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quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

Se Putin vier ao Brasil, ficaremos muito contentes, diz Mauro Vieira - Entrevista BBC NEWS

 Se Putin vier ao Brasil, ficaremos muito contentes, diz Mauro Vieira


Mauro Vieira comanda, pela segunda vez, Ministério das Relações Exteriores

Author: Leandro Prazeres

BBC News em Brasília, 
27/12/2023

O Ministro das Relações ExterioresMauro Vieira, disse em entrevista exclusiva à BBC News Brasil que o governo brasileiro ficará "contente" se o presidente da Rússia, Vladimir Putin, vier ao Brasil durante a cúpula do G20, em novembro de 2024, apesar de o russo ser alvo de um mandado de prisão expedido pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) por supostos crimes de guerra cometidos na Ucrânia.

"Se ele (Putin) quiser vir, nós estaremos muito contentes que esteja presente e nas reuniões do Brasil", disse Vieira.

A possível vinda de Putin ao Brasil vem causando polêmica porque o Brasil é signatário do TPI desde 2000 e ratificou o tratado que criou o tribunal dois anos depois.

O tribunal é um órgão vinculado à Organização das Nações Unidas e que julga crimes de guerra. Como é signatário do tratado, especialistas afirmam que o Brasil poderia ser obrigado a executar a prisão de Putin caso ele pise em território nacional.

Em março deste ano, o tribunal expediu um mandado de prisão contra Putin e outros agentes do governo russo por conta de supostos crimes cometidos durante as ações militares russas em território ucraniano.

Segundo a decisão, Putin teria participação na deportação de milhares de crianças ucranianas para a Rússia após o início da guerra entre os dois países, em fevereiro de 2022.

O governo russo vem, reiteradamente, rejeitando as acusações de crimes de guerra. Além disso, o país não é signatário do tribunal (assim como países como Estados Unidos, Índia e Israel).

Apesar disso, o receio de uma eventual prisão foi apontado, em agosto deste ano, como um dos motivos pelos quais Putin não compareceu pessoalmente à Cúpula dos BRICS, em Joanesburgo, na África do Sul. Os sul-africanos também são signatários do TPI.

Ainda sobre este caso, Mauro Vieira disse que caso o presidente russo venha ao Brasil no ano que vem, o governo brasileiro não tomará medidas para que Putin seja preso.

"Nós não tomaremos nenhuma iniciativa para que isso aconteça", disse Vieira.

A fala de Vieira está alinhada à posição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que, em setembro deste ano, disse que Putin não seria preso.

"O que eu posso dizer é que, se eu for presidente do Brasil e se ele for para o Brasil, não há porque ele ser preso", declarou Lula a uma TV indiana.

Dias depois, porém, Lula mudou o tom da resposta, afirmando que uma decisão sobre uma eventual prisão de Putin caberia à Justiça e não ao governo.

Balanço e foco africano

Mauro Vieira é um considerado por diversos de seus pares como um dos quadros mais experimentados da história recente do Itamaraty, nome pelo qual o Ministério das Relações Exteriores do Brasil é conhecido.

Esta é a segunda vez que ele assume o comando da pasta. A primeira foi entre 2015 e 2016, durante o último ano do mandato da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).

Além disso, ele ocupou três dos postos de maior prestígio da diplomacia brasileira: as embaixadas do Brasil na Argentina e nos Estados Unidos e o cargo de representante permanente do país na Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York.

Visto como um nome próximo às gestões petistas, Mauro Vieira foi enviado à embaixada do Brasil na Croácia durante o governo de Jair Bolsonaro (PL).

Após a vitória de Lula nas eleições de 2022, seu nome ganhou força e foi confirmado como futuro chanceler.

Em entrevista à BBC News Brasil, Mauro Vieira defendeu a quantidade de viagens internacionais feitas por Lula durante o primeiro ano de seu novo mandato.

Entre janeiro e dezembro deste ano, o petista saiu do Brasil 15 vezes, visitou 24 países e passou mais de 60 dias no exterior.

Segundo Mauro Vieira, havia um "vácuo total" e o Brasil precisava fazer um movimento de "reinserção" na ordem internacional.

Vieira também defendeu a retomada do financiamento brasileiro de projetos tocados por empresas brasileiras no exterior como forma de aumentar a presença do país em regiões como a África.

O chanceler também disse que ainda haveria tempo hábil para que a conclusão do acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia, mas admitiu que, após fevereiro do ano que vem, essa janela de oportunidade tende a ficar menor por conta das eleições para o Parlamento Europeu.

Confira os principais trechos da entrevista, que foi editada para fins de clareza e concisão.

BBC News Brasil - Neste ano, o presidente Lula e o senhor viajaram bastante e houve críticas sobre o que seria uma falta de foco da política externa brasileira, uma vez que ela teria aberto muitas frentes. O senhor concorda com essa crítica e qual vai ser o foco da política externa do Brasil em 2024?

Mauro Vieira - Em primeiro lugar, eu não concordo.

Acho que ele (Lula) tinha de viajar até mais do que viajou. O presidente não viajou mais porque ele é muito requisitado aqui no Brasil. Dentro das circunstâncias, ele fez ótimos circuitos.

Em segundo lugar, havia um vácuo total. Não havia Brasil no mundo. Não se falava do Brasil e nem se chamava o Brasil para nada. O Brasil não participava de nenhuma concertação (internacional), não era consultado para nada nas Nações Unidas. Diante desse vácuo, ele (Lula) tinha que fazer o que fez [...] Este foi um movimento de reinserção.

No ano que vem, ele vai começar por uma coisa que nós estamos estrategicamente planejando para ser uma volta à África. Ele vai começar por uma visita à sede da União Africana, que fica em Adis Abeba (capital da Etiópia), onde ele vai fazer para a assembleia anual da União Africana. Depois, deve visitar outros dois países africanos.

BBC News Brasil - Sobre a África, nos últimos anos, diversos projetos que anteriormente poderiam ser tocados por empresas brasileiras passaram a ser executados por empresas de outros países, em especial as chinesas. Na sua avaliação, o Brasil perdeu o "bonde" da África?

Mauro Vieira - Não acho, não. Nós temos, inclusive, similaridades enormes com os países africanos. O que acontece lá é o seguinte: a China, com a economia que eles têm, participa não só do começo (dos projetos), mas com grandes financiamentos. Eles financiam obras públicas, fazem doações, uma série de coisas. Não podemos e nem queremos competir. Não estamos competindo com a China. Temos capacidades próprias e faremos coisas por lá. Um exemplo: há um grande interesse pelas ações de cooperação técnica. A Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) é um grande ativo brasileiro. Todo mundo pede parcerias.

BBC News Brasil - O senhor mencionou que o Brasil não quer e nem vai competir com a China. No passado, o Brasil, por meio do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Social e Econômico), tinha instrumentos para financiar projetos de infraestrutura em outros países. Desde a Operação Lava Jato, esses instrumentos foram extintos. Hoje, o tema voltou a ser discutido no Brasil. Na sua avaliação, o Brasil deveria voltar a financiar projetos no exterior?

Mauro Vieira - Eu não tenho dúvidas de que sim. Se dependesse de mim, sim, mas não depende. É um instrumento importantíssimo e valeria a pena porque são financiamentos de produtos ou serviços brasileiros. Houve um momento em que havia um projeto de cooperação técnica em que a gente (o Brasil) dava cursos nos países e vendia tratores de pequeno porte para a agricultura. Era um negócio fantástico. Esses financiamentos sempre foram feitos a empresas e prestadoras de serviços brasileiras [...] Eu sei que (o financiamento a projetos no exterior) era muito criticado, mas isso nunca foi caridade, nunca foi doação. Ao contrário, era financiamento. A exportação de produtos que criava empregos e gerava impostos no Brasil.


BBC News Brasil - Gostaria de abordar o Mercosul. O Brasil e a Bolívia são os únicos países do Mercosul governados por presidentes de esquerda ou de centro-esquerda. Qual o impacto disso para o futuro do bloco? Fica mais difícil negociar com presidentes ideologicamente diferentes?

Mauro Vieira - Não. O Mercosul é tão importante para todos os países que tudo se supera. O presidente do Paraguai (Santiago Peña) tem uma proximidade e uma admiração muito grande pelo presidente Lula e ele vem de uma linha política diferente. No Uruguai é a mesma coisa. O presidente Luis Alberto Lacalle Pou tem orientação política diferente (à de Lula) e fez grandes elogios dizendo que tudo o que acertou com o presidente brasileiro foi cumprido [...] Para você ter uma ideia, nos últimos quatro anos, o Uruguai não tinha aderido às declarações finais do Mercosul. Neste ano, no Brasil, com o presidente Lula, ele aderiu.

BBC News Brasil - Sobre o Mercosul, havia uma expectativa de que o acordo comercial com a União Europeia fosse fechado até o final da cúpula do bloco. No início de dezembro. O acordo não foi fechado. A informação que circulou é de que o governo argentino do ex-presidente Alberto Fernández, recuou na última hora. Foi isso mesmo o que ocorreu e quão surpreendente foi esse movimento?

Mauro Vieira - Não foi surpreendente.

BBC News Brasil - Mas foi isso que aconteceu?

Mauro Vieira - Um pouco foi isso (o que aconteceu) [...] O governo argentino do Alberto Fernández não quis tomar uma decisão sobre um acordo que ia ser totalmente concluído e executado no mandato seguinte. Ele preferiu esperar e deixar essa decisão para o próximo presidente. Coisa que em nada impede a conclusão do acordo. Nós temos ainda até final de fevereiro para aplainar as últimas diferenças e fechar o acordo. Ele (Alberto Fernández) não quis assumir, dois ou três dias antes de deixar o governo, responsabilidades e compromissos que cairiam sobre o próximo governo.

BBC News Brasil - Depois de fevereiro, a janela de oportunidade para o fechamento do acordo fica menor?

Mauro Vieira - Acho que sim porque, na União Europeia, eles vão entrar em eleições para o Parlamento Europeu, para a Comissão (Europeia) e para a Presidência do Conselho (Europeu). Haverá circunstâncias eleitorais próprias deles. Mas acho que o tempo que temos até lá é mais que suficiente.

BBC News Brasil - O presidente argentino, Javier Milei, fez movimentos distintos na campanha e após vencer as eleições. Na campanha, usou palavras de baixo calão para se referir ao presidente Lula. Após a vitória, no entanto, enviou sua chanceler (Diana Mondino) ao Brasil e convidou o presidente Lula para sua posse. Mas também posou com o principal adversário do presidente Lula, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Como o senhor avalia esses movimentos e quão confiável é o governo de Javier Milei sob a perspectiva brasileira?

Mauro Vieira - É confiável pelas declarações feitas a mim pessoalmente, nas duas ocasiões que eu estive com a chanceler Diana Mondino.

Ela veio ao Brasil 15 dias antes da posse e conversamos por uma hora. Depois disso, conversamos na véspera da posse, em Buenos Aires. E ela disse que quer trabalhar com o Brasil.

E quando eu estive com o presidente Milei, em duas oportunidades, [...] ele também disse a mesma coisa. Mandou um recado muito claro de que quer trabalhar com o Brasil e de que os interesses entre os dois países são muito grandes e de que há abertura.

Nós também fizemos gestos em relação a eles [...] Apoiamos um pedido de financiamento deles junto à CAF (Cooperação Andina de Fomento), que foi a prova importante de que trabalharemos juntos porque o interesse nacional está acima de qualquer ideologia.

BBC News Brasil - Ainda sobre a América do Sul, gostaria de falar da recente crise na região de Essequibo, entre a Guiana e a Venezuela. Considerando que o Brasil tem uma relação próxima com o regime venezuelano, o Brasil demorou a agir em relação aos movimentos feitos por Nicolás Maduro, que realizou um referendo sobre a criação de um estado venezuelano sobre o território em disputa?

Mauro Vieira - O Brasil tem boas relações com todo mundo, não apenas com a Venezuela. Em primeiro lugar, a gente sempre falou desse tema. Nem toda a diplomacia pública você anuncia, mas nós sempre falamos desse assunto com os dois lados. Não demoramos, nada. Quando as notícias começaram a subir de intensidade, o presidente Lula mandou imediatamente um emissário, o embaixador Celso Amorim, para levar à Venezuela a nossa posição sobre o assunto que é a posição de que apoiamos a solução pacífica de controvérsias.

BBC News Brasil - O presidente da Guiana, Irfaan Ali, disse à BBC News Brasil que não descarta autorizar uma base militar americana no território do seu país. Em que medida uma base militar americana compromete a posição do Brasil na região?

Mauro Vieira - Eles (Guiana) nunca nos disseram isso [...] Oficialmente, não tenho essa notícia. Agora, em relação a bases de países estranhos à região, no nosso continente, nós não queremos. A América Latina e a América do Sul são uma zona de paz. Nós não queremos bases estrangeiras. É um toma sobre o qual não temos notificações oficiais, mas é tema sobre o qual poderemos conversar com os nossos vizinhos.

BBC News Brasil - Integrantes do próprio governo afirma em caráter reservado que Maduro fez esse movimento em torno de Essequibo para aglutinar sua militância com vistas às eleições de 2024. O Brasil teme que Maduro faça outras investidas do tipo até as eleições e que elas possam gerar tensão na região?

Mauro Vieira - Investidas em que sentido?

BBC News Brasil - Como a ocorrida em torno da região de Essequibo.

Mauro Vieira - Eu não posso interpretar as projeções futuras ou mesmo fazer projeções futuras ou interpretar atitudes de chefes de estado. O que eu posso dizer é que mantemos um ótimo diálogo com a Venezuela. Reabriremos formalmente a nossa embaixada em Caracas, no dia 4 de janeiro. Indicamos uma embaixadora experiente (Glivânia Maria de Oliveira) e vamos retomar o diálogo que nos interessa. Temos mais de 2 mil quilômetros de fronteira com a Venezuela há mais de 20 mil brasileiros morando lá. Queremos e devemos ter diálogo com a Venezuela, como também com a Guiana e com todos os demais países.

BBC News Brasil - As pesquisas mais recentes mostram o ex-presidente Donald Trump a frente do presidente Joe Biden na corrida eleitoral dos Estados Unidos. Considerando que já sabemos como foi o seu mandato, o que uma eventual eleição de Trump alteraria nas relações entre Brasil e Estados Unidos?

Mauro Vieira - Essa será uma decisão tomada pelos eleitores norte-americanos. No mais, há interesses de cada lado. É preciso continuar procurando o seu interesse na relação que é muito grande e muito forte [...] Quem assumir vai manter uma relação com o Brasil no nível que eles acharem que é importante para o Brasil e para eles. Temos um comércio importante e eles ainda são, e continuarão a ser por algum tempo, os maiores investidores no Brasil. Eu acho que não dá para não ter relações só porque as orientações políticas de cada um são diferentes.

BBC News Brasil - No ano que vem, haverá a cúpula do G20 no Brasil. O presidente Lula já disse que provavelmente vai convidar o presidente da Rússia, Vladimir Putin, ao Brasil. Considerando que existe um mandado de prisão contra ele pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), qual seria o tamanho do constrangimento da vinda do presidente Putin para o Brasil nesse contexto?

Mauro Vieira - Olha... ele (Lula) não vai convidar... (Putin) está convidado porque é membro nato, fundador do BRICS e todos os países, inclusive os novos, estão convidados. Isso a gente tem que ver a cada caso. Há sempre, mesmo nas normas do TPI, tratamentos para os chefes-de-Estado que a gente tem que examinar. Se ele (Putin) quiser vir, nós estaremos muito contentes que esteja presente e nas reuniões do Brasil.

BBC News Brasil - Mas há a possibilidade de ele vir a ser preso aqui no Brasil?

Mauro Vieira - Não sei. Acho que não. Espero também que não. Não sei. Nós não tomaremos nenhuma iniciativa para que isso aconteça.

BBC News Brasil - Mesmo o Brasil sendo signatário do TPI?

Mauro Vieira - Há tantos países que são...

BBC News Brasil - Mas por ser signatário do TPI, o Brasil não estaria obrigado a cumprir uma decisão do tribunal?

Mauro Vieira - Obrigado a cumprir? Não. Tem que haver a ordem. Senão seria como o TNP (Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares) que é sobre não proliferação e desarmamento e só se pensa no desarmamento, na proliferação ninguém dá importância. Enfim... não é assim. Cada circunstância é uma circunstância.

Crédito, Reuters

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Livros de, ou organizados por, Paulo Roberto de Almeida, 1992-2023

 Livros de Paulo Roberto de Almeida


 Lista efetuada em 28/12/2023

 

53) Intelectuais na diplomacia brasileira: a cultura a serviço da nação (Brasília: 2023, 310 p.; em publicação)

52) Marxismo e socialismo: trajetória de duas parábolas na era contemporânea (2ª ed.; Brasília: Diplomatizzando, 2023, 167 p.; ISBN: 978-65-00-05969-4; ASIN: B0CR31C5YG)

51) O Brasil no contexto regional e mundial: artigos sobre nossa dimensão internacional; Brasília: Diplomatizzando, 2023, 167 p. ISBN: 978-65-00-89870-5)

50) Construtores da Nação: projetos para o Brasil, de Cairu a Merquior (São Paulo: LVM Editora, 2022, 304 p.; ISBN: 978-65-5052-036-6)

49) A grande ilusão do Brics e o universo paralelo da diplomacia brasileira (Brasília: Diplomatizzando, 2022, 277 p.; ISBN: 978-65-00-46587-7)

48) Apogeu e demolição da política externa: itinerários da diplomacia brasileira (Curitiba: Appris, 2021, 291 p.; ISBN: 978-65-250-1634-4)

47) O Itamaraty sob ataque, 2018-2021: a destruição da diplomacia pelo bolsolavismo (Brasília: Diplomatizzando, 2021, 110 p. ISBN: 978-65-00-22215-9)

46) Uma certa ideia do Itamaraty: a reconstrução da política externa e a restauração da diplomacia brasileira (Brasília: Diplomatizzando, 2020, 169 p.; ISBN: 978-65-00-19254-4)

45) Um contrarianista na academia: ensaios céticos em torno da cultura universitária (Brasília: Diplomatizzando, 2020; 363 p.; Edição Kindle, ASIN: B08668WQGL; ISBN: 978-65-00-06751-4)

44) A ordem econômica mundial e a América Latina: ensaios sobre dois séculos de história econômica (Brasília: Diplomatizzando, 2020; 308 p.; Edição Kindle, ASIN: B08CCFDVM2; ISBN: 978-65-00-05967-0)

43) O Mercosul e o regionalismo latino-americano: ensaios selecionados, 1989-2020 (Brasília: Diplomatizzando, 2020; 453 p.; Edição Kindle, ASIN: B08BNHJRQ4; ISBN: 978-65-00-05970-0)

42) O Itamaraty num labirinto de sombras: ensaios de política externa e de diplomacia brasileira (Brasília: Diplomatizzando, 2020; 225 p.; Edição Kindle, ASIN: B08B17X5C1; ISBN: 978-65-00-05968-7).

41) Vivendo com livros: uma loucura gentil. (Brasília: Edição de Autor, 2019; 265 p.; Edição Kindle, ASIN: B0838DLFL2; ISBN: 978-65-00-06750-7).

40) Um contrarianista no limbo: artigos em Via Política, 2006-2009 (Brasília: Edição de Autor, 2019; Edição Kindle, ASIN: B083611SC6).

39) Minhas colaborações a uma biblioteca eletrônica: contribuições a periódicos do sistema SciELO (Brasília: Edição de Autor, 2019; Edição Kindle, ASIN: B08356YQ6S).

38) Paralelos com o Meridiano 47: Ensaios Longitudinais e de Ampla Latitude (Brasília, Edição do Autor, 2019, 398 p.; Edição Kindle, ASIN: B082Z756JH).

37) O panorama visto em Mundorama: ensaios irreverentes e não autorizados (Brasília, Edição do Autor, 2019, 477 p.; Edição Kindle, ASIN: B082ZNHCCJ).

36) Pontes para o mundo no Brasil: minhas interações com a RBPI (Brasília, Edição do Autor, 2019, 481 p.; Edição Kindle ASIN: B08336ZRVS).

35) Marxismo e socialismo: trajetória de duas parábolas na era contemporânea (Brasília: Edição do autor, 2019, 200 p.; Edição Kindle, ASIN: B082YRTKCH).

34) Miséria da diplomacia: a destruição da inteligência no Itamaraty (Brasília: Edição do autor, 2019, 184 p., ISBN: 978-65-901103-0-5; Boa Vista: Editora da UFRR, 2019, 165 p., Coleção “Comunicação e Políticas Públicas vol. 42; ISBN: 978-85-8288-201-6 - livro impresso; ISBN: 978-85-8288-202-3 - livro eletrônico).

33) Contra a corrente: Ensaios contrarianistas sobre as relações internacionais do Brasil (2014-2018) (Curitiba: Appris, 2019, 247 p.; ISBN: 978-85-473-2798-9)

32) Formação da diplomacia econômica no Brasil: as relações econômicas internacionais no Império (3ª edição; Brasília: Funag, 2017; 2 volumes; 964 p.; ISBN: 978-85-7631-675-6).

31) Nunca Antes na Diplomacia…: a política externa brasileira em tempos não convencionais (Curitiba: Editora Appris, e-book, 2016).

30) Révolutions bourgeoises et modernisation capitaliste: Démocratie et autoritarisme au Brésil (Sarrebruck: Éditions Universitaires Européennes, 2015, 496 p.; ISBN: 978-3-8416-7391-6).

29) Die brasilianische Diplomatie aus historischer Sicht: Essays über die Auslandsbeziehungen und Außenpolitik Brasiliens (Saarbrücken: Akademiker Verlag, 2015, 204 p.; Übersetzung aus dem Portugiesischen ins Deutsche: Ulrich Dressel; ISBN: 978-3-639-86648-3).

28) O Panorama visto em Mundorama: Ensaios Irreverentes e Não Autorizados (Hartford: 2a. edição do autor, 2015, 294 p.; DOI: 10.13140/RG.2.1.4406.7682; nova edição, ampliada dos artigos até o final de 2015, em 4/12/2015, em 374 p.).

27) Paralelos com o Meridiano 47: Ensaios Longitudinais e de Ampla Latitude (Hartford: Edição do Autor, 2015; 380 p.; DOI: 10.13140/RG.2.1.1916.4006). 

26) Volta ao Mundo em 25 Ensaios: Relações Internacionais e Economia Mundial (Kindle edition; file size: 809 KB; ASIN: B00P9XAJA4).

25) Rompendo Fronteiras: a Academia pensa a Diplomacia (Kindle Edition, 2014, 414 p.; ASIN: B00P8JHT8Y).

24) Codex Diplomaticus Brasiliensis: livros de diplomatas brasileiros (Kindle Edition, 2014, 326 p.).

23) Polindo a Prata da Casa: mini-resenhas de livros de diplomatas (Kindle edition, 2014, 151 p., 484 KB; ASIN:B00OL05KYG).

22) Prata da Casa: os livros dos diplomatas (Edição de Autor; versão de: 16/07/2014, 663 p.).

21) Nunca Antes na Diplomacia...: A política externa brasileira em tempos não convencionais (Curitiba: Editora Appris, 2014, 289 p.; ISBN: 978-85-8192-429-8).

20) O Príncipe, revisitado: Maquiavel para os contemporâneos (Hartford: Edição de Autor, 2013, 226 p.; Edição Kindle, ASIN: B00F2AC146).

19) Integração Regional: uma introdução (São Paulo: Saraiva, 2013, 174 p.; ISBN: 978-85-02-19963-7).

18) Relações internacionais e política externa do Brasil: a diplomacia brasileira no contexto da globalização (Rio de Janeiro: LTC, 2012, 309 p.; ISBN: 978-85-216-2001-3). 

17) Globalizando: ensaios sobre a globalização e a antiglobalização (Rio de Janeiro: Lumen Juris Editora, 2011, xx+272 p.; ISBN: 978-85-375-0875-6). 

16) O Moderno Príncipe (Maquiavel revisitado) (Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2010, 195 p.; ISBN: 978-85-7018-343-9). 

15) O Moderno Príncipe: Maquiavel revisitado (Rio de Janeiro: Freitas Bastos, edição eletrônica, 2009, 191 p.; ISBN: 978-85-99960-99-8). 

14) O Estudo das Relações internacionais do Brasil: um diálogo entre a diplomacia e a academia (Brasília: LGE Editora, 2006, 385 p.; ISBN: 85-7238-271-2).

13) Formação da diplomacia econômica no Brasil: as relações econômicas internacionais no Império (2ª edição; São Paulo: Editora Senac, 2005, 680 pp., ISBN: 85-7359-210-9).

12) Relações internacionais e política externa do Brasil: história e sociologia da diplomacia brasileira (2ª ed.: revista, ampliada e atualizada; Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2004, 440 p.; coleção Relações internacionais e integração n. 1; ISBN: 85-7025-738-4). 

11) A Grande Mudança: consequências econômicas da transição política no Brasil (São Paulo: Editora Códex, 2003, 200 p.; ISBN: 85-7594-005-8).

10) Une histoire du Brésil: pour comprendre le Brésil contemporain (avec Katia de Queiroz Mattoso; Paris: Editions L’Harmattan, 2002, 142 p.; ISBN: 2-7475-1453-6).  

09) Os primeiros anos do século XXI: o Brasil e as relações internacionais contemporâneas (São Paulo: Editora Paz e Terra, 2002, 286 p.; ISBN: 85-219-0435-5).

8) Formação da diplomacia econômica no Brasil: as relações econômicas internacionais no Império (São Paulo: Editora Senac, 2001, 680 pp., ISBN: 85-7359-210-9).

7) Le Mercosud: un marché commun pour l’Amérique du Sud, Paris: L’Harmattan, 2000, 160 p.; ISBN: 2-7384-9350-5). 

6) O estudo das relações internacionais do Brasil (São Paulo: Editora da Universidade São Marcos, 1999, 300 p.; ISBN: 85-86022-23-3).

5) O Brasil e o multilateralismo econômico (Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, na coleção “Direito e Comércio Internacional”, 1999, 328 p.; ISBN: 85-7348-093-9).

4) Velhos e novos manifestos: o socialismo na era da globalização (São Paulo: Editora Juarez de Oliveira, 1999, 96 p.; ISBN: 85-7441-022-5).

3) Mercosul: Fundamentos e Perspectivas (São Paulo: Editora LTr, 1998, 160 p.; ISBN: 85-7322-548-3).

2) Relações internacionais e política externa do Brasil: dos descobrimentos à globalização (Porto Alegre: Editora da UFRGS, 1998, 360 p.; ISBN: 85-7025-455-5).

1) O Mercosul no contexto regional e internacional (São Paulo: Edições Aduaneiras, 1993, 204 p.; ISBN: 85-7129-098-9).

 

Organização, edição:

 

13) Oswaldo Aranha: um estadista brasileiro, Sérgio Eduardo Moreira Lima; Paulo Roberto de Almeida; Rogério de Souza Farias (organizadores); Brasília: Funag, 2017; 2 vols.; vol. 1, 568 p.; ISBN: 978-85-7631-696-1; vol. 2, 356 p.; ISBN: 978-85-7631-697-8).

12) O Homem que pensou o Brasiltrajetória intelectual de Roberto Campos (Curitiba: Appris, 2017, 373 p.; ISBN: 978-85-473-0485-0).

11) Carlos Delgado de Carvalho: História Diplomática do Brasil (Brasília: Senado Federal, 2016, 504 p.; ISBN: 978-85-7018-696-6).

10) The Drama of Brazilian Politics: From 1814 to 2015 (with Ted Goertzel; 2015, 278 p.; Edição Kindle, ASIN: B00NZBPX8A; ISBN: 978-1-4951-2981-0).

09) Relações Brasil-Estados Unidos: assimetrias e convergências (com Rubens Antonio Barbosa; São Paulo: Saraiva, 2016, 326 p.; edição digital; ISBN: 978-85-0212-208-6).

08) Guia dos Arquivos Americanos sobre o Brasil: coleções documentais sobre o Brasil nos Estados Unidos (com Rubens Antônio Barbosa e Francisco Rogido Fins; Brasília: Funag, 2010, 244 p.; ISBN: 978-85-7631-274-1). 

07) Envisioning Brazil: A Guide to Brazilian Studies in the United States, 1945-2000 (with Marshall C. Eakin; Madison: Wisconsin University Press, 2005, 536 p.; ISBN: 0-299-20770-6).

06) Relações Brasil-Estados Unidos: assimetrias e convergências (com Rubens Antonio Barbosa; São Paulo: Saraiva, 2005, 328 p.; ISBN: 978-85-02-05385-4).

05) O Brasil dos Brasilianistas: um guia dos estudos sobre o Brasil nos Estados Unidos, 1945-2000 (com Marshall C. Eakin e Rubens Antônio Barbosa; São Paulo: Paz e Terra, 2002; ISBN: 85-219-0441-X). 

04) Mercosul, Nafta e Alca: a dimensão social (São Paulo: LTr, 1999, com Yves Chaloult). 

03) Carlos Delgado de Carvalho: História Diplomática do Brasil (edição fac-similar: Brasília: Senado Federal, 1998; Coleção Memória brasileira n. 13; 420 p.).

02) José Manoel Cardoso de Oliveira: Actos Diplomaticos do Brasil: tratados do periodo colonial e varios documentos desde 1492 (edição fac-similar, publicada na coleção “Memória Brasileira” do Senado Federal; Brasília: Senado Federal, 1997; 2 volumes; Volume I: 1493 a 1870; Volume II: 1871 a 1912). 

01) Mercosul: Textos Básicos (Brasília: IPRI-Fundação Alexandre de Gusmão, 1992, Coleção Integração Regional nº 1) 

 

terça-feira, 26 de dezembro de 2023

O que eu "tramava" para Lula ao início de seu terceiro mandato, em 1 de janeiro de 2023 - Paulo Roberto de Almeida

Quase um ano atrás, em viagem de férias entre o final de 2022 e o começo de 2023, eu fazia meus votos de sucesso ao presidente no início do seu terceiro mandato. Vejamos quais eram meus prognósticos.

Meus melhores votos de sucesso em 2023 vão para…

  

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor

(diplomatizzando.blogspot.com)

Nota saudando o terceiro mandato, com diversos alertas e sugestões de políticas.

  

... Lula, como presidente pela terceira vez, algo inédito na história política brasileira, por ser pela via democrática e não como certos “presidentes” ou chefes de governos, eternizados em eleições fraudadas em diversos países latino-americanos, africanos e em outros países, inclusive europeus, como por exemplo na Hungria de Orban e na Rússia de Putin, assim como na China de Xi Jinping (que acaba de romper um modelo de alternância na autocracia do partido leninista, ao “eleger” pela terceira vez o seu novo imperador).

Lula merece ter sucesso no que é o seu marco distintivo na frágil democracia brasileira, a diminuição, ainda que relativa e altamente instável, da iniquidade da distribuição de renda no país, que sempre a concentrou em favor de nossas medíocres elites patrimonialistas. 

Não tenho nenhuma ilusão que essa pequena redução na concentração de renda se faça em favor dos realmente pobres e miseráveis e que ela seja feita pelos bons méritos de políticas macroeconômicas e setoriais adequadas, pois carregam os sinais distintivos do velho populismo eleitoreiro da subvenção ao consumo dos mais pobres, e não pela via correta e necessária de redução das fontes estruturais da pobreza, que são a não educação de maneira geral e a baixa capacitação técnico-profissional da população economicamente ativa, necessária para a elevação dos níveis de produtividade do capital humano e social, em particular.

Sempre fui, a despeito de ser bastante crítico a esse personagem singular do velho populismo brasileiro, um apoiador sincero de suas medidas redistributivas, que corrigem, ainda que minimamente e modestamente, a tremenda injustiça do eterno patrimonialismo oligárquico do Brasil, uma nação que se caracteriza por séculos de injustiças contra os mais pobres, em primeiro lugar contra os africanos e indígenas escravizados e oprimidos, e que ainda se ressentem da persistência de formas disfarçadas de escravismo e de servidão na pobreza generalizada de seus descendentes.

Continuarei ao longo de 2023, e mais além, meu apoio crítico a tais medidas de redução da miséria abjeta e da pobreza absoluta por parte de um governo que dispõe de um legítimo apoio popular, ao lado de uma convivência incômoda com as “elites” extratoras de sempre, as classes econômicas eternamente privilegiadas, que não são apenas os velhos e novos  proprietários fundiários e os grandes capitalistas, empresários industriais e banqueiros, mas também os mandarins do Estado, a começar pela aristocracia do judiciário e outros altos servidores do Estado, que se servem do Estado para si próprios. 

Manterei, ao longo de 2023 e mais adiante, meu ceticismo sadio em relação a políticas públicas e medidas estatais que atuam apenas nos estoques de riqueza, e não na criação de seus novos fluxos, assim como naquelas iniciativas redistributivas que impactam apenas os muitos efeitos da iniquidade distributiva (entre elas um sistema tributário regressivo), e não exatamente suas múltiplas fontes de criação dos canais de reconcentração de renda, com modestos resultados nas estruturas sólidas do nosso vergonhoso coeficiente de Gini.

Serei especialmente crítico em relação a uma política externa feita de muitos equívocos conceituais (como a velha e anacrônica visão “classista” da divisão do mundo) e de sua primeira diplomacia partidária, com vergonhosos apoios a execráveis ditaduras supostamente de esquerda (e algumas de direita também). 

Sou, em particular, um opositor talvez isolado e de primeira hora do BRIC-BRICS, que considero um grande erro estratégico da diplomacia lulopetista, por nos unir, sem qualquer convergência sólida de objetivos compartilhados, a duas grandes autocracias e a duas outras democracias de baixíssima qualidade (como é a nossa aliás), apenas pela ilusão de que se trataria da construção de uma ordem mundial alternativa à velha dominação de antigas potências colonialistas ou do novo hegemonismo americano, o que é um programa meramente oposicionista, sem qualquer conexão com propostas visando a melhoria da qualidade de políticas públicas de desenvolvimento econômico e social, ou com a elevação dos padrões de governança democrática e de defesa dos direitos humanos e das liberdades individuais.

Também sou um opositor declarado do estatismo desmesurado desse terceiro governo economicamente intervencionista do grande líder populista, e de sua megalomania na política externa, o que nos envolve num certo aventureirismo diplomático, sem grandes efeitos no objetivo que deveria ser essencial num projeto nacional, que é a redução dos níveis exageradamente altos de miséria e de pobreza inaceitáveis.

Com todas essas ressalvas, alertas e sugestões, desejo um bom 2023 a Lula e um bom governo até 2026, esperando que escapemos de uma nova e catastrófica recessão (como a de 2015-16) e que em 2027 estejamos melhor do que agora e livres de qualquer ameaça golpista e de um retorno do destruidor desgoverno desse infeliz último quadriênio, marcado pelo reforço do patrimonialismo oligárquico e do autoritarismo militar, ilegítimo em sua essência. 

Vamos lá Brasil, seja feliz de novo, como nos bons tempos de JK, que viram o nascimento da Bossa Nova e do Rei Pelé!

Com os melhores votos de

Paulo Roberto de Almeida

São Paulo, 1/01/2023

 

Paulo Roberto de Almeida

São Paulo, 4297: 1 janeiro 2023, 3 p.


Uma mensagem de um grande intelectual a todos os seus leitores - Carlos Malamud

Uma mensagem de um grande intelectual a todos os seus leitores 

Carlos Malamud

PRA: Recebido como saudação a 2024, de um grande intelectual, do qual sou leitor


 “Yo no soy una escritora. Soy simplemente un ser humano en busca de expresión. Escribo porque no puedo impedírmelo, porque siento la necesidad de ello y porque esa es mi única manera de comunicarme con algunos seres, conmigo misma. Mi única manera.” 

Victoria Ocampo (Buenos Aires 1890 – 1979) 

 

La escritura es la manera más directa que tengo de entender e interpretar la realidad, la pasada y la presente. Para poder traducirla y comunicarme mejor con los demás. El objetivo es alcanzar a cada uno de vosotros, a los que intento llegar periódicamente a través de mis textos, en las distintas actividades que practico. 

Las palabras, bien utilizadas, pueden tener un valor terapéutico esencial en momentos de tanto dolor y sufrimiento como los que nos han tocado vivir en estos días y en el pasado reciente. Las palabras son las que nos pueden acercar al otro para entenderlo y aceptarlo como seres humanos que somos y no para rechazarlo por diferente. 

Por eso, sigamos usando las palabras para poder compartir un futuro más prometedor y para seguir esparciendo la esperanza. 

También para desearnos un ¡¡¡MUY FELIZ 2024!!! 

Carlos Malamud” 

segunda-feira, 25 de dezembro de 2023

Luiz Afonso Simoens da Silva: Do homem medieval ao liberal: ciclos e crises do liberalismo – tendências autoritárias recentes (Revista de Economia Política)

 No dia de Natal de 2023 li o instigante artigo do amigo intelectual Luiz Afonso Simoens da Silva na Revista de Economia Política: 

Do homem medieval ao liberal: ciclos e crises do liberalismo – tendências autoritárias recentes

Efetuei alguns comentários no site da revista, abaixo trabscritos, e enviei esta mensagem ao autor:

 Caro Simoens,

A despeito do Natal, li todo o seu texto e apreciei a riqueza de sua atenta leitura de grandes autores.
Minhas observações são reproduzidas abaixo, no comentário que efetuei no site da revista.
Mas quero cumprimentá-lo pela enorme diversidade de leituras e reflexões que vc fez. Não sei se o mundo continuará sendo dominado por esse punhado de interpretes ocidentais, já que suas sociedades estao enfrentando crises temporárias. 

“Sintese de grande qualidade sobre a evolução do pensamento ocidental a propósito das transformações sucessivas das sociedades ocidentais, sob o impacto de guerras e mudanças econômicas. Questiona-se se esse pensamento multiplo é capaz de abranger toda a complexidade do real e se as interpretações oferecidas fazem o mesmo. Os conceitos empregados — capitalismo, liberalismo, neoliberalismo — não são mais do que conceitos, ou seja, não podem e não conseguem aprisionar toda a realidade complexa da vida e das situações. Por exemplo: concentração de renda pode ser um traço da atualidade das sociedades OCIDENTAIS, mas a riqueza tem sido produzida e circulado em sociedades não ocidentais. Só pensadores o ocidentais são capazes de interpretar o mundo?”

O grande abraço do
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Sent from my iPhone
Paulo Roberto de Almeida”

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Do homem medieval ao liberal: ciclos e crises do liberalismo – tendências autoritárias recentes

O artigo foi apresentado para a Revista de Economia Política em maio de 2022, aprovado em janeiro de 2023 e agora publicado no vol. 44, nº 1, pp. 103-124, janeiro-março/2024. Veja o link: https://www.scielo.br/j/rep/i/2024.v44n1/

Muitos pensadores têm se debruçado sobre o atual quadro de desarranjos e tendências autoritárias que se manifestam ao redor do mundo. O que estaria na origem desses eventos que apontam para uma inflexão na ordem política que se mantinha nas economias avançadas desde o final da 2ª. Guerra Mundial? Perda de substância das democracias ocidentais? Valores tradicionais postos em xeque, que assustam o pensamento conservador? Certamente há muito disso. Mas, porque países vistos como democracias consolidadas estão se posicionando na extrema direita do espectro político?

O estudo parte da pergunta “a História se repete?” e descreve eventuais coincidências econômicas, que podem ter gerado ciclos de regulação/desregulação entre as décadas iniciais dos séculos XX e XXI. Considerando o desastre civilizacional que ocorreu na primeira metade do século XX, se essas coincidências continuarem a ocorrer, o futuro próximo não será nada fácil.

As seções a seguir abordam o nascimento do liberalismo clássico, a posterior ascensão do neoliberalismo, o neoliberalismo na contemporaneidade e especulações acerca de um eventual pós-capitalismo ou pós-neoliberalismo.

Em síntese, possíveis respostas aos questionamentos iniciais podem passar por três vetores: a existência de ciclos de regulação/desregulação, que se manifestam na esteira das mudanças no estado de espírito dos povos; a prevalência de um neoliberalismo que alimenta consumismo fútil e favorece a paranoia de segurança interna e externa; e o enfraquecimento do trabalho ante o capital. Estes três eixos de análise não esgotam a questão, mas respondem por boa parte do desconforto das populações do mundo atual, porque apontam para a concentração da renda e da riqueza e para tendências autoritárias. Medo e descrença nas instituições públicas costumam ser maus conselheiros.

Ler a íntegra deste artigo neste link: https://reflexoesinquietas.com.br/wp-content/uploads/2023/12/06_REP-v44-n-1.pdf


sábado, 23 de dezembro de 2023

O ponto de fusão: Imigrantes na construção do Brasil e na política - Paulo Roberto de Almeida revista Crusoé

 Sou colunista da revista Crusoé, o que implica em resguardar por certo tempo os direitos autorais da editora responsável. Considero que depois de duas ou três semanas seja razoável divulgar por este canal a íntegra dos meus artigos, vários deles de natureza conjuntural. É o que faço agora.

1535. “O ponto de fusão” [título original: “Imigrantes na construção do Brasil e na política”], revista Crusoé (n. 293, 8/12/2023; link: https://crusoe.com.br/edicoes/293/o-ponto-de-fusao/). Relação de Originais n. 4513.

 

Imigrantes na construção do Brasil e na política

  

Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.

revista Crusoé revista Crusoé (n. 293, 8/12/2023; link: https://crusoe.com.br/edicoes/293/o-ponto-de-fusao/). 

 

A história da humanidade, desde tempos imemoriais, é formada por um cadinho e por um turbilhão de povos, de culturas e de influências recíprocas, ainda que assimétricas por sua própria natureza: expansão demográfica natural, dominação violenta por hordas de invasores militarmente superiores, emigração voluntária ou forçada, epidemias e endemias seguindo as trilhas da inovação técnica e da disseminação de espécies vegetais e animais mais produtivas. Esse processo durou milhares de anos, e continua de maneira intensa nos nossos dias, com as novas facilidades de transportes e comunicações; mas a marcha a pé, dos campos para as cidades, de uma região a outra, ainda continua a ser a forma mais usual de transmigração. 

Darcy Ribeiro, em suas obras sobre o processo civilizatório, fazia uma distinção entre povos historicamente ancestrais, os da Eurásia e da África, e os “povos novos”, que seriam os que resultaram das grandes navegações a partir daquele grande continente e o espraiamento de seus contingentes humanos sobre o “Novo Mundo” aberto aos europeus desde as primeiras “descobertas” de vikings e de Colombo. Os “ancestrais” do hemisfério americano foram sendo subjugados, eliminados ou transformados pela supremacia das armas e das técnicas: alguns dos ocupantes originais permaneceram, onde sua densidade demográfica e avanços materiais estavam consolidados, comparativamente ao destino mais infeliz daqueles povos ainda situados no paleolítico ou no neolítico superior. 

A conformação de alguns desses “povos novos” é caracteristicamente imigrante, a partir de suas fontes europeias, a América do Norte, Brasil e Argentina ao sul, Austrália e Nova Zelândia no Índico. A Argentina foi, proporcionalmente, o povo mais “importado” do mundo, ainda que os Estados Unidos, numericamente, sejam os campeões absolutos no seu componente imigratório. O Brasil ficou fechado ao mundo, por decisão da metrópole durante os primeiros séculos, mas também recebeu levas de imigrantes a partir do final do século 19 e início do seguinte. Antes dos europeus, japoneses, médio-orientais, armênios e tutti quanti integrou essas levas de trabalhadores incansáveis, os “cristãos novos” já tinham colorido o tecido social originalmente apenas lusitano. Voltaram, mais tarde, com novas diásporas produzidas pelo antissemitismo europeu, aliás precedidos pelos expelidos pela crise do império otomano mais de cem anos atrás. O Brasil foi feito basicamente pelos imigrantes, crescentemente diversificados, mais até do que pelos portugueses, o tronco humano central, mas provavelmente não o mais produtivo ou empreendedor neste último século. Integrados e misturados ao substrato colonial, já naturalmente mesclado, esses imigrantes foram decisivos na construção da nação, antes de serem influentes no governo e na política, desde as décadas de modernização econômica e social da era Vargas (que se confunde com o meio século de grandes transformações culturais e materiais desde a Revolução de 1930). Dificuldades e percalços nas políticas domésticas partir dos anos 1980 reduziram o formidável ímpeto do crescimento econômico nacional, quando o mundo, superada a grande divisão ideológica do imediato pós-Segunda Guerra, ingressava justamente em nova onda globalizadora, que impactou sobretudo antigos povos asiáticos, submetidos durante alguns séculos à hegemonia europeia. A Ásia Pacífico inverteu posições com a América Latina, no comércio mundial, na tecnologia nos trinta anos seguintes à descolonização de velhos impérios europeus. 

O Brasil continuou relevante na América do Sul por seu próprio peso específico no continente, não exatamente por um dinamismo extraordinário: mesmo na retomada de taxas de crescimento mais robustas, no começo do milênio, sua expansão média ficou abaixo da América Latina, abaixo da média mundial e três vezes menos do que os emergentes mais dinâmicos da Ásia Pacífico. Mas os nomes dos imigrantes são cada vez mais visíveis, na política interna, nos empreendimentos econômicos e até na política externa, com destaque para os levantinos, influentes pela riqueza, pela participação nos negócios e na governança. 

Os judeus, povo martirizado no Holocausto de meados do século passado, voltam novamente às primeiras páginas dos jornais, não mais por uma nova Intifada contra sua nação recriada, mas por uma verdadeira tentativa de eliminação do Estado e de todo o seu povo por um movimento terrorista dispondo de poderosos apoios na região e fora dela. Por razões não de todo racionais no âmbito da política interna, o Brasil ficou dividido nessa nova onda de antissemitismo explícito, mais ainda do que nos sombrios anos 1930, quando se relutou de forma mesquinha em acolher os perseguidos pelos pogroms nazistas. Bandos de alucinados chegaram a manifestar apoio aos perpetradores de ataques terroristas contra o povo judeu, em Israel e mundo afora. Não se trata exatamente do componente árabe ou muçulmano integrado à população brasileira, mas mais exatamente uma espécie de reflexo de deformações políticas incorporadas à política externa desde algum tempo, por acaso coincidentes com as escolhas ideológicas do partido que controla temporariamente o governo.

Depois de muito tempo hegemonizada pelas oligarquias dominantes no Império e na República Velha, a diplomacia brasileira recebeu o aporte de imigrantes árabes e judeus em seu corpo profissional. Mesmo de fora da carreira, dois judeus de sobrenome Lafer, tio e sobrinho, ocuparam a chefia da diplomacia a meio século de distância. Ambos tiveram posturas impecáveis na condução geral da política externa, inclusive com respeito aos dramas humanos e diplomáticos que continuaram agitando o Oriente Médio, desde muito tempo e novamente no período recente. Celso Lafer, por sinal, contou com a preciosa ajuda de um descendente de libaneses na secretaria geral das relações exteriores.

Na verdade, a ascendência étnica e cultural de muitos imigrantes na política brasileira teve um peso relativamente menor na definição das grandes linhas da política externa do país, dada a quase total integração desses “importados” ao main stream da governança nacional. Todos, agora, são basicamente brasileiros, pelos hábitos e pela cultura, mais do que outras comunidades de “oriundi” em diversos outros países, que conservam comunidades agregadas pela língua, pela religião e pelos costumes. Festas, futebol e comidas mesclaram quase todos os povos que aportaram no Brasil desde a República laica, mas profundamente religiosa. 

Eventuais divisões decorrentes de preferências políticas relativamente sectárias serão provavelmente passageiras, superado o grande drama que agita novamente o Oriente Médio. As duas comunidades temporariamente em confronto de opiniões não contaminarão de forma excessiva a diplomacia profissional, nem conseguirão infletir a postura sempre equilibrada da política externa vis-à-vis conflitos no cenário mundial. Nunca fomos atingidos por qualquer “choque de civilizações”, nem o drama atual importará ódios manifestados em outras partes do mundo. O “melting pot” brasileiro, basicamente racial e cultural, é resiliente ao ponto de diluir fricções existentes no exterior. Somos todos imigrantes perfeitamente integrados.

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4513, 18 novembro 2023, 3 p.

 Publicado como “O ponto de fusão” [título original: “Imigrantes na construção do Brasil e na política”], revista Crusoé(n. 293, 8/12/2023; link: https://crusoe.com.br/edicoes/293/o-ponto-de-fusao/). Relação de Originais n. 4513; Relação de Publicados n. 1535.


Diferenças entre a ‘velha’ e a ‘nova’ diplomacia de Lula - Paulo Roberto de Almeida revista Crusoé

Sou colunista da revista Crusoé, o que implica em resguardar por certo tempo os direitos autorais da editora responsável. Considero que depois de duas ou três semanas seja razoável divulgar por este canal a íntegra dos meus artigos, vários deles de natureza conjuntural. É o que faço agora.

4511. “Diferenças entre a ‘velha’ e a ‘nova’ diplomacia de Lula”, Brasília, 16 novembro 2023, 3 p. Artigo para a revista Crusoé; publicado em 24/11/2023 (link: https://crusoe.com.br/edicoes/291/diferencas-entre-a-velha-e-a-nova-diplomacia-de-lula/). Relação de Publicados n. 1533. 

Diferenças entre a ‘velha’ e a ‘nova’ diplomacia de Lula

  

Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.

revista Crusoé (24/11/2023 (link: https://crusoe.com.br/edicoes/291/diferencas-entre-a-velha-e-a-nova-diplomacia-de-lula/).

  

Países evoluem, geralmente no caminho do desenvolvimento econômico e social, da democracia representativa e das liberdades individuais. Nem todos eles: alguns conhecem ditaduras e mesmo totalitarismo, como a Alemanha de Weimar, nos anos 1930-40, enquanto outros passam por involução econômica e retrocessos sociais, e temos exemplos disso aqui mesmo, bem pertinho. As pessoas geralmente também vão mudando ao longo dos anos, do voluntarismo e do radicalismo juvenil para posturas mais sensatas, talvez conservadoras, com a idade madura, a família, filhos e netos, a percepção da complexidade social, enfim.

Espera-se que essa seja, por exemplo, a típica transição dos políticos profissionais, desde as posições extremadas do começo de carreira para uma convergência com posturas mais conciliadoras com outras forças e movimentos partidários. Nem sempre, todavia, é assim. Alguns acentuam velhos hábitos, outros aprofundam comportamentos sectários e certo radicalismo tardio, muitas vezes anacrônico. Isso parece ter ocorrido com Lula, a despeito de uma notável continuidade nas características básicas: o populismo, a modulação do discurso para cada plateia, as alianças preferenciais dentro do mesmo, velho, espectro partidário. Tais características são especialmente válidas no campo da diplomacia e da política externa. 

Cabe aqui uma constatação inicial, visível desde o início do seu terceiro mandato: a diplomacia basicamente pessoal de Lula vem convertendo-se no principal problema para a diplomacia profissional do Itamaraty, que se esforça para manter um razoável equilíbrio nas relações com os principais parceiros externos. O personalismo do chefe da diplomacia tendeu a se reforçar no período recente, comparativamente aos dois primeiros mandatos. Na verdade, a diplomacia lulopetista foi exacerbadamente pessoal, em todos eles, mas ela acentuou o personalismo desde a campanha presidencial de 2022, levando ao exagero a própria noção de diplomacia presidencial. Vamos às evidências da mudança.

A antiga diplomacia lulopetista (2003-2010) também tinha uma grande carga de personalismo de quem se acreditava o melhor de todos os diplomatas, com seus improvisos que frequentemente desprezavam os discursos burocraticamente bem escritos pelo Itamaraty. Mas ela conseguia preservar certo equilíbrio de racionalidade ideológica entre os três grandes formuladores e executores: Lula, Amorim e Marco Aurélio Garcia, este mais conhecido entre os diplomatas como “chanceler para a América do Sul”, dada a sua dedicação aos partidos de esquerda da região, sem esquecer os amigos cubanos e alguns centro-americanos. A “pizza diplomática”, nessa época, era composta por seis fatias puramente diplomáticas, isto é, os temas tradicionais do Itamaraty, e duas fatias de diplomacia partidária, como as boas relações com os amigos socialistas, os bolivarianos, os antiamericanos de maneira geral. Lula deu o tom de suas grandes iniciativas naquele período: orientação mais política do que comercial para o Mercosul, tentativa de liderar a América do Sul na oposição ao projeto americano da Alca – que ele conseguiu implodir com a ajuda dos companheiros Chávez e Kirchner –, os grandes encontros de presidentes da América do Sul e seus contrapartes da África e dos países árabes, assim como a criação da Unasul, logo dominada pelos bolivarianos.

A política externa era em grande medida dominada pelas concepções lulopetistas, mas apoiadas no profissionalismo do Itamaraty, que se esforçava para oferecer ao “nosso Guia” – como Amorim se referia a Lula – as condições ideais para o desempenho de sua diplomacia pessoal. Ele tinha presença garantida em diferentes foros plurilaterais, aos quais comparecia como convidado ou parte legítima – G7 e G20, por exemplo – ou como um dos promotores originais: IBAS, com Índia e África do Sul, a Unasul e, logo em seguida, o BRIC, ao lado da Rússia, da Índia e da China, no que, ao início, era um foro de países dinâmicos na economia.

Ausente durante treze anos de seu projeto de liderança regional, impedido de exercer seus talentos no contexto de um diáfano Sul Global – um “ente” bem mais teórico do que um foro dotado de consistência efetiva –, Lula voltou ao comando do país prometendo retomar seus antigos projetos políticos, sob o slogan “O Brasil Voltou!” Talvez tenha até voltado, mas não exatamente da forma como Lula gostaria, pois nem sua presença no G7 de Hiroshima, nem as duas reuniões de cúpula sul-americana do primeiro semestre de 2023, lhe trouxeram os dividendos políticos esperados: Zelensky, no primeiro caso, concorrentes da esquerda sul-americana, no segundo caso, tolheram o brilho que ele esperava recolher nesses encontros.

O que se registrou, na verdade, foi uma acentuação do seu personalismo diplomático, doravante em estado puro, sem algum real substrato fornecido pela retórica mais comedida da diplomacia profissional. Lula passou a disparar invectivas e recriminações contra velhos e novos adversários, por acaso todos eles situados no campo ocidental. Sua “neutralidade” favorável à Rússia no caso da guerra de agressão à Ucrânia já era bem conhecida desses interlocutores ocidentais, que ficaram ainda mais chocados com sua postura enviesada em favor de uma “resistência palestina” que escondia mal a disfarçada ausência de condenação formal do terrorismo do Hamas, completamente “esquecido” nos primeiros pronunciamentos, do próprio Lula e, de forma ainda mais constrangedora, nas notas da diplomacia oficial.

A operação de resgate dos refugiados da Faixa de Gaza foi muito mais cercada das atenções presidenciais do que tinha sido o retorno dos refugiados de Israel, o que era de certa forma previsível; a recepção pessoal deu-lhe oportunidade para uma nova série de improvisos pouco diplomáticos sobre o “genocídio israelense”, que chocou um espectro ainda maior da opinião pública nacional e internacional. Lula ainda não parece ter percebido que invectivas daquele teor, sem o devido aconselhamento de conselheiros menos afoitos, prejudicam a si próprio, a imagem do país, assim como a diplomacia de ambos, a oficial e a personalista.

Na verdade, esse tipo de descontrole verbal não começou no caso da guerra Hamas-Israel, com um inédito acúmulo de tragédias humanas, mas vinha se manifestando desde antes da vitória eleitoral em 2022, quando Lula atribuiu igual responsabilidade aos dois contendores no caso da guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia. Suas contínuas defesas de Putin têm mais a ver com a miragem de uma nova ordem internacional não ocidental do que com os interesses diplomáticos brasileiros de longo prazo.

O mesmo tipo de atitude pode ter continuidade de uma maneira ainda mais dramática do ponto de vista do Brasil no caso de uma eventual guerra de agressão da Venezuela contra a Guiana. Lula talvez desconheça o histórico envolvimento do Brasil nessa questão, pois que o Essequibo na mira do ditador venezuelano foi o foco da controvérsia arbitrada mais de cem anos atrás contra o Reino Unido. Ele não deveria permanecer indiferente a uma questão de Direito Internacional cuja violação criaria um conflito em terras anteriormente brasileiras. 

Lula carece de preparação adequada para manejar a complexidade de uma diplomacia atuando em múltiplas frentes como é a do Brasil. Entre intromissões indevidas e omissões não justificadas, ele está destruindo sua reputação de estadista, assim como a credibilidade conquistada pela diplomacia ao longo de muitas décadas de construção de uma autonomia reconhecida por todos. A bizarra expansão do Brics conduzida por duas grandes autocracias e endossadas pela diplomacia personalíssima de Lula ameaça fissurar o edifício desenhado por Rio Branco e Rui Barbosa, defendido em anos sombrios pela coragem de um Oswaldo Aranha e confirmado no plano dos conceitos jurídicos por um intelectual da estatura de San Tiago Dantas. Lula 3 escolheu uma trajetória política que afasta a diplomacia nacional das concepções centrais dos grandes nomes de sua política externa. Até quando?

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4511, 16 novembro 2023, 3 p.