As vinte primeiras são todas americanas. A primeira "estrangeira" é a Cambridge, em 22o. lugar. Bem, já sei onde vou dar aulas, depois que cansar das universidades brasileiras...
Top 6000 Universities
POSITION
WORLD RANK UNIVERSITY COUNTRY SIZE VISIBILITY RICH FILES SCHOLAR
1 Massachusetts Institute of Technology us 2 1 1 7
2 Harvard University ** us 7 2 12 1
3 Stanford University us 4 4 2 24
4 University of California Berkeley us 8 3 5 32
5 Cornell University us 1 5 9 37
6 University of Wisconsin Madison us 3 10 6 71
7 University of Minnesota us 6 15 7 22
8 California Institute of Technology ** us 18 6 20 30
9 University of Illinois Urbana Champaign * us 17 7 13 51
10 University of Michigan us 10 8 18 55
11 University of Texas Austin us 12 11 8 44
12 University of Washington us 22 9 4 94
13 University of Chicago us 42 16 44 2
14 Carnegie Mellon University us 5 24 3 93
15 University of Pennsylvania us 16 14 33 26
16 Columbia University New York us 19 12 21 95
17 Texas A&M University us 31 31 11 17
18 University of Maryland * us 37 22 17 52
19 University of California Los Angeles us 13 17 26 110
20 Purdue University us 14 34 14 46
21 Johns Hopkins University ** us 59 27 49 3
22 University of Cambridge uk 26 13 70 86
23 Pennsylvania State University ** us 27 29 16 102
24 University of Tokyo jp 32 26 65 31
25 University of Arizona us 20 36 19 134
26 National Taiwan University tw 34 33 79 18
27 University of Florida us 28 40 10 130
28 University of Toronto ca 51 32 42 40
29 Virginia Polytechnic Institute and State University us 11 45 48 38
30 University of North Carolina Chapel Hill us 65 23 22 192
31 Michigan State University us 52 28 23 147
32 New York University us 30 21 40 181
33 North Carolina State University us 9 73 35 42
34 Rutgers University us 23 42 15 176
35 University of California San Diego us 53 30 24 142
36 Yale University us 55 18 61 242
37 University of Pittsburgh us 98 44 34 33
38 Universidade de São Paulo br 76 54 53 20
39 Princeton University us 97 25 36 158
40 University of Virginia us 73 20 37 299
41 University of British Columbia ca 118 37 31 83
42 University of Oxford uk 122 19 51 157
43 Duke University us 75 35 29 163
44 Universidad Nacional Autónoma de México ** mx 61 69 56 21
45 Georgia Institute of Technology us 119 79 25 16
46 Swiss Federal Institute of Technology ETH Zurich ch 84 49 76 43
47 University of Southern California us 49 41 62 135
48 University of Colorado Boulder us 89 43 27 189
49 Kyoto University jp 56 52 157 34
50 University of California Davis us 47 56 32 204
Fonte: Ranking Web of World Universities
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
quinta-feira, 3 de setembro de 2009
1342) Petroleo do Pre-Sal: Mais um alerta precaucionario
Petróleo na urna
Editorial da Folha de S. Paulo, 2.09.2009
Governo tenta atropelar Congresso com proposta inconvincente de marco regulatório, repleta de armadilhas estatistas
CONSUMOU-SE , na explicitação dos projetos do Planalto para o pré-sal, a revanche contra a abertura do mercado e contra a quebra do monopólio da Petrobras, efetivadas na década passada. A antecipação do calendário eleitoral, motivada pela iniciativa do presidente Lula de viabilizar a candidatura Dilma Rousseff, atropelou o interesse público.
Propor a tramitação em 90 dias, no regime de urgência constitucional, de um programa que subverte todo o modelo de exploração, tributação, concorrência e partilha de recursos fiscais em curso -e que, além disso, exige emissão de mais R$ 100 bilhões em dívida pública, o equivalente a dois meses de arrecadação federal- é um acinte.
O governo federal e a Petrobras, que passaram 14 meses confabulando para chegar à sua proposta, não são os únicos interessados na discussão. A mudança afeta toda a sociedade, detentora das riquezas do subsolo. A tramitação dos quatro projetos de lei pelo Congresso é a oportunidade de dar a Estados, municípios, trabalhadores, consumidores, empresários, ambientalistas e técnicos o tempo que for necessário para que se façam ouvir.
A precipitação de Lula chega a ser ridícula diante do fato de que não se sabe, com o mínimo de segurança, qual a dimensão da renda petrolífera que se quer, desde já, dividir. A que ponto a província do pré-sal vai elevar as reservas recuperáveis de petróleo do Brasil, hoje em 14 bilhões de barris? A que custo de extração?
Na falta de mapeamento da região de 149 mil km2 (equivalente à área do Ceará), campeia uma incrível dispersão de palpites. De 30 bilhões de barris a 300 bilhões de barris, vai uma diferença oceânica. No primeiro caso, o Brasil apenas administraria pelas próximas décadas a autossuficiência energética já obtida; no outro, seria alçado à condição de potência exportadora.
Em vez de mapear as riquezas antes -até para convencer o público de que seria preciso mudar o modelo-, o governo passou diretamente à fase seguinte. A urgência eleitoral prevaleceu e deu passagem a propostas estatistas de fazer inveja aos "desenvolvimentistas" da ditadura militar.
Na partilha de produção, o governo divide o lucro da empreitada, na forma de óleo, com o consórcio empresarial contratado para explorar os campos. Mas, para chegar ao lucro, é preciso definir antes os custos de cada empreendimento específico, o que não é trivial numa atividade complexa e intensiva em capital como a petrolífera.
O governo cria, então, a Petro-Sal para controlar os custos de cada campo, entre outras funções -como cuidar dos trâmites de comercialização do óleo estatal- que deveriam ser eminentemente técnicas. Capaz de influir em decisões empresariais básicas, caso da contratação de fornecedores, e sujeita a controle político do governo de turno e de sua sempre notória "base aliada", a Petro-Sal seria uma porta escancarada para corrupção, negociatas e privilégios.
Outro ponto vulnerável à politização e à má alocação de recursos, bem como à acomodação típica dos monopólios, é a regra que torna a Petrobras parceira obrigatória da União em todos os campos do pré-sal, com participação mínima de 30%. Dispensada da concorrência, terá no entanto de participar mesmo das empreitadas as quais o cálculo frio recomendaria recusar.
O poder discricionário do Executivo amplia-se também por outros meios. Mesmo fora do pré-sal, onde continuam valendo as regras da concessão -empresas disputam livremente o direito de exploração num processo licitatório, e vence a que oferecer o maior lance-, o governo poderá intervir. Basta que considere, num simples decreto, a região como de "interesse para o desenvolvimento nacional" e ela será retirada da competição.
Além disso, o privilégio já oferecido à Petrobras poderá ser ampliado. A fim de preservar o "interesse nacional", sem definir bem o que isso significa, o governo poderá contratar apenas a Petrobras, sem licitação, para operar determinados campos.
Até aqui o governo Lula não demonstrou que a sua proposta será capaz de assegurar os investimentos necessários para a exploração das novas jazidas petrolíferas. Tomando-se os "chutes" mais conservadores acerca do potencial do pré-sal, não é difícil que essa cifra ultrapasse meio trilhão de dólares -ou 30% do PIB-, diluído ao longo dos anos. O modelo de concessões oferece uma resposta satisfatória a esse problema, pois amplia as fontes de investimento, por meio de uma competição de escala global, e propicia antecipação de receitas ao governo.
A experiência mundial, decerto, mostra que modelos não são decisivos para o sucesso de um país na exploração do petróleo; por vários caminhos e ajustes se chega a um bom arranjo. O fundamental é o governo ampliar, por meio de tributação ou dispositivos análogos, a sua participação na renda gerada pela atividade -e ser proibido, por lei, de torrar os recursos em despesas de custeio. Dadas a rarefação de parâmetros técnicos e a falta de definições que prevalecem na proposta do Planalto sobre o pré-sal, nem isso está garantido.
Por ora, o "passaporte para o futuro" anunciado pelo presidente Lula pouco se distingue de um panfleto eleitoral que já chega embolorado -tal o grau de dirigismo, privilégios e distorções nele estampados.
Editorial da Folha de S. Paulo, 2.09.2009
Governo tenta atropelar Congresso com proposta inconvincente de marco regulatório, repleta de armadilhas estatistas
CONSUMOU-SE , na explicitação dos projetos do Planalto para o pré-sal, a revanche contra a abertura do mercado e contra a quebra do monopólio da Petrobras, efetivadas na década passada. A antecipação do calendário eleitoral, motivada pela iniciativa do presidente Lula de viabilizar a candidatura Dilma Rousseff, atropelou o interesse público.
Propor a tramitação em 90 dias, no regime de urgência constitucional, de um programa que subverte todo o modelo de exploração, tributação, concorrência e partilha de recursos fiscais em curso -e que, além disso, exige emissão de mais R$ 100 bilhões em dívida pública, o equivalente a dois meses de arrecadação federal- é um acinte.
O governo federal e a Petrobras, que passaram 14 meses confabulando para chegar à sua proposta, não são os únicos interessados na discussão. A mudança afeta toda a sociedade, detentora das riquezas do subsolo. A tramitação dos quatro projetos de lei pelo Congresso é a oportunidade de dar a Estados, municípios, trabalhadores, consumidores, empresários, ambientalistas e técnicos o tempo que for necessário para que se façam ouvir.
A precipitação de Lula chega a ser ridícula diante do fato de que não se sabe, com o mínimo de segurança, qual a dimensão da renda petrolífera que se quer, desde já, dividir. A que ponto a província do pré-sal vai elevar as reservas recuperáveis de petróleo do Brasil, hoje em 14 bilhões de barris? A que custo de extração?
Na falta de mapeamento da região de 149 mil km2 (equivalente à área do Ceará), campeia uma incrível dispersão de palpites. De 30 bilhões de barris a 300 bilhões de barris, vai uma diferença oceânica. No primeiro caso, o Brasil apenas administraria pelas próximas décadas a autossuficiência energética já obtida; no outro, seria alçado à condição de potência exportadora.
Em vez de mapear as riquezas antes -até para convencer o público de que seria preciso mudar o modelo-, o governo passou diretamente à fase seguinte. A urgência eleitoral prevaleceu e deu passagem a propostas estatistas de fazer inveja aos "desenvolvimentistas" da ditadura militar.
Na partilha de produção, o governo divide o lucro da empreitada, na forma de óleo, com o consórcio empresarial contratado para explorar os campos. Mas, para chegar ao lucro, é preciso definir antes os custos de cada empreendimento específico, o que não é trivial numa atividade complexa e intensiva em capital como a petrolífera.
O governo cria, então, a Petro-Sal para controlar os custos de cada campo, entre outras funções -como cuidar dos trâmites de comercialização do óleo estatal- que deveriam ser eminentemente técnicas. Capaz de influir em decisões empresariais básicas, caso da contratação de fornecedores, e sujeita a controle político do governo de turno e de sua sempre notória "base aliada", a Petro-Sal seria uma porta escancarada para corrupção, negociatas e privilégios.
Outro ponto vulnerável à politização e à má alocação de recursos, bem como à acomodação típica dos monopólios, é a regra que torna a Petrobras parceira obrigatória da União em todos os campos do pré-sal, com participação mínima de 30%. Dispensada da concorrência, terá no entanto de participar mesmo das empreitadas as quais o cálculo frio recomendaria recusar.
O poder discricionário do Executivo amplia-se também por outros meios. Mesmo fora do pré-sal, onde continuam valendo as regras da concessão -empresas disputam livremente o direito de exploração num processo licitatório, e vence a que oferecer o maior lance-, o governo poderá intervir. Basta que considere, num simples decreto, a região como de "interesse para o desenvolvimento nacional" e ela será retirada da competição.
Além disso, o privilégio já oferecido à Petrobras poderá ser ampliado. A fim de preservar o "interesse nacional", sem definir bem o que isso significa, o governo poderá contratar apenas a Petrobras, sem licitação, para operar determinados campos.
Até aqui o governo Lula não demonstrou que a sua proposta será capaz de assegurar os investimentos necessários para a exploração das novas jazidas petrolíferas. Tomando-se os "chutes" mais conservadores acerca do potencial do pré-sal, não é difícil que essa cifra ultrapasse meio trilhão de dólares -ou 30% do PIB-, diluído ao longo dos anos. O modelo de concessões oferece uma resposta satisfatória a esse problema, pois amplia as fontes de investimento, por meio de uma competição de escala global, e propicia antecipação de receitas ao governo.
A experiência mundial, decerto, mostra que modelos não são decisivos para o sucesso de um país na exploração do petróleo; por vários caminhos e ajustes se chega a um bom arranjo. O fundamental é o governo ampliar, por meio de tributação ou dispositivos análogos, a sua participação na renda gerada pela atividade -e ser proibido, por lei, de torrar os recursos em despesas de custeio. Dadas a rarefação de parâmetros técnicos e a falta de definições que prevalecem na proposta do Planalto sobre o pré-sal, nem isso está garantido.
Por ora, o "passaporte para o futuro" anunciado pelo presidente Lula pouco se distingue de um panfleto eleitoral que já chega embolorado -tal o grau de dirigismo, privilégios e distorções nele estampados.
1341) O petroleo do pre-sal comeca cheirando mal
E, na verdade, ninguém sabe quanto vai custar. Aliás, é típico desse governo tomar decisões sem qualquer processo decisório, isto é, sem saber, ou pelo menos sem apresentar, os custos, os empregos alternativos de capital, os prços de entrada e de saída, enfim, uma base técnica mínima para que se possa fazer conjeturas sobre o acertado da decisão.
Foi assim com o oba-oba em volta do biodiesel de mamona -- eu jamais vi um cálculo sequer quanto ao custo da produção, e como seriam cobertos os acréscimos obrigatórios de 3 e 5% do biodiesel no diesel de petróleo --, foi assim com a bolha do etanol -- que está dando prejuizo a muita gente do setor, pois é, e era, evidente que o mundo não estava preparado para nos nossos zilhões de hectolitros de etanol -- e parece que vai ser assim com o petróleo do pré-sal.
Este governo é especialista em vender a pelo do urso antes de tê-lo matado.
Abaixo uma entrevista com quem entende um pouco mais do que os bárbaros do PCdoB atualmente no comando da ANP.
PRA, 3.09.2009
'A Petro-Sal se torna uma ANP do B'
Entrevista com David Zylbersztajn
O Globo, 02/09/2009
Ex-diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo critica falta de argumentos para mudar regime de concessão
A criação da Petro-Sal e sua influência no controle das atividades ligadas às áreas do pré-sal no regime de partilha lança dúvidas sobre o papel da Agência Nacional do Petróleo (ANP) no novo modelo, diz o especialista em energia e ex-diretor-geral da ANP David Zylbersztajn. Para ele, a nova estatal será uma espécie de "ANP do B" e essa alteração deverá reduzir o poder da ANP no novo modelo, o que poderá torná-la apenas um braço de auxílio nas futuras licitações. Zylbersztajn também critica a falta de argumentos concretos para que o atual regime de concessão seja substituído pelo de partilha. Para ele, o atual modelo é bem-sucedido, ainda oferece condições de aumento da arrecadação por parte do governo e tornou viável que se chegasse ao pré-sal.
Erica Ribeiro
O GLOBO: Como o senhor vê a atuação da Agência Nacional do Petróleo (ANP) com as novas regras para o pré-sal?
ZYLBERSZTAJN: A ANP continua atuando, gerindo, dentro do que já está licitado pelo regime de concessão, inclusive as áreas de pré-sal que já passaram pelo processo de licitação, como Tupi e Iara (ambas na Bacia de Santos). Porém, nas futuras áreas, se aprovadas no Congresso as regras previstas no projeto, há novas situações onde a ANP pode se tornar um braço de auxílio. A dúvida é sobre o papel da agência reguladora com a PetroSal. Quando se tem uma estatal como a Petro-Sal controlando as atividades do présal e o ritmo como tudo será feito, ela, a Petro-Sal, se torna uma ANP do B e o poder da ANP fica reduzido nesse caso.
Como o senhor avalia a mudança do atual modelo de concessão para o de partilha?
ZYLBERSZTAJN: Ficou faltando o governo apresentar com cálculos, com alguma planilha, algo que mostrasse o real motivo de substituir o modelo de concessão pelo de partilha. Essa conta não foi feita e até agora ninguém perguntou sobre ela. O modelo de concessão se mostrou eficaz todos esses anos e a arrecadação é significativa. Foi com esse modelo, inclusive, que se chegou ao pré-sal.
O que, por exemplo, deveria ser melhor explicado?
ZYLBERSZTAJN: Se alguém falasse, concretamente, por exemplo, que se chegou ao limite de arrecadação pelo modelo de concessão e que o ideal é mudar o modelo, tudo bem. Mas sabemos que o modelo atual ainda não chegou no limite. Ainda é possível aumento de arrecadação com as participações especiais.
Faltou mostrar as vantagens e desvantagens de cada modelo para que fosse aberta uma discussão sobre o projeto.
Como é em outros países?
ZYLBERSZTAJN: Em geral, o que se vê em países onde há modelo de partilha em vigor é uma relação promíscua entre empresas e governo. São países com regimes autoritários, com baixo IDH (Índice de Desenvolvimento Humano).
O novo modelo oferece riscos à competição?
ZYLBERSZTAJN:Nessa nova circunstância, há uma empresa do governo, a Petrobras já tem no mínimo 30% de participação nas áreas e pode disputar os outros 70%. O que quer dizer que o parceiro da Petrobras pode não ser uma empresa de petróleo. Pode ser um banco ou investidores. Pode haver uma ameaça à entrada de mais empresas. É preciso ver que empresas vão se sujeitar aos novos controles. O modelo pode ser um risco.
Antes, pelo modelo gerido pela ANP, todos eram concessionários, inclusive a Petrobras.
E quanto à capitalização da Petrobras? Como o senhor vê a medida?
ZYLBERSZTAJN:Acho que estamos nadando em incertezas, dando um cheque pré-datado sem saber ainda quanto vamos ter de fato lá na frente, no futuro. Estamos falando de algo para acontecer daqui a 15, 20 anos. Será preciso, antes de mais nada, confirmar as expectativas de reservas. Acredito que isso deverá se confirmar.
Mas faltou novamente alguém explicar quanto vai custar extrair o petróleo da área de pré-sal a 300 quilômetros da costa e qual é o ganho real ao se calcular este custo no negócio. Se o governo licitasse pelo regime atual as áreas, ao contrário de emprestar US$ 50 bilhões, embolsaria US$ 50 bilhões.
O governo cita a criação de um Fundo Social com recursos do pré-sal para que a União possa investir em educação, saúde, meio ambiente, cultura, ciência e tecnologia...
ZYLBERSZTAJN: Mais uma vez, ninguém mostrou de quanto será o ganho pelo modelo de partilha. Os mesmos US$ 50 bilhões poderiam ser usados em projetos de educação e saúde hoje. A necessidade existe hoje. Só daqui a uma década esse fundo começa a arrecadar dinheiro. Na minha opinião, o governo deveria guardar uma distância sanitária de vender petróleo.
Mas é bom para o país ter um bom sistema de arrecadação.
Foi assim com o oba-oba em volta do biodiesel de mamona -- eu jamais vi um cálculo sequer quanto ao custo da produção, e como seriam cobertos os acréscimos obrigatórios de 3 e 5% do biodiesel no diesel de petróleo --, foi assim com a bolha do etanol -- que está dando prejuizo a muita gente do setor, pois é, e era, evidente que o mundo não estava preparado para nos nossos zilhões de hectolitros de etanol -- e parece que vai ser assim com o petróleo do pré-sal.
Este governo é especialista em vender a pelo do urso antes de tê-lo matado.
Abaixo uma entrevista com quem entende um pouco mais do que os bárbaros do PCdoB atualmente no comando da ANP.
PRA, 3.09.2009
'A Petro-Sal se torna uma ANP do B'
Entrevista com David Zylbersztajn
O Globo, 02/09/2009
Ex-diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo critica falta de argumentos para mudar regime de concessão
A criação da Petro-Sal e sua influência no controle das atividades ligadas às áreas do pré-sal no regime de partilha lança dúvidas sobre o papel da Agência Nacional do Petróleo (ANP) no novo modelo, diz o especialista em energia e ex-diretor-geral da ANP David Zylbersztajn. Para ele, a nova estatal será uma espécie de "ANP do B" e essa alteração deverá reduzir o poder da ANP no novo modelo, o que poderá torná-la apenas um braço de auxílio nas futuras licitações. Zylbersztajn também critica a falta de argumentos concretos para que o atual regime de concessão seja substituído pelo de partilha. Para ele, o atual modelo é bem-sucedido, ainda oferece condições de aumento da arrecadação por parte do governo e tornou viável que se chegasse ao pré-sal.
Erica Ribeiro
O GLOBO: Como o senhor vê a atuação da Agência Nacional do Petróleo (ANP) com as novas regras para o pré-sal?
ZYLBERSZTAJN: A ANP continua atuando, gerindo, dentro do que já está licitado pelo regime de concessão, inclusive as áreas de pré-sal que já passaram pelo processo de licitação, como Tupi e Iara (ambas na Bacia de Santos). Porém, nas futuras áreas, se aprovadas no Congresso as regras previstas no projeto, há novas situações onde a ANP pode se tornar um braço de auxílio. A dúvida é sobre o papel da agência reguladora com a PetroSal. Quando se tem uma estatal como a Petro-Sal controlando as atividades do présal e o ritmo como tudo será feito, ela, a Petro-Sal, se torna uma ANP do B e o poder da ANP fica reduzido nesse caso.
Como o senhor avalia a mudança do atual modelo de concessão para o de partilha?
ZYLBERSZTAJN: Ficou faltando o governo apresentar com cálculos, com alguma planilha, algo que mostrasse o real motivo de substituir o modelo de concessão pelo de partilha. Essa conta não foi feita e até agora ninguém perguntou sobre ela. O modelo de concessão se mostrou eficaz todos esses anos e a arrecadação é significativa. Foi com esse modelo, inclusive, que se chegou ao pré-sal.
O que, por exemplo, deveria ser melhor explicado?
ZYLBERSZTAJN: Se alguém falasse, concretamente, por exemplo, que se chegou ao limite de arrecadação pelo modelo de concessão e que o ideal é mudar o modelo, tudo bem. Mas sabemos que o modelo atual ainda não chegou no limite. Ainda é possível aumento de arrecadação com as participações especiais.
Faltou mostrar as vantagens e desvantagens de cada modelo para que fosse aberta uma discussão sobre o projeto.
Como é em outros países?
ZYLBERSZTAJN: Em geral, o que se vê em países onde há modelo de partilha em vigor é uma relação promíscua entre empresas e governo. São países com regimes autoritários, com baixo IDH (Índice de Desenvolvimento Humano).
O novo modelo oferece riscos à competição?
ZYLBERSZTAJN:Nessa nova circunstância, há uma empresa do governo, a Petrobras já tem no mínimo 30% de participação nas áreas e pode disputar os outros 70%. O que quer dizer que o parceiro da Petrobras pode não ser uma empresa de petróleo. Pode ser um banco ou investidores. Pode haver uma ameaça à entrada de mais empresas. É preciso ver que empresas vão se sujeitar aos novos controles. O modelo pode ser um risco.
Antes, pelo modelo gerido pela ANP, todos eram concessionários, inclusive a Petrobras.
E quanto à capitalização da Petrobras? Como o senhor vê a medida?
ZYLBERSZTAJN:Acho que estamos nadando em incertezas, dando um cheque pré-datado sem saber ainda quanto vamos ter de fato lá na frente, no futuro. Estamos falando de algo para acontecer daqui a 15, 20 anos. Será preciso, antes de mais nada, confirmar as expectativas de reservas. Acredito que isso deverá se confirmar.
Mas faltou novamente alguém explicar quanto vai custar extrair o petróleo da área de pré-sal a 300 quilômetros da costa e qual é o ganho real ao se calcular este custo no negócio. Se o governo licitasse pelo regime atual as áreas, ao contrário de emprestar US$ 50 bilhões, embolsaria US$ 50 bilhões.
O governo cita a criação de um Fundo Social com recursos do pré-sal para que a União possa investir em educação, saúde, meio ambiente, cultura, ciência e tecnologia...
ZYLBERSZTAJN: Mais uma vez, ninguém mostrou de quanto será o ganho pelo modelo de partilha. Os mesmos US$ 50 bilhões poderiam ser usados em projetos de educação e saúde hoje. A necessidade existe hoje. Só daqui a uma década esse fundo começa a arrecadar dinheiro. Na minha opinião, o governo deveria guardar uma distância sanitária de vender petróleo.
Mas é bom para o país ter um bom sistema de arrecadação.
1340) Integracao energetica: um longo caminho a percorrer na America do Sul
Integração energética - uma visão brasileira
Mário Augusto Santos *
Monitor Mercantil, 26 de agosto de 2009
Já estamos acostumados a ouvir falar de integração energética. Políticos e diplomatas recheiam pronunciamentos com o tema e hoje quase todos os documentos diplomáticos sul-americanos o mencionam. De tanto ouvir falar, convencemo-nos de que deve ser coisa boa. No entanto, não se tem notícia de ninguém, nem de documento oficial, que explique direito o que vem a ser integração energética.
Como o debate é a melhor maneira de esclarecer assuntos complexos, dou aqui minha opinião sobre o que poderia ser integração energética - do ponto de vista brasileiro. Sim, pois me parece que integração, qualquer que seja seu conteúdo, só pode fazer sentido se espelhar os interesses do país que a deseja.
Para facilitar, limitemos o debate à energia elétrica, pois sua natureza difere substancialmente de petróleo e gás.
Se olharmos o mapa da América do Sul, salta aos olhos que a integração elétrica do continente só poderá ser realizada com a participação central do Brasil. O mapa mostra que o Brasil ocupa o centro do continente, com 12 vizinhos, dos quais 10 são limítrofes. Portanto, sem o Brasil, qualquer esquema de intercâmbio elétrico na América do Sul só poderá ser realizado lateralmente, de um vizinho para outro, mas não muito além. Dificilmente se pode conceber, nas atuais condições políticas, econômicas e sociais, uma ligação, digamos, da Venezuela ao Chile atravessando a Colômbia, Equador e Peru. Com a participação o Brasil, tal integração poderia viabilizar-se, desde que formulemos claramente uma política que reflita nossos interesses e que deixe claro para nossos vizinhos as condições de nossa participação.
Na ausência de tal política, é muito provável que estaremos a reboque de iniciativas vicinais que atritarão com nossos interesses, o que acarretará desgaste político para rechaçá-las ou a necessidade de renegociá-las, a fim de adaptá-las ao nosso planejamento energético.
Como o Brasil detém a maior economia da região, é natural que nossos vizinhos queiram vender-nos energia, para viabilizar sua participação até em empreendimentos praticamente financiados só por nós, ou comprar energia brasileira para não realizar pesados investimentos.
Propostas como essas podem ser interessantes, desde que diminuam custos para ambas as partes e ajudem a consolidar o arcabouço das relações bilaterais.
Poder-se-ia, portanto, deduzir que interessaria ao Brasil desenvolver uma política de integração elétrica em bases bilaterais, de negociar com cada vizinho um programa em longo prazo de intercâmbio elétrico, mantendo assim sólido controle sobre o processo.
Que condições deveriam governar a negociação de tais programas?
Seriam várias, mas aqui me deterei em uma que considero crucial. Trata-se da quantidade de energia elétrica que deveríamos importar de cada parceiro. Quando se traz eletricidade de outro país, uma parte da economia do país importador fica refém daquela energia e, portanto, sujeita às instabilidades políticas e econômicas do país exportador, sobre a qual o importador não possui nenhum controle, o que evidencia que o intercâmbio de eletricidade é um relacionamento estratégico, que implica uma grande confiança mutua entre os parceiros. Qual o grau de confiança que o Brasil poderá ter em vizinhos, a ponto de lhes entregar o poder de decidir sobre quinhões de nossa economia à eletricidade importada deles?
A história recente da América do Sul na área energética não é animadora. Num exemplo recente, a Argentina cortou sem aviso prévio o fluxo de gás natural que alimentava termelétricas chilenas, produzindo séria crise naquele país.
Como resultado, o Chile está procurando diversificar suas fontes de gás, trazendo-o inclusive da Ásia. Vê-se logo que, se formos importar eletricidade, tem de ser em quantidades que posam ser imediatamente substituídas por produção nacional e utilizando nosso sistema interligado. Só assim poderemos evitar crises induzidas e chantagens políticas.
Como resultado de acordos mal negociados, o Brasil está sujeito a dificuldades nos seu relacionamento energético com a Bolívia e o Paraguai.
No caso específico do Paraguai, estamos vendo que um tratado internacional não nos exime de permanente cobrança com respeito a Itaipu, com a perspectiva de que o acordo recentemente negociado e ainda sujeito à aprovação do Congresso não satisfará o apetite paraguaio por mais dinheiro.
Um aspecto do acordo, inclusive, suscita preocupação à luz do que foi dito acima sobre confiabilidade entre parceiros energéticos. Diz o acordo que o Paraguai poderá vender quotas crescentes de sua parte da energia da binacional no mercado livre brasileiro. Essa energia vem sendo, de acordo com o Tratado, comercializada pela Eletrobrás, mas pelo esquema negociado, caberá agora à Ande (Administracion Nacional de Eletricidad) essa tarefa. Em outras palavras, o acordo tira da Eletrobrás, empresa em que a economia brasileira deposita total confiança, e colocará sob controle da Ande, que jamais gozará do mesmo grau de confiabilidade, 10% (a parte que cabe ao Paraguai na binacional) das necessidades de eletricidade da economia brasileira. Até prova em contrario, esse item do novo acordo dará ao Paraguai maior alavancagem ainda a exigir de nos mais concessões.
_____________
* Mário Augusto Santos é diplomata. Participou das negociações que deram origem ao Tratado de Itaipu
Mário Augusto Santos *
Monitor Mercantil, 26 de agosto de 2009
Já estamos acostumados a ouvir falar de integração energética. Políticos e diplomatas recheiam pronunciamentos com o tema e hoje quase todos os documentos diplomáticos sul-americanos o mencionam. De tanto ouvir falar, convencemo-nos de que deve ser coisa boa. No entanto, não se tem notícia de ninguém, nem de documento oficial, que explique direito o que vem a ser integração energética.
Como o debate é a melhor maneira de esclarecer assuntos complexos, dou aqui minha opinião sobre o que poderia ser integração energética - do ponto de vista brasileiro. Sim, pois me parece que integração, qualquer que seja seu conteúdo, só pode fazer sentido se espelhar os interesses do país que a deseja.
Para facilitar, limitemos o debate à energia elétrica, pois sua natureza difere substancialmente de petróleo e gás.
Se olharmos o mapa da América do Sul, salta aos olhos que a integração elétrica do continente só poderá ser realizada com a participação central do Brasil. O mapa mostra que o Brasil ocupa o centro do continente, com 12 vizinhos, dos quais 10 são limítrofes. Portanto, sem o Brasil, qualquer esquema de intercâmbio elétrico na América do Sul só poderá ser realizado lateralmente, de um vizinho para outro, mas não muito além. Dificilmente se pode conceber, nas atuais condições políticas, econômicas e sociais, uma ligação, digamos, da Venezuela ao Chile atravessando a Colômbia, Equador e Peru. Com a participação o Brasil, tal integração poderia viabilizar-se, desde que formulemos claramente uma política que reflita nossos interesses e que deixe claro para nossos vizinhos as condições de nossa participação.
Na ausência de tal política, é muito provável que estaremos a reboque de iniciativas vicinais que atritarão com nossos interesses, o que acarretará desgaste político para rechaçá-las ou a necessidade de renegociá-las, a fim de adaptá-las ao nosso planejamento energético.
Como o Brasil detém a maior economia da região, é natural que nossos vizinhos queiram vender-nos energia, para viabilizar sua participação até em empreendimentos praticamente financiados só por nós, ou comprar energia brasileira para não realizar pesados investimentos.
Propostas como essas podem ser interessantes, desde que diminuam custos para ambas as partes e ajudem a consolidar o arcabouço das relações bilaterais.
Poder-se-ia, portanto, deduzir que interessaria ao Brasil desenvolver uma política de integração elétrica em bases bilaterais, de negociar com cada vizinho um programa em longo prazo de intercâmbio elétrico, mantendo assim sólido controle sobre o processo.
Que condições deveriam governar a negociação de tais programas?
Seriam várias, mas aqui me deterei em uma que considero crucial. Trata-se da quantidade de energia elétrica que deveríamos importar de cada parceiro. Quando se traz eletricidade de outro país, uma parte da economia do país importador fica refém daquela energia e, portanto, sujeita às instabilidades políticas e econômicas do país exportador, sobre a qual o importador não possui nenhum controle, o que evidencia que o intercâmbio de eletricidade é um relacionamento estratégico, que implica uma grande confiança mutua entre os parceiros. Qual o grau de confiança que o Brasil poderá ter em vizinhos, a ponto de lhes entregar o poder de decidir sobre quinhões de nossa economia à eletricidade importada deles?
A história recente da América do Sul na área energética não é animadora. Num exemplo recente, a Argentina cortou sem aviso prévio o fluxo de gás natural que alimentava termelétricas chilenas, produzindo séria crise naquele país.
Como resultado, o Chile está procurando diversificar suas fontes de gás, trazendo-o inclusive da Ásia. Vê-se logo que, se formos importar eletricidade, tem de ser em quantidades que posam ser imediatamente substituídas por produção nacional e utilizando nosso sistema interligado. Só assim poderemos evitar crises induzidas e chantagens políticas.
Como resultado de acordos mal negociados, o Brasil está sujeito a dificuldades nos seu relacionamento energético com a Bolívia e o Paraguai.
No caso específico do Paraguai, estamos vendo que um tratado internacional não nos exime de permanente cobrança com respeito a Itaipu, com a perspectiva de que o acordo recentemente negociado e ainda sujeito à aprovação do Congresso não satisfará o apetite paraguaio por mais dinheiro.
Um aspecto do acordo, inclusive, suscita preocupação à luz do que foi dito acima sobre confiabilidade entre parceiros energéticos. Diz o acordo que o Paraguai poderá vender quotas crescentes de sua parte da energia da binacional no mercado livre brasileiro. Essa energia vem sendo, de acordo com o Tratado, comercializada pela Eletrobrás, mas pelo esquema negociado, caberá agora à Ande (Administracion Nacional de Eletricidad) essa tarefa. Em outras palavras, o acordo tira da Eletrobrás, empresa em que a economia brasileira deposita total confiança, e colocará sob controle da Ande, que jamais gozará do mesmo grau de confiabilidade, 10% (a parte que cabe ao Paraguai na binacional) das necessidades de eletricidade da economia brasileira. Até prova em contrario, esse item do novo acordo dará ao Paraguai maior alavancagem ainda a exigir de nos mais concessões.
_____________
* Mário Augusto Santos é diplomata. Participou das negociações que deram origem ao Tratado de Itaipu
quarta-feira, 2 de setembro de 2009
1339) Pedagogia da jabuticaba e a jabuticaba da pedagogia...
A pedagogia é uma jabuticaba?
João Batista Araujo e Oliveira
Folha de S.Paulo, 18/08/2009
"A escola pode mudar a trajetória de vida das populações mais pobres. Não se trata de afirmação vazia. A evidência científica demonstra isso. Mas essa é ainda uma realidade de poucos países, notadamente Coreia, Hungria e especialmente Cuba.
Qual o segredo? Nenhum. A pedagogia não pode ser uma jabuticaba brasileira. Basta copiar o que fazem as boas escolas: programas de ensino claros, professores bem formados antes de entrar para o magistério, gestão escolar eficiente e uso de pedagogias adequadas.
O Brasil recebe, agora em agosto, um expert internacional para discutir com nossos especialistas a importância da pedagogia. Trata-se do professor Martin Carnoy, que, sob o patrocínio da Fundação Lemann, lança aqui o livro A Vantagem Acadêmica de Cuba, em que compara a eficácia do ensino naquele país com a ineficácia de Chile e Brasil.
Também em agosto um ciclo de seminários trará a seis capitais do país renomados especialistas como Clermont Gauthier (Universidade de Laval, Canadá), Roger Beard (Universidade de Londres), José Morais (Universidade de Bruxelas) e Nuno Crato (Academia Portuguesa de Matemática) para debater as pedagogias eficazes. O tema volta à cena e é um convite à reflexão.
Quem faz diferença, professor ou pedagogia? A resposta: os dois. A pedagogia sozinha não faz nada. O professor sem pedagogia também não. Bom professor é o que usa as pedagogias adequadas. Resta saber quais são essas pedagogias adequadas.
Nos últimos 30 anos, os tigres asiáticos e os países desenvolvidos descobriram que a qualidade da educação é o seu trunfo na economia global. Isso tem suscitado inúmeros avanços no conhecimento sobre o que funciona em educação. Métodos de pesquisa mais rigorosos têm propiciado conhecimentos cada vez mais consistentes e seguros nesse campo.
O que não funciona é quase tudo o que se apregoa nas faculdades de educação brasileiras. Os resultados disso são conhecidos. Confundimos pedagogia tradicional com tradição pedagógica e, usando esse pretexto, praticamente abolimos as pedagogias eficazes da sala de aula.
Mas, afinal, o que funciona? Quais as pedagogias eficazes? O leitor vai se surpreender com a falta de novidades.
Primeiro, precisamos ter objetivos claros sobre o que ensinar. Antigamente isso se chamava programa de ensino. Nos países desenvolvidos ainda responde por esse nome.
Segundo, devemos ter metas ambiciosas, estabelecidas por escolas e professores. Nos países da OCDE, mais de 80% dos alunos atingem as metas mínimas ao final do ensino fundamental.
Terceiro, o ensino deve ser organizado, o professor apresenta a matéria, explica, serve de modelo, dá exemplos, interage com os alunos. Revisões e a avaliação são frequentes -normalmente é semanal, no máximo, mensal. O dever de casa é regular -de todas, essa é a pedagogia mais eficaz.
O resto são detalhes específicos de determinadas disciplinas. Alguns exemplos: o currículo em espiral, que repete um pouco de tudo a cada ano, pode ser eficaz no ensino da língua, mas é comprovadamente desastroso em matemática: é preciso saber diminuir antes de aprender a dividir, por exemplo. A contextualização excessiva em matemática, que pode servir para motivar, dificulta o processo de transferência de aprendizagem: o ensino mais eficaz é o que leva rapidamente à abstração.
A superaprendizagem é fundamental -por isso os bons alunos sabem a tabuada de cor e resolvem muitos problemas.
Em ciências, a aprendizagem sólida dos conceitos e a capacidade de relacioná-los são mais importantes do que usar ou não laboratórios ou atividades práticas.
Saber fazer perguntas é mais significativo do que conhecer a resposta correta, mas fazer boas perguntas exige capacidade de observar e a orientação sobre o que e como observar.
Na alfabetização, métodos fônicos são superiores aos demais. Na leitura, é essencial adquirir e desenvolver fluência para poder compreender o que se lê. Dominar a ortografia e a sintaxe libera o cérebro para cuidar do sentido do que se escreve. No ensino da língua, o ensino da gramática no contexto da sintaxe da frase é mais eficaz do que o ensino de regras de aplicação genérica. E por aí vai.
Nada disso, é claro, funciona sem um professor que conheça o conteúdo, tenha o domínio da turma e a capacidade de ensinar de maneira organizada. Assegurado o conhecimento do conteúdo, o professor é tão bom quanto os métodos pedagógicos que domina. Portanto, o resgate do professor passa, necessariamente, pelo resgate da tradição pedagógica.
A evidência científica em todas as áreas de ensino é francamente favorável ao modelo instrutivista em contraposição ao modelo construtivista."
João Batista Araujo e Oliveira, psicólogo, doutor em educação, é presidente do Instituto Alfa e Beto e membro do grupo de estudo da ABC sobre aprendizagem infantil. Foi secretário-executivo do Ministério da Educação em 1995. Veja seu artigo publicado na Folha de S.Paulo:
João Batista Araujo e Oliveira
Folha de S.Paulo, 18/08/2009
"A escola pode mudar a trajetória de vida das populações mais pobres. Não se trata de afirmação vazia. A evidência científica demonstra isso. Mas essa é ainda uma realidade de poucos países, notadamente Coreia, Hungria e especialmente Cuba.
Qual o segredo? Nenhum. A pedagogia não pode ser uma jabuticaba brasileira. Basta copiar o que fazem as boas escolas: programas de ensino claros, professores bem formados antes de entrar para o magistério, gestão escolar eficiente e uso de pedagogias adequadas.
O Brasil recebe, agora em agosto, um expert internacional para discutir com nossos especialistas a importância da pedagogia. Trata-se do professor Martin Carnoy, que, sob o patrocínio da Fundação Lemann, lança aqui o livro A Vantagem Acadêmica de Cuba, em que compara a eficácia do ensino naquele país com a ineficácia de Chile e Brasil.
Também em agosto um ciclo de seminários trará a seis capitais do país renomados especialistas como Clermont Gauthier (Universidade de Laval, Canadá), Roger Beard (Universidade de Londres), José Morais (Universidade de Bruxelas) e Nuno Crato (Academia Portuguesa de Matemática) para debater as pedagogias eficazes. O tema volta à cena e é um convite à reflexão.
Quem faz diferença, professor ou pedagogia? A resposta: os dois. A pedagogia sozinha não faz nada. O professor sem pedagogia também não. Bom professor é o que usa as pedagogias adequadas. Resta saber quais são essas pedagogias adequadas.
Nos últimos 30 anos, os tigres asiáticos e os países desenvolvidos descobriram que a qualidade da educação é o seu trunfo na economia global. Isso tem suscitado inúmeros avanços no conhecimento sobre o que funciona em educação. Métodos de pesquisa mais rigorosos têm propiciado conhecimentos cada vez mais consistentes e seguros nesse campo.
O que não funciona é quase tudo o que se apregoa nas faculdades de educação brasileiras. Os resultados disso são conhecidos. Confundimos pedagogia tradicional com tradição pedagógica e, usando esse pretexto, praticamente abolimos as pedagogias eficazes da sala de aula.
Mas, afinal, o que funciona? Quais as pedagogias eficazes? O leitor vai se surpreender com a falta de novidades.
Primeiro, precisamos ter objetivos claros sobre o que ensinar. Antigamente isso se chamava programa de ensino. Nos países desenvolvidos ainda responde por esse nome.
Segundo, devemos ter metas ambiciosas, estabelecidas por escolas e professores. Nos países da OCDE, mais de 80% dos alunos atingem as metas mínimas ao final do ensino fundamental.
Terceiro, o ensino deve ser organizado, o professor apresenta a matéria, explica, serve de modelo, dá exemplos, interage com os alunos. Revisões e a avaliação são frequentes -normalmente é semanal, no máximo, mensal. O dever de casa é regular -de todas, essa é a pedagogia mais eficaz.
O resto são detalhes específicos de determinadas disciplinas. Alguns exemplos: o currículo em espiral, que repete um pouco de tudo a cada ano, pode ser eficaz no ensino da língua, mas é comprovadamente desastroso em matemática: é preciso saber diminuir antes de aprender a dividir, por exemplo. A contextualização excessiva em matemática, que pode servir para motivar, dificulta o processo de transferência de aprendizagem: o ensino mais eficaz é o que leva rapidamente à abstração.
A superaprendizagem é fundamental -por isso os bons alunos sabem a tabuada de cor e resolvem muitos problemas.
Em ciências, a aprendizagem sólida dos conceitos e a capacidade de relacioná-los são mais importantes do que usar ou não laboratórios ou atividades práticas.
Saber fazer perguntas é mais significativo do que conhecer a resposta correta, mas fazer boas perguntas exige capacidade de observar e a orientação sobre o que e como observar.
Na alfabetização, métodos fônicos são superiores aos demais. Na leitura, é essencial adquirir e desenvolver fluência para poder compreender o que se lê. Dominar a ortografia e a sintaxe libera o cérebro para cuidar do sentido do que se escreve. No ensino da língua, o ensino da gramática no contexto da sintaxe da frase é mais eficaz do que o ensino de regras de aplicação genérica. E por aí vai.
Nada disso, é claro, funciona sem um professor que conheça o conteúdo, tenha o domínio da turma e a capacidade de ensinar de maneira organizada. Assegurado o conhecimento do conteúdo, o professor é tão bom quanto os métodos pedagógicos que domina. Portanto, o resgate do professor passa, necessariamente, pelo resgate da tradição pedagógica.
A evidência científica em todas as áreas de ensino é francamente favorável ao modelo instrutivista em contraposição ao modelo construtivista."
João Batista Araujo e Oliveira, psicólogo, doutor em educação, é presidente do Instituto Alfa e Beto e membro do grupo de estudo da ABC sobre aprendizagem infantil. Foi secretário-executivo do Ministério da Educação em 1995. Veja seu artigo publicado na Folha de S.Paulo:
1338) Receita para o fracasso, com sucesso
Também acho que a Argentina é o mais bem sucedido exemplo de fracasso que temos no continente. Existem outros, mas ela ganharia um Prêmio Nobel da involução econômica, do retrocesso e dos equívocos continuados...
Sete receitas para fracassar com sucesso
José Pio Martins
Economista e Vice-Reitor da Universidade Positivo
Administradores e economistas gostam de travar batalhas verbais. Aqueles dizem conhecer os casos de sucesso do passado. Estes se esmeram em montar modelos de fracasso do futuro. Os primeiros lidam com a objetividade do fazer. Os segundos pretendem conhecer as fórmulas de crescer. Os administradores estudam os campeões, que chegam em primeiro. Os economistas gostam de examinar os cadáveres, que terminam em último. Na verdade, tanto economistas quanto administradores falam coisas boas e coisas ruins; coisas certas e coisas erradas. Todavia, tanto uns como outros falham em suas análises. Felizmente, a Constituição Federal protege o direito de enunciar bobagens. Então, aí vai minha contribuição.
Apesar do fracasso das teorias econômicas e de administração em explicar o que deu errado no mundo e qual o modelo seguro para o êxito, ao examinar os cadáveres insepultos das diversas crises é possível senão conhecer o caminho da salvação, pelo menos entender a receita da perdição. Confesso que me atrai, de forma especial, o retumbante fracasso da Argentina, que se transformou do sexto país mais rico do mundo num caso perdido devastado pela inflação.
Não tenho a pretensão de estar certo, mas listei seis receitas aplicadas na Argentina nos últimos 80 anos que, se não foram os únicos tiros no coração da economia portenha, seguramente estão no cerne do fracasso do país vizinho. Promover o desenvolvimento econômico não é tarefa fácil, sobretudo quando se parte do estado natural de pobreza. O que não dá para entender é como um país rico em recursos naturais, e um dos mais ricos do mundo em riquezas artificiais, tenha conseguido a proeza de trilhar o caminho inverso, descendo a ladeira da riqueza para a pobreza vigente, hoje, no país.
Seis são, a meu ver, as principais receitas que fizeram a Argentina fracassar com sucesso:
1) emitir moeda acima do crescimento da produção por anos a fio, criando uma história de inflação e destruição da moeda nacional;
2) eleger, por décadas, governos irresponsáveis e gastadores, fazendo do déficit público uma prática contumaz;
3) estatizar, privatizar e reestatizar importantes setores da infraestrutura nacional;
4) hostilizar sistematicamente o capital estrangeiro, por meio de legislação contra a entrada de empresas e de tecnologias de fora;
5) desenvolver a cultura do calote internacional, deixando de pagar os credores por diversas vezes, tirando o país da rota dos investimentos estrangeiros;
6) dar calotes sistemáticos na dívida pública interna, atirando contra a própria população, destruindo a cultura da poupança e fomentando a fuga de capitais;
7) desenvolver a crença, já enterrada no mundo inteiro, de que o desenvolvimento econômico é obra do governo e não dos empresários e das forças produtivas privadas.
Confesso que a Argentina é um país intrigante. Seria apenas intrigante não fosse trágico. Aquele povo não merece o destino que o país trilhou nos últimos 60 anos, e não é bom para a América do Sul que esse vizinho fracasse. Sobretudo porque quanto mais o país afunda, mais os políticos parecem acreditar que a salvação está exatamente nas teorias e nas receitas que destruíram a economia nacional.
Tenho um amigo Argentino que fez uma irônica piada. A Argentina – diz ele – segue, na economia, a mesma lógica do tango: só é interessante se for trágico, e se alguém morrer no fim. Você pode ver: na maioria dos tangos, sempre morre um argentino – encerrou ele. Ironias à parte, a Argentina é um laboratório de tudo o que não se deve fazer em matéria de gestão macroeconômica de um país.
Fonte:
Prof. José Pio Martins
Vice-Reitor
Universidade Positivo
(41) 3317-3010
Sete receitas para fracassar com sucesso
José Pio Martins
Economista e Vice-Reitor da Universidade Positivo
Administradores e economistas gostam de travar batalhas verbais. Aqueles dizem conhecer os casos de sucesso do passado. Estes se esmeram em montar modelos de fracasso do futuro. Os primeiros lidam com a objetividade do fazer. Os segundos pretendem conhecer as fórmulas de crescer. Os administradores estudam os campeões, que chegam em primeiro. Os economistas gostam de examinar os cadáveres, que terminam em último. Na verdade, tanto economistas quanto administradores falam coisas boas e coisas ruins; coisas certas e coisas erradas. Todavia, tanto uns como outros falham em suas análises. Felizmente, a Constituição Federal protege o direito de enunciar bobagens. Então, aí vai minha contribuição.
Apesar do fracasso das teorias econômicas e de administração em explicar o que deu errado no mundo e qual o modelo seguro para o êxito, ao examinar os cadáveres insepultos das diversas crises é possível senão conhecer o caminho da salvação, pelo menos entender a receita da perdição. Confesso que me atrai, de forma especial, o retumbante fracasso da Argentina, que se transformou do sexto país mais rico do mundo num caso perdido devastado pela inflação.
Não tenho a pretensão de estar certo, mas listei seis receitas aplicadas na Argentina nos últimos 80 anos que, se não foram os únicos tiros no coração da economia portenha, seguramente estão no cerne do fracasso do país vizinho. Promover o desenvolvimento econômico não é tarefa fácil, sobretudo quando se parte do estado natural de pobreza. O que não dá para entender é como um país rico em recursos naturais, e um dos mais ricos do mundo em riquezas artificiais, tenha conseguido a proeza de trilhar o caminho inverso, descendo a ladeira da riqueza para a pobreza vigente, hoje, no país.
Seis são, a meu ver, as principais receitas que fizeram a Argentina fracassar com sucesso:
1) emitir moeda acima do crescimento da produção por anos a fio, criando uma história de inflação e destruição da moeda nacional;
2) eleger, por décadas, governos irresponsáveis e gastadores, fazendo do déficit público uma prática contumaz;
3) estatizar, privatizar e reestatizar importantes setores da infraestrutura nacional;
4) hostilizar sistematicamente o capital estrangeiro, por meio de legislação contra a entrada de empresas e de tecnologias de fora;
5) desenvolver a cultura do calote internacional, deixando de pagar os credores por diversas vezes, tirando o país da rota dos investimentos estrangeiros;
6) dar calotes sistemáticos na dívida pública interna, atirando contra a própria população, destruindo a cultura da poupança e fomentando a fuga de capitais;
7) desenvolver a crença, já enterrada no mundo inteiro, de que o desenvolvimento econômico é obra do governo e não dos empresários e das forças produtivas privadas.
Confesso que a Argentina é um país intrigante. Seria apenas intrigante não fosse trágico. Aquele povo não merece o destino que o país trilhou nos últimos 60 anos, e não é bom para a América do Sul que esse vizinho fracasse. Sobretudo porque quanto mais o país afunda, mais os políticos parecem acreditar que a salvação está exatamente nas teorias e nas receitas que destruíram a economia nacional.
Tenho um amigo Argentino que fez uma irônica piada. A Argentina – diz ele – segue, na economia, a mesma lógica do tango: só é interessante se for trágico, e se alguém morrer no fim. Você pode ver: na maioria dos tangos, sempre morre um argentino – encerrou ele. Ironias à parte, a Argentina é um laboratório de tudo o que não se deve fazer em matéria de gestão macroeconômica de um país.
Fonte:
Prof. José Pio Martins
Vice-Reitor
Universidade Positivo
(41) 3317-3010
1337) O Apartheid em construcao no Brasil
Os comentários abaixo, encaminhados pelo Vinícius Portela, devem ser lidos em conexão com este post em outro blog meu.
Segunda-feira, Agosto 31, 2009
501) O apartheid em construcao no Brasil: NÃO no que depender de Demetrio Magnoli
Limito-me, neste momento, a transcrever estes comentários, sem adentrar no mérito dos argumentos, com os quais posso, ou não concordar.
Mas se trata de um assunto suficientemente importante para não passar à margem de nossas reflexões diárias. Apenas a falta de tempo me leva a deixar de formular comentários mais substantivos...
Transcrevendo:
"É curioso como na universidade é muito difundida a concepção de que nossa sociedade se apropria de ideologias exógenas. Contra essa "imposição da lógica do dominador", certos círculos universitários – para não fazer uma generalização indevida e de maneira a contemplar as dissonâncias, mesmo que tímidas – aguerridamente assumem uma postura combativa. A despeito da conotação ideológica, tal idéia não está de todo errada, visto que – parafraseando Millôr Fernandes – as ideologias, quando ficam velhinhas, vão morar no Brasil. Isso reflete em parte nosso debate pobre e desqualificado em que mesmo as idéias tidas como de vanguarda e contestatórias proferidas por certos membros insignes de nossa intelligentsia são compradas nos antiquários estrangeiros, como é o caso desse mito universitário.
Toda essa discussão acerca das cotas me fez lembrar quando, ainda bastante jovem, com 17 anos, fui ver uma palestra em que falava Abdias Nascimento. Foi nessa ocasião, em 2003, que ouvi falar pela primeira vez das ações afirmativas e na Fundação Ford. Elisa Larkin Nascimento, mulher de Abdias, foi quem explicou as ações afirmativas, salientando que as cotas raciais eram apenas um tipo de ação afirmativa que deveria andar junto com uma série de medidas para a integração do negro à sociedade e para a conseqüente eliminação do racismo, e não uma ação pontual para o benefício de negros, como defendiam os detratores de sua opinião – infelizmente, passados quase 6 anos não me lembro muito bem de suas palavras. Eu fiquei decepcionado com aquele encontro, eu esperava muito mais, esperava que ligassem a questão do negro à do pobre e propusessem ações concretas e eficazes para a superação dessa situação. Mas eles se contentavam, praticamente, só em entoar mantras lastimosos sobre a discriminação que sofriam e mais com a idéia de união do movimento, do “povo negro”, com todas as construções “imaginosas” típicas das afirmações de certos grupos e pouco calcadas numa avaliação mais sensata e apurada da realidade. Não estavam ali para uma discussão racional do problema. Isso me causou um certo desconforto, mas não o suficiente para me desviar o foco dalgo que me chamou muito a atenção: os tentáculos da FUNDAÇÃO FORD em dar muito do suporte ideológico para esses movimentos. Salvo engano, Elisa era ligada à essa fundação.
Este ano, tive aula com um professor favorável às cotas raciais. Basicamente, sua defesa estava pautada pelo argumento da filosofia prática desenvolvida nos EUA de que seria justo o tratamento desigual quando beneficiador dos desfavorecidos em condição imerecida. Assim, os negros não teriam culpa de serem, em geral, muito mais pobres do que os brancos, pois sua situação seria fruto quase que exclusivamente da escravidão a que foram submetidos no passado e da falta de políticas Estatais que viessem a integrar o negro à sociedade após a abolição da escravatura – no caso Brasileiro. É claro que essa é uma redução bastante grosseira de seu argumento. No entanto, com isso creio poder afirmar que seu argumento é muito mais elaborado do que o de Frei Davi e de muitos dos engajados no movimento negro.
Entretanto, penso que ignore muitos aspectos importantes que concorreram para a formação dessa realidade, pois se em geral, no Brasil, os negros constituem maciçamente aqueles que vivem em situação de miséria, na região sul, por exemplo, serão encontrados muitos brancos também, índios, mas é, claro, basicamente mestiços. Assim, o negro não é miserável, não é pobre porque é negro, ou por simples preconceito, mas por uma série de motivos de diversas ordens, dentre os quais a escravidão, mas que não podem ser reduzidos unicamente a este. Disso se segue que o argumento da “dívida histórica” com a população negra é extremamente discutível. Em verdade, se presta mais a uma figura de retórica na boca de líderes carismáticos e demagogos com um forte apelo emotivo.
Reuniões como aquela a que me referi, me fazem lembrar do que li em um certo livro de Peter Berger. Este ao se referir ao caso do negro nos EUA, dizia que era um ato de “má fé” tratar um ser humano exclusivamente como “negro”. Que esses receptores dessa identidade negativa eram muito propensos a aceitar as categorias de seus opressores, mas atribuindo um valor oposto a essa ficção. Assim, se impunha, em suas palavras, “um ‘orgulho de raça’ em lugar da vergonha anterior, construindo assim uma contraformação de racismo negro que não passa de sombra de seu protótipo branco”. Berger não descarta a utilidade de contraformações desse tipo para a organização da resistência à opressão, mas ressalta que “seja como for, estão fundadas em “má fé”, cujo poder corrosivo por fim cobra seu tributo, quando aqueles que adquiriram dolorosamente ‘orgulho de raça’, descobrem que adquiriram na verdade algo de muito vazio”.
Face a isso, penso que tais ecos dessas idéias no Brasil, além de não darem uma boa solução ao problema, criam outros também danosos, ao transpor para cá um modelo que nasceu numa sociedade de forte caráter sectário, de um racismo muito mais aflorado e concentrado, que teve leis discriminatórias como reflexo disso, diferente da sociedade brasileira que, a despeito de um racismo difuso, superou em parte tais problemas ao se “mestiçar” em um grau “incomparavelmente” maior. Uma semente de racismo made in USA.
Por fim, essas discussões sobre as cotas são um tanto infrutíferas e apresentam um forte viés “eleitoreiro” e – ressalto novamente – demagógico, pois tiram a atenção sobre os investimentos necessários na educação básica e profissionalizante – um dos meios efetivos que, aliado a outros, contribuem para a superação da pobreza – para se focar no acesso de certas “minorias” à universidade. Algo compreensivo, visto que no primeiro caso seria um investimento a longo prazo sem efeitos imediatos e sem a visibilidade que as ações afirmativas universitárias dão, além de que também se beneficiariam disso os estratos mais pobres da população, mas estes não são tão organizados quanto os estudantes universitários, na maior parte não estariam em idade de votar, nem agem como formadores de opinião. Realmente, é muito mais lucrativo afagar nossos universitários, bem como a tantos outros que vivem nas franjas r dos favores de nosso Estado paquidérmico. Para nossa desgraça, o tratamento objetivo de problemas e a proposta de políticas de Estado que os solucionem é algo muito mais raro em nossa política e no debate nacional, como bem prova a energia gasta com as cotas."
Vinicius Portela
Segunda-feira, Agosto 31, 2009
501) O apartheid em construcao no Brasil: NÃO no que depender de Demetrio Magnoli
Limito-me, neste momento, a transcrever estes comentários, sem adentrar no mérito dos argumentos, com os quais posso, ou não concordar.
Mas se trata de um assunto suficientemente importante para não passar à margem de nossas reflexões diárias. Apenas a falta de tempo me leva a deixar de formular comentários mais substantivos...
Transcrevendo:
"É curioso como na universidade é muito difundida a concepção de que nossa sociedade se apropria de ideologias exógenas. Contra essa "imposição da lógica do dominador", certos círculos universitários – para não fazer uma generalização indevida e de maneira a contemplar as dissonâncias, mesmo que tímidas – aguerridamente assumem uma postura combativa. A despeito da conotação ideológica, tal idéia não está de todo errada, visto que – parafraseando Millôr Fernandes – as ideologias, quando ficam velhinhas, vão morar no Brasil. Isso reflete em parte nosso debate pobre e desqualificado em que mesmo as idéias tidas como de vanguarda e contestatórias proferidas por certos membros insignes de nossa intelligentsia são compradas nos antiquários estrangeiros, como é o caso desse mito universitário.
Toda essa discussão acerca das cotas me fez lembrar quando, ainda bastante jovem, com 17 anos, fui ver uma palestra em que falava Abdias Nascimento. Foi nessa ocasião, em 2003, que ouvi falar pela primeira vez das ações afirmativas e na Fundação Ford. Elisa Larkin Nascimento, mulher de Abdias, foi quem explicou as ações afirmativas, salientando que as cotas raciais eram apenas um tipo de ação afirmativa que deveria andar junto com uma série de medidas para a integração do negro à sociedade e para a conseqüente eliminação do racismo, e não uma ação pontual para o benefício de negros, como defendiam os detratores de sua opinião – infelizmente, passados quase 6 anos não me lembro muito bem de suas palavras. Eu fiquei decepcionado com aquele encontro, eu esperava muito mais, esperava que ligassem a questão do negro à do pobre e propusessem ações concretas e eficazes para a superação dessa situação. Mas eles se contentavam, praticamente, só em entoar mantras lastimosos sobre a discriminação que sofriam e mais com a idéia de união do movimento, do “povo negro”, com todas as construções “imaginosas” típicas das afirmações de certos grupos e pouco calcadas numa avaliação mais sensata e apurada da realidade. Não estavam ali para uma discussão racional do problema. Isso me causou um certo desconforto, mas não o suficiente para me desviar o foco dalgo que me chamou muito a atenção: os tentáculos da FUNDAÇÃO FORD em dar muito do suporte ideológico para esses movimentos. Salvo engano, Elisa era ligada à essa fundação.
Este ano, tive aula com um professor favorável às cotas raciais. Basicamente, sua defesa estava pautada pelo argumento da filosofia prática desenvolvida nos EUA de que seria justo o tratamento desigual quando beneficiador dos desfavorecidos em condição imerecida. Assim, os negros não teriam culpa de serem, em geral, muito mais pobres do que os brancos, pois sua situação seria fruto quase que exclusivamente da escravidão a que foram submetidos no passado e da falta de políticas Estatais que viessem a integrar o negro à sociedade após a abolição da escravatura – no caso Brasileiro. É claro que essa é uma redução bastante grosseira de seu argumento. No entanto, com isso creio poder afirmar que seu argumento é muito mais elaborado do que o de Frei Davi e de muitos dos engajados no movimento negro.
Entretanto, penso que ignore muitos aspectos importantes que concorreram para a formação dessa realidade, pois se em geral, no Brasil, os negros constituem maciçamente aqueles que vivem em situação de miséria, na região sul, por exemplo, serão encontrados muitos brancos também, índios, mas é, claro, basicamente mestiços. Assim, o negro não é miserável, não é pobre porque é negro, ou por simples preconceito, mas por uma série de motivos de diversas ordens, dentre os quais a escravidão, mas que não podem ser reduzidos unicamente a este. Disso se segue que o argumento da “dívida histórica” com a população negra é extremamente discutível. Em verdade, se presta mais a uma figura de retórica na boca de líderes carismáticos e demagogos com um forte apelo emotivo.
Reuniões como aquela a que me referi, me fazem lembrar do que li em um certo livro de Peter Berger. Este ao se referir ao caso do negro nos EUA, dizia que era um ato de “má fé” tratar um ser humano exclusivamente como “negro”. Que esses receptores dessa identidade negativa eram muito propensos a aceitar as categorias de seus opressores, mas atribuindo um valor oposto a essa ficção. Assim, se impunha, em suas palavras, “um ‘orgulho de raça’ em lugar da vergonha anterior, construindo assim uma contraformação de racismo negro que não passa de sombra de seu protótipo branco”. Berger não descarta a utilidade de contraformações desse tipo para a organização da resistência à opressão, mas ressalta que “seja como for, estão fundadas em “má fé”, cujo poder corrosivo por fim cobra seu tributo, quando aqueles que adquiriram dolorosamente ‘orgulho de raça’, descobrem que adquiriram na verdade algo de muito vazio”.
Face a isso, penso que tais ecos dessas idéias no Brasil, além de não darem uma boa solução ao problema, criam outros também danosos, ao transpor para cá um modelo que nasceu numa sociedade de forte caráter sectário, de um racismo muito mais aflorado e concentrado, que teve leis discriminatórias como reflexo disso, diferente da sociedade brasileira que, a despeito de um racismo difuso, superou em parte tais problemas ao se “mestiçar” em um grau “incomparavelmente” maior. Uma semente de racismo made in USA.
Por fim, essas discussões sobre as cotas são um tanto infrutíferas e apresentam um forte viés “eleitoreiro” e – ressalto novamente – demagógico, pois tiram a atenção sobre os investimentos necessários na educação básica e profissionalizante – um dos meios efetivos que, aliado a outros, contribuem para a superação da pobreza – para se focar no acesso de certas “minorias” à universidade. Algo compreensivo, visto que no primeiro caso seria um investimento a longo prazo sem efeitos imediatos e sem a visibilidade que as ações afirmativas universitárias dão, além de que também se beneficiariam disso os estratos mais pobres da população, mas estes não são tão organizados quanto os estudantes universitários, na maior parte não estariam em idade de votar, nem agem como formadores de opinião. Realmente, é muito mais lucrativo afagar nossos universitários, bem como a tantos outros que vivem nas franjas r dos favores de nosso Estado paquidérmico. Para nossa desgraça, o tratamento objetivo de problemas e a proposta de políticas de Estado que os solucionem é algo muito mais raro em nossa política e no debate nacional, como bem prova a energia gasta com as cotas."
Vinicius Portela
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