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quinta-feira, 26 de abril de 2012

A "maldita" comedia do populismo latino-americano - Eliana Cardoso


Um populista no inferno
Eliana CardosoPH.D pelo MIT, é professora titular da FGV-São Paulo
O Estado de S. Paulo, 25/04/2012  

Muitos poetas, papas e políticos moram no inferno de Dante. Entre eles está um populista famoso do qual falaremos daqui a pouco. Já sei que você vai reclamar: Dante desconhecia o populismo, pois a América Latina não existia naquela época. Mas o criador da Divina Comédia, embora desconhecesse o termo, entendia o caráter do populista em detalhe. Apenas não usou o vocábulo. Preferiu o cognome de falso guia para descrever a personalidade desse tipo manjado da política universal.
Hoje em dia atribuímos a pecha de populista a políticos dos mais diferentes matizes, incluindo aquele a quem falta fulgor, mas que se aferra a ganhos eleitoreiros de curto prazo, defendendo o protecionismo, desacreditando dos perigos da inflação e demonstrando otimismo exagerado em relação ao crescimento obtido com estímulos ao consumo. Entretanto, o populista autêntico - como o Domingo Perón que Cristina Kirchner procura reencarnar - segue um modelo clássico: o do demagogo nacionalista, mentiroso e autoritário.
Dante nos diz que o pecado do carismático, que arregimenta seguidores com charme e ideias ruins, consiste na fraude. Por isso o coloca na oitava vala do oitavo círculo do inferno - o mesmo círculo onde estão outros fraudadores: bruxos, corruptos, simoníacos, ladrões, hipócritas e falsos guias. Enquanto os hipócritas carregam pesadas capas de chumbo, os populistas ardem dentro de línguas de fogo bifurcadas. Numa delas está Ulisses.
Todo mundo que leu a Odisseia sabe que Ulisses era um mentiroso. Dante adiciona-lhe ainda outros defeitos. Nem o amor de Penélope (nem a saudade do filho) venceu nele o desejo da aventura desvinculada de qualquer obrigação, segundo a confissão que o herói faz a Virgílio no canto XXVI do Inferno. Dante - que não lia grego nem dispunha no final do século 13 de traduções latinas de Homero e conhecia Ulisses apenas pela Eneida - pode tomar a liberdade de inventar as circunstâncias da morte do aventureiro.
Entregue às tentações de seu talento, Ulisses, na companhia de um punhado de seguidores, fez-se de velas sobre o mar aberto. Chegando ao fim do mundo, Ulisses discursou, conclamando os marinheiros: "Somos feitos para perseguir a glória e não para, medrosos, mofarmos na praia". Suas palavras animaram os homens, que dos remos fizeram asas. Logo uma montanha apareceu envolta em brumas e delas um furacão investiu contra o barco. A alegria desmanchou-se em pranto e o mar os sepultou.
Ainda não sabemos que fim terão a sra. Kirchner e seus seguidores. Por enquanto conhecemos apenas seus discursos entusiasmados e a imagem de Evita como pano de fundo por ocasião do anúncio da reestatização da YPF. Muito apropriada a evocação da mulher daquele presidente que, depois de estatizar as ferrovias, os portos e os serviços telefônicos da Argentina no final da década de 1940, sofreria o golpe militar de 1955, em meio ao aumento da violência no país.
A Argentina passou boa parte de sua vida econômica alternando endividamento exagerado com moratórias. Suspendeu o pagamento de suas dívidas em 1828, 1890, 1982, 1989 e 2001. Depois de 2003, os termos de intercâmbio viraram a seu favor. Entretanto, erros de política econômica elevaram a inflação acima dos 20% ao ano. O governo buscou apoio popular, impondo tetos aos preços dos combustíveis. As consequências fatais? Queda de investimento e falta de produtos. A fuga de capitais forçou o controle de câmbio em 2011, continuando políticas econômicas que tentam camuflar a inflação, a redução das exportações e a queda da popularidade da presidente.
O FMI ameaça o país com censura pública pela falta de transparência das estatísticas. Cristina Kirchner vai em frente. Renovando a disputa pelas Malvinas, evoca sentimentos nacionalistas. Aprofundando intervenções, desvia o foco da infraestrutura precária. E cria um círculo vicioso, no qual o governo adota medidas cada vez mais extremas na busca de solução de problemas que suas próprias políticas motivaram.
O aumento dos riscos argentinos pode se refletir no Brasil. Não apenas pela ameaça a interesses de empresários que lá investiram, mas também porque o contágio regional parece inevitável quando os investidores internacionais identificam países vizinhos e aliados e falam de uma onda de nacionalizações que, começando na Venezuela, se espalhou para a Bolívia e o Equador. Por isso na semana passada o presidente do México, Felipe Calderón, fez questão de se distanciar das políticas de Kirchner.
A opinião internacional acredita que o Brasil e a Argentina estão de tal forma entrelaçados que os erros da política econômica de um acabam se refletindo na economia do outro. Há mais de 120 anos, em 10 de janeiro de 1891, a revista The Economist escrevia a respeito de nossas políticas inflacionárias do final do século 19: "Os resultados dessas políticas ficaram claros no caso da Argentina. Chegou a hora de quem tem um interesse no Brasil tomar nota da direção em que o país vai escorregando".
Hoje os analistas financeiros continuam a achar irresistível a comparação das duas economias e relembram que, no passado, governos autocráticos e democráticos presidiram sobre taxas de inflação absurdas. Administrações populistas e neoliberais se regalaram na indisciplina fiscal e no crescimento do Estado. Aqui e lá, ciclos de sobrevalorização cambial sucederam-se, dando lugar ao capital em fuga e às crises externas. Aqui e lá, ciclos da dívida externa atrelaram-se à precariedade de contratos imprescindíveis ao funcionamento da economia de mercado.
Todavia lá, mais do que aqui, a voz pouco clara do governo cria o temor de estatização, protecionismo e arbitrariedades. O Brasil, ao contrário da Argentina, promete respeitar contratos.

A caminho do Brasil segregacionista - Roberta Fragoso Kaufmann


As Cotas Raciais e o Leito de Procrusto 
Roberta Fragoso Kaufmann
Blog Contra a Racialização do Brasil, 25/04/2012

     Na mitologia grega, conta-se a história de Procrusto, famoso ladrão que além de surrupiar os transeuntes que passavam em seu território, submetiam-nos a um tratamento cruel e degradante: a necessidade de enquadrá-los em um leito de ferro, cortando-lhes a cabeça ou as pernas, acaso ultrapassassem a cama. A lenda de Procrusto é uma metáfora sobre a tentativa de padronização, ainda que lastreada apenas em artimanhas e em sortilégios.
     E aqui estamos, em pleno século XXI, vivenciando as agruras da intolerância e da heteroidentificação pretendida por meio dos Tribunais Raciais. De composição secreta e com base em místicos critérios, são as “Comissões Raciais” quem vão estabelecer os rótulos identitários que irão acompanhar os candidatos às cotas raciais pelo resto de suas vidas.
     Alguém poderia me ensinar qual é o limite exato entre um pardo e um branco no Brasil? Será que preciso andar com uma cartela de cores igual à das lojas de pintura para que esta definição seja precisa e possa fazer algum sentido? Em um País miscigenado desde a colonização, como o Brasil, a definição da mestiçagem revela-se completa loteria. Somos ao cabo todos mestiços e o que dantes era motivo de orgulho, momentaneamente parece ser a grande chaga e a prova do racismo no Brasil: a dificuldade de encaixar-se em meio às pretensas categorias raciais. Não por acaso, na única pesquisa de amostragem em que o entrevistado foi livre para dizer à que cor pertencia, o resultado em terras tupiniquins foram impressionantes 135 possibilidades, em uma mostra criativa que nem o Aurélio é capaz de reproduzir.
     Esta exposição se torna melancólica em relação ao nosso País quando se percebe que se a Corte Constitucional conceder o beneplácito à instituição das políticas de cotas raciais em Universidades, como é o caso hoje em julgamento, paulatinamente as cotas raciais serão estabelecidas em todos os setores sociais, como pretendido pela Secretaria de Igualdade Racial, beneficiando tão-somente uma casta de privilegiados de classe média e alta de negros que não seriam os mais necessitados da ajuda estatal. Consta do ideário de pleitos da referida Secretaria do Racismo Institucional a instituição de cotas raciais em partidos políticos, no mercado de trabalho, na publicidade e na propaganda, além de atendimento diferenciado no Sistema Único de Saúde e do estabelecimento de indenizações para cada descendente de escravo (?) no Brasil.
     Em vez de observarmos o Brasil como exemplo para o mundo do século XXI, a partir do convívio harmônico entre brasileiros natos e imigrantes das mais diferentes culturas, religiões e cores, ativo absolutamente estratégico nesse século de tantos conflitos, pretende-se promover o dissenso e a divisão de nossa unidade nacional. As tentativas de racialização e de imposição de categorias estanques colocam em risco justamente o que temos de diferente – e de melhor – em relação aos outros países.
     Nós não precisamos copiar um modelo que foi pensado para resolver o problema do racismo institucionalizado e praticado em outros países. Podemos ser criativos e elaborarmos um modelo próprio de ação afirmativa para a necessária integração dos negros carentes no Brasil. Cotas sociais, sim! Cotas raciais, não! Porque a pobreza, no Brasil, é a grande causa da segregação.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Brasil abole a separacao dos poderes, e vira tudo uma coisa so...

Estou brincando, claro, mas apenas um pouco.
Já existe pouca separação entre Executivo e Legislativo, pois ambos se chantageiam mutuamente e fazem tudo mais ou menos combinadinhos.
Agora, que o supremo já deixou de ser supremo, vai também deixar de ser tribunal de última instância, para ser apenas um procedimento a mais no caminho da unificação dos poderes.
Mais um pouco e voltamos ao soberano de direito divino.
Não acreditam?
Ele está apenas esperando uns testes médicos para voltar com toda corda e iniciar uma dinastia...
Não estou brincando...
Paulo Roberto de Almeida 



Mirella D’Elia
VEJA Online, 25/04/2012

A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara aprovou nesta quarta-feira, por unanimidade, uma proposta de emenda constitucional (PEC) que permite ao Congresso sustar decisões do Poder Judiciário. Atualmente, o Legislativo pode mudar somente decisões do Executivo. A proposta seguirá agora para uma comissão especial.
O objetivo da proposta, de autoria do deputado Nazareno Fonteles (PT-PI), é permitir que o Congresso tenha a possibilidade de alterar decisões do Judiciário se considerar que elas exorbitaram o “poder regulamentar ou os limites de delegação legislativa”.
A PEC tornou-se prioridade da frente parlamentar evangélica desde que o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu permitir o aborto de fetos anencéfalos. O coordenador da bancada, deputado João Campos (PSDB-GO), afirma que o objetivo é enfrentar o “ativismo judiciário”.
“Precisamos colocar um fim nesse ativismo, nesse governo de juízes. Isso já aconteceu na questão das algemas, da união estável de homossexuais, da fidelidade partidária, da definição dos números de vereadores e agora no aborto de anencéfalos”, afirma Campos. Apesar do empenho, os evangélicos reconhecem que a possibilidade de suspender decisões valeria apenas para o futuro.

A constitucionalizacao da burrice: uma enfermidade congressual (e brasileira)

Já repararam como, cada vez que se apresenta um problema qualquer no Brasil, logo vem um douto e propõe uma emenda constitucional para fazer isso e mais aquilo?
O Brasil deve ser o único país no mundo que tem emendas constitucionais para regular alhos e abobrinhas, para resolver se vamos virar à esquerda ou à direita, e em ambos os sentidos, vamos nos atando com tantas emendas constitucionais que, dentro de mais ou menos dez anos, a CF será um cartapácio de mais de 1.000 páginas, que vai definir até o número de calorias que deve ter a merenda escolar.
Querem apostar?
Acho que alguém já disse que não existe limite para a estupidez humana...
Paulo Roberto de Almeida 



Educação: relator do PNE prevê 50% dos royalties do petróleo 
Viviane Monteiro 
(Colaborou Beatriz Bulhões, representante da SBPC em Brasília)  
Jornal da Ciência, 25/04/2012

O relator do Projeto de Lei (PL 8035/10) que estabelece o Plano Nacional da Educação (PNE) para os próximos dez anos, o deputado Angelo Vanhoni (PT-PR) propõe o destino de 50% dos fundos do petróleo extraído da camada pré-sal que cabe à União para a Educação. Na prática, essa é 20ª meta que consta da proposta de substitutivo ao PL 8035 de 2010, apresentada ontem (24) pelo relator.
Para fazer frente à sua proposta, Vanhoni prevê apresentar uma proposta de emenda constitucional (PEC) definindo a destinação dos royalties do petróleo para educação, ciência e tecnologia no que se refere à participação de estados e municípios.

"No caso dos recursos da União eu posso me referir ao Projeto de Lei para não criar um problema de constitucionalidade. Mas para os municípios e estados tenho de fazer uma emenda constitucional", explicou o deputado. "Uma parte desses recursos o governo [estados e municípios] pode dispor através de lei [projeto de lei] e outra parte podemos designar que vá diretamente para o os fundos de manutenção de desenvolvimento, tanto aos fundos que amparam a ciência quanto os que amparam a educação. Aí, o restante dos 50% dos recursos, os prefeitos podem investir onde quiserem", defendeu o parlamentar, que considera importante alocar uma parte desses recursos para áreas que contribuam para o desenvolvimento do País.

Segundo ele, essa idéia foi discutida com alguns deputados. "A nossa idéia é que tão logo termine a votação do PNE e também a dos royalties vamos protocolar uma PEC que destine uma parte dos recursos dos royalties para áreas específicas, como educação e ciência e tecnologia", explicou ele, ao Jornal da Ciência.

O parlamentar avalia que no momento não há clima para incluir esse tema no PL dos royalties do pré-sal que tramita na Câmara dos Deputados. Pois a discussão em jogo entre estados e municípios produtores e não produtores é quem irá receber o montante.

Além de royalties do petróleo, o deputado petista defende que o Brasil deveria destinar receita de royalties de outras áreas, como de mineração e de energia também para áreas especificas, como educação e ciência e tecnologia. "No Paraná, a Itaipu paga royalties a municípios que têm muita vertente de água", declarou.

No total, o relatório do deputado petista apresentado ontem prevê 20 metas educacionais para o PNE em uma década. Além da destinação de uma parte dos recursos do pré-sal para Educação, o projeto propõe o aumento de financiamentos à educação infantil (creches para crianças de zero a três anos, para alunos de pré-escola de 4 a 5 anos), para os ensinos fundamental e médio, educação especial, alfabetização, educação em tempo integral, combate à desigualdade, erradicação do analfabetismo, profissionalização, educação profissional, ao acesso ao ensino superior e formação de mestres e doutores, dentre outras metas.

No geral, a proposta do deputado é de investimentos de 8% do Produto Interno Bruto (PIB) em educação em uma década, sendo 7,5% de investimento direto.

Retrocessos na educacao tambem: vai continuar ruim, apenas com um pouco mais de dinheiro

Existem pessoas, e entre essas pessoas eu incluo deputados, que pensam que dinheiro resolve tudo na vida, e que apenas dinheiro tem o poder de melhorar as coisas, automaticamente.
Se fosse assim, a Venezuela, que durante décadas teve a maior renda per capita da América Latina, seria um paraíso para se viver. Aliás, ela teve um afluxo de bilhões de dólares nos últimos dez anos, por causa dos altos preços do petróleo, e a situação de sua população piorou sempre.
O aumento compulsório da verba para educação me recorda o deputado do PT que pretendia fixar por lei o salário mínimo a 100 dólares, quando na época ele valia menos de 70 dólares. Hoje deve estar em mais de 450 dólares, e os operários dispõem obviamente de maior poder de compra, o que seria talvez obstaculizado se a medida idiota do deputado do PT fosse aprovada.
Agora pretendem colocar a 8, 9 ou 10% do PIB o montante das verbas destinadas à educação. Eu aposto como a educação vai continuar pavorosa, apenas que torrando mais dinheiro da população com as máfias sindicais e as burocracias das secretarias de educação e do MEC, povoados de saúvas freireanas que só fazem a educação recuar, sempre, invariavelmente.
Lamento um debate tão pobre.
Paulo Roberto de Almeida 



Educação: relator do PNE mantém proposta de investimentos de 8% do PIB e oposição ameaça retaliação
Viviane Monteiro
Jornal da Ciência, 25/04/2012

A meta dos investimentos do Plano Nacional de Educação (PNE), prevista para os próximos dez anos, foi mantida em 8% do Produto Interno Bruto (PIB) na proposta de substitutivo ao Projeto de Lei (PL 8035/10), apresentada pelo deputado Angelo Vanhoni (PT-PR), relator da matéria. O relatório, que contempla 20 metas para todas as áreas de ensino público, foi lido pelo relator nesta terça-feira (24) em debate realizado na comissão especial criada para analisar a proposta. A expectativa é de que a matéria seja aprovada antes do recesso parlamentar.
O texto do relator, entretanto, enfrenta resistência da oposição e de entidades estudantis, como a União Nacional dos Estudantes (UNE), que defendem investimentos de 10% do PIB na educação, o mesmo percentual defendido pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

O que muda no relatório de Vanhoni apresentado ontem, em relação ao primeiro relatório, divulgado no dia 5 de dezembro, é a previsão da fixação de duas metas distintas. Isto é, 8% de investimento total e 7,5% de investimento direto na educação em uma década. Os percentuais superam as propostas do governo que preveem investimentos de 7% do PIB na educação nos próximos dez anos.  Pelas regras atuais, os investimentos aplicados em educação pela União, estados e municípios representam 5% do PIB.

Metas do PNE - As 20 metas educacionais previstas no texto do relator do PNE para a próxima década contemplam financiamentos à educação infantil (creches para crianças de zero a três anos, para alunos de pré-escola de 4 a 5 anos), ensinos fundamental e médio, educação especial, alfabetização, educação em tempo integral, combate à desigualdade, erradicação do analfabetismo, profissionalização, educação profissional, acesso ao ensino superior e formação de mestres e doutores, dentre outras.

Mesmo diante de resistências da oposição e de entidades de classe, Vanhoni disse que os percentuais previstos em suas propostas são suficientes para assegurar um salto de qualidade e atendimento à educação nacional.

Ameaça de votação em plenário - Por outro lado, a oposição ameaça levar a proposta de 10% à votação nominal em Plenário, caso o relatório de Vanhoni mantenha o percentual de 8% do PIB na educação. O projeto tramita em caráter conclusivo e se for aprovado pela comissão especial seguirá diretamente para a análise do Senado Federal.

São necessárias 53 assinaturas para que o projeto seja levado ao Plenário, segundo o deputado Izalci Lucas Ferreira (PR-DF). A ideia da oposição é colocar as assinaturas em votação antes de o relatório de Vanhoni ser apreciado.  Em razão de pedido de vista, ontem, a análise do relatório do relator foi adiada para o dia 8 de maio.

Conforme Izalci, a oposição já começou a colher assinaturas de deputados para levar a proposta de 10% ao Plenário. "Vamos fazer um esforço grande se caso a proposta de 10% não conseguir avançar aqui [na comissão especial], possa avançar no Plenário. Agora é a hora de fazer uma mobilização de toda a sociedade", defendeu o deputado.

Acordo fechado - Acreditando na hipótese de o governo ter fechado acordo com a base para aprovar a proposta do relator, Lucas Ferreira criticou o fato de a equipe econômica do governo não "colocar a educação como prioridade em termos de política econômica e na política de desenvolvimento do País".

Reforçando a pressão, a deputada Dorinha Seabra Rezende (DEM-TO) disse que o relatório de Vanhoni "ficará de stand by" e, a depender da situação, as assinaturas serão levadas ao Plenário "até para provocar" o debate.

Conforme observa a deputada, o texto do relator prevê apenas "o mínimo do mínimo". "Isso poderia ocorrer se estivéssemos com uma situação favorável da educação. Mas estamos com tudo negativo. Não temos estrutura física nas escolas. Temos professores mal formados e carreiras que não são atrativas, pois quase ninguém paga o piso salarial", declarou criticando a proposta do deputado petista no âmbito do PNE.

"É muito complicado ver que o ministro da área econômica [Guido Mantega] nem sequer sabia o que é PNE, tamanha é a falta de foco e de prioridade que a educação tem no País", alegou ela, lembrando de eventos ocorridos em reunião recente de deputados com a equipe econômica do governo.

Rebatendo as acusações da oposição, Artur José Vieira Bruno (PT-CE) disse que os números educacionais cresceram muito no governo petista; que o governo promoveu a universalização do ensino fundamental e duplicou o número de vagas do ensino superior público. "Os números falam por si mesmos e a comunidade internacional reconhece isso", disse ele. "Creio que o ministro Mantega, assim com a presidente Dilma, tem compromisso com a educação pública de qualidade. Os números e indicadores comprovam isso", complementou Bruno.

Por sua vez, o deputado petista criticou a "omissão durante décadas de governantes que não aumentaram" os recursos para educação. "Não podemos mudar da noite para o dia tudo aquilo que não foi mudado em  décadas. Mas estamos avançando consideravelmente", defendeu.

Criticas à política educacional - Na ocasião,  o deputado Ivan Valente (Psol -SP) criticou o atual modelo de política econômica que destina quase 50% do orçamento público ao pagamento do juros da dívida pública, em detrimento da educação nacional. "O governo coloca R$ 680 bilhões para o pagamento dos juros [por ano] e não é capaz de colocar R$ 220 bilhões na educação em dez anos", criticou Valente, que defendeu a convocação do ministro da Fazenda à comissão especial para falar sobre a política do governo na área da educação. O requerimento colocado ontem para ida de Mantega à comissão especial  foi obstruído.

Em defesa do governo, o deputado Bruno destacou que a dívida pública foi construída "sobretudo pelos governos anteriores" e o Brasil tem reduzido o pagamento de juros nos últimos anos. "Evidentemente temos de ter responsabilidade no pagamento dos juros. Temos dívidas que tem de ser pagas. E gradualmente vamos reduzir o pagamento desses juros", disse.

O (pouco) supremo tribunal federal joga o Brasil 120 anos atrás...

Infelizmente, existem momentos na vida de uma nação em que esta recua, absoluta e relativamente.
Não tanto materialmente -- pois o progresso parece ser uma fatalidade, como dizia Mário de Andrade -- mas sobretudo mentalmente.
Quando se escolhem homens medíocres como juízes do supremo, que para mim deixou de ter esse qualificativo, podem acontecer esses recuos, esses atrasos mentais, essa desmoralização das próprias leis que esse funcionários da justiça deveriam defender.
No caso, retrocederam para defender opiniões, não a lei.
Isso me lembrou de outro retrocesso famoso, acontecido na Suprema Corte dos EUA.
Os infelizes juízes de 1892, alguns (talvez) racistas brancos como pode acontecer, mas em todo caso defendendo uma opinião corrente à época, decidiram que brancos e negros eram iguais, mas que não havia problema nenhum em separá-los. Até então, os estados do sul vinham introduzindo medidas que separavam os brancos dos negros, numa clara violação da emenda constitucional de 1862 que os declarou iguais (e portanto livres).
A decisão da Suprema Corte, conhecida por "iguais mas separados", foi o que bastou para que os estados racistas ampliassem enormemente seus estatutos raciais, em detrimento dos negros.
Pior, o próprio governo federal, poucos anos depois, sob a direção do único presidente doutor que os EUA tinham tido até então, o virginiano Woodrow Wilson, começou a introduzir legislação racista, separando negros e brancos nas administrações federais. Pronto: os estados do sul voltaram a ampliar suas medidas segregacionistas.
O panorama -- horrível, pois levou a linchamentos e toda sorte de exações contra os negros -- só começou a reverter nos anos 1950.


Pois o Brasil, com o julgamento das cotas, remete o Brasil mais de cem anos atrás, para os tempos obscuros da separação racial.
Um dia a história vai condenar esses juízes despreparados para o cargos que ocupam.
Abaixo, um pequeno relato do que significou o famoso caso americano.
Paulo Roberto de Almeida 

Plessy v. Ferguson





On June 7, 1892, a 30-year-old colored shoemaker named Homer Plessy was jailed for sitting in the "White" car of the East Louisiana Railroad. Plessy was only one-eighths black and seven-eighths white, but under Louisiana law, he was considered black and therefore required to sit in the "Colored" car. Plessy went to court and argued, in Homer Adolph Plessy v. The State of Louisiana, that the Separate Car Act violated the Thirteenth and Fourteenth Amendments to the Constitution. The judge at the trial was John Howard Ferguson, a lawyer from Massachusetts who had previously declared the Separate Car Act "unconstitutional on trains that traveled through several states"[3] . In Plessy's case, however, he decided that the state could choose to regulate railroad companies that operated only within Louisiana. He found Plessy guilty of refusing to leave the white car [4] . Plessy appealed to the Supreme Court of Louisiana, which upheld Ferguson's decision. In 1896, the Supreme Court of the United States heard Plessy's case and found him guilty once again. Speaking for a seven-person majority, Justice Henry Brown wrote:
"That [the Separate Car Act] does not conflict with the Thirteenth Amendment, which abolished slavery...is too clear for argument...A statute which implies merely a legal distinction between the white and colored races -- a distinction which is founded in the color of the two races, and which must always exist so long as white men are distinguished from the other race by color -- has no tendency to destroy the legal equality of the two races...The object of the [Fourteenth A]mendment was undoubtedly to enforce the absolute equality of the two races before the law, but in the nature of things it could not have been intended to abolish distinctions based upon color, or to enforce social, as distinguished from political equality, or a commingling of the two races upon terms unsatisfactory to either." [5]
The lone dissenter, Justice John Harlan, showed incredible foresight when he wrote
"Our Constitution is color-blind, and neither knows nor tolerates classes among citizens. In respect of civil rights, all citizens are equal before the law...In my opinion, the judgment this day rendered will, in time, prove to be quite as pernicious as the decision made by this tribunal in the Dred Scott case...The present decision, it may well be apprehended, will not only stimulate aggressions, more or less brutal and irritating, upon the admitted rights of colored citizens, but will encourage the belief that it is possible, by means of state enactments, to defeat the beneficient purposes which the people of the United States had in view when they adopted the recent amendments of the Constitution." [6]
Over time, the words of Justice Harlan rang true. The Plessy decision set the precedent that "separate" facilities for blacks and whites were constitutional as long as they were "equal." The "separate but equal" doctrine was quickly extended to cover many areas of public life, such as restaurants, theaters, restrooms, and public schools. Not until 1954, in the equally important Brown v. Board of Education decision, would the "separate but equal" doctrine be struck down. 

Maastricht: rezando pelos livros, me convertendo nos livros...

Finalmente realizei meu ideal de vida: me converter a uma santa religião!
A dos livros...
Bem, eu já era meio fanático, um pouco místico, e totalmente beato por livros, mas agora encontrei um motivo legítimo para fundar uma nova ordem dos adoradores dos livros, uma confraria exclusiva de gente que vive nos livros, para os livros, pelos livros e que reza, única e exclusivamente, com livros, de qualquer formato, tamanho e teor (enfim, descarto os espiritualistas, para ser sincero, e aqueles que prometem felicidade eterna por apenas alguns tostões gastos nesse tipo de leitura).
Digo isto porque, finalmente, adentrei no átrio sagrado dos livros, em seu ambiente próprio, uma igreja dominicana (não que eu tenha preconceito contra as outras ordens, mas a que estava disponível para ser transformada em livraria era essa da turma do São Tomás de Aquino, um gajo que ainda preciso ler com certo cuidado).
Eu já tinha antecipado esta visita neste post, poucas semanas atrás: 



DOMINGO, 25 DE MARÇO DE 2012


Agora, penetrei pessoalmente nesse cenáculo do lazer culto, e deixo aqui algumas fotos (por certo horríveis) feitas com meu iPhone mal cuidado. Reparem como a mesa do bar, no lugar que era reservado ao altar, tem a forma de uma cruz (aqui vista do alto), do segundo andar da livraria, onde fui achar a minha compra do dia, o último (perdão, o mais recente) livro do Vito Tanzi, o grande especialista em políticas fiscais: 
Government versus Markets: The Changing Economic Role of the State
( New York: Cambridge University Press, 2011; Euros: 34,97)





Como praticar habitos pouco saudaveis e antieconomicos, e sobreviver, ainda assim

Não deixa de ter sua graça.
Atenção, esta é uma pausa dos assuntos sérios deste blog, o que não quer dizer que esta postagem seja pouco séria...
Paulo Roberto de Almeida 



Viver ou Juntar Dinheiro? Max Gehringer 
Recebi uma mensagem muito interessante de um ouvinte da CBN e peço licença para lê-la na íntegra, porque ela nem precisa dos meus comentários. Lá vai: 
"Prezado Max, meu nome é Sérgio, tenho 61 anos e pertenço a uma geração azarada: 
Quando era jovem as pessoas diziam para escutar os mais velhos, que eram mais sábios.
Agora dizem que tenho que escutar os jovens, porque são mais inteligentes.
Na semana passada li numa revista um artigo no qual jovens executivos davam receitas simples e práticas para qualquer um ficar rico. E eu aprendi muita coisa... 
Aprendi, por exemplo, que se eu tivesse simplesmente deixado de tomar um cafezinho por dia, durante os últimos 40 anos, eu teria economizado R$ 30.000,00. 
Se eu tivesse deixado de comer uma pizza por mês, teria economizado R$ 12.000,00 e assim por diante.
Impressionado, peguei um papel e comecei a fazer contas, então descobri, para minha surpresa, que hoje eu poderia estar milionário.
Bastava não ter tomado as caipirinhas que tomei, não ter feito muitas das viagens que fiz, não ter comprado algumas das roupas caras que comprei e, principalmente, não ter desperdiçado meu dinheiro em itens supérfluos e descartáveis.
Ao concluir os cálculos, percebi que hoje eu poderia ter quase R$ 500.000,00 na conta bancária. É claro que eu não tenho este dinheiro.
Mas, se tivesse, sabe o que este dinheiro me permitiria fazer? 
Viajar, comprar roupas caras, me esbaldar com itens supérfluos e descartáveis, comer todas as pizzas que eu quisesse e tomar cafezinhos à vontade. 
Por isso acho que me sinto absolutamente feliz em ser pobre.
Gastei meu dinheiro com prazer e por prazer, porque hoje, aos 61 anos, não tenho mais o mesmo pique de jovem, nem a mesma saúde. 
Portanto, viajar, comer pizzas e cafés, não faz bem na minha idade e roupas, hoje, não vão melhorar muito o meu visual!
Recomendo aos jovens e brilhantes executivos que façam a mesma coisa que eu fiz. 
Caso contrário, chegarão aos 61 anos com um monte de dinheiro em suas contas bancárias, mas sem ter vivido a vida".
"Não eduque o seu filho para ser rico, eduque-o para ser feliz. Assim, ele saberá o valor das coisas, não o seu preço."

Apartheid racial e racismo oficial: um comentario equivocado...

Este blog, como diz o seu "recado de entrada" está dedicado a ideias, se possível inteligentes, de pessoas inteligentes, e nisso não vai nenhum desprezo em relação a quem professa ideias ingênuas, de senso comum, como se costuma dizer.
Ele é democrático e está aberto a todo debate, de boa fé, sobre questões relevantes de políticas públicas, de preferência sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil, mas também aceita questões e opiniões, desde que bem informadas, sobre temas de política interna, desde que contribuam para o esclarecimento público e o que eu chamo de "elevação intelectual" dos cidadãos interessados e curiosos.
De vez em quando chegam-me ofensas, impropérios, achismos de militantes de certas causas, que manifestam ódio e rancor pelas ideias aqui expressas, e pela campanha que eu pessoalmente levo contra o abaixamento intelectual e a degradação moral do Brasil, infelizmente em curso na presente conjuntura, quando seres intelectualmente rústicos foram chamados a comandar a certas instâncias de decisão no Brasil.
Não tenho nenhum problema em dizer isso, e não se trata de arrogância intelectual, ou despeito político -- que os mesmos militantes de causas obscuras identificam a elitismo, ou defesa de causas conservadoras, o que é totalmente equivocado -- mas se trata, basicamente, de minha vocação professoral, digamos assim, profundamente devotada ao esclarecimento dos mais jovens, com base em uma rica experiência de vida, imensas leituras, comparações internacionais (o que me foi permitido pela vivência em diversos países) e um constante e consciente esforço de reflexão.
Pois bem, existem poucas coisas que me deixam ressabiado, pois de natural sou tolerante com opiniões políticas e econômicas contrárias às minhas: já alertei, mais de uma vez, que venho do marxismo e do socialismo, com a vantagem de jamais ter sido "religioso" -- ou seja, crente na verdade da palavra revelada do profeta Marx, ou Lênin -- e de ter visitado, conhecido por dentro, e por fora, todos os socialismos possíveis, e daí ter retirado conclusões quase definitivas sobre certos desastres sociais.
Uma das coisas que me deixam extremamente ressabiado é o racismo, de todos os tipos e de todas as cores.
Percebo no Brasil uma tendência ao racismo ao contrário, o dos militantes negros que, imitando mal os EUA, tentam criar uma cultura separada do chamado mainstream brasileiro, uma que seria afrodescendente, ou negra, uma verdadeira mistificação da história brasileira, que pode ter consequências desastrosas para nossa sociedade, certamente desigual, mas não racista como a dos EUA. Existem indivíduos e atitudes perfeitamente racistas no Brasil, mas nunca existiu o tipo de segregacionismo racial que existiu nos EUA, como agora querem implantar no Brasil, por iniciativa dos negros, não dos brancos.
Tudo isso acima para postar um comentário recebido no meu post sobre a decisão dos juízes do Supremo (melhor dizer supremo, supreminho, coitado), que interpreto, antecipadamente (e talvez erradamente) como sendo favorável às cotas. Desculpo-me, desde já, se errar, mas pelo que tenho visto desses juízes medíocres do supremo, o resultado que se pode esperar dessa corte medíocre é o pior possível.
Em todo caso, um leitor desse post, identificado como André, colocou o argumento que vai agora transcrito, e que comento em seguida: 


Acho que a grande virtude de ler esta opinião é constatar que vivemos em um regime de pluralidade. Não posso, porém, deixar de comentar: curiosamente nunca vi nenhum dos signatários sentir-se incomodado com a reserva de vagas que existia antes para os alunos egressos de escolas particulares. Ou, dito de outra maneira, com o fato de que as universidades não representavam a pluralidade racial (ou, para tomar emprestada a crença que o senhor endossa, não representavam a ausência de racismo no Brasil). Em tempo: sou branco, de olhos azuis, com conquistas por mérito, e apesar disso nunca fechei os olhos para a exclusão racial e/ou econômica que existe no Brasil. Lamento que utilize-se argumentos de negação deste fato para eliminar um debate sério sobre o racismo, problema que existe não por causa de cotas mas por fatos históricos de nosso país. em Ministros decidem pelo Apartheid e pela desigualdade racial


Comento (PRA):
Jamais ocorreu, no Brasil, por vias legais ou por expedientes informais, qualquer reserva de vagas para alunos egressos de escolas particulares. JAMAIS. Isso precisa ficar bem claro, e ser evidenciado repetidamente.
Não pelo meu caso, mas eu sou típico de certa geração, a dos alunos vindos de meios modestos -- no meu caso muuuiiito modestos -- que estudaram a vida inteira em escolas públicas, que se aperfeiçoou em bibliotecas públicas -- sem jamais ter livros em casa, um lar de pais que jamais terminaram o curso primário -- e que ingressou na mais prestigiosa universidade pública de São Paulo. Sou um entre milhares, apenas.
Evidentemente, desde esse tempo -- estou me referindo aos anos 1960 -- a escola pública caminhou rapidamente para a deterioração e a mediocridade, mas isso não implica em qualquer complô de uma classe ou de uma categoria de cidadãos contra outros, apenas o resultado infeliz da ineficiência dos poderes públicos de enfrentarem satisfatoriamente as pressões advindas da urbanização acelerada, da incorporação de estratos cada vez mais amplos de cidadãos aos sistemas de ensino, e o descuido geral demonstrado pelas autoridades em relação aos dois primeiros níveis de ensino, em benefício do terceiro ciclo e da pós-graduação.
Eu não endosso NENHUMA CRENÇA de pluralidade racial, em universidades ou em qualquer outro meio público, que devem ser absolutamente neutros em relação a cor, religião, gênero, ou qualquer outro traço. Existem desigualdades no Brasil, advindas de sua formação social, suas deficiências educacionais, profissionais, de oportunidades, mas isso não quer dizer que instituições públicas devam corrigir essas desigualdades SOCIAIS, com base em critérios RACIAIS, pois isso representaria, justamente, introduzir no Brasil uma separação racial que jamais existiu no plano das políticas públicas. 
Não existe no Brasil exclusão racial ou econômica, existe uma seleção por mérito, e infelizmente o mérito premia aqueles provenientes de meios favorecidos, o que simplesmente significa que o Estado, ou a sociedade, não se empenhou em criar oportunidades iguais para seres desiguais
Eu, sendo extremamente desfavorecido em relação a meus colegas ricos (do primário, do ginásio, do colegial e da faculdade), consegui ter acesso ao mesmo ensino que eles, exclusivamente por mérito, e pelo fato de que as escolas públicas, do meu tempo, eram muito melhores do que escolas privadas, então desprezadas pela classe média, pois escola privada era para os incapazes que não conseguiam acompanhar os estudos da escola pública (e considerada, portanto, um remédio para os preguiçosos e incapazes). Confessar que tinha feito o primário em escola privada (salvo algumas, tradicionais, ou católicas, evidentemente) era um sinal muito depreciativo para o aluno dos anos 1950 ou início dos anos 1960.
Hoje, dizer que é egresso de escola pública é quase sinônimo de medíocre, embora as diferenças não sejam tão grandes (por incrível que pareça). 
O racismo não está sendo introduzido por causa das desigualdades históricas, estruturais, existentes há séculos no Brasil, e que estava sendo gradualmente eliminado pela escola pública de qualidade. Como isso se inverteu, infelizmente, no último meio século, cresceu a demanda por soluções rápidas, não ao final do racismo, mas ao acesso a universidades que permanecem restritas a poucos, por insuficiência de vagas.
O Estado criou duas soluções erradas, absurdas, para um problema real: cotas racistas -- o que evidentemente cria racismo -- e subsídio a "indústrias" particulares de ensino para abrigar egressos de meios desfavorecidos, o que atinge também os afrodescendentes desfavorecidos.
O que os militantes da causa negra estão criando é o racismo oficial, institucionalizado, o Apartheid legal, ao diferenciar entre "raças", o que nunca existiu antes no Brasil.
Considero o comentário do André, se me permite a expressão, totalmente equivocado e singularmente ingênuo quanto aos resultados das políticas racistas que estão implantando agora.
Lamento, sinceramente, que o Brasil, certamente caracterizado por graus extremos de desigualdades sociais, esteja agora abrindo a porta para o racismo oficial.
Paulo Roberto de Almeida 
(Maastricht, 25 de abril de 2012)

O Federal Reserve pune poupadores e premia devedores...

Inacreditável! O Federal Open Market Committee, do Federal Reserve, vai continuar punindo os poupadores e beneficiando devedores, ao manter a mesma taxa irrealista de juros até o FINAL DE 2014!
Estão supostamente beneficiando a atividade produtiva, mas na verdade acumulando distorções até perder de vista.
Paulo Roberto de Almeida 



FEDERAL RESERVE BANK, BOARD OF GOVERNORS OF THE FEDERAL RESERVE SYSTEM
APRIL 25, 2012. 
FEDERAL RESERVE ISSUES FOMC STATEMENT

Information received since the Federal Open Market Committee met in March suggests that the economy has been expanding moderately. Labor market conditions have improved in recent months; the unemployment rate has declined but remains elevated. Household spending and business fixed investment have continued to advance. Despite some signs of improvement, the housing sector remains depressed. Inflation has picked up somewhat, mainly reflecting higher prices of crude oil and gasoline. However, longer-term inflation expectations have remained stable. Consistent with its statutory mandate, the Committee seeks to foster maximum employment and price stability. The Committee expects economic growth to remain moderate over coming quarters and then to pick up gradually. Consequently, the Committee anticipates that the unemployment rate will decline gradually toward levels that it judges to be consistent with its dual mandate. Strains in global financial markets continue to pose significant downside risks to the economic outlook. The increase in oil and gasoline prices earlier this year is expected to affect inflation only temporarily, and the Committee anticipates that subsequently inflation will run at or below the rate that it judges most consistent with its dual mandate. To support a stronger economic recovery and to help ensure that inflation, over time, is at the rate most consistent with its dual mandate, the Committee expects to maintain a highly accommodative stance for monetary policy. In particular, the Committee decided today to keep the target range for the federal funds rate at 0 to 1/4 percent and currently anticipates that economic conditions--including low rates of resource utilization and a subdued outlook for inflation over the medium run--are likely to warrant exceptionally low levels for the federal funds rate at least through late 2014. The Committee also decided to continue its program to extend the average maturity of its holdings of securities as announced in September. The Committee is maintaining its existing policies of reinvesting principal payments from its holdings of agency debt and agency mortgage-backed securities in agency mortgage-backed securities and of rolling over maturing Treasury securities at auction. The Committee will regularly review the size and composition of its securities holdings and is prepared to adjust those holdings as appropriate to promote a stronger economic recovery in a context of price stability. Voting for the FOMC monetary policy action were: Ben S. Bernanke, Chairman; William C. Dudley, Vice Chairman; Elizabeth A. Duke; Dennis P. Lockhart; Sandra Pianalto; Sarah Bloom Raskin; Daniel K. Tarullo; John C. Williams; and Janet L. Yellen. Voting against the action was Jeffrey M. Lacker, who does not anticipate that economic conditions are likely to warrant exceptionally low levels of the federal funds rate through late 2014.

o  APRIL 25, 2012. FEDERAL RESERVE BOARD AND FEDERAL OPEN MARKET COMMITTEE RELEASE ECONOMIC PROJECTIONS FROM THE APRIL 24-25 FOMC MEETING. The Federal Reserve Board and the Federal Open Market Committee on Wednesday released the attached table and charts summarizing the economic projections and the target federal funds rate projections made by Federal Reserve Board members and Federal Reserve Bank presidents for the April 24-25 meeting of the Committee. The table will be incorporated into a summary of economic projections released with the minutes of the April 24-25 meeting. Summaries of economic projections are released on an approximately quarterly schedule. ECONOMIC PROJECTIONS OF FEDERAL RESERVE BOARD MEMBERS AND FEDERAL RESERVE BANK PRESIDENTS, APRIL 2012. ADVANCE RELEASE OF TABLE 1 OF THE SUMMARY OF ECONOMIC PROJECTIONS TO BE RELEASED WITH THE FOMC MINUTES: http://www.federalreserve.gov/monetarypolicy/files/fomcprojtabl20120425.pdf

Ministros decidem pelo Apartheid e pela desigualdade racial

Trata-se de um "chute", claro, de minha exclusiva responsabilidade.
Segundo detecto pelos ares do tempo, os ministros vão decidir pela legalidade do racismo institucional, aceitando cotas para negros nas universidades como sendo perfeitamente legais e legítimas.
Mas atenção: são cotas para negros, não para mulatos claros, quase brancos, mesmo que sejam afrodescendentes.
A UnB já tem um tribunal racial que decide quem é negro e quem é branco.
E os negros, e os mulatos escuros, militantes da causa, estão contentes.
Quanto aos mulatos muito claros, quase brancos, ainda que afrodescendentes, bem, eles vão precisar de um esforço extra para ingressar na universidade.
Este é o Brasil dos companheiros...
Paulo Roberto de Almeida 



Reinaldo Azevedo, 25/04/2012

O Supremo Tribunal Federal deve retomar hoje o julgamento sobre as cotas raciais nas universidades públicas. Eis mais um tema que desperta paixões e que se abre a todo tipo de feitiçaria interpretativa da Constituição. Não há juízo neste mundo, NÃO À LUZ DA CONSTITUIÇÃO AO MENOS, que consiga dar sentido alternativo ao que vai no caput do Artigo 5º da Constituição, uma cláusula pétrea:
“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade (…)”
Causa finita est. Ou deveria ser ao menos. “Todos” quer dizer “todos” — brancos, mestiços, pretos, amarelos, vermelhos…  Se as circunstâncias, em razão de uma gama enorme de fatores, torna desiguais os homens, desiguais eles são na vida social. E a política existe justamente para que se organizem e busquem viver na prática essa igualdade. Não será DESIGUALANDO-OS DIANTE DA LEI E JOGANDO FORA A CONSTITUIÇÃO que se vai produzir igualdade. O resto é o que chamo feitiçaria interpretativa. Em 2008, o ministro Ayres Britto, agora presidente do tribunal, fez uma afirmação de apelo supostamente poético, que seria endossada por qualquer representante de modelos totalitários do século 20, a saber:
“A verdadeira igualdade consiste em tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais”.
Não! Essa é só a verdadeira desigualdade. O jogo de palavras esconde um conceito terrível: alguns homens estão — os considerados, em princípio, “desiguais” — acima ou fora das leis. Repete, assim, na prática, o primado daquela tal Associação Juízes para a Democracia. O que precisa ser melhorado no Brasil é a escola pública. Ainda que fosse verdade — existem a respeito mais mistificações do que dados — que o regime de cotas amplia o número de negros nas universidades, isso não poderia se dar suprimindo direitos de terceiros, tenham que cor tiverem. Há três ações no Supremo. Uma delas destroça o aspecto supostamente virtuoso da frase da Britto. Explico.
O estudante Giovane Pasqualito Fialho, branco, foi reprovado num vestibular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, embora tenha tido nota superior à de alunos que ingressaram pelo regime de cotas. A frase do ministro Britto, que pretende chamar de “desiguais” os negros, sugerindo que a “desigualdade” de tratamento é necessária para torná-los, então, iguais, ignora que uma outra desigualdade perante a lei se produziu: gente como Fialho teve seu direito suprimido. Entender que um negro ou mestiço tem direito especial a uma vaga, mesmo com nota inferior ao candidato em questão, faz de Fialho, que é branco, o responsável por uma desigualdade que não foi produzida nem por ele nem pelo vestibular da UFRGS, certo? Por que Fialho deveria pagar pessoalmente por isso? Porque é branco? Isso é democracia racial, ministro Britto?
Só há uma resposta para isso, a saber: o bem geral que a lei de cotas produziria, infelizmente, faria mesmo algumas injustiças pontuais no meio do caminho. É outro mimo do pensamento totalitário: alguns terão de pagar pela grandeza e pelo triunfo de algumas ideias,  ainda que com seus direitos individuais. Não há como respeitar a Constituição e aceitar as cotas raciais ao mesmo tempo.
Lembram-se do casamento gay
Embora a Constituição seja explícita AO ESPECIFICAR que união civil é aquela celebrada entre homem e mulher — e, salvo engano, homem é homem, e mulher e mulher, pouco importando a destinação que deem àquilo que Britto chamou o “seu regalo” —, o que fez o Supremo (e por unanimidade)? Apelou ao Artigo 5º da Constituição e determinou que o fundamento da igualdade obrigava a reconhecer a união civil também entre homossexuais. E o próprio Britto foi entusiasta dessa tese.
Muito bem! Mesmo contra a letra explícita de um artigo, apela-se ao fundamento geral da igualdade para aceitar a união civil homossexual. Na hora de decidir sobre as cotas, o que é igualdade no artigo 5º deve ser entendido como “tratar desigualdade os desiguais”? Vale para um caso (mesmo contra a literalidade de um artigo), mas não vale para outro? Muito bem: no argumento de Britto, recorre-se ao tratamento desigual diante da lei para tornar, então, nas suas palavras, os negros iguais aos brancos. Ocorre que esse raciocínio tem uma sobra lógica: os brancos preteridos, embora com nota maior, são, então, iguais a quem ou quê? Ainda que todo branco fosse herdeiro dos escravocratas — inclusive os descendentes de imigrantes que vieram de lascar nas lavouras de café ou na nascente indústria brasileira, enfrentando uma vida maldita de privações —, deveriam pagar as, vá lá, faltas de seus ancestrais? Que diabo de conceito jurídico é esse?
Manifesto antirracialista
Em abril de 2008, 113 pessoas enviaram um manifesto aos ministros do Supremo Tribunal Federal. Sou um dos signatários. O título é este: “Cento e treze cidadãos antirracistas contra as leis raciais”. Abaixo, transcrevo alguns trechos. A íntegra está aqui. Que fique claro: não tenho a menor esperança de que se vá fazer a coisa certa. Essa é uma das questões que integram o rol das ações politicamente corretas. Ter a ousadia de debatê-la já arma espíritos. É a “democracia” segundo o entendimento de alguns… Bem, não será assim aqui, como vocês sabem muito bem. Seguem trechos do manifesto.
(…)
Nós, intelectuais da sociedade civil, sindicalistas, empresários e ativistas dos movimentos negros e outros movimentos sociais, dirigimo-nos respeitosamente aos Juízes da corte mais alta, que recebeu do povo constituinte a prerrogativa de guardiã da Constituição, para oferecer argumentos contrários à admissão de cotas raciais na ordem política e jurídica da República.
Na seara do que Vossas Excelências dominam, apontamos a Constituição Federal, no seu Artigo 19, que estabelece: “É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si”. O Artigo 208 dispõe que: “O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um”.
(…)
Apresentadas como maneira de reduzir as desigualdades sociais, as cotas raciais não contribuem para isso, ocultam uma realidade trágica e desviam as atenções dos desafios imensos e das urgências, sociais e educacionais, com os quais se defronta a nação. E, contudo, mesmo no universo menor dos jovens que têm a oportunidade de almejar o ensino superior de qualidade, as cotas raciais não promovem a igualdade, mas apenas acentuam desigualdades prévias ou produzem novas desigualdades:
- As cotas raciais exclusivas, como aplicadas, entre outras, na Universidade de Brasília (UnB), proporcionam a um candidato definido como “negro” a oportunidade de ingresso por menor número de pontos que um candidato definido como “branco”, mesmo se o primeiro provém de família de alta renda e cursou colégios particulares de excelência e o segundo provém de família de baixa renda e cursou escolas públicas arruinadas. No fim, o sistema concede um privilégio para candidatos de classe média arbitrariamente classificados como “negros”.
- As cotas raciais embutidas no interior de cotas para candidatos de escolas públicas, como aplicadas, entre outras, pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), separam os alunos proveniente de famílias com faixas de renda semelhantes em dois grupos “raciais” polares, gerando uma desigualdade “natural” num meio caracterizado pela igualdade social. O seu resultado previsível é oferecer privilégios para candidatos definidos arbitrariamente como “negros” que cursaram escolas públicas de melhor qualidade, em detrimento de seus colegas definidos como “brancos” e de todos os alunos de escolas públicas de pior qualidade.
(…)
Raças humanas não existem. A genética comprovou que as diferenças icônicas das chamadas “raças” humanas são características físicas superficiais, que dependem de parcela ínfima dos 25 mil genes estimados do genoma humano. A cor da pele, uma adaptação evolutiva aos níveis de radiação ultravioleta vigentes em diferentes áreas do mundo, é expressa em menos de 10 genes! Nas palavras do geneticista Sérgio Pena: “O fato assim cientificamente comprovado da inexistência das ‘raças’ deve ser absorvido pela sociedade e incorporado às suas convicções e atitudes morais Uma postura coerente e desejável seria a construção de uma sociedade desracializada, na qual a singularidade do indivíduo seja valorizada e celebrada. Temos de assimilar a noção de que a única divisão biologicamente coerente da espécie humana é em bilhões de indivíduos, e não em um punhado de ‘raças’.” (”Receita para uma humanidade desracializada”, Ciência Hoje Online, setembro de 2006).
Não foi a existência de raças que gerou o racismo, mas o racismo que fabricou a crença em raças. O “racismo científico” do século XIX acompanhou a expansão imperial europeia na África e na Ásia, erguendo um pilar “científico” de sustentação da ideologia da “missão civilizatória” dos europeus, que foi expressa celebremente como o “fardo do homem branco”.
(…)
A meta nacional deveria ser proporcionar a todos um ensino básico de qualidade e oportunidades verdadeiras de acesso à universidade. Mas há iniciativas a serem adotadas, imediatamente, em favor de jovens de baixa renda de todas as cores que chegam aos umbrais do ensino superior, como a oferta de cursos preparatórios gratuitos e a eliminação das taxas de inscrição nos exames vestibulares das universidades públicas. Na Universidade Estadual Paulista (Unesp), o Programa de Cursinhos Pré-Vestibulares Gratuitos, destinado a alunos egressos de escolas públicas, atendeu em 2007 a 3.714 jovens, dos quais 1.050 foram aprovados em concursos vestibulares, sendo 707 em universidades públicas. Medidas como essa, que não distinguem os indivíduos segundo critérios raciais abomináveis, têm endereço social certo e contribuem efetivamente para a amenização das desigualdades.
(…)
A propaganda cerrada em favor das cotas raciais assegura-nos que os estudantes universitários cotistas exibem desempenho similar ao dos demais. Os dados concernentes ao tema são esparsos, contraditórios e pouco confiáveis. Mas isso é essencialmente irrelevante, pois a crítica informada dos sistemas de cotas nunca afirmou que estudantes cotistas seriam incapazes de acompanhar os cursos superiores ou que sua presença provocaria queda na qualidade das universidades. As cotas raciais não são um distúrbio no ensino superior, mas a face mais visível de uma racialização oficial das relações sociais que ameaça a coesão nacional.
A crença na raça é o artigo de fé do racismo. A fabricação de “raças oficiais” e a distribuição seletiva de privilégios segundo rótulos de raça inocula na circulação sanguínea da sociedade o veneno do racismo, com seu cortejo de rancores e ódios. No Brasil, representaria uma revisão radical de nossa identidade nacional e a renúncia à utopia possível da universalização da cidadania efetiva.
*

Eis alguns dos 113 signatários da carta:
Aguinaldo Silva, Alba Zaluar, Antonio Cícero, Bolivar Lamounier, Caetano Veloso, Demétrio Magnoli, Edmar Lisboa Bacha, Eduardo Giannetti, Eduardo Pizarro Carnelós, Eunice Durham, Ferreira Gullar, Gerald Thomas, Gilberto Velho, João Ubaldo Ribeiro, José Augusto Guilhon Albuquerque, José de Souza Martins, Lourdes Sola, Luciana Villas-Boas, Lya Luft, Maria Sylvia Carvalho Franco, Nelson Motta, Reinaldo Azevedo, Roberto Romano da Silva, Ruth Correa Leite Cardoso, Wanderley Guilherme dos Santos e Yvonne Maggie.

A piada da semana: o "modelo" latino-americanos dos Emirados Saderes

Aquele que já foi apelidado de Emirados Saderes -- por um jornalista conhecido, que a despeito de sua dureza com esse tipo de gente também sabe fazer piadas e jeux-de-mots -- nos traz a piada da semana, talvez até do ano, quem sabe da década?:






E o mais curioso é que esse modelo é aquele bolivariano, em toda a sua pujança produtiva e bem-estar geral, inflação baixa, câmbio alinhado, capitais florescentes, todo mundo querendo investir, enfim, uma maravilha de modelo.
Não é uma gracinha?
Paulo Roberto de Almeida 

O racismo em construcao no Brasil: decisao com o Supremo


O Brasil involui rapidamente, ou seja, não deixa de andar para trás a cada nova questão que se apresenta. 
Competição estrangeira? Tome protecionismo
Indústria debilitada por excesso de impostos? Um pouco de subsídios setorialmente seletivos.
Moeda valorizada? Compra de dólares em excesso pelo Banco Central e controle de capitais.
Educação de má qualidade? Subsídios a faculdades privadas para vagas aos carentes.
Maioria de brancos nos diversos setores da sociedade? Cotas compulsórias para negros, independente do mérito.
Assim, são as coisas neste Brasil progressista.
O Supremo (ou deveria dizer supremo?) vai julgar a validade das cotas raciais.
Observando um pouco o que disseram e, sobretudo o que fizeram, os magistrados supremos, creio que pelo espírito da época, vão aprovar as cotas, não constitucionalmente, mas vão dizer que elas são permissíveis dadas as circunstâncias.
Parabéns: estarão contribuindo para o crescimento do Apartheid, para a expansão do racismo, enfim, tudo o que desejam as minorias de militantes engajados nas suas causas.
Paulo Roberto de Almeida 



por Yvonne Maggie (23/04/2012)
Blog Contra a Racialização do Brasil, 24 Apr 2012 03:33 AM PDT


Obama no histórico ônibus em que Rosa Parks foi presa em 1955 por ter se recusado a dar o seu lugar para um homem branco. Foto Pete Souza/Casa Branca

Abrir o jornal e ver a foto de Barack Obama sentado em um ônibus antigo do sul dos EUA, olhando de lado pela janela, já produz emoção. Logo abaixo as imagens do mesmo veículo, há cinquenta anos atrás, e  de Rosa Parks, a americana que foi retirada do ônibus pela polícia e presa por se recusar a ceder o lugar a um homem branco, no Alabama, trazem recordações sobre  o estopim dos movimentos civis americanos que culminaram com a assinatura da Lei de Direitos Civis de 1964 e, um ano depois, a Lei de Direito ao Voto para os negros.
Andei em um ônibus parecido com este em 1961 no Tennessee, sul dos EUA e, desavisada, sentei-me no último banco. Não percebi que os passageiros se dividiam em brancos e negros – brancos na frente e negros atrás –, pois para mim, brasileiríssima, aos dezesseis anos, todos eram simplesmente pessoas. Senti muitos olhares estranhos na viagem de Nashville a Knoxville, uma cidade nas montanhas, sem atinar com o motivo. Quando paramos no meio da viagem, em uma lanchonete de beira de estrada, vi duas portas; em uma delas estava escrito colored only. Não percebi o significado daquele aviso e entrei pela porta reservada apenas às pessoas ditas negras. Lá dentro, no balcão, os  sucos e sanduíches servidos eram iguais para todos os passageiros, mas as pessoas mais escuras estavam de um lado e as mais claras do outro. Fiquei entre os mais escuros apesar dos meus cabelos longos e louros e minha pele clara. Só quando cheguei ao destino e me encontrei com minha irmã e meu cunhado americano, que lá viviam e me explicaram as regras, pude entender porque havia aquela porta e porque o ônibus era assim dividido. Os americanos do Sul viviam sob a lei Jim Crow. Os cidadãos não eram iguais diante da lei e negros não votavam. Moravam em bairros separados e eram tratados de modo diverso.
Dez anos mais tarde voltei aos EUA,  depois da Lei dos Direitos, promulgada em 1964. Nos ônibus não havia mais separação legal entre negros e brancos graças a Rosa Parks, mas os EUA continuavam cindidos racialmente. No Texas, em 1971, tive a exata noção do que significa viver em um país construído pela segregação legal.
Em Thirteen ways of looking at a black man, de Henry Louis Gates Junior, professor de Harvard, há uma história reveladora do que se passou depois da lei dos direitos. Neste livro, Harry Belafonte conta que alguns anos depois de 1964 fora convidado para fazer um filme. O produtor, muito animado, lhe dissera: “Harry, será maravilhoso, vamos fazer um filme dirigido e estrelado por negros, produzido por negros, com música feita por negros e vai ser belíssimo”. Ao que o ator, nervoso, respondeu: “Não quero fazer parte disso, passei tantos anos lutando para sair do gueto, não serei eu a me enfiar de novo nele”. Gates conta que durante a entrevista, após esta declaração de Harry, seguiu-se um silêncio constrangedor,  só quebrado com uma sonora gargalhada  do entrevistado e a seguinte frase: “Eu não aceitei a armadilha, mas é claro que Sidney Poitier aceitou e ficou rico estrelando todos aqueles filmes”.
No país da segregação racial e da lei Jim Crow cotas raciais foram consideradas inconstitucionais em 1978, no famoso caso Regents of the University of Califórnia versus Bakke (1978), e a decisão foi reafirmada em 2003, nos julgamentos envolvendo a Universidade de Michigan, Grutter versusBollinger et al. A Suprema Corte nos dois casos considerou inconstitucional a reserva de vagas para minorias em universidades. Em 2007,  novamente, a Corte Suprema americana se viu diante da mesma questão, desta vez a respeito  de crianças brancas que haviam sido preteridas em algumas escolas do distrito de Seattle que praticavam uma  política de discriminação positiva. A corte decidiu que a cor da pela não deveria mais ser usada para matricular crianças em uma escola ou outra, pois segundo a maioria dos juízes, obrigar os indivíduos a se definirem racialmente tinha o efeito de perpetuar a proeminência da “raça” na vida pública americana. Um dos juízes da Suprema Corte Americana foi além ao dizer: “Fazer com que a raça tenha existência agora para que não tenha no futuro fortalece os preconceitos que queremos extinguir”.
Diante da eminência do julgamento, dia 25 de abril, da constitucionalidade das cotas raciais na UnB pelo STF, penso que os juízes de nossa Corte Suprema devem levar a sério a posição majoritária na decisão da Corte em 2007. Muitos dos intelectuais que assinaram a Carta dos cento e treze cidadãos antirracistas contra as leis raciais entregue ao Presidente do STF em abril de 2008 já disseram em várias ocasiões que, no Brasil, as cotas raciais não só consolidarão as categorias raciais, mas as farão literalmente existir.
O gesto de Rosa Parks em 1955 visava extinguir a diferença e a desigualdade legal entre brancos e negros nos EUA e acabar com o gueto.Vemos, porém, que até hoje os americanos se veem às voltas com a questão registrada por Harry Belafonte em 1960, porque não conseguem se livrar da terrível desgraça que lhes foi imposta pelos dominadores britânicos e perpetuada pelas leis até os anos 1950. A foto de Barack Obama naquele ônibus representa a necessidade de lembrar sempre dos heróis, anônimos ou não, que optaram por sair do gueto, não aceitá-lo jamais, nem que seja por força da discriminação positiva, ou afirmativa.
Os brasileiros que como eu, nos meus dezesseis anos e até hoje, não se veem e não foram legalmente divididos em brancos e negros, em sua grande maioria não aceitam as leis raciais. Mas quem os representa? Na audiência pública realizada em 2010 no STF a maioria dos convidados a se pronunciar era favorável às cotas raciais. Neste julgamento que se avizinha apenas duas vozes estarão defendendo a posição de Rosa Parks. A maioria quer reforçar a “raça” para depois extingui-la.  Nem sempre a posição majoritária prevalece nestas situações, mas neste caso temo pela sorte do povo brasileiro, que preferiu ao longo de séculos se pensar a partir da metáfora dos três rios que se juntam em um novo e caudaloso,  que não criou leis segregacionistas e não proibiu o casamento entre pessoas de cores diferentes. Será mesmo que estes juízes conhecem suficientemente a História para  decidirem sobre o destino de todos os brasileiros?