O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

segunda-feira, 1 de julho de 2024

Plano Real: 30 anos desde o 1o de julho de 1994: o mais bem sucedido plano de estabilização no Brasil

 

O Plano Real completa hoje, 1º de julho, 30 anos. Neste dia em que celebramos o mais bem-sucedido plano de estabilização da economia brasileira, o Acervo da Fundação Fernando Henrique Cardoso disponibiliza a todos um novo conjunto documental sobre essa conquista da nossa história.

São mais de cem documentos pessoais que foram doados pelo economista Edmar Bacha, um dos membros da equipe que criou o Real, e que retratam o período de discussão e implementação da nova moeda.

O conjunto de documentos revela o caráter processual da transição econômica, por meio de textos de discussão, atas, relatórios, subsídios, artigos e propostas que circularam entre os membros da equipe de acadêmicos. A documentação foi descrita pelos profissionais do Acervo e está disponível na base de dados da Fundação.

Acesse uma amostra com 10 documentos representativos doados por Bacha: https://lnkd.in/dF3TnQjZ

Para uma pesquisa completa no arquivo doado por Bacha e outros documentos da Fundação FHC, acesse o Portal do Acervo: http://acervo.ifhc.org.br/

hashtagparatodosverem: vídeo com duração de cinco minutos e vinte segundos. No início, tela com efeito sonoro e o seguinte texto: O personagem. Na sequência, fala de Edmar Bacha, economista. Ele está sentado, veste uma camisa branca; tem barba e cabelos brancos. Ao fundo, estante com livros. Ao longo do vídeo, aparecem algumas fotos de Edmar na Fundação FHC, ao lado de Silvana Goulart, curadora do Acervo, e Sergio Fausto, diretor da Fundação. Também aparecem outras telas com as seguintes frases: Uma doação preciosa; FHC: para mim, chega!; O grupo do Real; e Bacha aceita a missão. No fim do vídeo, aparecem a hashtag hashtagPlanoReal30Anos e o logo de 20 anos da Fundação FHC.
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Parte do Brasil recomeçou em 1° de julho de 1994.

Há 30 anos entrou em circulação o Real. Voltamos a ter uma moeda, essência da dignidade de um povo. Isso depois de quase dez anos de experimentos fracassados desde a redemocratização do País, em 1985.

A sociedade tem sido a sustentação do Real e da estabilidade financeira. Aprendemos a defender a nossa moeda e rechaçamos políticos que a atacam.

Sempre importante lembrar que a inflação interessa a muitos, especialmente aos governos. Com preços em aceleração, arrecadam mais e conseguem postergar suas despesas.

O mesmo não acontece com a grande maioria da população, que além de não poder proteger seus salários e rendas da inflação, perdem poder de compra e bem-estar. A inflação é, assim, um imposto perverso, ataca os mais pobres e não precisa de deliberação política no Congresso.

O Plano Real transformou o Brasil. E coincidiu com o início da minha vida profissional. Depois dele tivemos que enfrentar várias reformas econômicas, micro e macro, para manter a estabilidade, mas também para atacar problemas que tornaram-se evidentes: o desequilíbrio fiscal, a desigualdade e o baixo crescimento. Tudo relacionado.

A saga dos brasileiros na conquista da sua moeda precisa ser um exemplo para as novas gerações. Ainda temos que buscar uma economia mais aberta, eficiente, um ambiente de negócios próspero e as contas públicas equilibradas. Igualmente, tudo relacionado.

O caminho do desenvolvimento não existe sem as pessoas e sem a construção de instituições inclusivas. A economia brasileira precisa ser arejada para permitir uma sociedade coesa e próspera.

Ainda há muito a fazer. Mas somos muito melhores e mais felizes desde 1° de julho de 1994!

Fundação Fernando Henrique Cardoso
@PersioArida
@PedroMalan
@GustavoFranco

hashtagplanoreal

Politica econômica de Lula preserva estagnação ou prepara nova crise fiscal (matérias da FSP)

 Sim, preserva o longuíssimo ciclo estagnacionista da economia brasileira, que vem desde a “década perdida” dos anos 1980, continuou mesmo depois da estabilização do Plano Real e do crescimento mais vigoroso de Lula 1 (feito à base de aumento do dispêndio público e não de maior eficiência, pois que inferior ao crescimento médio mundial e da AL, e três vezes menor do que os emergentes dinâmicos da Ásia) e que jamais propiciou ganhos sustentáveis de produtividade ou inserção na economia mundial. Ficamos nos arrastando penosamente em direção ao futuro nos últimos 40 anos, com algumas poucas ilhas de excelência na academia ou na economia (o agronegócio, por exemplo), mas uma enervante lentidão em todos os demais setores. O que mais cresceu, na verdade, foi a sanha abocanhadora dos políticos, os instintos aristocráticos dos mandarins do serviço público (com destaque para os abusos predatórios do Judiciário, complementados pelas benesses abusivas dos militares sob Bolsonaro) e a corrupção generalizada no Estado e na sociedade, de maneira geral. 

Reproduzo abaixo duas matérias da FSP, do domingo 30/06 e  desta segunda-feira, 1/07/2024, um péssimo início de segundo semestre. PRA


“A política de valorização do salário mínimo instituída pelo governo federal aumentará as despesas da Previdência Social em mais de R$ 100 bilhões nos próximos quatro anos, informa a Folha de S. Paulo. O presidente Lula e sua equipe afirmam que o objetivo é ampliar o poder de compra dos trabalhadores, mas economistas alertam sobre o impacto dessa política nos gastos públicos. Em dez anos, o impacto pode chegar a R$ 550 bilhões, anulando parte dos ganhos obtidos com a reforma da Previdência de 2019 e pressionando o limite do novo arcabouço fiscal. Lula já avisou que não aceita mudanças na política de valorização do mínimo nem desvinculação dos benefícios.” 

Como falas de Lula têm contribuído com a alta no dólar
Folha.com | Feed
30 de junho de 2024

São Paulo

Declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva(PT) têm contribuído para a alta do dólar, em meio a um cenário de incertezas sobre os gastos do governo. Isso além do cenário externo, com juros norte-americanos em alta e a proximidade das eleições no Estados Unidos.

Na sexta-feira (28), do dólar fechou o dia com aumento de 1,5% ante a quinta, cotado a R$ 5,5906. É o maior patamar desde 18 de janeiro de 2022, quando a moeda americana atingiu R$ 5,56.

Dólar recua ante real com incertezas sobre ajuste fiscal e cenário externo

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As elevação parecia ter encontrado seu pico na quarta, chegando a R$ 5,518, quando Lula afirmou, em entrevista ao UOL, que era preciso saber se realmente era necessário um corte de despesas ou um aumento de arrecadação.

"O problema não é que tem que cortar. Problema é saber se precisa efetivamente cortar ou se precisa aumentar a arrecadação", disse Lula

O mercado não reagiu bem. No dia, havia outros pontos do cenário internacional influenciando o câmbio, mas o salto foi atribuído por analistas às declarações do presidente.

Na mesma entrevista ao UOL, o presidente afirmou que a inflação está controlada, mas reforçou que manterá a política de valorização do salário mínimo, que conta com parte do PIB (Produto Interno Bruto) dos últimos dois anos, além da inflação do ano anterior.

Além disso, afirmou que não pretende desvincular o piso das aposentadorias e pensões do INSS, o que aumentou a percepção do risco fiscal. Veja outros casos no gráfico abaixo.

Na quinta (27), durante reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável, o chamado Conselhão, que envolve representantes de trabalhadores e de diversas empresas do setor produtivo, Lula chamou de "cretinos" os que afirmaram que o dólar subiu na véspera por causa de suas declarações.

"Vejam o que aconteceu ontem. Quando eu terminei a entrevista [ao UOL], a manchete de alguns comentaristas era que o dólar subiu pela entrevista do Lula. E os cretinos não perceberam que o dólar tinha subido 15 minutos antes de eu dar entrevista. Quinze minutos antes!", afirmou.

"Ou seja, nesse mundo perverso das pessoas colocarem para fora aquilo que querem sem medir a responsabilidade do que vai acontecer, é muito ruim", disse no Palácio do Itamaraty.

No acumulado do mês de junho, o dólar registrou alta de 6,48%. No ano, a moeda americana registra alta de mais de 15% ante o real.

"Tem especulação com derivativo para valorizar o dólar e desvalorizar o real, e o Banco Central tem que investigar isso. Se o presidente da República que for eleito não puder falar, quem vai poder falar? O cara que perdeu? O presidente do Banco Central?", afirmou Lula na sexta (28).

Já no fim da manhã, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, disse que ajustes fiscais muito focados em ganho de receita são menos eficientes e podem ter como resultado menor investimento, menor crescimento econômico e inflação mais alta.

O presidente do BC disse, ainda, que a desconfiança sobre as contas públicas impacta os juros de longo prazo e as expectativas de inflação.

À tarde, durante evento em Juiz de Fora (MG), o petista disse que não fará ajuste fiscal que atinja o "povo trabalhador e pobre" do país.

"Ah, dizem que é importante se fazer ajuste fiscal, que o salário mínimo está alto. Que alto? Mínimo é mínimo", disse Lula, que foi aplaudido pelos presentes.

Em novembro de 2022, o presidente também havia atacado o corte de gastos. "Por que toda hora as pessoas dizem que é preciso cortar gasto, que é preciso fazer superávit, que é preciso ter teto de gastos? Por que a gente não estabelece um novo paradigma?"

No mesmo mês daquele ano, no entanto, chegou a dizer que sabe que tem de cortar gasto, sabemos que temos de ter responsabilidade fiscal. Não podemos gastar mais do que a gente ganha", e que irá respeitar a lei de responsabilidade fiscal.

O presidente se queixa com frequência da taxa de juros, e diz acreditar que a situação irá se estabilizar quando indicar o novo presidente do Banco Central. Analistas, no entanto, apontam que o cenário internacional não tende a mudar até a eleição norte-americana, pressionando a moeda internacional a altas.

No caso do aumento da última sexta, no entanto, a moeda norte-americana se valorizou ante ao real mais ligada uma disputa entre agentes de mercado pela formação da Ptax do que propriamente a Lula. A Ptax é uma taxa de câmbio calculada pelo BC que serve como referência para a liquidação de contratos futuros.

No fim de cada mês, agentes financeiros costumam tentar direcioná-la a níveis mais convenientes às suas posições, sejam elas compradas (no sentido de alta das cotações) ou vendidas em dólar (no sentido de baixa).

A disputa pela Ptax impulsionou as cotações do dólar no Brasil, ainda que no exterior a moeda americana tenha apresentado baixa. A maior parte das moedas emergentes, como o rand sul-africano e o peso chileno, registrou valorização. O real, no entanto, amargou o pior desempenho.

Eleições francesas, por Jean Quatremer (Le Monde)

 Os eleitores franceses que votaram no RN não são todos racistas, xenófobos e fascistas (apenas alguns o são). Eles são contra o que havia, e expressaram sua insatisfação contra os partidos tradicionais votando contra todos eles: deu os idiotas nacionalistas do RN e os idiotas irracionais do LFI. Ou seja: venceu ser do contra, e escolheram passar a viver com as contradições do que havia do contra, sem progrsma claro. PRA

Jean Quatremer:

Voici mon analyse du scrutin qui n’engage strictement que moi: le résultat des législatives confirme que les citoyens ne votent pas pour le RN pour son programme, puisqu’il change de minute en minute et que personne ne le connait plus (on sait seulement qu’ils sont contre tout et pour tout ce qui est contre…), ni pour des leaders qui ont démontré leur incompétence et leur méconnaissance totale des dossiers et de tous les fondamentaux économiques, juridiques, constitutionnels, ni pour des candidats locaux qui sortent des fonds de tiroir et sont d’une nullité tout aussi grasse que celle leurs leaders. Bref, rationnellement, le vote RN est un défi à l’intelligence.

C’est pour cela que je ne crois pas un « vote d’adhésion » (ce qu’est le vote LFI aussi puant soit-il -je parle ici de Jean-Luc Mélenchon et de sa campagne communautaire flirtant -je suis gentil- avec l’antisémitisme, pas du LFI de François Ruffin ou de Clémentine Autain). Non, je pense que 11 millions de personnes ont voté contre tous les autres partis parce qu’ils n’ont pas su prendre en compte leurs préoccupations. C’est un ras-le-bol que s’amplifie année après année et qui s’est amplifié depuis l’automne dernier.

Je rappelle le sondage IPSOS post-européennes (lien ci-dessous) qui montre que les électeurs RN placent l’immigration (ce qui recouvre la question des valeurs, de la sécurité, mais aussi de la concurrence économique) en tête des raisons de leur vote (le pouvoir d’achat vient en second) à hauteur de 79 % contre 43 % pour l’ensemble des électeurs (en seconde position derrière le pouvoir d’achat, 45 %). Donc on peut se pincer le nez d’un air dégouté, les traiter de racistes (ce qu’ils ne sont pas ou pas seulement), de fascistes, considérer que ces peurs sont fantasmées, mais quand ces peurs amènent au pouvoir des néo-fascistes, il faudrait peut-être se réveiller, arrêter de penser qu’on est le camp du bien et donc qu’on a forcément raison, et essayer d’analyser et enfin répondre aux angoisses de ces Français, comme l’a fait la gauche nordique avec succès, que cela plaise ou non. Le pacte républicain est brisé et le RN n’en est que le symptôme, pas la cause.

lemonde.fr/societe/articl…