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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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domingo, 18 de agosto de 2024

Plano Real, 30 anos: entrevista com Pedro Malan - Nara Boechat (Veja)

 Como Pedro Malan vê o Plano Real trinta anos depois da sua criação

Economista lançou recentemente ‘30 anos do Real: crônicas no calor do momento’

 

Por Nara Boechat

Revista Veja, 18/08/2024

 

No fim do primeiro mandato do presidente Lula, em 2004, Pedro Malan fez uma crônica avaliando o aniversário de dez anos do Plano Real e a conquista da estabilidade da moeda ao longo dos governos, “independentemente de sua ideologia ou coloração político-partidária”. Esta história é uma das reunidas no livro 30 anos do Real: Crônicas no Calor do Momento (ed. Intrínseca) escrito em parceria com Gustavo Franco e Edmar Bacha. Em conversa com a coluna GENTE, o economista, que foi ministro da Fazenda durante o governo de Fernando Henrique Cardoso e presidente do Banco Central na implementação do Real, avalia as mudanças nos últimos 30 anos, analisa o impacto da inflação na sociedade e opina sobre o atual momento da economia brasileira.

 

CONSEQUÊNCIAS DO REAL. “O Plano Real foi um divisor de águas, se estabeleceu num curto período de tempo. Foram 500 dias desde que Fernando Henrique (Cardoso) assumiu como quarto ministro da Fazenda do governo Itamar Franco até o lançamento do Real. E nesses 500 dias, o Brasil mudou, a inflação foi derrotada. A derrota da hiperinflação não significa que não exista inúmeros outros problemas, existia à época e continuam existindo hoje. O problema é que agora, ao longo dos últimos 30 anos, é possível tentar enfrentar esses problemas sem uma inflação alta, crônica e crescente, que foi a insensatez que tivemos durante décadas”.


EXIGÊNCIA DA SOCIEDADE. “O Brasil foi o recordista mundial de inflação entre o início dos anos 1960 e o início dos anos 90. Éramos vistos como uma coisa peculiar pelo mundo, mas voltamos a ser considerados um país mais normal, que vive com inflação civilizada. Teve muito trabalho ali para sanear o sistema financeiro, lidar com questões de bancos comerciais, fazer a renegociação de dívida de estados e municípios, a lei de responsabilidade fiscal. A tarefa é preservar a inflação sob o controle, que passou a ser exigência da sociedade”.


NEVOEIRO DA HIPERINFLAÇÃO.  “Costumo dizer que nenhum governante hoje no Brasil pode se permitir ser percebido tendo uma atitude excessivamente complacente em relação à inflação ou achando que a inflação não tem importância, porque ela come o salário do trabalhador. Ela come o valor dessas transferências de renda que são tão importantes. O significado do Real foi esse. O país pôde vislumbrar melhor os seus inúmeros desafios e oportunidades do que antes, quando ainda vivia sob o espesso nevoeiro da hiperinflação. A tarefa continua”.


DÓLAR ACIMA DE 5 REAIS. “Já chegou a cinco e oitenta e seis, baixou agora. Ah, mas temos o sistema de um regime de taxa de câmbio flutuante. Então flutua ao sabor de eventos internacionais e percepções domésticas. O Brasil é uma economia integrada no mundo nessa dimensão financeira. Essas situações são algumas vezes excessivas, parcialmente corrigíveis, mas expressam coisas que estão acontecendo no Brasil e nas interações do Brasil com o mundo”.


INDEPENDÊNCIA DO BANCO CENTRAL. “Sempre usei a expressão ‘autonomia operacional do Banco Central’. Temos um regime que é definido politicamente, o regime de meta de inflação. É o governo que decide isso, não é o Banco Central. E o Banco Central tem autonomia operacional para dado regime, operacionalizar a política monetária. Não é o Banco Central que estabelece a meta de inflação, é o governo legitimamente eleito, é um comitê de três pessoas, duas são indicadas pelo presidente da república. Por isso prefiro o termo ‘autonomia’ do que independência. É autonomia operacional para implementar uma política definida pelo governo”.


segunda-feira, 1 de julho de 2024

Plano Real: 30 anos desde o 1o de julho de 1994: o mais bem sucedido plano de estabilização no Brasil

 

O Plano Real completa hoje, 1º de julho, 30 anos. Neste dia em que celebramos o mais bem-sucedido plano de estabilização da economia brasileira, o Acervo da Fundação Fernando Henrique Cardoso disponibiliza a todos um novo conjunto documental sobre essa conquista da nossa história.

São mais de cem documentos pessoais que foram doados pelo economista Edmar Bacha, um dos membros da equipe que criou o Real, e que retratam o período de discussão e implementação da nova moeda.

O conjunto de documentos revela o caráter processual da transição econômica, por meio de textos de discussão, atas, relatórios, subsídios, artigos e propostas que circularam entre os membros da equipe de acadêmicos. A documentação foi descrita pelos profissionais do Acervo e está disponível na base de dados da Fundação.

Acesse uma amostra com 10 documentos representativos doados por Bacha: https://lnkd.in/dF3TnQjZ

Para uma pesquisa completa no arquivo doado por Bacha e outros documentos da Fundação FHC, acesse o Portal do Acervo: http://acervo.ifhc.org.br/

hashtagparatodosverem: vídeo com duração de cinco minutos e vinte segundos. No início, tela com efeito sonoro e o seguinte texto: O personagem. Na sequência, fala de Edmar Bacha, economista. Ele está sentado, veste uma camisa branca; tem barba e cabelos brancos. Ao fundo, estante com livros. Ao longo do vídeo, aparecem algumas fotos de Edmar na Fundação FHC, ao lado de Silvana Goulart, curadora do Acervo, e Sergio Fausto, diretor da Fundação. Também aparecem outras telas com as seguintes frases: Uma doação preciosa; FHC: para mim, chega!; O grupo do Real; e Bacha aceita a missão. No fim do vídeo, aparecem a hashtag hashtagPlanoReal30Anos e o logo de 20 anos da Fundação FHC.
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Parte do Brasil recomeçou em 1° de julho de 1994.

Há 30 anos entrou em circulação o Real. Voltamos a ter uma moeda, essência da dignidade de um povo. Isso depois de quase dez anos de experimentos fracassados desde a redemocratização do País, em 1985.

A sociedade tem sido a sustentação do Real e da estabilidade financeira. Aprendemos a defender a nossa moeda e rechaçamos políticos que a atacam.

Sempre importante lembrar que a inflação interessa a muitos, especialmente aos governos. Com preços em aceleração, arrecadam mais e conseguem postergar suas despesas.

O mesmo não acontece com a grande maioria da população, que além de não poder proteger seus salários e rendas da inflação, perdem poder de compra e bem-estar. A inflação é, assim, um imposto perverso, ataca os mais pobres e não precisa de deliberação política no Congresso.

O Plano Real transformou o Brasil. E coincidiu com o início da minha vida profissional. Depois dele tivemos que enfrentar várias reformas econômicas, micro e macro, para manter a estabilidade, mas também para atacar problemas que tornaram-se evidentes: o desequilíbrio fiscal, a desigualdade e o baixo crescimento. Tudo relacionado.

A saga dos brasileiros na conquista da sua moeda precisa ser um exemplo para as novas gerações. Ainda temos que buscar uma economia mais aberta, eficiente, um ambiente de negócios próspero e as contas públicas equilibradas. Igualmente, tudo relacionado.

O caminho do desenvolvimento não existe sem as pessoas e sem a construção de instituições inclusivas. A economia brasileira precisa ser arejada para permitir uma sociedade coesa e próspera.

Ainda há muito a fazer. Mas somos muito melhores e mais felizes desde 1° de julho de 1994!

Fundação Fernando Henrique Cardoso
@PersioArida
@PedroMalan
@GustavoFranco

hashtagplanoreal

quinta-feira, 25 de abril de 2024

O PLANO REAL na PUC: debate com Rogério Werneck, André Lara Resende, Edmar Bacha, Francisco Lopes, Gustavo Franco, Pedro Malan, Persio Arida e Winston Fritsch

Imperdível!

O PLANO REAL na PUC

 https://www.youtube.com/watch?v=ofbOOGSoQbc

3.303 visualizações  22 de abr. de 2024  RIO DE JANEIRO


quarta-feira, 24 de março de 2021

Mercosul, 30 anos - Rubens Barbosa

 MERCOSUL 30 ANOS

 

Rubens Barbosa

O Estado de S. Paulo, 23/03/2021


O Tratado de Assunção, que criou o Mercosul, comemora 30 anos esta semana.  Como mecanismo de abertura de mercado e liberalização de comércio, o Mercosul está hoje estagnado e tornou-se irrelevante do ponto de vista comercial, representando hoje apenas 6,2% do intercâmbio total do Brasil, depois de ter subido a  quase 16% do comércio exterior total nos anos 90.

Nas quase três décadas de existência, o processo de integração dos países do cone sul alternou períodos de forte expansão e estagnação, tanto do ponto de vista econômico, quanto institucional. Em geral, do ponto de vista do setor privado, o exercício foi positivo, no sentido de que os empresários passaram a se envolver nas negociações de acordos comerciais e a voltar sua atenção para nosso entorno como mercado para seus produtos manufaturados.

Desde o inicio, o Mercosul enfrentou desafios para sua construção. Uma de suas características ao longo de todos esses ano foi a incerteza quanto à sua consolidação e quanto ao seu futuro. A ideia de formar um mercado comum em 4 anos, a partir de 1991, como previsto no Tratado, simboliza o grau de ambição não respaldada na realidade de todo o processo. A consolidação e o futuro do Mercosul sempre ficaram na dependência da evolução econômica e comercial de seus membros e de decisões políticas que afetaram a evolução natural do Bloco. Por mais de dez anos, politizado, transformou-se em fórum político e social e aceitou a Venezuela como membro pleno.

A situação atual não é diferente. Há desafios políticos e técnicos que tornam o processo de integração sub-regional ainda mais incerto. No campo político, os presidentes da Argentina e do Brasil, por motivações ideológicas, não se falam a dois anos. As conversas continuam em nível técnicos, mas o apoio do mais alto nível inexiste. No ano passado, a Argentina anunciou que deixaria de participar das negociações dos atuais acordos comerciais e das futuras negociações do bloco, para, depois, recuar e informar que continuaria nas negociações do Mercosul, mas em um ritmo diferente dos demais membros. A justificativa principal argentina foi de que estava tomando a decisão para evitar os efeitos negativos da pandemia. Posteriormente, a Argentina decidiu que não participaria das negociações com a Coreia para não afetar sua indústria. As negociações para a inclusão de açúcar e automotriz continuam fora do Mercosul pela resistência argentina. Com relação a Tarífa Externa Comum - tão perfurada que justifica a qualificação do Mercosul como uma União Aduaneira imperfeita - o Brasil, em 2109, propôs uma redução de 50% e agora aceita discutir a redução a cerca de 10%, sempre com a oposição da Argentina. O acordo de livre comércio mais importante, negociado com a União Europeia, está paralisado por objeções de parte de alguns países europeus em função da política de meio ambiente brasileira. Estão em negociação ou sendo preparados acordos com EFTA, México, Canadá, Líbano, Cingapura, Coréia do Sul, América Central, Reino Unido, Indonésia e Vietnã. 

Este ano, por iniciativa do Uruguai, foi revivida a proposta de flexibilizar o Mercosul para permitir que seus membros possam individualmente concluir acordos de livre comércio com outros países. Pretende-se que, na Reunião de Cúpula virtual, prevista para 26 de março, essa ideia comece a ser examinada, mas a discussão vai ser longa em função de interesses concretos que dificultam a superação de questões técnicas (como ficaria a TEC? o Tratado de Assunção teria de ser renegociado?) e políticas (fim da União Aduaneira e volta a uma área de livre comercio?).

Cabe registrar recentes avanços significativos: os acordos comerciais com os demais países da América do Sul formaram uma área de livre comércio na região; o Estatuto da cidadania (acordo sobre previdência social, educação, circulação na fronteira, residência, passaporte comum); negociação com diversos países de acordos de facilitação de comércio, de cooperação de investimento, de comércio eletrônico e de compras governamentais. Em termos institucionais, redução de órgãos,  simplificação da burocracia interna e enxugamento do orçamento do Mercosul.

O fortalecimento do Mercosul, em termos econômicos, requer vontade política para entender o que está acontecendo no mundo e reagir adequadamente. Além da flexibilização e da redução da TEC, novos temas precisam ser discutidos como cadeias produtiva regional, acumulação de origem, autonomia regional soberana, 5 G e estratégia de negociação conjunta. O Protocolo de Ouro Preto, que criou a União Aduaneira, em 1994, prevê em seu artigo 47 que os países membros poderão convocar uma Conferência Diplomática para examinar sua estrutura, seu funcionamento e operação. Convocada pela primeira vez, essa Conferência poderia, com visão de futuro, discutir políticas e medidas para fortalecer e revigorar o Mercosul.

Apesar de todas as incertezas e desafios, nenhum pais membro está preparado para pagar o preço de colocar em risco a existência do Mercosul. Depois de 30 anos, o Mercosul precisa de um freio de arrumação para resgatar os objetivo iniciais de livre comércio interno e maior inserção externa.

 

 

Rubens Barbosa, ex- coordenador nacional do Mercosul (1991-1994)