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quinta-feira, 29 de março de 2012

Livros de chumbo, palavras caras...: Argentina coloca barreiras a inteligencia

A Argentina já tem resultados deploráveis em várias áreas estratégicas para o desenvolvimento do país, inclusive em educação.
Com as medidas cogitadas, ela vai ficar um pouco pior.
Paulo Roberto de Almeida 

Cristina Kirchner limita a importação de livros

SYLVIA COLOMBO, DE BUENOS AIRES

Folha de S. Paulo, 29/03/2012 

Nova lei determina inspeção da quantidade de chumbo na tinta de impressão

Medida argentina impede a entrega em casa de compras feitas em sites estrangeiros, como o Amazon

Nos anos 40, seguidores de Juan Domingo Perón (1895-1974) repetiam a frase: "alpargatas, sim, livros, não", resumindo que o regime preferia ouvir os trabalhadores (que usavam esse calçado) e não os intelectuais e estudantes, que começavam a criticá-lo.
A frase está sendo lembrada agora por conta de uma nova lei protecionista do governo peronista de Cristina Kirchner, que impõe mais travas à importação de livros.
Em outubro, a Secretaria de Comércio Interior, comandada pelo kirchnerista Guillermo Moreno, determinou que importadores deveriam realizar exportações no mesmo valor das compras.
Em fevereiro, os livros foram incluídos no novo sistema de pedidos de autorização antecipada do mesmo órgão, o que começou a causar demoras na liberação.
Agora, o governo determina que toda obra que chega deve passar por inspeção para avaliar a quantidade de chumbo na tinta usada na impressão. A justificativa é que se trata de medida sanitária.
Fica estabelecido que, no caso de compra pela Amazon ou algum outro site estrangeiro, será necessário ir pessoalmente ao aeroporto, pagar a taxa e esperar a liberação. Não será mais possível receber os livros em casa.
A recepção da medida foi negativa. Várias editoras, como a Oxford e a Santillana, reclamaram. Livreiros e clientes já acusam a falta de livros técnicos, didáticos e infantis nas prateleiras.
INTELECTUAIS
Os intelectuais do grupo Plataforma 2012, do qual fazem parte Beatriz Sarlo, soltou nota de repúdio. Dizem que a medida "afeta o desenvolvimento da ciência e da cultura argentinas. Não só atentam contra o livre direito à informação como significam um triste e perigoso avanço sobre a liberdade das crenças, opiniões e pensamento".
Nas redes sociais, o assunto foi "trending topic" por dois dias, com o "hashtag": "#liberenloslibros".
As pequenas editoras também reclamaram. "Se essa medida fosse acompanhada de outras para apoiar a produção local, como subsídios para traduções e para impressão em gráficas locais, entenderíamos. Mas é apenas uma proibição", disse à Folha Damián Tabarovsky, editor da Mar Dulce, de poesia.
Ele acrescenta que, ao contrário de estimular, a medida pode inibir seus pares. "O custo da impressão está aumentando porque as gráficas estão lotadas para atender as grandes editoras. Nós vamos pagar o preço", conclui.
A indústria de livros na Argentina corresponde a 1% do PIB. As importações em 2011 somaram US$ 131 milhões, e as exportações, US$ 49 milhões. Entre os países que mais exportam para a Argentina estão Colômbia, China, Uruguai e Espanha.

Tentando entender, e nao entendendo: quem entender, me ajude, por favor...

Recolho, do pronunciamento da presidente na India, esta síntese feita pela imprensa, que traduz realidades que, sinceramente, não consegui entender.
Vejamos: 
Na cúpula dos Brics em Nova Délhi, criticou o que a Europa, os EUA, o Japão e a Inglaterra, sem citá-los, têm feito contra a crise global: as “medidas de austeridade fiscal” e as “políticas expansionistas que ensejam uma guerra cambial e introduzem, no mundo, novas e perversas formas de protecionismo”.


São medidas de austeridade, ou políticas expansionistas? 
Uma coisa não vai com a outra...
E se eles jogam dinheiro no mercado para desvalorizar suas moedas, e se tornarem assim mais pobres, como vão sustentar uma guerra cambial e o protecionismo ao mesmo tempo?
Ainda estou tentando entender...

Itamaraty: luta de classes ou regime de castas?; ou apenas elitismo besta...

Um comentário à propos: vejam o que me escreveu um amigo, depois que eu postei esta simples "notícia":

Pensando bem essa medida se coaduna com os elevadores reservados pra autoridades. Agora imagina se não fosse uma casa ungida pelos donos atuais do poder o tanto de manifestação de sindicatos e da UNE veríamos... 
Mario Machado

Pois é, parece que até a indignação, no Brasil, virou seletiva...
Paulo Roberto de Almeida 


Pela porta dos fundos do Itamaraty / Primeira Página
Correio Braziliense, 29/03/2012

Uma medida polêmica do Ministério das Relações Exteriores determinou a entrada de 1.700 estagiários, contínuos e terceirizados pelo subsolo do prédio, na Esplanada. Com problema no joelho, a estudante Thabata Norrana foi barrada na portaria e teve que descer a escada até a garagem. O Itamaraty alega questões de segurança
O estágio no Itamaraty começa pelo subsolo
Estudantes, contínuos e terceirizados só podem entrar no Ministério das Relações Exteriores por um acesso na garagem. A restrição atinge quase a metade dos funcionários do órgão, com a justificativa de garantir a segurança do prédio
Guilherme Amado
O Ministério das Relações Exteriores proibiu estagiários, contínuos e funcionários terceirizados de usarem o acesso principal do Itamaraty, obrigando-os a só entrarem no prédio pelo subsolo, em uma entrada ao lado da garagem. A discriminação é exclusiva para esse grupo de pessoas, que corresponde a cerca da metade do total de trabalhadores do ministério. Entre os terceirizados estão faxineiros, motoristas e recepcionistas. Ouvidos pelo Correio, os funcionários criticaram a decisão, tomada há um mês, quando o Itamaraty mudou as regras do acesso de pessoas ao prédio.
As três categorias que agora só podem entrar pelo subsolo totalizam, segundo o ministério, 1.700 pessoas. Embora tenham que passar o crachá e colocar a digital no sistema de identificação, que existe em qualquer entrada do Itamaraty, os funcionários relacionados têm sido barrados em todas as outras portarias. Além da inconveniência, por ser uma entrada mais distante das paradas de ônibus próximas, a mudança fez com que alguns estagiários se sentissem discriminados. "Eu tentei entrar pelo acesso principal e fui barrada. A segurança perguntou se eu era estagiária. Quando disse que sim, ela me respondeu que minha entrada era pela garagem. Questionei que aquilo era discriminação. Ela disse que sim, era discriminação mesmo", critica a estagiária de tradução Carolina Santana.
Estudante de administração, a estagiária Thabata Norrana também reclamou da medida. Na semana passada, com o joelho machucado, ela tentou usar o acesso superior do Anexo I para não ter que descer a escada que liga o nível da Esplanada com o subsolo pelo qual os estagiários devem entrar. Impedida pelo segurança, apesar da alegação de que não podia flexionar o joelho, a estagiária teve que entrar pela garagem. "Isso é um apartheid. Estão segregando alguns funcionários, dizendo ser por segurança, mas não tem lógica alguma, já que, lá dentro, continuamos tendo acesso aos mesmos lugares", defendeu a estagiária.
Alguns funcionários também reclamam do fato de terem que sair pelo subsolo à noite. "Tem dias que eu saio às 21h, está tudo escuro e tenho que ir andando até a parada de ônibus. Fico com medo. Pela outra entrada, era mais simples", lamentou uma terceirizada que não quis se identificar. O MRE tem pelo menos outras três entradas públicas de acesso. Uma, inclusive, no único prédio em que estagiários, contínuos e terceirizados podem entrar, só que em andar superior. Há também os acessos exclusivos a autoridades.
Entre os funcionários terceirizados, o clima é de conformismo. Duas recepcionistas que também pediram para não terem seus nomes divulgados acharam normal a medida do ministério. "Em outras empresas, é comum que nós entremos pela entrada de serviço. Já estou acostumada", afirmou uma delas.
Sem transparência
Uma das críticas mais recorrentes em relação à mudança é sobre a falta de transparência do ministério ao tomar a medida. Embora os estagiários tenham um e-mail funcional da pasta, não foi enviado nenhum comunicado sobre a alteração. "Só ficamos sabendo quando os servidores nos avisaram porque não temos acesso à intranet. Na prática, quase todo mundo só soube quando foi barrado em outra portaria. Foi constrangedor", contou outra estagiária que também pediu anonimato.
A insatisfação com a situação dos colegas também chegou aos diplomatas e oficiais de chancelaria, inconformados com a situação. "Fui estagiário por dois anos aqui no Itamaraty e isso nunca aconteceu. Sempre entramos por qualquer lugar e sempre fomos tratados da mesma forma que todos os funcionários. Isso é ridículo", afirmou um assistente de chancelaria.
Sindicato não vê problema
O Sindicato de Empresas de Asseio do Distrito Federal não viu problemas na regra do Ministério das Relações Exteriores. Segundo a diretora executiva do sindicato, Isabel Maria Donas, não caberia ao sindicato falar sobre as condições de trabalho da categoria. "O Itamaraty é quem faz as regras dele, eu não tenho que palpitar. Acho normal porque todo lugar tem acesso social e acesso de serviço, não é? Qual é o problema?", perguntou Isabel.

Livre acesso em outros órgãos 
O Itamaraty negou que haja qualquer discriminação contra estagiários, contínuos ou terceirizados. Segundo a assessoria de imprensa, o novo procedimento de entrada entrou em vigor com o objetivo de melhorar a segurança dos prédios que compõem o ministério. Todos os dias, cerca de 3.400 pessoas frequentam a pasta, sendo metade delas de servidores com vínculo permanente. Somente esses, de acordo com a nova regra, estão autorizados a entrar por qualquer portaria.
Em outros ministérios, como o da Justiça, e no Palácio do Planalto, não existe a diferenciação. Todos os funcionários, de qualquer condição social ou vínculo empregatício, podem entrar por todos os acessos, exceto os privativos da presidente ou dos ministros.
"Os estagiários, contínuos, motoristas e funcionários de limpeza, que são uma camada mais volátil, que não têm vínculo permanente com o ministério, muitas vezes chegam sem crachá e têm que fazer um provisório. Por isso, eles têm uma entrada específica", explicou a assessoria de imprensa do Itamaraty. Segundo funcionários, a afirmação não se sustenta diante do fato de todos eles terem crachá e digitais registradas no ministério. A entrada poderia, portanto, ocorrer em qualquer portaria.
O ministério alega ainda que os estagiários demoram algumas semanas para receberem um crachá. Por isso, devem entrar pelo subsolo, onde há estrutura para emitir um crachá provisório. Novamente, estagiários confrontam a afirmação. "Nós poderíamos entrar só nesse período pelo subsolo, e não para sempre", critica uma estagiária que pediu anonimato.
O ministério rebateu a afirmação sobre falhas ao comunicar as mudanças. "Avisamos as chefias para que avisassem seus subordinados e enviamos e-mails", justificou a assessoria de imprensa. Sobre o relato da estagiária machucada, o Itamaraty negou, mesmo sem consultar a segurança predial, e afirmou que "exceções são abertas a todo o tempo". (GA)

Millor Fernandes - uma homenagem de Paulo Timm


O BRASIL FICOU SEM GRAÇA. NEM RIGOR 
Paulo Timm
29/03/2012

Quem leu o livro “O nome da Rosa”, de Umberto Eco, ou viu o filme, deve se lembrar de uma passagem interessante: Um diálogo ríspido, no ano de 1327, na Biblioteca do Mosteiro, palco de sucessivos assassinatos, entre o monge, cego, bibliotecário, e o Padre  William de Baskerville  (Sean Connery) que ali estava para investigar os crimes. O velho monge irrita-se quando  percebe que o visitante  ri e o adverte severamente. O investigador indaga: Por que não rir? E seu admoestador responde  que isto não se coadunava à doutrina da vida monástica. O sorriso era expressão de alegria e esta, tal como o prazer, eram pecados.
 Assim era... O homem medieval encastelara-se de tal forma na busca da salvação de sua alma cristã,  que já não sorria, não cantava, não dançava, não extravasava seu prazer em palavras e gestos. Tudo o que lembrasse a mais leve menção ao naturalismo, inclusive Aristóteles, era envenenado para que aqueles que o vissem ou tocassem não sobrevivessem para contar uma estória permeada de prazeres proibidos.   Só na virada no Século XIII, quando as condições sociais e culturais na Europa  se alteram, isto começa a mudar e se traduz por uma nova voz da Igreja sobre o humor. Santo Tomaz de Aquino (12251274) lhe dá uma nova interpretação, considerando-o um “bem útil”: O humor estaria para a alma como o sono para o repouso corporal, podendo,  seu exercício pecar por excesso, levando ao vício, ou por falta, levando à incapacidade de seus portadores à perda de sensibilidade. Neste caso tornar-se-iam frios e calculistas. Esta visão do humor, como alívio do espírito, talvez tenha influenciado, também, Sigmund Freud (1856-1939), criador da Psicanálise. Ele o vê como um fator de distensão do homem “civilizado” diante das inevitáveis repressões do controle social da cultura.
Esta aguda percepção freudiana sobre o papel do humor e do humorista, como resistência cultural à todas as formas de cerceamento da liberdade cai como uma luva no Brasil.  À época da ditadura militar, o humor de alto nível, cultivado pela inteligência aguda de Millor Fernandes, fez época no PASQUIM (1969), transformando-o num “movimento” decisivo da formação da consciência crítica contra o regime militar.  Conseguiu ludibriar a censura com sua linguagem inovadora, cínica e debochada. E se transformou na pedra de toque na luta contra o autoritarismo. A ditadura não cairia numa batalha campal, como quis a luta armada. Desmoralizar-se-ia paulatinamente até tirar o time...
Na mesma época despontava na televisão, outro gênio do humor, com a mesma capacidade de ridicularizar os costumes da época: Chico Anysio. Ele tinha uma incrível capacidade   de se multiplicar em inúmeros personagens, todos inspirados no povo brasileiro.
Numa semana, Millor e Chico Anysio nos deixam. Ambos insubstituíveis. Senhores de um talento ímpar que, associado à extraodinária capacidade de trabalho, potenciaram sua respectiva inspiração, levando-a a limites insuperáveis. Com isso, o Brasil perde muito de seu encanto e graça.
Chico Anysio e Millor eram tipos diferentes na sua arte. Millor era mais grafológico, senhor de traços e palavra  fina, registrados na imprensa escrita, enquanto Chico Anysio era mais gestual, criador de estampas múltiplas que falavam por si. Millor era o homem de bastidores, Chico do palco. Millor era o homem  da classe média letrada dos grandes centros metropolitanos, Chico foi um dos artífices da televisão brasileira, vindo a se confundir com as grandes multidões por todos os recantos do país, numa era em que a maioria dos lares já dispunha deste aparelho.  Millor era cáustico e  instigante. Irônico. Dono da  "docta ignorantia", ou , "ignorância fingida”, deixando no ar a compreensão do dito. Detestava ser célebre, preferindo a notoriedade. Chico, explícito, propositivo, visual. Satírico. Um simulador sutil, dizendo uma coisa para dizer outra,  fazendo-se entender com facilidade. Não pode fugir à celebridade, mas viveu-a com simplicidade.  Os dois, de uma generosidade que lembrava aquele sentimento de fraterna irmandade humana que alimentou a esquerda moderna, nos primórdios dos falanstérios, antes que ela perdesse o humor e a graça sob a tutela de doutrinas. Ambos, a propósito, daquela esquerda...
A ida de Millor nos priva do filósofo, autor de mais de 15 mil aforismos, escritor de vários livros , um dos introdutores de Shakespeare entre nós. Um analista implacável da alma tupiniquim: “ Negociata é aquele negócio do qual nós não participamos”. A de Chico Anysio, nos priva das múltiplas personificações desta alma, como Justo Veríssimo: “Eu quero que pobre se exploda...!” Carregam consigo  não só nossos melhores momentos de humor como reflexão crítica, mas o rigor com que eram, graciosamente, tratados. Deixam na bagagem, para nós, os FUNDAMENTOS DE UMA FILOSOFIA TUPINIQUIM, para escárnio aos notáveis doutores que se revezam em Simpósios Acadêmicos tentando encontrá-los na obra de estranhos e datados  clássicos.

Estudos medievais no Brasil - Carmen Licia Palazzo

Um trabalho que denota não apenas estudo, pesquisa e conhecimento livresco, mas também viagens, conhecimento direto, nos locais e nos museus. Os interessados podem ler na revista da Associação Brasileira de Estudos Medievais:
http://www.revistasignum.com/signum/index.php/revistasignumn11/article/view/54/67



Revista Signum, 2011, vol. 12, n. 2.
RELATOS OCIDENTAIS SOBRE OS KHANATOS MONGÓIS: PIAN DI CARPINE E RUBRUCK (SÉCULO XIII) 
REPORTS ON THE WESTERN MONGOL KHANATES: PIAN DI CARPINI AND RUBRUCK (13TH CENTURY)
Carmen Lícia Palazzo
Centro Universitário de Brasília – Universidade de Brasília


Resumo:  No século XIII, muitos viajantes europeus estiveram na Ásia percorrendo caminhos que, bem mais adiante, a partir do século XIX, ficariam conhecidos como Rota da Seda. Nenhum deles, porém, deixou relatos tão significativos quanto os de Giovanni di Pian di Carpine e Guilherme de Rubruck. Ambos partiram em épocas diferentes (1245 e 1253, respectivamente) com o objetivo de contatar os mongóis para melhor conhecer a ameaça que poderiam representar para a Europa e também para avaliar uma eventual possibilidade de encontrar, entre os khans, cristãos convertidos que pudessem tornar-se aliados dos europeus contra os muçulmanos. Pian di Carpine foi enviado pelo Papa Gregório IV, enquanto Rubruck tinha como patrono Luís IX. Os dois deixaram obras diferenciadas, mas fundamentais para que os povos das estepes se tornassem mais conhecidos de uma Europa que naquele momento já estendia seus olhares para fora de si mesma.
Palavras-chave: Relatos de viagem. Khanatos mongóis. Cristãos do Oriente.  


Abstract: In the 13th century many European travelers went to Asia, over routes that were much later, in the 19th century, to be called the Silk Road. None of them, however, left as significant records as Giovanni di Pian di Carpine’s and William of Rubruck’s. They set out eight years apart from each other (1245 and 1253, respectively), with the intent of contacting the Mongols and better knowing the threat they might represent to Europe. They also sought to find among the Mongol Khans converted Christians likely to become allies of Europe against the Muslims. Pian di Carpine was sent by Pope Gregory IV, whereas Rubruck was sponsored by Louis IX. Both left unique and crucial works in the task of making the Steppe peoples better known to a Europe which, at that time, was already
looking beyond its confines.
Key words: Travel journals. Mongol khanates. Eastern Christians.
_____________________
Artigo recebido em: 05/11/2011
Artigo aprovado em: 22/02/2012
                                                       
E-mail: carmenlicia@yahoo.com

Argentina gostaria de isolar completamente Malvinas-Falklands...

Ou seja, quer obrigar, pelo boicote, embargo, bloqueio, cerceamento de vários tipos, a que os habitantes das ilhas Falklands se tornem amigos da Argentina, o que parece vai ser dificil...
Paulo Roberto de Almeida

Uruguay no apoya un bloqueo comercial de Malvinas

MONTEVIDEO. El canciller del Uruguay, Luis Almagro, dijo que el gobierno de José Mujica no se opone a la exportación que empresarios locales concretarán a las islas Malvinas el 13 de abril porque el país no está de acuerdo con un bloqueo a ese territorio, reclamado por la Argentina.
"Eso sería violatorio a los derechos humanos de los habitantes de esa isla y lo mismo que decimos para Cuba, lo decimos en este caso", dijo esta mañana el ministro de Relaciones Exteriores del Uruguay al fundamentar los motivos por los cuales no se frena la misión comercial -iniciativa de privados-.
Entrevistado en el programa "Fuentes confiables" deRadio Universal , Almagro dijo que los empresarios uruguayos hacen negocios "con el que quiere y con el que pueden", y que en general esto último es lo que prevalece.
En las últimas semanas ha crecido la presión de empresas locales que se ven impedidas de exportar a la Argentina pese a tener pedidos de empresas de ese país, pero los negocios se han visto frenados por decisiones políticas del gobierno de Cristina Kirchner.
"Uruguay nunca dijo que hay que hacer un bloqueo comercial a la isla", expresó Almagro cuando fue consultado expresamente por la postura del gobierno respecto al plan anunciado por empresarios de mantener un vínculo con las Malvinas.

Amigos, amigos, negocios bem a parte, totalmente a parte...

Bem, é o que se poderia chamar de politização do comércio exterior: apenas porque o Brasil deixou de afagar os iranianos, eles cortaram suas importações do Brasil.
OK, se eles encontram mais barato e melhor em outras partes, mas suponho que tenha sido feito mesmo com a intenção de punir os brasileiros pelo fato de terem deixado de sustentar, como ocorria com os companheiros de antes, as posições do governo iraniano, complicadas como elas podem ser...
Paulo Roberto de Almeida 

Exportações do Brasil para o Irã desabam

Valor Econômico, Quinta-feira, 22 de Março de 2012

As exportações brasileiras para o Irã caíram 63% no trimestre compreendido entre dezembro, janeiro e fevereiro, na comparação com o mesmo período da virada de 2010 para 2011, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic). No último mês do ano passado, o governo de Teerã começou a dificultar a entrada dos produtos, fazendo com que em fevereiro as vendas totais caíssem para US$ 22,6 milhões, cifra 88% menor do que o registrado no mesmo mês de 2011. Para analistas, o quadro é explicado por dois fatores: a instabilidade política e econômica no país e, principalmente, a mudança de rumo nas relações Brasil-Irã iniciada com a eleição de Dilma Rousseff.
Com a menor demanda iraniana, o produto mais afetado foi a carne bovina congelada. Entre dezembro de 2010 e janeiro e fevereiro do ano passado, o Irã era o principal destino desse produto, com as vendas chegando a US$ 203 milhões. Doze meses depois, no acumulado dos três meses, as exportações não passaram de US$ 28 milhões, fazendo dos iranianos o sexto mercado do Brasil.
Segundo Fernando Sampaio, diretor-executivo da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), o governo iraniano está segurando as autorizações de desembarque. A situação já foi discutida com os importadores. "Mas depende de um acerto diplomático. Pedimos para o embaixador brasileiro no Irã conversar com o governo local para facilitar a entrada dos produtos. Espero que a situação mude agora em março, já que é quando começa o ano novo deles", afirma.
A mudança de posição do Brasil na Comissão de Direitos Humanos da ONU, votando a favor de uma investigação independente sobre eventuais violações aos direitos humanos, em março do ano passado, marcou o esfriamento das relações entre os dois países. Essa postura de Teerã é uma resposta, de acordo com o cientista político e pesquisador do Núcleo de Pesquisa em Relações Internacionais da USP Samuel Feldberg, à nova posição brasileira. "É um instrumento perfeitamente utilizável, para tentar gerar pressão dos exportadores brasileiros sobre o governo. Na verdade houve uma troca de prioridade na diplomacia. Enquanto Lula focou na parte econômica, Dilma mudou a diretriz para questões no sentido moral, como direitos humanos e a proliferação do programa nuclear iraniano", diz.
Outro fator que explica a queda nas exportações é a pressão dentro do governo iraniano para que se busque maior equilíbrio no comércio bilateral. Em 2008, o Brasil vendia US$ 1,2 bilhão ao país. Três anos depois, o montante praticamente dobrou, chegando a US$ 2,3 bilhões. Na mão contrária, as vendas iranianas cresceram em porcentagem, mas permaneceram em um nível baixo no período, ao passar de US$ 14,7 milhões para US$ 35,2 milhões.
A ascensão do Irã como grande comprador do milho brasileiro nos últimos anos foi notada pelos exportadores, que agora lamentam a queda no comércio. O Mdic também registrou diminuição nas vendas do produto, que saiu de US$ 170 milhões para US$ 90 milhões. A exemplo da carne, que manteve as exportações para o mundo em um mesmo nível no último ano, o milho brasileiro diversificou os mercados para compensar a perda. Alysson Paolinelli, presidente executivo da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), afirma que a instabilidade política e econômica do Irã contribuiu para a queda nas vendas. "Nossos exportadores estão com receio de fazer negócios por lá. Felizmente há países que estão comprando mais, como Chile, Colômbia e até o Egito."
A visão de que a instabilidade política iraniana pode afugentar exportadores brasileiros, como dito por Paolinelli, é compartilhada pior Mauricio Santoro, cientista político e professor de Relações Internacionais da Fundação Getulio Vargas (FGV). "Muitas empresas estão com medo de fazer comércio por lá por temerem a possibilidade do aumento de sanções da comunidade internacional ao país, e até de um eventual conflito armado com os israelenses", afirma.
A União Europeia espera dar um duro golpe na economia do Irã em julho, quando entra em vigor o cancelamento da compra do petróleo iraniano. De acordo com Santoro, a medida deve afetar até 30% das exportações da commodity, que é a principal fonte de receitas do país. "A sanção vai ter um efeito forte na balança comercial deles. E como o Irã não refina gasolina, vai ter que seguir comprando, o que vai comprometer ainda mais suas divisas internacionais", diz.
Outra ação internacional recente também mostra que os negócios com o Irã estão sendo dificultados. O Grupo de Ação Financeira Internacional (Gafi), que tenta coibir a lavagem de dinheiro, lançou comunicado em fevereiro para alertar sobre operações financeiras no país, que já era classificado pelo grupo como de alto risco. Para o presidente do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), Antonio Gustavo Rodrigues, os exportadores de carne tiveram problemas para fechar contratos em câmbio. "Os bancos não querem fazer negócio e correr o risco de sofrer sanções", afirma.
Segundo Fernando Sampaio, a dificuldade em receber o pagamento do importador começou em 2011 - a primeira vez em que a avaliação do Gafi sobre o Irã mudou foi em fevereiro de 2011. "Mas o dinheiro estava chegando. Nosso principal problema é o desembaraço na fronteira."
Fonte:  Valor Econômico

Jumentos bipedes defendem jumentos quadrupedes: faz sentido...

Eu NUNCA assino petições. Não apenas porque não costumo aderir a manifestos e declarações dos quais eu mesmo não tenha participado de sua redação -- e NUNCA participo da redação de qualquer manifesto ou petição, pois esses empreendimentos sempre se pautam pelo mínimo denominador comum, que costuma ser idiota -- mas também porque as causas geralmente são idem, ou seja, muito idiotas, ou totalmente idiotas. 
Baleias, golfinhos, borboletas, gays, quilombolas, reservas naturais, cotas raciais, santuários de qualquer coisa, até verdadeiros santuários, alguma semente imperialista, algum OGM idem, algum fast-food americano, enfim, todas as causas mais idiotas acabam nas mãos (e nos pés) dos redatores mais idiotas de manifestos idem...
Enfim, como vêem, tenho horror a manifestos e petições de qalquer coisa, mesmo para causas aparentemente nobres como lutar contra a corrupção, tirar bandidos do sistema político, fazer escolas decentes para nossas pobres criancinhas, etc...
Mas, e se trata de um grande MAS, nunca me recuso a ler manifestos, pois sempre se fica sabendo mais um pouco sobre os insondáveis meandros da alma humana.
Não que os manifestos sejam redigidos por êmulos de Tolstoi, ou seguidores de Dostoievski, mas é que a redação sempre me ensina algo dignificante, ou então degradante, o que é mais ou menos a mesma coisa, para quem observa o mundo e aprende com ele (ou não).
Bem, mas deixemos o mundo de lado, pois se trata de um vasto mundo e, como diria o poeta, eu não me chamo Raimundo.
Fiquemos com o nosso Brasil mesmo, que já é um osso duro de roer nessa matéria de inteligência... (ops, escorreguei...).
Algum tempo atrás fiquei curioso ao saber que o Brasil estava exportando jegues para a China; sim, o nosso simpático jumento, que povoa certas estradas provinciais do Nordeste, e até existe em cidades mais importantes de qualquer parte do Brasil.
Não soube mais, pois a nota era pequena e até pensei que fosse uma broma, uma brincadeira; ora, vejam só, o Brasil exporta um pouco de tudo, mas jegues para a China, francamente...
Bem, não é que agora deparei-me com um manifesto que protesta contra essa hipótese?
Transcrevo abaixo, não sem antes acrescentar alguns comentários.
Os jumentos que protestam contra essa exportação gostariam, por exemplo, de criar a Jumentobras, para desenvolver todo um programa nacional de proteção e promoção do simpático bichinho, ou eles apenas estão exercendo seu direito de ser idiotas, ao tentarem impedir esse comércio legítimo?
Eles querem protecionismo ao contrário, mas apenas em relação aos jumentos?
E as simpáticas vaquinhas, os afáveis bois de curral, todos os carneiros e porquinhos que exportamos, vivos, mortos, aos pedaços, em filé e cortes selecionados, eles também não mereceriam igual proteção?
E as galinhas, coitadas, os franguinhos tão frágeis, por que é que eles não poderiam se beneficiar também de uma proteção dos mesmos jumentos que pretendem defender o legítimo jumento nacional?
Acho esse tipo de discriminação contra os outros animais odiosa, no mínimo inconstitucional, pois a nossa Carta Magna recomenda que no Brasil não se faça nenhum tipo de discriminação ou preconceito com base em raça, cor, religião, time de futebol, sexo -- ou melhor, gênero, e temos vários deles -- enfim, não se pode dar ao jumento aquilo que não se pode estender aos outros filhos de Deus. E no Brasil todos são filhos de Deus.
Sou pela ampliação desta petição, e quero ver circular uma que proteja todos os nascidos no território pátrio. Prometo que essa eu assino (dependendo da linguagem, claro).
Paulo Roberto de Almeida 
PS.: Quem desejar assinar o manifesto dos jumentos, achegue-se neste link: http://www.peticaopublica.com.br/PeticaoVer.aspx?pi=P2012N21806


ABAIXO ASSINADO CONTRA A CRUEL EXPORTAÇÃO DE JEGUES PARA A CHINA
Para: MINISTÉRIOS DA AGRICULTURA E MEIO AMBIENTE
Nós, amantes e protetores dos animais, vimos por meio desse abaixo-assinado protestar veementemente contra a exportação de 300 mil jegues do Brasil para a China! Sabemos que esse país, assim como o nosso, não prima pelo bem estar de seus animais, sejam os domésticos ou os selvagens. Esperamos que o Ministério da Agricultura e o Ministério do Meio Ambiente VETEM essa verdadeira carnificina, pois temos comprovações de como animais são tratados na China: ursos tem sua bile extraída SEM ANESTESIA para que seja usada para fins medicinais. Vamos por um fim à vivissecção! Os jegues sempre foram os verdadeiros companheiros do Nordestino, pois não há justiça humanidade decência alguma na fala do execrável secretário de agricultura do Rio Grande do Norte, JOSÉ SIMPLÍCIO DE HOLANDA, quando diz que os asnos agora só servem para causar acidentes na estrada. Pois eu digo mais: os verdadeiros asnos que causam acidentes muito mais graves, são aqueles que usam ternos caros e exercem cargos públicos! POR UM TRATAMENTO DIGNO AOS JEGUES, QUE AJUDARAM A ERGUER MUITAS DAS GRANDES CIDADES NORDESTINAS! 
Os signatários

A pergunta do dia: companhias estrangeiras, ideias estrangeiras...

Recebi um comentário de um leitor de um dos meus posts -- sobre cadeia de produção da soja e o fato de que multinacionais processem a soja que os agricultores brasileiros produzem e vendem os produtos derivados -- concordando com o professor que primeiro se espantou com esse "horror econômico".
Daí fiz o seguinte comentário: 



"Está proibido multinacionais agregarem valor a commodities brasileiras?
Brasileiros estão proibidos de agregar valor a suas próprias commodities?
(...)
Por que é que os brasileiros são tão estúpidos que deixam apenas os gringos agregarem valor?
Mas, por que não competimos com ele?"

E terminei com a pergunta do dia:

Por que professores sempre tem preconceito contra companhias estrangeiras e nenhum preconceito contra todas as teorias estrangeiras -- francesas, alemãs, inglesas -- que eles importam e usam o tempo todo?
Que burrice não é?
Paulo Roberto de Almeida

Economia verde no Brasil: onde, como, quando, de verdade? - Rubens Ricupero

Parece que não só o Brasil, mas a própria ONU, e todos os demais personagens dessa comédia de erros, andam atarantados sobre o que fazer, como fazer, como despachar essa coisa que inventaram, a Rio+20, e que vai ser realizada sem que nada, ou quase nada, além de uma modesta declaração exortativa, com muito bullshit diplomático, seja aprovado dentro de poucos meses no Rio.
Abaixo uma crítica de alguém engajado no processo, mas decepcionado com a pobreza, a penúria, a escassez completa de resultados tangíveis.
Paulo Roberto de Almeida

rio+20
ENTREVISTA / RUBENS RICUPERO
Governo brasileiro e ONU diluíram agenda da Rio+20
CLAUDIO ANGELO
DE BRASÍLIA
Folha de S.Paulo, Ciência, segunda-feira, 13 de março de 2012, pág. C11

PARA O EX-MINISTRO, AUSÊNCIA DE METAS VEM DO RECEIO DE EXPOR AS CONTRADIÇÕES ACERCA DAS QUESTÕES AMBIENTAIS
Leticia Moreira/Folhapress

O ex-ministro Rubens Ricupero, em São Paulo

O governo brasileiro é atrasado em matéria de economia verde e, por isso, tem sido cúmplice das Nações Unidas na diluição da agenda da conferência Rio+20. Quem acusa é o embaixador e ex-ministro do Meio Ambiente (1993-1994) Rubens Ricupero.
Um dos principais negociadores brasileiros na Rio-92, Ricupero, 74, coordena um grupo de políticos, intelectuais e cientistas que deve encaminhar ao governo um documento que critica as baixas ambições do país nessa área, especialmente em comparação com China e Coreia, e pede a criação de um ministério da economia verde.
Em entrevista à Folha, ele manifesta o temor de esvaziamento da Rio+20. "Se você faz uma agenda modesta, está dando argumentos para que o pessoal não venha."

Folha - O governo tem dito que a Rio+20 não pode ser comparada à Eco-92. Isso é medo de criar expectativa demais?
Rubens Ricupero - É receio de desapontamento e expressão das contradições que existem no governo em matéria de definições ambientais.
Como o governo é pouco claro nisso, procura acentuar mais temas econômicos e sociais. Você nota isso no desejo de inserir a Bolsa Família como um dos êxitos brasileiros na luta contra a desigualdade, que estaria em um dos três pilares da conferência. Não deixa de ser verdade, mas é preciso levar em conta que, no desenvolvimento sustentável, dois pilares, o econômico e o social, são definidos em função do ambiental. A Bolsa Família é meritória, mas não tem muito a ver com ambiente.
De outro lado, há o receio de não conseguir repetir aquele êxito extraordinário. Em 1992, a conferência começou com a assinatura de duas convenções-quadro da ONU, a de mudanças climáticas e a de biodiversidade, coisas que você não pode repetir toda hora. Não me surpreenderia saber que muitos chefes de Estado talvez não venham.
Mas o próprio desenho modesto da agenda da conferência não torna a Rio+20 à prova de fracasso, e portanto atrativa para os chefes de Estado?
Se você tem medo de que não dê certo e por isso começa a diminuir a expectativa e faz uma agenda modesta, está dando argumentos para que o pessoal não venha.
É difícil que essas figuras que estão batalhando com a crise do euro venham se a conferência for só uma declaração. Talvez esse formato de reunião já condene a um anticlímax. Uma comemoração nunca é a mesma coisa, é uma evocação, não uma repetição do fato.
Então não havia como a agenda da conferência ser mais ambiciosa do que ela é?
Você poderia fazer uma coisa honesta. Admitir que a conferência talvez não conseguisse resolver todos os problemas, mas dizer: nós não vamos varrer para debaixo do tapete os problemas que nos ameaçam, que são a questão climática e a do ritmo acelerado de extinção da biodiversidade. Uma maneira de fazer isso foi aventada pelo ex-senador americano Tim Wirth [que era subsecretário de Estado dos EUA na Eco-92].
A ideia era adiar a Rio +20 para o fim do ano, e que ela fosse antecedida pela Convenção do Clima e a da Biodiversidade. O pessoal ficou apavorado (risos). Com medo de que elas dessem em nada.
Nos documentos que o Pnuma [Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente] preparou para uma reunião há duas semanas, havia um sobre como medir avanço ou retrocesso em tudo: camada de ozônio, tóxicos, aquecimento, extinção. Isso permitiria saber para onde as coisas estão indo.
Indicadores de desenvolvimento sustentável.
É. Se tivesse havido coragem, poderiam ter preparado uma reunião que não escamoteasse a gravidade dos problemas. O que se está procurando fazer, e não somos só nós -a conferência é da ONU- é disfarçar isso.
Como isso se manifesta?
Uma das formas é a diluição da agenda. O governo brasileiro diz uma coisa que é difícil de criticar em si: que o desenvolvimento sustentável tem três pilares, o ambiental, o econômico e o social. Mas a forma como isso está se traduzindo é que tudo entra na agenda, até a reforma do sistema financeiro. O problema ambiental, que na verdade é a razão principal, acaba sendo um entre 678.
Houve sequestro da agenda da conferência pela agenda do governo brasileiro?
Não. A ONU baixou o nível de expectativa. O Brasil só se aproveitou disso. O governo é atrasado no tema de economia verde, a maioria das pessoas nem compreende esse conceito, há contradições.
O maior exemplo é o Código Florestal. Estamos na véspera da conferência com esse pessoal ruralista querendo votar uma coisa que é a negação da conferência. Como o governo tem essas contradições, a saída é diluir.
A ministra Izabella Teixeira (Meio Ambiente) disse que ninguém tem mais credenciais verdes do que o Brasil.
Isso é em parte verdade, por causa do etanol, das hidrelétricas. Mas tem outro lado. Estão fazendo mais termelétricas. O governo nunca conseguiu fazer um plano de transição para uma economia de baixo carbono.
A única medida de política econômica que eu conheço que o Brasil tomou nos últimos anos com um conteúdo ambiental foi o favorecimento a produtos de linha branca [eletrodomésticos] que economizavam energia.
O que você não tem é um projeto de país, de governo, em direção à economia verde, como a China está fazendo, com investimentos pesados em inovação. No dia em que eles tornarem a energia solar competitiva, vamos ter de comprar deles, porque eles estão investindo, nós não.
Por que não?
Falta um lugar onde se possa pensar essa política, porque isso não é uma política do Ministério do Meio Ambiente. Você precisa integrar o conceito de baixo carbono no planejamento econômico. Mas você tem planejamento econômico no Brasil onde?

Raio-X - Rubens Ricupero
NASCIMENTO
1º de março de 1937, em São Paulo
FORMAÇÃO
Direto (USP, 1959). É diplomata de carreira
ATUAÇÃO
Foi embaixador do Brasil em Genebra, Washington e Roma e coordenou o grupo de finanças da conferência Eco-92, que deu origem ao GEF (Fundo Global para o Ambiente); foi ministro do Meio Ambiente e da Amazônia Legal (1993-1994) e da Fazenda (1994), secretário-geral da Unctad (Conferência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento) e subsecretário-geral da ONU (1995-2004); hoje é professor da Fundação Armando Álvares Penteado, em São Paulo.

O MEC confirma a pior das expectativas: sao as sauvas freireanas...


Sim, eu sei, eu escrevo coisas horriveis sobre o MEC, mas nenhuma que não tenha alguma justificativa nos fatos, e nos processos, que contemplo, à distância, como um espectador interessado no triste espetáculo da educação brasileira, uma tragédia anunciada muitos anos atrás, e que vai se prolongar pelo futuro indefinível vários anos à frente, para maior desgraça do Brasil.
Abaixo, transcrevo o que escrevi algumas meses atras, a propósito da posse do novo (des)ministro da Educação (talvez com "e" minúsculo seria melhor), aproveitando um editorial do Estadão, postado logo em seguida. Acho que preciso ratificar, e para pior, o que escrevi abaixo. E por que isso?
Bam, acaba de ser nomeado para uma das secretarias do MEC um militante da causa dos companheiros que sequer conseguiu terminar um curso superior (não importa qual), desde 21 anos que se inscreveu pela primeira vez numa universidade federal.
O fidelíssimo companheiro das causas justas deve ter ficado fazendo política companheira durante esse tempo todo, e agora é premiado com um cargo para a qual a competência técnica deveria primar, mas isso é o que menos importa para a política companheiro não é verdade?
No lugar da competência e da expertise, o que temos é a fidelidade companheira, sabuja, disciplinada, a todos os propósitos do gramscianismo anacrônico, na perfeita linha do comitê central (na mais pura tradição bolchevique, claro).
Aliás, o fato de que tenha sido designado um companheiro para uma secretaria do MEC, em lugar de um acadêmico competente, está de pleno acordo com a fraude que já presidiu à nomeação de seu chefe como primeiro ministro de Ciência e Tecnologia do atual governo, atual ministro da (des)educação, e que montou uma banca expressamente dedicada a atribuir-lhe, ao arrepio das mais elementares regras da moralidade acadêmica, uma titulação doutoral que desonra a UniCamp e todos os que participaram dessa verdadeira farsa (com perdão pela contradição nos termos, mas ela se aplica, cada vez que tratamos desse tipo de "coisa").
Creio que isso confirma que estamos afundando cada vez mais em matéria de educação. Com vocês, um post anterior, que merece upgrade e lifting, para empregar uma língua odiada pelos companheiros.
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Paulo Roberto de Almeida

sábado, 18 de fevereiro de 2012
MEC: um antro de sauvas freireanas e de "perdidos no espaço"

Acho que este editorial do Estadão, transcrito abaixo, peca por condescendência.
O novo ministro da Educação não é o novo regente do MEC, no máximo um ocupante desocupado, e um passageiro de ocasião, sem qualquer noção do que deve ser feito, e como deve ser feito.
O MEC, hoje, é uma montanha dessas fofas, construídas pelas formigas, neste caso uma espécie particular, as saúvas.
Lembram-se de Monteiro Lobato, aquele que dizia, 90 anos atrás, que "ou o Brasil acaba com as saúvas, ou as saúvas acabam com o Brasil"?
Pois bem, as saúvas não acabaram com o Brasil, pois a agricultura se modernizou e liquidou as malvadas.
Mas poucos sabem que as saúvas -- uma nova espécie, resistente -- se mudaram todas, de mala e cuia, se ouso dizer, para o MEC, e lá proliferaram de modo extraordinário; essas são mais duras de serem extirpadas: são as saúvas freireanas, ou seja, aquelas pedagogas -- e pedagogos também, pois idiotas é um adjetivo que não tem gênero -- que seguem o besteirol do supremo mestre idiota de todas as bobagens pedagógicas que fomos capazes de oferecer ao mundo desde os anos 1960, Paulo Freire, e que hoje ainda continua infernizando a vida de alunos, de mestres, de pais, de todo o Brasil.
Pois eu digo que, ou o Brasil acaba com as saúvas freireanas, ou elas vão acabar com o Brasil, como já estão acabando, há muito tempo, e prometem continuar fazendo estragos pelas próximas gerações, se deixarmos. Acho que vamos deixar...
Sou moderadamente pessimista quanto à economia brasileira, como sempre digo: acho que vamos continuar crescendo a taxas medíocres, graças à despoupança estatal e a todo o custo Brasil, que hoje se resume numa única palavra: o Estado. Sim é o Estado que se tornou um obstrutor do crescimento no Brasil, como constata qualquer um que tenha dois neurônios para observar a realidade brasileira.
Mas, sou ABSOLUTAMENTE pessimista quanto aos destinos da educação brasileira: acho que ela não só vai continuar ruim, péssima, horrivel, como vai piorar muito mais, tendente ao horripilante! A mediocridade tende a se instalar em todos os níveis, do kindergarten à pós-graduação.
Não digam que eu não avisei...
Paulo Roberto de Almeida 

O novo regente do MEC
Editorial O Estado de S.Paulo, 16 de fevereiro de 2012 

Desde que assumiu o Ministério da Educação (MEC), há três semanas, o ministro Aloysio Mercadante já deu várias entrevistas sobre as reformas que pretende promover numa das mais estratégicas áreas da máquina federal. Nessas entrevistas, ele falou muito e deixou claro que não tem projeto de gestão definido nem critérios técnicos para justificar a fixação de prioridades.

O novo ministro prometeu mudar a metodologia do Enem, adotando critérios mais rigorosos para a correção da prova. Disse que a escola não está "interessante" e que concederá bônus para as que alfabetizarem os alunos até os 8 anos. Também defendeu o uso de tecnologia digital pela rede pública de ensino fundamental e afirmou que o "arranjo social da sala de aula" e o quadro negro são do século 18, os professores são do século 20 e os alunos do século 21. "Nós, professores, somos analógicos e imigrantes digitais. Os alunos são nativos digitais. Não queremos um apartheid digital, como tivemos um apartheid educacional no passado."
Além disso, declarou-se favorável à aplicação de uma prova nacional de docentes, que definiu como instrumento de motivação dos professores que trabalham em redes municipais de ensino com baixo desempenho e em áreas de risco. Contudo, foi evasivo sobre o futuro do Plano Nacional de Educação (PNE), que está parado no Congresso há mais de um ano. A prova nacional é prevista pelo PNE, que estabelece diretrizes do setor para a década de 2010. Quanto a metas, o ministro disse que compartilha "a forma de ver" da presidente Dilma Rousseff. "Ela diz que sempre precisamos estabelecer metas como quem lida com arco e flecha: mira um pouco mais acima para acertar o alvo" (sic).
Questionado sobre as fontes de financiamento do setor educacional e sobre a reivindicação de associações de docentes, que pedem a elevação do investimento público em ensino para 10% do Produto Interno Bruto, Mercadante lembrou que o dinheiro poderá vir do pré-sal. "O que nós temos de novo para poder dar um salto é o pré-sal. Os royalties são para você preparar a economia pós-petróleo. Porque o pré-sal é uma energia não renovável. As futuras gerações não terão acesso. O que podemos fazer era vincular pelo menos 30% dos recursos do pré-sal para educação, ciência e tecnologia e fazer um grande pacto de que pelo menos durante uma década a prioridade vai ser investir em educação" (a citação do ministro da Educação é textual, segundo a versão do jornal O Globo da entrevista).
Com declarações vagas como essas, o novo ministro da Educação mostrou não ter o preparo necessário para o exercício do cargo, deixando os especialistas em pedagogia perplexos. Segundo eles, o País - que hoje tem cerca de 3,8 milhões de crianças e jovens fora da escola e padrões de ensino muito ruins - não pode esperar pelos dividendos da exploração do pré-sal para melhorar a qualidade de seu sistema educacional. Em outras palavras, condicionar o aumento do financiamento da educação ao pré-sal é apenas uma forma de furtar-se a uma definição sobre a questão fundamental do aumento dos investimentos de que o setor educacional tanto necessita. Por enquanto, eles deverão permanecer como hoje - ou seja, muito abaixo dos padrões necessários a uma economia competitiva e capaz de ocupar espaços cada vez maiores no mercado mundial.
Na realidade, a ideia de condicionar qualquer fonte de recursos para a educação ao pré-sal é absurda - a começar pelo fato de que os primeiros lucros da exploração desse tipo de petróleo demorarão décadas para aparecer. Até lá, se o Executivo não financiar com recursos próprios projetos de melhoria do ensino fundamental e do ensino médio, o Brasil terá perdido pelo menos uma geração. Além disso, Mercadante parece não compreender - o que demonstra surpreendente despreparo - que se o governo não começar a preparar desde já as crianças em idade pré-escolar, elas não terão a formação necessária para aprender matemática e ciências, os requisitos básicos de uma mão de obra capaz de trabalhar na exploração do pré sal e nos projetos de inovação científica e tecnológica inerentes àquele projeto.