Nenhuma inovação conceitual, ou refinamento analítico, neste discurso pronunciado pela presidente na Índia: o mais puro diplomatês, combinado aos temas tradicionais do desenvolvimentismo defensivo, misturando várias questões num pout-pourri do déjà-vu.
Publicada quarta-feira, 28 de março de 2012, às 12:18
Em viagem à Índia, Dilma ataca protecionismo ‘perverso’
A presidente Dilma Rousseff retomou nesta quarta-feira seu tema recorrente em torno da crise internacional, ao condenar “políticas expansivas que ensejam uma guerra cambial e introduzem no mundo novas e perversas formas de protecionismo”.
É uma alusão à catarata de recursos que os bancos centrais dos países ricos estão despejando em suas economias para destravá-las, o que provoca sobra de dinheiro e, por extensão, a invasão de mercados, como o brasileiro, que oferecem juros atrativos.
Dilma chegou ontem (27) à Índia, onde fica até o dia 31 – Foto: Agência Brasil
A consequência é a valorização do real, o que atrapalha as exportações brasileiras – daí a menção à “formas perversas de protecionismo”.
O discurso foi pronunciado na cerimônia de entrega do título de “doutor honoris causa” pela Universidade de Nova Délhi, a capital indiana.
Meras medidas de austeridade
Vestida com a capa tradicional vermelha com bordados dourados, Dilma voltou a atacar, como o faz a cada viagem, o modelo de combate à crise por meio de “meras medidas de austeridade, consolidação fiscal e desvalorização da força de trabalho”, predominante na Europa.
A visão desenvolvimentista de que Dilma é adepta prega que o ajuste fiscal não deve ser feito isoladamente sem o apoio de estímulos para o crescimento econômico.
O discurso todo foi a reafirmação de pontos caros à diplomacia brasileira. Dilma defendeu, por exemplo, “o diálogo e a diplomacia” e rejeitou “as ações unilaterais e as doutrinas que enfatizam o uso da força, as atitudes preconceituosas e intolerantes”.
Defendeu ainda a reforma das instituições de governança global, “inclusive o Conselho de Segurança” [das Nações Unidas], que é o coração do sistema internacional.
Cobrou “a presença permanente de Brasil e Índia nos organismos que deliberam sobre a paz e a segurança global”, o que seria, segundo ela, “um consenso entre aqueles que prezam o multilateralismo”.
O Brasil reivindica há anos um lugar entre os membros permanentes do CS, hoje restrito aos vencedores da 2.a Guerra Mundial (Estados Unidos, China, Rússia, França e Reino Unido). São os únicos que têm poder de veto, o que acaba amarrando o sistema.
Ciência e inclusão social
Assuntos internacionais à parte, Dilma tocou também nos seus projetos mais acariciados.
Citou o programa “Ciência sem Fronteiras”, pelo qual o Brasil está enviando 100 mil estudantes e pesquisadores para formação em centros no exterior, “de primeira linha”.
Festejou o fato de que o governo da Índia, “país conhecido pela excelência de seus cientistas e de seus inovadores tecnológicos”, se associou ao Brasil na iniciativa.
A própria Universidade de Nova Déli, em que Dilma discursou, pôs-se à disposição para receber estudantes e pesquisadores brasileiros.
Não faltou a menção de praxe à inclusão social no Brasil: “Os 40 milhões de homens e mulheres incorporados à produção e ao consumo no Brasil neste período [10 últimos anos] asseguraram também grande dinamismo a nossa economia”. O número usualmente citado tanto por Lula como por Dilma em atos do gênero era 32 milhões.
Terminou com palavras do poeta indiano Rabindranath Tagore (1861/1941): “Deixe meu país despertar num paraíso de liberdade, onde a mente é destemida e a cabeça se mantém erguida, onde o conhecimento é livre, onde o mundo não foi fragmentado por paredes estreitas, onde as palavras emanam das profundezas da verdade”. (Folha.com)
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