quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Os doze trabalhos da boa governança - Paulo Roberto de Almeida

De vez em quando sou "despertado" para um trabalho antigo por algum estudante que precisa fazer um trabalho universitário, ou por um simples curioso, em busca de algum título apelativo dentre meus trabalhos que não está imediatamente disponível.
Pois acaba de me acontecer mais uma vez, ao receber esta mensagem:

"Por favor, gostaria se possível receber por e-mail seu artigo Os doze trabalhos da boa governança.
Antecipadamente agradeço
"

Já mandei, mas aproveitei para dar uma olhada, sem ler inteiramente (11 páginas é para quem tem tempo...).
Mas, nestes tempos em que temos de presidente uma "gerentona" (ao que dizem; e é isto, pelo menos, que nos querem fazer acreditar seus conselheiros de comunicação, gente que aliás eu detesto), parece que minhas regras de good governance ainda podem ter alguma utilidade.
Mas, eu sou um otimista: sempre acho que as pessoas no poder vão ser tão eficientes quanto um administrador a la Peter Drucker.
Acho que não. Mas espero pelo menos que eles deixem de roubar.
Acho que também não.
Enfim, seja o que for, vamos ao que interessa.
Paulo Roberto de Almeida

440. “Os doze trabalhos da boa governança”, revista eletrônica Espaço Acadêmico (nº 34, março 2004, ISSN: 1519.6186; link: http://www.espacoacademico.com.br/034/34pra.htm); boletim Análi$e da economia regional para homens de negócio (Porto Alegre: nºs 377 a 379, 26 de abril de 2004), p. 5-8. Relação de Trabalhos nº 1214.

Os doze trabalhos da boa governança
Paulo Roberto de Almeida

Nestes tempos em que atitudes éticas e posturas responsáveis são, não apenas necessárias mas, absolutamente indispensáveis para guiar a conduta dos homens públicos (e mulheres idem) e para inspirar, pelo exemplo, os que estão empregados nesse imenso setor do terciário que tem a ver com a chamada res publica, decidi retomar reflexões antigas (mas nem por isso menos úteis) e alinhar num papel – eufemismo para a tela do computador – algumas simples regras de boa administração dessa “coisa pública”. As reflexões surgiram em primeiro lugar no contexto da transição política no Brasil – área na qual outras considerações já foram consolidadas em meu livro A Grande Mudança: consequências econômicas da transição política no Brasil (São Paulo: Códex, 2003) – mas elas podem ser vistas como “atemporais” e não determinadas geograficamente.
Como só consegui chegar até uma dúzia delas, pensei que poderia identificar o conjunto por meio de um título “apelativo”, que relembrasse o antigo herói da mitologia grega. Não é obviamente o caso, mas o evocativo parece suscetível de transmitir uma idéia aproximada das reais dificuldades que podem ser encontradas na implementação dessas tarefas da governança. Com efeito, os maiores problemas que se apresentam, nos dias de hoje, no processo de melhoria nas condições de vida e bem-estar das populações, em países ricos ou pobres, não são aqueles derivados da falta de recursos ou de meios técnicos para sua solução, mas provêm, tão simplesmente, da incompetência institucional.
Estes doze novos “trabalhos” podem ser vistos, pelo seu lado de administração da informação, como uma estratégia para a conquista consensual, ou para o convencimento, da maioria, não como uma forma de imposição da vontade do dirigente político. Pelo seu lado de “conselhos” ao dirigente, eles podem ser colocados naquela mesma cesta de recomendações “úteis” ou de observações sobre as técnicas de comando que, desde Kautylia e Maquiavel, vêm enriquecendo a literatura da governança política, sem que se saiba, exatamente, se elas provocam uma melhoria real na qualidade da gestão sobre os homens (e mulheres). Não me parece que elas tenham sido testadas ou controladas por algum órgão gestor dos orçamentos e da moralidade públicas, mas isso não representa um impedimento a que algum voluntário queira fazer alguma verificação empírica sobre sua consistência e adequação intrínseca às tarefas atuais de uma boa governança. Afinal de contas, o teste do pudim, como se diz, vem no ato de comê-lo.
As regras não estão concebidas em intenção de algum serviço estatal particular, nem foram pensadas como devendo aplicar-se exclusivamente a algum país determinado, mas o autor não tem nada contra, muito pelo contrário, a que cada um faça a leitura geográfica que bem lhe aprouver. Em todo caso, sem pretender a que estas regras sejam seguidas, ou sequer consideradas, por dirigentes concretos, num certo país de índole cordial e receptivo a modas as mais bizarras, transcrevo aqui os meus novos trabalhos para algum candidato a Hércules da burocracia deste começo de século 21. Bom proveito aos que pretenderem delas utilizar-se (não pretendo cobrar copyright pelo seu uso).
Apresento primeiro um resumo “literário” desses “novos trabalhos de Hércules”, para depois tecer considerações mais elaboradas sobre cada um deles:

1) Mais administração para resultados, menos declarações genéricas;
2) Antes a seleção pelo mérito do que a escolha corporativa;
3) Prefira uma ação sobre os fins, antes que sobre os meios;
4) Melhor proteger a manada, mesmo que tenha de sacrificar algum animal;
5) Entre a focalização e a universalização, fique com ambas;
6) Auto-publicidade é uma forma perversa de gastar recursos públicos,
7) Conselheiros do príncipe costumam atuar por ensaio e erro: rejeite riscos;
8) Não há conversa em “petit comité” que não escape para a “grande assembléia”;
9) Não distribua favores restritos, coloque tudo em regime de competição;
10) O grande critério de seleção é o benefício para o maior número: abra, portanto;
11) Mercados globais sempre serão melhores do que a “preferência nacional”;
12) O desenvolvimento é uma atitude mental: não existe mais “terceiro mundo”.

Voilà: parece um pouco desordenado e obscuro, mas tudo tem uma razão de ser, segundo os critérios da eficácia social e das melhorias na governança que são os privilegiados neste ensaio reflexivo.
Vamos agora a considerações mais elaboradas sobre cada um dos “trabalhos”.

Primeiro trabalho: Esqueça Antonio Gramsci; adote Peter Drucker.
Já passou o tempo de acreditar na validade conceitual ou mesmo prática dessa conversa de “hegemonia ideológica”: isso valia para uma fase em que a sociedade era feita de poucos homens instruídos, em que a política era oligárquica, isto é, dominada por uns poucos iluminados, na qual mesmo a ação dos partidos ditos progressistas, ou de base operária, tinha de se apoiar sobre uma liderança aguerrida, disciplinada, que detinha a chave do futuro e se dedicava a liderar os demais na conquista e na manutenção do poder. Hoje em dia, graças à disseminação da educação e aos meios de comunicação, todos são razoavelmente bem informados sobre a maior parte das tarefas governativas.
O que vale mesmo, hoje em dia, é a boa gestão da coisa pública: honestidade, transparência, responsabilidade e, sobretudo, eficácia (ou eficiência, se preferirem). Por isso mesmo, creio que o velho (mais de 90 anos em 2004) Peter Drucker, economista austríaco naturalizado americano e guru das técnicas de administração para resultados, apresenta imensas vantagens comparativas intelectuais sobre seu quase contemporâneo (menos de uma geração) Antonio Gramsci. Deixe a retórica de lado, e passe a valorizar a ação concreta na busca de resultados efetivos para os fins almejados. Você prefere se alimentar de discursos ou ver as medidas de interesse público serem implementadas de modo razoavelmente barato, efetivo e transparente?


Segundo trabalho: Não ocupe pela conquista, selecione pelo mérito.
Esta é uma derivação da tarefa anterior, no sentido em que, com a complexidade atual da administração pública, não se pode fazer uma boa gestão, com resultados pelo menos razoáveis, se se parte da idéia de que os únicos capazes para realizar os objetivos da mudança paradigmática são os iniciados e os membros da confraria, quando eles nem sempre possuem o instrumental teórico e técnico para o desempenho de funções especializadas que requerem conhecimento específico e um certo treino funcional. Por isso, pense em primeiro lugar nos resultados e atribua ao mérito a parte que lhe cabe nos processos de escolha do pessoal de apoio. Quanto aos menos preparados, faça-os se habilitarem para as novas funções, seja por esforço próprio, seja por estágios apropriados aos novos requerimentos do ofício.

Terceiro trabalho: Não siga publicitários ou comunicólogos: vá direto à questão.
É uma velha mania das lideranças inseguras, a de se precaver quanto a possíveis iras do povo miúdo mediante campanhas otimistas, bem direcionadas quanto ao foco e quanto ao objeto (apenas que contornando o problema real). Trata-se do velho hábito de esconder os problemas concretos fazendo apelo aos meios, antes que se ocupando dos fins. Como regra de princípio, este tipo de procedimento não costuma sustentar-se por muito tempo, por isso a única recomendação possível, em casos de necessidade urgente, seria a de deixar as relações públicas de lado e se ocupar diretamente da substância das questões públicas, pela via a mais reta possível. Supondo-se, é claro, que você consiga fazer um diagnóstico razoável da questão e das formas mais adequadas de encaminhá-la.

Quarto trabalho: Rejeite demandas de grupos, ataque os problemas da maioria primeiro.
O poder tem isso de incômodo que ele atrai um bando de arrivistas, oportunistas e aproveitadores de todos os matizes, cores e orientações políticas. A maior parte das moscas reais estão em busca de vantagens pessoais, mas numa sociedade organizada como a que vivemos, com incontáveis grupos de interesse e de associações de classe, o mais frequente de ocorrer é a mobilização dessas corporações organizadas que tentam convencê-lo de que seu interesse específico se confunde com o interessa da Nação como um todo. Não acredite nesse tipo de argumento: geralmente, os interesses da Nação não têm, salvo engano, representantes desinteressados que deles se podem fazer porta-vozes. Eles são difusos e, quando concretos, costumam interessar prioritariamente aos mais humildes, que não têm o hábito de se fazer ouvir nos corredores do poder.
Se você não consegue definir quais são os problemas da maioria, existe um modo muito prático e simples de encaminhar esse tipo de diagnóstico: consulte um desses anuários de desenvolvimento social – do PNUD ou do Banco Mundial, por exemplo – e veja as tabelas comparativas de serviços básicos (saneamento, serviços públicos etc.), os indicadores de saúde (sobretudo os fatores de morbidade) e de educação, bem como os resultados de testes de qualidade setorial. Eles darão um retrato imediato de como o seu país se situa na escala da (in)felicidade humana, o que se traduz imediatamente num programa de prioridades governamentais.

Quinto trabalho: Se tiver de definir setores, faça as políticas mais horizontais possíveis.
Nem sempre é fácil escapar de demandas setoriais: elas são o próprio de sociedades complexas que definem métodos próprios de encaminhamento de problemas técnicos, o que necessariamente envolve temas de natureza restrita a determinados grupos da sociedade. Dessa forma, algumas políticas serão dirigidas a alguns setores apenas da sociedade, ainda que com propósitos generalizantes.
Mas, não se deixe arrastar pelo falso debate entre, de um lado, a universalização dos serviços públicos e, de outro, a focalização das medidas de apoio governamental em favor de uma determinada categoria de cidadãos. Sendo os recursos escassos, e as pessoas desigualmente dotadas por motivos de berço ou de formação, nem sempre é possível atender a todos ao mesmo tempo, daí uma inevitável seleção dos beneficiários desses recursos a partir de alguns simples critérios de escolha por prioridades visíveis. As políticas públicas sempre serão, ao mesmo tempo, universais e focalizadas, mas o ideal é que a definição dos setores não seja excludente.
Esse debate sempre surge a propósito das políticas setoriais, das quais a industrial está sempre na linha de frente para receber algum tratamento favorecido por parte do governo. De fato, a experiência histórica indica que é na indústria que os ganhos derivados da inovação técnica e tecnológica, e portanto os aumentos de produtividade, costumam ter efeitos em cadeia e impactos redistributivos sobre o conjunto da sociedade, cabendo portanto aos governos estimular o progresso industrial. Este é um fato: mas cabe portanto aos governos estimular o progresso técnico da indústria como um todo, não necessariamente uma determinada indústria em particular, ainda que ela possa parecer estratégica ou “fundamental” para a competitividade internacional do país.
A experiência histórica é ainda mais conclusiva a respeito dos ganhos gerais para a economia, em todos os setores, derivados da capacitação em recursos humanos. Como regra de princípio, portanto, prefira as políticas industriais que atuam sobre as condições de inovação tecnológica do conjunto da sociedade, e deixe que ela mesma introduza os aperfeiçoamentos industriais que se revelarem úteis para o bem-estar social.

Sexto trabalho: Não acredite em propaganda governamental, deixe que os meios de comunicação informem sobre suas realizações.
Cada macaco no seu galho: o governo é pago para trazer segurança ao conjunto dos cidadãos, empreender obras públicas de mais longa maturação, criar as condições ideais para que todos possam exercer seus talentos com um mínimo de igualdade de chances na partida competitiva, o que implica em investimentos de educação e saúde, com alguma proteção seletiva aos menos favorecidos. Fazendo isso bem, os próprios governados se encarregarão de divulgar e “propagandear” o que o governo faz de bom.
Isso de publicidade institucional serve apenas para dar dinheiro fácil àqueles mesmos que devem viver de sua capacidade de “vender” algo de útil do ponto de vista da demanda do consumidor: entre duas opções, pode-se escolher ficar com a mais bem vendida do ponto de vista da publicidade, não necessariamente a de melhor qualidade ou menor preço, mas isso é um problema de microeconomia do bem-estar que será resolvido pela liberdade de escolha do consumidor. O governo disponibiliza “bens públicos”, que normalmente não necessitam de campanhas publicitárias, pois seus critérios de escolha ou de preço não são os mesmos da economia privada. Quanto ele tiver de fazer alguma campanha de informação, não faltarão meios adequados para isso. Deixe que os meios de comunicação se ocupem dos demais “produtos” governamentais: é mais barato e mais honesto.

Sétimo trabalho: Pratique a arte de escalpelar acadêmicos, ou melhor: ignore-os.
Conselheiros do príncipe costumam ser idealistas, sonhadores, ingênuos e, no geral, pouco eficientes, na medida em que eles pretendem se ocupar de todas as esferas do conhecimento humano e acabam tendo uma visão superficial sobre cada uma delas, numa era manifestamente complexa e diversificada. Melhor, assim, confiar em tecnocratas especialmente treinados para elaborarem diagnósticos e propostas de ação em seus campos de ação respectivos. Eles costumam ser mais práticos e são bem mais baratos, na medida em que qualquer proposta de acadêmicos bem intencionados custa rios de dinheiro: estes estão sempre querendo revolucionar o mundo ou provar alguma teoria, o que necessariamente provoca despesas desproporcionais do ponto de vista dos minguados orçamentos públicos.

Oitavo trabalho: Não aceite pequenos conluios, acabará aceitando os grandes também.
Os grandes princípios éticos são geralmente agitados em período eleitoral e depois esquecidos na fase prática da governança. Aí é que começa o perigo, pois sempre haverá alguém disposto a “provar” que “este” problema é mais “urgente” do que outro ou que ele requer “medidas especiais” de implementação. Os problemas do diálogo para a busca de soluções tópicas a questões concretas também surgem nesse momento, pois que se deve passar da fase das declarações gerais destinadas ao grande público para a de soluções técnicas a problemas localizados.
As “pequenas” soluções de facilidade, como aquele mecanismo simples destinado a financiar, de modo “indolor”, determinada atividade pública, podem transformar-se, quando menos se espera, em grandes problemas, que só trazem dificuldades aos governantes. Por isso mesmo, pense duas vezes quando for confrontado, ou apresentado, a algum expediente “inovador” no campo da governança: geralmente vai se descobrir que ele já foi apresentado antes (e rejeitado por “heterodoxo”, digamos assim) e que pode provocar, numa análise mais acurada de custo-benefício, grandes despesas depois.

Nono trabalho: Regule pela concorrência, não pelo monopólio.
O princípio da concorrência é uma dessas coisas mais bem aceitas, no plano da teoria, e mais denegadas no terreno da prática. A competição entre muitos ofertantes costuma redundar em uma certa anarquia de situações, nos mercados de bens e serviços, o que pode obviamente perturbar a paz de espírito de algum dos competidores. Ela reduz os ganhos de todos os ofertantes, obriga todos eles a buscar cada vez mais inovações incrementais que diferenciem o seu produto do do concorrente e, pasmem, traz maior volume de opções e menores preços aos consumidores. Ideal no papel, não é mesmo?
Na prática, os concorrentes estão sempre procurando eliminar rivais, buscam com eles formar cartéis ou, no limite, procuram a situação “ótima” da reserva de mercado com pouco ou nenhum risco de concorrência. Governos costumam ser muito mais sensíveis a pleitos de produtores organizados do que aos desejos de consumidores desorganizados, daí o possível surgimento de normas e regulamentos que limitam, de fato, a competição. Os exemplos são muitos e não é preciso delongar-se neles aqui, bastando com citar, por exemplo, o caso da telefonia. Nesta área quanto mais “anarquia” concorrencial, melhor para os usuários, desde que observadas certas regras de fiabilidade no serviço.
Em muitas outras áreas, inclusive e também em determinados serviços públicos, a melhor forma de corrigir distorções de mercado derivadas da baixa qualidade da oferta seria ampliar as franquias para a exploração dos mercados de bens e serviços. Por que, por exemplo, só se pode ter uma única grande estatal explorando pétroleo, refinando o produto e distribuindo seus derivados? (Sei que já não mais ocorre esse monopólio, mas ele foi durante muito tempo defendido não se sabe bem em nome de quais princípios de economia pública.) Por que um presídio tem necessariamente de ser operado diretamente pela autoridade pública, em lugar de passar por uma espécie de “leilões de presos”, regime no qual ofertantes passam a “comprar” condenados do setor judicial ao melhor preço de mercado, para uma prestação determinada de serviços – guarda, reeducação, eventual reinserção no mercado de trabalho – como aliás já ocorre hoje no setor de saúde? São provavelmente idéias ousadas, mas que podem despertar algum desejo de se ter mais concorrência em serviços que se considera como “exclusivos do Estado”.

Décimo trabalho: Analise os efeitos distributivos de cada medida proposta.
Não há nenhuma novidade no que vai dito aqui, mas geralmente se tende a esquecer que a regulação de determinadas atividades públicas tem por objetivo ampliar a disponibilidade de bens e serviços aos cidadãos, não arrecadar mais recursos para o próprio Estado. Os governos constituídos – em todos os níveis – se tornaram as mais poderosas máquinas de arrecadação de recursos que já se conheceram em toda a história, deixando aos contribuintes (empresas e cidadãos) apenas as opções de pagar ou evadir. Muitos recorrem a diferentes mecanismos de evasão ou elisão fiscais, o que justifica uma ampliação ainda maior dos investimentos públicos nos meios (controle da arrecadação, processos, punição etc.), antes que nos fins, eternizando assim o circulo vicioso que consiste em ver o governo trabalhando para o próprio governo.
Quando se fala em analisar os efeitos distributivos de uma determinada medida, não se está obviamente recomendando o distributivismo compulsivo: ele geralmente é demagógico e economicamente desarticulador das atividades produtivas, já que costuma atuar sobre os estoques de riquezas existentes, antes que sobre os fluxos que poderiam ser criados a partir do estímulo contínuo a novas atividades econômicas potenciais. Efeitos distributivos são justamente aqueles que derivam de uma maior capilaridade social dos investimentos públicos, que devem atingir os setores mais carentes relativamente, com vistas a integrá-los num mercado mais amplo de bens e serviços de amplo consumo. Por exemplo: o contrário ocorre com determinadas políticas governamentais – como a PAC da União Européia – de subsídios públicos na área agrícola, já que não se tem, de fato, insegurança alimentar e o dinheiro canalizado é subtraído de utilizações alternativas que poderiam ter maior impacto sobre o emprego e a renda de um maior número de cidadãos.

Décimo-primeiro trabalho: Entre um sistema aberto ao mundo e outro estritamente nacional, prefira o primeiro.
Não há mais nenhuma diferença, hoje, entre mercados nacionais e mercados internacionais, pelo menos na vasta gama de produtos e serviços uniformes (ou indiferenciados) que são consumidos pelos cidadãos, inclusive em áreas aparentemente exclusivas da “cultura” nacional como podem ser os serviços educacionais ou de lazer. Ao contrário, quanto maior a escala de mercado, maior a chance que o seu “produto nacional” possa ser também consumido em outros países, aumentando, portanto, suas vantagens de escala e a produtividade dos fatores de produção. Reservas de mercado, leis do “similar nacional” são cerceadoras da preferência dos consumidores e só servem para consagrar pequenos monopólios ou grandes cartéis que não ajudam em nada a elevação dos padrões de competitividade da economia nacional nos mercados globais, que hoje constituem a característica essencial do mundo interdependente em que vivemos.
Por isso mesmo não acredite quando lhe disserem que “vantagens comparativas” são uma invenção do século 18, que não se aplicam mais ao mundo do conhecimento em que se transformou a economia moderna. O princípio continua mais válido do que nunca, inclusive e principalmente nas novas áreas de atividade produtiva, como na já referida economia do conhecimento. Aliás, quem primeiro falou em “inteligência” como fator de produção, foi um contemporâneo brasileiro de David Ricardo, José da Silva Lisboa, num tempo em que todos eram “filósofos morais” e não economistas. Mercados amplos apresentam possibilidades muito maiores do que mercados cativos ou nacionais, daí uma preocupação constante em trabalhar em regimes abertos aos talentos individuais, antes do que fechados aos interesses de pequenos grupos.

Décimo-segundo trabalho: Acabe com dogmas e restrições mentais: o Brasil não é periferia.
Proposição ousada essa, pois não? Claro que existem economias “centrais”, que “extraem” recursos e mais valia de regiões ditas “periféricas”, mas isto se dá em qualquer sistema ou sociedade, inclusive num âmbito estritamente familiar, por exemplo. Quem organiza uma determinada atividade, distribui custos e concentra benefícios, mas para isso é preciso competência ou autoridade. Antigamente valia a autoridade paterna ou a da conquista; hoje em dia, elas têm cada vez menos capacidade de domínio ou prevalência, passando a ser substituídas pela capacitação própria em organizar sistemas complexos de produção e distribuição de bens e serviços. Por outro lado, aquela coisa de “primeiro mundo” ou “terceiro mundo” simplesmente acabou com o desaparecimento do segundo.
Com efeito, poucos se dão conta que a geopolítica mudou e com ela a relação que os diferentes atores de um mesmo mundo mantêm entre si: já não se está mais levando em consideração a atitude política que esses atores possam ter em relação a algum grande projeto organizador da humanidade – capitalismo, socialismo, essas coisas velhas –, mas apenas e tão simplesmente a atitude que se vai adotar em relação aos desafios do mundo global. Nesse sentido, o problema do desenvolvimento é de fato uma questão de atitude mental, pois tornaram-se peremptas aquelas teorias “conspiratórias” que faziam da exploração de alguns (ou de muitos, contavam algumas histórias) a condição da riqueza e do progresso de outros (os poucos).
Hoje em dia, provavelmente 90% do estoque acumulado de todo o conhecimento humano está livremente disponível para consulta, absorção, cópia e transformação em caráter irrestrito, inclusive de forma cada vez mais acessível nos sistemas abertos e online. Ou seja, não há mais limitação técnica – salvo no sentido estritamente material – ao aproveitamento dessas oportunidades de enriquecimento pessoal e coletivo, o que deveria, normalmente, diminuir as barreiras à entrada de mais sociedades em patamares mais avançados de bem-estar e conforto material.
O fato de que essa “convergência” de padrões de vida tenha alcançado, até aqui, uma fração restrita da humanidade, não se deve a nenhum complô desses países “ricos” no sentido de impedir que sociedades mais pobres conheçam padrões mais avançados de bem-estar, mas se explica pela incapacidade gerencial, ou de governança, das sociedades do chamado “terceiro mundo”. Terminando com nosso próprio exemplo nacional: todos os problemas brasileiros se devem à nossa própria incapacidade em solucioná-los dentro dos limites do sistema nacional, eventualmente com aproveitamento das experiências e conhecimentos já disponíveis a partir da trajetória das sociedades mais avançadas. Nenhum deles tem origem no exterior e eles não terão solução sem uma concentração de esforços no próprio país. Não acredita?: tente identificar uma “tragédia” nacional que se deve exlcusivamente a causas externas. Se encontrar, gostaria de ser avisado…

Paulo Roberto de Almeida
[1º versão: Washington, 1º de setembro de 2003]
[Revisão: Brasília, 23 de fevereiro de 2004]

Os economistas mais relevantes da decada - The Economist

Free exchange - Economics
Economics' most influential people
by R.A.
The Economist, February 1st 2011

WASHINGTON - AS THE world economy emerges from recession and great new questions and challenges appear, the economics profession has engaged in a little self-reflection. Economists are asking themselves what, in fact, they've learned from their recent work and what the profession ought to focus on moving forward. With this reflection has come some reassessment of the profession's leading lights; the economists that offered the best guidance in the 2000s might not be the ones leading the way this decade.

To get a sense of current economist opinion, we turned to the experts at Economics by invitation. We asked them which economists were most influential over the past decade. And we asked them to give their thoughts on which economists were doing most to shape post-crisis thinking.

Many of the respondents submitted detailed explanations with their answers. Click here to see their contributions. I was struck by a few common themes—the idea that humility and a generalist approach to economics have been rewarded, the continued influence of the profession's founding fathers, and the sense that post-crisis economics is a wide-open place. Do read all the contributions.

But we also tallied the nominations for most influential, and the results are interesting. Asked which economist was most influential over the past decade, the network resoundingly answered, with seven individual nominations: Ben Bernanke. John Maynard Keynes was next, with four. Jeff Sachs, Hyman Minsky, and Paul Krugman followed with three, and Adam Smith, Robert Lucas, Joseph Sitglitz, Friedrich Hayek, and Alan Greenspan each had two. There were 26 other economists with a single nomination each*.

We followed up that question with another—which economists have the most important ideas in a post-crisis world? With four nominations, the leader here was Raghuram Rajan. Robert Shiller and Kenneth Rogoff each had three votes, Barry Eichengreen and Nouriel Roubini had two, and there were 13 other economists nominated once**.

This obviously isn't a scientific poll of the profession, but it is interesting to get some sense of from where the profession sees its influence emanating.

*Richard Thaler, Robert Shiller, Andrei Schleifer, David Laibson, Daron Acemoglu, Barry Eichengreen, Ronald Coase, Ernst Fehr, Esther Duflo, Abhijit Banerjee, Manmohan Singh, Irving Fisher, John Taylor, Larry Summers, Kenneth Arrow, Robert Solow, George Akerlof, Martin Feldstein, Nouriel Roubini, Charles Goodhart, Ricardo Caballero, Amartya Sen, Tyler Cowen, Steven Levitt, Deidre McCloskey, and Milton Friedman.

**John Maynard Keynes, Paul Krugman, Friedrich Hayek, John Taylor, Kenneth Arrow, Viral Acharya, Carmen Reinhart, William White, Willem Buiter, Charles Calomiris, Gary Gorton, Olivier Blanchard, Douglas Diamond.

Click here to see their contributions

Bolsas de estudo - Fundacao Estudar

Serviço de utilidade pública (ou pelo menos estudantil):

A Fundação Estudar está com inscrições abertas para o Processo Seletivo 2011 de seu programa de bolsas de estudos. A Fundação apoia estudantes talentosos nas graduações e pós-graduações em Administração, Direito, Economia, Engenharia, Relações Internacionais, entre outros cursos, nas melhores instituições de ensino do Brasil e do exterior. O aluno interessado no programa de bolsas da Fundação Educar deverá consultar o site www.fundacaoestudar.org.br
Informações adicionais: fundacao@estudar.org.br

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Pausa para... a vida como ela é (a la Nelson Rodrigues)

Apenas dois comentários: a Igreja é um empregador consciencioso, que se preocupa com o padrão moral de seus empregados. Neste caso se supõe que o frei pecador esteja suspenso sem vencimentos, não como ocorre com certos juízes e procuradores corruptos por aí, que mesmo suspenso de suas funções por investigações ligadas a corrupção, continuam recebendo seus vencimentos.
Por outro lado, pode-se dizer que a Igreja já não forma mais padres como antigamente, ou talvez isso seja apenas um reflexo da transparência, câmeras de video-vigilância, etc. O papa Bento 16, quando era bispo, ou cardeal, explorou a questão do celibato dos padres, um assunto que vai voltar à pauta da Igreja no próximo papado...
Paulo Roberto de Almeida

MT: Igreja Católica suspende e destitui frei flagrado com adolescente em motel
Fernando Teixeira
O Globo, 01/02/2011

CUIABÁ e SÃO PAULO - A Igreja Católica decidiu suspender do exercício sacerdotal o frei Erivan Messias da Silva, preso ao sair de um motel acompanhado de uma adolescente de 16 anos, em Várzea Grande, Mato Grosso, nesta segunda-feira. O arcebispo de Cuiabá, Dom Milton Santos, divulgou uma nota sobre o caso. Ele disse que sente repulsa pelo que ocorreu.

O religioso, de 50 anos, e a adolescente entraram com o carro da paróquia em um motel por volta das 14 horas. Quando saíram, por volta das 17 horas, a polícia efetou a prisão.

A delegada da delegacia de defesa da mulher, Juliana Palhares, ressalta que fez o flagrante após denúncia anônima.

- Houve denúncia de um comportamento estranho do frei em relação à menor. A denúncia não foi por assédio contra outras adolescentes ou mulheres da paróquia. A partir daí, a polícia monitorou e no mês de janeiro intensificamos as investigações até chegar à prisão dele. A menor era, praticamente, namorada dele - diz a delegada.

Juliana relata ainda que o frei conhecia e era próximo da família da vítima, o que agrava o crime. Segundo informações do site da Arquidiocese, o frei foi ordenado em 1989. Confira abaixo o comunicado oficial da Arquidiocese de Cuiabá:

"Diante dos fatos ocorridos com o FREI ERIVAN MESSIAS DA SILVA, NA TARDE DE 31 DE JANEIRO DE 2011, EM VÁRZEA GRANDE, MT, manifestamos nossa consternação e repulsa pelo fato ocorrido com uma jovem de dezesseis anos.

No tocante à Arquidiocese de Cuiabá já notificamos de imediato ao interessado a SUSPENSÃO DO EXERCÍCIO DO MINISTÉRIO SACERDOTAL E A DESTITUIÇÃO DE PÁROCO DAS PARÓQUIAS NOSSA SENHORA MÃE DOS HOMENS E NOSSA SENHORA DE GUADALUPE.

Os demais encaminhamentos serão conduzidos pelos Superiores da Ordem/Congregação à qual pertence o Frei.

Milton Santos - Arcebispo

Cuiabá, 01 de fevereiro de 2011."

A tragedia da educacao brasileira - Percival Puggina

Apenas transcrevendo, com alguns comentários, e julgo ser suficientemente eloquente...

A crise dos trabalhadores em educação
por Percival Puggina
Mídia Sem Máscara, 17 de janeiro de 2011

Houve um tempo, longo tempo, tempo que cruza os séculos, em que o professor era símbolo de autoridade no pequeno e gigantesco espaço da sala de aula. Note-se que autoridade é um atributo moralmente superior ao poder, mas, quando fosse necessário, a valiosa autoridade do professor, fundada no saber e na conduta, vinha respaldada por poder. Nas últimas quatro décadas, infelizmente, a educação brasileira foi atacada em dois flancos pela esquerda delirante. E tanto a autoridade quanto o valor econômico e social do trabalho dos professores, reconhecidos há milênios em todas as civilizações, desabaram fragorosamente em nosso país.

Por um dos flancos, fustigou-a aquilo que Nelson Rodrigues chamava de Poder Jovem, acolhido entre aplausos por pedagogos de meia tigela como expressão de libertação para a criatividade. Todo poder ao jovem! A maturidade tornou-se um mal e a imaturidade, um bem a ser preservado. Era imprescindível erradicar as formas negativas da pedagogia. Coisas como certo e errado, sim e não, correção com caneta vermelha, entre outras práticas, precisavam ser substituídas por vaporosas sutilezas que não contrariassem os pupilos. Afinal, eles podem ser portadores natos de uma nova e superior forma de saber. Guardo como pérola desse disparate a frase do vate sergipano que adoça com sua voz aveludada os julgamentos do Supremo Tribunal Federal. No caso da reserva Raposa Serra do Sol, ele, o ministro Ayres Britto, em reverência à sabedoria indígena, lascou, citando Paulo Freire: “Não existe saber maior ou menor; existem apenas saberes diferentes”. De fato, o veterano Marco Aurélio Mello e o garoto Dias Toffoli exemplificam saberes diferentes, quantitativamente iguais, não é ministro? E viva Paulo Freire.

Pessoalmente ainda estou à espera de que algum desses guris maleducados das universidades brasileiras, depois de tantos anos de sua completa libertação, apresentem alguma contribuição à ciência, à técnica e à cultura nacional. Ao contrário, o que se vê é o país ocupando o 93º lugar no componente educação, entre 169 pesquisados. E não me surpreenderei se encontrar por aí doutos pedagogos convencidos de que o mundo, por pura inveja, se recusa a cair de joelhos diante da qualidade muito peculiar e superior do saber construído por nossos jovens. De minha parte, vejo o sucesso sempre ao alcance dos que queimaram pestana sobre os livros, levaram a sério seus estudos ou cavoucaram com responsabilidade seus espaços na vida pública ou na iniciativa privada, mediante capacidade de renúncia ao bem atual com vistas ao investimento no bem futuro maior. Esses jovens agem no contrafluxo do deslizamento que descrevi, arquitetado por uma escola de viés marxista, que está levando três anos inteiros para alfabetizar uma criança, quando nos meus anos de curso primário se aprendia isso em seis meses de aula. A educação, caro leitor, conceitual e deliberadamente, deixou de lado seus objetivos essenciais e se voltou para formar cidadãos conscientes, politicamente engajados. Enquanto não chegam lá, os cidadãozinhos treinam sua cidadaniazinha desrespeitando e espancando os professores.

Pelo outro flanco, e no mesmo tom, os professores politicamente engajados, abdicantes de sua autoridade, assumiram-se como "trabalhadores em educação". O conselheiro tutelar, escolhido em pleito de baixíssimo comparecimento, por força de preceito contra o qual nenhuma voz se ergue com suficiência, exerce mais autoridade nas escolas do que os professores ou os diretores. Estes, a seu turno, são, também eles, eleitos num concurso de promessas e de simpatia, com participação e engajamento dos alunos. No Brasil, amigo leitor, aluno vota para diretor! Vota para reitor de universidade! E ninguém se escandaliza! Por que será que os praças não elegem os comandantes e os pacientes não escolhem os diretores dos hospitais e centros de saúde? Quando o poste passa a desaguar no cachorro e o aluno a meter o dedo na cara do professor, ainda há quem se surpreenda.

O Ministério da Educação está veiculando nestes dias um comercial com o objetivo de ampliar o interesse pela carreira do magistério. Mostra uma obviedade: os povos que melhor se desenvolvem atribuem a seus professores o principal mérito por esses bons resultados. É claro que nossos professores ganham muito pouco, mas os maiores problemas, nesse particular, estão na péssima preparação dos graduados para o magistério e na falta de recursos didáticos nas escolas. De outra parte, veja quais os países bem sucedidos em seus objetivos sociais, com mais elevado Índice de Desenvolvimento Humano, que se reportam prioritariamente a fundamentos marxistas nas salas de aula e na formação de seus educadores. Duvido que encontre algum. A crise dos trabalhadores em educação é uma responsabilidade deles mesmos e das ideias que abraçam. É responsabilidade deles mesmos, como professores dos professores nos cursos de Educação, como alunos desses cursos na recepção passiva de ferramentas de trabalho comprovadamente erradas e ineficientes, como reprodutores acríticos do mau conhecimento adquirido. É, também, uma decorrência de suas reivindicações equivocadas, da busca de uma autonomia para fazer o que bem entendem que só é menor do que o desejo dos alunos de se comportarem do mesmo modo. É uma consequência de seus engajamentos, do desmonte que produziram na própria autoridade e dos líderes que vêm escolhendo para os representar.

Mas só aos professores, o senhor diz isso? Não, digo-o com muito maior ênfase a eles porque são, de fato, como informa a propaganda do MEC, os principais responsáveis pelo desenvolvimento social de qualquer nação. Enquanto os professores se submeterem às diretrizes de quem, com um tranco ideológico e partidário, os derruba à condição de meros trabalhadores em educação; enquanto se deixarem levar pelas cartilhas da pedagogia dominante; enquanto conviverem passivamente com a destruição de sua autoridade; enquanto tomarem como inegociável planos de carreira que nivelam competentes e incompetentes; e enquanto não refugarem uma organização que transforma o acesso ao comando da Escola em concurso de coleguismo e simpatia, viverão uma crise sem fim.

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Comentários (3)
3 Ter, 18 de janeiro de 2011 18:10 Paulo Barreto
Sou professsor do Ensino Fundamental II. Quero dizer que concordo plenamente com o artido de Percival Puggina. Passei recentemente num concurso para a Secretaria Municipal de Educação e Cultura e já estou com vontade de me demitir. Após assumir, embora já desconfiasse do que me esperava, constatei o que todos já sabem: que a educação pública é uma grande farsa. As escolas não passam de sucursal do inferno, os alunos, em sua maioria, são subalfabetizados, e os professores, ao mesmo tempo são vítimas e agentes do modelo descrito do artigo. Mas, ninguem fala em lutar por mudanças no modelo vigente, prefere-se viver de questiúnculas de repartição a encarar realisticamente a situação.

2 Seg, 17 de janeiro de 2011 21:31 Agapito Costa
Mais um brilhante comentário, que infelizmente poucos irão tomar conhecimento. Porém nos leva a muitas perguntas: a quem interessa tudo isso?
Vejamos: política e religião quando exercidas por pessoas desonestas formam simetrias perfeitas. Proliferam onde há miséria e ignorância:
Dentro desta linha de raciocínio pergunta-se.
Na atual conjuntura em que se encontra o “Brasil”, qual o político que gostaria de governar o pais tendo uma população de um bom nível de cultural ?
Por que tanto interesse em desarmar a população ?
E o sinistro “PNDH-3”, por que foi articulado nas caladas da noite ?

1 Seg, 17 de janeiro de 2011 15:43 Eduardo
Eu acho que a queda do respeito e e do nivel de educação coincidiu com a invasão do magisterio por professores militantes esquerdistas que privilegiam a doutrinação politica em prejuizo a educação verdadeira.

Nesse caso acho que o mercado regiu de forma coerente, já que tais individuos não merecem nem respeito e nem remureação digna, e é exatamente isso que eles recebem, ou pelo menos a maioria deles, visto que existem muitos mega-salarios nesse meio.

Diplomacia da generosidade: versao 2.1 ?

PARAGUAI TESTA DILMA!
Ex-blog de Cesar Maia, 2/02/2011

1. (ABC Color, Assunción, 01) O Paraguai pedirá ao Brasil para rever dívida espúria. O presidente Fernando Lugo solicitará formalmente à Dilma Rousseff a revisão da espúria dívida de Itaipu, segundo disse ontem a vice-ministra de Minas e Energia, Mercedes Canese, depois da reunião da "Comissão de Energia" do governo. O pedido será feito durante a visita oficial que Dilma fará no país em 26 de março, ocasião em que será entregue o parecer da Controladoria paraguaia que declara a dívida ilegal e violatória do Tratado na parte referente ao passivo da usina binacional. São 4.194 bilhões de dólares acumulados entre 1986 e1996, devido a taxas subsidiadas em favor do Brasil.

2. (Ex-Blog, 02) Falta apenas um detalhe: qualquer alteração deverá passar pelo Senado do Brasil.

Aquecimento global: perigos do novo malthusianismo e argumentos racionais

Volto a postar, por importante, pequena nota informativa sobre a questão em epígrafe, por ter sido objeto de comentários recentes, que transcrevo aqui, junto com meus comentários-resposta, desta data.
Paulo Roberto de Almeida

1497) Aquecimento Global: ceticismo sadio sempre é recomendavel
QUARTA-FEIRA, 11 DE NOVEMBRO DE 2009

Para aqueles, que como eu, mantém uma atitude de ceticismo sadio em relação a todas as paranoias anunciadas -- fim da era do petróleo, falta de energia, de alimentos, aquecimento global, etc. -- sempre é bom ler o máximo possível, antes de sair atrás da manada, dizendo que o fim está próximo.

Papers que reexaminam o papel do aquecimento global tal como teria sido fabricado pela atividade humana:
450 peer-review papers supporting skepticism of man-made global warming.

Este artigo tece considerações científicas, econômicas e filosóficas sobre o aquecimento global: http://www.heartland.org/custom/semod_policybot/pdf/25354.pdf

Nunca é bom correr atrás da manada: é melhor ficar calmo e examinar os dados do problema...
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Alexandre disse...
Professor, existem evidências científicas independentes e concordantes entre si, tanto do aquecimento em si quanto de sua origem através do efeito estufa intensificado pelo homem. Imagino que o sr. não esteja familiarizado com elas, nem tampouco se ateve muito na análise dos 450 supostos artigos "céticos" divulgados pelos Heartland institute.

Assim, quem é que está correndo atrás da manada, e quem está ficando calmo e examinando os dados do problema?
Quarta-feira, Fevereiro 02, 2011 8:40:00 AM
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Paulo R. de Almeida disse...
Alexandre,
Com evidencias mais ou menos fortes de que o aquecimento esteja efetivamente ocorrendo, e que o homem é em parte responsavel por isso, ainda assim recomendo o ceticismo sadio como atitude geral desejavel nesse tipo de questao, pois ela é propria do espirito cientifico, justamente.
O que me preocupa mais, nao é o aquecimento em si, pois as sociedades vão necessariamente se adaptar, mas esse clima malthusiano que se propaga.
Existiam evidencias do aumento da população na época de Malthus, mas ele falhou miseravelmente na previsão da produtividade agrícola.
Tenho certeza de que a humanidade vai superar esse malthusianismo ecologico tambem...
Paulo Roberto de Almeida
Quarta-feira, Fevereiro 02, 2011 9:58:00 AM
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Alexandre deixou um novo comentário sobre a sua postagem "1497) Aquecimento Global: ceticismo sadio sempre é...":

Professor, obrigado pela resposta.

O processo científico de construção de teorias concorrentes já, em si, cético, uma vez que sempre depende de evidências que apóiem essas teorias. Tenho certeza de que não preciso discorrer sobre isso aqui.

O acúmulo de evidências que apóia o aquecimento global antrópico é enorme. Mesmo que as projeções de Malthus tenham falhado, isso não muda o fato de nossa atmosfera estar retendo cada vez mais radiação infravermelha em função de nossos gases estufa. É um fato físico mensurável e verificado, e recomendo o website de qualquer grande instituto de pesquisas atmosféricas do mundo pra consultar referências.

O ceticismo científico é saudável e desejado, ao passo que negar as evidências existentes por incomodarem uma ideologia não é. Imagino que o sr. esteja defendendo o primeiro, e incorrendo involuntariamente no segundo ao apoiar a posição do Heartland.

Podemos ser otimistas. Podemos crer com toda nossa alma que a humanidade, com toda sua criatividade, resolverá mais esse problema. Mas para que o resolva, o primeiro passo é admiti-lo e enfrentá-lo.
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Paulo R. de Almeida deixou um novo comentário sobre a sua postagem "1497) Aquecimento Global: ceticismo sadio sempre é...":

Voce tem inteiramente razao, meu caro Alexandre, e eu nao estou dando mais credito aos ceticos do que aos alarmistas, apenas dizendo que o catastrofismo antecipado pode nos levar a decisoes economicas que custam caro e diminuem, ipso facto, as disponibilidades para as boas pesquisas e outros investimentos na correção de atitudes hoje agravantes dos desequilibrios ecologicos.
Recomendaria a você ler alguns dos materiais do Copenhagen Consensus, animado pelo ecologista cetico Bjorn Lomborg.
O abraço do
Paulo Roberto de Almeida
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Alexandre disse...

Conheço o trabalho do Lomborg. Reitero a recomendação de procurar as evidências nos institutos que de fato pesquisam o assunto.

Claro, pode-se pular essa parte se realmente não se discutem os fundamentos técnicos das observações e projeções, o que o sr. parece não questionar, mas ao mesmo tempo apóia a posição do Heartland e usa as palavras "alarmistas" ou "catastrofismo antecipado" para descrever observações e dados que nos trazem informações alarmantes.

É importante separar bem ambas as questões: uma coisa é a realidade física de um fato. Outra coisa é a resposta que a sociedade pode dar a esse fato, seja no campo econômico, jurídico, tecnológico ou cultural. Se um imposto pigouviano parece ruim, pode-se defender outra via de ação, ou até mesmo, por exemplo, a capacidade do mercado de minimizar sozinho externalidades negativas desse tipo. De preferência, baseando-se em evidências, de novo.

O que não faz sentido é embarcar na do Heartland, que para defender o mercado livre (louvável) faz textos negando evidências, ridicularizando e inventando "fatos", sem efetivamente produzir ciência que suplante a existente. Ou mesmo divulgando um documento que afirmam conter centenas de estudos que supostamente mostrariam uma "outra verdade", mas que incluem afirmações mutuamente contraditórias, do tipo "não está acontecendo" e "é causado pelo sol".

É uma retórica que só se desmascara com algum aprofundamento nos processos físicos envolvidos e nos dados disponíveis.

Não conheço seu trabalho, mas tenho certeza que sr. poderia contribuir de várias maneiras com idéias para se limitar a emissão de um gás com externalidades negativas importantes, que respeitassem a corrente ideológica de sua preferência, e que não fossem economicamente catastróficas.

Negar a externalidade, decerto, não é o caminho. Sei que o sr. está convencido de não estar fazendo isso. Estou tentando chamar sua atenção para o fato de o sr. estar endossando quem o faz.
Quarta-feira, Fevereiro 02, 2011 12:44:00 PM
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Alexandre,
Voce argumentou como um verdadeiro cientista, ou economista, e só posso concordar com você. As evidências se acumulam, como você diz, embora eu também tenha confiança na capacidade humana de dar saltos tecnológicos quando a necessidade se impõe.
Nossa responsabilidade atual é preservar, minimizar, evitar, embora eu creia mais em tecnologias adaptativas do que em grandes ações "reversionistas" de tendências aparentemente irreversíveis, na escala humana do tempo.
Em todo caso, o alarmismo que eu rejeito, em parte, nos faz tomar consciência da fragilidade dos sistemas e da nossa própria incapacidade em reverter desastres já encomendados, em grande medida pela mão do homem.
Estou transcrevendo todo este debate num novo post, de hoje.
O abraço do
Paulo R. Almeida

(Por enquanto ficou nisto...)

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