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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

quarta-feira, 5 de abril de 2023

Acordo Brasil-China para uso de renmimbi no comércio bilateral - Tomas Guggenheim e imprensa

 Abaixo transcrição de duas matérias de imprensa sobre o recente acordo, precedida de longo comentário do colega diplomata Tomas Guggenheim dobre essa impirtante matéria:

Em anexo, 3 artigos sobre o acordo cambial entre o Brasil e a China, publicados pelo Mercopress, Ámbito Financiero (Argentina) e Financial Times. Os dois primeiros se concentram no acordo propriamente dito, havendo naturalmente repetições entre eles mas também detalhes diferentes.

O terceiro artigo versa sobre a situação do dólar como moeda dominante nas transações internacionais e o efeito de acordos como o recém assinado pelo Brasil.
As fontes brasileiras apresentam o acordo como motivado pela redução de custos nas transferências bancárias beneficiando exportadores e importadores, sendo que o recurso ao mecanismo é voluntário.
Em 2022 exportamos para a China US$ 89 bilhões (26% do total) e importamos US$ 60 bilhões (22% do total). Como nossas exportações são essencialmente de commodities, o interesse central dos exportadores está na cotação dos produtos e na influência do governo chinês sobre as decisões dos importadores chineses. Só quando os exportadores também importam, o que deve ser raro (mas a Vale pode comprar navios cargueiros e equipamentos para a mineração chineses) é que essa redução de custos pode ser mais significativa. Para os exportadores chineses, mais numerosos, muitos de menor porte, cobrindo uma enorme variedade de manufaturados, o sistema pode ser mais vantajoso, embora a  competitividade de seus produtos no Brasil seja tal que podem compensar isso tranquilamente no preço de venda. 
O mais provável é que a China propôs o acordo no contexto de sua política de internacionalização do yuan-renmimbi, que visa também reduzir o papel do dólar, enquanto o governo brasileiro aceitou satisfazer o nosso maior parceiro comercial, além de "mostrar a independência" em em relação aos Estados Unidos, o que sempre agrada ao seu público interno. 
A China está intensificando a sua ofensiva nessa área, assinado acordos e tendo instalado, em 25 países e regiões, as suas "clearing houses", que é mecanismo de compensação e liquidação periódica dos saldos, administrado pelas agências do banco estatal chinês para o comércio exterior. 
A mídia brasileira, salvo engano, não comentou, como faz o Financial Times, que o sistema de pagamentos bilateral permite evitar passar pelo SWIFT, o sistema que administra as transações financeiras internacionais. A Rússia e o Irã, que estão proibidos de acessar o SWIFT, utilizam agora tais acordos para o comércio com a China, o que beneficia esse país com um notável desvio de correntes de comércio, dado que a China pode suprir grande parte dos produtos originariamente adquiridos pela Rússia e o Irã nos países desenvolvidos do Ocidente, compensados por exportações de petróleo.
A Rússia anunciou que vai utilizar o mecanismo também para o seu comércio com terceiros países e, em tese, também o Brasil pode agora importar os fertilizantes minerais da Rússia e pagar com os yuans que tenha acumulado na China, evitando o SWIFT e driblando assim as sanções americanas e da UE - que não vão achar muita graça.”
Tomas Guggenheim

Mercopress, Montevidéu - 3.4.2023

China and Brazil reach accord to trade with their owncurrenciesavoiding the US dollar

 

China and Brazil have reached a deal to trade in their own currenciesditching the US dollar as a common currencythe Brazilian government said on WednesdayMarch 29. China has become Brazil's main trading partner.

 

Reducing dependence on the dollarand increasing the circulation of the Yuan (RMB), is one of China’s foreign policy directives in the context of trade disputes with theUnited States. RecentlyPresident Xi Jinping signedagreements with Saudi Arabia and Russiaallowing theuse of the Yuan in trade. The RMB has about 2% ofparticipation in global paymentsgrowing mainly aroundthe Asian regional power. 

 

At the end of Januarythe central banks of both countries signed a memorandum that established a “clearing house” in Brazil. In practical termsthe term refers to a bank chosen by the Chinese government – the ICBC – with liquidity in the Chinese currency to clear foreign exchangedirectlyThere, businesses in Brazil can exchange Yuan for the Brazilian currency.

 

According to a report released in November last year by the People’s Bank of China (PBC, the Chinese central bank), there were 27 “clearing houses” outside mainlandChina in 25 different countries and regionssuch as Canada, Germanythe United Kingdom, France, Luxembourg, Switzerland, Qatar, Taiwan, South Korea, Singapore, and Australia at the end of 2021. In South America, Chile has a similar agreement, as does Argentina. Even the USA has a “clearing house” todirectly exchange the currency, as indicated by theChinese BC.

 

According to Tatiana Rositosecretary of international affairs at the Brazil Ministry of Finance, more exchange rate predictability is crucial for traders and investors. She claims that one of the topics that Chinese traders in Brazil are most interested in discussing is taxes on exchange transactions and that local currency trade may help to increase bilateral exchangesLast yearthere was a US$ 150 billion trade surplus between the two nationsandChina made a total of US$ 70 billion in direct investmentsin Brazil.

 

On another front, the Brazilian Social Development Bank BNDES also plans to launch new financing lines for bilateral trade.

 

These elements will reduce transaction costs for exchanges that involve the real and RMB, aiding in strengthening these relations,” said Tatiana.

 

The secretarywho represented the Brazil Ministry of Financetold journalists that establishing ICBC as a clearing house is a “first step;” it is now another option for businesses, although the idea isn’t to make it mandatory. She admitted that clearing houses may be limited in theirability to serve traders at the momentHowever, “it mayinterest many businessmenespecially when it will reducetransaction costswhether with financingforeign trade or investment.”

 

China’s Vice Minister of CommerceGuo Tingtingalso welcomed the new agreement. She said the countries are strategic partners and have an “exemplary” relationship.

 

An executive from one of the biggest meat producers in the country said the deal might be attractive if it givesaccess to lower-interest export financing lines in Chinese banks that do not involve in the US currencyOn the other handusing dollars can benefit domestic agricultural exporters because, in addition to receiving payments in a more valuable currency and incurring expenses in theBrazilian real, it can lessen the effects of the so-calledBrazil cost.”

 

Cost reduction

 

The agreement may bring advantages to Brazilianexporters and importerswith low risk for Brazilaccording to experts interviewed by Estadão.

 

In the view of Tulio CarielloContent Director at theBrazil-China Business Council (CEBC), direct transactions would reduce financial costs sincetransferring payments from the Chinese currency to the dollar and then to the real, or vice versa, incur losses in exchange rates. Secondexchange rates for the Yuan, which have greater control by the Chinese governmentvary lessgiving companies more predictability.

 

Welber Barral, a former secretary of foreign trade at theBrazilian Ministry of Developmentsaid that it “could bean alternative to lower the transaction cost by avoidingtwo steps of currency exchange” Howeverhe emphasizes that using the agreement should not entirely replace the need for dollars when trading with China. This is because even though Brazil can trade directly using other currencies known as convertibles, like the euro, Swiss francand pound sterling, more than 90% of all current foreign trade transactions in Brazil are still conducted and priced in dollars.

 

According to consultant Sérgio Quadros, director of SQ Asia Business Consulting, another advantage of direct transactions for Brazilian exporters is the possibility ofopening markets in China. The Chinese government’scapital control policy rules limit local importers’ access tothe dollar.

 

Ambito Financiero, Buenos Aires - - 4.4.2023 

Adiós al dólar: China estrecha vínculo con Brasil y apunta al comercio con el yuan y el real 

 

La semana pasadaen Pekín, China y Brasil firmaronacuerdos comerciales donde establecieron intercambio enyuanes y reales. El dólar pierde así lugar en la economíamundial y se debilita su poder como moneda de cambio.

 

El avance de China en el comercio internacional está ocasionando estragos. El viejo modelo de intercambioentre países parece cambiar por la influencia del gigante asiático, como el reciente acuerdo suscripto con Brasil, donde el yuan y el real serán a moneda de cambio para operaciones en detrimento del dólar.

 

Los saltos del comercio chino a nivel mundial estándejando cada día que pasacon menos margen de maniobra (y de espacio de subsistencia) a la monedanorteamericana, que fue el “árbitro” de los intercambioscomerciales entre países durante gran parte del siglo XX.

 

China profundiza vínculos estratégicos con Brasil 

 

El acuerdo reciente al que suscribió Brasil, suma a lanación sudamericana a la lista de países que prefieren usar el yuan chino para el comercio exterior. Ambas nacionesharán negocios directamente entre el real brasileño y elyuan chino, dejando de lado al dólar estadounidense.

 

La alianza se selló durante el Seminario Económico Brasil-China que se realizó en Pekínel miércoles pasado. Durante la actividad participaron más de 500 empresariosde ambas nacionespertenecientes a 30 sectores estratégicos de las dos naciones.

 

Entre los tantos convenios-marco que se firmaronelacuerdo que más cobra fuerza es el de la adhesión delbanco brasileño BBM al sistema interbancario de pagos de China (China Interbank Payment System, CIPS). 

 

Cómo será el vínculo China-Brasil 

 

Esta es una alternativa al sistema de pagos SWIFT. Este sistema, cuya sede está en Bélgica, conecta a 11.000 bancos en más de 200 países de todo el mundo. Pese a suindependencia, países como Irán y Rusia han sido excluidos tras recibir sanciones financieras de Estados Unidos y Europa.

 

Sumado a este acuerdo neurálgico para el comercio delpaís vecino, se sumó la creación de una Cámara de Compensación sin la intermediación del dólar estadunidense. El encargado de operar como banco de compensación del yuan, será el Banco Industrial y Comercial de China (ICBC), que tiene una sede en lanación suramericana.

 

La batería de negociaciones y sus consecuentes resultados en acuerdos comerciales tiene como fondo la relación de China con la regiónteniendo en cuenta que dicho país es el mayor socio comercial de Brasil.

 

Que ambos países avancen en este sentido, con uncomercio sin el dólar estadounidense como moneda de intercambio, pone en relieve la tarea que la expresidentade Brasil, Dilma Rousseff, viene llevando al frente delNuevo Banco de Desarrollo (NBD), mejor conocido como banco de los BRICS. Desde allí impulsará el comercio conotras monedas que no sean el dólar.

 

El yuan desplaza al dólar sigilosamente 

 

El caso de Brasil no es el único, puesto que China sigueavanzando y profundizando otras alianzas comercialesestrégicas. Arabia Saudita, RusiaIndia y Pakistán, entre otrosson aprte de esa red donde el país gobernado por Xi Jinping ha estado tejiendo alianza económicas, pero también en otras áreas sensibles como política, seguridady comercial.

 

Así, China aumenta día a día los esfuerzos para romper con el monopolio del dólar como ínica moneda de intercambio, un paso más en lo que algunos especialistas consideran el final de la hegemonía del país de Joe Biden en el globo.

 

terça-feira, 4 de abril de 2023

Mercosur, Brasil y Argentina en el año 2035: um exercício de futurologia - Paulo Roberto de Almeida

O que,  em 2004, eu previa para o Mercosul em 2035? Só faltam 12 anos...

Mercosur, Brasil y Argentina en el año 2035

Paulo Roberto de Almeida


Respostas a perguntas colocadas pelo jornalista argentino Tomás Vela.

 

1) -¿Cómo prevé para la Sudamérica del año 2035 (marco referencial de la nota) que esté integrado el bloque MERCOSUR / UNIÓN SUDAMERICANA?, 

PRA: Union SudAmericana no tendrá ningun rol, pues que correspondiendo a un empreendimento politico sin cualquier contenido real. Desaparecerá sin dejar trazos, en los proximos anos.

Mercosur no desaparecerá, pero tendra funcciones marcadamente politicas y de cooperacion ampliada, pues sus funcciones comerciales y económicas tendran sido absorbidas sea por el esquema hemisferico de liberalizacion ampliada, sea por el crescimiento de la liberalizaion multilateral, bajo el liderazgo de OMC.

 

2) -En caso de que esta unión prospere, y siempre ubicados en la Sudamérica de 2035, ¿qué beneficios traería el bloque a la Argentina y a Brasil? 

PRA: Brasil y Argentina habran superado sus mas renitentes problemas de inestabilidad económica, de desigualdades sociales, de disfuncciones institucionales, pero solo parcialmente estos logros serán debidos a Mercosur. En general, y por la maior parte, los esfuerzos seran determinados sobretodo internamente, como resultado de la consciencia de sus propios pueblos que ya les bastaba decadas de inestabilidad, injusticia, corrupcion politica y deterioro institucional.

Las realizaciones mas importantes haran estos dos paises por sus proprios esfuerzos, por determinacion nacional, porque es asi que se pasa en todas las experiencias nacionales: lo principal se hace en casa, no externamente. Los bloques de integracion no tienen mucha capacidad transformadora si los proprios pueblos no quieren transformarse a si mismos.  

 

3) -¿Qué relación podría llegar tener el bloque con la Unión Europea y los Estados Unidos para el 2035

PRA: En 2035, estas relaciones ya no tendran tanta importancia substantiva como han tenido durante el auge del “minilateralismo selectivo”, durante la “fiebre de los bloques” que atingió el mundo alrededor de los anos 2005-2015. Progresivamente despues de esta fecha, el mundo empezará a superar este maximo de discriminacion minilateralista representado por los bloques, para reanudar con en multilateralismo de la OMC.

Mercosur, aunque teniendo fuertes lazos economicos, politicos, culturales, tanto con UE como con los EUA, desarrollará estos vinculos de cooperación en el cuadro de un sistema politico y económico fuertemente multilateralizado, en el cual em grueso de las relaciones económicas y comerciales se llevaran por medio de las regras universales de la OMC, que ha logrado, a partir de 2015, recuperar el liderazo del proceso de liberalizacion irrestrita e incondicional, que por un momento habia sido “secuestrado” por los bloques geograficos restritos.

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 26 novembro 2004

 

From: Tomás Vela [mailto:tomasvela@mvprensa.com.ar]

Sent: Thursday, November 25, 2004 2:29 AM

Subject: Breve consulta periodística sobre el MERCOSUR para Argentina


Dr. Paulo Roberto de Almeida

Hola, mi nombre es Tomás Vela; soy fotógrafo, periodista y estudiante de la escuela de periodismo TEA, la más importante de la Argentina, y quería saber su opinión sobre el futuro del MERCOSUR para un trabajo que será publicado el 5 de diciembre en el diario Domingo de la mencionada institución formativa. Se trata de sólo tres preguntas sobre la hipotética situación socio-política del MERCOSUR y la Unión Sudamericana para dentro de 30 años.

Si bien esto es sólo una proyección muy difícil de llevar a cabo dada la cantidad y calidad de cambios políticos de la región, resulta fundamental el punto de vista que usted nos pueda llegar a compartir, junto con el de su compatriota Dr. Mario Marconini, sobre: 

-¿Cómo prevé para la Sudamérica del año 2035 (marco referencial de la nota) que esté integrado el bloque MERCOSUR / UNIÓN SUDAMERICANA?, 

-En caso de que esta unión prospere, y siempre ubicados en la Sudamérica de 2035, ¿qué beneficios traería el bloque a la Argentina y a Brasil? Y

-¿Qué relación podría llegar tener el bloque con la Unión Europea y los Estados Unidos para el 2035? 

Lamentablemente es probable que, aunque pueda y quiera responder estas preguntas, el tiempo no juegue a mi favor y se me complique incluir en la nota final su valiosísimo punto de vista, porque debo cerrarla mañana jueves 25 de noviembre antes de las 20. De todas formas me gustaría mucho en algún momento poder entrevistarlo sobre este y otros temas relacionados con la sociedad sudamericana para el medio periodístico y fotoperiodístico MVPrensa (http://www.mvprensa.com.ar/), del cual soy el director. Sería un gran honor e inmensa oportunidad de aprendizaje el mantener una entrevista vía mail con usted.

Muchísimas gracias por su tiempo. 

Atentamente,

 

Vantagens comparativas e protecionismo tecnológico (1992) - Paulo Roberto de Almeida

 Um texto elaborado mais de 30 anos atrás, ainda sob o impacto dos grandes debates nos foros multilaterais sobre a Nova Ordem Econômica internacional, que nunca foi implementada. Atualmente, alguns impérios alternativos estão demandando uma "nova ordem global", multipolar, não dominada pelo "Ocidente". E o Brasil, o que vai fazer? (PRA)

Vantagens comparativas e protecionismo tecnológico

 

 

Paulo Roberto de Almeida 

Doutor em Ciências Sociais; mestre em Economia Internacional.

Brasília, 26/09/1992; Nota em 4/04/2023: trabalho refletindo concepções de 30 anos atrás, segundo a visão da “Nova Ordem Econômica Internacional”.

Divulgado na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/99663520/Vantagens_comparativas_e_protecionismo_tecnológico_1992_)

 

Sumário: 

Introdução

A grande transformação

Industrialização periférica e difusão tecnológica

A “proteção” das novas tecnologias

O protecionismo tecnológico e os países em desenvolvimento

Os custos para os importadores de tecnologia

A confidencialidade tecnológica

Referências bibliográficas

 

 

Introdução

O engajamento ativo dos Governos dos países desenvolvidos na pesquisa e na comercialização de bens e serviços baseados nas novas tecnologias está alterando as vantagens comparativas no sistema internacional de comércio, com uma ênfase crescente na proteção da propriedade intelectual vinculada a essas áreas. O novo protecionismo tecnológico das nações industrializadas tende a privilegiar a confidencialidade da documentação patentária e a comercialização de bens finais, com efeitos prejudiciais em termos de difusão de novas tecnologias para os países menos avançados. Para este últimos, tal fenômeno pode significar um novo tipo de dependência tecnológica, ademais de uma transferência ampliada de recursos líquidos em direção do Norte, a título de pagamentos pela propriedade intelectual das novas tecnologias. Na nova divisão internacional do trabalho que se esboça, os países do Sul passam a subsidiar maciçamente a P&D nos países mais avançados. A despeito disso, alguns países em desenvolvimento relativamente industrializados talvez já estejam em condições de realizar o trade-off proteção patentária versus investimentos estrangeiros, no quadro de uma maior integração aos mercados internacionais.

 

A grande transformação

(...)


Ler a íntegra na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/99663520/Vantagens_comparativas_e_protecionismo_tecnológico_1992_)

Nem verde, nem social, a indústria do etanol no Brasil; Book review: Jennifer Eaglin, Sweet Fuel: A Political and Environmental History of Brazilian Ethanol, by Claiton Marcio da Silva

 

Marcio da Silva on Eaglin, 'Sweet Fuel: A Political and Environmental History of Brazilian Ethanol'

by H-Net Reviews

Jennifer Eaglin. Sweet Fuel: A Political and Environmental History of Brazilian Ethanol. Oxford: Oxford University Press, 2022. x + 268 pp. $38.62 (cloth), ISBN 978-0-19-751068-1

Reviewed by Claiton Marcio da Silva (Universidade Federal da Fronteira Sul) Published on H-LatAm (April, 2023) Commissioned by Casey M. Lurtz (Johns Hopkins University)

Printable Version: https://www.h-net.org/reviews/showpdf.php?id=58186

"Neither Green Nor Socially Equitable": A History of the Brazilian Ethanol Industry

We live in an age of knowledge diffusion, with literature in the humanities and social sciences produced globally. Despite contradictions that naturally arise through this process, it is encouraging to observe the increase in the number of articles and books recently produced linking current hot topics with historical research, as is the case with Sweet Fuel: A Political and Environmental History of Brazilian Ethanol, by Jennifer Eaglin. Eaglin's book puts us in touch with the history of biofuels, specifically ethanol, a fundamental discussion for our century, which connects us to past global historical contexts such as colonialism, the expansion of plantations, and the westernization of science and technology in regions considered remote. In contrast to the unparalleled advance of articles and books in the humanities without an attendant expansion of archival or field research—an expansion that sometimes reminds me of the criticism leveled by pre-WWII "field" anthropologists at their colleagues who wrote great dissertations without leaving their offices—Sweet Fuel is the result of broad and deep archival research on the subject. It deserves to be read and disseminated by scholars interested in political and environmental history, as well as those interested in diverse topics such as science and technology, the Brazilian economy, pollution, and the degradation of social working conditions.

The book addresses the political and environmental history of the ethanol industry, demonstrating the "organic" relations--here in a metaphorical sense--between state and businesses in the face of agrarian, ecological, economic, and political challenges. At its core is the central contradiction of Brazil's ethanol programs: "one of the world's most advanced alternative energy initiatives while at the same time ... contribut[ing] to environmental degradation and exploited rural populations" (pp. 1-2). In dynamic and concise prose, the book demonstrates the drama involved in establishing alternatives to fossil fuel-powered vehicles experienced by countries like Brazil. Divided into six chapters, the book addresses in a nationally and internationally interconnected way the history of biofuel production from the beginning of the Vargas era, moving through Proálcool in the 1970-80s, and finally becoming an independent industry in the twenty-first century. The book deals with sensitive or contradictory matters, both for the contemporary world and for historiographical praxis. First, at a time when the planet's climate transformation and the post-Bolsonaro period—or "Bolso Nero," in a pun intended to relate his government to the increase of rainforest fires—directs the gaze of international actors towards the Amazon, Eaglin draws attention precisely to the history of the interior of the state of São Paulo, the Ribeirão Preto region, which came to rival the centuries-old sugarcane plantations of the Northeast region between the end of the nineteenth and beginning of the twentieth century.

Through these issues, Sweet Fuel tacitly reinforces how the "interior," the "remote," the "distant" usually conceived by Brazilian historians as "regional" history and, for this reason, inferior or less important than "national" history, is the result of intense disputes between private businesses and politicians in search of scientific or technological innovations that promote changes on a global scale—albeit these changes are slow and sometimes fragmented. In ecological terms, Eaglin demonstrates how sugarcane adapted with some ease to a transitional region between the Atlantic forest and the Brazilian Cerradoth—the Ribeirão Preto region is home to 30 percent of the Cerrado grasslands in the state of São Paulo. These soils were historically devastated by the agricultural practices promoted by large-scale coffee farmers, and sugarcane planting was consolidated as an alternative for the soils to avoid having to be revitalized. These actors and their economic success drove the advance of railroads and the attraction of migrants as a replacement for enslaved labor after abolition, presenting an alternative for the national industrialization process or the previous norm of advancing over the forest, promoting its felling and the planting of new coffee plantations rather than replenishing the nutrients of the soils, now adaptable to sugar cane.

In this new equation that was formed with the wave of immigration promoted by the Brazilian state between the end of the nineteenth century and the first decades of the twentieth century, Eaglin discusses how some of these European immigrants and their descendants, such as Pedro Biagi, were responsible for technical innovation in mills, slowly moving from local sugar to ethanol production. In the 1930s, already under the centralized political orientation of Vargas, "the creation of an ethanol industry in the 1930s fulfilled both political and strategic development interests" (p. 9). On the one hand, the growing power of the national state imposed itself as an organizer of society—and its economy—intervening systematically for the consolidation of a biofuels policy; and on the other hand, the growing group of sugarcane farmers demanded policies for this segment, at the same time that they found in the national state a fundamental interlocutor for the continuity of ethanol production ideals, even in times of crisis. In the following decades, Eaglin argues, the consolidation of the Ribeirão Preto region and of a group of entrepreneurs in the ethanol industry imposed new dynamics not only in the economic sphere but also with regard to the environment and labor. With Brazil's embrace of an automobile industry model that became synonymous with progress in the 1950s, sugarcane plantations conquered new rural territories, producing sugar for the foreign market or supplying the growing biofuels industry in Brazil, where a small percentage of alcohol has been mixed into gasoline, ranging from 1.1 to 25 percent depending on the historical moment, for decades.

The National Alcohol Program, created in 1975 by the Brazilian military dictatorship (1964-85) represented a turning point for ethanol production, deepening its dramatic consequences. In the late 1980s, Sweet Fueldemonstrates, Brazilian scientists linked ethanol to declining levels of carbon-emitting car pollution. Eaglin shows, however, that the triumphant narrative of biofuels erases the role of this "green" bio-industry in the pollution of rivers, the continued use of fossil fuels in the ethanol production process, and the dehumanizing working conditions of the "bóias-fria"—a legion of seasonal workers hired for very low wages to plant or harvest sugarcane. In my memory, the images of these workers in national news reports in the late 1980s symbolized the brutality of the sugar production system and its derivatives, portraying unimaginable levels of social degradation. At this point, the second part of the book more strongly connects the political-economic, social, and environmental history of ethanol production: methodologically, Eaglin's book adopts a dynamic narrative in which social and environmental themes emerge as they interconnect with government programs, focusing on the dramas that result from these choices made by the state and economic elites. This does not mean that environmental and social history has taken a back seat in the early part of the book; rather, Sweet Fuel's narrative adds a device that triggers the increasing drama of environmental change, labor exploitation, and workers' resistance to changing historical contexts as these historical contexts change.

By offering a "cautionary tale about a twenty-first-century alternative fuel industry's development" (p. 11), Eaglin demonstrates how ethanol supported the creation of an alternative fuel industry for a country without substantial oil reserves for the better part of the twentieth century, but exploited water and workers extensively in the process (p. 18). In summary, it was neither green nor socially equitable. By exploring little-used archives and primary sources for the global historiographical debate, Jennifer Eaglin has produced a reference work for studies of the contradictions of green industries both past and present.

Citation: Claiton Marcio da Silva. Review of Eaglin, Jennifer, Sweet Fuel: A Political and Environmental History of Brazilian Ethanol. H-LatAm, H-Net Reviews. April, 2023. URL: https://www.h-net.org/reviews/showrev.php?id=58186

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O retorno da Teoria da Dependência de FHC: Lula adere à Rota da Seda chinesa - Rodrigo Rangel (Metrópoles)

 Se for verdade que Lula 3 fará o Brasil aderir de corpo e alma ao projeto chinês da Nova Rota da Seda, Belt and Road Initiative, isso pode significar uma irônica submissão e uma retardada adesão à fracassada Teoria da Dependência de FHC, apenas que com sinal trocado. O BRIC-BRICS já era um grande erro estratégico de Lula 1-2; essa tardia adesão apenas aprofundará à continuidade do erro, embora seus efeitos sobre o Brasil sejam mitigados, não pela falta de vontade chinesa, mas pela inconsistência de muitos dos nossos projetos, sem uma visão clara de quais são nossos problemas reais. O desespero curto-prazista de Lula 3 vai aprofundar a dependência brasileira da China: está buscando farto dinheiro para investimentos; pode colher deformações econômicas e diplomáticas que vão se exercer por longos anos, talvez pelo prazo que durar a nova Guerra Fria.

Paulo Roberto de Almeida

Brasil está em vias de aderir a megaprojeto chinês mesmo sob risco de melindrar EUA

Entrada na Nova Rota da Seda foi um dos pontos que a China pôs na mesa de negociação de acordos a serem anunciados por Lula e Xi Jinping

Xangai — Graduados diplomatas brasileiros da ativa apostam que há um segredo guardado a sete chaves na cúpula do Itamaraty e no Palácio do Planalto para ser anunciado, com pompa e circunstância, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva estiver em Pequim com o líder chinês Xi Jinping.

Esses diplomatas, que falaram sob reserva à coluna, creem que Lula assinará pelo menos um memorando de entendimento para a entrada do Brasil na chamada Nova Rota da Seda, também conhecida como “Belt and Road Initiative” (“Iniciativa do Cinturão e Rota”, na tradução livre do inglês).

Trata-se de um megaprojeto do governo da China que despeja cifras bilionárias em investimentos e projetos de infraestrutura pelo mundo afora e é um dos principais instrumentos da ofensiva chinesa para ampliar seu raio de influência no mundo e tentar fazer frente ao domínio dos Estados Unidos na geopolítica global.

A possível adesão do Brasil foi um dos principais pontos postos à mesa pelo governo chinês nas tratativas diplomáticas para chegar à versão final do comunicado oficial que sairá do encontro entre Lula e Xi Jinping, com uma síntese de todos os acordos acertados entre os dois governos.

documento está alinhavado desde antes de o presidente brasileiro cancelar a viagem à China por motivos de saúde. É possível que, com o adiamento da visita, ocorram alguns ajustes pontuais no texto, mas o que há de mais substancial já está definido.

Lula se encontraria com Xi Jinping no último dia 28 de março em Pequim, mas cancelou a viagem por recomendação médica após ser diagnosticado com pneumonia. Nesta sexta-feira, o Planalto anunciou que a visita foi remarcada para os dias 13 e 14 de abril. O embarque para a Ásia está programado para o dia 11.

Questão sensível

A possível adesão à Nova Rota da Seda é um tema delicado porque tem potencial para melindrar a boa relação que o Brasil mantém com os Estados Unidos, mais ainda nestes tempos de acirrada polarização global que opõem China e Rússia a americanos e europeus — a guerra na Ucrânia, como se sabe, tem pintado com cores fortes as diferenças.

contexto explica o secretismo em torno da adesão do Brasil ao megaprojeto. Justamente em razão da sensibilidade do assunto e de seus possíveis reflexos diplomáticos, as tratativas sobre esse tópico da agenda com a China têm sido limitadas à alta cúpula do Itamaraty e a um grupo restrito de assessores presidenciais.

Indagada sobre as chances de a adesão do Brasil — ou ao menos a intenção de aderir — ser anunciada na visita de Lula a Xi Jinping, uma fonte da cúpula do Itamaraty limitou-se a dizer que esse assunto foi “um dos pontos do comunicado proposto” pelo governo chinês.

A questão é, antes de tudo, política e está diretamente ligada à guinada na estratégia da diplomacia brasileira a partir da posse de Lula. Sob a orientação do ex-chanceler Celso Amorim, conselheiro do presidente para assuntos internacionais, o Brasil já sinalizou que pretende voltar a apostar no fortalecimento dos Brics, o bloco de países emergentes do qual faz parte junto com Rússia, Índia, China e África do Sul.

O bloco foi pensado para funcionar como um polo alternativo de poder no tabuleiro da política global, historicamente dominado pelas nações mais ricas do mundo. Lula quer apostar nessa frente. A recente indicação, pelo governo brasileiro, de Dilma Rousseff para chefiar o banco de desenvolvimento criado pelos Brics, com sede em Xangai, tem sido apresentada como um gesto nesse sentido — a escolha de uma ex-presidente do Brasil para o posto é um sinal da importância que o país quer dar ao grupo.

Dentro do Itamaraty, há setores que veem nessa orientação um movimento muito mais ideológico, movido por resquícios da histórica visão antiamericana da esquerda, do que propriamente pragmático. Essas mesmas alas reconhecem, porém, que o estreitamento da relação com a China pode ajudar o país a destravar a economia.

Atração de investimentos

O discurso do governo brasileiro para justificar a possível adesão ao megaprojeto chinês nem precisa ser ensaiado: caso ela se confirme, Brasília dirá simplesmente que quer aprofundar, sem preconceitos, as relações com todos os países que possam ajudar a alavancar a atração de investimentos para o país.

despeito dos sobressaltos dos últimos anos, quando Jair Bolsonaro, movido por razões ideológicas, disparou sua metralhadora verbal contra a China repetidas vezes e esfriou a relação entre Brasília e Pequim, o Brasil mantém laços estreitos com a potência asiática, de longe o maior cliente das exportações brasileiras.

Ainda que a relação já seja suficientemente forte, o possível ingresso do país na Nova Rota da Seda seria um movimento importante para a China. Pela relevância do Brasil na América Latina, valeria como um troféu para o governo de Xi Jinping. Neste ano, o megaprojeto completa dez anos e a adesão brasileira seria uma maneira de marcar o aniversário com um anúncio de peso.

A Nova Rota da Seda conta hoje com 140 países. Duas dezenas deles estão na América Latina. Ao assinar um memorando de entendimento no início do ano passado durante um encontro com Xi Jinping, o presidente da Argentina, Alberto Fernández, anunciou a promessa dos chineses de destinar US$ 23 bilhões ao país para obras e projetos.