O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Politica Externa: politica externa? Onde mesmo ela foi parar? - JamilChade (OESP)

Vendendo como pão quente, eu poderia dizer se estivesse em Paris. De qualquer modo, acho que atraiu o povo para o qual essa compilação está dirigida.
OK Academia.edu: aceito as congratulações...
Paulo Roberto de Almeida

Política internacional, contexto regional e diplomacia brasileira, acompanhada de listagem seletiva da produção acadêmica em relações internacionais e em política externa do Brasil, de 1954 a 2014
 
Disponível na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/9617558/2723_Produ%C3%A7%C3%A3o_intelectual_sobre_rela%C3%A7%C3%B5es_internacionais_e_pol%C3%ADtica_externa_do_Brasil_1954-2-14_; download pdf: https://www.academia.edu/attachments/35822293/download_file?st=MTQxNzY3OTE4Nyw3MS4yMzUuMjAzLjExLDc4NTEwNjY%3D&s=swp-toolbar). 

Hi Paulo Roberto, 
Congratulations! You uploaded your paper 2 days ago and it is already gaining traction. 
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You got 35 views from Australia, Brazil, Argentina, the Republic of Korea, Uruguay, and Portugal on "2723) Produção intelectual sobre relações internacionais e política externa do Brasil (1954-2-14)".

IBRI, 60 anos, por seu presidente de honra, Jose Carlos Brandi Aleixo

Sessenta anos do Instituto Brasileiro de Relações Internacionais, por José Carlos Brandi Aleixo

Mundorama: 05 Dec 2014 04:00 AM PST

A comemoração dos sessenta anos do Instituto Brasileiro de Relações Internacionais – IBRI é oportunidade propícia para recordar alguns sucessos de sua auspiciosa história.

 RIO DE JANEIRO

Em 27 de janeiro de 1954, na então capital federal, no Palácio do Itamaraty, sede do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, foi fundado o Instituto Brasileiro de Relações Internacionais. Rezava seu Estatuto “uma associação cultural independente, sem fins lucrativos, mantida por contribuições de seus associados, doações de entidades privadas e subvenções dos poderes públicos. É seu objetivo promover e estimular o estudo imparcial dos problemas internacionais, especialmente dos que interessam à política exterior do Brasil”.

Na sua fundação e nos primeiros trinta e oito anos decorridos na cidade do Rio de Janeiro ocupa lugar de relevo o paraibano Cleantho de Paiva Leite (1921-1992). Nascido em João Pessoa, formou-se em Direito no Recife em 1945. Na “London School of Economics and Political Science” pesquisou o tema da “Administração Colonial”. De 1945 a 1951 integrou o Conselho de Tutela da ONU. De 1951 a 1954 participou da Assessoria Econômica do Presidente Getúlio Vargas.

Capítulo de singular transcendência na trajetória do IBRI foi o do lançamento, em março de 1958, da Revista Brasileira de Política Internacional (RBPI), sob a direção do paraibano Oswaldo Trigueiro. Ele havia sido Governador do seu Estado, Deputado Federal e Embaixador do Brasil na Indonésia.

No primeiro número do citado periódico constam: seis artigos, sendo o primeiro deles “Os direitos humanos como fundamento da ordem jurídica e política”, de Vicente Rao; Resenha de treze eventos de importância internacional; cinco documentos significativos; e nomes de sete publicações e de seus autores.

Entre os componentes do Conselho Curador (14), do Conselho Consultivo (21) e da Diretoria Executiva (1), havia ilustres acadêmicos, professores universitários, periodistas, juristas, historiadores, literatos, etc.

BRASÍLIA

Muitos fatores contribuíram para a transferência do IBRI do Rio de Janeiro para Brasília, cidade com clara vocação internacional.

Antes de sua inauguração em 21 de abril de 1960, ela foi visitada por Governantes de países como Cuba, Estados Unidos, Honduras, Indonésia, Itália, Japão, México, Paraguai, Portugal. A partir de 21 de abril de 1970 o governo brasileiro passou a receber embaixadores e outras autoridades estrangeiras só na nova capital. Em 1974 a Universidade de Brasília foi a primeira do país a realizar vestibular para o Curso de Relações Internacionais. Em 1976 ela criou o Departamento de Ciência Política e Relações Internacionais (REL). Coincidentemente, no mesmo ano, o Instituto Rio Branco, sob a operosa direção do Ministro Sérgio Bath, deslocou-se do Rio de Janeiro para Brasília. Os seus docentes não diplomatas permaneceram naquela urbe. Vários professores da UnB — entre os quais o autor destas linhas — assumiram disciplinas do Curso de Preparação para a Carreira Diplomática (CPCD). Concomitantemente diversos diplomatas brasileiros, com vocação também acadêmica, ingressaram no Professorado da UnB. Entre eles estavam Carlos Henrique Cardim, Celso Amorim, Paulo Roberto de Almeida e Samuel Guimarães.

Com o falecimento do benemérito Cleantho de Paiva Leite, em 7 de outubro de 1992, sua viúva Maria Cecília e remanescentes do IBRI aprovaram a ideia de sua instalação em Brasília. Em 27 de janeiro de 1993 os membros do IBRI, reunidos no Rio de Janeiro, aprovaram, por unanimidade, a outorga de “todos os poderes necessários ao Embaixador Sérgio Guarishi Bath [novamente Diretor do Instituto Rio Branco] para reconstituir a composição desses dois órgãos [Conselhos Curador e Consultivo], designar o novo Diretor do IBRI e o novo Diretor de sua Revista e adotar todas as providências necessárias ou convenientes para a continuidade institucional do IBRI e a manutenção financeira e editorial de sua revista”.

Em 6 de julho de 1993, reunido no Instituto Rio Branco, o “Grupo de amigos de Cleantho” fundou o IBRI de Brasília e elegeu: Professor José Carlos Brandi Aleixo, Diretor Geral; Professor Alcides Costa Vaz, Secretário Executivo; Professora Luciara Silveira de Aragão e Frota, Primeira Tesoureira; Ministro Adolf Libert Westphalen, Segundo Tesoureiro; Embaixador Sérgio Bath, Conselheiro Paulo Roberto de Almeida e Professor José Flávio Sombra Saraiva, membros do Conselho Fiscal; Professor Amado Luiz Cervo, Editor da Revista Brasileira de Política Internacional.

Para o êxito do IBRI, em geral, e de sua Revista Brasileira de Política Internacional, muito contribuiu a atitude favorável da Universidade de Brasília e, particularmente, do Departamento de Ciência Política e Relações Internacionais e do Departamento de História. Entre os que prestaram grande serviço ao IBRI, cabe mencionar, a título de exemplos, os nomes do funcionário Vanderlei Valverde e da então aluna Jennifer Cristino. CNPq e CAPES proporcionaram valioso apoio.

O previdente fundador Cleantho deixou na Tesouraria saldo importante para as naturais despesas do encerramento do IBRI no Rio de Janeiro e do seu começo em Brasília.

Pode-se afirmar que o IBRI tem sido fiel ao seu objetivo inicial de “estimular o estudo imparcial dos problemas internacionais, especialmente dos que interessam à política exterior do Brasil”. Sua RBPI, decana dos periódicos nacionais congêneres, altamente conceituada, permanece sendo editada por professores da Universidade de Brasília.

José Carlos Brandi Aleixo é Professor Emérito da Universidade de Brasília e Presidente de Honra do Instituto Brasileiro de Relações Internacionais – IBRI (brandialeixo@gmail.com).


Arquivado em:BrasilPolítica ExternaPolítica Internacional       
    

Russia: o estado (deploravel) da nacao putinesca - editorial NYT

Photo

It is hard to imagine that this was a state of the nation address President Vladimir Putin relished making.

His country is in bad shape — sanctions and low oil prices have thrown the ruble into a tailspin, the economy is headed for recession, he had to abandon the South Stream gas pipeline and, just hours before he was to speak, Islamist rebels mounted an attack in Chechnya. So, analysts wondered, would he stay with the hard line or inject a dose of realism?

Both, it turned out. Speaking to a loyal Russian elite in a gilded Kremlin hall on Thursday, Mr. Putin served up yet another hyperaggressive rant about the purportedly relentless efforts of the perfidious West, orchestrated by Washington, to dismantle, undermine, isolate, humiliate, contain and otherwise destroy Russia.

Far from giving any hint of a readiness to scale back the tensions over Ukraine, Mr. Putin actually equated Crimea’s importance for Russia to the Temple Mount’s importance for Jews.

Fulminating at the West and blaming it for all of Russia’s woes has kept Mr. Putin’s ratings high through the Ukraine crisis and has deflected any of the immediate blame for Russia’s growing problems onto “enemies,” so it was not surprising that Mr. Putin would stay with it.

But he could not escape the growing concern among many Russians about where their economy is headed. The ruble has plummeted; oil is trading far below the levels on which Russia’s budget was drawn up; and the government has acknowledged that the country is headed for a recession. The anxiety is palpable in Russian streets.

Mr. Putin’s response was a combination of bravado and carrots. The current tensions, he said, should help Russia overhaul its economy to become more self-sufficient. He promised to make doing business easier for small and middle-sized companies, and announced a four-year freeze on the tax rate. And he vowed not to ask questions of oligarchs who bring back any of the billions that have been fleeing abroad.

Some of these measures are reasonable and could be helpful, but the question is whether they will be enough for Mr. Putin to ride out the storm.

A majority of Russians were willing to surrender some freedom as long as they enjoyed prosperity, and to cheer Mr. Putin on as long as he seemed to be restoring Russian self-respect and power. But as prices increase and recession sets in, the bluster will become increasingly hollow.

Mr. Putin’s choice then will be to become even more belligerent and ruthless, at home and abroad — or to recognize that the solution is to stop lying about the West, and to start trying to resolve the Ukraine crisis and fix the real problems of Russia’s economy.

GATT 70 anos: o Desacordo Geral de Tarifas e Comercio - Foreign Policy

Parece que a vida não é nada fácil para o Gatt e a OMC.
Paulo Roberto de Almeida
The General Disagreement on Tariffs and Trade

Nearly 70 years ago, with fresh memories of the disastrous trade wars of the 1930s, leaders of the United States and 22 other countries launched the GATT, the General Agreement on Tariffs and Trade. The GATT was charged with slashing tariffs and dismantling other protectionist barriers to global economic growth. And the Geneva-based international organization delivered. By 1995, when the GATT morphed into the World Trade Organization, a series of successful multilateral trade-liberalizing negotiations had slashed average global tariffs, which had been in the 40 percent range in the 1940s, to about 5 percent. Even though many protectionist schemes remained, the WTO seemed poised to continue the good work. But in the last two decades, the WTO has descended into dysfunction, lurching from one bitter fight to another.

A deeply concerned WTO Director-General Roberto Azevedo has bluntly warned the WTO’s 160 member countries that the GATT/WTO system has been “living on borrowed time.” He’s spot-on. I’ve been watching the GATT and its successor global trade rules-making institution for nearly four decades — witnessing the gradual destruction of the world’s most successful experiment in peaceful international economic cooperation. Although the most recent crisis that sparked Azevedo’s warnings was averted on Nov. 27, at least for now, the tensions that have weakened the WTO will remain for the foreseeable future.

The root of the problem is that too many countries either no longer believe that multilateral trade liberalization is beneficial for them, or that they lack, for varying reasons, the political will to lead. Too many shortsighted political leaders, forgetting their history, are back in the business of creating trade blocs. They are more interested in defending their own protectionist trade schemes to fret much about what they have been doing to the WTO-supervised multilateral trading rules. And without a shared core belief that the non-discriminatory global rules work for all, the WTO cannot deliver.

In Washington, D.C., President Barack Obama has never given high priority to the WTO. Neither have Republican or Democratic leaders in Congress. While individual European WTO members like the United Kingdom, the Netherlands, and Sweden still believe in the organization’s rationale, the 28-member EU makes the notion of “European leadership” an oxymoron. Tokyo’s main goal in any trade negotiation is to preserve Japan’s stratospheric 500-plus percent rice tariffs. The Chinese now run the world’s second-largest economy, but they aren’t leading either. In parts of Africa and Latin America, leaders tend to see multilateral trade liberalization as a plot for economic domination perpetuated by their rich former colonial masters. Average African tariff barriers still hover in the 12 to 20 percent range. And when it turns to former colonies that enjoy playing the spoiler, India leads the pack.

In May, India’s new prime minister, Narendra Modi, cast a gimlet eye on the only successful multilateral trade-liberalization deal the WTO had concluded in nearly 20 years of trying. Last December, when WTO members convened in Bali, India’s government (then controlled by the leftish Congress Party that Modi’s right-wing Bharatiya Janata Party trounced in this spring’s elections) signed a deal that was widely cheered. For good reason: The so-called Bali Package was guesstimated to give the global economy a trillion-dollar boost. The WTO’s richer countries pledged to provide developing countries with billions of “trade facilitation” dollars to modernize clogged ports, fix terrible roads, and streamline corrupt customs procedures. But Modi balked.

On July 31, the strong-willed Indian leader took trade facilitation hostage, refusing to sign the necessary legal protocol to implement it. India’s veto — unprecedented in GATT/WTO history — brought the WTO into what Director-General Azevedo called a state of “paralysis.” The good news is that after months of bitter wrangling, Modi released his veto, declaring victory.

Some victory. Essentially, India “won” the right to continue to increase the amount of subsidies that New Delhi has been lavishing upon its farmers into an indefinite future, without fears of being held legally accountable in the WTO. India’s “food security” program — paying globally uncompetitive farmers above-market prices to stockpile grains that are later doled out to the urban poor — has been widely criticized. Perhaps half the grain rots, or is sold on the black market. Meanwhile, Indian exports of surplus rice have distorted global markets for years. Undeterred by criticisms that the purpose of WTO trade negotiations is to reduce protectionism, not enhance it, Modi nevertheless claimed the high moral ground: asserting that Mother India is only fighting for the rights of the world’s poor.

The hypocrisy extends beyond agriculture. Modi has hiked tariffs on imports of high-tech equipment from other developing countries like the Philippines, Vietnam, and China. Meanwhile, India’s main goal in the WTO’s long-stalled Doha Round of broader trade liberalizing negotiations — which the Bali deal was intended to revive — is the “flexibility” to raise all industrial tariffs even more, whenever New Delhi finds enhanced protectionism politically attractive.

As it turns out, that’s basically what many African leaders also want from the WTO: the right to raise tariffs and advance their own industrial policies — while the rich countries dismantle theirs. It’s called necessary “policy space.” South Africa’s president, Jacob Zuma, has hardly bothered to disguise his suspicions that the WTO’s Bali deal was tilted in favor of the rich “North.” And some officials in Uganda, Tanzania, and Kenya also complained that trade facilitation meant opening their borders to import competition from giant multinational corporations.

On April 27, after meeting behind closed doors, a handful of African diplomats — nobody has publicly claimed credit — persuaded the African Union to “instruct” African WTO ambassadors in Geneva to try to delay the Bali deal’s implementation. As the AU, based in Addis Ababa, hadn’t even participated in the Bali negotiations, the power play ran into intense criticism from furious Americans, Europeans, and a long list of others. The Africans subsequently backed down, but the poisonous distrust that has paralyzed the WTO’s negotiations was back.

That distrust memorably first surfaced in late November 1999, when WTO ministers convened in Seattle, hoping to launch a new round of multilateral trade-liberalizing talks. The Battle of Seattle is best remembered for the vociferous band of anti-globalist protestors (colorfully dressed as sea turtles or ninjas) who trashed that city’s streets. Less noticed were the secret smiles from key African trade officials inside the barricaded convention center who were happy that the talks failed.

In 2001, it seemed trade liberalization was on the move again when the WTO’s Doha Round was launched. But then in September 2003, there was open cheering from African officials when WTO meetings in Cancun again collapsed in acrimony. The meetings in the Mexican resort had been intended to breathe life into the Doha Round, but instead threw those negotiations into intensive care, where they still remain. (The trade-facilitation deal that was reached in Bali last December was split off from the broader Doha negotiations, the idea being to harvest the easier parts to generate momentum to complete the Doha Round.)

Just a few hours after the Cancun debacle, I ran into a Kenyan diplomat named Mukhisa Kituyi in an Argentine-style steakhouse. It was a memorable September evening in the famous Mexican resort. Kituyi and his colleagues were celebrating that afternoon’s failure of the WTO meetings, washing down copious quantities of red meat with red wine. “We killed it,” one of the Kenyan officials boasted, referring to that afternoon’s negotiating failure.

Kituyi is now secretary-general of UNCTAD, the United Nations Conference on Trade and Development. While he declines to comment, it appears the Kenyan official remains a trade skeptic. Kituyi invited President Rafael Correa of Ecuador to deliver on Oct. 4 a rousing Special 50th Anniversaryspeech at UNCTAD’s Geneva headquarters, just a few blocks from the WTO’s offices along the Rue de Lausanne. Correa railed against “an immoral and unjust” world economic order. In a world “dominated by transnational capital and the hegemonic countries,” the Ecuadorian leader declared, the poor countries should protect themselves by forming regional trade accords. “The world of the future is a world of blocs,” he declared. Led by an approving Kituyi, the UNCTAD audience applauded.

This is not a trivial matter. In recent years, WTO members have cut more than 300 trade-distorting preferential trade deals with various favored trading partners. They all violate the fundamental GATT/WTO principle that member countries should not discriminate against each other. Perhaps half of global trade is diverted through these discriminatory “free trade” routes.

The top U.S. trade priorities are forming two regional trading blocs, one with Europe and the second with some Asian countries. China is excluded. Meanwhile, the Chinese are advancing their own regional trade bloc that would exclude the Americans. Many Africans are looking to their own side deals with each other.

Preventing the re-emergence of discriminatory trade blocs is exactly why the GATT was created in 1947. It’s a history lesson that present world leaders would be well advised to reflect upon.

BAY ISMOYO/AFP/Getty Images

Debate: o Brasil pode ser uma Suécia? NAO, e explico porque - Paulo Roberto de Almeida

Um amigo, sociólogo como eu -- mas eu sempre achei que os sociólogos, como os advogados, servem mais para produzir déficits públicos do que propriamente riqueza nacional -- me envia uma matéria sobre a Suécia, como sendo a maior maravilha do planeta, e me desafia a publicar em meu blog e a ousar não concordar com a matéria.
Pois não: publico e digo de imediato: NÃO SE APLICA AO BRASIL.

On Dec 4, 2014, at 19:51, fulano <fulano@gmail.com> wrote:

Se vc for honesto como eu acho que é, e  inteligente forecasting, como eu também acho que é, publica este  texto ´desconsidere o blog onde ele foi publicado:


http://www.diariodocentrodomundo.com.br/impostos-sao-o-preco-que-se-paga-por-uma-sociedade-civilizada-o-relato-de-uma-jornalista-brasileira-que-vive-na-suecia/


Explico porque discordo integralmente dos argumentos, abaixo.
Vocês podem ler a matéria enviada, antes de prosseguir na minha resposta a este amigo, o que fiz agora mesmo, de improviso, e já mandei mesmo sem revisar.
Depois vou escrever de maneira mais estruturada sobre o assunto.
Paulo Roberto de Almeida

Meu caro amigo,
    Eu sendo totalmente honesto, comigo, com você, e com a autora do texto, eu diria que ela se ilude, você se ilude, e todos os que pensam como ela e como você se iludem, ao achar que o mundo, ou outros países, podem ser como a Suécia, e que isso é dado a todo mundo, bastando aumentar impostos que tudo vai se resolver como num passe de mágica.
    Isso é uma grande ilusão, e você, e ela, não percebem que isso só faria com o que o nosso ogro famélico se agigantasse ainda mais, e todos estaríamos muito pior do que com a carga fiscal extremamente elevada que já temos.
    Apenas uma sociedade que seja: pequena, estável demograficamente, altamente educada, com alta produtividade do capital humano, instituições democráticas sólidas, pode ser como a Suécia, e ainda assim sob condições muito especiais.
    A menos que a produtividade do trabalho humano seja altíssima, e crescente, essa sociedade terá cada vez mais problemas para manter seu padrão de vida, pois do contrário o seu crescimento irá diminuindo e ela enfrentará problemas fiscais mais cedo ou mais tarde. Não é possível que se possa fazer milagres numa economia de mercado, a menos de se manter alta taxa de investimento, de crescimento, e de aumento da produtividade.
    A tendência é que a Suécia não consiga manter esses padrões, e tenha de constantemente refazer seu padrão de gastos e de receitas, ou seja, aperfeiçoar e ajustar continuamente o seu modelo de organização social.
    Isso talvez se possa fazer na Suécia, sociedade democrática e que tem a capacidade, me parece, de se reformar consensualmente.
    Isso não é dado acontecer entre nós, e não é dado acontecer na maior parte dos países do mundo, e eu excluo a totalidade da África dessa possibilidade, a quase totalidade da Ásia, a totalidade da América Latina e vários outros países europeus.
    Desconfio que os EUA tampouco conseguiriam reproduzir os padrões e o modelo sueco nas condições existentes, e no futuro previsível. A prosperidade teria de crescer enormemente nos EUA para que eles conseguissem ter um padrão assemelhado ao da Suécia. Veja, por sinal, que o PIB per capita dos EUA é superior ao da Suécia, embora muito mais desigualmente distribuído do que o dos EUA: a disparidade entre rendas de pessoas é enorme nos EUA, e bem menor na Suécia.
    Seria possível fazer um padrão sueco nos EUA? Duvido, pois as condições sociais não estão dadas, e seria preciso um Estado fantástico, quase orwelliano, para transformar a estrutura da sociedade americana.
    E se isso ocorrer, os EUA deixarão de ser a sociedade flexível que são, altamente produtiva, e passarão a crescer menos, ou seja, ficarão mais pobres relativamente do que são hoje.
    Mas, atenção, a Suécia já foi muito mais rica do que é atualmente, comparativamente à média europeia. Não tenho os dados comigo, mas busque a renda média da Suécia hoje, e a da renda média da Europa SETENTRIONAL, no mesmo período, num espaço de 20 a 30 anos. Você vai constatar que a distância diminuiu, ou seja, ou  a renda média da Europa setentrional cresceu num ritmo mais alto, ou a da Suécia cresceu mais lentamente. Pode até ser que a Suécia passe abaixo da renda da Europa setentrional.
    Pesquise depois os dados relativos à Irlanda, um país que era "pobre" quando ingressou na então CEE, em 1972, junto com UK e DK, e que se tornou atualmente um dos países mais ricos do conjunto da UE, e não por ajuda da UE, e sim por políticas corretas de desenvolvimento econômico e social, um pouco de SUFRAMA (defiscalização em atividade ligadas a comércio exterior) e muito de qualificação da mão-de-obra.
    Mas o essencial da riqueza da Irlanda -- que deve ter saído de menos da metade da renda da Suécia em 1972, para provavelmente 130% hoje, dessa renda -- se deveu à DIMINUIÇÃO de impostos, essencialmente sobre o lucro e a folha salarial, ou seja, a Irlanda liberalizou investimentos e emprego, com isso obtendo resultados fantásticos, crescendo a um ritmo chinês durante muito tempo.
    Podemos reproduzir o modelo irlandês? Mais uma vez: DIFICILMENTE. Seria preciso um consenso muito grande, uma democracia funcional, para diminuir o PESO DOS IMPOSTOS, liberalizar a economia, e capacitar educacionalmente toda a população. Não acredito que isso possa ser feito no Brasil, pois JAMAIS haveria consenso político para fazer as reformas necessáriias.
    De toda forma, uma coisa é ESSENCIAL que se retenha: é IMPOSSIVEL aplicar modelos de sucesso em outros países apenas na base da cópia, IMPOSSÍVEL. Estruturas sociais, o peso da história, os arranjos sociais são coisas muito pesadas que não se movem facilmente, e sequer podem ser transplantadas de um lado a outro.
    O que sim é possível fazer seria ver o que funciona, e tentar adaptar às condições locais.
    Em outros termos: sociedades mais livres, economicamente mais baseadas no livre empreendimento, funcionam melhor, são mais prósperas mais ricas. A Suécia é uma sociedade livre, ainda que com muitas regras, mas é uma democracia de mercado, em todo caso, muitas vezes mais livre do que o Brasil.
    Liberdade de mercados funcionou para trazer prosperidade para os EUA, para a Suécia e para a Irlanda.
    E para a China, SIM, por mais incrível que isso possa parecer.
    A China era, três décadas atrás uma sociedade miserável, recém emersa do delírio econômico maoista, que começou a liberalizar a sua economia: agricultura, enclaves econômicos (ZEEs na costa) e progressivamente toda a indústria e todo o comércio. Sobraram, é verdade, grandes empresas estatais e grandes bancos idem, que é onde vigora a corrupção, mas que atuam, em grande medida, com base em regras de mercado. Atualmente, a China tem mais de 70% do seu PIB formado no setor privado, e não no setor estatal, e no setor privado a concorrência é intensa, na China e no mundo.
    A China é, não hesito em dizer, economicamente mais LIVRE do que o Brasil. E se ela cresceu, não foi por causa, mas A DESPEITO dos monopólios estatais que ainda existem. Como ela se tornou mais livre, o "espírito capitalista" dos chineses foi fortalecido, e ela se tornou mais rica, mais próspera, e também mais desigual, que isso é uma consequência associada às economias de mercado.
O título do livro do Giovanni Arrighi - Adam Smith vai a Beijing -- é totalmente errado, ou melhor, é totalmente o contrário do que deveria ser: foi a China que foi à Escócia, não o Adam Smith que foi a Pequim. Ou então, os dirigentes chineses importaram os ensinamentos econômicos de Adam Smith e os aplicaram (mas não os do Iluminismo escocês, a democracia de Locke, Hume, Ferguson).
    Resumindo, meu caro amigo.
    Esqueça, pois o modelo sueco é inaplicável entre nós e na totalidade da América Latina. O que sim podemos fazer é tornar o país uma sociedade economicamente mais livre. Atualmente, o Brasil é um país regulamentado ao extremo, corporativo, quase fascista no plano econômico, e extremamente corrupto em suas instituições, com mandarins da República e marajás do Estado assaltando literalmente os pobres para viver às custas deles.
    Quando, e se, conseguirmos mudar algumas dessas características poderemos talvez melhorar. Mas eu acho que o modelo irlandês, ainda que inaplicável entre nós, seria mais factível do que um modelo sueco.
    Resumo aqui minhas condições para um crescimento econômico sustentado, com transformações estruturais e distribuição equitativa desse crescimento, o que produziria o desenvolvimento econômico e social:
    1) Estabilidade macroeconômica
    2) Competitividade e competição em nível microeconômico
    3) Boa governança (justiça, parlamento, polícia, etc)
    4) Alta qualidade dos recursos humanos e
    5) Abertura ao comércio internacional e aos investimentos estrangeiros

    O Brasil sequer chegou perto de assegurar o primeiro requisito, que está atualmente sendo implodido pela incompetência dos neobolcheviques mafiosos que nos governam. Nem discuto quanto aos demais, pois sequer ficamos no primeiro terço do que seria uma pontuação aceitável em cada um deles.
    Estamos longe, muito longe de ser uma sociedade preparada para a prosperidade, meu caro. Temos de progredir muito ainda.
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Paulo Roberto de Almeida
pralmeida@me.com
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diplomatizzando.blogspot.com

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Petrobras: instantaneos da mafia em plena acao - Reinaldo Azevedo

Não pensem que a roubalheira companheira -- até rimou, perfeitamente -- era uma zorra total. Isso não. A coisa era até organizada. Parece até uma máfia suiça, tudo organizadinho...
Paulo Roberto de Almeida

Augusto Ribeiro de Mendonça Neto, o executivo da Toyo Setal que afirmou que parte da propina paga ao PT foi registrada como doação legal, fez outras revelações que chegam a assumir certo tom jocoso, mas que dão conta do grau de delinquência a que chegaram as relações da Petrobras com empreiteiras e partidos políticos.

Três homens, disse ele, passavam para recolher a propina em dinheiro vivo. Atendiam pelas alcunhas de “Tigrão”, “Melancia” e “Eucalipto”. A Polícia Federal tem tentado chegar a esses senhores, mas, até agora, não conseguiu.

“Tigrão”, segundo o executivo, é “moreno, 1,70 m a 1,80 m de altura, meio gordinho e com idade aproximada de 40 anos.” Júlio Camargo, o segundo diretor da Toyo Setal que fez delação premiada, descreveu os dois outros deste modo: “Um deles era mulato, forte, 1,85 m, idade aproximada de 55 anos, e outro era de estatura baixa, bem branco, idade aproximada de 60 anos”.

Pronto! Suponho que o segundo fosse o “Melancia”, e o outro, o “Eucalipto”. Nessa zoologia criminosa, é evidente, falta identificar os ratos, as raposas, as baratas, as hienas; não faltam ratos, raposas, cães ladravazes e baratas.

Como é mesmo aquele trecho de uma música dos Titãs, do tempo ainda em que certo partido pregava a ética na política?

Bichos!
Saiam dos lixos
Baratas!
Me deixem ver suas patas
Ratos!
Entrem nos sapatos
Do cidadão civilizado

O clube
Mendonça Neto também sintetizou as regras do chamado “Clube das Empreiteiras”, que operaria em parceria com a quadrilha instalada na Petrobras e os políticos que lhe davam suporte, segundo informa a Folha:

– Reuniões eram convocadas por mensagens de celular ou por telefone. A frequência variava conforme as oportunidades de negócio oferecidas pela Petrobras.

– Quem participava das reuniões não tinha a entrada registrada e recebia um crachá já na portaria.

– Cada empresa atribuía um grau de interesse, de 1 a 3, às obras que seriam licitadas pela estatal.

– Em caso de conflito e coincidência de prioridades, as empresas interessadas resolviam entre si quem ficaria com a obra. Se a disputa persistisse, o caso era arbitrado pelo “clube”, que redistribuía contratos para acomodar interesses.

– A empresa ou consórcio escolhido para “vencer” a licitação tinha de informar previamente sua proposta de valor.

– As empresas do “clube” que participariam da licitação para simular uma concorrência poderiam contestar o valor, caso achassem exagerado.

Isso é que é organização!

A ser tudo verdade, precisamos chamar Francis Ford Coppola, Robert De Niro e Al Pacino para filmar a versão nativa de “O Poderoso Chefão”. Só não vai dar para contar com Marlon Brando! Que pena!

No One’s World, by Charles A. Kupchan - Resenha de Oliver Stuenkel

Acabo de receber este livro, que comprei de segunda mão, no Abebooks, bem barato, a despeito de ser relativamente recente.
Concordo, em grande medida, com a resenha abaixo de meu colega acadêmico e de Academia.edu, que fui buscar nessa plataforma, mas sempre insisto em que as pessoas, autores ou resenhistas, sempre fazem certa confusão em torno da política externa do Brasil, ao dizer, por exemplo: o Brasil fez isto, ou o Brasil fez aquilo. Sempre sou tentado a corrigir, dizendo: não foi o Brasil, foi o PT, ou foi Lula. O exemplo citado é o famoso "acordo nuclear" turco-brasileiro-iraniano", rejeitado imediatamente pelo P5+1, pois não preenchia os mínimos requerimentos solicitados pelos membros do CSNU mais a Alemanha, quanto às garantias de desenvolvimento pacífico da energia nuclear.
Foi o Brasil que fez esse acordo? Duvidoso que o Itamaraty se engajasse, por vontade própria, nesse assunto, que foi conduzido quase solitariamente pelo chanceler de Lula a pedido deste, que talvez aspirasse a qualquer outra coisa que não apenas o acordo nuclear em questão.
Bem, ainda vou ler o livro, e depois opinar.

Paulo Roberto de Almeida

Book review: 


No one’s world: the West, the rising rest and the coming global turn
Charles A. Kupchan
New York and Oxford: Oxford University Press, 2012, 272 p.
International Affairs, vol. 89, n. 4, 2013, p.1025-1027


What will replace the western world order once the United States is no longer capable of exercising global leadership? Will China’s rise be ‘unpeaceful’ and prove to be disruptive, as John Mearsheimer argues, or will rising powers support today’s system that is ‘easy to  join and hard to overturn’, as G. John Ikenberry predicts? Who will rule the world once the United States’ reign ends, and what will such a world look like? Is it a ‘post-American world’, a ‘Chinese world’, or simply a western world order under non-western leadership? 

Rejecting such predictions, Charles Kupchan predicts that tomorrow’s world will ‘belong to no one’. Before elaborating on this claim, the author briskly moves through centuries of history to explain why the West was quickly able to develop economically and leave other, tradition-ally successful, regions behind, thus initiating western global dominance. While the world had historically been compartmentalized, with each region operating according to cultur-ally particular and exclusive principles, the author argues that Europe’s rise helped create one single global system: as European powers conquered the world, ‘they also exported European conceptions of sovereignty, administration, law, diplomacy, and commerce’ (p. 65) — thus creating what we now call the ‘western world order’. Kupchan writes that ‘remaking the world in its own image was perhaps the ultimate exercise of Western power’ (p. 66). 

The West’s capacity to define modernity caused generations of non-western thinkers to argue about whether there was a dierence between modernization and westernization. Kupchan shows that in a few decades, at least three BRIC countries will be among the world’s five leading economies, and he predicts that there will be multiple versions of modernity. Not only do the characteristics of Brazil’s, India’s and China’s rise dier markedly from Europe’s, but their cultural DNA is dierent, too, he argues. 
This is hardly news; the author fails to explain how internal peculiarities aect countries’ strategy vis-à-vis the global system. His assertion that ‘much of Latin America has been captivated by left-wing populism’ and that this represents ‘an alternative to the West’s brand of liberal democracy’ is controversial (p. 90). What exactly are the characteristics of the ‘West’s brand of liberal democracy’? Is Brazil’s democratic system fundamentally dierent from, say, Portugal’s?
  
The author speaks of the ‘West’ as if it were a cohesive bloc, a somewhat misleading idea to begin with. For example, he writes that Brazil’s then President Lula’s decision in 2010 to meet Iran’s Mahmoud Ahmadinejad to negotiate Iran’s nuclear programme serves as proof that Brazil will not accept the western global order. Turkey’s quarrels with Israel are supposedly evidence of Turkey’s drift away from the West. Yet such views find little support among policy-makers and analysts in Brazil and Turkey. Equally controversially, Kupchan argues that India’s voting behaviour in the UN shows that ‘its interests and status as an emerging power are more important determinants of its foreign policy than its democratic institutions’ (p. 143), thus implying that the United States’ democratic institutions are somehow more important to US policy-makers than the national interest. 

Yet the history of US foreign policy is littered with instances when strong partnerships with non-democratic regimes were established to promote US national interest—not at least in the Middle East where Saudi Arabia remains an important US ally. This highly US-centric argument paradoxically shows how dicult it will be for policy-makers in Washington to adapt to a truly multipolar world in which the United States will be one among several large actors. 

Kupchan thus interprets emerging countries’ independent foreign policy strategies as evidence that they will undermine today’s global order, all the while overlooking the fact that despite their growing strength, there is little evidence that countries such as China seriously challenge the norms and rules that undergird today’s system. In the final chapter, Kupchan lays out a series of interesting ideas about how the new world order could appear. He argues that ‘the West will have to embrace political diversity rather than insist that liberal democracy is the only legitimate form of government’. He rightly observes that ‘even as the West does business with autocracies … it also delegitimizes them in word and action’ (p. 187). Kupchan argues that while such a pro-democracy stance  may be morally compelling, it was simply not pragmatic and made unnecessary enemies in the emerging world. He declines, however, to specify at which degree of a dictator’s nastiness the West should switch from cooperation to condemnation. 

No one’s world is sprinkled with interesting insights, yet the ground Kupchan covers is vast, forcing him often to remain superficial and to rely on sound bites when commenting on other countries’ domestic aairs. ‘The world’, he writes, ‘is headed toward a global dissensus’ (p. 145). The prediction that we will live in a world with competing narratives (rather than a convergence towards a western narrative) is an important starting point. Yet Kupchan could oer a more rigorous analysis of what these competing narratives might look like. 

Oliver Stuenkel, Fundação Getulio Vargas, Brazil

Monsieur Piketty et le Bresil: licoes erradas, recomendacoes ruins - Roberto Macedo (OESP)

Eu comentei este artigo preventivamente, e reproduzo abaixo o que rescrevi ao autor, e tambem, o que havia escrito a ele quando recebi a apresentação feita em SP.
Lembro que eu já havia postado neste mesmo espaço meu artigo feito quando soube de algumas afirmações do economista em SP. As referências seguem aqui:
2720. “Miséria do Capital no Século 21: breve refutação não estatística de novas formas de criação da miséria”, Hartford, 30 novembro 2014, 3 p. Considerações sobre os equívocos da nova teoria do capital no século 21. Publicado no blog Diplomatizzando (link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/11/miseria-do-capital-no-seculo-21-paulo.html)
Paulo Roberto de Almeida

Piketty e suas lições para o Brasil
Roberto Macedo *
O Estado de S. Paulo, 4/12/2014

Thomas Piketty é um economista francês famoso internacionalmente após publicar, em 2013, o livro O Capital no Século XXI, um dos mais vendidos em vários países. Já existe também em português (Ed. Intrínseca, 2014).

Tem 43 anos e, aos 22, já era doutor em Economia. No biênio seguinte ensinou no famoso Massachusetts Institute of Technology, dos EUA. Tem outros livros, muitos artigos em boas revistas acadêmicas e recebeu premiações importantes. Convence, portanto, como personagem.

Na semana passada conheci-o na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP. Almoçou com professores e deu palestra em inglês para um auditório cheio. Resumiu então esse seu livro e a apresentação está disponível piketty.pse.ens.fr/en/files/piketty2014capital21csaopaulo1.pdf.

A obra é densa em números e análise. A versão em inglês tem 685 páginas e dela traduzi trechos citados abaixo. Raramente toca no índice de Gini, que domina a análise da distribuição pessoal de renda no Brasil. Tal índice varia de zero a 1, da distribuição igualitária para a totalmente concentrada, mas sem chegar a esses extremos nas suas aplicações. E abandonou Gini: "... é impossível resumir uma realidade multidimensional com um índice unidimensional sem indevidamente simplificar as questões e misturar coisas que não deveriam ser tratadas conjuntamente". Por essa e outras razões, concluiu ser "muito melhor analisar desigualdades em termos de tabelas de distribuição indicando as parcelas dos vários decis e centis na renda total e na riqueza total..." (pág. 266). Decis e centis são, por exemplo, os 20% ou 1% mais ricos e suas parcelas desses totais. E no livro há perto de cem gráficos que facilitam entender seus muitos números.

Estudos sobre o Brasil ganhariam com esse enfoque. Assim, o livro também convence pelo que informa e tem de metodologia. Sua tese principal: "Quando a taxa de retorno sobre o capital excede significativamente a taxa de crescimento da economia (como aconteceu por muito tempo na História... e provavelmente também acontecerá no século XXI), a consequência lógica é que a riqueza herdada cresça mais do que a produção e a renda... Nessas condições, é quase inevitável que a riqueza herdada dominará e por grande margem a riqueza amealhada por uma vida de trabalho, e a concentração do capital atingirá níveis extremamente altos e potencialmente incompatíveis com os valores meritocráticos e princípios de justiça social fundamentais às sociedades democráticas modernas" (pág. 26). Discordo, pois se uma economia seguir crescendo, com todos melhorando de vida, ainda que uns mais e outros menos, mesmo estes poderão não ver injustiça social no processo.
O livro não cita o Brasil uma vez sequer. A distribuição de sua atenção se concentra em EUA, Japão, Alemanha, França e Grã Bretanha. No nosso país a concentração de renda é muito alta e os dados existentes não permitem analisar adequadamente a distribuição de riqueza. Mas basta andar por aí para ver que também é fortemente concentrada.

Quanto ao que fazer, novas discordâncias. Piketty prega uma "tributação progressiva e global do capital", o que "exigiria considerável grau de coordenação internacional" (pág. 27). Na palestra: essa tributação "seria baseada na troca automática de informações bancárias". Ora, não há como ter a aprovação unânime dessa ideia. Mais países se tornariam paraísos fiscais para cidadãos insatisfeitos de países aderentes, como já ocorre hoje com relação a países de tributos mais altos.

Voltando ao Brasil, na apresentação recomendou: "... precisa de mais transparência quanto a (dados de) renda e riqueza; tributação progressiva sobre a renda, herança e riqueza seriam uma forma poderosa de produzir informação sobre como os diferentes grupos de renda e de riqueza se beneficiam do crescimento".

Ora, para avançar nessa direção é fundamental atentar para as condições locais. O.k. para maior transparência e tributação progressiva de renda e herança. Aqui há impostos sobre renda em geral, propriedade imobiliária e herança, chamados de diretos, e na Constituição há o Imposto sobre Grandes Fortunas, que carece de lei complementar e vai ficando no armário. Ademais, entre outras dificuldades esse imposto interferiria com o IPTU e o Territorial Rural. Ambos carecem de cadastros que reflitam melhor o valor das respectivas propriedades, o que também poderia levar a uma cobrança mais realista e progressiva.

Ademais, estudos mostram que impostos indiretos, como ICMS, IPI e outros, predominantes na arrecadação tributária, são regressivos, pois incidem sobre o consumo, cuja participação nos gastos das pessoas decresce com a renda. Entre outras distorções, pesam muito nos preços e levam muitos brasileiros a comprar no exterior. Caberia diminuir o gravame desses impostos e ampliar o dos diretos. Nossa tributação não tem caráter e prefere esconder impostos nos preços.

Pode-se também melhorar as condições dos mais pobres atuando sobre os gastos públicos, como os do Bolsa Família. E não dar tanto aos mais ricos, como nos financiamentos subsidiados do BNDES. Na mesma linha, permanece por enfrentar o ensino superior público gratuito, no qual predominam alunos cujos pais poderiam pagar por ele, gerando recursos prioritariamente para bolsas de estudo para estudantes pobres que sem elas têm de trabalhar. Ou seja, é preciso ir do ensino gratuito para o estudante pago.

Também é indispensável ponderar que o Brasil ainda não é rico. Os países que Piketty observou mais têm renda por habitante com valor perto de quatro vezes a do Brasil. Assim, os brasileiros precisam ser estimulados a estudar, trabalhar, poupar e investir mais, acumulando mais capital nas suas várias formas, sem que a insaciável sede tributária do governo os desvie desse caminho.

*Roberto Macedo é economista (UFMG, USP e Harvard),
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Comentários Paulo Roberto de Almeida"

1) Em 3/12/2014:
    Gostei do artigo, mas minha observação, mais de ordem metodológica do que prática, focaliza num aspecto.
    Piketty faz um amalgama com o que chama de capital (que parece ser tudo o que não deriva diretamente do trabalho ou de fontes não diretamente monetárias), e acha que isso paira acima das gerações, sem cuidar de quem está fisicamente na posse desse capital e de como isso vai sendo utilizado no curso de uma vida e intergeracionalmente.
    Ou seja, no processo de reprodução do capital -- que parece para ele a mesma entidade metafisica com que se preocupava Marx, transformando-o num deus ex machina -- ele não se pergunta quantos empregos e renda adicional foram criados com e para outros que não os detentores diretos do capital nesse processo.
    Não sei se se pode admitir facilmente que a taxa de retorno do capital sempre vai exceder o crescimento da economia, uma vez que a valorização de ativos pode sofrer setbacks muito frequentes.
    Quem tinha ações da AOL antes da crise das dot.com, em 2000, pode ter vendido e se aposentado precocemente com milhões na conta, mas quem comprou na alta, pode estar sofrendo até hoje.
    Quem comprou ações da Petrobras a 40, usando seu FGTS, se pergunta hoje quando é que vai recuperar o seu capital com uma ação a menos de 13 atualmente.
    Enfim, eu posso estar errado, mas não consigo conceber esse amalgamento artificial de riquezas de diversas origens nessa categoria imanente chamada capital, e isso me parece ser um problema conceitual e de classificação de ativos que tem de ser resolvida pelos economistas.

    Agora volto a insistir num ponto. Ainda que tudo isso seja correto, ou seja, que existe realmente essa tendência inevitável dos mercados livres de fazer concentração da renda, a menos de medidas corretivas pelos governos, ou grandes desastres humanos e acidentes naturais, não veja nada de economicamente racional na decisão de tomar esse dinheiro dos detentores do capital para distribuir entre os detentores do trabalho. Tudo isso é uma decisão política, que pode resultar numa taxa ainda menor de crescimento e nesse caso todos perderiam.
    Meu ponto é: o francês fica propondo fórmulas para empobrecer os muito ricos, que são poucos, em lugar de encontrar maneiras de enriquecer os muito pobres, que são muitos...

2) Em 2014-11-30 20:35, Paulo R. Almeida escreveu:
 Roberto,
 Muito grato pela remessa da apresentação do Piketty em SP. Creio, pessoalmente, que ele parte de um bom case — a concentração crescente de renda e riqueza nos estratos superiores — para tirar as conclusões erradas: a de que é preciso um bom Estado distributivista para melhorar o perfil da distribuição e caminhar para uma situação de maior justiça fiscal e, supõe-se, de maior igualitarismo distributivo.
 Todo mundo sabe e todos concordariam em que os EUA apresentam maior dinamismo em seu sistema econômico, e um perfil distributivo mais desigual. Não se trata de opinião, ou de doutrina, são apenas fatos, baseados em dados reais. A Europa, justamente, por ser mais distributiva, tende a crescer menos, e portanto só poderá distribuir menos riquezas, cumulativamente ao longo do tempo. A China também, vem retirando um número impressionante de pessoas de uma miséria execrável e colocando-as numa situação de pobreza aceitável, em muitos casos até de relativo bem-estar. Isso com base num sistema igualmente dinâmico, e altamente concentrador de renda, o que provavelmente vai ser atenuado no futuro, com base em políticas fiscais corretivas e investimentos adequados nos equipamentos sociais, como mostrou Thomas Ballogh para os países avançados no decorrer do século 20.
 Creio que Piketty bate no gato errado: ele está tentando empobrecer os ricos, em lugar de usar toda a sua expertise analítica para enriquecer os pobres. É uma via que não se sustenta, tendo em vista a experiência já acumulada.
 Poucos ouviram falar na "Estratégia de Lisboa", um exercício prospectivo conduzido em meados dos anos 1990 pelos eurocratas e professores brilhantes da UE, que foi formalizado em 2000 (quando Portugal estava na presidência da UE. Se tratava de converter a UE, em 2010, na região mais avançada do mundo com base na economia do conhecimento. Bem, já em 2005 (bem antes da crise, portanto) era posssível perceber que a Europa demoraria muito para alcançar os EUA, e de fato está ficando para trás.
 Com base no seu dinamismo econômico, e um pouco na desigualdade, a renda per capita dos EUA mantém-se bem à frente da média europeia, inclusive dos países mais avançados. Não vale mencionar os casos do Luxemburgo, Lietchenstein ou Monaco, com renda superior a 120 mil dólares, pois essa é exatamente a renda de um morador de NY, e esses países são ricos supostamente porque também seguem bem mais um padrão americano, ou de Manhattan (serviços financeiros), do que europeu.
 Acho que cabe um esforço de despikettização mental sobre os verdadeiros problemas do mundo, que não estão no fato de existir um punhado de super-hiper-megabilionários, e sim a evidência de que existem muitos pobres ainda. Acho que os economistas fariam um melhor serviço para a humanidade se tentassem diminuir o número de pobres, não o de ricos.

Taxa de juros: alta, baixa, no patamar correto? - Russell Lamberti (Mises)

Eu sempre achei que os juros, assim como o câmbio, deveriam ser os que o mercado determina, não os que o governo impõe.
Corrijo-me. Sempre achei não. Antigamente eu era um ignorante econômico, mas depois, olhos abertos. leituras adequadas, fui melhorando.
Os juros e o câmbio estão sempre melhor quando determinados pelos mercados, não por manipulações dos governos.
Este artigo explica por que e como.
Paulo Roberto de Almeida 

Getting Interest Rates Right (Is a Job For Markets)
Russell Lamberti
Mises Daily, December 4, 2014

When the central bank meets to decide on the level of interest rates, most people care about only one thing: are my home loan, car, and credit card repayments going up, down, or staying the same? Although this is no trivial concern given the importance of managing a household budget, such a limited view does scant justice to the broad, critical, and complex role interest rates play in an economy.

What Soda Prices Tell Us About Interest Rates

The usual narrative is that low rates are good and high rates are bad. But the real problem is not “high” interest rates, but wrong interest rates. You see, interest rates are like prices. Like the price of a soda drink is agreed between seller and buyer, so interest rates are the price of loans agreed between lender and borrower.

Suppose the government forced the price of sodas to half their market level, jailing anyone caught selling them at any price above this new level. What happens? Soda lovers flock to the stores to buy soda. Soda makers, by contrast, take heavy losses and either close down or find some way to make cheap and less tasty soda for half the original cost. The supply of soda plummets, while the quality of good soda free falls.

Paradoxically, setting a price artificially low makes a product easy to buy for a while, but eventually leads to shortages. Interest rates in most modern economies work in a similar way. The central bank forces this price (the interest rate) to a desired level through extensive regulatory control over the banking system, relying on the fact that the money it creates is the only legally permissible money used in trade. When the central bank forces interest rates too low, borrowers think life is great. Houses, cars, and furniture seem cheap and starting a business with a loan is easy. Except that discerning lenders don’t see much point in lending anymore, because they are no longer adequately compensated for their costs and risk. Not only do loans from these lenders dry up, but the quality of remaining loans falls.

Make Lots of Cheap, Low-Quality Loans

How does the quality of loans fall? Just like the soda makers who sourced cheap and less tasty products, so credit providers (banks) move away from sourcing funds from discerning investors who would charge more, and rely instead on getting cheap money directly from the central bank, which prints it out of thin air and lends it to the bank at the cheap rate.

With this cheap funding, and with the ability to resell the loans to governmental and quasi-governmental organizations like Fannie Mae, the banks don’t have to be nearly as careful who they lend to and can happily accept lower interest repayments from borrowers. And, if things go wrong, the banking system can also appeal to the Fed and the US treasury for bailouts.

Risky borrowers who were unable to pay the rate of interest discerning lenders demanded can now access cheap loans. Simultaneously, even prime borrowers are misled by the reduced interest rate into projects that turn out to be malinvestments.

Furthermore, because the loans created out of thin air look exactly like the money in the hands of discerning lenders, this poor quality is veiled and people are fooled into thinking that discerning lenders are supplying loans, when in fact they’re running for the hills. (But even the discerning lenders are fooled in the initial phases of the boom as the new money makes borrowers look more stable and profitable than they really are.)

Consuming More Than We Produce

This ends in disaster. Borrowers get into too much debt and the money loaned out of thin air floods into the economy. New money in people’s hands causes the economy to consume more than it produces and the result is a gaping and unsustainable trade deficit. The new flood of money pushes prices up and causes the currency to weaken.

After initially feeling flush, people realize they are not as well off as they thought as price increases eat into their real living standards. Forced to rein in inflation before it destroys everyone’s living standards, the central bank hikes interest rates to entice the discerning lenders to do more lending. Businesses addicted to cheap loans find their input and funding costs rising unexpectedly, damaging profitability.

The return of discerning funding is critical for sustainable economic growth, because it funds productive capital investments that yield the highest return, creating jobs and quality, affordable products. Meanwhile, higher interest rates punish those who gorged on artificially cheap credit, restoring the economy to healthy reality and balance.

The next time the central bank meets to decide on the level of interest rates, don’t just ask how much your home loan payments are going to cost next month. Also ask: are interest rates at the right level to foster sustainable economic progress, and might I be living an illusion?

Estupro economico: uma nova figura na criminologia

Deve valer para outros países também, por exemplo a Venezuela e a Argentina, o que não nos deixa exatamente em boa companhia. 
Mais um crime econômico do desgoverno. 
Paulo Roberto de Almeida

Mais de 18 horas! Esse foi o tempo que durou a sessão do Congresso que debateu, votou e aprovou o projeto de lei do governo federal que, na prática, elimina as metas da Lei de Diretrizes Orçamentárias, numa clara ofensa ao Artigo 165 da Constituição. Acabou a sessão: 4h58. A oposição tentou aprovar alguns destaques. Como dizia o poeta, “debalde!” O governo conseguiu, como dizer?, unir a base. Dilma, que deve estar dormindo a esta hora, tomará o café da manhã convicta de que a sua base tem um preço. E ninguém poderá condená-la por fazer esse mau juízo dos seus companheiros, não é mesmo?

Como vocês devem se lembrar, decreto presidencial eleva em R$ 748 mil o valor das emendas individuais de deputados e senadores, mas condicionando essa elevação à aprovação do texto escandaloso.

Na Câmara, o texto principal foi aprovado por 240 votos a favor e 60 contrários — não custa lembrar que a Casa tem 513 deputados. Vá lá: 40% não foram reeleitos e talvez já tenham deixado Brasília, mas a adesão ao projeto, ainda assim, é baixa. No Senado, o texto contou com 39 votos a favor e um contra. Foi na trave. Como o quórum mínimo era de 41 senadores, Renan Calheiros, que presidia a sessão do Congresso — as duas Casas unidas — computou o seu voto, o que não é usual.

A oposição foi derrotada no mérito? Foi, sim! Mas fez um belo papel. Esse é o caminho. O projeto do governo foi esmiuçado, detalhado, exposto com todos seus descalabros e despropósitos. A canseira foi grande.

Também devem se considerar vitoriosas as pessoas que se mobilizaram para protestar em Brasília, obrigando Renan Calheiros a recorrer à truculência para esvaziar as galerias. Era certo que o governo venceria, mas foi, sim, uma vitória de Pirro, conseguida a um custo alto — inclusive o moral. E o Congresso que vem por aí no ano que vem é menos servil do que esse.

A oposição, finalmente, dá sinais de como é que se devem fazer as coisas. Isso é o que se espera dela. Essa é a cobrança de pelo menos 51 milhões de eleitores — hoje, talvez sejam mais. Essa é a oposição que presta contas a quem a escolheu para enfrentar o governo, não aquela que endossou, de maneira preguiçosa e impensada, o nome de Vital do Rêgo para o TCU.

E, é claro, se a oposição quiser, a questão tem de ser levada ao Supremo Tribunal Federal. A constituição foi violada.