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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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quarta-feira, 27 de abril de 2011

Greenpeace: por uma vez concordo com esses malucos...

Eu, geralmente, sou contra tudo o que o Greenpeace faz. Não por animosidade de princípio contra esse bando de quixotescos promotores do meio ambiente, mas porque acredito, pelo que vejo e leio, que eles dispõem de pouca base científica para suas ações militantes, atuando mais por transpiração do que por inspiração bem fundamentada.
Por uma vez concordo com eles, mas mais exatamente pelo lado fiscal e orçamentário, do que por uma oposição de princípio contra a energia nuclear. Ou seja, sou contra o financiamento público, não contra a energia nuclear em si.
Creio que o Brasil deve aprofundar a pesquisa e o desenvolvimento de todas as tecnologias, mas não precisamos de energia nuclear por enquanto...
Paulo Roberto de Almeida

BNDES banca calhambeque atômico
Porgente, 27/04/2011

O Greenpeace do Brasil lançou uma campanha contra o financiamento público do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social (BNDES) à construção de novas usinas nucleares no País. Veja os argumentos da entidade ambiental mais famosa do mundo:

Na véspera do aniversário de 25 anos do acidente nuclear em Chernobyl, na antiga União Soviética, uma ‘nuvem radioativa’ cobriu a sede do BNDES, no Rio de Janeiro. A fumaça laranja que subiu aos céus no Largo da Carioca, endereço do banco no centro da cidade, foi ao mesmo tempo um alerta sobre os perigos de um acidente nuclear e um apelo para que o BNDES suspenda o financiamento para a construção da usina nuclear de Angra III.

Por volta das nove e meia da manhã, ativistas do Greenpeace vestidos como equipes de resgate em acidentes nucleares dispararam sinalizadores de fumaça na frente do prédio do BNDES, simulando contaminação por radiação. Um cartaz pedia ao BNDES para não financiar uma geração de energia tão insegura, como provam Chernobyl e Fukushima.

O governo brasileiro tem na manga cinco projetos de novas usinas nucleares. Quatro ainda estão sem endereço definido. Jacques Vagner, governador da Bahia, torce para levar a maior parte delas para seu estado. A quinta está para ser construída em Angra dos Reis, no litoral Sul fluminense, no complexo que já abriga as usinas nucleares de Angra I e II. A nova unidade, Angra III, já custou aos cofres públicos 1 bilhão de reais e a estimativa do seu custo total ultrapassa 10 bilhões de reais. É muito dinheiro para se investir em uma usina que até seus criadores, os alemães, consideram uma espécie de calhambeque atômico.

Progressos fantasticos do Mercosul -- as barreiras amistosas de nuestros hermanos

Bem, por uma vez não sou eu quem está dizendo...
Paulo Roberto de Almeida

Argentina é o país com mais barreiras contra o Brasil
Centro de Pesquisas de Políticas Econômicas de Londres
Blog PortoGente, 27/04/2011

Dos principais parceiros comerciais do Brasil, os “hermanos” da nossa vizinha Argentina são os que mais possuem barreiras contra os produtos nacionais. São, ao todo, 30 medidas protecionistas em vigor, e mesmo assim, a Argentina é o terceiro país que mais recebe produtos brasileiros, perdendo em volume financeiro apenas para a China e os Estados Unidos.

Dos R$ 317 bilhões que exportamos, quase 10% (o equivalente a R$ 29 bilhões) foram para a Argentina. “A Argentina é um parceiro importante para o Brasil, mas passou da hora de resolvermos as diferenças políticas e econômicas com nosso vizinho. As barreiras impostas desgastam a relação entre os dois e não cooperam para o desenvolvimento do Mercosul”, diz a economista Carla Rodrigues
Consultada pelo Portogente, a especialista avaliou os números surpreendentes de um levantamento divulgado semana passada pelo Centro de Pesquisas de Políticas Econômicas de Londres. O órgão aponta a Argentina como o país que mais possui barreiras contra o Brasil, superando até mesmo a Rússia, que se notabilizou pela defesa excessiva de seu comércio.

“A relação entre Brasil e Argentina sofre testes diários. Transportadores reclamam das multas, os exportadores se sentem injustiçados com as tarifas e os impostos, a presidente sempre promete diminuir as barreiras, mas nunca coloca isso em prática e mesmo assim a troca de produtos subiu 45% em 2010 se compararmos com o ano de 2009. É um fenômeno”, destaca a economista.

Raio-X das exportações brasileiras em 2010

Argentina
30 barreiras contra o Brasil
US$ 18 bilhões em exportações brasileiras
45% de crescimento nas trocas entre 2009 e 2010

Rússia
27 barreiras contra o Brasil
US$ 4,15 bilhões em exportações brasileiras
44,7% de crescimento nas trocas entre 2009 e 2010

China
5 barreiras contra o Brasil
US$ 30,7 bilhões em exportações brasileiras
46,5% de crescimento nas trocas entre 2009 e 2011

Estados Unidos
4 barreiras contra o Brasil
US$ 19,3 bilhões em exportações brasileiras
23% de crescimento nas trocas entre 2009 e 2010

Fonte: Centro de Pesquisas de Políticas Econômicas de Londres

De volta a uma moeda verdadeira ? - Klauber Cristofen Pires

A despeito de concordar com as premissas e os argumentos de meu amigo Klauber, sobre os verdadeiros fundamentos de uma moeda verdadeira, não julgo possível, prático, ou efetivo, uma volta aos padrões metálicos do passado.
Os bancos centrais, que detêm o monopólio emissionista nos últimos duzentos anos, assim como os governos que os secundam, que os criaram, que os deformaram, e que abusam de sua capacidade de empurrar o prejuízo para o público pagante -- ou seja, todos nós, reféns da moeda inflacionada e depreciada que eles nos empurram --, essas duas entidades absolutamente irresponsáveis -- algumas mais do que outras, claro -- não vão renunciar à faculdade criar papel pintado e de pretender nos fazer acreditar que isso é valor real.
Infelizmente, o fiat money veio para ficar e não acredito que seja possível voltar ao padrão-ouro ou adotar qualquer novo padrão que tenha algum lastro metálico em sua composição.
Simplesmente não é prático, não é economicamente credível, não é politicamente aceito pelos políticos que nos governam.
Acredito, ao contrário, que a globalização trará maiores opções em termos de moedas mais ou menos credíveis (todas papel, infelizmente, embora possa haver algum governo suficientemente "maluco" para prover lastro-ouro às suas expensas), opções que serão usadas por cidadãos suficientemente espertos para, ou em capacidade de, fugir ao monopólio abusivo -- muitas vezes arbitrário e irresponsável -- de bancos centrais e/ou governos deletérios.
Por outro lado, a globalização poderá também oferecer novas oportunidades para uma saudável competição entre "paraísos fiscais" e contas off-shore (mas teria de ser em alguma moeda nacional, por enquanto), para que os cidadãos também escapem, pelo menos parcialmente, dos privilégios abusivos que os governos se arrogam sobre seus ativos pessoais.
O dinheiro eletrônico em contas off shore será o padrão monetário do futuro, mas como disse, ele terá de ser baseado, no futuro previsível, em alguma moeda nacional.
Não sei se veremos esse tipo de fuga do monopólio no futuro previsível.
Enquanto isso não ocorre, esse tipo de tentativa -- estados americanos reconhecerem como moeda metais considerados de reserva, ouro ou prata -- me parece apenas parcial e paliativo, pois mesmo esses governos terão de dizer quanto vale o ouro ou a prata em circulação legal. Vão eles cotar pelos mercados spot? Vão estabelecer um valor fixo, mas qual? Uma banda? O quê, exatamente?
Se eu consulto o site da Bloomberg, constato que hoje, 27/04/2011, o ouro (gold spot) está cotado em US$ 1.507 (estava em 1.517 ainda ontem). e o platinum spot em US$ 1.810. Como as pessoas vão fazer? Carregar os seus lingotes de ouro por aí? Pagar um cofre em banco, um corretor para administrar esses ativos? As transações "externas", ou seja, não metálicas, terão de ter uma taxa de câmbio, portanto, uma comissão pela intermediação, e terão, de toda forma de ser cotadas pelo seu equivalente em alguma moeda papel.
O "papel exorbitante" do dólar -- como classificou Barry Eichengreen -- ainda vai continuar por muito tempo, e na verdade só é um pouco mais exorbitante do que outras moedas, que também têm esse direito abusivo de roubar valor aos particulares, sendo que os EUA apenas roubam um pouco do resto do mundo. Quem é grande e forte, geralmente faz isso, e na verdade o "papel exorbitante" do dólar não foi imposto aos outros; os outros é que fizeram bobagens suficientes para desqualificarem totalmente suas moedas.
O debate está aberto...
Paulo Roberto de Almeida

O dinheiro de verdade está voltando!
Por Klauber Cristofen Pires
Libertatum, 26 April 2011

A notícia econômica que promete ser a mais bombástica do século XXI simplesmente tem sido ignorada pelo mainstream jornalístico brasileiro. Refiro-me ao fato de que atualmente em treze estados norte-americanos tramitam projetos de lei com a finalidade de reconhecer os metais preciosos como o dólar e a prata como moedas legítimas. Em Utah, falta tão somente a assinatura do governador para a promulgação da lei. Além do Utah, em diferentes estágios de processo legislativo se encontram os estados do Colorado, Georgia, Montana, Missouri, Indiana, Iowa, New Hampshire, Oklahoma, Carolina do Sul, Tennessee, Vermont e Washington.

Um assunto de tamanha importância já deveria ter sido matéria veiculada pelos jornais e telejornais ao grande público, a transitar abertamente pelas bocas nos bares entre as rodas de chope, nas corridas de táxi, nos churrascos de domingo e nas barbearias. Ainda assim, a despeito de todo este silêncio sobre o assunto, decidi efetuar uma busca mais profunda na internet e só para confirmar o que eu já desconfiava, não encontrei sequer uma vírgula, fosse das Sras Mirian Leitão, Cladia Safatle, Raquel Landim, Dora Kramer, Tereza Cruvinel e Mônica Waldvogel, ou dos Srs Luís Nassif, Alberto Tamer, Sergio Leo, Joelmir Betting e outros que me perdoem pelo olvido de seus brilhantes nomes.

A razão pela qual esses estados estão tomando tal providência não é tão difícil de adivinhar: após quase oitenta anos de corridas quase ininterruptas de desvalorizações cambiais, o modelo keynesiano de moeda abstrata está virando farelo, e agora num passo acelerado. O processo contínuo de endividamento estatal adiado ao máximo pela possibilidade desimpedida de imprimir papel moeda a partir do literalmente nada está por encerrar um ciclo de empobrecimento mundial generalizado, com os estados e municípios totalmente quebrados e já sem condições de oferecer com uma qualidade minimamente aceitável os serviços públicos mais básicos, como a educação, a polícia e os bombeiros. Ei, estou falando aqui dos Estados Unidos! Do Brasil todos estamos fartos deste filme.

A despeito da fama de alguns indivíduos criminosos comuns, uma parte consideravelmente maior das emissões fraudulentas de papel-moeda, estas sim, realmente massivas, têm sido mesmo feitas por países tais como a China e a Rússia (esta tanto no anterior quanto posteriormente à queda do regime soviético). A suposta vítima, os E.U.A., por sua vez, não têm lá muita moral para reclamar: ao avaliarmos corretamente o seu “direito” próprio de emitir dinheiro, hoje em dia bastando-lhe para tanto alguns comandos eletrônicos como alguém que inocentemente efetua um saque em um caixa eletrônico, este país é justamente o maior falsário do seu sistema monetário.

Bail-out é o termo em inglês utilizado para definir o socorro que o governo norte-americano tem prestado a grandes instituições corporativas do seu país, com ênfase para a indústria automobilística, os bancos e as instituições de crédito imobiliárias. Este socorro tem sido prestado mediante uma combinação de concessões de crédito sob condições privilegiadas e muita, mas muita impressão de papel (ou de forma mais ecologicamente correta - se isto importa - pela digitação de uma numerosa quantidade de zeros). Seja como for, não se esconde a insatisfação de uma parcela significativa da população norte-americana, que por mais ajuizada que a brasileira, rapidamente tem entendido que seriam os seus cidadãos a pagar a conta pela má gestão destas instituições e das políticas falaciosas de seu governo central.

Todavia, o maior emblema do século da mentira não termina aí: como se não bastassem os governos dos diferentes países por décadas terem fulminado o valor representativo da riqueza das moedas, tenha sido por conta própria ou por ação malevolente dos demais, também as instituições bancárias têm multiplicado de forma absolutamente estelionatária a multiplicação de operações de créditos e a emissão de títulos representativos de propriedade de ouro e prata, de uma forma que, para a compreensão mais fácil, assemelha-se, em escala bastante reduzida, ao overbooking praticado pelas empresas aéreas ou às “linhas compartilhadas” que algumas estatais telefônicas no Brasil faziam quando vendiam uma mesma linha telefônica para mais de um cliente.

O que aparenta dar liga nesta cola é a mera prerrogativa que os bancos têm de não lhe entregar o bem físico em espécie, mas apenas o valor em dinheiro, isto é, em papel pintado, segundo a cotação do dia do precioso metal. Se eventualmente houver falta de cédulas e preciso for, estas serão providenciadas mediante encomenda do governo da hora. Moral: o cidadão comum é sempre o enganado. E os bancos se quedam cada vez não somente mais ricos, mas também mais poderosos, mancomunados que estão com os governos dos países nesta pirâmide-da-fortuna da qual formamos a base que os sustenta.

Garry Garret relata em seu livro The American Story como se deu a complexa operação em quatro passos conduzida pelo presidente Roosevelt que deu origem ao dinheiro sem lastro: primeiramente, foi decretado o fechamento dos bancos, bem como qualquer negociação em moeda estrangeira e transferência de capital para o exterior. Logo após, uma lei de iniciativa do governo foi baixada legalizando o fechamento dos bancos que havia sido imposto até então por decreto, e além disso, dispôs que nenhum banco no Sistema do Federal Reserve poderia reabrir senão sob licença do governo; em terceiro lugar, ela deu ao Presidente poder absoluto sob o câmbio externo, e em quarto, autorizou o Presidente a convocar os proprietários privados de ouro a abrir mão dele. Em seguida, mediante o apelo ao patriotismo e usando de todo o seu carisma político, os cidadãos e empresas foram convocados para depositarem os seus haveres em ouro no Federal Reserve em troca do papel-moeda que até então era 100% conversível.

Quando, enfim, todo o ouro já estava trancado nas caixas fortes no Banco da Reserva Federal, foi tornado crime para uma pessoa particular ter em sua posse tanto quanto uma moeda de ouro de cinco dólares. Para cortar a fita de inauguração do papel-moeda de curso forçado, uma lei posterior veio para autorizar o Presidente a: 1) desvalorizar o dólar por meio da redução de sua equivalência em ouro pela metade; 2) entrar no mercado financeiro e adquirir três bilhões de título do governo com papel-moeda; 3) emitir três bilhões de papel moeda fiduciário, garantido por nada, e torná-lo moeda corrente; 4) cunhar uma quantidade ilimitada de dólares de prata; 5) emitir uma quantidade ilimitada de certificados de prata em papel; e 6) fixar os valores do ouro e da prata em relação uma com a outra.

No Brasil, o governo federal possui a competência privativa para legislar sobre sistema monetário e de medidas, títulos e garantias dos metais (CF/88, art. 22, VI), o que coloca os nossos estados e municípios em uma posição extremamente vulnerável aos humores do governo central, sendo que este, por sua vez, irresponsavelmente nada está fazendo para evitar ou pelo menos minorar um grave processo de estagflação que já está dando os seus primeiros sinais de eclosão.

Para piorar, do muito pouco que se tem falado sobre o assunto, quando muito para comentar a sugestão meramente hipotética, principalmente por parte do falastrão Sarkozy, toda a abordagem dos sedizentes “especialistas” versa sobre a defesa mesma do papel-moeda de curso forçado, este impostor, o que não representa surpresa alguma, como se insistir em algo fundamentalmente errado pudesse por milagre resultar em algo correto.

O que seus adeptos pretendem é legitimar seus argumentos com base em especulações sobre o efeito deflacionário generalizado que o ouro alegadamente poderia impor à economia, o que não passa, na melhor das hipóteses, de uma tosca confusão mental. É claro que o agigantamento da produção de bens e serviços pode fazer com que o ouro se valorize, mas e daí? Isto já ocorre mesmo com o papel-moeda inconversível. Por volta dos anos quarenta, um agricultor brasileiro produzia, em média, para dezoito pessoas, e hoje, para mais de duzentas! Certa vez, meu pai quis transferir-me um consórcio sobre um aparelho de DVD, por não conseguir manter em dia as prestações, mas atualmente, um aparelho destes pode ser comprado por um valor que representa apenas uma única mensalidade daqueles idos anos! Há cerca de sete anos, adquiri um aparelho de tv de 29” por cerca de aproximadamente R$ 1.300,00, enquanto hoje assisto nos comerciais serem ofertados por menos de quinhentos reais! Na verdade, praticamente todos os produtos e serviços estão se barateando com o passar do tempo, devido à tecnologia crescente e aos repetidos aumentos de produtividade. Será que isto é necessariamente um problema?

O embaralhamento mental destas pessoas consiste em identificar um possível natural processo de valorização do ouro devido ao gradual aumento da oferta de bens e serviços com a ressaca resultante de políticas públicas falaciosas assentadas justamente em expansão artificial de crédito e manipulação dos juros a manter na marra baixas taxas. Ora, incutir ao ouro a conseqüência da incúria dos governantes é o mesmo que culpar o termômetro pela febre.

Além disso, sustentam que a adoção do ouro possivelmente resultaria em entesouramento especulativo. Isto é o que eles pensam, segundo os termos com que entendem o fenômeno natural que prefiro chamar de poupança. Com efeito, aos que reclamaram das ações do governo norte-americano de desatrelar o dólar do ouro, o governo da casa Branca respondeu: “- dinheiro é para circular”. Na verdade, o que eles estavam querendo dizer era “dinheiro é para se gastar”, o que refletia o pensamento inconseqüente e imprevidente da doutrina keynesianista em seus primeiros momentos de glória, a começar a gerar um progressivo e estratosférico endividamento tanto dos poderes públicos quanto dos particulares, quanto até o fim do padrão-ouro ambos eram - acreditem – absolutamente superavitários! Foi assim que queimaram - ou melhor, queimamos, porque estamos juntos nessa canoa furada - o futuro das gerações seguintes, por termos dado crédito para um sujeito por cujo comportamento pessoal pouco lhe importava sobre preocupar-se com futuros longínquos e proles.

Os processos inflacionários são decorrentes quase que exclusivamente por expansão monetária, e esta por sua vez, consiste em um efetivo meio arrecadatório. Imagine que uma indústria de laticínios decida retirar algo como 100ml de cada litro de leite a ser oferecido aos consumidores, substituindo-o por água. Com tal medida fraudulenta, ela colherá o lucro adicional de um litro de leite a cada dez unidades vendidas. Isto lhe permitiria até mesmo diminuir em parte o preço de cada litro como estratégia de marketing, claro, em um valor inferior ao que pagaria os 100ml surrupiados, o que deixaria muitos consumidores bocós satisfeitos. O mesmo fenômeno se dá com a moeda. Há algum tempo atrás, uma reportagem televisiva demonstrou que o dinheiro brasileiro suficiente para comprar um Fusca nos anos 70 não seria suficiente hoje sequer para comprar uma mera caixa de fósforos. Em termos de leite, o que o governo fez ao longo dos anos foi adulterá-lo cada vez mais e mais, de modo que atualmente um consumidor levaria para casa um litro de uma mistura na qual contivesse, quando muito, uma gota de leite. Eis a razão porque os governos centrais dos países opõem-se a aceitar o retorno ao padrão-ouro.

Concluindo, é difícil encontrar uma solução para o quadro brasileiro. Por um lado, temos os governos estaduais e municipais impedidos de reconhecer legalmente a aceitação dos metais como moeda corrente, e por outro lado, temos um governo central ímprobo e pródigo que não enxerga que está nos levando de encontro ao iceberg (ou enxerga sim e deseja justamente este resultado). Qualquer solução de grande porte há de vir por influência estrangeira, como a que está germinando nos EUA, e o máximo que pudermos fazer para evitar o pior desta catástrofe será adotarmos o metalismo como solução individual.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Fidel Castro: ultimo pronunciamento televisivo (despedida do socialismo)

Absolutamente inédito, aliás ainda não aconteceu: é só o rascunho...
Paulo Roberto de Almeida

Fidel Castro: despedida da vida pública e do socialismo
Fidel Castro Ruz
Ex-Primeiro Secretário do Partido Comunista de Cuba, Ex-comandante supremo da Revolução, ex-comunista, ex-socialista, ex-várias outras coisas...
Via Política, 24/04/2011

Fidel Castro, por Gon
(Esboço de último pronunciamento público a ser transmitido em rede nacional na única cadeia de televisão existente na República de Cuba; obtido antecipadamente.)

Caros amigos, caros irmãos, caros concidadãos,
Esta é, provavelmente, a última vez que me dirijo a vocês, e já não o faço, como antes, de um palanque na Praça da Revolução, obrigando vocês a ficarem horas sob o sol causticante de nossa ilha, enquanto eu desfilava meus argumentos em favor da revolução e do socialismo.

Não, o Fidel Castro que aqui aparece já não é mais o mesmo; não que eu já esteja velho de decrépito, o que também é o caso, mas não é por isso que eu escolhi falar a vocês em pronunciamento gravado por nossa única rede de televisão. É que, tendo chegado, de fato, ao ocaso de minha vida, e acabado de renunciar ao cargo de Primeiro Secretário do Comitê Central do Partido Comunista de Cuba, cargo que eu já acumulei com o de presidente desta República, e tendo passado todos esses cargos a meu irmão mais jovem, resolvi que era chegada a hora de acertar contas com a História, e assim, de me despedir dignamente de vocês.

Este Fidel Castro que aqui se despede de cargos, de responsabilidades e de vocês, quer juntar-se a outras figuras históricas do século 20, mas quer fazê-lo na paz de sua consciência, e que por isso decidiu dirigir estas palavras sinceras a todos vocês.

Não sei bem o que farão depois deste pronunciamento, apenas espero que possamos realizar nossa transição política em paz, sem derramamento de sangue, sem vingança contra qualquer pessoa ou instituição, provando ao mundo que nós, cubanos, temos consciência e dignidade suficientes para tratar dos nossos próprios assuntos internos, sem interferências de qualquer poder estrangeiro.

Eis aqui, portanto, o que eu tenho a dizer a vocês.

Pronunciamento televisionado de Fidel Castro ao povo cubano

Pueblo de Cuba, hermanos, compañeros, ciudadanos...
Enquanto estávamos ocupados realizando o 6o. Congresso do Partido Comunista de Cuba, minha mente estava longe, muito longe. Eu estava pensando naquele longínquo 26 de Julho de 1953, quando teve início nossa revolução popular contra a ditadura de um caudilho do imperialismo, o coronel Fulgencio Batista.

Naquele 26 de julho, que depois virou, talvez equivocadamente, nossa data máxima, eu e meus companheiros fizemos o assalto ao quartel de Moncada, dando início à nossa luta contra um regime ditatorial, submisso ao imperialismo ianque. Não fomos felizes naquele primeiro assalto, ao contrário: os mercenários da ditadura conseguiram debelar o nosso intento e acabamos na prisão. No julgamento, que me condenou logo em seguida, eu disse aquelas palavras que ficaram na memória do nosso povo: “a História me absolverá”.
De fato, ela me absolveu, mas, antes dela me absolver, eu fui beneficiado com uma anistia do próprio ditador, e pude me refugiar no México e dar início assim à nossa luta, uma segunda vez. Quase fomos derrotados novamente: dos companheiros que desembarcaram do pequeno bote Granma, hoje o glorioso título de nosso único e aborrecido jornal, poucos se salvaram para buscar refúgio na Sierra Maestra e dali continuar a luta de guerrilhas até a derrota final das forças da ditadura.

Vivemos então dias majestosos e inesquecíveis: pela primeira vez em sua história multissecular, Cuba, que tinha sido colônia espanhola até quase o alvorecer do século 20, e que depois virou uma colônia americana por quase 60 anos, podia colocar-se de pé e começar a construir seu destino soberanamente. As promessas eram de libertação da ditadura, da dominação imperialista, do analfabetismo, justiça e liberdade para todos, a começar pelos campesinos e pelo povo pobre. Fomos saudados entusiasticamente em nosso desfile triunfal pelas ruas de Santiago e de Havana, todos estavam conosco, e os que se opunham buscaram o exílio ou se aliaram ao imperialismo para tentar derrotar-nos.

Fomos bem sucedidos na primeira tentativa de insurreição contra o poder popular, na invasão dos vermes de Miami, mercenários a soldo da CIA e esbirros da ditadura derrotada. Naquele mesmo momento, em 1961, Cuba dava início à construção do socialismo, tarefa que nos ocupou pelos últimos 50 anos. E que, a julgar pelos dizeres de meu irmão no congresso que acaba de se encerrar, ainda não terminou. Sinto discordar dele, para dizer claramente. Terminou, sim: a construção do socialismo acabou por aqui, e já não devemos persistir nesse caminho insano.

Pois bem, caros cidadãos de Cuba, o que eu tenho a dizer hoje a vocês é tão histórico quanto meu pronunciamento de abril de 1961, quando anunciei que Cuba era socialista, que estávamos fazendo nossa opção pelo marxismo-leninismo e que essa decisão era irrevocável. Muitos não concordaram, e se afastaram da revolução: o ritmo de saídas acelerou-se em poucas semanas. Todos os que não concordaram com a nossa opção se foram de nossa ilha e pudemos assim construir o socialismo com os que permaneceram. Foi uma decisão errada, pois dividimos a ilha, dividimos o povo, dividimos as famílias. Estima-se, hoje, que um quarto da população cubana tenha abandonado nossa bela ilha para ir viver no exterior, geralmente nos Estados Unidos.

Durante todo esse tempo, fomos sabotados pelo imperialismo, que manteve um duro embargo contra nossa economia, Não tivemos a compreensão de todos, mas persistimos em nosso ideal. Naquela oportunidade, o socialismo ocupava quase dois terços das terras emersas e grande parte da população mundial. Parecia destinado a enterrar o capitalismo, como vaticinou uma vez um líder da União Soviética, nosso principal aliado e financiador até seu pouco glorioso desaparecimento, 20 anos atrás. Nosso socialismo começou a patinar desde então, e nunca nos recuperamos.

Pensávamos que estávamos no sentido da História, e nisso, posso agora confessar, nos enganamos redondamente. O socialismo foi um sonho, um sonho nobre, em favor do qual tivemos de praticar algumas injustiças – fuzilamentos, restrições à liberdade dos burgueses, controle dos meios de comunicação e dos movimentos políticos e sindicais – mas que eram considerados incômodos passageiros, até atingirmos a situação ideal: um sistema igualitário, o homem novo, a abundância e um futuro radioso para todos. Belo discurso, não é mesmo?

Vejo agora, caros cidadãos, que nos enganamos terrivelmente, eu me enganei, e continuei enganando vocês durante muito tempo. Eu pensei, sinceramente, mas hoje reconheço que errei redondamente, que poderíamos conseguir realizar aquilo que pretendíamos, aquilo que tínhamos lido nos livros do marxismo-leninismo, nos textos que nos prometiam um futuro brilhante pela via do socialismo. Tudo parecia simples: bastava socializar a produção, construir o homem novo, e pronto: todos viveriam bem e satisfeitos na igualdade absoluta e na eliminação da pobreza.

Não é verdade: o sistema não funciona. E não funciona por um motivo muito simples, independentemente da falta de liberdade e do monopólio político no partido: faltam estímulos às pessoas para produzir e se enriquecerem. Como decretamos a propriedade coletiva dos meios de produção – de tudo o que fosse considerado patrimônio nacional, inclusive as habitações individuais das famílias cubanas – ninguém mais se sentia responsável pelo aumento da produção, pela criação de riquezas, pela acumulação de novos meios de produção. Todos queriam trabalhar o menos possível e esperar que o Estado, esse monstro insaciável, lhes desse tudo aquilo que necessitavam para viver. Muitos se acomodaram na mediocridade, mas os mais empreendedores foram embora, simplesmente foram buscar em outras terras os meios de enriquecer que lhes faltavam em Cuba.

Os companheiros chineses se aperceberam disso muito rapidamente, mas aquele ditador asiático que respondia pelo nome de Mao Tsé-tung não fez nenhuma reforma prática enquanto ocupou o poder. Todos sabem, hoje – embora os companheiros do Partido Comunista Chinês não o confessem de público – que as loucuras econômicas de Mao foram responsáveis pela morte direta ou indireta de dezenas de milhões de chineses, sem mencionar o sofrimento adicional trazido pela Revolução Cultural, que simplesmente destruiu as universidades chinesas.

Aliás, já matamos também muita gente: alguns de fome, muitos afogados ou comidos pelos tubarões, ao tentar escapar da ilha, outros de doença nas masmorras que herdamos da ditadura, vários outros, centenas deles, fuzilados nas primeiras horas da revolução. Talvez, proporcionalmente, tanto quanto os chineses. Chega!

Os companheiros chineses se aplicaram nos últimos 30 anos a construir um capitalismo de Estado, e nisso eles tiveram sucesso. Em sua versão oficial, eles dizem que construíram um socialismo com características chinesas, mas na verdade, como dizem os próprios chineses, se trata de um capitalismo com características chinesas, o que significa a preservação do monopólio do poder político do Partido Comunista.

Não creio que possamos fazer o mesmo em Cuba. Essa tentativa de meu irmão de introduzir o capitalismo, preservando o monopólio do Partido Comunista Cubano, simplesmente não vai dar certo. Só vamos prolongar os sofrimentos e as angústias de todos os nossos concidadãos, que esperam ver realizada a profecia de José Martí: homens livres, numa república democrática. O que temos hoje, vamos ser sinceros em reconhecer, são prisioneiros de uma ditadura, homens servos, numa ilha-prisão.

Caros irmãos, cidadãos,
A situação de penúria, de sofrimento, de falta de liberdade em nossa ilha já alcançou limites insuportáveis, até mesmo para mim, que gozo de uma condição relativamente privilegiada. O único lugar em que se come bem, nesta ilha, é naquela porção de terra ainda dominada pelo imperialismo: Guantánamo. Desculpem a ironia.

Não tenho mais para onde ir; nenhum país me estende convites; só me restam uns poucos ditadores espalhados pelo mundo, alguns em situação ainda pior do que a nossa, como vemos um pouco em todas as partes, sobretudo no Oriente Médio. De socialista, mesmo, só sobrou um canto recuado na Ásia, cujo povo vive uma situação de miséria e de opressão ainda pior do que a nossa, se isso é possível conceber.

Sei que nosso irmão socialista do Caribe, um coronel com jeito de Mussolini, que nos financia generosamente, agora que perdemos os subsídios da falecida União Soviética, esse líder político diz que o socialismo não acabou, que ele está apenas começando a se renovar. Isto não é verdade! Quem tem olhos para ver, sabe que o socialismo morreu, o dele tanto quanto o nosso, e estamos assistindo agora à lenta deterioração da situação econômica em seu país, que antecipamos inevitável.

Por isso minha decisão irrevocável, agora tomada, só pode ser uma. A partir de agora, Cuba volta a ser uma república democrática. Esta é minha última vontade.

O Partido Comunista tem de anunciar, imediatamente, que não mais detém o controle absoluto do Estado e do país. Serão organizadas eleições livres, todos poderão participar, de acordo com sua vontade organizada em partidos autônomos do Estado, e os eleitos comporão uma Assembleia Constituinte que decidirá soberanamente sobre o nosso futuro, fazendo tabula rasa dos últimos 50 anos. Os cubanos decidirão o que querem ser e como vão organizar a economia. Vocês são livres para se manifestarem e se organizarem como desejarem.

Eu devia isto a vocês, e só tenho um pedido a fazer: deixem-me morrer com dignidade em minha terra, sem ter de ir para algum exílio indesejado. Não quero para mim aquilo que obriguei outros a adotar: o caminho do exílio e da reconstrução de suas vidas. Eu não tenho mais vida para construir, apenas um nome para preservar na História. E não quero entrar para a História como esses outros ditadores que depois são vilipendiados nos livros. Qualquer que seja o julgamento da História, gostaria de terminar desta maneira: como o líder máximo que resolveu, ainda que tardiamente, desfazer todos os erros que cometeu ao longo da vida, e pedir sinceramente perdão pelos sofrimentos que causei.

Cidadãos de Cuba, levantem-se, vocês estão livres.
Que a História os proteja!


Fidel Castro Ruz
(com uma pequena ajuda de um escriba intrometido: Paulo Roberto de Almeida).

24/4/2011
Fonte: ViaPolítica/O autor
Diplomata, professor de Economia Política Internacional no Uniceub, Doutor em Ciências Sociais.

Seminario Internacional de Historia do Tempo Presente - SC, novembro 2011

Chamada de trabalhos: I Seminário Internacional História do Tempo Presente

O evento ocorrerá entre 07 e 09 de Novembro de 2011, na Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), em Florianópolis (SC) e contará com a presença dos Professores François Dosse e Michèlle Lagny, além de vários convidados do Brasil e do Cone Sul.

Os trabalhos propostos serão apresentados nos Simpósios Temáticos previstos:

-Relações de gênero, família e infância
-Narrativas e registros audiovisuais
-Patrimônio Cultural e Tempo Presente
-Cidades: narrativas, fluxos e sentidos no Tempo Presente
-Diásporas, trânsitos e fluxos no contexto das migrações internacionais no tempo presente
-A voz e a canção na mídia: construção de memória e história
-Ensino de História no Tempo Presente
-História oral e memória
-Ditaduras e democracias na América Latina

Cronograma básico:
Envio de propostas de comunicações para os Simpósios Temáticos: até 15 de junho de 2011
Divulgação dos trabalhos aceitos: 01 de julho de 2011
Data-limite para envio dos textos completos: 01 de setembro de 2011

Inscrições:
O pagamento para inscrever trabalhos nos Simpósios Temáticos ocorrerá após a
aprovação dos mesmos pelos/as coordenadores/as.
R$ 50,00 sócios ANPUH
R$ 75,00 não sócios ANPUH
(isenção do pagamento para professores de educação básica da rede
pública de Santa Catarina)

Mais informações em www.seminariotempopresente.faed.udesc.br

segunda-feira, 25 de abril de 2011

BRICS: solucoes pacificas, por favor, somos pelo dialogo...

Primeiro o artigo:

Ser radical é tomar as coisas
Celso Amorim
Carta Capital, 25 de abril de 2011

A Velha Ordem está morrendo. Viva a Nova! Já não será possível que um grupo de potências ocidentais dite a vontade do mundo.

Os líderes (no caso do Brasil, a líder) dos cinco países emergentes que, com a adesão da África do Sul, hoje compõem os BRICS reuniram-se em Sanya, na China, em 14 de abril último. A entrada da África do Sul é bem-vinda por trazer a África para esse grupo, cuja crescente importância no cenário internacional já não é mais contestada. Evidentemente, os pessimistas profissionais continuam a apontar diferenças de interesses entre os membros dos BRICS, traduzindo, em verdade, seu desconforto com a criação desse grande espaço de cooperação entre países até há pouco considerados subdesenvolvidos.
O mundo assiste à ascensão dos BRICS com um misto de esperança (de dividir encargos) e temor (de compartilhar decisões). Com o surgimento dos BRICS, chega ao fim a época em que -duas ou três potências ocidentais, membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas, podiam reunir-se numa sala e sair de lá falando em nome da “comunidade internacional”.
Tive oportunidade de participar dos primeiros movimentos que deram origem ao nascimento dos BRIC (então sem o “S”). Ou para usar uma terminologia que tomo emprestada da filosofia, da passagem dos BRIC de uma realidade “em si”, identificada pelo analista de mercado Jim O’Neill, para uma realidade “para si”. Foram necessários quatro ou cinco anos para que esses países assumissem sua identidade como grupo. O primeiro passo nesse sentido foi o convite do ministro do Exterior russo, Sergei Lavrov, para que os chanceleres dos quatro países se reunissem à margem da Assembleia Geral da ONU. Foi um encontro pouco estruturado. Interação mesmo, se é que houve, ficou restrita ao ministro russo e a mim.
No ano seguinte, tomei a iniciativa de convidar meus colegas para um almoço de trabalho na residência oficial da nossa representante permanente junto à ONU, Maria Luiza Viotti. Foi durante esse encontro que se tomou a decisão, inicialmente vista com certa reserva pela China, de convocar reunião a ser realizada em um dos países – e não como mero apêndice da pesada agenda dos ministros durante a Assembleia Geral. Assim, em maio de 2008, realizou-se a primeira reunião formal dos BRIC, na fria cidade russa de Ekaterinbrugo, no limite da Europa com a Ásia, com direito a declaração final e tudo o mais, ainda em nível de ministros. No ano seguinte, teve lugar, também na Rússia, a primeira cúpula de líderes. Antes disso, houve a tentativa, que acabou limitada a uma foto, de um encontro dos quatro, à margem da reunião do G-8 com alguns países em desenvolvimento, no Japão. Em 2010, ocorreu a Cúpula de Brasília, que quase não mereceu -atenção da mídia -brasileira, mas que motivou um documentário da tevê franco-alemã, a ARTE. E agora tivemos a Cúpula de Sanya, na China
E o que se nota ao longo desse processo? Primeiro, obviamente, a consolidação do grupo. Quando o Brasil propôs sediar a reunião do ano passado, a oferta foi aceita quase como um gesto de cortesia para com o presidente Lula, já que se tratava do final do seu mandato. Agora, sem que nada equivalente esteja ocorrendo, já se fixou a próxima cúpula para o ano que vem na Índia. Em suma, os líderes dos BRICS já não têm dúvidas sobre a importância de se reunir para discutir a cooperação entre eles e temas de interesse global, das finanças ao comércio, da energia à mudança do clima. Mais significativo, vencendo uma inibição que se fazia notar, sobretudo da parte da China, não hesitaram em tratar de questões relativas à paz e segurança internacionais. Em relação à Líbia, reafirmaram o desejo de encontrar uma solução “por meios pacíficos e pelo diálogo”. De forma mais geral, referindo-se ao Oriente Médio e à África, reafirmaram que o uso da força deve ser evitado. Como assinalou o comentarista do Financial Times, Gideon Rachman (embora eu discorde de sua análise das motivações), a intervenção anglo-franco-norte-americana na Líbia talvez seja o último hurrah! do que ele chama de intervencionismo liberal. Lembrando que Brasil, Índia, Rússia e China se abstiveram da resolução que autorizou “todas as medidas necessárias” para o estabelecimento da zona de exclusão aérea e a proteção da população civil, Rachman afirma que esses países, “as potências econômicas em ascensão”, são céticas sobre tal conceito. Aliás, se o Conselho voltar a reunir-se sobre o tema, é muito provável que a África do Sul, recém-ingressada nos BRICS e tendo de levar em conta posições mais recentes da União Africana, acompanhe seus novos companheiros de grupo. Isso deixaria a coalizão que apoiou o uso da força dependente de um único voto para qualquer nova ação que deseje tomar.
Bem… quais as consequências disso tudo? É que, com reforma ou sem reforma do Conselho de Segurança, já não será mais possível, por muito tempo, que um grupo de potências ocidentais decrete qual é a vontade da comunidade internacional. Da mesma forma que já não é possível para o G-7 (o G-8, do ponto de vista econômico, é uma ficção) ditar as regras que depois restaria ao FMI, ao Banco Mundial ou à OMC implementar. É evidente que, enquanto o Conselho da ONU não for efetivamente reformado, tudo será mais complicado e as grandes potências que emergiram vitoriosas da Segunda Guerra Mundial, especialmente os Estados Unidos, continuarão a barganhar apoios de Rússia e China, mediante concessões casuísticas, como fizeram por ocasião da adoção de sanções contra o Irã. Mas a tarefa será cada vez mais difícil. O surgimento dos BRICS no formato atual constitui uma verdadeira revolução no equilíbrio mundial, que se torna mais multipolar e mais democrático. Às vezes, as revoluções (refiro-me às verdadeiras, é claro) exigem tempo para se institucionalizarem. Mas isso acaba, inevitavelmente, ocorrendo.
Article printed from CartaCapital: http://www.cartacapital.com.br
URL to article: http://www.cartacapital.com.br/destaques_carta_capital/ser-radical-e-tomar-as-coisas.

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O que o ex-ministro está dizendo, em sintese, é que, na próxima vez que o CSNU se reunir para tomar alguma decisão, qualquer decisão, do tipo que se fez em relação ao massacre anunciado por Kadafy da população de Benghazi, os Brics vão propor que a situação seja resolvida por meios pacíficos, ou seja, pelo diálogo entre um ditador truculento e uma população sem armas.
Bela posição.
Funcionou em Ruanda.
Quando decidiram intervir, já se tinham ido 500 ou 600 mil pessoas.
Provavelmente os BRICS vão se opor a qualquer pressão sobre o governo da Síria, que vai continuar matando seu próprio povo, na indiferença geral. Se o CSNU quiser adotar qualquer solução a respeito, terá de ser por "uma solucao pacífica" e por meio do "diálogo entre as partes".
Bonito isto...
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Paulo Roberto de Almeida

Misterio dos blocos comerciais: a Alba existe

Desafio a me provarem que a Alba existe...

Bloco "liberal" deve ser contraponto a hegemonia do Brasil

Países latino-americanos da costa do oceano Pacífico pretendem assinar acordo comercial no dia 2 de maio
PATRÍCIA CAMPOS MELLO, DE SÃO PAULO
O Estado de S.Paulo, 25/04/2011

Chamado de AIP, deverá reunir Peru, Chile, México e Colômbia; analistas veem reação a grupo "bolivariano"

Em 2 de maio, os presidentes de Peru, Chile, México e Colômbia vão oficializar em Lima a criação de um novo bloco econômico que vem sendo chamado de Área de Integração Profunda (AIP), ou "bloco do Pacífico".
Um dos objetivos é ser um contraponto ao poder regional do Brasil e ao Mercosul.
O Brasil vê com ceticismo a iniciativa, capitaneada pelo peruano Alan García, presidente em fim de mandato.
O governo brasileiro aposta na guinada da política externa da Colômbia, que, sob a égide do presidente Juan Manuel Santos, reaproximou-se da Venezuela.
A Colômbia tem também se distanciado um pouco dos EUA, diante da resistência do Congresso americano em aprovar o acordo de livre comércio entre os dois países.
Mas Santos, em entrevista ao jornal "New York Times" em março, deixou claro o objetivo estratégico do novo bloco. "De certa maneira, o bloco vai contrabalançar o Brasil", disse.

ESTRIDÊNCIA
"Trata-se de uma reação instintiva dos vizinhos formar um contraponto ao Brasil, que é a grande potência regional; é um movimento de defesa natural", diz Amado Cervo, professor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília. "Eles estão procurando outras vias para atração de investimentos, dando uma dimensão mais atraente a seus mercados."
A AIP reúne os países "liberais" da região, em oposição à Aliança Bolivariana para as Américas (Alba), mais à esquerda, cria do venezuelano Hugo Chávez.
A AIP vai conectar 200 milhões de pessoas, 16 mil km de costa no Pacífico e mais de US$ 2,5 trilhão de PIB.

Ou seja, é um bloco que se aproxima das dimensões do Brasil, que tem aproximadamente 200 milhões de habitantes e US$ 2,2 trilhões de PIB. O AIP também é três vezes maior que a Alba.
Os países participantes já mantêm acordos de livre comércio entre si, com a exceção de Peru e México. Todos têm tratados com os EUA, exceto a Colômbia.
"A Alba é muito estridente, mas não traz muitos resultados práticos; já esse bloco pode ter resultados bem mais palpáveis", diz Shannon O"Neil, do Council on Foreign Relations.
"O acordo vai dar a esses países maior poder de barganha para negociar com o Brasil, por exemplo."
Para Cervo, esse novo bloco "só dá continuação a uma dispersão que existe hoje na América Latina".





País nega estar preocupado com aliança

DE SÃO PAULO

O governo brasileiro diz que não encara o novo bloco econômico como um concorrente para o Mercosul.
Para Marco Aurélio Garcia, assessor internacional da Presidência, "alguns países vão querer dar um caráter mais político a esse bloco, criar um polo de oposição" ao Mercosul. "Mas eu não vejo a Colômbia tentando criar uma alternativa à Unasul ou ao Mercosul", disse.
Ele aproveita para dar uma alfinetada no presidente do Peru, Alan García.
"Para sabermos qual a transcendência desse bloco, deveríamos esperar as eleições de 5 de junho no Peru; qualquer decisão lá tem dois meses de validade."
O Brasil também mantém convite à Colômbia para integrar o Mercosul. Marco Aurélio esteve em Bogotá em fevereiro e levou ao presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, e à chanceler, María Ángela Holguín, uma proposta para ingresso no bloco.
Ele afirma que a Colômbia "terá de avaliar suas opções".
Segundo o assessor, "não existe necessidade de contrabalançar o Brasil na região".
"Sim, temos problemas comerciais na região, a exuberância econômica brasileira causa tensões, mas nós tentamos equilibrar nossos superavits com os países e aumentamos investimentos brasileiros nessas nações."
Ele também aponta que o novo bloco poderia criar conflitos com a Comunidade Andina, formada por Bolívia, Colômbia, Equador e Peru.
"Não sei o que acontecerá com a Comunidade Andina. O grupo irá liberar também os outros integrantes a fazer o que quiserem?", pergunta Marco Aurélio.
(PATRÍCIA CAMPOS MELLO)

O besteirol da semana: protecionismo linguistico (um dos mais estupidos)

Politicos costumam gastar (mal) o nosso dinheiro, isso sabemos todos.
Eles também costumam aprovar projetos absolutamente inócuos, verdadeiras jabuticabas ambulantes, que ficam por aí, pendurados na legislação, sem pegar, mas provocando uma tremenda poluição legal.
De vez em quando, a estupidez baixa com toda violência e ocorre exemplos deste tipo.
Surpreende que um dos estados mais diversificados em sua origem étnica e cultural, dotado de um dos maiores IDHs do Brasil, senão o maior, com escolas supostamente de qualidade, tenha sido capaz de aprovar, por meio de sua Assembléia Legislativa, uma das leis mais estúpidas de que já se ouviu falar no Brasil desde Cabral.
Só podia ser emanada de deputados do PCdoB, esse monumento stalinista ao atraso e à boçalidade cultural.
Claro, não vai pegar, e só vai ser objeto de gozação, sem deixar de provocar novas "contaminações" de estrangeirismo no gauchês -- que diga-se de passagem já contem vários --, por pura vontade de contrariar de quem for um pouco mais gozador.
Eu inscreveria os deputados responsáveis por essa legislação estúpida no Guinnes da burrice nacional e internacional, com prêmio "data venia" (se é que pode o latim...).
Enfim, lamento pelos gaúchos, que contam com mulas de gravata na sua Assembléia...
Paulo Roberto de Almeida

No RS, estrangeirismo serão proibidos
GRACILIANO ROCHA, DE PORTO ALEGRE
Folha de São Paulo, 24/04/2011

Assembleia gaúcha aprova lei proibindo estrangeirismo na escrita

Os deputados do Rio Grande do Sul aprovaram uma lei para banir o bullying, o spam, o pizzaiolo e qualquer outro vocábulo estrangeiro sem estar acompanhado tradução nas propagandas e documentos oficiais do Estado.

Aprovada por 26 votos a 24, a lei foi proposta pelo deputado Raul Carrion (PC do B) e institui a obrigatoriedade da do uso de expressões em português no lugar das estrangeiras "em todo documento, material informativo, propaganda, publicidade ou meio de comunicação através da palavra escrita" no Estado.

Ainda caberá ao governador Tarso Genro (PT) sancionar ou vetar a lei.

O principal alvo da regulamentação são estrangeirismos que poderiam ser facilmente substituídos por palavras em português, como os anúncios que trazem o termo "sale" no lugar de "liquidação", mas a lei vai além.

Quando não houver uma expressão equivalente em português, diz o texto aprovado, uma tradução deverá acompanhar com o mesmo tamanho e destaque o intruso linguístico.

Fosse aplicado tal qual o texto aprovado, o princípio obrigaria uma propaganda de restaurante japonês, por exemplo, a explicar que sashimi são fatias de peixe cru.

A reportagem não conseguiu falar com o deputado. No texto de justificativa do projeto, ele acusa a existência de uma "acelerada descaracterização da língua portuguesa, tal a invasão indiscriminada e desnecessária".

Além de ser considerada inócua por linguistas, para quem idiomas são sistemas "vivos" em constante transformação, a iniciativa enfureceu o mercado publicitário gaúcho, potencialmente o maior prejudicado pela lei.

"É uma coisa insana querer engessar a língua. Mas, como não prevê punição, é mais uma lei que não vai pegar", diz Alfredo Fedrizzi, dono de uma agência de publicidade em Porto Alegre.

A ultima a sair, apague a luz... (empresas, quero dizer)

A frase, obviamente exagerada, era repetida pelos opositores do regime militar, durante a fase mais negra da repressão política, no início dos anos setenta. Never mind...
Primeiro, foram os brasileiros a sair, nos anos 80 e 90, por causa das crises econômicas, da estagnação, do desemprego.
Agora, são as empresas que saem, porque não têm condições de competir, aqui dentro ou lá fora, com os nossos custos.
Agradeçam ao governo...

Emigrar para competir
Editorial - O Estado de S.Paulo
25 de abril de 2011

Em busca de competitividade, indústrias brasileiras estão fechando unidades no País e transferindo suas atividades para o exterior, por meio de investimentos em novas fábricas ou aquisição de empresas já em operação. Em parte desses casos, as indústrias não procuram mercados próximos de seus novos centros de produção, pois continuam a atender preferencialmente o mercado brasileiro. Mas, para competir internamente com os produtos importados, preferem produzir no exterior.

Escassez e custo muito alto de mão de obra, tributação excessiva, juros elevados, concorrência desleal, infraestrutura precária e cara e valorização do real estão entre os principais fatores apontados pelos dirigentes dessas empresas para reduzir ou encerrar as atividades no País e desenvolvê-las no exterior.

O caso relatado pelo Estado (18/04), da maior fabricante de calçados do País, a Vulcabrás, que decidiu comprar uma fábrica na Índia para ali produzir a parte do tênis de sua marca que mais emprega mão de obra, é o mais recente numa lista de empresas brasileiras que decidiram produzir no exterior. A empresa adquirida emprega mil trabalhadores e o plano da Vulcabrás é expandir o quadro de pessoal para 5 mil pessoas em 18 meses. Como a indústria trabalha também com empresas terceirizadas, é possível que, nesse período, sejam gerados até 8 mil empregos. Na unidade indiana, a Vulcabrás produzirá a parte superior do tênis, feita de tecido, couro e material sintético. Na fabricação de um tênis, essa é a parte que mais emprega mão de obra, cujo custo, para a fabricante, será bem menor na Índia, compensando o custo adicional do transporte desse componente até o Brasil, onde o produto será completado.

O governo brasileiro já adotou uma tarifa antidumping, de US$ 13,85 por par, contra o calçado proveniente da China, o maior concorrente do produto nacional, mas a medida não limitou a entrada do similar chinês no mercado doméstico, pois os exportadores daquele país adotaram a prática conhecida como "triangulação", de embarcar seus artigos em outros países - como Malásia, Vietnã e até Paraguai -, como se nesses tivessem sido fabricados. Essa também é uma prática condenada pelas regras internacionais, mas o processo de punição é demorado, daí a opção de indústrias brasileiras pela produção no exterior.

A balança comercial brasileira continua a registrar um superávit expressivo no comércio de bens tradicionais da indústria. Nos primeiros três meses do ano, esse segmento da indústria registrou superávit de US$ 8,5 bilhões. Mas o resultado deveu-se basicamente a duas categorias de produtos - alimentos, por causa do alto preço no mercado internacional e da alta eficiência da agroindústria brasileira, e produtos de madeira, papel e celulose. Nas categorias em que a competitividade é fortemente afetada pela mão de obra, como têxteis e calçados, pela primeira vez em mais de duas décadas a balança comercial no primeiro trimestre do ano registrou déficit, que alcançou US$ 342 milhões. Esse dado também explica a decisão das empresas do setor de produzir no exterior.

Uma empresa brasileira do ramo de cosméticos decidiu fazer parcerias com empresas do México, Colômbia e Argentina, como primeiro passo para estabelecer-se nesses países. O objetivo inicial é abastecer o mercado local, mas a empresa pode transformar essas unidades no exterior em base para sua expansão para outros países da América Latina. Outra empresa do setor de calçados, que chegou a operar 21 unidades industriais no Rio Grande do Sul, para produzir 4,5 milhões de pares por ano, com o trabalho de 3 mil pessoas, decidiu mudar-se para a Nicarágua, de onde continuará a exportar para os Estados Unidos, seu principal mercado. A empresa brasileira líder da América Latina na fabricação de índigo e brim anunciou recentemente o acordo com um grupo da Argentina para lá iniciar a produção de denim.

O fenômeno pode ser duradouro. Dirigentes das empresas que decidiram transferir a produção para o exterior consideram remota a reconquista pelo Brasil da produtividade que vem perdendo nos setores intensivos em mão de obra.

Grande sucesso da politica estrategica energetica: apagao de combustiveis

Um comentário de um colega economista:

Eu não tenho nada contra as importações, muito pelo contrário. Mas o monopólio da Petrobrás não era vendido sob o argumento de que o petróleo e seus derivados são produtos estratégicos, que não poderiam ser deixados na mão do mercado, por causa do risco de desabastecimento? Ainda bem que a Petrobrás é a empresa "mais eficiente do mundo"!

Agora a matéria:

Falta de combustível causa rombo de US$ 18 bi na balança
Agência Estado, 24/04/2011

Com etanol em alta, motoristas migram em peso para a gasolina, provocando escassez do produto; produção local insuficiente obriga empresas a importar

Com a disparada do preço do etanol, que subiu mais de 30% nos postos de combustível desde o início do ano, os motoristas migraram em massa para a gasolina, provocando escassez do produto. Faltou combustível em alguns postos do interior de São Paulo. Petrobras e os usineiros chegaram a importar gasolina e álcool.

A situação é resultado da queda da produção de etanol provocada pela entressafra da cana e pela alta do preço do açúcar, que torna mais vantajosa a produção do alimento que do combustível. O quadro também reflete um problema estrutural do Brasil. Com o aumento da frota de veículos e o crescimento da economia, e sem investimentos compatíveis na produção de gasolina, diesel e etanol, o país começa a viver um "apagão" de combustíveis.

O consumo de derivados de petróleo (gasolina, diesel e nafta) ultrapassou a produção local, impulsionando as importações, que ficam cada vez mais caras com o aumento do preço do petróleo lá fora. Em geral, a Petrobras prioriza a produção de gasolina localmente e concentra as importações em diesel e nafta.

A situação vai provocar um déficit de 18 bilhões de dólares na balança de derivados de petróleo neste ano, conforme projeção da RC Consultores. Em 2010, as importações de derivados ultrapassaram as exportações em 13 bilhões de dólares, segundo o Ministério do Desenvolvimento. Em 2000, o rombo era de 3,2 bilhões de dólares.

Diferente do "apagão" de energia elétrica, que interrompe a produção nas fábricas e deixa as cidades às escuras, a falta de combustível é sanada com importações desde que a situação não seja muito grave. "A população pode não perceber, mas vivemos um estrangulamento do setor de combustíveis, um apagão", disse Adriano Pires, diretor executivo do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).

O poeta enterra a Coca-Cola (ou quase): Fernando Pessoa

Nem sempre poetas são bons publicitários. Fernando Pessoa, por exemplo, foi um desastre para a Coca-Cola...
Descubram...

Fernando Pessoa, empregado de escritório
Por Adelto Gonçalves, de Santos, São Paulo
Via Política, 17/04/2011

Fernando Pessoa, de Almada Negreiros
Canonizado no altar dos pais da pátria portuguesa, em vida ninguém dedicou muita atenção a ele. Mas como era o poeta além do mundo das letras? Como agia e pensava no campo dos negócios para ganhar a vida? Uma obra recém lançada na Itália trata de responder a estas questões sobre Fernando Pessoa.

I

Em janeiro de 1926, aos 38 anos de idade, com alguma experiência no campo econômico e comercial, o poeta Fernando Pessoa (1888-1935) entendeu que tinha conhecimentos suficientes para editar uma publicação mensal ligada a esses dois setores, a Revista de Comércio e Contabilidade, que fundou em Lisboa em parceria com seu cunhado Francisco Caetano Dias.

Mas, olhando sem parti pris, o currículo que o poeta carregava era o de empreendedor desastrado e de empregado de escritório, um guarda-livros, tal como o seu heterônimo Bernardo Soares, que, se experiência tinha, seria só para ensinar a arte do trabalho contábil. Na verdade, Pessoa ganhava a vida mais como tradutor de inglês para o português, o que lhe permitia desempenhar a atividade para várias casas comerciais, aproveitando-se da larga dependência de Portugal em relação à Inglaterra.

Como empreendedor, de fato, nunca teve êxito: a própria publicação dedicada ao comércio e à contabilidade teria vida efêmera, apenas seis números, assim como a editora e tipografia Íbis, que, instalada em 1907 no bairro da Glória, mal chegou a funcionar. Em 1921, fundou a Editora Olisipo, de ruinosa carreira comercial. Nela publicou os seus English Poems I e II e English Poems III, e A invenção do dia claro, de Almada Negreiros (1893-1970). Em 1923, a Olisipo lançou o folheto Sodoma divinizada, de Raul Leal (1886-1964), que foi alvo de um ataque moralizador da Liga dos Estudantes de Lisboa e apreendido por ordem do governo, junto com as Canções, de António Botto (1897-1959).

Pela Olisipo, Pessoa pretendia lançar uma série de livros importantes – a maioria traduzidos (ou com tradução prevista) por ele mesmo, talvez para evitar maiores custos. Na acanhada Lisboa de sua época, com meia dúzia de livrarias e editoras, esse também não seria um ramo muito promissor para quem não dispunha de maiores recursos para empreendimentos mais ousados num mercado restrito. E já ocupado por algumas casas tradicionais, que se acotovelavam no Chiado e na Baixa.

Levando em conta, porém, a boa formação que Pessoa recebera na África do Sul, de 1896 a 1905, seria de esperar que tivesse tido uma carreira profissional de maior sucesso – a vida que podia ter sido, e que não foi, como diria o poeta Manuel Bandeira (1886-1968) –, e não a obscura vida de empregado de escritório, o que lhe permitiu apenas viver em quartinhos em casas de familiares ou alugados na rua da Glória, no largo do Carmo, nas ruas Passos Manuel, Pascoal de Melo, D. Estefania e Almirante Barroso, entre outros locais, até que se transferiu de vez para a casa da família na rua Coelho da Rocha, 16, onde viveu os últimos 15 anos de sua vida e hoje está a fundação que leva o seu nome.

Para aqueles que hoje medem a importância de um homem pelo saldo de sua conta bancária, decididamente, Fernando Pessoa não teria sido alguém que pudesse dar lições de empreendedorismo ou organização comercial. Nem mesmo ânimo – ou, quem sabe, maiores recursos financeiros – teve para estudar na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, quando retornou de sua temporada africana, como pretendia. Talvez tivesse tido uma boa carreira como professor, se houvesse primeiro superado a timidez, o que nunca fez.

Fernando Pessoa, de Almada Negreiros


Ao passar os anos de sua formação em Durban, na África do Sul, à época colônia britânica, em companhia da mãe e do padrasto, o jovem Pessoa teve a oportunidade de estudar na Convent School, uma escola privada (liceu) e, depois, na Commercial Schoool, de 1902 a 1903, e na Durban High School, sob a orientação de Mr. W.H. Nicholas, homem de personalidade notável que, possivelmente, serviu de modelo para o seu heterônimo Ricardo Reis.

Na Durban High School, fez um curso de contabilidade e comércio, depois de ter sido um aluno brilhante no liceu nas disciplinas de Humanidades, como se pode constatar no livro Fernando Pessoa na África do Sul: a formação inglesa de Fernando Pessoa, de Alexandre E. Severino (Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1983). Se a sua educação havia sido essencialmente humanista até àquela altura, o que o teria levado à mudança tão brusca? Provavelmente, porque sua família entendia que um curso comercial lhe daria conhecimentos mais práticos para ganhar a vida. Até porque na colônia britânica não havia, àquela altura, escolas superiores, o que se deu só a partir de 1918. Se quisesse (e pudesse), teria de fazer o curso superior em Londres.

II

Fosse como fosse, foi em seu arsenal de conhecimentos comerciais que Fernando Pessoa se baseou quando decidiu escrever textos para a Revista de Comércio e Contabilidade. São textos um tanto ingênuos, do ponto de vista comercial, que incluem uma visão do mundo da publicidade, mas que trazem a marca inconfundível do literato que os produziu. Tanto que levou o ficcionista, poeta e jornalista português António Mega Ferreira, ex-editor do Jornal de Letras, a recolhê-los em Fernando Pessoa em O comércio e a publicidade (Lisboa, Cinevoz/Lusomedia, 1986).

São estes textos que agora ganham versão em italiano em Fernando Pessoa: Economia & commercio: impresa, monopólio, libertà (Perugia, Edizioni dell´Urogallo, 2011), traduzidos pelo professor Brunello De Cusatis, da Faculdade de Letras e Filosofia da Universidade de Perugia, autor de uma esclarecedora introdução. O volume inclui ainda o iluminado ensaio-posfácio “O evolucionismo comercial de Fernando Pessoa”, do poeta, tradutor e ensaísta Alfredo Margarido (1928-2010), recentemente falecido, a cuja memória o livro é dedicado.

Tudo o que se disse linhas acima se pode constatar neste trecho: “Um comerciante, qualquer que seja, não é mais do que um servidor do público, ou de um público; e recebe uma paga, a que chama o seu “lucro”, pela prestação desse serviço. Ora toda gente que serve deve, parece-nos, buscar a agradar a quem serve. Para isso é preciso estudar a quem se serve (...); partindo não do princípio de que os outros pensam como nós, ou devem pensar como nós (...), mas do princípio de que, se queremos servir os outros (para lucrar com isso ou não), nós é que devemos pensar como eles” (FERREIRA, 1986, p. 46).

Pode-se a partir deste texto concluir que Pessoa pensava um pouco longe para o seu tempo. Afinal, naqueles anos em que a publicidade ainda começava a se impor, poucos fabricantes levavam em conta pesquisa de mercado antes de lançar qualquer produto. Funcionavam como senhores todo-poderosos que seguiam só a própria intuição e gosto – o público que tratasse de consumir o que ofereciam. Até porque a concorrência era mínima. E Pessoa já advogava que se devia consultar o gosto do consumidor antes de colocar qualquer novidade no mercado. Era um pensamento revolucionário.

III

Foi a partir de 1925 que Pessoa passou a trabalhar também na área de publicidade e propaganda, ao conhecer Manuel Martins da Hora, que seria o fundador da Empresa Nacional de Publicidade, a primeira agência de publicidade de Portugal. Mas a experiência não foi bem sucedida, como lembra De Cusatis na introdução. Foi por volta de 1926-1927 que o poeta imaginou um slogan para a Coca-Cola, que então estava sendo lançada em Portugal, representada pela firma Moitinho d´Almeida Lda., empresa para a qual o poeta prestou serviços como profissional autônomo.

O slogan dizia: “Primeiro estranha-se. Depois entranha-se”. Há um jogo de palavras que se pode chamar de inventivo ou genial, mas, por trás, havia certa sugestão que hoje nem mesmo um publicitário muito ousado seria capaz de formular, ainda mais pensando nas conveniências de seu cliente. Em outras palavras: o que se queria dizer com aquilo é que, primeiro, a bebida teria um gosto um tanto estranho para a época, mas que, depois, com a continuidade, poderia oferecer certo êxtase, obviamente em função de sua toxicidade.

O resultado foi óbvio: não durou muito para que a autoridade sanitária de Lisboa proibisse a distribuição do produto e determinasse o seu sequestro. Convenhamos: do ponto de vista comercial, foi um desastre. A tal ponto aquilo ficou marcado que a Coca-Cola só haveria de voltar ao mercado português quase meio século depois, ao final da ditadura fascista (1928-1974), cujo grande ícone foi o professor António de Oliveira Salazar (1889-1970).

Olhando com olhos comerciais, o slogan só poderia ter saído da cabeça de um inconsequente. Só mesmo um nefelibata seria capaz de imaginar que aquilo não poderia trazer consequências funestas para seu cliente, ainda mais na sociedade portuguesa de então em que as forças do fascismo começavam a cobrir a nação com suas asas funéreas. Isso não significa dizer que o slogan não tenha qualidades.

Pelo contrário. Preenche todos os requisitos modernos que se exigem de um bom slogan publicitário. Tanto que, recentemente, em Portugal, por ocasião do lançamento do Frize, uma água limão-cola, o slogan foi recriado para: “Primeiro prova-se; depois aprova-se”, como observou Andréia Galhardo, da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Fernando Pessoa (UFP), do Porto, no artigo “Sobre as práticas e reflexões publicitárias de Fernando Pessoa”.

IV

É claro que, ao que se saiba, até hoje, ninguém escreveu isto com todas as letras, até porque Pessoa foi canonizado e entronizado no altar dos pais da pátria portuguesa, ainda que, em vida, nunca ninguém lhe tenha dado muita importância. Até para publicar seus versos sempre encontrou dificuldades, o que o levou a acumular seus escritos numa arca, que foi o inestimável espólio que legou à Literatura Portuguesa.

Mas, seja como for, Pessoa não pode ser tomado como gênio das finanças ou da publicidade - até porque, nestes dois campos de negócios, a genialidade está diretamente ligada à capacidade de fazer os clientes obterem lucros e, obviamente, também lucrar muito com eles. Nem por isso se pode deixar de reconhecer em Pessoa, depois da leitura destes textos didáticos, um funcionário de boa formação comercial e econômica, mas daí a imaginá-lo um mago das finanças ou do mercado é ir além da conta.

Não se pode deixar de assinalar também que Pessoa sempre foi um antidemocrata pagão, antiliberal e anticatólico, mais propenso a aceitar as ideias da maçonaria, o que fez no artigo “As Associações Secretas: análise serena e minuciosa a um projeto de lei apresentado ao Parlamento", publicado em 1935 no Diário de Lisboa, e de certo esoterismo, características que De Cusatis ressaltou com sagacidade em Esoterismo, mitogenia e realismo político em Fernando Pessoa. Uma visão de conjunto (Porto, Edições Caixotim, 2005).

Era um homem um tanto contraditório, uma alma angustiada, o que, provavelmente, o levou à dependência alcoólica. Mas era, sobretudo, um excepcional poeta. Educado em escolas que seguiam as mais puras tradições britânicas, se tivesse ido para Londres, em 1905, em vez de Lisboa, como era de sua pretensão, para tornar-se um poeta inglês, é de imaginar que teria tido melhor sorte na vida, mas aqui de novo adentramos o perigoso terreno do imponderável: a vida que podia ter sido, e que não foi...

17/4/2011
Fonte: ViaPolítica/o autor

ECONOMIA & COMMERCIO: IMPRESA, MONOPOLIO, LIBERTÁ, de Fernando Pessoa. Introdução, tradução e notas de Brunello De Cusatis, com posfácio de Alfredo Margarido. Perugia: Edizioni dell´Urogallo, 286 págs., 2011, 18 euros.
Site: www.urogallo.eu

Adelto Gonçalves é doutor em Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo e autor de Gonzaga, um Poeta do Iluminismo (Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999), Barcelona Brasileira (Lisboa, Nova Arrancada, 1999; São Paulo, Publisher Brasil, 2002) e Bocage – o Perfil Perdido (Lisboa, Caminho, 2003).
E-mail

domingo, 24 de abril de 2011

Bonus demografico no Brasil: e o lado "malus"?

Este editorial do Estadão chama a atenção para uma questão importante: as vantagens que podem advir da máxima proporção de população economicamente ativa nos próximos 20 ou 30 anos.
Não sou tão otimista assim. Acho que o Brasil deixará passar boa parte do período com crescimento medíocre -- em vista da alta tributação, baixo investimento, mediocridade na inovação -- e não acumulará riqueza suficiente para o período pós-bônus, quando teremos muitos velhos na população e um déficit maior ainda (do que já existe hoje) na Previdência.
O fato é que não apenas não fazemos as reformas necessárias -- na Previdência, no mercado de trabalho, na educação -- e não temos ganhos de produtividade suficientes para sustentar o período posterior, quando os custos serão maiores que os benefícios do chamado bônus.
Ou o Brasil reforma e aumenta radicalmente seu desempenho educacional, ou o bônus demográfico será uma oportunidade perdida.
Por enquanto estamos perdendo tempo.
Paulo Roberto de Almeida

O bônus demográfico do Brasil
Editorial - O Estado de S.Paulo
24 de abril de 2011

Dadas as deficiências estruturais do Brasil, há quem considere discutível a opinião de James O"Neill, criador da sigla Bric, de que já nos desenvolvemos a ponto de não mais sermos classificados como "economia emergente". Uma coisa, porém, é certa: a nossa taxa de natalidade já é muito semelhante à dos países industrializados. Segundo a OCDE, a taxa de fertilidade da mulher brasileira é hoje de 1,8 filho, em média, índice bastante próximo ao dos países ricos (1,7 filho por mulher). Se o País souber aproveitá-lo, esse bônus demográfico deve permitir que a renda per capita do brasileiro aumente 2,5% ao ano entre 2010 e 2050, segundo as projeções dos especialistas. Na metade do século, haverá o problema de envelhecimento da maior parte da população, mas ao longo desta e das próximas décadas, a qualidade de vida dos cidadãos tende a melhorar e a sua capacidade produtiva, a aumentar, assim como seu nível de poupança, desde que o País seja capaz de tirar o atraso em áreas como educação e saúde.

É importante notar que o crescimento demográfico no Brasil diminuiu sem medidas coercitivas do governo, como as em vigor na China, onde a taxa de fertilidade caiu para 1,5 filho por mulher em razão de uma legislação draconiana, inaceitável nos países democráticos. Sem dúvida, a alta taxa de natalidade, característica dos países mais pobres, agrava os problemas sociais e, sob esse ponto de vista, o Brasil avançou muito em relação ao período de 1950/80, quando a população acusava uma taxa de crescimento de 2,8% por ano, em média. O mesmo não se pode dizer da Índia, cuja taxa de fecundidade ainda é de 2,7 filhos por mulher. No grupo dos Bric, o Brasil também está em situação mais favorável do que a Rússia, que registra uma taxa de natalidade negativa de 0,6, ou seja, muito abaixo do nível de reposição, tornando mais graves os problemas de envelhecimento da população.

Um conjunto de fatores contribuiu para a transição demográfica por que passa o Brasil. Com a crescente urbanização do País e a expansão da indústria e da área de serviços, um número cada vez maior de mulheres passou a trabalhar fora de casa, sendo incluídas na População Economicamente Ativa (PEA). Segundo estudo do demógrafo José Eustáquio Diniz Alves, do IBGE, a taxa de atividade total das mulheres com mais de 10 anos subiu de 13,6% da PEA em 1950 para 26,9% em 1980 e 44,1% em 2000, estando atualmente em mais de 60%, com tendência a crescer. As contingências do trabalho e da vida urbana, bem como os novos métodos anticoncepcionais, contribuíram decisivamente para o declínio da taxa de fecundidade.

Ao lado disso, a taxa de dependência demográfica vem despencando. Em 1950-1980, cada 100 pessoas em idade produtiva tinham, em média, 82 dependentes. A projeção para 2010/2030 é de que o número de dependentes deve cair para 42 pessoas inativas (crianças e idosos) para cada 100 em atividade. Somente a partir de 2025, segundo o estudo, a taxa de dependência voltará a se elevar, diminuindo a proporção dos que trabalham em relação aos que já se aposentaram.

São nítidas as vantagens desse processo, que terá um impacto macroeconômico ainda mais pronunciado nas próximas quatro décadas, pois significa "maior capacidade de poupança, condição indispensável para a elevação dos investimentos necessários ao desenvolvimento", diz Alves.

Um trabalho dos professores Cássio Turra e Bernardo Queiroz, da UFMG, mencionado em estudo do Banco Mundial sobre o assunto, considera que o "primeiro dividendo" demográfico foi usufruído no período 1970/2010, tendo contribuído com 30% do crescimento econômico do País, embora tenha ficado aquém do que seria ideal. O "segundo dividendo" demográfico, que seria colhido entre 2020 e 2050, possibilitaria um acúmulo de capital associado à forma de trabalho mais madura, aumentando a produtividade do trabalho (Estado, 7/4).

Quer dizer, o Brasil tem aproveitado o bônus demográfico, mas menos do que poderia. Como o Banco Mundial sugere, o País terá de promover mudanças no mercado de trabalho e na Previdência Social para estimular sua poupança para investimentos.

sábado, 23 de abril de 2011

Pessach, a travessia: atualizando propostas biblicas... (PRA)

Não, não sou nenhum profeta. Mas, de vez em quando resolvo dar uma ajuda na obra de alguns, não meus predecessores, mas pessoas com a cabeça no lugar, que fizeram coisas boas para a humanidade.
A comunidade judaica está terminando de comemorar as festas do Pessach, a libertação do povo hebreu do cativeiro egípcio e a travessia do Mar Vermelho em direção à "terra prometida" (parece que ainda ficou alguma coisa na promessa, pois o pau continua comendo solto por lá).

Dizem que se fosse hoje, Moisés estaria com seu iPad e um GPS orientando o povo judeu, com a ajuda do Google Earth. Ao chegar no Mar Vermelho, ele não hesitaria: daria uma twitada, ou chamaria o comando do Estado-Maior do Exército Israelense pelo seu iPhone, e imediatamente teríamos uma ponte móvel sobre o mar, e tudo se daria na mais perfeita ordem e organização, sem precisar ficar errando 40 anos no deserto (gente desorientada).

Pois bem, eu também sou dado a ajudar esse pessoal, por isso mesmo resolvi completar a obra do profeta, reescrevendo sua obra mais famosa. A dele não tem copyright, mas a minha tem. Assim que se vocês forem usar, favor remeter a este profeta, não ao outro, que já não pode reclamar.

Dez Novos Mandamentos
(apenas uma sugestão...)

Paulo Roberto de Almeida

Todo mundo conhece os antigos mandamentos, quero dizer, os dez mandamentos do Antigo Testamento, aqueles que Moisés trouxe do Sinai justo no momento em que o povo de Israel, por acaso o povo eleito e supostamente bem comportado, se deleitava na maior esbórnia, ali mesmo, ao pé do monte. Aí o Charlton Heston quebrou aquelas pedras imensas – sim, eles tinham sido esculpidos na própria pedra, pela mão do Senhor – na cabeça de dois ou três recalcitrantes, derrubou o bezerro de ouro e mandou parar com o Carnaval. Bem, deixemos de brincar de Hollywood e vamos ao que interessa.
Os antigos, ou melhor, os dez mandamentos são aqueles dos quais todo mundo já ouviu falar e que pelo menos deveriam ser conhecidos de cor e salteado. Para os mais esquecidos, não custa lembrar (resumidamente):

1. Não terás outros deuses além de mim (reserva de mercado?).
2. Não pronunciarás o meu santo nome em vão (mas, por vezes não se sabe bem qual era esse nome, exatamente).
3. Guardarás o dia santo (às vezes é na sexta, outras no sábado, ou ainda no domingo, whatever...).
4. Honrarás o pai e a mãe (mas sempre lembram que o primeiro pode ser uma simples hipótese).
5. Não matarás (inclusive porque, no Antigo Testamento, tinha a lei do talião).
6. Não roubarás (salvo se for em caso de absoluta necessidade alimentar e se a propriedade não estiver cumprindo sua função social).
7. Não desejarás a mulher do próximo (dizem que foi aí que o sete adquiriu aquele risco no meio, pois o pessoal começou a gritar: “risca o sete, risca o sete!”).
8. Não cometerás adultério (outro mandamento difícil esse).
9. Não levantarás falso testemunho contra o teu próximo (a distância é crucial em certos casos).
10. Não cobiçarás as coisas alheias (mas tem gente que interpreta isso num sentido simplesmente metafórico).

Pois bem, visando despretenciosamente à elevação espiritual, ética e material da humanidade, pretendo oferecer aqui um complemento moderno a esses preceitos, duplicando os dez mandamentos de Moisés (antigos, velhíssimos, mas ainda válidos, não custa lembrar). Bem sei que os dez primeiros estão sendo obedecidos mal e porcamente, com casos notórios de infração reiterada ao espírito e à letra daquelas simples regras de convivência civilizada. Bem que o Charlton Heston poderia voltar para aplicar uns cascudos no pessoal mais arredio. Em todo caso, pensando que nunca é demais esperar o melhor de cada ser humano, permito-me traçar nesta pedra virtual dez novos mandamentos, para os quais não faço questão de copyright (aliás, no filme eles vinham escritos em inglês medieval e em letras góticas, lembram-se?).

1. Não terás maior amor do que o amor à natureza e aos semelhantes, segundo o princípio absolutamente universal de que todos os seres humanos nascem iguais e devem ter iguais chances de se afirmarem na vida; farás da Terra um lugar habitável por todos, não um paraíso para uns poucos, um purgatório para a maioria e um inferno para muitos milhões, como ainda ocorre.

2. A educação para o trabalho é o princípio unificador de toda a vida civilizada e por isso a instrução básica (geral, irrestrita e de qualidade) e a educação humanista serão as tarefas maiores de cada sociedade.

3. A família e os filhos, como núcleo social igualitário mas organizado, continuam sendo a maior riqueza da sociedade humana e por isso serão o critério básico de organização social e moral de todas as civilizações; o tratamento concedido à mulher define o padrão civilizatório ideal e o seu status na sociedade é o critério básico de progresso humano e social.

4. A tolerância mútua, incondicional e irrestrita, deve ser a norma da vida civilizada em todas as áreas culturais e espirituais e as religiões se enquadrarão nesse princípio contra todo e qualquer particularismo exclusivista e contra quaisquer tendências ao proselitismo.

5. As políticas públicas se guiarão, antes de mais nada, pela racionalidade entre meios e fins, respeitados os direitos das minorias e a conservação da natureza; os homens públicos se guiarão, sobretudo, pelo bem-estar das gerações seguintes às suas.

6. O livre-arbítrio, a liberdade individual, a democracia política e a solidariedade social são os princípios maiores de toda organização política eticamente responsável; responsabilização e transparência definem o funcionamento da ordem política.

7. Direitos humanos são inalienáveis e imprescritíveis e as comunidades organizadas se levantarão contra os tiranos que atentarem contra esses direitos; os direitos dos indivíduos passam antes dos poderes dos Estados.

8. A solução pacífica das controvérsias é o único meio aceitável de resolução de disputas; as comunidades organizadas se encarregarão de prevenir e remediar os possíveis atentados a esta norma de justiça universal.

9. O reconhecimento do mérito individual deve ser estimulado e reconhecido, e por isso as sociedades se esforçarão para dar chances iguais de partida a todos os indivíduos pertencentes a grupos menos favorecidos.

10. O progresso científico, guiado pelos princípios morais delineados nos demais mandamentos, é a condição indispensável do progresso humano e das liberdades individuais e por isso ele não será jamais obstado por qualquer princípio religioso, por relativismos culturais ou particularismos sociais que possam existir.

A vantagem dos antigos mandamentos sobre os meus é que eles tinham uma estrutura simples, uma linguagem direta e comandavam, de fato, coisas elementares (ainda que difíceis, algumas delas): não farás isso ou aquilo, ponto. Esses novos têm mais de recomendação política do que de imperativo moral, e por isso mesmo são muito mais difíceis de serem implementados. Independentemente de seu aspecto de “programa de governo”, eles podem apontar alguns caminhos na direção da elevação social, econômica e cultural, se não moral, da humanidade.
Mas existe uma “coisa” que não sofre limitações de nenhuma espécie, que não se submete às conhecidas restrições da lei da escassez dos economistas, que não depende de nenhum regime político particular para ser observada. Esta “coisa” se refere à natureza fundamental do ser humano, em sua dimensão propriamente relacional e ela poderia ser traduzida da seguinte forma: todas as pessoas, independentemente de idade, credo, raça, convicções políticas e times de futebol, têm o inalienável direito de amar e serem amadas, sem distinção de natureza, e sem qualificações de qualquer espécie. Amar no sentido lato e estrito, sem necessidade de se explicar ou de se justificar. Simples assim, mas isso não conforma exatamente um mandamento: trata-se da própria vida.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 4 de julho de 2006

(PS.: Novos desenvolvimentos e sugestões serão bem acolhidos, pois não há, nem pode haver numerus clausus em se tratando de trabalhar para o bem da humanidade.)

A Arte da Resenha: para uso de aprendizes, neófitos e outros amantes de livros (PRA)

Este texto foi elaborado em 2006, e permaneceu relativamente desconhecido desde então. Creio que merece maior e melhor divulgação, em prol dos malucos por livros, como eu mesmo...
Paulo Roberto de Almeida

A arte da resenha
(para uso de aprendizes, neófitos e outros amantes de livros)

Paulo Roberto de Almeida
(um book-addicted e dependente livresco terminal...)

Não conheço as regras, se existem, que eventualmente se aplicariam à prática das resenhas literárias e confesso que nunca vi nenhum “manual do resenhista profissional” (creio que isso não existe, ainda que possa haver mercado para algum tipo de “How to do a perfect review” ou então “An Idiot’s Guide for Reviewing Books”). Em todo caso, não pretendo, no presente texto, ou em qualquer outro contexto, preencher essas lacunas ou responder a questões do tipo “tudo o que você sempre quis saber a respeito das resenhas de livros e nunca teve a quem perguntar”.
Meu propósito é mais modesto e totalmente auto-explicativo. Pretendo, apenas, delinear alguns princípios constitutivos do que poderia ser considerado uma resenha em moldes “normais”, uma vez que este gênero, em especial no Brasil, parece ter derivado para o equivalente das modernas guerras de religião, com trucidamentos impiedosos de um lado e excessos encomiásticos de outro. Sem pretender fazer um “Book review for beginners”, vejamos o que poderia ser dito de razoável neste campo da leitura crítica.

Como sou um book-lover irrecuperável, um leitor compulsivo e um anotador doentio – tendo já preenchido, desde a adolescência, vários cadernos de leituras, antes de passar às notas de computador –, pratico, desde o início desse meu não tão secreto vício da leitura contínua, o hábito dos resumos e das resenhas críticas. Faço-o por absoluto gosto da leitura anotada, e do debate crítico, ainda que unilateral e à distância, com o autor de cada um dos livros que leio. Antes – e durante certo tempo – tinha por hábito anotar à margem dos livros, o que só podia fazer, evidentemente, com aqueles que me pertenciam, sendo escusado fazê-lo, por respeito aos demais leitores e ao patrimônio bibliotecário, naqueles livros tomados de empréstimo, outro hábito secular meu, se ouso dizer, desde tempos imemoriais. Em todo caso, eu já freqüentava bibliotecas antes de aprender a ler, na “tardia” idade de sete anos. Creio que meu primeiro trabalho publicado, já na adolescência, foi uma resenha de um livro de Erich From – acho que foi Medo à Liberdade, versão brasileira, pela Zahar, de Escape From Freedom (1941) –, impresso em mimeógrafo a álcool num num jornalzinho do grêmio acadêmico do colegial e que caberia algum dia recuperar.
Essas anotações à margem – que aumentam o valor dos livros usados quando seu autor é algum personagem famoso, cuja biblioteca foi reciclada ou doada por herdeiros “desprezíveis” – são incômodas, posto que “telegráficas” e incompreensíveis, ademais de incompletas, fora do contexto em que foram feitas. Daí minha inclinação, desde muito cedo, pela anotação crítica dos pontos relevantes de cada obra e uma avaliação final sobre a contribuição daquele livro para o conhecimento de algum campo especializado. Sim, devo confessar também que, salvo em raras ocasiões, minhas resenhas críticas sempre se dirigiram a obras de não ficção, uma vez que me confesso, não um “objeccionista” de obras puramente literárias, mas um leitor relativamente incapaz de realizar análises de obras de literatura stricto sensu. Meu “pecado original” sempre foi, e permanecerá sendo, a resenha de obras de não ficção, em especial no campo das humanidades, o que inclui também a economia e algumas vertentes das ciências “duras”.

Dito isto, vejamos agora o que eu considero que deva ser, ou constituir, uma resenha. Talvez fosse o caso de começar por dizer o que NÃO deve ser uma resenha.
Seria preciso, em primeiro lugar, que haja um mínimo de empatia entre o autor e o objeto em questão, ou seja, algum vínculo de interesse mais forte entre o resenhista e a obra examinada. Ainda que se possa conceber um exercício de crítica implacável, ou a condenação sem apelo de uma obra resenhada, não conviria que o animus examinandi do resenhista fosse totalmente negativo em relação ao autor do livro ou a temática do próprio. Resenhas sob encomenda, ou como obrigação profissional, podem correr esse risco, ainda que seja concebível a existência – aliás reconhecida – de resenhistas profissionais, pagos pelos órgãos da imprensa, para fazer exatamente esse tipo de trabalho. Mas, seria importante que o resenhista disponha de certa liberdade na escolha dos livros a serem examinados, como forma de garantir a já referida empatia.
Em segundo lugar, uma resenha tampouco deveria tentar descobrir supostas motivações pessoais do autor do livro sob exame, idéias que não estão explícitas, de forma transparente, na obra em questão. O único critério válido é o exame da obra em si, seus argumentos intrínsecos e explícitos, não o que possa pensar o autor sobre assuntos da vida civil ou suas opiniões expressas em outras circunstâncias e ocasiões, a propósito de outros temas. O que autor pensa deve se esconder atrás da obra, cujo conteúdo deve permanecer como critério único e exclusivo da atenção do resenhista.
Uma resenha também NÃO deve servir como meio de vingança por querelas passadas ou diferenças políticas e ideológicas que possam até dividir os “interlocutores” na vida civil. Trata-se de prática bastante comum nos meios de comunicação fortemente partidarizados ou dominados por alguma personalidade identificada com determinadas causas políticas e sociais. Não se pode excluir, é verdade, a exposição e o exame das posições políticas do autor da obra, mas o próprio resenhista deveria tentar separar esse aspecto da avaliação da obra, a não ser que esse aspecto seja inerente à temática exposta.

Vejamos, agora, o que pode ser uma resenha. Ela pode, obviamente, ser muitas coisas, ao mesmo tempo ou alternativamente, mas tudo depende da finalidade ou destinação da resenha em causa. Não estou considerando aqui “press releases” das próprias editoras ou notas factuais com finalidades puramente comerciais ou de simples informação e registro. Uma resenha deve conter uma exposição do conteúdo do livro, uma observação sobre o eventual ineditismo ou caráter original das informações ou dados nele contidos e alguma apreciação crítica sobre seu valor enquanto obra literária (ou científica, no sentido amplo).
Quanto à forma das resenhas, não existem propriamente padrões fixos. Os modelos consagrados são os mais variados possíveis, indo das pequenas notas às resenhas quilométricas. Essas variedades tendem a distribuir-se segundo os meios de divulgação. Jornais e revistas de informação geral parecem reservar espaço para apenas dois tipos de “resenhas”: curtas notas de registro sobre a publicação das obras correntes, isto é, a produção comercial das editoras, e resenhas stricto sensu que informam sobre o conteúdo e discutem as principais idéias ou argumentos do autor. Já os veículos especialmente consagrados à discussão da produção literária – periódicos especializados e suplementos literários dos próprios jornais – costumam abrigar resenhas lato sensu, que soem ser de maior amplitude.
Confesso minha preferência pelos artigos-resenhas – ao estilo dos review-articles do quinzenal literário The New York Review of Books (não confundir com The New York Times Book Review, o suplemento literário dominical desse jornal) – pois neles é possível discutir um grande problema mediante a apresentação de um ou mais livros que tratem do assunto em pauta. Trata-se de um gênero de resenhas muito pouco cultivado no Brasil, praticamente sem espaço em nossa imprensa, pois mesmo as revistas que agora surgiram para tratar de livros – como a Entrelivros, por exemplo – não ostentam, a propriamente falar, essas resenhas-artigos que fazem a fama da NYRB (a Entrelivros, aliás, publica resenhas do NYTBR). Nem sempre se trata de livros – pode ser uma exposição, ou um filme –, mas sempre é uma peça literária no mais alto sentido intelectual da palavra.

A forma não é, contudo, o coração da resenha, uma vez que ela pode ser tão mutável ou inovadora quanto os gêneros literários. O essencial da resenha está naquilo que é transmitido ao leitor, seu espírito e seu discurso. Uma resenha deve conter, antes de mais nada, um resumo dos argumentos principais do livro sob exame, dispensável, na parte relevante, quando se trata de uma trama policial, quando sequer se sugere o famoso “whodunit”, mas podem ser dadas as circunstâncias do crime. A exposição honesta, concisa e objetiva do teor do livro é um elemento essencial da resenha bem conduzida, sem a qual ficam lacunares tanto a discussão dos argumentos ou idéias do autor do livro quanto a crítica que se pretende fazer deles.
Uma vez apresentado o livro, idealmente no primeiro terço da resenha, caberia ao comentarista agregar outros elementos que permitam situar o livro no seu contexto, um pouco como sua posição no “estado da arte” daquele campo do conhecimento, o que no caso dos romances representaria discutir o que ele traz de novo ou de original em relação ao gênero no qual ele se situa. Essa parte também pode vir ao início, se há espaço suficiente para o resenhista começar o exame de uma obra pela avaliação do campo mais vasto no qual ela se situa.
O terceiro elemento central de uma resenha, obviamente, é a avaliação crítica do resenhista, sua apreciação favorável ou a indicação das limitações da obra em exame. Este ponto é um componente indispensável de toda resenha, ainda que bastante flexível em relação às possibilidades abertas segundo o veículo ao qual a resenha se destina. Uma revista acadêmica tem padrões bastante rígidos para a elaboração desse tipo de nota crítica, ao passo que um pasquim literário oferece latitude para considerações de ordem mais subjetiva. A resenha verdadeira sempre termina por algum julgamento de valor, o que por vezes descamba para alguma condenação sem recurso, segundo as escolas e clãs em que se divide a chamada république des lettres. São raros, contudo, os casos nos quais a resenha nada mais representa do que uma estocada mortal nas pretensões do autor a uma brilhante carreira literária. No mais das vezes, os golpes são superficiais, apenas para não inflar por demais o ego do autor, quando se trata do pura literatura.
Nos campos das ciências humanas e da economia, que constituem meus terrenos de manobras favoritos, a seriedade é de rigor, mas também já assisti a descomposturas em regra, quando não a poderosos tiros de canhão, como acontece nas verdadeiras guerras de religião, que nestes casos separam a esquerda – dominante nos meios da academia – de uma suposta direita, sempre envergonhada e quase inexistente. O que ocorre, geralmente, é que uma ala ignora a outra, sendo que a esquerda faz resenhas favoráveis de sua tribo e os liberais só se interessam pelos livros que eles reputam ter qualidades suficientes para merecer uma avaliação crítica. Não vou listar os veículos preferidos de uma ou outra escola, mas no terreno universitário todas as revistas estabelecidas ostentam, por dever de ofício, seções de resenhas, nas quais os mestrandos e outros candidatos a títulos podem exercer seus talentos até serem chamados a assinar verdadeiros artigos “científicos”.

Resumindo, e dando as “palavras-chave”, eu diria que uma boa resenha deveria ser feita dos seguintes elementos:

(a) Objeto: apresentação resumida do livro, com suas partes ou seções constitutivas e algum destaque para o argumento principal;
(b) Desenvolvimento: discussão das idéias centrais do autor, sua coerência intrínseca, sua validade extrínseca e contexto mais amplo nas quais elas podem ser inseridas;
(c) Avaliação: apreciação crítica, tanto do ponto de vista do conteúdo quanto do método, se for o caso, com balanço da contribuição do autor para a área do conhecimento;
(d) Prolegômenos e derivações: havendo espaço e possibilidade, a resenha pode começar discutindo o próprio campo no qual se situa a obra, fazendo um balanço do “estado da arte” e antecipando seu possível impacto para os estudos futuros naquele campo.

Voilà, creio ter apresentado o meu “manual” da resenha honesta, mas na verdade devo confessar que sou muito pouco sistemático, no sentido dos pontos acima resumidos. O que acaba valendo, para mim, é, finalmente, a empatia para com o livro ou o autor, elementos centrais, senão essenciais, de toda boa resenha.
Vale!

Brasília, 24 de janeiro de 2006