OK, se eles encontram mais barato e melhor em outras partes, mas suponho que tenha sido feito mesmo com a intenção de punir os brasileiros pelo fato de terem deixado de sustentar, como ocorria com os companheiros de antes, as posições do governo iraniano, complicadas como elas podem ser...
Paulo Roberto de Almeida
Exportações do Brasil para o Irã desabam
Valor Econômico, Quinta-feira, 22 de Março de 2012
As exportações brasileiras para o Irã caíram 63% no trimestre compreendido entre dezembro, janeiro e fevereiro, na comparação com o mesmo período da virada de 2010 para 2011, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic). No último mês do ano passado, o governo de Teerã começou a dificultar a entrada dos produtos, fazendo com que em fevereiro as vendas totais caíssem para US$ 22,6 milhões, cifra 88% menor do que o registrado no mesmo mês de 2011. Para analistas, o quadro é explicado por dois fatores: a instabilidade política e econômica no país e, principalmente, a mudança de rumo nas relações Brasil-Irã iniciada com a eleição de Dilma Rousseff.Com a menor demanda iraniana, o produto mais afetado foi a carne bovina congelada. Entre dezembro de 2010 e janeiro e fevereiro do ano passado, o Irã era o principal destino desse produto, com as vendas chegando a US$ 203 milhões. Doze meses depois, no acumulado dos três meses, as exportações não passaram de US$ 28 milhões, fazendo dos iranianos o sexto mercado do Brasil.
Segundo Fernando Sampaio, diretor-executivo da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), o governo iraniano está segurando as autorizações de desembarque. A situação já foi discutida com os importadores. "Mas depende de um acerto diplomático. Pedimos para o embaixador brasileiro no Irã conversar com o governo local para facilitar a entrada dos produtos. Espero que a situação mude agora em março, já que é quando começa o ano novo deles", afirma.
A mudança de posição do Brasil na Comissão de Direitos Humanos da ONU, votando a favor de uma investigação independente sobre eventuais violações aos direitos humanos, em março do ano passado, marcou o esfriamento das relações entre os dois países. Essa postura de Teerã é uma resposta, de acordo com o cientista político e pesquisador do Núcleo de Pesquisa em Relações Internacionais da USP Samuel Feldberg, à nova posição brasileira. "É um instrumento perfeitamente utilizável, para tentar gerar pressão dos exportadores brasileiros sobre o governo. Na verdade houve uma troca de prioridade na diplomacia. Enquanto Lula focou na parte econômica, Dilma mudou a diretriz para questões no sentido moral, como direitos humanos e a proliferação do programa nuclear iraniano", diz.
Outro fator que explica a queda nas exportações é a pressão dentro do governo iraniano para que se busque maior equilíbrio no comércio bilateral. Em 2008, o Brasil vendia US$ 1,2 bilhão ao país. Três anos depois, o montante praticamente dobrou, chegando a US$ 2,3 bilhões. Na mão contrária, as vendas iranianas cresceram em porcentagem, mas permaneceram em um nível baixo no período, ao passar de US$ 14,7 milhões para US$ 35,2 milhões.
A ascensão do Irã como grande comprador do milho brasileiro nos últimos anos foi notada pelos exportadores, que agora lamentam a queda no comércio. O Mdic também registrou diminuição nas vendas do produto, que saiu de US$ 170 milhões para US$ 90 milhões. A exemplo da carne, que manteve as exportações para o mundo em um mesmo nível no último ano, o milho brasileiro diversificou os mercados para compensar a perda. Alysson Paolinelli, presidente executivo da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), afirma que a instabilidade política e econômica do Irã contribuiu para a queda nas vendas. "Nossos exportadores estão com receio de fazer negócios por lá. Felizmente há países que estão comprando mais, como Chile, Colômbia e até o Egito."
A visão de que a instabilidade política iraniana pode afugentar exportadores brasileiros, como dito por Paolinelli, é compartilhada pior Mauricio Santoro, cientista político e professor de Relações Internacionais da Fundação Getulio Vargas (FGV). "Muitas empresas estão com medo de fazer comércio por lá por temerem a possibilidade do aumento de sanções da comunidade internacional ao país, e até de um eventual conflito armado com os israelenses", afirma.
A União Europeia espera dar um duro golpe na economia do Irã em julho, quando entra em vigor o cancelamento da compra do petróleo iraniano. De acordo com Santoro, a medida deve afetar até 30% das exportações da commodity, que é a principal fonte de receitas do país. "A sanção vai ter um efeito forte na balança comercial deles. E como o Irã não refina gasolina, vai ter que seguir comprando, o que vai comprometer ainda mais suas divisas internacionais", diz.
Outra ação internacional recente também mostra que os negócios com o Irã estão sendo dificultados. O Grupo de Ação Financeira Internacional (Gafi), que tenta coibir a lavagem de dinheiro, lançou comunicado em fevereiro para alertar sobre operações financeiras no país, que já era classificado pelo grupo como de alto risco. Para o presidente do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), Antonio Gustavo Rodrigues, os exportadores de carne tiveram problemas para fechar contratos em câmbio. "Os bancos não querem fazer negócio e correr o risco de sofrer sanções", afirma.
Segundo Fernando Sampaio, a dificuldade em receber o pagamento do importador começou em 2011 - a primeira vez em que a avaliação do Gafi sobre o Irã mudou foi em fevereiro de 2011. "Mas o dinheiro estava chegando. Nosso principal problema é o desembaraço na fronteira."Fonte: Valor Econômico
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