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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
quarta-feira, 31 de agosto de 2016
Esquizofrenia e alienacao da esquerda - Wanderley Guilherme dos Santos, um alucinado
Mas as loucuras são extensas, disseminadas, amplas e irrestritas.
Paulo Roberto de Almeida
Governo Temer é profundamente antinacional. É pior que 64’.
Entrevista com Wanderley Guilherme dos Santos
Marco Weissheimer
Sul21, 29/08/2016
“O governo de Michel Temer dá as primeiras passadas, acelerando para o grande salto para trás e a grande queima de estoques. A massa assalariada brasileira está sendo vendida a preços de saldo, com as liquidações iniciais dos programas educativos e sociais. O patrimônio de recursos materiais, como antes, será oferecido como xepa. A repressão à divergência não será tímida. Não há nada a esperar”. Esse é o resumo da obra que será exibida no Brasil nos próximos meses, talvez anos, na avaliação do cientista político Wanderley Guilherme dos Santos, professor aposentado de Teoria Política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pesquisador sênior do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP-UERJ).
A entrevista é de Marco Weissheimer, publicada por Sul21, 29-08-2016.
Em um artigo intitulado “O grande salto para trás de Michel Temer”, publicado em seu blog “Segunda Opinião”, o cientista político prevê dias sombrios para o país e aponta algumas características do bloco que apoia Temer e que pretende implantar uma novaagenda política e econômica no país, sem ser referendada pelo voto popular, com a confirmação da derrubada da presidenta Dilma Rousseff.
Wanderley Guilherme dos Santos fala sobre essa agenda, destacando o seu caráter profundamente antinacional. Para ele, o movimento golpista pretende recolocar o Brasil no fluxo normal das relações do capitalismo que havia sido interrompido com a eleição de Lula em 2002. “O que vai acontecer agora, e já começou a acontecer, como tem ocorrido em várias democracias sociais no mundo inteiro, uma redefinição programática drástico dos contratos de solidariedade social com uma hegemonia desabrida da lógica do interesse do capital”, assinala. Para tanto, acrescenta, a esquerda foi expulsa do jogo político legal por algum tempo. “Eles não deixarão Lula ganhar a eleição em 2018 em hipótese alguma. Não sei como vão fazer, mas não deixarão”, diz, advertindo que a tentativa de prisão do ex-presidente Lula é uma possibilidade real neste cenário.
Eis a entrevista.
Como você definiria a atual situação política do país e, mais especificamente, o que está acontecendo no Senado nos últimos dias, com o julgamento do impeachment da presidenta Dilma Rousseff?
Eu não tenho acompanhado o Senado e nem o Supremo Tribunal Federal porque, já há algum tempo, tenho a convicção de que está tudo essencialmente resolvido. É uma peça cuja primeira montagem, para a minha sensibilidade, teve alguma emoção. Agora, virou algo mecânico. Por isso não estou acompanhando o que ocorre no Senado. Não vai daí nenhuma depreciação das pessoas. Elas estão cumprindo o protocolo, mas, no fundo, todos sabem que está resolvido.
Com a confirmação do afastamento de Dilma, quais podem ser as repercussões políticas e sociais no país?
Acho que ocorrerão desdobramentos e aprofundamentos do telos, da finalidade deste movimento que pretende recolocar o Brasil no fluxo normal das relações do capitalismo que havia sido interrompido com a eleição de Lula em 2002. A inserção do Brasil nosistema capitalista evoluiu muito durante os governos de Fernando Henrique Cardoso, quando foram construídos laços explícitos com o modelo internacional. Previamente a isso, havia uma indefinição sobre o rumo que o país iria tomar. Mesmo durante o período militar, havia uma disputa permanente entre os nacionalistas e os mais, digamos cosmopolitas. Isso foi resolvido, primeiro, com a vitória de Collor e, depois, com a de Fernando Henrique, quando tivemos oito anos de ajustamento da dinâmica brasileira ao modelo capitalista internacional. Isso foi interrompido em 2002.
O que vai acontecer agora, e já começou a acontecer, como tem ocorrido em várias democracias sociais no mundo inteiro, uma redefinição programática drástico dos contratos de solidariedade social com uma hegemonia desabrida da lógica do interesse do capital. Esse processo já está em curso.
Na sua opinião, pode ocorrer uma reação na sociedade a esse processo, especialmente entre os setores que devem ser mais atingidos por essa redefinição programática? Há uma aparente calmaria na sociedade hoje, considerando a gravidade de tudo o que está acontecendo. O que essa calmaria expressa? Apatia? Indiferença?
Acredito que temos aí uma composição de percepções. Em primeiro lugar, há o reconhecimento da falta de recursos. Os assalariados, de modo geral, com a ameaça dedesemprego, estão muito pouco dispostos a participar de manifestações com pautas universais, generalizantes. Só farão isso por questões específicas. Essa postura obedece a razões materiais compreensíveis. Em segundo lugar, por uma avaliação, na minha opinião bastante sensata também, de que esse esquema de redefinição programática e de reajustamento reacionário é muito forte e pouco vulnerável a pressões externas. Ele tem algumas instabilidades, como essa briga agora entre Gilmar Mendes e o Ministério Público Federal, mas elas não transbordarão para uma associação com quem está de fora. Assim, acredito que essa aparente apatia não é, na verdade, uma apatia, mas sim uma avaliação bastante pessimista, porém racional.
Em que medida a Constituição de 1988 está sendo afetada pelo que está acontecendo agora no Brasil?
A Constituição, propriamente, não está sendo atingida. O texto da Constituição consagra uma série de votos de boa vontade. O que aconteceu, de 2002 até aqui, foi uma tradução desses votos constitucionais em políticas específicas sérias e sistemáticas. Como essas intervenções sociais não foram constitucionalizadas, como ocorreu, por exemplo, com a Consolidação das Leis do Trabalho, elas ficaram muito vulneráveis a mudanças ministeriais e de governo. Então, o que está ocorrendo agora é um desmanche das políticas sociais construídas a partir de 2002 e a instalação de uma forma diferente de ler os votos constitucionais que não são específicos, mas sim declarações de intenções. O que está sendo atingido é a gramática que traduzia essas declarações de intenções em políticas sociais específicas.
Qual é, na sua avaliação, a capacidade do PT e da esquerda brasileira de um modo geral, de resistir a esse processo e de enfrentar o período que se abre agora na história do país?
Há um trabalho que vem sendo realizado há alguns anos junto ao subconsciente da sociedade para cultivar a impressão de que tudo o que vinha sendo feito desde 2002 era algo paliativo, populista e maligno para comprar o apoio das classes mais desfavorecidas. Foram anos de condicionamento da subjetividade nacional e grande parte dela ficou bastante hesitante no que pensar diante de uma lava jato. Não obstante a execução efetiva dos procedimentos legais que até agora condenaram empresários, burocratas, marqueteiros e alguns políticos, o único grande nome do PT condenado neste processo é o Vaccari (João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do partido).
Desde o início da Lava Jato, os vazamentos, delações, declarações são sempre em relação ao PT. Por isso não cessa a Lava Jato. Toda semana tem uma ameaça nova sobre a prisão de fulano ou de sicrano. E não acontece. Não acontece porque não tem base e as coisas não colam. Há alguns meses, o Lula seria preso por causa do sítio em Atibaia ou por um apartamento no Guarujá. Isso era martelado diariamente como se fosse verdadeiro e suficiente para tornar alguém incomunicável. A Lava Jato colheu os frutos desses 13 anos de cultivo de uma subjetividade disposta a aceitar determinadas coisas. E a devastação produzida por isso foi muito grande. A imensa maioria das forças de esquerda não tem nada a ver com o número de pessoas denunciadas e condenadas pelaLava Jato. Há uma discrepância absoluta aí e ninguém está se dando conta disso.
Há dois processos em curso. Há um processo teatral e um processo real. Os personagens reais estão lá na lista de denunciados e sentenciados pela Lava Jato, da qual não constam políticos do PT, com exceção de Vaccari e Delcídio, que era um recém-chegado ao partido. A Lava Jato continua produzindo essa devastação na esquerda.
Então, é natural que o eleitorado de esquerda esteja, não digo intimidado, mas aguardando os acontecimentos, pois foi colocado sobre seus representantes um véu generalizado de suspeição, o que faz com que ninguém se arrisque a por a mão no fogo por ninguém. A situação de meio paralisia que vemos hoje é uma situação de intimidação. Tudo contribui para um curto e médio prazo não muito róseo para aesquerda brasileira.
Você acredita que a Lava Jato, uma vez confirmado o afastamento da presidenta Dilma, tende a terminar?
Não. Pode até ser que eles tenham pensado nisso em algum momento do processo, mas acho que tomaram gosto pela coisa. É um poder que, agora, o Gilmar Mendesidentificou. É um poder excepcional esse de ter informações sigilosas sobre as pessoas, de saber quem faz o quê, em um contexto em que acusação e difamação se confundem. É um poder tirânico, aparentemente dentro da lei. Eu duvido que isso termine tão cedo.
Em que medida esse bloco que está apoiando Temer e a derrubada da Dilma é um bloco coeso e sólido, considerando especialmente as relações entre PMDB e PSDB?
Pode haver algumas rusgas internas, mas acho que o bloco reacionário é sólido. A esquerda foi expulsa do jogo político legal por algum tempo. Lamento, mas eu leio o que está escrito. Posso estar lendo errado, mas tento ler o que está escrito.
Como avalia a possibilidade do movimento sindical e dos movimentos sociais resistirem à agenda de políticas defendidas pelo bloco político e social de Temer, que inclui propostas como a flexibilização da CLT e a precarização de direitos?
Os movimentos sociais podem resistir um pouco, mas dentro do sistema político legal atual, lá entre eles, a situação não é tão fácil assim. Nem todos são reacionários de alfa a ômega. Há representantes dentro do Legislativo e da burocracia que tem interesses a defender e estão envolvidos com uma série de políticas. Então, acho que não será tão fácil para eles e não cumprirão 100 por cento do que gostariam os mais radicais deles, mas isso por conta de resistências dentro do próprio bloco deles. Esse bloco é muito sólido no seu veto à esquerda. O consenso básico deles é: esquerda fora. Esse é o denominador comum que os unifica.
“Em certo sentido, o golpe atual é pior que o de 64, pois tem um compromisso antinacional e reacionário muito mais violento”.
Tudo isso que estou dizendo não significa que nós vamos ficar olhando para tudo isso de braços cruzados, sem fazer nada. O que estou fazendo é procurar ver essa conjuntura com um olhar realista, inclusive para não criar expectativas falsas. As lideranças da esquerda não podem ficar levantando expectativas falsas que sabem que não poderão cumprir. Isso é ruim. O que não quer dizer que vamos ficar parados. Nós ficamos parados durante a ditadura? Não e tampouco ficaremos parados agora. Na ditadura, não acreditávamos que, em 48 horas, iríamos derrubar os generais. Nem por isso ficamos parados.
Em certo sentido, o golpe atual é pior que o de 64, pois tem um compromisso antinacional e reacionário muito mais violento que o dos militares daquela época. Estes tinham uma seção autoritária, mas comprometida com interesses nacionalistas. Não é o caso agora. Cerca de 90% desse bloco que apoia Temer é profundamente antinacional. Isso não está acontecendo só aqui, vem acontecendo pelo mundo inteiro depois da crise de 2008.
Você vê alguma possibilidade de Lula vencer a eleição em 2018 e retornar ao governo?
Eles não deixarão Lula ganhar essa eleição em hipótese alguma. Não sei como vão fazer, mas não deixarão. A esquerda não ganhará a eleição em 2018 de jeito nenhum. O que não quer dizer que a gente não vá mostrar a cara. Dependendo do andar da carruagem e se as eleições fossem livres, hoje eu acho que eles perderiam. O governo Temer é muito ruim e está afetando todo mundo. Se houvesse uma eleição para valer, eles perderiam. Como é que eles vão fazer eu não sei. O compromisso que eles estão assumindo, em nível nacional e internacional, é de tal envergadura que eles não podem perder a eleição em 2018.
Na sua opinião, o tema da prisão de Lula ainda é uma possibilidade?
Acho que sim. Estão preparando o ambiente e o farão quando avaliarem que isso provocará apenas alguns protestos impotentes. Há um ano, eles não fariam, pois não daria certo. Eles não estão para brincadeira e vêm trabalhando sistematicamente para “acostumar” a opinião pública com a ideia da prisão de Lula. Eles vêm realizando sucessivas ameaças, às quais reagimos, para ir criando o clima. A ideia é que, ao longo dessas sucessivas ameaças, a nossa reação vá perdendo força na sociedade.
Como definiria a atuação do STF neste processo? Há setores do Supremo que fazem parte orgânica desse bloco de Temer?
Sim, fazem. A maioria do Supremo é servil. Os que não são, se acomodam e se acovardam. Só esboçam alguma reação em coisas secundárias. Na hora de decidir sobre temas essenciais, isso desaparece.
Outra instituição que vem sendo apontada como uma protagonista do golpe é a chamada “grande mídia”. Como definiria o papel desse setor?
É claro que também faz parte desse mesmo bloco. Não há nenhuma dúvida quanto a isso. Esse encontro entre Legislativo, Judiciário, Supremo, empresariado e mídia é uma circunstância que aconteceu. Não é fácil de acontecer, mas aconteceu. Acho que nem foi o resultado de uma coisa totalmente planejada, pois é muito difícil planejar algo dessa natureza. Mas acontece e, quando acontece, eles têm consciência de que aconteceu. Eles sabem o que aconteceu e, por isso, estão à vontade para cometer as maiores barbaridades como se fossem verdades. Hoje, se alguém ligado à esquerda entra com um habeas corpus ou algo do gênero no Supremo, eles negarão o pedido. Pode parecer exagerado, mas é isso mesmo. O que está acontecendo não é brincadeira. A gente esquece como isso tudo começou. Há alguns anos, o que estamos vendo agora era algo impensável. Hoje acontece como se fosse algo normal.
Considerando o bloco político social que apoia Temer hoje é possível fazer uma comparação com aquele bloco que apoiou o golpe de 64?
Não, é uma realidade bem diferente. Em 64, não havia uma sociedade organizada e diversificada como hoje. Os militares obtiveram uma maioria conjuntural, mas depois as coisas foram ficando mais complicadas. Não tem nada a ver com 64. Como disse, acho que o que acontece agora, em certo sentido, é pior em função do caráter profundamente antinacional desse bloco.
terça-feira, 30 de agosto de 2016
Crise politica na Venezuela recrudesce na vespera de manifestacao oposicionista
Governo suspende prisão domiciliar do ex-prefeito Daniel Ceballos e proíbe voo de jatos particulares no país por uma semana
ALFREDO MEZA
Caracas 29 AGO 2016 - 18:34 BRT
A Venezuela viverá nesta quinta-feira um novo capítulo de sua infindável polarização. A oposição planeja ocupar as ruas de Caracas, a capital, com uma passeata que partirá de vários locais, confluindo para se concentrar em seu feudo, a região leste da cidade, para exigir que o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) acelere a realização do plebiscito revogatório do presidente Nicolás Maduro. O Governo, por sua vez, também decidiu sair às ruas, em um esforço de mobilização para tentar se contrapor ao repúdio à sua gestão anunciado pelas pesquisas e agitando a bandeira da existência de um possível golpe de Estado em curso contra si, recurso clássico do chavismo quando a temperatura do conflito aumenta no país.
O Governo organizou um dispositivo para a venda de alimentos controlados, que se tornaram escassos devido às condições impostas pelo seu próprio modelo econômico, e anunciou “a ocupação da Venezuela”. A expectativa é de que, nesse dia, seus simpatizantes se concentrem nas praças públicas e avenidas em todas as cidades do país. Os funcionários mais leais a Maduro reiteraram as ameaças de demitir altos cargos de sua administração que respaldaram uma saída antecipada de Maduro.
No sábado, o Governo deu sinais de que parece estar levando muito a sério as manifestações de quinta-feira. Durante a madrugada, membros do Serviço Bolivariano de Inteligência invadiram a casa de Daniel Ceballos, ex-prefeito de San Cristóbal e considerado o número três do Partido Vontade Popular, organização dirigida pelo famoso oposicionista Leopoldo López, para executar a ordem de um tribunal de suspender a sua prisão domiciliar. Horas depois, o Ministério da Justiça emitiu uma nota em que afirmava ter descoberto que Ceballos, um dos líderes das violentas manifestações ocorridas no primeiro semestre de 2014, planejava fugir para coordenar “ações violentas” na clandestinidade a partir de 1 de setembro. Ceballos foi, então, recolhido a uma penitenciária na região central da Venezuela.
Uma parte da mais alta direção do partido de López –o prefeito David Smolansky e os deputados Luis Florido e Freddy Guevara—também está sendo ameaçada de prisão, segundo denúncia veiculada no Twitter pelo presidente da Assembleia Nacional, Henry Ramos Allup. O regime está convencido de que a Vontade Popular tem conseguido convencer o restante da oposição a transformar uma manifestação como a de quinta-feira em um pretexto para derrotar Maduro. Florido, que é também presidente da Comissão de Política Externa do Parlamento, afirmou que o governo planeja criminalizar a chamada “ocupação de Caracas”.
Durante todo o dia de sábado, esperava-se que o prefeito de Caracas, Antonio Ledezma, preso em sua residência desde 2014 após os violentos incidentes do primeiro semestre daquele ano, também fosse transferido, como Ceballos, para uma penitenciária. Apesar das medidas especiais adotadas pelos responsáveis por sua segurança, o rumor não se concretizou.
O Governo dos Estados Unidos se disse “profundamente preocupado” com a decisão de se colocar Ceballos novamente na prisão. Em nota divulgada neste domingo, o porta-voz do Departamento de Estado, John Kirby, condenou a manobra, vista por Washington como “uma tentativa de intimidar e impedir o direito dos venezuelanos de expressar a sua opinião livremente em 1 de setembro”; o documento exige a “imediata libertação” de Ceballos. “Em uma sociedade democrática, não há espaço para usar os instrumentos do Estado com o objetivo de intimidar e silenciar a oposição política”, diz a nota.
Suspensão de voos particulares
O Instituto Nacional da Aeronáutica Civil acrescentou mais lenha na fogueira daqueles que avaliam que o governo quer evitar que se façam registros visuais para mostrar a dimensão da manifestação marcada para esta quinta-feira. Desde sábado, estão proibidos os voos de jatos particulares e de drones em todo o território venezuelano. A medida é válida até o dia 5 de setembro.
Na ausência de explicações oficiais, o argumento referente ao temor do governo começa a ganhar corpo nas redes sociais e entre os analistas políticos. Foi uma medida surpreendente que visaria também, segundo essas interpretações, a evitar o deslocamento de dirigentes políticos estrangeiros para participar do protesto. A mulher de López, Lilian Tintori, havia anunciado na semana passada a presença, em Caracas, de representantes de várias organizações estrangeiras.
As expectativas criadas em torno da manifestação não repercutiram na disposição das autoridades eleitorais, que sempre aguardam pelo vencimento de todos os prazos estabelecidos pelo cronograma do plebiscito a fim de anunciar os passos seguintes. “A passeata da oposição não altera os nossos planos em nada”, afirmou a Socorro Hernández, integrante do CNE, alertando para o fato de que qualquer ocorrência violenta na manifestação poderá levar à suspensão do processo que pretende colocar um fim ao mandato de Maduro.
Segundo esse plano, o segundo passo do longo caminho da oposição será dado no fim de outubro. Durante três dias, em datas ainda não definidas, a oposição tentará recolher apoio de 20% do eleitorado para finalmente obrigar à convocação do plebiscito. Falta definir alguns detalhes para que essas datas sejam marcadas e anunciadas.
Duas integrantes governistas do CNE –a própria Hernández e Tania D’Amelio— defendem, porém, que cada uma das 23 províncias do país precisaria registrar pelo menos 20% de eleitores favoráveis à consulta para que esta seja convocada. Se essa condição prevalecer, será um novo marco na história da Venezuela para esse tipo de consulta popular. No processo anterior, convocado em 2004 contra o então presidente Hugo Chávez, o que se considerou foi o total de assinaturas recolhidas em todo o país, independentemente dos percentuais obtidos em cada região.
Guerra Civil Espanhola: 80 anos - uma palestra em SP - Paulo Roberto de Almeida
Paulo Roberto de Almeida
Brazil-Cuba-EUA: crise dos misses sovieticos em 1962, Secret Brazilian Diplomacy - video com a palestra de James Hershberg
James G. Hershberg é professor de História e Relações Internacionais na Universidade de George Washington e diretor emérito do Cold War International History Project, do Woodrow Wilson International Centers for Scholars.
Espanha: sua importancia para o Brasil - Seminario na Funag, 31/08, 9h30-12h00
Embaixador Sérgio Eduardo Moreira Lima, presidente da Funag: Abertura
Embaixador Seixas Corrêa: Brasil-Espanha nos tempos da União Ibérica (1580-1640)
Prof. José Carlos Brandi Aleixo: Anchieta e a influência dos jesuitas na educação
Vamireh Chacon: Ortega y Gasset e o pensamento espanhol no Brasil
Embaixador da Espanha Manuel de la Camara Hermoso: Relações Brasil-Espanha: atualidade e perspectivas
segunda-feira, 29 de agosto de 2016
Quem sao, e o que fazem, os internacionalistas da AL? - Arlene B. Tickner; Carolina Cepeda; José Luiz Bernal
¿Quiénes son los internacionalistas en Latinoamérica?
Arlene B. Tickner; Carolina Cepeda; José Luiz Bernal
Foreign Affairs Latinoamerica, vol. 13, n. 2, abril-junio 2013, p. 42-49
https://www.academia.edu/27928791/Quienes_son_los_internacionalistas_en_Latinoamerica
www.fal.itam.mx
V Congresso Latino-americano de Historia Economica - resumo do encontro
QUINTO CONGRESSO LATINOAMERICANO DE HISTÓRIA ECONÔMICA (CLADHE V)
O V Congresso Latino-Americano de História Econômica (CLADHE V) foi realizado na cidade de São Paulo, Brasil, entre os dias 19 e 21 de Julho de 2016. As instituições organizadoras do evento foram as associações de História Econômica da Argentina, do Brasil, do Chile, do Caribe, da Colômbia, do México, do Peru e do Uruguai, assim como da Espanha e de Portugal, como convidadas. A Associação Brasileira de Pesquisadores em História Econômica – ABPHE – e a Faculdade de Economia, da Universidade de São Paulo – FEA/USP, com sede na cidade de São Paulo, eram as instituições anfitriãs.
Seguindo a tradição dos congressos anteriores realizados desde 2007, o CLADHE V é um espaço acadêmico para debater as recentes pesquisas de história econômica da América Latina, assim como para abordar as perspectivas globais e comparativas com outras regiões. A organização do CLADHE buscou incentivar a participação conjunta de pesquisadores dos países latino-americanos e de outras partes do mundo para difundir e discutir seus trabalhos bem como estabelecer agendas de pesquisa comuns. Os idiomas oficiais do CLADHE V eram o espanhol e o português; entretanto, foram bem-vindos trabalhos e apresentações em inglês.
O evento contou com duas Conferências proferidas por Victor Bulmer-Thomas da University College London, Grã-Bretanha e de Gareth Austin de Cambridge University, Grã-Bretanha e do Graduate Institute, Genebra, Suíça, que respectivamente trataram do Imperialismo dos Estados Unidos na América Latina e da Relação do desenvolvimento econômico africano e latino-americano durante o século XX. Ainda como parte das atividades acadêmicas voltadas ao público geral, foram realizadas seis mesas redondas. A seleção dos temas das mesas buscou atender aos interesses dos participantes, abarcando períodos históricos e grandes questões temáticas da história econômica latino-americana. Para compô-las, foram convidados pesquisadores de diferentes nacionalidades, de maneira que fosse possível dar um panorama para cada tema por meio de perspectivas nacionais distintas e, quando possível, complementares. A mesa-redonda 1. Fiscalidade na Colônia contou com a presenta dos professores Angelo Carrara (UFJF, Brasil), Roberto Schmit (Universidad de Buenos Aires, AAHE, Argentina) e Ernest Sánchez Santiró (Instituto Mora, México). A mesa-redonda 2. 1ª Globalização foi composta pelos professores Sandra Kuntz (El Colegio de México, AMHE, México), Manuel Llorca (Universidad de Santiago de Chile, AChHE, Chile), Carlos Contreras Carranza (Universidad Católica de Perú, APHE, Peru) e Paulo Roberto de Almeida (Centro Universitário de Brasília, Brasil). A mesa-redonda 3 tratou do tema da Escravidão com os profesores Dale Tomich (Binghamton University, Estados Unidos), Rafael Marquese (FFLCH/USP, Brasil), Luiz Felipe Alencastro (FGV-SP, Brasil) e José Antonio Piqueras (Universitat Jaume I, Castellón, AHEC, Espanha). A mesa-redonda 4. Industrialização e desenvolvimento foi composta pelos professores Mario Rapoport (Universidad de Buenos Aires, Argentina), Reto Bertoni (Universidad de la República, AUDHE, Uruguai), Pedro Cezar Dutra Fonseca (UFRGS, Brasil) e Aurora Gómez Gavarriato (El Colegio de Mexico, México) A mesa-redonda 5 teve como temática o Pensamento Econômico Latino-Americano e foi composta pelos professores Andrés Álvarez (Universidad de los Andes, ACHE, Colômbia), Alexandre Mendes Cunha (UFMG, Brasil), Mauro Boianovsky (UNB, Brasil) e Luís Bértola (Universidad de la República, Uruguai). Finalmente, a mesa-redonda 6. Relações Brasil-África teve como expositores os professores John Schulz (BBS, Brasil), Gareth Austin (The Graduate Institute of International and Development Studies, Genebra, Suíça), José Manuel Gonçalves (UFF, Brasil) e Paris Yeros (UFABC, Brasil). Ademais, o evento teve como sessões ordinárias os 39 Simpósios Temáticos aprovados, coordenados por 2 ou 3 docentes de ao menos duas nacionalidades diferentes, e com a presença de 10 a 25 pesquisadores como apresentadores de trabalhos. Ao todo, foram 620 artigos aprovados, com mais de 700 pesquisadores entre coordenadores de Simpósios Temáticos e autores e coautores de artigos. Durante o evento circulou, contudo, cerca de 500 congressistas, especialmente dos países latino-americanos. Na quarta-feira, dia 20, foram realizados mais de 20 lançamentos de livros, divididos em 6 sessões.
Sendo assim, com três dias intensos de Simpósios Temáticos, conferências e mesas-redondas, acreditamos que o V Congresso Latino-Americano de História Econômica cumpriu de maneira extremamente satisfatória o objetivo de construir um espaço de diálogo e debate entre os pesquisadores da área na região. Ademais, com a organização do evento, a ABPHE tornou-se responsável pela organização, seguindo a tradição de que o evento deve circular entre as associações latino-americanas de história econômica. Por outro lado, a FEA/USP, sede da fundação da ABPHE, mostrou-se palco importante de realização dos eventos da área, tornando-se a sede do primeiro CLADHE no Brasil.
Assim, seguindo os exemplos dos encontros da ABPHE, que são efetivamente um dos espaços mais privilegiados no país para a disseminação do conhecimento entre historiadores econômicos brasileiros, a realização do CLADHE no Brasil foi decisivo para estreitar os laços de nossos pesquisadores com a comunidade latino-americana.
Agumas Revistas de História Econômica
América Latina en la História Econômica
Instituto Mora, México
http://alhe.mora.edu.mx/index.php/ALHE
Revista de Historia Económica – Journal of Iberian and Latin American Economic History (RHE-JILAEH)
Instituto Figuerola, Carlos III, Universidad de Madrid, España
http://journals.cambridge.org/action/displayJournal?jid=RHE
Economic History Review (EHR)
Economic History Society (United Kingdom)
http://www.ehs.org.uk/journal/index.html
História e Economia
Brazilian Business School (São Paulo, Brasil)
http://bbs.edu.br/a-bbs/revista-bbs/
Investigaciones de Historia Económica
Associação Espanhola de História Econômica
http://zl.elsevier.es/es/revista/investigaciones-historia-economica-328
Journal of Economic History (JEH)
The Economic History Association (USA)
https://eh.net/eha/publications/the-journal-of-economic-history/
Revista Tiempo y Economia (Colômbia)
Informações em: http://goo.gl/AqOSnO
Revista Uruguaya de Historia Económica (RUHE)
Associação Uruguaia de História Econômica, Uruguai
http://www.audhe.org.uy/revista/
I have a DREAM - Martin Luther King most famous speech - This Day in History (NYT)
In 1963, 200,000 people participated in a peaceful civil rights rally in Washington, D.C., where Dr. Martin Luther King Jr. delivered his "I Have a Dream" speech in front of the Lincoln Memorial.
http://www.nytimes.com/learning/general/onthisday/big/0828.html#article
200,000 March for Civil Rights in Orderly Washington Rally; President Sees Gain for Negro
ACTION ASKED NOW
10 Leaders of Protest Urge Laws to End Racial Inequity
By E. W. KENSWORTHY
Special to THE NEW YORK TIMES
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domingo, 28 de agosto de 2016
Equivocos arabes com relacao a Israel - Fred Maroun
por Fred Maroun
27 de Agosto de 2016
Original em inglês: The Arabs' Historic Mistakes in Their Interactions with Israel
Tradução: Joseph Skilnik
Fonte: Gatestone Institute
https://pt.gatestoneinstitute.org/8790/arabes-israel-equivocos
Nós árabes gerimos nosso relacionamento com Israel de maneira cruel, mas o pior de tudo é a contínua situação dos palestinos. Nosso pior erro foi não ter aceito o plano de partilha das Nações Unidas de 1947.
Talvez não se deva iniciar uma guerra se não se estiver preparado para os resultados de uma possível derrota.
Os judeus não mantêm os árabes em acampamentos, nós sim.
A Jordânia integrou alguns refugiados, mas não todos. Nós poderíamos ter provado que nós árabes somos um povo maravilhoso e nobre, mas mostramos ao mundo, e continuamos mostrando, que o nosso ódio aos judeus e a nós mesmos é de longe muito maior do que qualquer conceito que implique em solidariedade árabe.
Esta é a primeira parte de um artigo dividido em duas partes. A segunda parte irá examinar as alternativas de hoje para nós árabes.
No estado atual das relações entre o mundo árabe e Israel vemos uma colcha de retalhos de hostilidades, paz tensa, cooperação limitada, tranquilidade e violência. Nós árabes gerimos nosso relacionamento com Israel de maneira cruel, mas o pior de tudo é a contínua situação dos palestinos.
Primeiro Equívoco
Nosso primeiro equívoco durou séculos, ocorrendo bem antes da declaração de independência de Israel, em maio de 1948. Consistiu em não reconhecer os judeus como iguais a nós.
Conforme documentado por um proeminente estudioso americano da história judaica no mundo muçulmano, Mark R. Cohen, naquela época "os judeus compartilhavam com os demais não muçulmanos o status de dhimmis (não muçulmanos que pagam por proteção e obedecem leis humilhantes, distintas, para serem tolerados nas regiões controladas pelos muçulmanos)... Não era permitido construir novas casas de culto e as antigas não podiam ser reformadas. Eles deviam se comportar discretamente na presença de muçulmanos. Em suas práticas litúrgicas eles tinham que honrar a supremacia do Islã. Eram obrigados a se diferenciar dos muçulmanos no tocante às roupas e tinham que se abster de usar insígnias. Eles também eram proibidos de ocupar cargos de autoridade no governo muçulmano".
Em 1º de março de 1944, enquanto os nazistas massacravam seis milhões de judeus, bem antes de Israel declarar a independência, Haj Amin al-Husseini, então o Grande Mufti de Jerusalém declarou na Rádio Berlim: "árabes, levantem-se como se fossem uno e lutem pelos seus direitos sagrados. Matem os judeus onde quer que vocês os encontrem. Isso agrada a Deus, história e religião. Isso salva suas honras, Deus está com vocês."
Se não tivéssemos cometido esse erro, talvez nos beneficiássemos de duas maneiras.
Provavelmente os judeus teriam permanecido em maior número no Oriente Médio muçulmano e teriam desenvolvido a civilização do Oriente Médio ao invés de desenvolver as civilizações dos lugares para onde fugiram, sobretudo a Europa e posteriormente os Estados Unidos.
Em segundo lugar, se os judeus se sentissem seguros e aceitos entre os árabes do Oriente Médio, talvez não tivessem sentido a necessidade de criar um estado independente, o que teria nos poupado de nossos equívocos subsequentes.
O Pior Equívoco
Nosso segundo e pior erro foi não ter aceito o plano de partilha das Nações Unidas de 1947. A Resolução 181 da ONU forneceu o fundamento legal para o estabelecimento de um estado judeu e um estado árabe, dividindo o que costumava ser o Mandato Britânico da Palestina (controlado pelos britânicos).
Conforme divulgado pela BBC, a resolução estipulava:
"Um estado judeu cobrindo 56.47% da área do Mandato Britânico da Palestina (excluindo Jerusalém), com uma população de 498.000 judeus e 325.000 árabes; um estado árabe cobrindo 43.53% do Mandato Britânico da Palestina (excluindo Jerusalém), com 807.000 habitantes árabes e 10.000 habitantes judeus; um regime de tutela internacional em Jerusalém, onde a população era formada de 100.000 judeus e 105.000 árabes."
A despeito da terra alocada ao estado judeu ter sido ligeiramente maior do que a terra alocada ao estado árabe, a maior parte da região judaica era totalmente desértica, Negev e Arava, com as terras férteis destinadas aos árabes. O plano também era vantajoso para os árabes por duas outras razões:
O estado judeu tinha apenas uma minúscula maioria de judeus, o que teria dado aos árabes praticamente a mesma influência dada aos judeus na condução do estado judeu, mas o estado árabe era quase que totalmente árabe, sem nenhum benefício político aos judeus que nele habitavam.
Cada estado proposto consistia de três áreas mais ou menos desconexas, resultando em forte interdependência geográfica entre os dois estados. Se os dois estados tivessem relações amigáveis, eles provavelmente trabalhariam em diversos aspectos como uma federação. Na federação, os árabes teriam uma maioria esmagadora.
Em vez de aceitarmos um presente de plano como este quando ainda tínhamos condições, nós árabes resolvemos que não podíamos aceitar um estado judeu e ponto final. Em maio de 1948, Azzam Pasha, secretário-geral da Liga Árabe, respondendo à proposta da nova área judaica da partilha: "esta será uma guerra de extermínio, um massacre memorável, que será lembrado como são os massacres mongóis e as Cruzadas". Iniciamos uma guerra destinada a erradicar o novo estado em sua incipiência, mas perdemos e o resultado de nosso erro foi um estado judeu muito mais forte:
A maioria judaica do estado judeu cresceu de forma dramática devido à troca de populações que se sucedeu, muitos árabes fugindo da guerra em Israel e muitos judeus fugindo de um mundo árabe hostil para se juntarem ao novo estado.
Os judeus adquiriram mais terras durante a guerra que nós iniciamos, resultando em linhas de armistício (hoje chamadas de Linha Verde ou fronteira pré-1967), que deram a Israel uma parte das terras anteriormente alocadas ao estado árabe. O estado judeu também adquiriu melhor contiguidade, ao passo que as porções árabes ficaram divididas em duas partes: (Gaza e Cisjordânia) separadas por quase 50 quilômetros.
Talvez não se deva iniciar uma guerra se não se estiver preparado para os resultados de uma possível derrota.
Em maio de 1948, Azzam Pasha (direita), secretário-geral da Liga Árabe, reagiu à proposta da nova área judaica da partilha: "esta será uma guerra de extermínio, um massacre memorável, que será lembrado como são os massacres mongóis e as Cruzadas."
Mais Guerras e Mais Equívocos
Após a Guerra de Independência (nome que os judeus deram à guerra de 1947-1948), Israel ficou, para todos os efeitos práticos, confinado às terras dentro da Linha Verde. Israel não tinha autoridade ou demanda sobre Gaza ou a Cisjordânia. Naquela época nós árabes tínhamos duas opções se quiséssemos fechar um acordo de paz com Israel:
Nós poderíamos ter incorporado Gaza ao Egito e a Cisjordânia à Jordânia, proporcionando aos palestinos cidadania em um dos dois países árabes relativamente fortes, tanto numérica quanto geograficamente mais fortes que Israel.
Poderíamos ter criado um novo estado em Gaza e na Cisjordânia.
Mas preferimos optar por continuar as hostilidades com Israel. Na primavera de 1967 formamos uma coalizão para atacar Israel. Em 20 de maio de 1967, o Ministro da Defesa da Síria Hafez Assad declarou: "chegou a hora de travarmos uma guerra de aniquilação." Em 27 de maio de 1967, o Presidente do Egito Abdul Nasser declarou: "nosso objetivo fundamental é a destruição de Israel". Em junho, em apenas seis dias Israel nos impôs a derrota que nos humilhou perante o mundo. Na guerra, perdemos muito mais território, incluindo Gaza e Cisjordânia.
Após a guerra de 1967 (guerra que os judeus chamam de Guerra dos Seis Dias), Israel nos ofereceu território em troca da paz, oferecendo-nos assim a oportunidade de nos recuperarmos do equívoco da Guerra dos Seis Dias. Respondemos com as Resoluções de Cartum,afirmando: "não à paz com Israel, não ao reconhecimento de Israel e não às negociações com Israel".
Não tendo aprendido a lição de 1967, formamos outra coligação em outubro de 1973 e tentamos de novo destruir Israel. Alcançamos algumas conquistas, mas depois a maré mudou e fomos derrotados mais uma vez. Após a terceira humilhante derrota, nossa coligação contra Israel ruiu e o Egito e a Jordânia decidiram assinar um acordo de paz com Israel.
Os outros árabes permaneceram obstinadamente contrários à existência de Israel, até mesmo a Síria que, como o Egito e a Jordânia, havia perdido território para Israel na Guerra dos Seis Dias. Hoje Israel ainda mantém esse território e não há nenhuma perspectiva real dele voltar para as mãos da Síria; recentemente o Primeiro Ministro de Israel declarou que "Israel jamais deixará as Colinas de Golã".
A Tragédia dos Palestinos
Nossos equívocos mais repreensíveis e mais trágicos se resumem na maneira que nós árabes tratamos os palestinos desde a declaração da independência de Israel.
Os judeus de Israel festejaram a vinda de refugiados judeus dos países árabes e muçulmanos para que se juntassem à comunidade israelense, independentemente do custo ou da dificuldade em integrar pessoas com backgrounds totalmente heterogêneos. Israel diligentemente integrou refugiados de terras longínquas, incluindo Etiópia, Índia, Marrocos,Brasil, Irã, Ucrânia e Rússia. Com isso eles demonstraram o poderoso vínculo que une os judeus. Ao mesmo tempo nós também tivemos a oportunidade de mostrar a ligação que une os árabes, mas em vez de darmos boas-vindas aos refugiados árabes da guerra de 1947-1948, n&oa cute;s os confinamos em campos, com rigorosas restrições na vida do dia a dia.
Conforme relatado pela Anistia Internacional, no Líbano "os palestinos continuam sofrendo discriminação e marginalização no mercado de trabalho, o que contribui para os altos índices de desemprego, baixos salários e péssimas condições de trabalho. Recentemente as autoridades libanesas suspenderam a proibição dos palestinos de trabalharem em 50 dos 70 empregos a eles vetados, os palestinos continuam a enfrentar obstáculos em achar emprego mesmo naqueles segmentos. A falta de perspectiva em encontrar emprego adequado, leva a um alto índice de abandono escolar de alunos palestinos, que também têm acesso limitado ao ensino médio público. A consequente miséria é agravada pelas restrições impos tas de acesso aos serviços sociais".
No entanto, nem o Líbano e nem Síria integraram os refugiados que haviam vivido anteriormente a poucos quilômetros de suas fronteiras e que compartilhavam praticamente as mesmas culturas, línguas e religiões. A Jordânia integrou alguns refugiados, mas não todos. Nós poderíamos ter provado que nós árabes somos um povo maravilhoso e nobre, mas mostramos ao mundo, e continuamos mostrando, que o nosso ódio aos judeus e a nós mesmos é de longe muito maior do que qualquer conceito que implique em solidariedade árabe. Vergonhosamente para nós, sete décadas após os refugiados palestinos terem fugido de Israel, seus descendentes continuam sendo considerados refugiados.
A pior parte no tocante à forma como temos tratado os refugiados palestinos é que mesmo na Cisjordânia e em Gaza, há até hoje uma distinção entre palestinos refugiados e palestinos autóctones. Naqueles territórios, segundo os levantamentos de 2010 fornecidos peloPalestinian Refugee ResearchNet da Universidade de McGill, 37% dos palestinos na Cisjordânia e em Gaza vivem em campos! Gaza tem oito campos de refugiados palestinos e a Cisjordâniadezenove. Os judeus não mantêm os &aacut e;rabes em acampamentos, nós sim. O presidente palestino Mahmood Abbas quer um estado nesses territórios, mas nem sequer temos condições de levá-lo a sério, visto que ele deixa os refugiados palestinos sob sua autoridade em campos e não os integra aos demais palestinos. O absurdo dessa situação é somente comparável à sua insensibilidade.
Em que Pé Estamos Agora
Devido aos nossos próprios equívocos, nosso relacionamento com Israel hoje é um fracasso. A única força da nossa economia é o petróleo, um recurso perecível e, com o fracking, está diminuindo de valor. Não fizemos o suficiente para nos prepararmos para o futuro quando precisaremos de criatividade e produtividade. De acordo com a Foreign Policy Magazine: "embora os governos árabes tenham reconhecido, há muito tempo, a necessidade de procurar alternativas à excessiva dependência dos hidrocarbonetos, eles tiveram pouco sucesso em colocá-las em prática. ... Até a economia dos Emirados Árabes Unidos, um dos países mais diversificados do Golfo, é extremamente dependent e das exportações de petróleo".
O Business Insider classificou Israel como o terceiro país mais inovador do mundo em 2015. Países de todo o mundo se beneficiam da criatividade de Israel, incluindo países remotamente distantes e adiantados como o Japão. Mesmo assim esnobamos Israel, força motriz de inovação e tudo isso acontece nas nossas fronteiras.
Também fracassamos em não aproveitar a genialidade militar de Israel para nos ajudar a combater novos e devastadores inimigos como o ISIS.
O pior de tudo, os palestinos, parte do nosso próprio povo, estão dispersos -- divididos, desiludidos e completamente incapazes de recuperarem o projeto nacional que nós sequestramos debaixo dos seus narizes em 1948 e que, desde então, o desfiguramos a ponto de não o reconhecermos mais.
Dizer que temos que mudar nossa abordagem em relação a Israel é uma minimização. Há mudanças fundamentais que nós mesmos devemos realizar, e temos que encontrar coragem e força moral para executá-las.
Os judeus não mantêm os árabes em acampamentos, nós sim.
Fred Maroun, árabe com viés de esquerda radicado no Canadá, autor de artigos opinativos para a New Canadian Media, entre outros veículos de mídia. De 1961 a 1984 residiu no Líbano.