O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

quinta-feira, 22 de abril de 2021

Homenageando Merquior nos seus 80 anos de vida... - É Realizações

Homenageando Merquior nos seus 80 anos de vida... 

É Realizações
Live de Lançamento

Hoje, um dos maiores eruditos que o Brasil já teve faria 80 anos: José Guilherme Merquior.


Sociólogo, crítico literário e diplomata, fez doutorado em letras pela Sorbonne e em sociologia pela London School of Economics.

Estudou também antropologia com Claude Lévi-Strauss e graduou-se em filosofia e em direito. Falecido precocemente aos 49 anos de idade, produziu ainda assim uma obra volumosa, composta por mais de vinte títulos. Escreveu extensivamente em português, inglês, francês e espanhol. 

Organizou com Manuel Bandeira a antologia Poesia do Brasil, integrou o corpo editorial de prestigiadas revistas acadêmicas – como Government and Opposition e Critical Review – e colaborou com veículos de imprensa como O Globo, Folha de S.Paulo e Jornal do Brasil. 

No exercício da diplomacia, trabalhou na Unesco (Paris), além de em Bonn (Alemanha), Londres, Cidade do México e Montevidéu. Teve entre seus amigos e interlocutores figuras de relevo, como Raymond Aron, Isaiah Berlin e Carlos Drummond de Andrade. Notabilizou-se como defensor do liberalismo econômico, ao mesmo tempo que se definia como “anarquista em cultura e social-democrata em política”.


É imortal da Academia Brasileira de Letras. Entre as notáveis homenagens póstumas que recebeu estão a coletânea editada por Ernest Gellner, seu antigo mestre e amigo, Liberalism in Modern Times – Essays in honour of José G. Merquior (Central European University Press, 1996) e o depoimento de Lévi-Strauss: “Eu admirava em Merquior um dos espíritos mais vivos e mais bem informados de nosso tempo”.

José Guilherme Merquior - Paixão pela Razão,

é o documentário realizado para comemorar a vida e a obra deste grande pensador, diplomata e ensaísta brasileiro!

Clique e assista no nosso canal no YouTube! 

Conheça algumas das obras de José Guilherme Merquior:

Primeiro livro no Brasil, e um dos primeiros no mundo, a discutir as ideias da Escola de Frankfurt, aqui vemos o jovem Merquior – então com 28 anos – tomando como interlocutores diretos filósofos de grande prestígio em nossa época.

Escrita em francês como tese de doutorado, aprovada com louvor na Sorbonne em 1972, esta obra é uma análise global da obra de Drummond, na qual Merquior apresenta a constelação temática que, em certo período, compôs o universo do poeta.

Esta nova edição (a primeira data de 1974) é enriquecida por fac-símiles da correspondência pessoal e de documentos do arquivo de Merquior, bem como por ensaios de José Luís Jobim, João Cezar de Castro Rocha e Peron Rios.

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Mentiras, falcatruas e falácias do ex-chanceler acidental - Paulo Roberto de Almeida

 Como a postagem original parece ter desaparecido (por artes do demônio?) , posto novamente o arquivo sobre o catastrófico balanço da desastrosa gestão do patético bolsolavista que DESTRUIU a diplomacia brasileira:

https://www.academia.edu/46617441/3889_Balanco_de_uma_gestao_catastrofica_a_Era_dos_Absurdos_no_Itamaraty_2021_

Paulo Roberto de Almeida

O que Merquior, um visionário “liberal-raiz”, ensina ao Brasil de hoje - Livres

O que Merquior, um visionário “liberal-raiz”, ensina ao Brasil de hoje

Livres, 19/04/2021

 Há quarenta anos, o diplomata, sociólogo e crítico literário José Guilherme Merquior (1941-1991) sintetizava a noção do que é liberalismo nos seguintes termos: “uma dose inata de desconfiança ante o poder.” Daí decorria o primeiro princípio liberal: “o constitucionalismo, isto é, o reconhecimento da constante necessidade de limitar o poder”. No artigo em questão, intitulado "O Argumento Liberal", Merquior acrescentava ainda à descrição do núcleo central das ideias liberais “a liberdade civil”, amparada e garantida pelo “estado enquanto foco emissor de direito”, a valorização da individualidade e a busca pela combinação de eficácia econômica, justiça social e igualdade individual, tal como preconizada por John Maynard Keynes.

São esses, entre outros, os aspectos decisivos da tradição liberal que informam o pensamento do autor brasileiro. O leitor de O Argumento Liberal, coletânea de ensaios e artigos (quase todos para a imprensa) originalmente lançada em 1983 e que agora volta a público em edição da É Realizações, poderá avaliar a profundidade, a qualidade e a honestidade das análises de Merquior a respeito do liberalismo e de toda uma variedade de temas filosóficos, históricos e políticos que estão no horizonte deste brilhante e desconcertante livro.

O brilho é já conhecido de todo leitor da obra deste precoce intelectual brasileiro (estreia sua coluna de crítica literária no Jornal do Brasil aos 18 anos). Com clareza e conhecimento de causa, Merquior consegue expor ao grande público leitor dos jornais um repertório amplo e complexo. Da filosofia de um Giambattista Vico e de um Immanuel Kant, passando por temas como a história das ideias econômicas e o direito, à recepção crítica de seus contemporâneos como o pensador francês Claude Lefort e a professora da USP Marilena Chauí, encontra-se nos artigos de Merquior um compromisso inegociável com o aperfeiçoamento humano por meio do saber e da cultura, com o debate e o esclarecimento públicos – uma verdadeira “paixão pela razão”, frase que dá título ao documentário produzido pela É Realizações e a que todo comprador do livro tem acesso mediante um código digital específico.

Esse entusiasmo otimista abre o livro em sua apresentação, com a afirmação categórica de seu autor: “esse livro se baseia na convicção de que tanto o saber quanto a história – a lógica do conhecimento e a lógica da experiência – estão do lado da democracia liberal”, reconhecendo na “argumentação liberal”, por seu caráter racional, objetivo e plural, o melhor antídoto contra toda forma de obscurantismo, de qualquer tipo intelectual e de qualquer parte do espectro ideológico. Trata-se do otimismo de um homem comprometido irremediavelmente com o legado do Iluminismo: o progresso do conhecimento e da técnica e a real melhoria da vida e da condição humanas que disso resultara. Não é acaso que Merquior afirme, no espírito de Kant, que a tarefa intelectual não é “humanizar o conhecimento” – isto é, as ciências –, mas sim preservar seu rigor para que o conhecimento melhore a vida humana. Seu liberalismo é um iluminismo – e, por isso mesmo, é um humanismo.

Saltará aos olhos do leitor atual o compromisso de Merquior com esse vibrante otimismo iluminista em cada crítica feita a ideologias e modas intelectuais que não eram mais que sermões irracionalistas e irresponsáveis. De temas marxistas em voga então (como o debate sobre “dialética”) ao desfile de “modas” acadêmicas europeias (como a variante pós-moderna), Merquior fustigará os inimigos da razão e da objetividade com argumentos eruditos e precisos. Será, contudo, no núcleo duro da compreensão do liberalismo que esse engajamento humanista há de se mostrar mais surpreendente ao leitor de hoje. 

Ao escrever sobre os “neoliberais”, que experimentavam o auge de seu prestígio no mundo ocidental com a influência das ideias de economistas como o Nobel Friedrich Hayek, Merquior afirmará com vigor e senso crítico que “a desestatização completa é, no mundo moderno, uma completa miragem – e nos países em desenvolvimento, o caminho da injustiça e da estagnação”, reafirmando, assim, suas convicções no que chamava de social liberalismo – um liberalismo que não fosse jamais reduzido a certas posições econômicas privatizantes.

Tanto no artigo que dá nome ao livro, quanto em outros momentos desta notável coletânea, Merquior insiste em preservar o lugar das preocupações com a liberdade econômica – indiscutivelmente importante – com um conjunto de princípios e de ideias mais amplos e que são indissociáveis da história e do conceito de liberalismo e de sua mais nobre e correta compreensão: a contenção do poder por meio da divisão dos poderes e do imperativo do consentimento individual; a preservação dos direitos de minorias; a ampliação das liberdades individuais e políticas; resultando, sobretudo no século XX, “naquilo que Raymond Aron chama de síntese democrático-liberal: o complexo de direitos civis, políticos e sociais acatados pelas democracias industriais avançadas, e que combinam várias liberdades, nos dois sentidos básicos de participação e não impedimento”. Apaixonado pela razão, Merquior era capaz de sínteses intelectuais impressionantes como esta, em que, em poucas linhas, o cerno do pensamento de Montesquieu, de John Locke, de Benjamin Constant, de John Stuart Mill e de Aron emerge no texto em uma formulação lapidar precisa.

Quase quatro décadas após o lançamento original do livro, o que nele desconcerta é a distância que o separa do Brasil de 2020. A visão do autor acerca do liberalismo não vingou – política e intelectualmente, fracassou sem deixar frutos. No Brasil atual, em que triunfou um mórbido liberalismo que se esgota em privatismo vulgar, que vem de par com o elogio à ditadura, o louvor a torturadores, o desprezo à ciência e à informação, a brutalidade como conduta e o ódio como moeda corrente, é difícil reconhecer em José Guilherme Merquior um representante legítimo das ideias liberais. Mas é precisamente por esse fracasso desconcertante do liberalismo brasileiro que o humanismo culto, cosmopolita e otimista que define essencialmente o liberalismo de Merquior deve ser reivindicado hoje como forma de resistência civilizada ao horror, servindo de aposta esclarecida no futuro.


O Argumento Liberal: um aperitivo para o debate desta noite, 22/04/21

 Trajetória pessoal: 1941-1991

Trajetória intelectual: da juventude à eternidade
Trajetória diplomática: de 1962 a 1991

Livros publicados: 22
Produção intelectual: incomensurável, inesgotável

Participação no debate público: um dos poucos, talvez o único intelectual brasileiro com projeção internacional, publicando diretamente em francês, inglês, espanhol.

Impacto na Academia: um gigante em prol de nosso Esclarecimento

Homenagem aos 80 anos de José Guilherme Merquior

22 de abril, 18h.

Paulo Roberto de Almeida

Paulo Roberto de Almeida

Moderador

Diplomata de carreira desde 1977, autor de diversos livros, ex-diretor do IRI e conselheiro acadêmico do Livres.

Bolivar Lamounier

Bolivar Lamounier

Painelista

Sociólogo, doutor em Ciência Política, autor de diversos livros, integrou a comissão Afonso Arinos e foi diretor do IDESP.

Celso Lafer

Celso Lafer

Painelista

Jurista, doutor em Ciência Política, professor emérito da USP e membro da Academia Brasileira de Letras, foi ministro das Relações Exteriores.

Gelson Fonseca

Gelson Fonseca

Painelista

Diplomata de carreira desde 1970, foi representante permanente do Brasil junto às Nações Unidas e presidente da FUNAG.

Persio Arida

Persio Arida

Painelista

Economista, criador do Plano Real, ex-presidente do Banco Central e conselheiro acadêmico do Livres.

O que Merquior, um visionário “liberal-raiz”, ensina ao Brasil de hoje

Há quarenta anos, o diplomata, sociólogo e crítico literário José Guilherme Merquior (1941-1991) sintetizava a noção do que é liberalismo nos seguintes termos: “uma dose inata de desconfiança ante o poder.” Daí decorria o primeiro princípio liberal: “o...