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quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Bolivar Lamounier: a (nao)reforma do sistema politico brasileiro - Bolivar Lamounier, Paulo Roberto de Almeida

Em 2005, eu fazia uma resenha deste livro de Bolívar Lamounier, abaixo transcrita:
1482. “Tudo o que você sempre quis saber sobre a política brasileira...”, Brasília, 14 out. 2005, 2 p. Resenha de Bolivar Lamounier: Da Independência a Lula: dois séculos de política brasileira (São Paulo: Augurium Editora, 2005, 320 p.).  
 

Não creio que a situação tenha melhorado desde então, ao contrário, só piorou nestes 12 anos desde que o livro foi publicado e eu fiz essa resenha. O sistema se tornou mais fragmentado, mais corrupto, mais bandidos de colarinho branco ainda escapam de uma justa punição, aliás com a colaboração ativa de membros dos cortes inferiores (ops) que teimam em não julgar os maiores bandidos da política brasileira.
Temos alguma réstia de esperança?
Não creio, pelo menos não imediatamente. Mas teimamos em resistir e continuamos na nossa ação para limpar o sistema político. Eu pelo menos faço o meu dever de denunciar, de acusar, de informar, de refletir, e não hesito em assinar embaixo do que escrevo.
Bom 2018 a todos.
Paulo Roberto de Almeida 
Brasília, 21 de dezembro de 2017



Tudo o que você sempre quis saber sobre a política brasileira...

Bolivar Lamounier:
Da Independência a Lula: dois séculos de política brasileira
São Paulo: Augurium Editora, 2005, 320 p.; R$ 49,00

Paulo Roberto de Almeida
14/10/2005

            ...e nunca teve a quem perguntar. Agora já tem: é o novo “Lamounier”, cobrindo desta vez (quase) dois séculos de história política. Mas atenção: o livro não é para principiantes, nem do lado teórico, nem do lado prático, isto é, dos que são chamados a nos representar no parlamento e no executivo. Estes, como evidenciado nos casos de “fundos não contabilizados”, acabam construindo um universo à parte dos que pagam impostos, que vêem os recursos auferidos serem dilapidados pelos poucos que, segundo a descrição apta de Milton Friedman, “são pagos para gastar o dinheiro dos outros”.
            Não se trata de uma simples “introdução” à história política brasileira, uma vez que o livro exige dos leitores um conhecimento mínimo dessa história, ao mesmo tempo em que certa familiaridade com conceitos centrais da ciência política. Tampouco se trata de um “manual” para a reforma política e eleitoral à intenção dos que nos governam, pois eles dificilmente se deixariam guiar por critérios de racionalidade estrita do sistema partidário e representativo, preferindo cuidar dos seus interesses, acima de quaisquer considerações éticas. Como diz o autor na introdução: “O crafting institucional da democracia brasileira ostenta resultados contraditórios: organizamos bem a esfera eleitoral e criamos uma ética para o voto, mas não organizamos nem criamos uma ética para a esfera dos partidos e do parlamento”. Difícil, assim, que os governantes sigam as recomendações da terceira parte, relativa, justamente, à reforma política, para introduzir um sistema de governo, uma organização partidária e um sistema eleitoral que correspondam às necessidades da nação, contra seus próprios interesses, enquanto classe organizada para o assalto (é o caso de se dizer) e a manutenção do poder.
            As duas primeiras partes, em todo caso, constituem a mais completa análise de que se tem notícia na literatura sobre a evolução da política brasileira, não apenas pelo lado dos “episódios” políticos, mas também pelo lado da teorização sobre os regimes políticos, os sistemas partidários, as relações civil-militares e as “lições” de cada período. Um quadro analítico resume a evolução do sistema político de 1822 a 2005: cada um dos regimes – Império, Primeira República, Revolução de 1930, Estado Novo, República de 1946 e o regime militar – terminou em grave conflito político, geralmente sob a forma de golpes militares, com o apoio das classes médias. O regime militar, na verdade, se esvaiu numa “prolongada peleja política e eleitoral”, ao cabo da qual as oposições coligadas viabilizaram o retorno ao governo civil. O novo regime democrático, obviamente, ainda não acabou, mas se supõe que seu destino seja menos dramático do que a meia dúzia de sistemas político-partidários que o precederam.
            Lamounier examina a historiografia convencional – propondo sua revisão – e a literatura de cada época. Duas formas de reducionismo político são identificadas no protofascismo (“mescla de positivismo, nacionalismo e endeusamento do Estado”) e no marxismo (“sobretudo na versão stalinista da Terceira Internacional”), intrinsecamente antiliberais e antiparlamentares, ambos avessos à consideração do sistema político enquanto esfera autônoma. A análise se estende ainda à construção e funcionamento dos sistemas partidários e representativos, sendo evidentes o crescimento paulatino do corpo eleitoral, a ampliação do sufrágio e a fragmentação gradual do sistema partidário.
Um texto de Hegel sobre a Inglaterra de 1830 é ironicamente recrutado para explicar o que é um “curral eleitoral”, prática aliás bem viva no Brasil moderno, a julgar pela formação de um exército contemporâneo de assistidos por “mensalinhos” oficiais. A despeito disso, a competição aumentou, mas nem sempre foi assim: Rodrigues Alves (1918) e Washington Luís (1926), por exemplo, conquistaram a suprema magistratura com maiorias “albanesas” superiores a 98% dos votos válidos, ainda que com cerca de 2% de votantes sobre a população total (hoje a proporção de eleitores é superior a 60%). “Lula lá”, em 2002, foi “a batalha que não houve”: a manutenção do sistema político de maiorias frágeis mostra a amplitude das reformas políticas que precisam ser feitas para tornar o Brasil mais conforme à estabilidade já conquistada no terreno econômico. A julgar pelo “presidencialismo de mensalão”, ainda estamos longe do ideal...

Paulo Roberto de Almeida
[Brasília, 14 outubro 2005]

20. “Tudo o que você sempre quis saber sobre a política brasileira...”, Brasília, 14 outubro 2005, 2 p. Resenha de Bolivar Lamounier: Da Independência a Lula: dois séculos de política brasileira (São Paulo: Augurium Editora, 2005, 320 p.). Publicada em Desafios do Desenvolvimento (Brasília: IPEA-PNUD, ano 2, nº 16, novembro 2005, p. 60; link: http://www.ipea.gov.br/desafios/index.php?option=com_content&view=article&id=1791:catid=28&Itemid=23). Divulgado no blog Diplomatizzando (01/02/2012; link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2012/01/politica-brasileira-por-um-especialista.html). Relação de Trabalhos nº 1482. Relação de Publicados nº 604.


quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Trump reduz tributos nos EUA: preparando a nova fase de crescimento

Vamos ser claros: eu acho o Trump um idiota completo, definitivo e radical, um cretino fundamental, de todos os pontos de vista. O que não me impede de fazer uma análise objetiva de certas medidas tomadas pelo seu governo. No geral, ele tem sido desastroso, para o seu próprio país e seus próprios eleitores, ao restringir o comércio, ao retirar os EUA da globalização, ao pretender restringir a imigração, que é sempre fonte de ganhos e criação de riqueza.
A redução de tributos, por exemplo, se protege ou não os mais ricos, é sempre positiva. Quanto menos dinheiro for para o Estado, creio que é melhor, a menos que se creia que os Estados fazem bem aos mais pobres ao reter dinheiro dos cidadãos para supostamente beneficiar os mais pobres.
Competição entre países para reduzir tributos é excelente para todos, em quaisquer circunstâncias.
O Cato Institute está comemorando a reforma, que ele recomenda desde muitos anos, como refletido neste livro livremente disponível.

Global Tax Revolution:
The Rise of Tax Competition and the Battle to Defend It

Global Tax RevolutionNearly 10 years ago, the Cato Institute published Global Tax Revolution — laying out a comprehensive strategy for tax changes that would fuel American competitiveness, growth, and success in the world’s marketplace.
With the passage of the largest federal tax overhaul in decades, much of what the book energetically set forth has now come to pass. While the new tax legislation may have flaws, at its center are key corporate reforms that have been long overdue. Global Tax Revolution — detailing how to energize the U.S. economy by embracing competition and overhauling the federal tax code…..on tax changes, now becoming realties, that can significantly help business and workers succeed in the global economy — underscores the effort and impact of Cato’s decades-long work to educate policymakers and the public on tax reform and economic growth.
In addition to reading/downloading Global Tax Revolution we also invite you to also explore the wealth of other resources Cato has created on this vital subject.
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Leiam...

Um "debate" involuntario com Olavo de Carvalho: materiais disponiveis - Paulo Roberto de Almeida

Micro-introdução: no mês passado fui contatado pelo pessoal do Brasil Paralelo, uma iniciativa alternativa à hegemonia cultural do gramscismo vulgar, comum em nossas universidades, para conceder uma nova entrevista sobre temas internacionais, depois que minha entrevista concedida no ano passado foi considerada boa.
Essa entrevista de 2016 pode ser vista por este registro: 
3047. “A política externa paralela do lulopetismo diplomático”, Brasília, 14 outubro 2016, gravação de entrevista, em vídeo, para servir como depoimento no quadro do Brasil Paralel;  disponível no canal pessoal: https://www.youtube.com/user/paulomre, neste link: https://youtu.be/fWZXaIz8MUc). 
Concordei com a nova entrevista e solicitei um roteiro, para guiar meus argumentos, ele me foi fornecido, e com base nele preparei as notas seguintes: 
3202. “Globalismo e globalização: os bastidores do mundo”, Brasília, 7 dezembro 2017, 8 p. Notas preparadas para entrevista via hangout, para um programa da série Brasil Paralelo. Blog Diplomatizzando (link: http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/12/globalizacao-e-globalismo-como.html).  
Não tinha a informação de que a gravação do Brasil Paralelo seria feita em "paralelo" com Olavo Carvalho, de que só vim a tomar conhecimento no momento mesmo da gravação. Não tenho objeção a qualquer tipo de debate, embora talvez tivesse sido conveniente uma antecipação a respeito.
Como se pode verificar pela gravação efetiva, com réplicas e por vezes tréplicas, discordamos no essencial, o tal de Globalismo, o conceito central nesse debate. O vídeo está aqui: 
Transmitido em 11/12/2017 (link: https://www.youtube.com/watch?feature=youtu.be&utm_campaign=inscritos_-_o_primeiro_debate_do_webinario_ja_esta_no_youtube&utm_medium=email&utm_source=RD%2BStation&v=6Q_Amtnq34g); no Canal YouTube (link: https://youtu.be/6Q_Amtnq34g); divulgado no blog Diplomatizzando (link: http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/12/globalismo-e-globalizacao-ou-vice-versa.html); divulgado via Twitter-Youtube: https://shar.es/1MxLDO).  

Olavo de Carvalho, de seu lado, formulou comentários sobre as minhas posições, que transcrevo na sua íntegra, a seguir, e complemento por breves comentários sobre a discordância central entre nossas duas posições: o tal de globalismo. Eu considero essa "coisa" uma fantasmagoria, o que Olavo de Carvalho considera uma idiotice da minha parte. Estamos nesse terreno, por enquanto.

Aqui as duas postagens de Olavo de Carvalho a meu respeito:  


Duas entradas no Google, detectadas em 20/12/2017:

diariofilosofico.midiasemmascara.org/cultura/o-debate-com-paulo-roberto-de-almeida/
8 de dez de 2017 - Tive hoje um debate no Brasil Paralelo com o prof. Paulo Roberto de Almeida (foto). É um homem inteligente, culto e honesto, infelizmente, a meu ver, limitado pela perspectiva diplomática e econômica que é a sua área de atuação, e um tanto insensível, por isso, aos aspectos culturais e psico-sociais ...

O debate com Paulo Roberto de Almeida

Olavo de Carvalho

8 de dezembro de 2017 - 5:49:50 
 

Tive hoje um debate no Brasil Paralelo com o prof. Paulo Roberto de Almeida (foto). É um homem inteligente, culto e honesto, infelizmente, a meu ver, limitado pela perspectiva diplomática e econômica que é a sua área de atuação, e um tanto insensível, por isso, aos aspectos culturais e psico-sociais mais sutis do processo globalizante. Ele tem razão ao dizer que o governo mundial é impossível, mas a impossibilidade de uma meta não prova a inexistência do movimento destinado a promovê-la. A economia comunista também era impossível, mas quantos, para realizá-la, não deram suas vidas e as alheias? O prof. Almeida se diz um racionalista, e o problema é exatamente esse: nenhuma análise histórica é mais arriscada do que aquela baseada na premissa de que todas as ações devem ser explicadas por um cálculo racional de interesses objetivos. Outro ponto importante, que não houve tempo de explorar no debate, é o seguinte: metas de enorme alcance como o socialismo, o califado universal ou qualquer tipo de império mundial são por natureza difíceis de definir e mais ainda de descrever no seu estado final pretendido. Por isso sua imagem se subdivide em metas parciais e estas, em vez da meta final, concentram os esforços e o entusiasmo dos seus adeptos. Assim a meta final pode ser adiada indefinidamente e até desaparecer das consciências sem deixar de ser o polo aglutinador e orientador ao qual, como a uma nebulosa imagem mítica, convergem milhares de esforços até inconexos. Karl Marx foi propositadamente vago quanto à sociedade socialista ideal porque só assim seria possível, por meio da confusão dialética da “praxis”, articular estrategicamente o previsível e o imprevisível, o racional e o irracional. Com o “governo mundial” passa-se exatamente a mesma coisa. Não se vê em parte alguma um plano racional detalhado para construi-lo, mas nem por isso ele deixa de ser o inspirador remoto de milhares de iniciativas independentes que convergem na sua direção.
P. S. – O debate irá ao ar na semana que vem.



diariofilosofico.midiasemmascara.org/.../novas-notas-sobre-o-debate-com-paulo-robe...
7 dias atrás - O prof. Paulo Roberto de Almeida (f0to) queixa-se de não ter sido avisado de que sua entrevista ao Brasil Paralelo seria um debate. Eu também não fui, mas não me queixo. É um prazer poder conversar com alguém que personifica tão nitidamente a ideologia da Nova Ordem Global cuja existência ele ...

Novas notas sobre o debate com Paulo Roberto de Almeida

Olavo de Carvalho

13 de dezembro de 2017 - 0:48:36 
 

O prof. Paulo Roberto de Almeida (foto) queixa-se de não ter sido avisado de que sua entrevista ao Brasil Paralelo seria um debate. Eu também não fui, mas não me queixo. É um prazer poder conversar com alguém que personifica tão nitidamente a ideologia da Nova Ordem Global cuja existência ele nega.
*
By the way, nem o nacionalismo nem o internacionalismo são valores absolutos, que possam ser consagrados numa “posicão doutrinal” definitiva. Tudo é questão de jeito, de motivo e de ocasião.
*
Dizer que o globalismo foi inventado pelos nacionalistas é o mesmo que dizer que o anti-semitismo foi inventado pelos judeus. Inventar o nome para designar alguma coisa não é o mesmo que inventar a coisa.
*
Já que o prof. Paulo Roberto de Almeida gosta de avisos prévios, lá vai um: Sempre que você chamar as minhas idéias de paranóicas, chamarei as suas de idiotas.
*
A expressão “governo global” é uma figura de linguagem, uma metonímia. Designa um poder global informal pelo nome de uma instituição que não existe, que talvez não venha a existir nunca, mas de cujas funções ideais ele já exerce algumas na realidade.
Nenhum presidente do mundo ou parlamento global decretou oficialmente a agenda abortista, feminista, racialista ou gayzista, nem o controle politicamente correto da linguagem, nem o favorecimento legal aos criminosos, nem o desarmamentismo civil, nem o boicote geral ao cristianismo, nem a abertura das fronteiras à imigração em massa.
No entanto, todas essas medidas vêm sendo impostas em escala global com uma rapidez e uma eficiência avassaladoras, assim como a política de intimidação aos adversos e refratários, rotulados, com uniformidade mundial, de fascistas, neonazistas ou, na mais branda das hipóteses, de paranóicos e teóricos da conspiração.
Negar a existência de um poder global sob a alegação da dificuldade de constituir um governo mundial como entidade legalmente reconhecida é negar a existência de crimes sob a desculpa de que não são permitidos pelo Código Penal. É a apoteose do formalismo jurídico em oposição à realidade dos fatos.
*
O fato de que todas essas agendas estejam sendo impostas simultaneamente em toda parte, exceto no Islam e na Rússia, é a prova definitiva da concorrência entre os três esquemas globalistas, que mencionei no debate com o prof. Duguin.
*
Dizer que nenhuma dessas agendas foi imposta pela força, que os governos nacionais as aceitaram espontaneamente, só prova uma coisa: que em inúmeros países a classe governante já aderiu à ideologia globalista e a impõe a seu próprio povo por vontade própria. Isso é a prova cabal de que o globalismo já possui a HEGEMONIA, e uma hegemonia não se impõe sem o trabalho de inumeráveis agentes de influência, com muito planejamento e investimentos colossais. ISSO é o poder global.
*
Em geral os intelectuais acadêmicos e especialmente os cientistas sociais estão, ao menos hoje em dia, mais propensos a acreditar que são dirigidos por entidades abstratas, como as instituições ou as classes sociais, do que a admitir que estão sob o poder de algum indivíduo ou grupo determinado. No entanto, é duvidoso que as instituições e classes sociais “pensem”, e o modo como essas entidades sem cérebro atuam sobre a alma e a conduta de pessoas detentoras de cérebros é ainda um problema nebuloso, na melhor das hipóteses. Em contrapartida, a diferença de poder e de horizonte de consciência entre indivíduos é um dos fatos mais patentes e mais abundantemente confirmados pela experiência desde a antiguidade. Considero-a mesmo uma das propriedades distintivas da espécie humana, sem paralelo entre os outros animais. Terão as ciências sociais feito um juramento de sempre desprezar o óbvio em favor de hipóteses rebuscadas e impossíveis de provar?
*
Imagino, por exemplo, Josef Stalin no seu gabinete, em comparação com um prisioneiro que morre à míngua no fundo do Gulag. O primeiro determina, com uma canetada, o destino de milhões de pessoas, enquanto o segundo mal pode mover o próprio corpo. Um aproxima-se da onipotência na mesma medida em que o outro naufraga na impotência, NENHUM fenômeno parecido se observou jamais no reino animal. Em contrapartida, nenhuma época da História deixou de presenciar os sinais patentes de alguma diferença de poder entre seres humanos, similar à que assinalei.




Aqui meus comentários adicionais, muito rápidos, pois não tenho tempo, agora de fazer longas digressões históricas e econômicas sobre os fundamentos de minhas posições.
Apenas um alerta, a todos: não tentem fundamentar minha postura com qualquer condição profissional, ou seja, a carreira diplomática. O Itamaraty não tem absolutamente NADA a ver com o que penso. Respondo por mim mesmo.

Se ouso resumir meu argumento, eu diria que globalização é um processo, real, empiricamente embasado, enquanto globalismo é um conceito, para não dizer uma ideologia, ou um espantalho, agitado por pessoas nitidamente anti-globalização, que podem ser de direita ou de esquerda, mas que neste caso são de direita, no que não vai nenhuma vergonha, desde que essa direita (ou esquerda) saiba separar processo de ideologia, ou evento-processo, de um lado, e conceito, de outro.
Aceito absolutamente a globalização, acho algo tão inevitável quanto as correntes dos mares, e rejeito o tal de globalismo a um desses fetiches que surgem de forma recorrente, para desviar o debate das questões reais.

Paulo Roberto de Almeida 
Brasília, 20 de dezembro de 2017


terça-feira, 19 de dezembro de 2017

O governo dos trabalhadores industriais reprimarizou a economia brasileira: ironia?

Essas surpresas da história: o partido dos trabalhadores, dotado de uma ideologia típica do stalinismo industrial, e representante auto-nomeado dos trabalhadores industriais, foi o maior responsável, com sua política econômica aloprada, conseguiu desindustrializar o Brasil de maneira radical – a participação da indústria caiu à metade durante o período – e tornou a economia brasileira muito dependente da produção e exportação de produtos primários, uma situação "colonial" vergonhosa para o partido que, supostamente defendia o proletariado industrial.
Paulo Roberto de Almeida

Cinco commodities já concentram 44% das vendas externas

Por Sergio Lamucci | De São Paulo

Valor Econômico, 19/12/2017

A concentração da pauta de exportações do Brasil em produtos primários voltou a aumentar em 2017, depois de dois anos de queda. De janeiro a novembro, cinco commodities responderam por 44% das vendas ao exterior, acima dos 40% registrados no mesmo período do ano passado.
O maior peso é do complexo soja, com peso de 15,3% das exportações no acumulado do ano, seguido por minério de ferro (8,8%), óleos brutos de petróleo (7,7%), complexo carnes (6,9%) e açúcar (5,4%), segundo o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic).
Num cenário de crescimento mais forte da economia global, as vendas de produtos primários ganharam fôlego neste ano, ao mesmo tempo em que as exportações de bens industriais avançaram em ritmo mais modesto, diz o economista Fernando Ribeiro, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). "Isso evidencia os problemas de competitividade da indústria", afirma. Com isso, as exportações se concentram nas commodities, segmento em que o Brasil é mais competitivo.
Conquistaram espaço na pauta de vendas externas o complexo soja (grão, farelo e óleo), o minério de ferro e o petróleo. No caso da soja, o que cresceu mais net ano foi a quantidade embarcada. De janeiro a novembro, o volume exportado da chamada soja mesmo triturada subiu quase 30% em relação ao mesmo período de 2016, enquanto as cotações do produto avançaram apenas 0,8%.
No caso do minério de ferro, o efeito predominante foi dos preços, que subiram 47% de janeiro a novembro. Os volumes vendidos cresceram 3,5%. Já as exportações de petróleo aumentaram devido à combinação de expansão robusta tanto de preços como de quantidades. De janeiro a novembro, as cotações subiram 31% sobre igual período de 2016, ao passo que os volumes tiveram alta de 25%.
O pico da participação das cinco commodities na pauta de vendas externas foi atingido em 2011, quando os preços de exportação do Brasil atingiram a máxima histórica, puxada pela alta das cotações. De janeiro a novembro daquele ano, o conjunto desses cinco produtos respondeu por 46,2% das vendas externas totais. Em 2000, essa fatia não chegava a 20%.
O boom de commodities ganhou força especialmente a partir de 2004. Depois de agosto de 2011, os preços de exportação passaram a recuar gradualmente, caindo com mais força a partir de agosto de 2014. As cotações de commodities começaram a se recuperar a partir de meados do ano passado, destaca Ribeiro.
O aumento das exportações de soja, minério de ferro e também petróleo teve um peso importante do "efeito China", como destaca o economista Livio Ribeiro, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre–FGV). Das exportações de soja mesmo triturada, quase 80% se destinam ao país asiático, observa ele. No caso das vendas de minério de ferro, a China absorveu 54% das exportações do produto no período de janeiro a novembro; no do petróleo, 43%, de acordo com números do Mdic.
Para o economista do Ibre, o inconveniente de um país só ser o destino de boa parte das vendas de determinado produto é que torna mais complicada a negociação de preços, dado o poder de mercado do comprador. Observa, porém, que há grande complementaridade entre o que o Brasil produz e o que a China demanda, o que torna o país asiático um destino natural para as exportações brasileiras.
Ribeiro, do Ipea, observa que as exportações de produtos industriais pelo Brasil mostram pouco fôlego, ainda que haja exceções. De janeiro a outubro, o volume exportado de produtos manufaturados cresceu 4,6% em relação ao mesmo período de 2016, alta inferior aos 11,9% dos produtos básicos, segundo a Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex). Não há dados disponíveis ainda para novembro.
Uma das exceções da indústria manufatureira é o setor de veículos automotores, reboques e carrocerias subiram, onde as quantidades destinadas ao exterior subiram 32,2% no período de janeiro a outubro. O economista do Ipea observa, porém, que essa alta se deu sobre uma base muito fraca. Para comparar, ele diz que o volume de exportações de veículos, mesmo com a alta acima de 30% neste ano, ainda deve ficar 10% abaixo do registrado em 2006.
Em 2016, as quantidades destinadas ao exterior de manufaturadas cresceram 8%, num ano em que as de básicos encolheram 2,8%. Neste ano, as exportações industriais avançam a um ritmo mais fraco, mesmo num cenário de demanda global mais forte e com um câmbio que, se não é extremamente desvalorizado, não parece inviabilizar as vendas externas, diz o economista do Ipea, o que mostra as dificuldades de competição da indústria. Custo elevado da mão de obra, deficiências de infraestrutura e defasagem tecnológica são alguns dos obstáculos.
Nesse cenário, as exportações de produtos primários ganham terreno na pauta, num ambiente de crescimento global mais forte. Para o economista do Ipea, a tendência é que a fatia das cinco commodities continue a avançar no ano que vem.
O problema de uma pauta tão concentrada em poucos produtos primários o é uma parcela expressiva das exportações fica muito sensível a choque de preços, diz Fernando Ribeiro. A questão é que as cotações de commodities tendem a oscilar mais.
Já Livio Ribeiro considera que a concentração não é um problema em si. O Brasil, lembra ele, tem grandes vantagens comparativas nos segmentos de commodities. "A questão mais importante é usar de forma mais eficiente um eventual ganho de renda proporcionado pelas exportações adicionais desses produtos, atacando carências, por exemplo, em áreas como infraestrutura e educação", afirma Ribeiro. "O ponto central é promover eficiência, seja no uso do dinheiro, seja em toda a economia."

Latin American Literary History: debate at CUNY - February 8, 2018

Americanos, europeus, enfim, pessoas normais, tendem a programar com a "necesaria antelación" seus eventos acadêmicos, como faz agora este programa da City University of New York, para um evento que vai realizar-se apenas no dia 8 de fevereiro de 2018.
Conheço o Roberto González Echevarria, da Yale, a quem já concedi um visto quando no Consulado em Hartford, CT, e tenho o seu livro, generosamente oferecido a mim pelo próprio Roberto, quando me visitou. O seu curso sobre Cervantes está aqui, neste link:
https://oyc.yale.edu/spanish-and-portuguese/span-300
Recomendo, aos que puderem assistir...
Paulo Roberto de Almeida


Latin American Literary History:
Continuities and Discontinuities
Thursday, February 8, 2018, Room 9206/07
The Graduate Center, CUNY

A discussion with Rolena Adorno and Roberto González Echevarría, authors of the recently published Breve historia de la literatura latinoamericana colonial y moderna (Madrid, 2017). The two parts of the Breve historia are hinged by Andrés Bello, the Venezuelan polymath, and range from Columbus to Bolaño, while devoting attention to authors rarely considered by the general public such as Felipe Guaman Poma de Ayala, Esteban Echeverría, and Severo Sarduy. The discussion will center on how various periods of Latin American literature engage each other and how current literature deals with the past and with literatures in other languages.

Panelists:
Rolena Adorno, Yale University
Roberto González Echevarría, Yale University

Commentators:
Regina Harrison, University of Maryland, College Park
Moderator: Araceli Tinajero, The Graduate Center, CUNY

Rolena Adorno (Ph.D., Cornell University) is Sterling Professor of Spanish at Yale University. Author of Colonial Latin American Literature: A Very Short Introduction (2011), De Guancane a Macondo: Estudios de literatura latinoamericana (2008), The Polemics of Possession in Spanish American Narrative (2007, 2014), Álvar Núñez Cabeza de Vaca: His Account, His Life, and the Expedition of Pánfilo de Narváez, with Patrick Charles Pautz (1999), and Guaman Poma Writing and Resistance in Colonial Peru (1986, 2000). She is a member of the National Council on the Humanities of the NEH, an Honorary Professor at the Pontificia Universidad Católica del Perú, and a Fellow of the American Academy of Arts and Sciences. In 2015 Adorno received the Modern Language Association’s Award for Lifetime Scholarly Achievement.

Roberto González Echevarría (Ph.D., Yale) is the Sterling Professor of Hispanic and Comparative Literature at Yale. Ph.D.Yale, 1970, and among honorary doctorates one from Columbia in 2002. He is a fellow of the American Academy of Arts and Sciences. President Barack Obama bestowed on González Echevarría the National Humanities Medal in 2010. His Myth and Archive: A Theory of Latin American Narrative won awards from the MLA and LASA and I son its sixth edition. He was awarded in 2014 the National Prize for Criticism by the Instituto Cubano del Libro for Lecturas y relecturas. In 2002 Fondo de Cultura published Crítica práctica/Práctica, and in 2005 Yale Press published Love and the Law in Cervantes. In 2014 the University of Minas Gerais issued Monstros e archivos, while in 2016 Yale Press brought out his edition of Cervantes' Exemplary Novels, translated by Edie Grossman. He has written for The New York Times Review of Books, The Wall Street Journal, The Village Voice, and The Nation. González Echevarría's twenty-four lecture course on Cervantes’s Don Quijote is available through Yale Open Courses. His work has appeared in Spanish, English, French, German, Portuguese, Polish, Italian, Persian, and soon Chinese.

Regina Harrison (Ph.D., University of Illinois) is Professor Emerita of Spanish and Comparative Literatures, University of Maryland, College Park. Her scholarship combines the disciplines of literary studies and anthropology. She is author of Signs, Songs, and Memory in the Andes: Translating Quechua Language and Culture (University of Texas, 1989), which won the Modern Language Association’s Katherine Singer Kovacs Prize, and Entre el tronar épico y el llanto elegíaco (Quito, Ecuador; 1997). Her book Sin and Confession in Colonial Peru (University of Texas Press, 2014) was awarded the Bainton Prize in History from the Sixteenth-Century Society, and her DVD, Mined to Death, filmed with Quechua-speaker miners in Bolivia, was awarded LASA’s “Award of Merit in Film.”

Araceli Tinajero (Ph.D., Rutgers University) is Professor of Spanish at The Graduate Center and City College of New York, CUNY. She is the author of Orientalismo en el modernismo hispanoamericano, El lector de tabaquería (Eng. El Lector: A History of the Cigar Factory Reader), and Kokoro, una mexicana en Japón. Professor Tinajero is the editor of Cultura y letras cubanas en el siglo XXI, Exilio y cosmopolitismo en el arte y la literatura hispánica, and Orientalisms of the Hispanic and Luso-Brazilian World. 

Diplomatas "ganham" o seu sindicato proprio; farao bom uso dele?

Por princípio, sou um libertário, ou seja, contra qualquer corporação de ofício, guilda, cartel, e, não hesito em dizer, sindicatos em geral. Pode ser que sindicatos sejam benéficos aos seus afiliados, mas não tenho certeza de que também o sejam para a sociedade como um todo. Certos sindicatos são máquinas de provocar desemprego, o que não é o caso do sindicato dos diplomatas, que entram na carreira por concurso, todos, e são avaliados, em princípio, por mérito (nem sempre ocorre...).
Digo isto porque hoje, 19/12/2017, recebo a notícia de que, no dia 18 de dezembro de 2017, foi deferido o Registro Sindical do Sindicato dos Diplomatas Brasileiros.
A Associação dos Diplomatas Brasileiros (ADB) agora é também um sindicato.
 
A pessoa que me mandou a notícia acrescentou: 
"Parabéns a todos por esse importante passo na defesa dos interesses da diplomacia brasileira."
 
Não tenho certeza disso, pois os interesses da diplomacia brasileira não necessariamente coincidem com os interesses dos diplomatas, que podem estar mais focados em ganhos próprios, em nível individual (promoção, remoção, postos, chefias, prebendas, etc.), do que propriamente nos interesses nacionais.
Digamos que podem coincidir, mas não necessariamente.

Pode-se transcrever, a propósito, trecho do famoso discursos pronunciado por José Maria da Silva Paranhos, o grande Visconde do Rio Branco, que ele fez no Senado do Império, em 5 de junho de 1865, ao voltar, humilhado, de sua missão no Prata, quando tinha conseguido converter o governo uruguaio de "hostil", a amigo dos brasileiros, mas acabou sendo
demitido por conveniências da política interna. Na ocasião ele disse:

Sempre professei ainda hoje professo que a política externa não deve estar sujeita às vicissitudes da política interna, que deve ter princípios tradicionais e fixos, comuns a todos os partidos; e, seguramente, senhores, desgraçado o país que, depois de tantos anos de independência como conta o Brasil, nem ao menos tenha ainda princípios fixos acerca de sua política externa com relação aos estados limítrofes.

José Maria da Silva Paranhos (Visconde do Rio Branco), Anais do Senado, Sessão de 05/06/1865, Apêndice, p. 3, in: Cesar de Oliveira Lima Barrio: A Missão Paranhos no Prata (18664-1865): diplomacia e política na eclosão da guerra do Paraguai (Brasília: Funag, 2010), p. 142.
 
O próprio filho do Visconde, depois Barão do Rio Branco, ao assumir o cargo de chanceler, em dezembro de 1902, deixou claro, em seu primeiro pronunciamento, que não tinha vindo servir a partidos, mas ao Brasil. Como a frase é por demais conhecida, deixo de transcrevê-la por inteiro.
Mas, lembrei-me agora de uma carta de Ribeiro Couto, um intelectual diplomata de meados do século XX, que ficou muitos anos em Belgrado, quase esquecido. Em carta para o seu amigo Afonso Arinos de Melo Franco Filho, em 1956, ele escrevia: 

Assisto daqui [Belgrado, 1956] ao formidável páreo em que os valores históricos se chocam. Mas, para o Itamaraty, mando sempre menos do que poderia mandar, pois NUNCA RECEBI INSTRUÇÕES POLÍTICAS, e até ignoro (por isso mesmo) se o Brasil tem uma 'política exterior'. Cada vez gosto mais do meu posto em Belgrado. Nado de braçada nestas águas comunistas. Isto é um pequeno universo no qual forças rebeldes se esforçam por criar um 'socialismo'inédito. O povo passa miséria. Mas o posto é excitante. As experiências que os idealistas e os malucos fazem aqui, servirão para nós. Quer dizer: saberemos, graças aos de cá, AQUILO QUE NÃO DEVEMOS INTENTAR. (...) Que maravilha, servir na diplomacia do nosso tempo! Pena é (repito) que o Brasil não tenha nenhuma política exterior, a não ser pagar pensão [sic; provavelmente bolsas de estudos] para alguns estudantes paraguaios e bolivianos.

Afonso Arinos Filho, "Rui Ribeiro Couto", in": Alberto da Costa e Silva (org.), O Itamaraty na Cultura Brasileira (Brasília: Instituto Rio Branco, 2001), p. 245.
 
Pois é, nada como ler os antigos para constatar o que existe de novo na diplomacia brasileira. Agora temos um sindicato. Vai melhorar?
Não sei...
 
Paulo Roberto de Almeida 
Brasília, 19 de dezembro de 2017

Antologia de estudos europeus - Olivier Costa e Frederic Merand (orgs.)