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domingo, 16 de setembro de 2012

Explicando a infamia (nao sou o autor)...

Não preciso acrescentar mais nada, não é mesmo?
Paulo Roberto de Almeida 

Tempo bom para peixes pequenos

Aloísio de Toledo César

 O Estado de S.Paulo15 de setembro de 2012

Quem teve o cuidado, ou interesse, de acompanhar os votos dos diferentes ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) no julgamento do "mensalão" percebeu com toda a clareza que a conduta criminosa dos acusados resultou de um emaranhado de ilícitos praticados em conjunto. Como por essa conduta foram já condenados alguns dos envolvidos, mas os ilícitos se comunicam também em relação aos outros, forçoso é concluir que novas condenações poderão ocorrer, quem sabe até mesmo a do ex-deputado José Dirceu, mas jamais o principal responsável de todos, aquele que nada viu, de nada sabia e não tinha nada que ver com coisa alguma.

Como diria um pescador, o Supremo vem demonstrando que é tempo bom para pescar peixes pequenos, mas não aquele peixão maior, cuja responsabilidade por não ter sido denunciado deve ser necessariamente debitada ao Ministério Público. Não se diga que não havia provas suficientes para envolvê-lo na denúncia, porque o voto do ministro Cezar Peluso - o último de sua carreira - foi extremamente esclarecedor quanto à suficiência, nos processos penais, de indícios seguros para justificar condenações.
O julgamento de Peluso, naquela oportunidade, mereceria ser reproduzido nas aulas das Faculdades de Direito, pela forma extraordinária, didática e lúcida como demonstrou ser não apenas possível, como necessário aceitar tão somente os indícios, quando se mostram suficientes para a condenação. Ou seja, mesmo quando não existem provas diretas, concretas ou documentais, mas os indícios apontam claramente a autoria e a conduta criminosa, não pode o juiz deixar de fixar as condenações. É o que vem ocorrendo no julgamento em questão.
Mas como fica a situação do peixão maior, aquele que não sabia que dinheiro público, ali, debaixo de seu nariz, e em grande volume, era distribuído a políticos aliados? E com que finalidade? É até vergonhoso ter de lembrar fato tão desmoralizador para a nossa incipiente democracia: essa verba suja, corrompida, se prestava a amolecer o coração dos políticos aliados e, dessa forma, fazê-los votar a favor dos projetos de interesse do grupo incrustado no Palácio do Planalto.
Parecia estar em curso um tenebroso processo político de dominação, urdido nas sombras e para ser desenvolvido a qualquer preço, mesmo o de desmoralização da democracia e do regime de livre-iniciativa, porque o sonho maior do grupo seria a estatização progressiva, embora nada inteligente, que afundou outros países, entre eles a infeliz Cuba. Não há dúvida de que o partido que chegou ao poder com o peixão maior à frente não tinha compromisso algum com a retidão e a lisura nos negócios públicos, nem mesmo com a democracia sem corrupção que a maioria deseja.
Era preciso ter dinheiro sobrando para pôr em andamento o projeto político. Como tudo lhes parecia ser muito fácil, e o dinheiro pipocava de todos os lados, acabaram se descuidando e não previram que um aliado, favorecido de forma não adequada ou, quiçá, a menor, iria dar com a língua nos dentes. Então o castelo de cartas desmoronou, mas, incrivelmente, sem que a conduta do peixão maior fosse considerada e resultasse na sua inclusão como acusado. Pegaram-se alguns peixes miúdos, talvez caia na rede também aquele segundo grandão, mas o maior de todos está por aí, volta e meia dando uma estilingada nos julgadores. Ou, quem sabe, rindo de nós.
Os romanos, sempre muito pragmáticos, costumavam definir as responsabilidades delituosas como culpa in vigilando e culpa in eligendo, isto é, culpa pela omissão no dever de acompanhar a conduta de quem lhe é subordinado e culpa pela escolha errada. Percebe-se que o principal articulador do grupo, nomeado chefe da Casa Civil pelo maioral, não foi devidamente vigiado. Já por isso o chefão não poderia ter ficado de fora, uma vez que os delitos se aperfeiçoam por ação ou por omissão.
Nesse quadro de ação jurisdicional para punição dos culpados não se pode deixar de reconhecer a incrível coerência do relator, ministro Joaquim Barbosa. Desde o primeiro dia de julgamento Barbosa mostrou absoluta segurança a respeito de suas conclusões jurídicas e não deixou dúvida quanto à sua disposição de julgar com absoluta independência.
A sua desenvoltura no julgamento, proporcionando-lhe destaque incomum na vida de um juiz, tornou mais confortável a leitura dos votos pelos demais ministros que o seguiram. Mesmo o ministro Ricardo Lewandowski, que no primeiro dia absolveu um dos réus por ausência de provas, deve ter ficado um tanto incomodado com a circunstância de os demais juízes admitirem a condenação, com as mesmas provas, o que significou contrariá-lo e deixá-lo vencido.
Joaquim Barbosa nunca foi considerado um juiz de primeira grandeza, mas isso se deve muito mais ao seu temperamento nada fácil do que à sua competência para os julgamentos. Por questões pouco relevantes ele se desentendeu com vários do integrantes do STF e chegou ao ponto de dizer que estava sendo diferenciado em razão de sua cor.
A conduta na vida privada também contribuiu para um certo abalo na sua imagem, o certo, porém, é que por força de seus votos no caso do "mensalão" ele impõe uma segurança e uma firmeza que a que a Nação toda assiste e aplaude. Não pelas condenações em si, mas pela forma direta e consistente dos votos, graças aos quais projeta imagem pública raramente alcançada por outro magistrado.
É forçoso também reconhecer que a denúncia elaborada pelo Ministério Público, muito embora tenha deixado de fora o peixão maior, demonstra estar muito bem trabalhada e instruída, ou seja, vê-se que houve dedicação, seriedade e coerência, bem como claro propósito de fazer cumprir a lei.

sábado, 15 de setembro de 2012

Especulando sobre a infamia... (nao sou profeta...)

Não sou adivinho, mas ouso arriscar o que vai acontecer:
O chefe da gang vai soçobrar no alcoolismo.
O Stalin sem Gulag vai desaparecer, para não ser internado, e se esconder em praias mais amenas.
Os bagrinhos, como sempre, pagarão o preço dos crimes cometidos.
E tudo fica como d'antes no bordel d'Abrantes (com desculpas pela licença poética...).
Querem apostar?
Paulo Roberto de Almeida  

"Puxadinhos" do Governo geram confusao microeconomica - OESP

De fato, o governo não tem nenhum planejamento nas suas políticas públicas, nenhuma análise de custo-benefício, nenhum estudo de impacto, nenhuma avaliação dos efeitos de suas medidas no médio e longo prazo, ou seja,  nenhum cálculo maior do que o seu nariz de que as medidas que vem sendo adotadas ao sabor do momento podem causar para as empresas e para a economia como um todo, fora desses improvisos feitos para quem chora em Brasília e ganha uma isenção ou benefício setorial. Tudo é feito sem maiores avaliações, dependendo de quem tem maior pressão, e acaba levando uma pequena medida improvisada que promete converter esse país numa selva de regulamentos parciais, temporários e seletivos, extremamente danosa para um bom ambiente de negócios. Especialmente se pensarmos em medidas horizontais, ou universais, esse governo é uma pura colcha de retalhos, costurando aqui e ali essas medidas mal pensadas, que discriminam entre setores -- e que podem ser potencialmente anticompetitivas e são, em todo caso, anticonstitucionais, ao tratar de forma desigual empresas do mesmo setor -- e prometem fazer do país um leilão de iniciativas mal pensadas, improvisadas, nas coxas, como se diz grosseiramente. Alguma racionalidade nisso tudo? Não, e provavelmente não adianta esperar muita, pois o que menos tem esse governo é o sentido das políticas universais, bem pensadas, de longo prazo.
Pense-se, por exemplo, na isenção de encargos laborais para alguns setores -- APENAS ALGUNS, não para todos, o que deveria ser considerado simplesmente ilegal -- e sua substituição por uma taxa de 1% sobre o faturamento das empresas. Se fosse ruim para o governo, vocês acham que ele teria feito? Acho que não.
E uma medida desse tipo, que é interessante no plano microeconômico -- pois desonera empresas -- é absolutamente nefasta no plano macro, pois privilegia as indústrias e empresas labour-intensive e não contribui para a modernização tecnológica no médio e longo prazo.
Em economia nunca uma medida só produz bondades; sempre tem o outro lado da questão. Mas esse governo é incapaz de olhar o outro lado.
Paulo Roberto de Almeida 

E agora, José?

Eduardo José Bernini
O Estado de S.Paulo15 de setembro de 2012

Passada a justa euforia da sociedade com as medidas anunciadas pelo governo para a redução do custo da energia elétrica - uma decisão corajosa e por muito tempo adiada -, um sentimento de insegurança se espalha entre analistas, investidores e economistas. A pergunta que está no ar: até que ponto o esforço para o ajuste macroeconômico, com o qual todos concordam, considera o risco de desorganização microeconômica de setores essenciais para o crescimento, como o de energia elétrica?

O aspecto mais visível desse sentimento foi a queda dos papéis das elétricas nas bolsas de valores após o anúncio da Medida Provisória 579 - fato que apenas destampou a panela de pressão submetida a fogo brando. Ainda que não possa ser o único indicador, com esse comportamento "ansioso" o mercado de capitais expressou dúvidas quanto à sustentabilidade econômica, no médio e no longo prazos, das empresas do setor. Dúvida surgida ainda em 2011, após o leilão para novos empreendimentos de geração, e acentuada no 3.º Ciclo de Revisão Tarifária das distribuidoras ao longo dos últimos meses.
Entre 2004 e 2011 o setor elétrico viveu um ciclo virtuoso de estabilidade e investimento. O modelo, baseado em leilões para contratação de energia e em contratos com clareza jurídica adequados ao equilíbrio econômico-financeiro e à garantia de liquidação de recebíveis, criou condições para a capitalização e o financiamento de projetos. Sem dúvida, um sucesso que permitiu que os riscos de suprimento, devidamente monitorados, viessem a ser minimizados, por meio de investimentos públicos e privados.
O leilão de 2011, porém, foi um sinal de alerta. Surgiram dúvidas sobre qual teria sido a taxa de retorno nos lances vencedores dos proponentes mais agressivos. A taxa de retorno real é fundamental para avaliar dois tipos de riscos em projetos de investimento: a entrega do bem no prazo e nas condições pactuadas e a remuneração do custo de oportunidade. Em outras palavras, a garantia de que o empreendimento terá reservas para fazer frente aos imprevistos característicos das fases de implantação. Foi este último aspecto que acendeu a luz amarela: as estimativas, com certo grau de imprecisão, apontaram para retornos inferiores ao custo de oportunidade. Portanto, nem era o caso de estimar as contingências para "surpresas e imprevistos".
Mesmo diante da significativa redução nas taxas de juros - outra decisão corajosa e necessária - a determinação da taxa de retorno adequada para investimentos em infraestrutura no Brasil não é uma tarefa trivial. A dificuldade começa na base, ou seja, qual a taxa livre de riscos. A suposição de que seja a taxa real paga pelos títulos públicos de longo prazo não é consenso. A soma dos riscos intrínsecos a cada modalidade de investimento na infraestrutura mostra que "custo Brasil" é um mosaico, com agravantes diferenciados por segmento.
A dúvida quanto à taxa de retorno foi fortalecida ao longo do 3.º Ciclo de Revisão Tarifária. Para atingir a meta de mitigação tarifária foi aplicada uma redução no custo médio ponderado de capital (WACC), do qual resulta a remuneração à distribuidora. A remuneração cobre as amortizações, o custo financeiro e o retorno aos acionistas. O argumento foi que as distribuidoras - não todas, mas as mais eficientes - estavam distribuindo dividendos excessivos e reinvestindo pouco. Além disso, que o risco é pequeno, uma vez que o negócio é maduro e não tem desafios tecnológicos. Mas faltaram respostas a duas perguntas: por que o pagamento de dividendos estava tão alto? É fato que não há desafios tecnológicos na distribuição de energia elétrica?
A distribuição de dividendos acelerou-se porque o estímulo ao reinvestimento é baixo, seja porque o custo de oportunidade em alternativas concorrentes é maior, seja porque a modernização da rede envolve riscos diferentes dos da operação de uma rede madura sem "surpresas e imprevistos". Mas sem a modernização da rede de distribuição não será possível atingir padrões de qualidade compatíveis com os requeridos por qualquer nação desenvolvida.
O Brasil conquistou boa reputação de planejamento no uso dos recursos naturais. Temos uma matriz energética limpa e o avanço em pequenas centrais hidrelétricas e parques eólicos demonstra ser possível combinar capitais privados com eficiência de gestão, desde que as condições de retorno sejam justas. Ao mesmo tempo, há um custo final da energia elétrica indecoroso, fruto da perversa tributação e do sistema de encargos ineficiente e pouco transparente (mesmo para especialistas em contas públicas e em regulação econômica).
Estamos falhando em ver o óbvio: falta o incentivo econômico que harmonize o planejamento físico da expansão e modernização do setor elétrico - necessário a um ciclo de crescimento econômico e social sustentável - com o retorno compatível com o risco dos investimentos previstos, públicos e privados.
Alinhar os custos de energia elétrica a patamares que apoiem a competitividade da economia brasileira é imprescindível. Mas a história do setor elétrico nos anos 1970 e 1980 é um exemplo que não pode ser repetido: a combinação de tarifas irreais com estatização, que resultou na deterioração econômica e financeira das concessionárias, é uma lição da qual os contribuintes não deveriam esquecer-se.
É certo que o Brasil está bem melhor do que foi: o desequilíbrio econômico-financeiro que levou à degradação da qualidade da energia elétrica na "década perdida" é intolerável para o Brasil contemporâneo. Vivemos num mundo competitivo e repleto de exemplos da importância da adoção de inovações tecnológicas. Cadeias produtivas sustentáveis e eficientes, no sentido ambiental, econômico e social, alargaram a essencialidade da energia elétrica. E a combinação de ambas é um fator crítico de sucesso. Não dar a devida atenção às condições de retorno justo que viabilizem o investimento na infraestrutura elétrica poderá custar muito caro.  
ECONOMISTA, ESPECIALISTA EM ENERGIA

China: dinossauros maoistas e os novos capitalistas


Some old Maoists feel like dissidents in modern China

SHAOSHAN, China-- At a country inn in southern China, several dozen Maoists met for a Communist study session one evening in early September. But their gathering ended abruptly as one participant rushed in, saying, “There are dogs outside!”
The police had arrived on the scene to monitor the 82 followers of Mao Zedong, the man who led China’s Communist revolution in 1949.
Most of the Maoists were men in their 60s filled with nostalgia for the Cultural Revolution – a turbulent period they lived through along with the next generation of Chinese leaders who will be named next month.
But 36 years after Mao’s death, his loyal followers often feel more like dissidents.
“Today’s leaders are capitalist-roaders and revisionists,” says one retired worker surnamed Zhou, resurrecting terms used during the Cultural Revolution, which wreaked havoc on China from 1966 until Mao’s death in 1976.
Zhou and the group were visiting Shaoshan, Mao’s birthplace in Hunan province, to commemorate the anniversary of the death of the former leader.
“They call it socialism, but Deng Xiaoping, [the architect of China’s market reforms], has created a system that combines the worst of all worlds: hyper-capitalism, corruption and fascism,” says Zhou.
While the Communist party has refrained from carrying out a complete reappraisal of Mao’s rule, which claimed millions of victims in a series of murderous campaigns, he is no longer held up as its principal idol and criticism of him is widespread.
For more than a decade, China’s leaders have faced censure from the left as market reforms have seen the country’s income gap widen, corruption soar and peasants fall far behind urban residents in access to social security.
When they came to power 10 years ago, Hu Jintao, president, and Wen Jiabao, premier, appeared to respond to concerns by introducing health-care reform plans and tax cuts. But leftwing critics say those efforts have stalled.
“In their first [five-year] term, Hu and Wen still achieved some things. But in their second term, many reforms couldn’t be continued so they stopped again,” says Wang Hui, a professor at Tsinghua University whom many see as the academic leader of China’s “new left.” “As a result, both the left and the right are dissatisfied. In such a situation . . . a radicalisation of the left is unavoidable.”
In 2008, a group of Maoists founded the Chinese Communist party Maoism, which branded the ruling Communist party “revisionist traitors.” A year later their leaders were arrested and sentenced to 10 years in prison.
Many on the left saw a leader in Bo Xilai, the charismatic politician who took over as Communist party secretary of Chongqing in 2005. After Bo launched policies that resonated with leftist ideals, including a low-income housing programme and a campaign that sought to revive Maoist traditions such as singing “red” songs and sending cadres to learn from peasants, they rallied around him – only to see him purged in March this year.
The removal of Bo has left the Maoist camp disenfranchised and angry, and fed rumors over the past week that allies of Bo might have attacked Xi Jinping, China’s president in waiting who hasdisappeared from public view.
“Bo Xilai led a political struggle in the party, but the centre has hit back with a political counter-struggle against him,” says Fan Jinggang, manager of Utopia, a leftwing bookstore in Beijing, which organised the Shaoshan trip. After the purge of Bo, the government closed its Web site, which was one of the main platforms for China’s left.
On last week’s trip, Mao’s followers took refuge in nostalgia. “Back then, when we were red guards, we would spend our days like this, roaming the country and singing,” enthuses Qiu Shike, one of the Maoist camp’s main theoreticians, still breathless from trumpeting a red song on the tour bus. On the drive from the provincial capital Changsha to Shaoshan, he and his friends repeatedly broke into song with renditions of “The red army longs for Mao Zedong.”
While very few Chinese share these fervent beliefs, many share the Maoists’ grievances about their country’s social imbalances and corruption.
As the group joined the long queue of visitors outside Mao’s ancestral home, clad in white T-shirts bearing the likeness of Mao on the front and the words “the people yearn for Mao Zedong” on the back, they stood out among the crowd of mostly young tourists.
The other visitors were taken aback when the Maoists shouted “Down with the fake Communist party!” But when they switched to “Down with the corrupt officials!” there was applause and cheers and some of the tourists even joined in.
“I may not be so crazy about Mao Zedong as some of these old guys, but I know that many things were better under him,” says Wang Shuai, 31, a teacher who joined the Utopia trip.
Many Maoists say that China needs more than popular discontent to engineer change, but regret that there is nobody to lead their cause nationally.
“We need another revolution. You can’t bring about change without some violence,” says Mao Jianhui, a Maoist who lost his Communist party membership after siding with Tiananmen student protesters in 1989. “Clearly the popular sentiment is there and the people are ready. But someone needs to organise and lead them and there is nobody right now.”


sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Politica Externa Brasileira - pensamento unico?


A Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional (CREDN) da Câmara dos Deputados, juntamente com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), realizará, nos dias 18 e 19 de setembro de 2012, no Auditório Nereu Ramos, Câmara dos Deputados, o seminário "Os Desafios da Política Externa Brasileira em um Mundo em Transição".
O objetivo do seminário é promover a discussão pública acerca das transformações atualmente em curso no cenário internacional e dos desafios e oportunidades que se colocam para o Brasil. Segundo a presidenta da Comissão, deputada Perpétua Almeida (PCdoB/AC), discutir a política externa brasileira no atual contexto é tarefa essencial para todos aqueles que estão comprometidos com o futuro do povo brasileiro, dada a forte relação existente entre inserção internacional e desenvolvimento.
Nesse sentido, a participação das universidades, institutos de pesquisas e outros centros do saber neste debate terá um papel importante na catalisação de ideias e na obtenção de subsídios para uma agenda de políticas relacionadas ao tema.
Previsto para começar às 14h do dia 18 próximo, o Seminário será composto por seis painéis integrados por representantes do Poder Executivo, parlamentares, embaixadores, representantes da Academia e especialistas na área.

Programação do Seminário:
18 de setembro - terça-feira
Mesa de Abertura - 14h
"A Política Externa Brasileira no Atual Contexto Geopolítico Internacional"
·         Presidente da Câmara dos Deputados, deputado Marco Maia;
·         Ministro das Relações Exteriores, embaixador Antonio de Aguiar Patriota;
·         Presidenta da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional, deputada Perpétua Almeida;
·         Presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Marcelo Neri.
1º Painel da Tarde- 15h
Tema: "O Mercosul e a Unasul: Desafios para o Aprofundamento da Integração Sul-Americana”
Palestrantes:
·         Representante do Ministério das Relações Exteriores;
·         Assessor Especial da Presidência da República para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia;
·          Chefe da missão do Ipea em Caracas, Pedro Barros;
·         Pesquisador do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo, Ronaldo Carmona.
2º Painel da Tarde - 16h30
Tema: “ O Contexto Geopolítico Internacional e os desafios à Política Externa Brasileira ”
Palestrantes:
·          BRICS - Subsecretária-geral de Política II do Ministério das Relações Exteriores, embaixadora Maria Edileuza Fontenele Reis;
·         Estados Unidos - Professora da Unifesp, Cristina Pecequilo;
·          Oriente Médio e a Primavera Árabe – Professor Doutor na USP, Paulo Daniel Elias Farah;
·          Oriente Médio e a Primavera Árabe – Professor da PUC-SP, Reginaldo Mattar Nasser;
·          África – Professor da Universidade de Brasília, José Flávio Sombra Saraiva
19 de setembro - quarta-feira 
1º Painel da manhã- 9h
Tema: “Crise e Reforma do Sistema Financeiro Internacional”
Palestrantes:
·         Diretor de Comércio Exterior do BNDES, Luiz Eduardo Melin;
·         Diretor do Departamento de Assuntos Financeiros e Serviços do Ministério das Relações Exteriores, ministro Luís Antônio Balduíno Carneiro;
.    Professor da Universidade Estadual de Campinas, José Carlos de Souza Braga;
·         Representante da CNI.
2º Painel da Manhã- 10h30
Tema: “Brasil e a Geopolítica da Energia”
Palestrantes:
·         Presidente da Federação das Câmaras de Comércio e Indústria da América do Sul, Darc Costa;
·          Ex-diretor geral da Agência Nacional de Petróleo (ANP), Haroldo Lima;
·         Diretor-Geral da Aneel, Nelson José Hubner;
·         Representante do Ministério das Relações Exteriores, embaixador Luiz Alberto Figueiredo.
  1º Painel da Tarde - 14h
Tema: “O Brasil e a Cooperação Internacional para o Desenvolvimento”
Palestrantes: 
·          Diretor da Agência Brasileira de Cooperação do Ministério das Relações Exteriores, embaixador Fernando José Marroni de Abreu;
·          Representante do Ipea, João Brígido;
·          Representante da FAO em Brasília, Helder Mutéia;
·          Professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS), Paulo Visentini.

2º Painel da Tarde - 15h30Tema: “ Ascensão da China: desafios para o Brasil”

Palestrantes:
·         Especialista em China, Elias Jabbour;
·         Diretora do Ipea, Luciana Acioly;
·         Professor da Unesp e membro do Instituto Confúcio, Luis Paulino;
.         Presidente do Instituto de Estudos Brasil-China ( IBRACH), embaixador Affonso Celso Ouro Preto .

Fonte: Câmara dos Deputados

As relações internacionais como oportunidade profissional - Paulo Roberto de Almeida

Um texto de 2006, republicado no site MundoRI, neste link: htt
p://mundori.com/home/view.asp?paNoticia=2506


As relações internacionais como oportunidade profissional

Paulo Roberto de Almeida

4/9/2012

Originalmente publicado em 2006 no próprio site do Diplomata Paulo Roberto de Almeida, estas resposta às questões mais colocadas pelos jovens que se voltam para a carreiras de relações internacionais, ainda são atuais, somente temos que abrir uma ressalva feita pelo próprio autor, que a realidade melhorou um pouco, junto com as oportunidades de mercado, com tendência de melhoria continua. Espera-se que o texto sirva para como mesmo diz o autor, para as pessoas "arregaçarem as mangas",deixarem de serem passivos.(Redação, Portal MundoRI.com)

1. Com quais expectativas o jovem ingressa no curso de relações internacionais?

PRA: Provavelmente, na maior parte dos casos, com a expectativa de tornar-se diplomata ou funcionário internacional, ou então animado pelo vago desejo (ou mesmo vontade concreta) de sair do Brasil, passar sua vida entre capitais européias e da América do Norte, fazer-se no mundo, enfim. Deve-se observar desde logo que o ingresso na diplomacia, na verdade, acaba ocorrendo para uma fração mínima dos ingressados nesses cursos, uma parte também relativamente pequena voltando-se para as próprias atividades acadêmicas ligadas às relações internacionais e a maior parte devendo inserir-se, de algum modo, no mercado de trabalho "normal", isto é, do setor privado, altamente competitivo. 

Aqueles muito jovens – digamos entre os 18 e 20 anos – ostentam uma visão relativamente romântica do que seja o mundo ou a projeção internacional do Brasil, não estando aqui excluídas motivações essencialmente idealísticas, no sentido da atuação em causas humanitárias, ecológicas, imbuídos que são do desejo de mudar o mundo ou de ajudar aqueles que são percebidos como "vítimas da globalização" ou de misérias ancestrais. Os mais "velhos" – que podem eventualmente ter iniciado o terceiro ciclo por algum outro curso e efetuado o desvio para relações internacionais no meio da rota – possuem expectativas mais concretas e realistas, eventualmente construídas a partir do exercício de alguma atividade profissional paralela aos estudos de terceiro ciclo, mas eles também podem estar imaginando ou aspirando por uma "vida diferente" da mesmice cotidiana em âmbito puramente nacional, algum relevante papel de "negociador", de "funcionário" ou de "executivo internacional". Ou seja, todos eles possuem altas expectativas em relação aos cursos e as oportunidades profissionais dele resultantes, sem talvez medir muito bem a distância que ainda separa o universo relativamente teórico do universo "mental" desses cursos e a realidade do mundo profissional, feita de muito esforço individual, salários nem sempre elevados como esperado e uma indefinição geral quanto ao exercício concreto das "generalidades" aprendidas nos bancos universitários.

2. Em quais as áreas o bacharel em RI sai preparado para atuar?
PRA: Como ele é um generalista em especialidades "internacionais" ele poderá, supostamente, atuar em todas as áreas nas quais alguma competência vinculada ao seu terreno é requerida, seja no campo da análise e processamento de informações relativas aos diferentes cenários regionais e internacionais, seja na pesquisa e ensino acadêmico, nas áreas de relações internacionais das burocracias públicas – o que inclui a diplomacia tradicional, novas "diplomacias" em ministérios setoriais, assessorias internacionais de diversos órgãos etc. – e, provavelmente em maior "volume", nas empresas privadas e nas chamadas ONGs que possuem ou aspiram possuir qualquer tipo de interface com o mundo exterior. O problema, aqui, é que as empresas requerem, em geral, uma competência mais específica e provavelmente mais especializada do que o conhecimento sintético das relações internacionais, a qualquer título. As empresas não estão minimamente preocupadas com a teoria institucionalista ou neo-realista das relações internacionais, tampouco com o funcionamento do Conselho de Segurança da ONU: elas desejam simplesmente vender ou fazer negócios com parceiros externos e por isso elas são mais suscetíveis de apelarem para profissionais especializados como economistas, advogados ou algumas outras profissionais mais "tradicionais". Afinal de contas, trata-se de fazer uma prospecção de mercado ou de elaborar um contrato de cessão ou compra de direitos e outros ativos entre dois agentes privados, que devem rentabilizar seu tempo e seus recursos humanos e materiais, não havendo muito lugar para teorizações indevidas ou abstrações fora do campo essencialmente pragmático no qual atuam essas empresas.

Em outros termos, o bacharel de RI seria extremamente consciencioso se ele procurasse, de imediato, suprir suas carências em competências específicas buscando uma especialização dentro de seu campo de estudo, procurando estágios desde cedo ou mesmo fazendo algum outro curso paralelamente. Como para as demais especializações disciplinares, uma pós-graduação seria altamente recomendável, ou então uma outra via, mais racional, a formação de base numa profissão "normal" ou "tradicional" e uma pós ou estudos especializados em relações internacionais, eventualmente com orientação já definida para a área na qual o candidato a um bom emprego pretende atuar.

3. Qual o nome dado ao profissional depois de formado?
PRA: Não tenho certeza se o termo está consagrado, mas, aparentemente, seria "internacionalista" (uma expressão ainda não oficializada, diga-se de passagem, como a própria "profissão", que não corre nenhum "risco" de ser regulamentada no futuro previsível). Em todo caso, melhor assim, do que algo estranho como "internacionalóide" ou "internacionaleiro". 

4. Existe a discussão sobre a relevância do curso para quem quer seguir carreira diplomática. É mesmo o melhor caminho ou o primeiro passo para o Instituto Rio Branco e o Itamaraty?
PRA: Não tenho certeza de que este seja o melhor caminho para os indivíduos que aspiram a ter alguma atividade já consagrada no circuito profissional, pois se trata de uma área relativamente nova, ainda não suficientemente "testada" nos mercados de trabalho. O que ocorreu, nos últimos anos, levado pelos ventos da globalização e da regionalização, foi um fenômeno "anormal" de expansão "geométrica" dos cursos de relações internacionais, provavelmente sem qualquer relação com a demanda efetiva do mercado. Havia uma demanda da parte dos jovens, atraídos pelo que parece ser um campo novo e talvez vasto – mas provavelmente não suficientemente "elástico" como o desejado pelos jovens – e as instituições privadas de ensino se encarregaram de satisfazer essa demanda por cursos de "aspecto" internacional.

Quanto à carreira diplomática, estrito senso, o recrutamento é altamente seletivo e a formação deveria ser, portanto, focada nas humanidades em geral, com um domínio igualmente satisfatório de ciências sociais aplicadas como economia e direito. Não é seguro que um curso de relações internacionais consiga dar todas as competências requeridas, mas ele é provavelmente o que mais estaria dentro do "campo" da diplomacia profissional. Acontece, porém – e isso precisa ficar muito claro aos jovens aspirantes à carreira – que, sendo o recrutamento caracterizado pela "hecatombe" de 90% dos candidatos, os "não-entrantes" precisam "sobreviver", de alguma forma, nas profissões normais, requeridas pelo mercado, e aqui o nicho das relações internacionais ainda é relativamente difícil. 

Pode-se dizer, de uma maneira geral, que o curso, in abstracto, é relevante, mas os cursos, tomados concretamente, diferem muito entre si pela qualidade das matérias oferecidas, pela competência dos professores contratados, pela disponibilidade de recursos didáticos e materiais, etc.

Parece ocorrer, atualmente, com os cursos de relações internacionais, algo semelhante ao que se passou, em outras épocas, com os cursos de ciências sociais, de psicologia, de jornalismo, que passaram a atrair multidões de jovens sem um perfil muito definido quanto à carreira desejada ou suas aspirações concretas. O modismo, como tudo a cada época, um dia vem abaixo… Mas é também possível que os patamares de demanda sejam mantidos ou até ampliados, pois há certas "modas" que não passam, seja por uma demanda regular – como ocorre hoje com os cursos de jornalismo – seja porque a globalização é mesmo irrefreável e contínua, um "universo em expansão"...

5. O que diferencia o curso de RI dos cursos de comércio exterior e de direito e economia internacionais?
PRA: Não existem cursos de "economia internacional", apenas de economia, tout court, assim como no direito, embora os egressos desses cursos possam buscar, nos últimos semestres, algum tipo de especialização informal dentro desses campos em suas respectivas áreas. Comércio exterior se apresenta hoje como uma orientação relativamente técnica, algo assim como "contador", embora seja uma área que requeira e deva contar com estudos aperfeiçoados, que aliás podem estar dentro de alguns cursos de relações internacionais – que assim exibiriam especializações mais para "ciência política" ou mais para economia internacional, segundo o gosto do cliente.

Acredito mesmo que no decurso da sedimentação necessária e natural dos cursos de relações internacionais nas diferentes regiões do país, essas orientações geográfico-espaciais ou essas inclinações temáticas acabarão emergindo progressivamente. Ou seja, pode-se conceber cursos de relações internacionais voltados para o agronegócio nas principais regiões produtoras de commodities demandadas pelo mercado mundial, cursos voltados para a diplomacia e a pesquisa nas ciências sociais em algumas grandes capitais, outros cursos voltados para o comércio exterior e a integração regional nas regiões mais "expostas" aos processos sub-regionais de integração e assim por diante.

6. O aumento de ofertas para o curso de RI em diversas faculdades públicas e particulares poderia significar que a procura é alta para a carreira?
PRA: A procura ainda é alta por uma espécie de ilusão dos jovens quanto ao "charme" e a oferta de empregos nessa área, pelo efeito do já mencionado "modismo", ou porque o Brasil está mesmo deslumbrado com a globalização, ingressante tardio – e incompleto – que foi nos grandes circuitos da interdependência global. Não imagino que a demanda venha a se manter nos próximos anos, seja porque haverá um "plafonnement" e queda ulterior, seja porque o ritmo de crescimento tenderá a diminuir, ao descobrirem, muitos egressos, que os cursos não são assim tão "funcionais" para as necessidades de uma carreira concreta, seja porque a oferta, como sempre ocorre, supera a demanda efetiva. Não deve ocorrer, aqui, nenhum "keynesianismo" avant la lettre, pois o governo não parece estar em condições de garantir demanda efetiva numa área que não aparece como prioritária em termos de recursos humanos.

Resumindo: a procura, a jusante, não é alta, mas sim está ocorrendo um crescimento da oferta de cursos para atender uma demanda pré-existente, a montante, portanto. O mercado deverá ajustar oferta e procura dentro em breve. De toda forma, não existe UMA carreira de relações internacionais, e sim diferentes "carreiras" – ou melhor, oportunidades de emprego – que vão se ajustando aos nichos existentes, muito diversos entre si. Como a profissão não é regulamentada, nem tem chances de sê-lo muito em breve, persistirá essa relativa indefinição do que é "carreira" ou "especialização" em relações internacionais.

7. O jovem passou a se interessar mais por assuntos relacionados ao mundo?
PRA: Certamente. O bebê já nasce ouvindo teclado de computador, e a internet, como as demais tecnologias de informação, permeia a vida das pessoas desde tenra idade. Não há como escapar, hoje, dos apelos do mundo. Mesmo que algum jovem não tenha o mínimo interesse por "coisas" do mundo, o mundo vem inevitavelmente até ele, pelos mais diferentes caminhos e meios. Ninguém escapa…

8. Os atentados de 11 de Setembro e as subseqüentes guerras no Afeganistão e no Iraque podem ter tido alguma influência no aumento de interesse por Relações Internacionais?
PRA: Provavelmente, mas não mais do que MP3, celular, internet de modo geral. Há hoje uma crescente interpenetração entre o nacional e o mundial, todo dia franquias estrangeiras vêem se estabelecer no Brasil, as viagens internacionais são cada vez mais freqüentes e acessíveis, o inglês tornou-se obrigatório para o simples exercício (e vício) preguiçoso do "cut and paste" para os trabalhos escolares, enfim, o mundo vem até nós, aos borbotões. É natural que cresçam e apareçam as profissões e especializações ligadas às relações internacionais, mas os interesses e as oportunidades são ainda muito difusos.

9. Certos cursos, como direito e administração, são opções de vestibular para muitos adolescentes que não sabem exatamente o que querem fazer da vida. Por abranger muitas áreas, a carreira de RI não acaba atraindo mais jovens indecisos?
PRA: Exatamente: direito e administração oferecem amplas possibilidades para todos os tipos de vocações, por vezes sequer diretamente relacionadas com os campos temáticos dessas duas áreas. As RI podem, também, oferecer muitas possibilidades, mas, à diferença das duas primeiras, elas não constituem uma profissão reconhecida, "testada" no mercado e expressamente demandadas pelos mercados ou pelas empresas. Essa pequena diferença pode ser decisiva na inserção profissional dos jovens: entre o certo de uma profissão tradicional e o incerto de um campo novo, talvez seja o caso de ficar com o certo. O problema é que o Brasil é um país dotado de muito pouco empreendedorismo, a despeito da tremenda flexibilidade de sua mão-de-obra, revelada na grande capacidade adaptativa e nos esquemas informais que permeiam os mercados de trabalho (existem vários, do mais inserido ao totalmente informal). Uma pesquisa na escola média revelaria, provavelmente, que poucos jovens aspiram lançar o seu próprio negócio, a maior parte deles estando voltada para cursinho ou estudo para algum concurso, qualquer um, em carreira dotada de estabilidade.

Esse problema da "indecisão" dos jovens pode hoje estar levando muito deles para as RI, assim como no passado os jovens "revolucionários" eram atraídos pela sociologia – segundo Mário de Andrade, a "arte de salvar rapidamente o Brasil" – e as jovens casadoiras eram levadas a fazer psicologia, esperando marido… Hoje se faz RI, porque protestar contra a "globalização perversa" virou esporte quase obrigatório entre os jovens…

10. Com tanta oferta de cursos, há espaço suficiente para o profissional em RI no mercado?
PRA: Certamente tem ocorrido certa "inflação" de cursos, mas nisso os próprios demandantes levam a culpa: eles "pediram" e os empresários da educação correram para atender essa demanda do mercado de estudantes. Esses "industriais da educação" não estão minimamente preocupados com o espaço do "profissional" de RI – se é possível chamá-lo assim – no mercado de trabalho, esse não é o "departamento" deles. Sua função é a de apenas "fornecer" aquilo que lhes é pedido: um curso e um canudo, depois cada um que se vire como puder num mercado indefinido. Ou seja, num estamos num "supply side economics of international relations", mas essencialmente num mercado demandante por cursos e canudos, o resto fica ao sabor do próprio mercado…

11. O mercado e as empresas estão preparados para entender o que é profissional de RI?
PRA: A pergunta deve ser completamente invertida: nem os mercados, nem a fortiori as empresas precisam estar "preparados para entender o que é profissional de RI". Essa não é função deles. Sua única função é recrutar competências para o exercício de atividades profissionais específicas e os requerimentos são estritos: ou o profissional se adapta e atende ao que lhe é demandado, ou então ele pode procurar outro emprego. Por isso, volto a insistir: as empresas, na maior parte das vezes, não querem intelectuais brilhantes que sabem discorrer sobre o Conselho de Segurança da ONU ou o último livro do Keohane, elas querem alguém que saiba redigir um contrato, negociar um acordo com parceiro de outro país, fazer uma boa prospecção de mercado, trazer negócios, lucros e resultados, ponto. Este é o mercado, que deve ocupar pelo menos 80% dos egressos dos cursos de RI, qualquer que seja o seu número (o resto indo para os governos e as academias). 
Quem deve entender as (e de) empresas e o (de) mercado são esses profissionais, que se não souberem lidar com essas realidades, se auto-excluem dos melhores empregos nesses mercados. Não é uma questão de preferência, é assim, ponto. As empresas não vão à cata de jovens egressos dos cursos de RI, eles é que devem tentar se oferecer para elas.

Os jovens precisam, desde o início, tomar consciência de que, ao receber o canudo, ao saírem das faculdades, não vai haver uma fileira de "head hunters" esperando por eles na calçada, não haverá sequer um mísero recrutador esperando por eles para dizer: "Venha, meu jovem, tenho um emprego esperando por você!". Isso simplesmente não vai acontecer. Ou eles se preparam, desde o segundo ou terceiro ano, fazendo estágios, montando empresas juniores com seus colegas, pesquisando por conta própria novos nichos de mercado, ou eles vão ficar de canudo na mão reclamando da vida.

Se eu fosse um jovem, hoje, e não um diplomata com 28 anos de carreira, mas ainda disposto a diversificar no privado (ensino e pesquisa, eventualmente consultoria), eu me perguntaria: "qual é o meu nicho no mercado futuro, o que o Brasil ou o mundo me reserva, dentro de dois ou três anos?" Uma breve pesquisa de internet me daria a resposta em 5 minutos, ou a minha própria vontade e vocação determinariam o meu destino imediato. Abstraindo-se a própria carreira diplomática – excessivamente restrita para servir de "colocação" para um grande número de jovens – e algumas outras carreiras no serviço público – analistas de comércio exterior ou de inteligência – e nas academias, o que sobra, obviamente, como "opção" são as empresas, grandes e pequenas. Eu até diria que o "profissional" de RI poderia montar a sua própria, mas o empreendedorismo individual ainda é muito pouco desenvolvido no Brasil.

Nessa perspectiva, é óbvio que um jovem paulistano precisa ter uma visão "global business", é evidente que um jovem do "cerrado central" precisa pensar no Brasil como o grande fornecedor mundial – o que ele já é, mas será cada vez mais – de produtos do agronegócio, é evidente que aqueles que amam praia, sol, florestas e montanhas encontrarão excelentes oportunidades no turismo de massa ou especializado, está mais do que claro que o Brasil tem um imenso campo em todas as áreas nas novas energias renováveis, na exploração dos recursos naturais, na conformação de um espaço integrado na América do Sul. Se eu fosse jovem e quisesse ganhar muito dinheiro, eu já estaria estudando todas essas oportunidades. Tudo isso É relações internacionais, tudo isso é interdependência global, tudo isso é globalização. Quanto antes o jovem se preparar, e não ficar passivamente esperando o fim do curso para depois pensar no que vai fazer, será melhor para ele e para suas famílias.

Desse ponto de vista, acho, particularmente, que os cursos, atuais, das faculdades voltadas para esse campo, e seus respectivos professores, estão muito pouco preparados para atender essa demanda. Trata-se de uma demanda real, não daqueles requisitos prosaicos de uma grade curricular tradicional, que copia passivamente a inércia "humanistóide" dos cursos tradicionais das universidades públicas – em ciências sociais em geral, mas fazendo uma combinação de direito, história, economia e ciência política – que, elas, parecem não ter nenhum compromisso com os mercados reais. Talvez os jovens não encontrem o curso ideal nem nas faculdades privadas nem nas públicas. O melhor, então, seria que eles "construam", sozinhos, e de maneira absolutamente auto-didática (se possível com os colegas), os seus próprios "cursos". Talvez eles não sejam melhores, em qualidade imediata, do que aqueles oferecidos oficialmente pelas instituições de ensino, mas eles certamente serão mais adaptados e estarão mais conformes às aspirações e necessidades dos próprios jovens.

Acho que é hora de deixar de ser passivos: arregacem as mangas, jovens, mãos à obra, construam suas próprias vidas!

Paulo Roberto de Almeida é Doutor em Ciências Sociais, mestre em Planejamento Econômico, diplomata. E-mail: pralmeida@mac.com
Fonte: www.pralmeida.orgcomo mesmo diz o autor, para as pessoas "arregaçarem as mangas",deixarem de serem passivos.(Redação, Portal MundoRI.com)


Clash of civilizations? Nao! Conflito DENTRO do islamismo...

O cientista político Samuel P. Huntington desenvolveu uma tese, interessante no plano conceitual, mas inoperante no plano prático, sobre a convivência, ou conflito, entre diferentes configurações civilizacionais, que infelizmente foi reduzida, por críticos simplistas (e por muita gente que sequer leu o seu livro), a um enfrentamento entre a civilização ocidental, vilipendiada como hegemônica, colonialista, dominadora (ou outras coisas perversas, como capitalistas, por exemplo), e as grandes civilizações orientais, supostamente autênticas, legítimas, mais conciliadoras, ou em todo caso não imperialistas. Dentre estas últimas, figuraria, obviamente uma coisa chamada civilização islâmica, outra simplificação em face das diferentes configurações históricas e sociais das diferentes sociedades islâmicas, cobrindo um vasto leque de formações sociais que foram sendo transformadas ao longo dos tempos por influxos religiosos, culturais, econômicos e políticos, de origem local, regional ou transnacional. 

Seja como for, volta e meia surgem conflitos como este que agora se alastrou em diferentes países islâmicos contra um filme idiota feito nos EUA e que ofende, ao que parece, Maomé, considerado profeta nessa religião. Profeta não é deus, mas um emissário de deus, ou o seu porta-voz, para os que crêem.
Seja qual for a agressão cometida contra esse profeta, a violência irracional, deslanchada contra alvos americanos, ocidentais, cristãos -- em países como Afeganistão, Argélia, Bangladesh, Egito, Índia, Irã, Iraque, Líbano, Líbia, Malásia, Paquistão, Sudão e Yemen, entre outros -- é algo inaceitável para os nossos padrões civilizatórios. Matar em nome da religião é algo bárbaro, selvagem, e como tal deve ser condenado.

Alguns poderão dizer que o que foi foi feito agora, nesses países, não difere muito da queima de heréticos na Idade Média, ou do trucidamento de populações inteiras nas guerras de religião, ocorridas já na Idade Moderna, no coração da Europa. 
Se considerarmos que o islã surgiu 622 anos depois do cristianismo, bastaria esperar, digamos assim, mais um pouco para que o islã consiga chegar aos padrões civilizatórios alcançados pelo Ocidente, pouco menos de cinco séculos atrás. Faltariam assim, nessa hipótese, pouco mais de cem anos para que o islã começasse a convergir para esses padrões mais humanos, ou menos selvagens.

Não creio que seja uma questão de tempo, mas de diferenças no itinerário histórico do cristianismo e do islamismo. O primeiro sofreu contestações desde seu início, praticamente, desenvolvendo diversas vertentes, como aliás ocorre com versões ligeiramente diferentes do islã.
Mas existe um aspecto que dificulta a superação do fanatismo e do fundamentalismo, como ocorreu nas sociedades cristãs.

Por diferentes mecanismos, que seria ocioso explicar em detalhe agora, as sociedades cristãs admitiram a possibilidade de exegese, que significa a possibilidade de interpretar o livro sagrado, por meio de uma leitura não literal, e de considerar as "estórias bíblicas" simplesmente de forma alegórica, quase que como fábulas sobre o homem e o universo. Daí, contestar cientificamente o livro santo, até negá-lo no plano da geologia, da antropologia e da história, foi um passo relevante, que permitiu o avanço científico dessas sociedades.

Nada disso ocorreu nas sociedades islâmicas, embora algumas tenham avançado para a modernidade conciliando fé e agenda econômica e até política, na Ásia Pacífico, por exemplo. Nas sociedades árabes, ou naquelas mais islamizadas completamente do Oriente Médio, esse passo e essa conciliação parecem ser mais difíceis.

Já escrevi algo a respeito, e remeto a meu artigo de alguns anos atrás: 

295. Tradicionalismo e modernização nas sociedades islâmicas: uma impossível transição entre o fundamentalismo e a tolerância?, Espaço Acadêmico (Maringá, a. I, n. 6, nov. 2001; link: http://www.espacoacademico.com.br/006/06almeida_isla.htm). Relação de Trabalhos n. 825.