Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012
Brazil and Cuba - The Wall Street Journal
Sobre a Revolucao Industrial - Ludwig Von Mises
Um texto impecável, e desmistificador.
Paulo Roberto de Almeida
Fatos e mitos sobre a "Revolução Industrial"
quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012
Para nao dizer que nao falei de dores... (sim, as dores da entrevista...)
Se eles apenas falassem de negócios, comércio, tudo seria mais fácil, mas eles logo vêm com essas coisas incômodas.
Será que eles não percebem que isso constrange nossos anfitriões?
Enfim, vamos lá:
Entrevista coletiva concedida pela Presidenta da República, Dilma Rousseff, após visita ao Memorial José Martí
Havana-Cuba, 31 de janeiro de 2012
Jornalista: Bom dia, Presidente. Bom dia.
Presidenta: Vamos fazer assim: um quebra-queixo, pode ser levinho? Então, um quebra-queixo levinho.
Jornalista: Presidente.
Presidenta: Calma, três perguntas, quebra-queixo levinho, não é? Levinho.
Jornalista: Levinho. Então, vamos começar falando dos Direitos Humanos.
Presidenta: Nós vamos começar a falar de Direitos Humanos em todo o mundo?
Jornalista: Vamos, vamos.
Presidenta: De todo o mundo?
Jornalista: Não, não, é só para a gente...
Presidenta: Pois é. Nós começaremos a falar de Direitos Humanos no Brasil...
Jornalista: Como o Brasil (incompreensível) essa abertura econômica?
Presidenta: No Brasil. Nós vamos começar a falar de Direitos Humanos nos Estados Unidos, a respeito de uma base, aqui, chamada Guantánamo. Vamos falar de Direitos Humanos em todos os lugares.
Então, eu prefiro falar de outra coisa, eu prefiro falar de uma coisa que é muito importante, que é o fato de que o mundo precisa se comprometer em geral. E não é possível fazer da política de Direitos Humanos só uma arma de combate político-ideológico. O mundo precisa se convencer de que é algo que todos os países do mundo tem de se responsabilizar, inclusive o nosso. Quem atira a primeira pedra tem telhado de vidro. Nós, no Brasil, temos os nossos.
Então, eu concordo em falar de Direitos Humanos dentro de uma perspectiva multilateral. Acho que esse é um compromisso de todos os povos civilizados. Há, necessariamente, muitos aspectos a serem considerados.
Agora, de fato, é algo que nós temos de melhorar no mundo, de uma maneira geral. Nós não podemos achar que Direitos Humanos é uma pedra que você joga só de um lado para o outro. Ela serve para nós também. Bom...
Jornalista: (incompreensível)
Jornalista: A senhora vai interceder a favor da blogueira Yoani Sanchéz (incompreensível) do Brasil?
Presidenta: Olha, eu dei, o Brasil deu seu visto para a blogueira. Agora, os demais passos não são da competência do governo brasileiro.
Jornalista: Presidenta (incompreensível)
Presidenta: Calma, calma, calma. Como o Brasil pode ajudar Cuba? Vamos discutir como o Brasil pode ajudar Cuba. A grande ajuda que o Brasil vai dar a Cuba é contribuir para que esse processo, que é um processo que eu não considero que leve a grande coisa, leva mais à pobreza e a problemas sério para as populações que sofrem a questão do bloqueio, a questão do embargo, a questão do impedimento do comércio. Eu sou a favor e o Brasil é a favor e, por isso, eu acho que é um compromisso de todos nós, brasileiros, que somos um povo pacífico. Eu acredito que a grande contribuição que nós podemos dar, aqui em Cuba, é ajudar a desenvolver todo o processo econômico.
Primeiro, o Brasil, hoje, participa, aqui em Cuba, de várias iniciativas que eu considero importantes: a primeira, que é uma política de alimentos. É impossível se considerar que é correto o bloqueio de alimentos para um povo. Então, nós participamos aqui, financiando, através de um crédito rotativo, US$ 400 milhões de compra de alimentos no Brasil. Financiamos, também, através... aprovamos esse financiamento através do Programa Mais Alimentos, que aí é de equipamentos, máquinas, pequenos tratores, colheitadeiras para estimular aqui a própria produção de alimentos, aqui em Cuba, através de 200 milhões de crédito, sendo que 70 milhões a Camex aprovou recentemente.
E acho que também uma grande contribuição na construção do Porto de Mariel, que não é só um porto. O Porto de Mariel, ele é, de fato, um sistema logístico de exportação de bens produzidos aqui em Cuba, no valor de... o Porto de Mariel, no total, tem um pouco mais de US$ 900 milhões, dos quais nós contribuímos com algo como 640 e poucos milhões de dólares também. Por que nós achamos importante participar do Porto de Mariel? Porque nós achamos que é fundamental que se crie, aqui, condições de sustentabilidade para o desenvolvimento do povo cubano.
E nós participamos, não só construindo o Porto, mas também trazendo para cá uma cooperação que eu considero estratégica para o Brasil e para Cuba. É o tipo da cooperação em que todo mundo ganha. Quem ganha? Ganha o Brasil, por fazer uma cooperação com um país e um povo e toda uma estrutura institucional que é visivelmente competente, capaz na área de biotecnologia, na área das ciências médicas e com uma grande competência para todas as questões ligadas à biotecnologia. Então, o Brasil ganha com isso. Ganha Cuba também porque é uma parceria em que o Brasil entra também com os seus conhecimentos nessa área, suas empresas privadas, que também implicam em uma capacidade tecnológica do nosso país, e nós queremos uma parceria estratégica e duradoura. Nós estamos fazendo aqui uma parceria com essas... através desses projetos, que eu acredito que vai levar, para o Brasil e para Cuba, um processo de desenvolvimento.
Então, acredito que é isso o que nós estamos fazendo isso aqui no Brasil... em Cuba... que o Brasil está fazendo aqui em Cuba.
Jornalista: Presidenta...
Presidenta: É essa a contribuição.
Jornalista: A senhora começou o ano indo ao Fórum Social e agora vem a Cuba. São gestos políticos mais à esquerda. Por que a senhora fez isso aqui?
Presidenta: Olha, eu acho o seguinte. Eu acho interessante a forma como a mídia analisa meus atos. Posso te dizer uma coisa? Eu fico estarrecida com esse tipo de pergunta, estarrecida, porque significa que no ano passado eu fui à União Europeia, recebi os Estados Unidos, depois onde mais que eu fui? Bom, eu andei para danar. Fui ao G-20, fui para a Argentina, e como é que a gente interpretaria o ano passado? O Brasil faz política internacional com todos os países. Nós somos um povo absolutamente pacífico, acreditamos no diálogo e achamos que é fundamental também dialogar com os movimentos sociais. Não acredito, nem para nós, internamente, que as práticas violentas de tratamento dos movimentos sociais se justificam. Nem tampouco nós acreditamos que a guerra, e o conflito, e o confronto levem a grandes resultados. Nós temos uma política, claramente, de conversa com todo o mundo sem nenhum preconceito, de nenhuma ordem. Agora, somos contra a violência, e isso tem sido a característica, e eu acho que não é só do meu governo, não é só do governo do presidente Lula. Acho que é uma certa característica do Brasil ter 140 anos – e nós temos que ter orgulho disso – de paz com todos os nossos vizinhos no mundo, com conflitos regionais sistemáticos. Então, eu tenho imenso orgulho, primeiro, de estar aqui em Cuba; segundo, de ter ido ao Fórum Social Mundial; terceiro, de ter ido ao G-20, no ano passado, de ter conversado com o Presidente dos Estados Unidos, com o presidente Hu Jintao, com o presidente Medvedev, com o presidente [primeiro-ministro] Singh, ter ido na África do Sul e conversado com todos os líderes. É minha obrigação, como Presidente, estabelecer uma posição do Brasil que, além de manifestar o crescente poder econômico que o Brasil tem tido e reconhecido internacionalmente, também mostra essa disposição do Brasil de diálogo, de parcerias construtivas e de parcerias pacíficas.
Aqui em Cuba, nós queremos uma grande parceria com o governo cubano e o povo cubano, no sentido de auxiliar todos os processos de desenvolvimento e de garantia de uma condição de desenvolvimento e de vida melhor. Esta é uma região na qual nós estamos presentes, não é? Nós atuamos na América Latina toda, no Caribe e na América Central. É a nossa região aqui e, inclusive, nós temos mais obrigação do que nas outras regiões. É aqui e na África, eu acho, que o Brasil tem obrigação de ter uma política descente de cooperação econômica. Não uma política que só olhe o seu interesse, mas seja capaz de construir, com o seu interesse, o interesse do outro povo. Eu acho que essa é a novidade da nossa presença internacional.
Jornalista: (incompreensível) la Celac? La Celac, Presidenta?
Presidenta: La Celac, la Celac. A Celac foi uma reunião... Aliás, muito bem lembrado. Uma outra reunião, assim, interessante, foi a da Celac, foi toda essa América que é a partir do México até a Patagônia argentina, estavam todos os presidentes, primeiros-ministros ou altos representantes nessa reunião, que eu acho que foi no final do ano. Muitas vezes, a imprensa não deu, assim, tanta importância, mas para mim foi uma das mais importantes feitas aqui na região, naquele período.
Jornalista: Presidente, como é que fica a situação do ministro Negromonte agora?
Presidenta: Olha, as questões relativas ao Brasil - eu já disse isso para vocês anteriormente – vocês são insistentes, eu sei.
Jornalista: Ai da gente se não perguntar, não é?
Presidenta:... insistentes, inteligentes e rápidos, rápidos. Então, as questões relativas ao Brasil nós discutimos no Brasil, a partir de quinta-feira.
Jornalista: (incompreensível) aumentar o investimento e a (incompreensível)
Jornalista: A senhora vai encontrar com o Fidel Castro?
Presidenta: Sim, com muito orgulho, eu vou.
Jornalista: (incompreensível)
Jornalista: Obrigada.
Guantanamera... Yo soy un hombre sincero...
Homens sinceros, e corajosos, só tem uma palavra, e nunca se dobram à conveniência e à acomodação com quem ocupa (temporariamente, se espera) o poder.
Quem o ocupa, pode ordenar muita coisa e, claro, espera contar com a obediência dos passivos.
Mas não pode contar, pelo menos não em todos os casos, com que os homens de Guantanamo -- os da canção e mesmo os atuais ocupantes -- pensem exatamente como pensa o poder. Isso nenhum poder superior consegue assegurar, mesmo sob ameaça de fuzilamento, ainda que virtual.
Homens sinceros conservam autonomia de pensamento, mesmo em condições adversas.
Nunca se deve esperar hipocrisia de quem não depende de favores ou de concessões.
Acho que fui claro...
Paulo Roberto de Almeida
“A história mostra que as sociedades são mais harmônicas, as nações são mais bem-sucedidas, e o mundo é mais justo quando os direitos e as responsabilidades de todos os países e todos os povos são cumpridos, incluindo os direitos de cada ser humano. Os EUA vêem os direitos humanos como um valor universal, até mesmo para a China”.
Não parou aí. Defendeu o diálogo do governo daquele país com o Dalai Lama, líder religioso do Tibete. Obrigou Jintao a sair do silêncio: “A China fez um enorme progresso na área de direitos humanos. Reconhecemos e respeitamos a universalidade dos direitos humanos. Ainda há muito o que fazer em matéria de direitos humanos. Mas devemos ter em conta as diferenças e o princípio da não intervenção”.
A fala de Dilma que foi divulgada pelo jornalismo online não fazia jus à delinqüência da política externa por ela vocalizada, que segue sendo a de Celso Amorim — só mudou o gerente da padaria, mas o serviço continua péssimo. Vamos ver.
“Nós vamos falar de direitos humanos em todo o mundo? Vamos ter de falar de direitos humanos no Brasil, nos EUA, a respeito de uma base aqui que se chama Guantánamo”.
É evidente que o Brasil não pode impor a sua pauta a países com os quais mantém relações. Não é isso o que se está a cobrar do Itamaraty ou de Dilma Rousseff. Nem mesmo se esperava que a presidente censurasse Cuba. O que se está a pedir é bem menos do que isso: só uma defesa enfática, clara, insofismável e sem ressalvas dos direitos humanos, como Carter fez ao regime militar brasileiro em 1978 e como Obama fez à China no ano passado.
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Um governo impoluto (de toda honestidade)...
Deve ser em algum canto do planeta, pois as notícias que aqui chegam -- agora só por internet -- são as piores possíveis.
Eu vou continuar dando trabalho aos AAs -- Adesistas Anônimos -- os tradicionais patrulheiros de plantão, mercenários a soldo e outros comprados (ou convertidos, também existe, embora mais por ingenuidade ou limitações intrínsecas, do que propriamente de modo sincero), enfim todos aqueles que gostariam de ver o pensamento único (o deles, claro) na internet e nos veículos de comunicação, pois vou continuar publicando matérias tão singelas quanto estas, um simples comentário sobre como são e como ocorrem as coisas em determinados setores do público espaço, se ouso dizer...
Os AAs ficam furibundos -- e tentam responder mandando matérias requentadas sobre a corrupção alheia -- mas eles também concordariam comigo: nunca antes na história deste país, tantos casos exemplares vieram a tona, para maior desconforto de todos, os que são assim expostos à opinião pública, que toma conhecimento de suas bandalheiras e patifarias, e nós, os que pagamos por tudo isso, e que vemos nosso dinheiro se esvair nos bolsos, cofres e contas de verdadeiros larápios da democracia.
Um companheiro sincero podia até se perguntar (entre eles, claro): "Companheiros, como é que fomos decair para essa roubalheira generalizada, essa corrupção sistêmica, essas patifarias recorrentes, essas fraudes renitentes, essa falta de vergonha que nos faz esquecer antigos slogans de governo ético e descambar para a moral dos mafiosos, das quadrilhas organizadas?"
Pois é, companheiros, eu também pergunto, e na verdade, sinto vergonha pelo meu país, ao ter de reconhecer que, sim, somos campeões -- não em corrupção, pois existem concorrentes mais sérios em liça -- mas na impunidade e na falta de vergonha...
Durmam com esse silêncio arrasador, se puderem AAs, eu vou continuar atento...
Paulo Roberto de Almeida