segunda-feira, 4 de agosto de 2025

Uma revolução geopolítica apresentada ao Parlamento francês pela Deputada Sophia Chikirou - Arnoud Bertrand

Arnoud Bertrand escreveu:

Este pode ser o documento geopolítico mais notável que já vi sair de uma grande instituição europeia neste século.

O Parlamento francês acaba de produzir um relatório extraordinário de 153 páginas que pede nada menos que um realinhamento estratégico completo da Europa.

O documento desmantela sistematicamente o atual posicionamento geopolítico da UE — "vassalado" aos EUA, nas palavras do relatório — como um fracasso catastrófico que levou a UE a ver "sua influência diminuir e seus interesses mal protegidos".

O relatório detalha 50 recomendações, desde a "criação de uma moeda mundial comum" (recomendação nº 14) para desdolarizar a economia global até "substituir a estratégia da UE na região Indo-Pacífico por uma abordagem cooperativa que inclua a China" (recomendação nº 11).

Em geral, a recomendação central do relatório é que a Europa se liberte da subordinação atlântica e, em vez disso, alcance autonomia estratégica por meio de uma parceria com a China.

Isso marcaria uma reversão histórica completa: pela primeira vez desde a era colonial, o Ocidente histórico escolheria uma parceria estratégica igualitária com uma nação do Sul Global como alternativa às estruturas de aliança ocidentais.

O relatório está em francês, então escrevi um artigo detalhado detalhando suas descobertas e recomendações mais explosivas e explicando por que esta pode ser sua última chance de evitar a irrelevância em um mundo multipolar.

Veja o relatório aqui:

https://www.assemblee-nationale.fr/dyn/17/rapports/due/l17b1588_rapport-information.pdf

RAPPORT D’INFORMATION

DÉPOSÉ PAR LA COMMISSION DES AFFAIRES EUROPÉENNES (1)sur les relations entre l’Union européenne et la Chine, 

ET PRÉSENTÉ PAR MME SOPHIA CHIKIROU, Députée

Vou dar um tempo: boa sorte a todos - Paulo Roberto de Almeida

De onde menos se espera é que não vem nada mesmo, dizia o Barão de Itararé. 

Alguém já ouviu falar de barata tonta?

Ou de geleia geral?

Seria por acaso o Brasil?

Escrever sobre o Brasil atual — seus problemas políticos, suas realizações em muitas áreas (que também as há), seus embates comerciais e diplomáticos, a confusão que existe em diversas pautas das políticas públicas — está ficando cada vez mais difícil, tamanhas são as indefinições vindas das supostas elites governantes (dos três poderes).

Tenho a impressão de que, em virtude do sociopata que pretende ser o imperador do mundo, a confusão vai continuar no futuro previsivel, e o Brasil vai enfrentar novas frustrações em breve tempo.

Creio que vou me limitar, nos próximos meses, a leituras sobre o Brasil do século XIX, no máximo a primeira metade do século XX. Coisas do passado.

O mundo que veio depois disso não mais existe, e nem sabemos o que vai ser colocado no lugar: Putin, Trump, ditadores variados, populistas de esquerda e direita estão convertendo o planeta num lugar muito complicado. 

Por isso, acho que nem adianta ficar comentando cada nova burrice que aparece no noticiário, do Brasil e do mundo. 

Vou me retirar para minhas bibliotecas e ficar quietinho. Divirtam-se, vcs que ainda persistem. 

Boa sorte a todos…

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4/08/2025

Livro: História e historiografia das relações internacionais do Brasil: dos descobrimentos ao final do Império - Paulo Roberto de Almeida (finalizando)

Um novo livro quase terminado:

Paulo Roberto de Almeida
História e historiografia das relações internacionais do Brasil: dos Descobrimentos ao final do Império

Índice

Prefácio, 5

Introdução: cinco séculos de construção da nação
1. Relações internacionais e inserção econômica global no longo prazo, 9

        Parte I: Da Colônia à Independência
2. A diplomacia dos descobrimentos: de Colombo a Tordesilhas, 33
3. A formação econômica brasileira antes da autonomia política. 53
4. Hipólito da Costa e o nascimento do pensamento econômico brasileiro, 79
5. A revolução liberal de 1820 como precursora da independência do Brasil, 101
6. Hipólito da Costa, a censura ao Correio Braziliense e a independência do Brasil, 113
7. Um imenso Portugal? A hipótese do império luso-brasileiro no século XIX, 131
8. A diplomacia brasileira da independência: heranças e permanências, 163

        Parte II: Da Diplomacia Imperial ao Século XX
9. O reconhecimento internacional da independência do Brasil, 191
10. Os primeiros passos da diplomacia imperial, 205
11. A construção da diplomacia imperial por um de seus fundadores: Paulino, 215
12. A diplomacia da escravidão, 227
13. A diplomacia da imigração, 257
14. A diplomacia financeira, 271

     Parte III: Historiografia e história das relações internacionais do Brasil
15. A historiografia da independência: revisão bibliográfica, 309
16. A historiografia econômica do Brasil, 333
17. Uma síntese da historiografia diplomática até a primeira metade do século XX, 347
18. Uma geopolítica avant la lettre: Varnhagen e a reforma do Império, 381
19. Uma história da política externa brasileira apresentada aos militares, 421

        Anexos: cronologia e documentos históricos
20. Cronologia histórica até a independência do Brasil, 445
21. Documentos fundadores do território brasileiro, 459
    a) Tratado de Tordesilhas, 1494, 459
    b) Carta de El-Rei de Portugal D. Manuel aos Reis Católicos, 1501, 461
    c) Tratado de Madri, 1750, 463
    d) Manifesto às nações amigas, 1822, 467

Referências bibliográficas, 479


Livro: Oswald Brierly: diários de viagens ao Rio de Janeiro, 1842–1867 - Pedro da Cunha e Menezes (org.)

Oswald Brierly: diários de viagens ao Rio de Janeiro, 1842–1867

Rio de Janeiro: Estúdio Andrea Jakobsson, 2025

https://loja.jakobssonestudio.com.br/wp-content/uploads/2021/05/Oswald.jpg 

Descrição:

O Rio de Janeiro da segunda metade do século XIX, visto da Baía de Guanabara – com seus contornos e exuberante floresta – já fazia jus ao título de Cidade Maravilhosa. Oswald Brierly, um dos maiores pintores marinhistas britânicos, passou por aqui três vezes, entre 1942 e 1867, e ficou fascinado. Brierly era desenhista oficial de navios ingleses que tinham como destino a Austrália, então colônia inglesa, que se reabasteciam no Rio, um dos portos mais movimentados do mundo naquela época. Os relatos e desenhos das suas duas primeiras viagens, a bordo das embarcações Wanderer (1841) e Meander (1852) estavam esquecidos na Biblioteca Estadual de Nova Gales do Sul, na Austrália, e permaneceram inéditos, até serem descobertos por Pedro da Cunha e Menezes. Diplomata baseado em Sydney, Pedro realizou um verdadeiro trabalho de ourivesaria para decifrar, traduzir e organizar os manuscritos que compõem os dois primeiros capítulos do livro. Na terceira parte, são reproduzidos trechos do diário do cruzeiro do H.M.S. Galatea, publicado em Londres, em 1869.

“Em meados do século XIX, dava-se a corrida pela descoberta e colonização da Oceania e Ilhas do Pacífico Sul. Inglaterra e França sucediam-se no envio de expedições destinadas a inventariar a fauna e a flora, bem como a mapear e a avaliar a fertilidade dos solos, o estoque de madeira e o potencial econômico geral daqueles cantos do globo”, explica Pedro da Cunha e Menezes em sua apresentação do livro.

Brierly deu a volta ao mundo duas vezes e foi um dos artistas mais viajados de sua época. Além de conceituado desenhista e pintor, foi um bem sucedido cronista, baleeiro, etnógrafo e historiador. Apaixonado pelo mar, Briely passou grande parte de seu tempo nele, onde dormia, fazia as refeições, trabalhava e desenhava. É pelo mar que o jovem de 24 anos avista pela primeira vez o Rio em 1841. Brierly retratou os contornos da cidade e o movimento das embarcações na Baía de Guanabara, a paisagem e a natureza da Floresta da Tijuca e da Serra dos Órgãos. Em seus diários, abordou também questões diplomáticas entre Brasil e Inglaterra e o tráfico de escravos.

Na terceira e última vez que visitou a cidade, em 1867, acompanhando o Príncipe Alfred, Duque de Edimburgo, foi a bailes de gala e jantares oficiais com a presença de D. Pedro II; freqüentou o Paço da Cidade e a Quinta da Boa Vista, e tomou sorvete com a Princesa Isabel e com o Conde d’Eu no palácio que hoje abriga a sede do Governo do Estado do Rio de Janeiro, em Laranjeiras.

“Sua visão do Rio de Janeiro é marcada, tanto nos traços pictóricos quanto nos relatos, por um encantamento com a natureza maravilhosa, vista principalmente do mar em oposição a uma cidade caótica e simplória”, escreve Pedro.


domingo, 3 de agosto de 2025

Trump está vencendo? - Samuel Pessoa (FSP)

 Samuel Pessôa

Pesquisador do BTG Pactual e do FGV IBRE e doutor em economia 


Trump está vencendo? 


Republicano tem conseguido fechar acordos comerciais favoráveis a ele 

Trump tem fechado acordos em que os Estados Unidosimpõem uma tarifa de importação e a contraparte não tarifa os americanos. Foi assim com o Japão e com a União Europeia. É necessário sabermos os detalhes dos acordos, as letras miúdas, mas tudo sugere que há, sim, certa assimetria. Somente com a China parece não haver essa discrepância.

Esse desfecho não é surpreendente. Pela escala da economia americana e por ter um déficit estrutural, a perda de bem-estar resultante de uma guerra comercial é menor para os EUA.

As simulações sugerem que, em uma guerra comercial aberta —todos contra todos—, as perdas dos EUA são bem menores do que as dos demais países. Os EUA perdem em bem-estar o equivalente a 1% do consumo. A América do Sul perde 3%, e a Europa, de 7,5% a 10%. A China perde de 13% a 20%.

Os autores do estudo, publicado no volume 4 (de 2014) do Handbook of International Economics, consideram, em suas simulações, a América do Norte conjuntamente. O estudo é rico o suficiente para considerar competição imperfeita e a existência de cadeias globais de valores, além de heterogeneidade entre as empresas dentro de um mesmo país.

O ponto importante a reter é que os EUA têm um maior poder de barganha. E o está exercendo. É essa a explicação para os acordos com o Japão e a União Europeia.

O maior poder de barganha, no entanto, parece que não tem funcionado para a China. Também esperado. O poder de barganha segue da perda de bem-estar em caso de guerra tarifária aberta. Ora, perda de bem-estar é uma ameaça crível entre democracias. Não é o caso chinês. Xi não terá de enfrentar eleições nos próximos anos. Merkel já havia incorrido no mesmo erro com Putin: vínculos comerciais não moderam ditadores.

Trump também tem sido bem-sucedido em seu empenho em desvalorizar o dólar. A ver os efeitos de longo prazo que colherá. Mas em um primeiro momento ajuda na competitividade da economia, um dos seus objetivos mais importantes.

Então podemos afirmar que Trump está ganhando? Penso que não. Há sinais de que a desaceleração chegou. O crescimento da economia americana no primeiro semestre foi de 0,6%, ou 1,2% se anualizarmos a taxa. A economia antes de Trump crescia a 2,5% a 3%.

Parte da desaceleração é fruto da política monetária que finalmente parece bater na demanda. O crescimento do consumo no primeiro semestre foi de somente 1%, já considerando a taxa anualizada. Antes de Trump, rodava em média a 3%.

De qualquer forma, o choque inflacionário fruto da política tarifária, que começa a aparecer nas estatísticas —de março a junho a inflação ao consumidor acumulada em 12 meses cresceu 0,3 ponto percentual—, atrasará e reduzirá a intensidade do ciclo de queda de juros. 

Mas o mais importante é que a trumponomics, em prazos maiores, matará a força do crescimento americano das últimas décadas. A taxa de crescimento da produtividade, maior do que na Europa, deverá cair como consequência da desglobalização induzida por Trump. O ataque às universidades somente agravará a longo prazo o desempenho da produtividade americana.

Para a esquerda brasileira, parece-me que sobram duas lições. A primeira é que ninguém ganha quando o presidente da República ataca diretamente o presidente do Banco Central.

Em segundo lugar, vale lembrar todo o ruído e a campanha contra a globalização capitaneada pela esquerda nas últimas décadas. Tanto se pediu que apareceu um líder empenhado em realizar o desejo da esquerda brasileira. Não parece ser positivo para o Brasil ou para o mundo.

 

A deterioração fiscal da economia brasileira - Roberto Campos Neto (FSP)

 Roberto Campos Neto

Economista, foi presidente do Banco Central do Brasil por seis anos. É vice-chairman do Nubank e mestre em economia pela universidade UCLA 


Desafios de uma nova ordem global 

Vislumbramos uma equação insustentável: mais dívida, juros mais elevados, alta da desigualdade, maior necessidade de recursos e pouca capacidade de elevar impostos 

O mundo está em transformação. Como observador atento, ocupando uma posição privilegiada no Banco Central do Brasil ao longo dos últimos seis anos, identifiquei tendências que moldarão o equilíbrio global e que, frequentemente, escapam a debates mais aprofundados. Nos perdemos no debate de curto prazo: tarifasdólar, polarização política etc. Mas o problema é mais profundo: uma equação econômica e social insustentável. Neste artigo, mais generalista, abordo algumas dessas forças. Nos próximos, mergulharemos em mais detalhes.

Durante muito tempo, nos acostumamos à ideia de que dívida pública crescente não era um problema. O fiscal seria um tema para outras gerações. A narrativa dominante sustentava que o crescimento econômico seria estruturalmente baixo, os juros baixos por muito tempo, e a inflação, controlada.

A pandemia, no entanto, alterou drasticamente esse panorama. Assistimos à maior coordenação global de políticas fiscal e monetária já registrada, com a dívida mundial em relação ao PIB crescendo aproximadamente 15 p.p. (pontos percentuais). Desde 2019, a dívida das economias emergentes cresceu 20 p.p.. A inflação global, por sua vez, disparou e, na maioria dos países, não apresenta sinais de retorno aos níveis pré-pandêmicos. Essa percepção é reforçada quando se analisa as taxas de juros de longo prazo.

Aproximadamente 65% da dívida soberana global —concentrada em Japão, Estados Unidos e Europa— enfrenta hoje custos de rolagem muito maiores, devido ao aumento combinado do estoque de dívida e das taxas de juros. Esse movimento drena recursos de outras partes do mundo, especialmente de economias emergentes e pobres.

Embora tenhamos sido eficazes na coordenação de esforços fiscais e monetários durante a pandemia, a retirada dessas medidas revelou-se muito menos eficiente. Os programas de transferência de renda, por exemplo, aumentaram globalmente entre 1,5 e 2 p.p. do PIB durante a crise, e permanecem com volumes muito superiores aos níveis pré-pandêmicos. Recordo uma discussão entre banqueiros centrais numa tarde fria no FMI, onde se debateu que esses programas deveriam seguir a "regra dos 3 Ts": deveriam ser temporários, direcionados (targeted) e sob medida (tailored). Hoje, é evidente que a maioria desses princípios foi negligenciada.

Diante de tudo isso, o fiscal se tornou um tema premente. Virtualmente, todos os países apresentam atualmente déficits em suas contas públicas. Segundo o FMI, o grupo das economias avançadas apresenta uma média de déficit primário de 2% do PIB, enquanto as economias emergentes, de 3,8%. Gastos discricionários em diversos países, incluindo o Brasil, encontram-se severamente pressionados em orçamentos cada vez mais restritivos.

Diante da dificuldade de muitos países em equilibrar suas contas públicas, ajustes fiscais têm sido propostos e implementados, mas, na maioria dos casos, os ajustes priorizaram o aumento da receita em detrimento da contenção de despesas. Mais preocupante ainda, grande parte dos novos tributos incide sobre estoques de riqueza ou sobre empresas, sobrecarregando o capital e comprometendo a produtividade de longo prazo.

Outro fator crítico é o envelhecimento populacional, que pressiona os orçamentos de seguridade social, reduz a produtividade e afeta diversas áreas da economia. Projeções para os próximos 15 anos indicam que quase todo o crescimento populacional estará concentrado em nações mais pobres, enquanto a maioria dos países desenvolvidos enfrentará declínio populacional.

A esse cenário, soma-se a crescente instabilidade geopolítica, com impactos diretos nas cadeias globais de suprimento e nos gastos militares. Além disso, a transição energética, essencial para o futuro, enfrenta dificuldades para sair do papel. Todos esses elementos demandam enormes recursos.

Assim, vislumbramos um futuro com mais dívida, juros mais elevados, aumento da desigualdade, e maior necessidade de recursos para maiores despesas com defesa, investimentos robustos na transição energética, custos elevados para reestruturar cadeias de suprimento e encargos sociais crescentes devido ao envelhecimento populacional. A previsão do FMI é que a dívida global, que representava 84% do PIB em 2019, alcance 100% em 2030.

Essa equação é, claramente, insustentável. E o modelo atual começa a ser questionado. Teremos uma nova ordem global? As preocupações recentes com a trajetória da dívida pública nos Estados Unidos e as tensões observadas nas curvas de juros de longo prazo em alguns países levantam sérias indagações. Entre elas, destacam-se: o impacto do chamado "trumpenomics" no cenário global; a crescente vulnerabilidade dos países mais pobres e o agravamento da desigualdade; a necessidade de reinventar o modelo econômico europeu; os desafios da trajetória de dívida no Japão, com juros longos mais altos; e as implicações do crescente domínio da China em mercados estratégicos.

Como vemos, há mais perguntas do que respostas. Uma certeza, porém, emerge: o debate fiscal ganhará centralidade, e o modelo de Estado assistencialista em seu formato extremo terá que ser repensado. Será necessário equilibrar as demandas sociais com equilíbrio fiscal. Sem uma estratégia para equilibrar a dívida global e promover políticas que expandam a oferta e elevem a produtividade, caminhamos para uma crise global de dívida.

recente orçamento aprovado nos Estados Unidos, longe de ser motivo de celebração, marca o primeiro capítulo dessa narrativa. Para as economias emergentes, como o Brasil, é imperativo adotar políticas de ajuste fiscal e preparar-se para um ambiente mais volátil. Qualquer semelhança com a realidade brasileira não é mera coincidência.

 

Retornando 28 anos atrás - Paulo Roberto de Almeida

Retornando 28 anos atrás

Pouco tempo depois do acordo RPC-UK, em 1997, de devolução da colônia inglesa de Hong Kong à soberania continental, com a promessa de manutenção de um regime especial de liberdades democráticas na ilha durante meio século, eu escrevi um artigo sobre esse acordo, sem ter ainda conhecido HK, mas finalizando ao expressar meu desejo ou esperança de que em 2047 a China Continental, ou seja a RPC, fosse bem mais parecida com a HK daqueles anos últimos do século XX, do que esta com aquela.

Em 2010, Carmen Lícia Palazzo e eu visitamos finalmente HK e cobstatamos, realmente o clima de liberdades predominantes na ilha ex-inglesa: os hongkonguianos não queria ser chineses e os produtos mais vendidos na ilha, naquele momento, ou melhor, os produtos mais comprados pelos visitantes chineses da RPC (total liberdade para visitar a ilha, menos Taiwuan) eram, pela ordem, leite em pó para bebês (tinha havido uma série de mortes de bebês por leite irregular) e livros banidos ou proibidos na RPC (em especial sobre a história da China e sobre o regime “comunista”. Isso em 2010.

Em 2021 tudo isso acabou e a repressão orwelliana se abateu sobre a ilha e seus cidadãos.

Preciso retificar meu artigo dos anos 1990: em 2047, HK será muito mais parecida com a China atual do que esta com aquela. Aliás já é!

Uma tristeza: muito jornalista preso, censura total na impeensa, nas escolas e universidades, enfim o universo orwelliano já conhecido. 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 3/08/2025

sábado, 2 de agosto de 2025

Stephen Kotkin and Dan Wang about the craft of History - Hoover Institution

Historian of Russia, geopolitics, and authoritarian regimes Stephen Kotkin joins Dan Wang to discuss the craft of history, the risks of misusing it, and how serious scholarship can engage the wider public, inform policymaking, and help cultivate the next generation of historians.

https://www.youtube.com/watch?v=myi0FWQs0nY

Today's conversation is brought to you by the Hoover History Lab. Learn more about the lab's work: https://www.hoover.org...

ABOUT THE HOOVER HISTORY LAB

The Hoover History Lab is not a traditional academic department but instead functions as a hub for research, teaching, and convening—in person and online, in the classroom and in print. The Lab studies and uses history to inform public policy, develops next-generation scholars, and reinforces the work of Hoover’s world-class historians to inform scholarship and the teaching of history at Stanford and beyond.

__________

The opinions expressed in this video are those of the authors and do not necessarily reflect the opinions of the Hoover Institution or Stanford University. 

© 2025 by the Board of Trustees of Leland Stanford Junior University.

🔔 Subscribe for more discussions: ‪@HooverInstitution‬ 



Nova visita à Coleção PRA na Biblioteca do Itamaraty: expandindo gradualmente...


Nova visita à Coleção PRA na Biblioteca do Itamaraty: expandindo gradualmente...

Nesta sexta-feira, visitando novamente a Biblioteca do Itamaraty para devolver e emprestar novos livros, aproveitei para verificar a incorporação à Coleção PRA da mais recente doação (várias dezenas de livros anteriormente em minha kit-biblioteca ou em meu apartamento) que já foram colocadas nas estantes, na ordem própria segundo os códigos do catálogo.
Fiz algumas novas fotos...





sexta-feira, 1 de agosto de 2025

Book: Gilmar Masiero: Brazilian Socio-Economic: Dynamics Contexts and Contemporary Realities (Springer)

Um recente livro do grande estudioso Gilmar Masiero:

Brazilian Socio-Economic Dynamics

Contexts and Contemporary Realities

  • Book
  • © 2025

https://link.springer.com/book/10.1007/978-3-031-87685-1

Overview

  • Presents original research on Brazil's structural problems and how to manage them
  • Explores Brazilian dynamics from both a socio-economic and a business management perspective
  • Includes contemporary research on recent events, such as the Covid-19 pandemic and climatic challenges.

Part of the book series: Contributions to Economics (CE)

About this book

This book presents a detailed study of Brazil's structural problems and offers suggestions  for managing them. It is organized  into two parts. The first part provides a foundation in Brazilian socio-economic dynamics, discussing regional diversity, economic inequalities, access to education, and global commodity supplies from the country's agribusiness. The second part describes contemporary realities in the business and management sector, such as entrepreneurship, small businesses, and incubators, the country's financial system, its international presence, and its present and future challenges. The need for academic literature to support discussions on Brazilian issues is also addressed. The original research presented here may be helpful as a supplementary text in instructional settings.


Table of contents (6 chapters)

  1. Brazilian Socio-economic Dynamics

  2. Brazilian Contemporary Realities





O Direito e a Força - Sérgio Moreira Lima (O Estado de S. Paulo)

O Direito e a Força
Sérgio Moreira Lima*
O Estado de S. Paulo, 1/08/2025

        As decisões anunciadas pelo Presidente Trump representam atentado injustificado e sem precedentes contra o Brasil, que construiu um legado de paz e segurança nas Américas com diálogo e cooperação. Reconhecido por sua contribuição ao multilateralismo e a ordem internacional baseada em normas, o Brasil não merece a sanção. Ela agride o Estado, o direito, a democracia e a amizade entre os povos das Américas. A maior ironia é que ela se dirige a um parceiro com o qual os EUA compartilharam momentos decisivos da História e que tem contribuído para o progresso e a estabilidade na região.
        Os EUA foram o primeiro a reconhecer, em 1824, a independência do Brasil. A decisão revestiu-se de simbolismo: a chamada doutrina Monroe foi anunciada em 1823. E já, em agosto de 1822, D. Pedro, príncipe regente, e José Bonifácio, Ministro do Reino e chanceler, enviaram carta a Monroe com vistas ao estabelecimento de relações diplomáticas. Apesar do legado ambíguo de proteção e ingerência do monroísmo, o Patriarca da Independência inaugurou relação de confiança mútua com os EUA.
        Na II Conferência de Paz da Haia (1907), o Brasil resgatou o princípio da igualdade soberana dos Estados, que, mais tarde, serviu de pilar para criação da ONU. Ao negociar com dez países vizinhos as fronteiras, o Brasil, de Rio Branco, erigiu, no início do século XX, no Hemisfério Ocidental, um marco ao Direito Internacional, que responde pela ausência de conflitos bélicos entre os países sul-americanos.
    A Aliança não escrita com os EUA contribuiu para esse processo. Historicamente, o Brasil logrou permear o unilateralismo de Monroe com princípios e valores que ajudaram a moldar o Pan-americanismo. Foi o único país da América Latina beligerante nas duas Guerras Mundiais. O encontro de Roosevelt com Vargas em Natal, em 1943, estabeleceu uma aliança que fez a diferença em termos logísticos e estratégicos. A participação do Brasil contribuiu para o equacionamento de fase crucial do conflito. Roosevelt via com simpatia a ideia de inclusão do Brasil no Conselho de Segurança da ONU, mas faleceu. Como arquiteto do multilateralismo econômico, os EUA contaram ainda com o Brasil na criação do GATT/OMC, que ajudou a substituir a lógica da guerra pela ordem internacional baseada em regras, como fator de cooperação e prosperidade.
        Em sua inusitada carta, Trump já havia feito tábula rasa de mais de dois séculos de relação bilateral que influiu nos princípios consagrados nos sistemas da ONU, da OEA e da OMC. A nota de resposta emitida pelo Presidente do Brasil revelou correção, objetividade e temperança. A atitude de Trump não é aquela que se espera de um dirigente dos EUA. Seus aspectos políticos ferem o Direito Internacional de maneira inaceitável. A própria guerra de tarifas revela protecionismo sem precedente em sua escala. Põe em risco o que levou séculos para construir: o multilateralismo, a ordem internacional e a arquitetura da governança.
        Intimidar parceiros e aliados compromete o livre comércio, que tantos benefícios trouxe à economia americana. Ele é parte de uma liberdade mais ampla que inspira a humanidade no curso da História. Uma das bases do sistema multilateral de comércio é o princípio da nação mais favorecida (NMF). Todo membro da OMC deve tratar de forma igual os demais. Trump repudia a cláusula NMF e abre a porta para um comércio de relações seletivas, baseado em preferências unilaterais. Se todos seguirem esse caminho, o comércio baseado em regras desaparecerá com prejuízo geral, especialmente para os países mais vulneráveis. Aplicar tarifas retaliatórias aumenta a probabilidade de guerra comercial global.
        O bem mais importante nas relações internacionais é a confiança mútua. Um ganho material imediato pode representar perda futura incomensurável. A liderança exercida pelos EUA no século XX foi fundada em princípios e valores que motivaram as demais nações. Luta pela liberdade, autodeterminação dos povos, descolonização, direitos humanos, democracia foram bandeiras que mobilizaram e firmaram a ideia de Ocidente. É preciso não esquecer o resultado trágico na Europa da supremacia e da lógica do conflito. Durante duas décadas, o Brasil viveu sob regime militar que violou direitos e liberdades fundamentais. A Constituição de 1988 é marco na identidade do povo brasileiro. Consagra o equilíbrio entre os poderes do Estado, o mecanismo de freios e contrapesos para evitar abuso de autoridade.
        Tarifas de 50% sobre produtos exportados pelo Brasil, a partir de 6 de agosto, inviabilizam o comércio. Trata-se de ato de protecionismo que compromete o Direito e a parceria entre os dois países. O anúncio anterior já determinara a suspensão de encomendas e enorme prejuízo a brasileiros e americanos. Dado o tempo exíguo, as circunstâncias inesperadas, e os danos imediatos às partes, o rumo mais sensato é estender o prazo e aprofundar o diálogo para a solução da disputa. As tarifas elevam inflação e desemprego e reduzem renda. Para cada dólar exportado pelo Brasil, a indústria dos EUA gera 43 dólares. Diálogo e bom senso devem prevalecer para honrar a histórica amizade entre os dois povos, que tanto fazem para o progresso das Américas.

*Embaixador de carreira, serviu na Missão junto à ONU em Nova York e nas Embaixadas em Washington, Londres, Tel Aviv e Camberra. Atualmente é advogado e Presidente do Conselho da Sociedade Brasileira de Direito Internacional.


Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...