A Argentina já tem resultados deploráveis em várias áreas estratégicas para o desenvolvimento do país, inclusive em educação.
Com as medidas cogitadas, ela vai ficar um pouco pior.
Paulo Roberto de Almeida
Cristina Kirchner limita a importação
de livros
SYLVIA COLOMBO, DE BUENOS AIRES
Nova lei
determina inspeção da quantidade de chumbo na tinta de impressão
Medida argentina
impede a entrega em casa de compras feitas em sites estrangeiros, como o Amazon
Nos anos 40,
seguidores de Juan Domingo Perón (1895-1974) repetiam a frase:
"alpargatas, sim, livros, não", resumindo que o regime preferia ouvir
os trabalhadores (que usavam esse calçado) e não os intelectuais e estudantes,
que começavam a criticá-lo.
A frase está
sendo lembrada agora por conta de uma nova lei protecionista do governo
peronista de Cristina Kirchner, que impõe mais travas à importação de livros.
Em outubro, a
Secretaria de Comércio Interior, comandada pelo kirchnerista Guillermo Moreno,
determinou que importadores deveriam realizar exportações no mesmo valor das
compras.
Em fevereiro, os
livros foram incluídos no novo sistema de pedidos de autorização antecipada do
mesmo órgão, o que começou a causar demoras na liberação.
Agora, o governo
determina que toda obra que chega deve passar por inspeção para avaliar a
quantidade de chumbo na tinta usada na impressão. A justificativa é que se
trata de medida sanitária.
Fica estabelecido
que, no caso de compra pela Amazon ou algum outro site estrangeiro, será
necessário ir pessoalmente ao aeroporto, pagar a taxa e esperar a liberação.
Não será mais possível receber os livros em casa.
A recepção da
medida foi negativa. Várias editoras, como a Oxford e a Santillana, reclamaram.
Livreiros e clientes já acusam a falta de livros técnicos, didáticos e infantis
nas prateleiras.
INTELECTUAIS
Os intelectuais
do grupo Plataforma 2012, do qual fazem parte Beatriz Sarlo, soltou nota de
repúdio. Dizem que a medida "afeta o desenvolvimento da ciência e da
cultura argentinas. Não só atentam contra o livre direito à informação como
significam um triste e perigoso avanço sobre a liberdade das crenças, opiniões
e pensamento".
Nas redes
sociais, o assunto foi "trending topic" por dois dias, com o
"hashtag": "#liberenloslibros".
As pequenas
editoras também reclamaram. "Se essa medida fosse acompanhada de outras
para apoiar a produção local, como subsídios para traduções e para impressão em
gráficas locais, entenderíamos. Mas é apenas uma proibição", disse à Folha
Damián Tabarovsky, editor da Mar Dulce, de poesia.
Ele acrescenta
que, ao contrário de estimular, a medida pode inibir seus pares. "O custo
da impressão está aumentando porque as gráficas estão lotadas para atender as
grandes editoras. Nós vamos pagar o preço", conclui.
A indústria de
livros na Argentina corresponde a 1% do PIB. As importações em 2011 somaram US$
131 milhões, e as exportações, US$ 49 milhões. Entre os países que mais
exportam para a Argentina estão Colômbia, China, Uruguai e Espanha.
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