. Lula que disse que nunca ninguém o viu dizer “um palavrão” contra nenhum presidente apesar de ter razão até para dizer. Mas esquece ele que já ofendeu, sim, dois presidentes, sendo um deles o José Sarney, que em 1987 foi chamado de forma indireta de “grande ladrão” do país – nisso eu concordo com ele – e a quem hoje defende dizendo que ele não pode ser tratado como uma pessoa comum. Outro presidente ofendido foi Itamar Franco, em 1993, quando Lula era presidente do PT e comentou com jornalistas em uma conversa informal, que achava Itamar “um fdp” por estar perdendo a oportunidade de fazer um bom governo.
Lula, se Itamar é por essa razão, isso lhe faz o que então?
Quer saber, acho que o Lula deve ser uma pessoa doente. Doente da cabeça. Com mania de perseguição e com um grave problema de aceitação. De aceitar as críticas sem rebatê-las dizendo simplesmente que é um movimento para acabar com o PT feito por uma elite e blá, blá, blá.
E mais absurdo ainda é Lula virar e dizer que se “esse tipinho” de gente que xingou a Dilma acha que fazendo isso vai amedrontá-los, estão muito enganados. Que se ele, Lula, tivesse medo dessa gente, teria pedido para sua mãe ter abortado dele – pena que ele não conseguiu se comunicar à época -, que ele nasceu para enfrentar esse tipo de gente. E para completar a mente suja dele, ele solta que os xingamentos no estádio teriam partido de “gente que não sabe o que é um calo na mão” e que “tinha cara de tudo, menos de pessoas trabalhadoras deste país”. Meu Deus.
Ou seja, os brasileiros que frequentam os estádios são vagabundos. Ou vai me dizer que não foi isso que ele disse, só que com outras palavras?
Lula cai na real. Seu tempo acabou. E por favor, CALA A BOCA!
A maneira mais democrática de mandar um político tomar seu rumo de casa (Reprodução/Internet)
Será meu povo?
Eu, que em minhas últimas colunas vim lamentando que não tivesse mais jeito, e que talvez tivéssemos que engolir mais quatro anos da dupla Dilma & Lula – porque nada me tirar da cabeça que esse sujeito ainda manda nessa bagaça –, depois da abertura da Copa, do xingamento – impróprio – e de ver a queda da Dilma nas pesquisas e várias postagens contrárias à candidatura de Dilma no Facebook, no Twitter, tenho acordado mais esperançoso. Um pouco mais confiante que talvez possa ser. Será mesmo?
Sei que, ao mesmo tempo, Lula e Dilma vão dizer que quem usa Twitter e Facebook é a mesma elite que xingou ela no estádio e que os trabalhadores mesmo, os de verdade têm Orkut e não fazem parte dessa pequena minoria.
Eu sou vou te falar uma coisa Dilma, o que aconteceu no estádio foi um “malfeito” como você mesma gosta de definir as coisas erradas que acontecem em seu governo, te peço mais uma vez desculpas. Mas agora eu como disse estou acreditando mais que o nosso “xingamento” oficial, honroso poderá ser dado nas urnas. Aliás, é só lá que nós podemos começar a mudar as pessoas que podem talvez mudar o nosso país. A mudança começa através de nossas mãos e consciências.

Eleicoes 2014: cai a margem de elegibilidade da favorita - Fernando Rodrigues

Dilma tem 39%, Aécio, 21%, e Campos, 10%, diz Ibope

Fernando Rodrigues
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Pesquisa foi realizada nos dias 13 a 15.jun; margem de erro é de 2 pontos percentuais
Petista teria de enfrentar um segundo turno se a disputa fosse hoje
Aprovação ao governo Dilma caiu 5 pontos percentuais em relação à última pesquisa
A presidente Dilma Rousseff (PT) lidera a corrida presidencial com 39% das intenções de voto, segundo pesquisa CNI/Ibope realizada nos dias 13 a 15 de junho. Com essa pontuação, a petista teria de enfrentar um segundo turno se a disputa fosse hoje, pois a soma de todos os seus adversários é de 40%. A margem de erro da pesquisa é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos.
No Brasil, vence a eleição no primeiro turno quem tem, pelo menos, 50% mais 1 dos votos válidos (aqueles dados aos candidatos).
Em segundo lugar, de acordo com o Ibope, está Aécio Neves (PSDB), com 21%. Depois, vem Eduardo Campos (PSB), com 10%. E os outros: Pastor Everaldo (PSC) tem 3%, Magno Malta (PR), 2%, e José Maria (PSTU), 1%. Os demais candidatos nanicos somam 3% das intenções de voto.
Em relação ao levantamento anterior do Ibope, realizado nos dias 15 a 19 de maio, Dilma oscilou dentro da margem de erro 1 ponto percentual. Ela tinha 40%.
Todos os outros candidatos tiveram também variações dentro ou próximas à margem de erro.
Aécio Neves tinha 20% e agora está com 21%. Eduardo Campos registrava 11% e foi a 10%. Everaldo Pereira (PSC) tinha 3% e manteve o mesmo percentual.
SEGUNDO TURNO
Se Dilma enfrentasse Aécio no segundo turno, a petista venceria com 43% contra 30% do tucano, uma diferença de 13 pontos percentuais.
Em 15 a 19 de maio, no último levantamento Ibope, Dilma teria 43% contra 24% de Aécio, uma vantagem maior, de 19 pontos.
O estreitamento da liderança petista num eventual segundo turno também ocorreu em relação a Eduardo Campos. Antes, a petista venceria com 42% contra 22% do pessebista, vantagem de 20 pontos. Agora, de 43% a 27%, diferença de 16 pontos percentuais.
REJEIÇÃO
A taxa de rejeição de Dilma aferida pela pesquisa CNI/Ibope é de 43% –esse percentual dos eleitores afirma que não votará na petista “de jeito nenhum'' para presidente da República. A taxa de rejeição de Aécio Neves é de 32% e a de Campos, 33%.
A pesquisa Ibope anterior fez uma pergunta formulada de maneira diferente da realizada pelo atual levantamento quando se apurou a rejeição aos candidatos. Eis a diferença:
Pergunta sobre rejeição no levantamento divulgado nesta 2ª feira (19.jun.2014): “Gostaria que o sr. me dissesse qual destas frases melhor descreve a opinião sobre ele''. Uma das respostas era: “Não votaria nele de jeito nenhum para presidente''.
Pergunta sobre rejeição no levantamento anterior (14 a 17 de março de 2014): “E em qual desses possíveis candidatos a Presidente da República o(a) sr(a) não votaria de jeito nenhum? Mais algum? Algum outro?''
Por causa da diferença metodológica, seria um erro comparar os indicadores de rejeição dos dois levantamentos. Para registro, eis o que a pesquisa anterior do Ibope apurou:
Dilma tinha 33% de rejeição, Aécio, 20%, e Campos, 13%.
APROVAÇÃO DE GOVERNO
A taxa de aprovação à administração da presidente Dilma Rousseff caiu 5 pontos percentuais e está em 31% (quem responde que o governo é “bom” ou “ótimo”). Na pesquisa Ibope anterior que fez essa medição, custeada pela CNI, em 14 a 17 de março, o percentual era de 36%.
Para 34%, o governo Dilma é regular. E outros 33% consideram a administração petista ruim ou péssima.
Quando o Ibope pergunta sobre a maneira de governar, 44% dizem aprovar e 50% desaprovar a forma como Dilma conduz o país. Essas taxas eram de 51% e 43%, respectivamente, na pesquisa anterior.
Sobre a confiança na presidente, a taxa agora é de 41% –antes era de 48%.
A pesquisa do Ibope foi custeada pela CNI e entrevistou 2.002 pessoas nos dias 13 a 15 de junho de 2014. Está registrada na Justiça Eleitoral sob o protocolo BR-00171/2014.
Este Blog mantém a mais completa página de pesquisas eleitorais da internet brasileira, com levantamentos de todos os institutos desde o ano 2000. É possível consultar os cenários do 1º turno de 2014 para as disputas de presidente,governador e senador.
O blog está no Twitter e no Facebook.

Eleicoes 2014: o criador contra a criatura? Ou um caso de desespero?

Ausência de assessor de Dilma numa reunião de campanha eleitoral do PT
Por Andréia Sadi e Valdo Cruz
Folha de S.Paulo, 19/06/2014

A ausência do assessor mais próximo da presidente Dilma Rousseff numa reunião dos coordenadores da sua campanha à reeleição, em São Paulo, gerou mal-estar no Palácio do Planalto, criando ruído entre aliados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de sua sucessora. Ex-chefe de gabinete de Dilma, Giles Azevedo não participou de um encontro de Lula com coordenadores da campanha petista há cerca de dez dias, realizado logo após reunião do Instituto Lula em cerca de 30 pessoas discutiram a conjuntura econômica. Lula aproveitou a presença dos coordenadores da campanha de Dilma para tratar de assuntos da eleição presidencial em seguida.
A ausência de Giles Azevedo, fiel escudeiro da presidente que deixou o governo em abril para participar do comando da campanha, não agradou à presidente Dilma, informada do encontro depois que ele foi realizado. Participaram da reunião com Lula o presidente do PT, Rui Falcão, o tesoureiro da campanha, Edinho Silva, o ex-ministro Franklin Martins e o marqueteiro João Santana. Interlocutores de Dilma acham que Lula isolou Azevedo para discutir à vontade mudanças que julga necessárias na campanha. Nas palavras de um auxiliar da presidente, Azevedo representa “os olhos e ouvidos de Dilma” no comando da campanha. Petistas ligados a Lula confirmaram o mal-estar, mas buscaram contemporizar argumentando que a reunião não estava agendada oficialmente. Lula teria apenas aproveitado presença dos peetistas para “pacificar” divergências que os separam.

Cronicas do fascismo ordinario: as agencias que atrapalham a sua vida - Andrei Moreira

Três agências reguladoras que adoram atrapalhar sua vida
Instituto Ludwig Von Mises Brasil, domingo, 1 de junho de 2014

 

agencias.jpgNo Direito Romano clássico existe uma expressão em latim válida até hoje para o nosso país: Permittitur quod non prohibetur.
Significa que o ato não-proibido por lei presume-se permitido aos particulares.  No entanto, o que se vê na atualidade é a crescente quantidade de atividades do nosso cotidiano que foram proibidas por atos administrativos criados justamente por aqueles que possuem a lei como limite de atuação.
Evitemos a fadiga: não é necessário ler os burocráticos e prolixos livros de Direito Administrativo para entender como as agências reguladoras estatais atrapalham nosso dia a dia.
A maioria dos cidadãos reclama dos preços dos produtos, da falta de concorrência em setores fundamentais do mercado, da má utilização de verbas públicas e da ineficiência dos setores "privatizados" (e aqui não estamos falando de "livre mercado", mas sim de um oligopólio extremamente regulado, em que houve concessões de monopólios estatais para poucas e grandes empresas eficientes em fazer lobby, arranjo esse que não permite nenhuma concorrência).  Finalmente chegou a hora de apontar alguns culpados: aqueles funcionários públicos que não são políticos eleitos, mas que mesmo assim mandam na vida de todos, e que na direção de agências possuem poder direto sobre a sua e a minha vida.
Caso ainda não tenham sido apresentados, com vocês as três agências reguladoras que adoram atrapalhar sua vida.
1. ANVISA
Aquele carro de cachorro-quente que você tanto gostava não existe mais? Quer comprar um simples remédio para tratar a doença da sua filha, mas ele não é legalizado no país? Precisa de alto rendimento no esporte, mas importar o suplemento que você precisa é crime? Agradeça a ANVISA!
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária, vinculada ao Ministério da Saúde, alega (tentar) proteger a saúde da população ao realizar o controle sanitário da produção e da comercialização de produtos e serviços que devem passar por vigilância sanitária. Leia-se: comidas, remédios, suplementos alimentares, água para consumo e drogas (partidos políticos estão liberados!).
Sabe aquela lanchonete, o carro de pamonha, o picolé artesanal da praia e o vendedor de fruta da sua rua? Eles provavelmente são ilegais e só continuam funcionando graças à ineficiência do estado — algo que nesse caso merece ser comemorado. 
Infelizmente, às vezes os funcionários públicos decidem trabalhar e você já não pode comer aquilo que bem entender ou comercializar uma simples fruta sem a devida autorização. Foi o que aconteceu com esse violentíssimo e perigoso vendedor de goiabas. Um claro perigo para a sociedade. Ao menos na visão do estado.
Atenção para o detalhe: será feita uma investigação se houve abuso na abordagem. Quanta reflexão é necessária para obter uma resposta quando 5 guardas armados imobilizam de forma violenta um cidadão por cometer uma "infração" dessa gravidade? E ainda foi concluído que não houve nenhum tipo de abuso.
Quando é o estado quem dá o direito, é ele quem também tem o poder de tirá-lo. Que poder tem a constituição perante esse tipo de abuso policial? Nesse tipo de situação a tutela jurídica sempre chega tarde demais — você já perdeu a mercadoria, já apanhou e já foi humilhado.  Acabou, já era.
A violência não se limita ao comerciante — afinal, quem gostava daquele produto perde o seu fornecedor.  Enquanto os burocratas se preocupam com como você irá se defender dessas goiabas (tão perigosas!), ninguém se preocupa em defender a liberdade do cidadão de se responsabilizar por suas próprias escolhas. 
Já discuti aqui a proibição de suplementos alimentares.  A criminalização no Brasil é feita de forma ineficiente tanto na prática quanto na teoria, uma vez que não há lei no nosso ordenamento jurídico que defina o que são drogas, nem o porquê de elas serem proibidas.
O Código Penal e o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas utilizam a expressão drogas sem nenhuma vez citar quais são suas substâncias. E é assim porque quem define o que são e quais são as drogas no Brasil é a Anvisa, por meio de portarias — atos administrativos normativos de pouca expressão no campo jurídico.
Nesse sentido, é importante destacar que existe uma corrente doutrinária em nosso país, ainda que minoritária, que defende a inconstitucionalidade dos crimes relacionados ao comércio de drogas, uma vez que é necessária uma lei para definir o crime e sua pena, o que não existe nesse caso.
De um lado ou de outro, a Anvisa é a principal culpada pela patética guerra contra as drogas no Brasil. E seu poder é ilimitado, pois ela pode continuar elaborando portarias definidas segundo seus próprios critérios sobre quais substâncias devem ser consideradas proibidas ou permitidas.  Não há como domá-la.
Para saber mais sobre os abusos da Anvisa recomendo a leitura deste artigo e deste.
2. Anatel
Se o sinal do celular está ruim, se cada minuto com alguém de outra operadora custa uma fortuna, apresento-lhe a principal culpada: a Anatel.
A Agência Nacional de Telecomunicações alega promover o desenvolvimento do setor no país. A Anatel tem poderes de outorga, de regulamentação e de fiscalização, e deve, de acordo com suas diretrizes, adotar medidas necessárias para atender aos interesses dos cidadãos — uma pena terem esquecido de informar quais são, afinal, esses cidadãos.
Se você acredita que a telecomunicação brasileira foi realmente privatizada, você foi enganado. Diferentemente da Guatemala, nosso país abriu o mercado de telecomunicações apenas para as comadres, para aquelas empresas que aceitaram as suas regras, que prometeram obediência e apoio, que pagam os pedágios necessários, e que, em troca, são totalmente protegidas contra qualquer tipo de concorrência estrangeira.
As empresas de telecomunicações brasileiras são os principais focos de reclamação dos consumidores, tanto pelos preços, quanto pela baixa qualidade do serviço. O que a maioria dos clientes dessas empresas não sabe é que a Anatel é a principal responsável por deixá-los sem ter para onde correr.
O oligopólio atual de telefonia e internet no Brasil é claro e transparente. Grandes corporações que prestam serviços de qualidade nos mercados internacionais — como a AT&T, Vodafone, Verizon, T-Mobile, Orange — quando não são expressamente proibidas de entrar no mercado do nosso país, sofrem com uma carga de dificuldades tão alta, que tal proibição se torna desnecessária na prática. A carga tributária colossal, os encargos trabalhistas, as exigências de registro, fiscalização e principalmente a burocracia apagam o interesse de entrada de outras corporações no nosso mercado. Simplesmente não vale a pena, por maior que seja o interesse em obter lucro.
E o pior é que nem o Tiririca está certo nessa, pois pior do que está pode ficar, graças ao Marco Civil, pelos motivos que destaquei aqui mesmo.
Se você está mais interessado em conhecer uma análise dos preços que pagamos e do que não podemos comprar graças à Anatel, recomendo esse artigo do mestre e amigo Klauber Pires, e outro do sempre pertinente e admirado Fernando Chiocca.
3. Ancine
Todo mundo quer assistir a mais episódios da sua série favorita na TV por assinatura, todo mundo quer mais salas de cinema, ingressos mais baratos e menos desperdício de dinheiro público. Todo mundo.  Ou melhor, quase todo mundo: a Ancine não acha isso uma boa ideia.
Como se não bastasse a tutela estatal e a regulamentação dos bens e serviços necessários e essenciais para a população, o governo ainda quer crescer e engordar mais um pouco regulando algo que nenhum brasileiro considera como prioridade dentre os quase infinitos problemas nacionais: a produção cinematográfica.
Vinculada ao Ministério da Cultura, a Agência Nacional do Cinema tem como objetivo principal o fomento à produção, à distribuição e à exibição de obras cinematográficas e videofonográficas. O problema é que não é possível para nenhuma empresa — e muito menos para o governo — fomentar a produção, distribuição e exibição de todas as obras.
Logo, quais obras você acha que serão mais fomentadas: aquelas que valorizam e enaltecem o Brasil e a nossa cultura, ou a que critica seus problemas com uma carga ideológica contra o governo? Será possível a Ancine fomentar a criação de uma obra que critica o partido no poder?
Não bastasse, a Ancine regula e fiscaliza as indústrias que atuam nessas áreas, inclusive as empresas de TV por assinatura. Como é o caso da Lei 12.485, de 12 de setembro de 2011, que definiu cotas de "conteúdo nacional" para as operadoras de TV por assinatura.
Nesse tipo de regulamentação, a Ancine se atribui o poder de qualificar previamente os conteúdos transmitidos pelos canais de TV, decidindo o que deve e o que não deve ser considerado "conteúdo nacional". A expressão é utilizada com aspas, pois a lei considera que, por exemplo, entrevistas feitas por jornalistas brasileiros, com personagens brasileiros e comentários produzidos por especialistas ou jornalistas brasileiros não servem para cumprir a quota semanal de três horas e meia de "conteúdo nacional" no horário nobre.
Outro exemplo bizarro é que os canais de esporte, mesmo transmitindo jogos, programas e debates sobre clubes nacionais, da seleção brasileira de vôlei ou da equipe de judô do Brasil, não servem para a cota de "conteúdo nacional". 
Conteúdo nacional não é mais o que for produzido no Brasil, por brasileiros e para brasileiros; seu significado saiu do dicionário.  Atualmente, "conteúdo nacional" é aquilo que o governo decidir que seja. 
Orwell já havia nos alertado sobre o controle estatal da linguagem.  Hoje, isso não mais parece ficção.  O estado utiliza expressões como "função social" ou "neutralidade da rede" e "conteúdo nacional" sem nenhum critério lógico ou específico, simplesmente distorcendo seu significado para incluir nele o conteúdo que mais convém para garantir seus plenos poderes.
Para finalizar, uma dica: cada vez que o estado atrapalhar ou se meter na sua vida, procure identificar qual agência ou órgão está agindo, e quem está por trás de cada um deles. Quanto mais se regula, mais se torna necessário regular.  Uma regulação sempre acaba levando a novas regulações que visam a corrigir as distorções geradas pela regulação anterior.  Esse ciclo vicioso tem de ser abolido.

(publicado originalmente no Liberzone)
Andrei Moreira é estudante de direito da UFPA e luta pela liberdade não como ideia ou ideal, mas como ato de vontade.

Eleicoes 2014: dissensoes internas (como diriam os stalinistas) no partido totalitario

Política

Lula isola Dilma de reunião da campanha e irrita presidente

Ex-presidente aproveitou encontro ao qual não estava presente fiel escudeiro de Dilma para falar de estratégias eleitorais, segundo jornal

Veja.com, 19/06/2014
A presidente Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva
A presidente Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva (AFP)
Fiel escudeiro da presidente Dilma Rousseff e integrante do comando da campanha da petista à reeleição, o ex-chefe de Gabinete do Planalto Giles Azevedo foi excluído de reunião em que o ex-presidente Lula discutiu estratégias eleitorais com coordenadores de campanha do PT. E o clima ficou tenso nos bastidores do partido, informa reportagem desta quinta-feira do jornal Folha de S. Paulo.
Azevedo é apontado na sigla como “os olhos e ouvidos” da presidente. Justamente por isso, sua exclusão do encontro irritou Dilma, que só foi informada da reunião depois que ela já havia acontecido. De acordo com o jornal, estavam presentes ao encontro o presidente do PT, Rui Falcão, o tesoureiro da campanha, Edinho Silva, o ex-ministro Franklin Martins e o marqueteiro João Santana.
O tema da reunião, da qual participaram trinta pessoas há cerca de dez dias, era a conjuntura econômica do país. Aproveitando-se da presença dos coordenadores de campanha, contudo, Lula decidiu estender a conversa para a eleição. Interlocutores petistas ouvidos pelo jornal acreditam que a ideia era discutir mais à vontade as mudanças que Lula julga necessárias na campanha.
Fontes ouvidas pela Folha confirmam que a reunião provocou mal-estar entre Dilma e seu antecessor. Integrantes do partido afirmam, porém, que Dilma recebeu a notícia da reunião de maneira distorcida – e que Lula tentava apenas “apaziguar” as divergências entre os responsáveis pela campanha. A relação entre a presidente e Lula tem sofrido alguns abalos. Ele já criticou a postura da afilhada política diversas vezes em público. “Já falei para a Dilma que ela não pode ser chefe da Casa Civil, mas, sim, presidente da República. Tem que delegar. Tem que ser mais líder e menos general”, afirmou Lula em reunião com empresários.
O ex-presidente tem feito críticas a Dilma também entre seus interlocutores. Em maio, Lula teve de negar que estivesse pensando em disputar o pleito deste ano – e respaldou a candidatura de Dilma em encontro do partido. Sendo o PT um partido conhecido por tendências e correntes dissonantes internas, isso não significou que a pressão de parte da sigla pelo retorno do ex-presidente tenha sido sepultada. 

Em materia de ofensas, Lula deve ser campeao - Elio Gaspari


O ódio ao PT e o ódio do PT

Elio Gaspari
O Globo, 18/06/2014

Lula tem toda razão. Existe uma campanha de ódio contra o PT. Esqueceu-se de dizer que existe também uma campanha de ódio do PT. Uma expôs-se no insulto à doutora Dilma na abertura da Copa.
Argumente-se que o grito foi típico da descortesia dos estádios. O deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força, influente aliado do candidato Aécio Neves, endossou-o durante um evento do tucanato: “O povo mandou ela para o lugar que tinha que mandar.”
Essa é a campanha de ódio contra o PT. Ela pode ser identificada na generalização das acusações contra seus quadros e, sobretudo, na desqualificação de seus eleitores. Nesse ódio, pessoas chocadas pela proteção que Lula e o partido deram a corruptos misturam-se a demófobos que não gostam de ver “gente diferenciada” nos aeroportos ou matriculada nas universidades públicas graças ao sistema de cotas.
O ódio do PT é outro, velho. Lula diz que nunca se valeu de palavrões para desqualificar presidentes da República. Falso. Numa conversa com jornalistas, chamou o então presidente Itamar Franco de “filho da puta” e nunca pediu desculpas.
O ódio petista expôs-se em situações como a hostilização ao ministro Joaquim Barbosa num bar de Brasília e na proliferação de acusações contra o candidato Aécio Neves na internet. Se a rede for usada como posto de observação, os dois ódios equivalem-se, e pouco há a fazer.
Lula antevê uma campanha eleitoral “violenta”, pois a elite “está conseguindo despertar o ódio de classes”. Manipulação astuciosa, recicla o ódio do PT, transformando-o no ódio ao PT.
Leia a íntegra em O ódio ao PT e o ódio do PT
Elio Gaspari é jornalista.

Crise da divida argentina: los hermanos desplomados


A presidente da Argentina, Cristina Kirchner (Eduardo Di Baia/AP)

América Latina

Juiz ordena execução de dívida e Argentina sinaliza calote

Cristina Kirchner acena para o público durante um comício em Buenos AiresSuspensão de medidas cautelares pela Justiça americana nesta quarta impede pagamento de parcela em 30 de junho, diz Ministério da Economia argentino

Veja.com, 18/06/2014
Em um comunicado publicado na noite desta quarta-feira, o Ministério da Economia argentino afirmou que não pagará a próxima parcela da sua dívida a credores americanos que vence em 30 de junho, no caso conhecido como "fundos abutres", com origem na moratória decretada em 2001. O calote anunciado se refere inclusive aos credores que aceitaram a reestruturação da dívida. A decisão foi tomada, segundo o ministério, depois da Corte de Apelações de Nova York ordenar, na tarde desta quarta, a suspensão de medidas cautelares junto com a execução do pagamento de 1,33 bilhão de dólares aos investidores que não aceitaram o acordo e entraram na Justiça. 
A medida, assinada pelo juiz federal Thomas Griesa, é uma consequência da decisão da Suprema Corte dos EUA, que na segunda-feira rejeitou um recurso do governo argentino. Segundo Griesa, o veredicto da instância superior anula a suspensão, ditada por ele mesmo em 2012, da aplicação de medidas cautelares conhecidas como "ordens pari passu" – regra que determina que o pagamento aos credores da dívida reestruturada deve ocorrer simultaneamente ao dos demais investidores.
De acordo com o comunicado do governo argentino, "as ordens 'pari passu' impedem a Argentina de efetuar no próximo 30 de junho o pagamento dos títulos da dívida a seus credores reestruturados a menos que, em simultâneo, pague a totalidade do reclamado pelos fundos abutre". Pelas contas da Argentina, o valor total devido pode subir do 1,33 bilhão de dólares – cujo pagamento a Justiça americana determinou – para cerca de 15 bilhões de dólares, pois a jurisprudência permite que todos os investidores busquem receber os juros.
Calote – O anúncio da suspensão do pagamento contraria o que disse a presidente Cristina Kirchner após a derrota sofrida na Suprema Corte americana. Em discurso transmitido em rádio e TV, ela garantiu que o país honraria a dívida pública. Cristina, no entanto, criticou os valores exigidos pelos fundos de hedge que detêm papéis da dívida do país. "A Argentina não tem por que ser submetida a esta extorsão", já que a decisão "envolve todo o sistema financeiro internacional", disse a presidente.

ENTENDA O CASO

A briga do governo argentino com os fundos holdouts, ou "abutres", tem origem no calote histórico da Argentina de sua dívida em 2001. Após o default, o governo argentino negociou a troca de títulos em 2005 e em 2010, o que permitiu que o país postergasse sua dívida. Com isso, em torno de 93% dos títulos da dívida foram trocados.  No entanto, credores do fundo NML Capital - os chamados "fundos abutres" - não aceitaram a proposta do governo argentino e exigem o pagamento da dívida. 
A proposta de Cristina é que o país arque com os 1,5 bilhão de dólares em juros devidos aos fundos que compraram títulos da dívida argentina nos anos 2000. A Argentina argumenta que o governo teria dificuldades para pagar os detentores de títulos na íntegra e, ao mesmo tempo, reestruturar sua dívida. Os detentores da dívida contestam essa avaliação, dizendo em sua própria ação judicial que há evidências apresentadas em instâncias inferiores de que a Argentina poderia pagar o montante – as reservas do país somam 28 milhões de dólares, mas o governo não deseja vê-las reduzidas a menos da metade. 
A Argentina está tentando evitar o pagamento integral a credores liderados pelos fundos de hedge Aurelius Capital Management e NML Capital Ltd, unidade do Elliott Management Corp, que compraram os títulos da dívida pública na esperança de receber o valor devido.