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domingo, 30 de março de 2014

Golpe de 1964: caderno especial do Estadao - Lourival Santana

Excelente artigo do jornalista Lourival Santana, introduzindo um caderno especial do Estadão sobre o golpe, com o link abaixo:

Choque entre 2 visões de Brasil

Lourival Sant’Anna
O Estado de S.Paulo, 30 de março de 2014

O conflito, que refletia a divisão do mundo entre capitalismo e comunismo, fermentava desde o início da década, ganhou as ruas e teve seu desfecho com a intervenção militar

É quase sempre arbitrária e discutível a definição do momento desencadeador de um acontecimento histórico. A tentação é grande de retroceder um pouco mais na busca do ponto de inflexão, do fato definidor. Com o golpe de 64 não é diferente. Mas talvez não seja possível entender aquele ambiente sem recuar pelo menos até a ascensão de Getúlio Vargas em 1930 e a implantação de seu Estado Novo (1937-45). Naquele período, o ditador populista e autoritário encarnou a figura paterna com que tanto sonham, do Descobrimento até hoje, gerações sucessivas de brasileiros, que se sentem desamparados sem um provedor, seja um senhor de escravos, imperador, marechal, coronel ou governante, ao mesmo tempo implacável, benevolente, poderoso.
Getúlio saiu e voltou. Retomado o ciclo dos governos democráticos, foi antecedido e sucedido por presidentes mais ou menos liberais e carismáticos. Mas seu suicídio em 1954 e sua carta-testamento selaram de forma quase mágica o papel do pai austero e protetor. Ao eleger Juscelino Kubitschek em 1955, os brasileiros buscaram uma resposta mais racional para os seus anseios. JK governava com "planos de meta", que resultaram na industrialização e na interiorização do País, por meio de rodovias e da construção de Brasília. Mas o apego popular ao getulismo ficou manifesto na eleição do vice, João Goulart, ministro do Trabalho e herdeiro político de Getúlio, que teve mais votos que Juscelino.
Conterrâneo de Getúlio, Jango, como era conhecido, rico fazendeiro de São Borja, no interior do Rio Grande do Sul, tinha convite, em meados dos anos 40, para entrar para o PSD, o mesmo partido do futuro presidente JK. Foi por intervenção direta de Getúlio, amigo de seu pai, recém-saído da Presidência, que Jango entrou para o PTB gaúcho. São dados biográficos importantes, que compõem o seu perfil futuro, de trabalhista híbrido, líder indeciso, que parecia ter de ser empurrado para o seu destino quase tão trágico quanto o de seu mentor - a desistência não pelo suicídio, mas pela renúncia sem resistência, seguida do exílio.
A posse de Juscelino teve de ser assegurada pelo general Henrique Lott, então ministro da Guerra, contra oficiais que tentaram impedi-la, por considerar a composição PSD-PTB à esquerda demais. Aí o golpe de 64 teve o seu primeiro ensaio, e as duas vertentes doutrinárias do oficialato - a legalista e a linha dura - se explicitaram. Os mandatos eram de cinco anos, sem direito à reeleição do presidente, mas os vices podiam voltar a se candidatar, e sua eleição era separada da do presidente. Em 1960, Jango consolidou sua popularidade, voltando a se eleger vice de Jânio Quadros, da coligação liderada pela UDN, principal partido conservador do País. Se no mandato anterior havia certa convergência entre o PSD e o PTB, e se Juscelino em certo sentido representava o ponto médio entre as correntes liberais e trabalhistas, com sua abordagem "social-democrata" de desenvolvimento, a eleição de 60 lançou o País na rota da divergência ideológica.
Jânio. Precursor do populismo de direita que depois se atualizaria em figuras como Paulo Maluf e Fernando Collor de Mello, Jânio foi o primeiro a dominar com maestria a mensagem dos meios de comunicação de massa. Venceu a eleição empunhando uma "vassourinha" para "varrer a corrupção" e lanchando sanduíches de mortadela nos comícios , para se identificar com os trabalhadores das grandes cidades. Excêntrico, imprevisível e intuitivo, Jânio estava longe de ser um líder liberal no sentido clássico. No seu curto mandato de sete meses, não esboçou uma política econômica coerente. No ambiente internacional envenenado pela Guerra Fria - a disputa por influência entre os Estados Unidos e a União Soviética -, explorou o arraigado sentimento anti-imperialista brasileiro ao condecorar o líder guerrilheiro argentino Ernesto Che Guevara, ícone da Revolução Cubana de dois anos antes, que então começava a alinhar-se com o bloco comunista.

No Comício da Central do Brasil, 18 dias antes do golpe, foto de Getúlio Vargas indica influência de sua visão de Estado intervencionista sobre Jango e líderes sindicais

Essas ambivalências acompanhariam o drama que estava por se desenrolar, e continuariam presentes na visão de Estado paternalista, provedor e autoritário que une grande parte dos brasileiros até hoje. Mesmo que a divisão não fosse clara e linear - e talvez poucas coisas o sejam no Brasil -, havia duas visões, dois modelos, dois rumos para o País, que colidiram na composição Jan-Jan (Jânio-Jango) e nos acontecimentos seguintes.
Em aparente manobra para angariar maior apoio no Congresso, o impulsivo Jânio renunciou em agosto de 1961, denunciando "forças ocultas" nunca vistas à luz da História. Jango recebeu a notícia em Cingapura, depois ter passado pela China comunista, em missão acertada com o presidente, como parte de sua política externa desalinhada com o esquema das duas superpotências - EUA e URSS.
O golpe de 64 teve então o seu segundo - e mais robusto - ensaio. Exército, Marinha e Aeronáutica tinham cada uma seu ministro, que, juntamente com o da Guerra, marechal Odílio Denis, tentaram impedir a posse do vice, pelo fato de ser apoiado pelos partidos Comunista e Socialista Brasileiro (PCB e PSB). A posse foi garantida, mais uma vez, pela corrente legalista, liderada, agora da reserva, pelo marechal Lott, que fora candidato a presidente na chapa de Jango. Assim como em 1955, o general Humberto de Castelo Branco fez parte desse grupo. Dessa vez, no entanto, foi necessário um acordo, pelo qual o presidencialismo deu lugar ao parlamentarismo. Tancredo Neves, do PSD, foi eleito primeiro-ministro.
O incidente abriu espaço para o protagonismo de Leonel Brizola, governador do Rio Grande do Sul pelo PTB e cunhado de Jango, que promoveu a "campanha da legalidade". Um plebiscito em janeiro de 1963 traria de volta o presidencialismo. Jango, no entanto, seguiria com apoio insuficiente no Congresso e nas Forças Armadas, e cada vez mais dependente do respaldo das "massas trabalhadoras", organizadas pelos sindicatos vinculados ao PTB e crescentemente hipnotizadas pela retórica febril de Brizola, que, já como deputado federal, disputava influência nacional com seu cunhado. Brizola pressionava Jango para adotar "reformas de base". Sabendo que não havia apoio no Legislativo para elas, falava em Assembleia Constituinte (o que era traduzido por "fechar o Congresso"), e em impô-las "na marra".
Acuado, sem alternativa de apoio, Jango, de índole conciliadora, pareceu vencer a própria relutância e atropelar a própria natureza no Comício da Central do Brasil, no Rio, no dia 13 de março de 1964, quando adotou a beligerância e a impaciência do cunhado - "vou falar em linguagem que pode ser rude", desculpou-se. Anunciou que havia assinado o decreto de reforma agrária e a nacionalização de cinco refinarias, criticou a Constituição e citou o "supremo sacrifício" de Getúlio Vargas. Bandeiras comunistas tingiam de vermelho a multidão de 150 mil a 200 mil pessoas.
Comunismo. Em reação ao que era percebido como o risco de "comunização" do Brasil - apesar de trabalhismo e comunismo competirem entre si -, foram organizadas as "Marchas da Família com Deus pela Liberdade", com apoio da Igreja e de setores liberais. A Marcha começou em São Paulo, no dia 19, onde reuniu entre 300 mil e 500 mil pessoas, e se espalhou por várias outras cidades, totalizando 1 milhão de manifestantes. Eles defendiam a Constituição, a propriedade e a democracia.
Em 25 de março, cerca de 2 mil marinheiros, sob influência do PCB, desafiaram o ministro da Marinha, Silvio Mota, celebrando o aniversário de uma associação que havia sido declarada ilegal. No dia 30, Jango compareceu a uma reunião de cerca de mil cabos e sargentos no Automóvel Club, no Rio, e pronunciou seu discurso mais virulento, em que falou de "represálias do povo" contra seus adversários, financiados pelo Exterior. Era uma referência ao escândalo de ajuda financeira americana à campanha de deputados. Alarmados com a possibilidade de o Brasil converter-se numa Cuba continental, os Estados Unidos patrocinaram também o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (Ipes), com sede no Rio, que fazia filmes de propaganda anticomunista.
Os dois episódios foram considerados tão provocativos para o oficialato que se especula se não foram estimulados por agentes da linha dura. Eles demoveram a maioria dos legalistas de suas hesitações - a começar por Castelo Branco, chefe do Estado-Maior. A reação foi imediata - e atropelou a cúpula. De prontidão desde o Comício da Central do Brasil, o 10.º Regimento de Infantaria, de Juiz de Fora, pôs-se em marcha às 12h30 do dia 31, rumo ao Rio. Quando entraram em contato com as tropas sublevadas na estrada, as forças supostamente legalistas se congraçaram com os companheiros e aderiram ao golpe.
Seis dias depois, a ‘Marcha da Família com Deus pela Liberdade’, que começou em São Paulo e espalhou-se pelo País, denunciou o ‘risco comunista’

EUA. Os Estados Unidos enviaram uma força-tarefa com um porta-aviões, quatro destróiers, duas escoltas e navios-tanque, para apoiar a intervenção militar. Mas deram meia-volta muito antes de se aproximar da costa brasileira. A rápida adesão dos comandantes levou Goulart a renunciar, partindo para o exílio no Uruguai. Castelo Branco venceu uma surda disputa de poder com o general Artur da Costa e Silva, líder da linha dura, e sagrou-se comandante da "revolução redentora da democracia", como foi chamada por seus partidários. O Congresso o elegeu presidente, e ele tomou posse no dia 15 de abril.
A intenção dos setores civis que apoiaram o golpe - e aparentemente da ala dos militares legalistas liderados por Castelo - era evitar um possível "autogolpe" de Jango, no qual se presumia que ele fecharia o Congresso e imporia suas reformas de base, inaugurando uma "ditadura do proletariado" tropical, aqui chamada de "república sindicalista". Entretanto, Costa e Silva liderou o que entrou para a história como o "golpe dentro do golpe". Numa sequência de decretos paradoxalmente denominados "atos institucionais", a ditadura militar foi gradualmente se instalando, com o cancelamento da eleição presidencial de 1965, o banimento de partidos, a abolição dos direitos e liberdades. A cada quatro anos, um Congresso subserviente elegeu um general-presidente, escolhido antes pela cúpula das Forças Armadas.
A ditadura durou 21 anos, deixando marcas na sociedade brasileira com a tortura e o desaparecimento de opositores. Na economia, seu legado foi ambivalente: de um lado, a inflação e o endividamento elevados; de outro, a implantação de uma importante infraestrutura no País. Toda essa história é contada em detalhes, em muitos casos inéditos, nas páginas que seguem.

1964: o golpe militar, num artigo sensato de Christian Lohbauer

Christian Lohbauer
Folha de S.Paulo, 28 de março de 2014

Jânio, com uma política externa errática, não teve tempo de juntar-se aos não alinhados; Jango exacerbou, no Brasil, a polarização internacional

O golpe militar que desalojou o presidente João Goulart em março de 1964 não foi um evento isolado na história política brasileira e mundial. Foi resultado de um processo de polarização interna, associado à polarização do sistema internacional. O antagonismo entre norte-americanos e soviéticos começou com a corrida nuclear no imediato pós- 2ª Guerra Mundial, aumentou com o bloqueio de Berlim por Josef Stalin em 1948, e ficou explícito na Guerra da Coreia no início dos anos 50. Todas as nações se viram obrigadas a um alinhamento que garantisse a defesa de seus interesses vitais. O Brasil enfrentou o mesmo desafio para definir o seu destino e concluiu seu alinhamento em 1964.

Jânio condecora Che Guevara com a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul Entre 1955 e 1968, período da Guerra Fria marcado pela "coexistência pacífica" entre as duas superpotências, flexibilizou-se a ordem bipolar diante das evidências da capacidade destrutiva que carregavam as armas atômicas. As intensas transformações causadas pelo processo de descolonização, principalmente na África e Sudeste Asiático, multiplicaram o número de Estados soberanos, todos em busca de desenvolvimento e protagonismo nos organismos internacionais. Se as tensões da Guerra Fria se estabilizaram no período de coexistência pacífica, a guerra ideológica se aprofundou e marcou conflitos por todos os continentes. No Brasil não foi diferente.

A polarização ganhou destaque com a eleição da chapa Jan-Jan em outubro de 1960. Na época havia a possibilidade de se eleger candidatos a presidente e vice de chapas diferentes. Jânio Quadros foi eleito presidente com apoio da UDN e de alas conservadoras da sociedade. João Goulart, o Jango, foi eleito vice com apoio do PTB e dos meios operários, apesar da derrota desastrosa do general Henrique Lott. Em pouco tempo a combinação mostrou-se explosiva. Jânio governava de forma errática. Combinava medidas populistas e alinhadas à esquerda com ações conservadoras. Conseguia desagradar aos dois lados e aprofundar a polarização interna da sociedade.

Ainda em 1959, a Revolução Cubana derrubara o ditador Fulgencio Batista. Fidel Castro rapidamente mostrou inclinação ao socialismo. A ameaça comunista se instalava na América, nas barbas da superpotência capitalista, e tinha simpatizantes por toda a América Latina. Jânio presidente condecorou Che Guevara com a Ordem do Cruzeiro do Sul e gerou inconformismo nos conservadores. Talvez a intenção fosse exercitar a política externa independente e colocar o Brasil mais próximo dos países não alinhados.

Afinal de contas, a Conferência de Bandung de 1955 tinha lançado Kusno Sukarno da Indonésia, Gamal Abdel Nasser do Egito e Jawaharlal Nehru, da Índia, além de Chu En Lai da China, como estrelas ascendentes de uma terceira via da política internacional. Esses quatro visavam promover a cooperação econômica e cultural afro-asiática, opondo-se ao que consideravam o neocolonialismo norte-americano e soviético. Passaram a exercitar o pragmatismo político para extrair vantagens de ambas as partes.

O fato é que, com a sua surpreendente renúncia em agosto de 1961, Jânio não teve tempo de fazer o mesmo. Jango estava em Cingapura, depois de passar pela China, e teve de voltar às pressas sob o risco de não assumir. Curioso notar que no mesmo mês a Alemanha Oriental de Walter Ulbricht e Erich Honecker concluía a construção do Muro de Berlim, símbolo de um sistema internacional que entraria em colapso só em 1989.

Com a renúncia, a disputa pelo poder no Brasil entrou em processo de instabilidade permanente até o golpe de 1964. A posse de Jango, nacionalista moderado, não encontrou boa recepção nas alas conservadoras das Forças Armadas, mas encontrou simpatia das ligas camponesas de Francisco Julião, apoiadas pelos cubanos, e nas lideranças estudantis da UNE e da juventude católica de esquerda. Também apoiavam Jango uma parte da burguesia nacional "anti-imperialista" e, principalmente, os movimentos operários.

O Partido Comunista Brasileiro colaborava com Jango embora um grupo ainda mais radical tenha decidido alinhar-se ao modelo chinês (e depois albanês), constituindo o Partido Comunista do Brasil. A tentativa de se modernizar uma sociedade muito desigual, ainda dependente da exportação de café, mas com industrialização crescente, era vista por muitos como um caminho para o socialismo. E o apoio a representações com orientação socialista atormentava militares e conservadores.

Entre setembro de 1961 e janeiro de 1963, Jango governou em regime parlamentarista tendo como primeiro-ministro Tancredo Neves. San Tiago Dantas, ministro das Relações Exteriores do gabinete de Tancredo, reatou relações diplomáticas com a União Soviética e defendeu a neutralidade do Brasil na crise dos mísseis cubanos.

Enquanto isso, o presidente John Kennedy questionava seus secretários sobre como agir em relação ao Brasil. Instruiu Lincoln Gordon, seu embaixador em Brasília, a interferir mais ativamente na política brasileira. Foi o tempo em que Kennedy decidiu envolver os Estados Unidos na defesa dos interesses do Vietnã do Sul enviando milhares de militares para bombardear o avanço comunista de Ho Chi Minh. Kennedy não teve tempo de ver o resultado da decisão de se envolver no Sudeste Asiático. Foi assassinado em novembro de 1963, momento em que no Brasil Jango tinha fracassado em decretar estado de sítio para conter agitações no campo e greves operárias em São Paulo.

No início de 1964, a intenção de iniciar reformas de base por decreto ficou explícita no comício da Central do Brasil, no Rio de Janeiro. Bandeiras vermelhas e pedidos de reforma agrária em uma época em que o livro vermelho com os pensamentos de Mao Tsé-tung começava a ser distribuído internacionalmente dão uma ideia do temor que o comunismo despertava nos meios conservadores. A polarização internacional também estava presente no Brasil. E em 1964 veio a ruptura.


* Doutor em Ciência Política pela USP, é membro do grupo de análise da conjuntura internacional (Gacint) da USP

A frase (idiota) da semana: de Cuba, naturalmente...

"Cuba necessita de 2 a 2,5 bilhões de dólares anualmente em investimentos diretos estrangeiros, para reforçar o seu modelo sócio-econômico socialista, próspero e sustentável."

Vice-presidente Marino Murillo, o czar das reformas econômicas dos irmãos Castro.

Como é que é?
Os comunistas cubanos querem que o investimento direto estrangeiro, que deve ser por natureza capitalista, fortaleça o modelo socialista? Ou seria para reforçar a ditadura comunista?
O burocrata acha esse modelo próspero e sustentável?
Seria uma piada involuntária?
Enfim, sempre existem alguns idiotas iguais a eles, que colocam dinheiro naquela ilha-prisão, "investimento" que provavelmente nunca terá retorno...
Paulo Roberto de Almeida

Inflacao: sinto desmentir quem fala errado

Acabo de ler uma matéria, que tem este trecho:

"Ela destacou que o governo tem mantido da (sic) inflação dentro da meta fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e que isso será mantido em 2014. O IPCA fechou 2013 em 5,91% e está acumulado em 5,68% em 12 meses. O teto da meta é de 6,5%, embora o discurso do Banco Central seja de que a política monetária trabalha para fazer os índices de preços convergirem para o centro da meta, de 4,5%.
— Nos últimos 10 anos, a taxa de inflação se manteve rigorosamente dentro do limites estabelecidos pelo CMN. Posso garantir que assim será também em 2014 — disse ela
."

Rigorosamente errado, equivocado, falso e mentiroso. Tudo isso junto?
O(A) jornalista não sabe o significado das palavras. 
Ou as pessoas não sabem o significado das palavras ou pensam que somos todos idiotas. Devolvemos a suposição. 
Meta, se algum curioso procurar no Dicionário, é um objetivo pré-determinado, um número, um percentual, um alvo específico, quantitativo (e portanto mensurável), ou qualitativo, e portanto objeto de definição e descrição.
Sob esses critérios, a inflação brasileira NUNCA esteve dentro e JAMAIS logrou alcancar a META.
Ela SEMPRE ESTEVE FORA DA META. 
Ela apenas não ultrapassou a BANDA de variação, que por sinal é muito alta, quase 50% da META, o que representa muita tolerância com o intolerável. 
Ou as pessoas não sabem a diferença entre META e BANDA, ou elas pretendem nos enganar. 
Como eu não gosto de ser chamado de idiota, prefiro acusar o equívoco, ou a empulhação, e restabelecer a verdade. 
Da minha parte posso garantir a todos vocês que, como em todas as vezes anteriores, a inflação em 2014 NÃO estará dentro da meta: o governo pretende, como sempre, nos tungar em pelo menos 6% do nosso poder de compra, na realidade bem mais. 
Ah, sim, a arrecadação vai bater novos recordes. Querem apostar?
Se os jornalistas quiserem, posso desenhar um alvo, daqueles bem grandes, vários circulos bem pretos, em diferentes escalas, um dentro do outro, num grande papel branco, com uma bola bem preta no meio. Essa é a META, o ALVO, o objetivo. Posso até marcar 4,5% no meio, e 6,5% no círculo extremo exterior. Precisa, ou assim já está claro?
Aposto que vão atirar para fora...
Paulo Roberto de Almeida 

Venezuela: ate quando a indiferenca dos vizinhos?

Um desses ministros falantes, alguns anos atrás, cunhou a expressão de "não indiferença". O Brasil continuava a praticar a a não ingerência nos assuntos internos de outros Estados (o que era falso para os companheiros),  mas não seria indiferente ao que neles se passava. Pois bem: está mais do que na hora de cessar a hipocrisia.
Paulo Roberto de Almeida 
Tirania chavista: 59 denúncias de torturas, 1493 detenções e 28 mortos
Tudo com a cumplicidade do governo Dilma e da escória bolivariana da América do Sul:
Desde el inicio de las masivas manifestaciones opositoras contra el gobierno de Nicolás Maduro, ya se han denunciado 59 casos de torturas, según informó este fin de semana el Foro Penal Venezolano. "Son casos de tortura, no de excesos o tratos inhumanos. Es sufrimiento infligido para lograr una confesión, como castigo, intimidación o discriminación. La tortura se ha empleado para infligir castigo o como sanción por manifestar", aseguró el director de la organización, Alfredo Romero, durante una reunión sostenida este sábado. Además, fueron reportadas, al menos, 1.493 detenciones, mientras que hay 28 muertos.
Según reseña el periódico El Nacionalno se trata de casos aislados, sino de un patrón de actuación. "Las fuerzas militares están marcando la pauta de lo que está pasando. Hay la intención de colocar a todo aquel que manifieste como un enemigo de guerra, lo que da pie para hacer cosas fuera del orden de la ley", indicó Gonzalo Himiob, también directivo de la organización.
Los abogados identificaron ocho puntos en común que delinean un patrón sistemático en las agresiones de las que han sido víctimas manifestantes en Táchira, Lara, Miranda y Carabobo, donde se registró el mayor número de casos. Estos son las detenciones sin orden de captura o de allanamiento; la actuación de civiles armados, policías vestidos de paisanos, o paramilitares con la anuencia de la Guardia Nacional y la Policía Nacional; y las amenazas de violación sexual.
En cuarto lugar, las detenciones arbitrarias y los "ruleteos" a los que someten a algunos detenidos, con el fin del golpearlos y castigarlos por manifestar. Por último, la negación de la atención médica a los manifestantes heridos; el acoso e intimidación a abogados defensores, lo cual lesiona el derecho a la defensa de las víctimas detenidas; la celebración de audiencias en sedes policiales o militares; y la agresión contra bienes de manifestantes.(Continua).

sábado, 29 de março de 2014

Petepatia: uma terminologia que veio para ficar, como petralha - Lucas Daniel (via Orlando Tambosi)

Eu e o Orlando Tambosi estamos sempre numa corrida para publicar o que há de melhor (e de pior, também) sobre este país surrealista situado a centro-leste da América do Sul. Ele me ganha, sempre, por isso eu vou ter de acabar pagando direitos autorais, neste caso não exatamente a ele, mas ao criativo (sem contabilidade, por favor) Lucas Daniel, que vai para a história dos dicionários políticos, junto com o inventor do termo petralha, pelo seu novo termo de Petepatia e, seu nominativo, petepata, ambos totalmente merecidos e que passo a usar a partir de agora.
Paulo Roberto de Almeida 
Petepatia, uma doença incurável
Recebi do leitor Lucas Daniel o texto que publico abaixo, sob o título: "Petepatia, uma doença incurável. Ou: os fins justificam os meios".

Petepatia é um termo que cunhei para designar partidos políticos (quaisquer partidos) ou membros e militantes de partidos políticos que possam ser identificados por uma característica fundamental: a de que os fins justificam os meios. Esses partidos ou seus integrantes são marcadamente egoístas, falsos, cínicos, calculistas, trapaceiros, chantagistas, mentirosos e manipuladores, e colocam seus interesses pessoais ou político-partidários sempre em primeiro lugar, para serem atingidos custe o que custar, doa a quem doer. Como são notavelmente intolerantes à frustração, tendem a adotar, quando contrariados, medidas extremas para conseguir o que querem, não hesitando em apelar para a violência como instrumento de luta política. Não é à toa que estão sempre ligados a bate-paus e baderneiros, sempre prontos a promover arruaças, ou, mesmo, a bandos armados. E se inclinam, nos casos mais graves, em que assumem o poder, para regimes de exceção, quando os seus adversários são, via de regra, perseguidos, encarcerados, torturados e, mesmo, mortos.

Não é por outra razão, aliás, que se identificam, habitualmente, com ideologias, líderes e regimes que patrocinam tais aberrações. Na oposição, adotam, com frequência, a praxis do “quanto pior, melhor”. No poder, aparelham o Estado e suas instituições, a fim de estabelecer um regime hegemônico, de partido único. E isso não lhes é difícil, pois são hábeis dissimuladores, ocultando-se sob manto de ideais humanitários, como justiça e igualdade social, combate á fome e à pobreza, e defesa das minorias e dos direitos humanos, enquanto vão estendendo seus tentáculos sobre a sociedade e o Estado. Afetam possuir o monopólio da virtude, mas, na verdade, não passam de predadores dos cofres públicos e das instituições. Não raro, enriquecem no poder. Usam e abusam da propaganda enganosa, a ponto de mascarar índices econômicos e sociais para ludibriar as massas. As medidas populistas, sempre paliativas, de dar pão e circo à população, são largamente usadas, com o mesmo objetivo. Emoldurando esse quadro, adotam a postura de vítimas de um suposto poder dominante, elitista, explorador, que estaria tentando impedi-los de cumprir a sua elevada missão redentora. É o jogo do “nós” contra “eles”, em que dividem para melhor dominar. Na verdade, dentro da hipótese que estamos formulando, são eles que estão no poder, dando as cartas, acumpliciando-se com as elites, tomando de assalto os cofres públicos e as instituições, repartindo o butim com os seus sequazes. Mas fingem que não, para melhor iludir o povo.

Tal como ocorre com os seus parentes próximos, os psicopatas, que não aprendem com os próprios erros e nem se arrependem deles, os petepatas estão sempre reincidindo nos erros, malfeitos ou crimes que cometem. Quando denunciados, julgados ou, mesmo, condenados, tentam se justificar de todas as formas possíveis e imagináveis, jamais admitindo a sua responsabilidade. Se necessário, recorrem à negação absoluta do “não vi, não ouvi e não sei”, mesmo quando todas as evidências apontam em sentido contrário. Ou seja, não contabilizam os seus crimes. Na melhor das hipóteses, quando já não podem negar mais, tentam se justificar dizendo que em algum lugar, no presente, no passado ou, mesmo, no futuro, outros cometeram ou ainda vão cometer os mesmos erros, malfeitos e crimes. E se, excepcionalmente, chegarem a admiti-los, dirão que foram praticados para o bem de todos e a felicidade geral da nação. 

Desse modo, são sempre indulgentes com os seus próprios crimes e os crimes dos seus correligionários - a quem apontam, não raro, como heróis da “causa” que defendem, justamente pelos crimes que cometeram - tanto quanto são implacáveis com os dos seus adversários. É como se dissessem, descaradamente, “nós podemos, eles não”. Isso deve ser confrontado com o que eles dizem sempre que são pilhados em flagrante delito: “nós fizemos, mas eles também fizeram”. 

É importante destacar que as características que descrevemos devem ser notas dominantes - e não traços, apenas -, do comportamento, e devem estar presentes de forma maciça num partido político ou nos seus integrantes para que fique bem configurada a Petepatia. Se essa ressalva não for respeitada, corremos o risco de classificar todos os partidos políticos como petepatas, o que não seria verdadeiro. Petepatia é uma doença política, ideológica e social grave, criminosa, incurável e extremamente destrutiva para um país. Assim sendo, todo o cuidado será sempre pouco ao diagnostícá-la.

A palavra “petepatia” foi composta de “pet” e ”patia”. “Patia”, como se sabe, diz respeito à doença. Quanto a “pet” (politereftalato de etileno), é a designação de um polímero bastante moldável, utilizado, comumente, na fabricação de garrafas e recipientes diversos. O termo foi adotado por mim justamente por causa da plasticidade desse material que, uma vez submetido a temperaturas adequadas, amolece, funde e pode assumir as mais variadas formas para atender aos seus fins. Tal como ocorre com os petepatas que, para a consecução dos seus fins, assumem os mais variados disfarces e formas de expressão, enganando os incautos. Assim como recorrem a todos os meios possíveis e imagináveis, sem qualquer consideração pela sua natureza boa ou má, justa ou injusta, pois tudo o que lhes interessa são os fins, pelos quais os meios, quaisquer que sejam, estariam sempre justificados. É por isso mesmo que consideram válido aparelhar o Estado, fazer o diabo para ganhar eleições, fabricar dossiês para assassinar reputações de adversários políticos, assinar documentos de estado sem ler, comprar congressistas, cercear a liberdade de expressão, cooptar juízes para reformar sentenças, chamar bandido de “meu louro”, transformar programas sociais em esquemas de compra de votos, financiar ditadores e ditaduras, fraudar eleições, deixar presos políticos morrerem de fome na prisão, fuzilar dissidentes num “paredón” qualquer, matar mais de cem milhões de pessoas em nome da justiça e da igualdade social, e uma infinidade de coisas do mesmo jaez.

Portanto, meu caro leitor, se você conhece, em seu país, algum partido político que preencha tais características, não vote nele. Mas, se ele já estiver no poder, trate de tirá-lo imediatamente de lá, antes que seja tarde demais. E se isso não for mais possível, só lhe resta uma opção: fuja do seu país! Já!

A Desigualdade: um problema para os igualitaristas - Axel Kayser

Pois é, como os igualitaristas criticados na introdução do meu amigo Orlando Tambosi, ao texto de Axel Kayser, transcrito abaixo, eu também acho que a desigualdade é um grande problema, pelo menos para mim, que acho uma grande injustiça minha situação atual.
Passei a vida inteira ralando nos estudos, trabalhando de dia e estudando de noite, acumulei títulos e mais títulos, publiquei mais de uma dúzia de livros, e o que tenho agora? Quase nada!
Ganho tanto num ano inteiro de trabalho quanto um desses futebolistas famosos ganham em menos de um mês. Isso é uma injustiça tremenda. O cara era pobre, como eu aliás, vivia em favela, nunca estudou na vida, passava o tempo em peladas de futebol, mal sabe falar, quando fala não diz coisa com coisa, mas vive em mansão, tem carros de luxo, frequenta restaurantes caros, coisas que passam ao largo do meu orçamento. Uma tremenda injustiça! Nem falo daquele cantor de rap semi-analfabeto, que também ganha fortunas com suas músicas medíocres, de letras indecifráveis ou indecorosas. 
Não suporto tanta injustiça! Vou pedir para o governo fazer alguma coisa. Mas que não seja como aquele idiota do François Hollande que mandou taxar todos eles a 75% da renda acima de 1 milhão de euros, pois eles podem decidir ir embora do país. Quero todos iguais aqui dentro. 
Seria isso possível?
Vejamos o que diz este analista. 
Paulo Roberto de Almeida 

Para os coletivistas, a simples formulação da pergunta constitui escândalo. Igualitaristas radicais, eles defendem a igualdade em detrimento das liberdades. De costas para a história, ignoram que, onde o igualitarismo imperou, as liberdades foram suprimidas: o comunismo continua sendo o grande exemplo.  Quase todos os Estados praticam alguma forma de igualdade, compatível com a democracia, enquanto o igualitarismo é antidemocrático por natureza, pois sacrifica as liberdades individuais. A propósito do tema, segue um texto de Axel Kayser, presidente do think tankchileno Fundação para o Progresso:


A muchas personas, el mero hecho de formular esta pregunta les parece inaceptable. Evidentemente, piensan ellos, la desigualdad es un gran problema. Como diría la Presidenta Bachelet: la desigualdad es nuestro "gran enemigo". La declaración de Bachelet, sin duda en sintonía con el Zeitgeist, no es irrelevante. Como advirtiera John Stuart Mill, el clima de opinión intelectual define en buena medida la evolución institucional de un país y puede tener consecuencias desastrosas. 

De ahí que sea pertinente examinar el postulado igualitarista críticamente de modo de establecer qué es realmente lo que ataca y qué es lo que propone. Como primera cuestión, este ejercicio requiere analizar cuál es el origen de la desigualdad. Y este no es otro, como notó Courcelle-Seneuil hace un siglo y medio, que la naturaleza humana. 

Todos somos diferentes, es decir, desiguales. Nuestros talentos, capacidades, inteligencia, disposición al esfuerzo y todos los demás factores que definen nuestro ingreso varían de una persona a otra. En una sociedad de personas libres estas desigualdades afloran permitiendo que cada uno haga el mejor uso de los talentos, suerte y capacidades de que dispone para servir a otros. Esto es lo que se conoce como principio de división del trabajo que Adam Smith explicara tan magistralmente en "La Riqueza de las Naciones", obra poco leída por liberales y aún menos leída por los críticos del liberalismo. 

Bajo un "sistema de libertad natural", como lo llamó Smith, habrá algunos que sean panaderos, otros ingenieros, habrá abogados, herreros, profesores, deportistas, campesinos, obreros, etc. También habrá muchos que cambien de profesión en el camino, mientras otros comenzarán pobres y terminarán ricos, y viceversa. 

En este sistema los ingresos variarán de acuerdo a la valoración que el resto de los miembros de la sociedad hace del aporte de cada persona. Se trata de un sistema que satisface necesidades y deseos ajenos, y en el cual los méritos no juegan ni pueden jugar un rol relevante. 

Cuando usted va a comprar carne de cerdo no le interesa saber si el carnicero fue personalmente a cazar, cuchillo en mano, un jabalí en la montaña o si el animal fue producido en masa a un mínimo esfuerzo. Tampoco le interesa si el productor de un cierto bien es buena persona. Usted no paga por el mérito sino por el producto. Si es bueno y a un precio razonable, lo compra; si no, busca otro. En ese sentido el consumidor, como explicó Ludwig von Mises, es despiadado y el empresario está obligado a satisfacerlo si quiere sobrevivir. 

Esta libertad de elegir de acuerdo a las propias valoraciones constituye la esencia de la democracia del mercado y es lo que explica que Alexis Sánchez gane miles de veces más por patear una pelota que una enfermera por salvar vidas, a pesar de que lo primero sea menos meritorio que lo segundo. Lo fascinante de este sistema de libertad es que, a pesar de contravenir intuiciones de justicia bastante generalizadas, es sin duda alguna el que permite el mayor progreso económico y social para todos los miembros de la comunidad. 

Si mañana un ingeniero japonés descubriera la fórmula para producir energía limpia a costo casi cero, no solo ese ingeniero se haría millonario, sino que el ingreso de la mayoría de los habitantes del mundo se incrementaría exponencialmente. Esa es la historia del capitalismo, el que indudablemente no produce igualdad sino riqueza. Cuando Friedrich Hayek observó, para escándalo de los socialistas, que la desigualdad era parte fundamental de la economía de libre mercado, no estaba más que constatando que esta se deriva del principio de división del trabajo sobre el que descansa nuestro bienestar y nuestra civilización. 

En ese contexto, sostener, como hizo Bachelet, que la desigualdad es el enemigo equivale a afirmar que la libertad y la diversidad humana son el enemigo. Si no fuera así y la libertad no fuera considerada el enemigo, no sería necesario reemplazar la cooperación voluntaria de las personas por intervención estatal, que es lo que proponen los igualitaristas a sabiendas de que solo el Estado permite alcanzar, mediante la coacción, resultados políticamente deseados como la igualdad. La mejor prueba de que la búsqueda de igualdad es, a pesar del notable esfuerzo de John Rawls, necesariamente incompatible con la libertad son los regímenes totalitarios socialistas. Su máxima fue precisamente que la desigualdad y, por tanto, la economía libre eran el gran enemigo.

El resultado es conocido. Obviamente, esto no es lo que pretende Bachelet ni la mayoría de los igualitaristas. Pero el camino que proponen recorrer, muchas veces con las mejores intenciones, sin duda conduce en la dirección de restringir la libertad de las personas afectando el bienestar de la sociedad. La fórmula liberal, por el contrario, propone maximizar espacios de libertad y ayudar solo a quienes por sus medios no logran surgir. En otras palabras, para los verdaderos liberales la desigualdad no es el problema. El problema es la pobreza. Lo que importa es que todos estén mejor y no que estén igual. Si un liberal tuviera que elegir entre duplicar los ingresos actuales de todos los chilenos, desde el más rico al más pobre, manteniendo con ello la desigualdad relativa existente hoy, o reducir a la mitad los ingresos del 15% más acomodado para convertirnos en un país muchísimo más igualitario, el liberal elegiría la primera opción. En cambio, un igualitarista convencido, como Bachelet, de que la desigualdad y no la pobreza es el gran enemigo a ser derrotado, preferiría la segunda opción desmejorando a algunos sin mejorar a nadie.

Heranca maldita dos companheiros: barbeiragens eletricas - Alexandre Schwartsman

“Hipocrisia”, dizia Oscar Wilde François de La Rochefoucauld (*), “é a homenagem que o vício presta à virtude”. E, se não lhe faltam homenagens no pacote de medidas para auxiliar o setor elétrico, a verdade é que a virtude propriamente dita não compareceu ao tributo.

É claro, pela formulação do pacote, que o governo não gostaria de ver inflação mais alta, nem de registrar deterioração adicional em suas contas fiscais, dois objetivos sem dúvida virtuosos. O problema, como de hábito, é que, por trás da aparente retidão, as medidas adotadas somente disfarçam os problemas (ou os empurram com a barriga), sem atacar nenhum de suas causas.

A redução a fórceps das tarifas de energia em 2013 e a seca deste ano produziram uma situação delicada no setor elétrico. Como as empresas distribuidoras de energia não conseguiram contratar 100% de suas necessidades no ano passado por conta da truculência governamental no trato com as geradoras, precisam agora comprar energia termoelétrica, mais cara, no mercado à vista, pois a seca não permite o pleno funcionamento das hidroelétricas.

Têm, assim, comprado energia por preço mais alto do que são autorizadas a vendê-la, replicando, em certa medida, a mesma situação pela qual passa a Petrobrás. Não há, porém, milagre de gestão que faça uma empresa, em qualquer ramo, ganhar dinheiro vendendo seu produto por um valor menor que custam seus insumos e as distribuidoras não são exceção à regra.

Note-se que esta situação já ocorria desde o ano passado, quando os níveis dos reservatórios ainda se encontravam em condição razoável. A seca agravou o problema, mas está longe de ser a única causa. Tanto é que já em 2013 o governo foi obrigado a desembolsar R$ 8 bilhões para ressarcir as empresas (outros R$ 4 bilhões vieram de fundos de reserva do setor, agora devidamente esvaziados).

Este aumento de custos precisaria ser repassado ao consumidor. Por menos que gostemos de pagar mais caro por alguma coisa, o funcionamento de qualquer mercado minimamente eficiente requer que preços reflitam custos (tanto quando sobem como quando caem) e isto também vale, aliás, crucialmente, no que se refere à energia.

Caso tivéssemos a inflação (e principalmente suas expectativas) sob controle, esta reação levaria a uma aceleração provavelmente temporária, que poderia ser absorvida pelo intervalo de dois pontos percentuais ao redor da meta. Como, porém, desafiando as melhores práticas, permitiu-se que o intervalo fosse usado para acomodar uma taxa de inflação persistentemente mais elevada, não há espaço para qualquer aumento de preços este ano.

Há também, sem dúvida, receios quanto aos danos políticos que poderiam resultar da elevação de tarifas num ano eleitoral, também presentes na decisão de não reajustar adequadamente os preços de combustíveis.

Assim o governo acena com aumentos apenas em 2015, sendo, pois forçado a auxiliar financeiramente as empresas já em 2014. No entanto, para evitar mostrar o dano em suas contas, decidiu aportar apenas R$ 4 bilhões (além dos R$ 9 bilhões já no orçamento) para este fim. Estima-se que R$ 8 bilhões adicionais seriam necessários, mas estes recursos seriam tomados pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), um ente privado, de modo que os empréstimos não apareceriam nas contas do setor público.

Considerando, contudo, que o orçamento para 2013 da CCEE foi da ordem de R$ 150 milhões, parece claro que qualquer empréstimo à empresa ou virá de bancos públicos, ou será garantida pelo Tesouro (ou ambos). A contabilização do empréstimo fora do setor público é mera formalidade, que muda a aparência, mas não a natureza do subsídio.


Esta preocupação é louvável apenas pelo reconhecimento implícito da virtude; como toda instância de contabilidade criativa, porém, serve apenas para erodir a já escassa confiança em qualquer dado que provenha do governo.

(*) Obrigado Sergio Lamucci!

(Publicada 19/mar/2014)

A nossa Alice no Pais das Maravilhas, mas nao seria o chapeleiro maluco? - Editorial Estadao

Mantega no país das maravilhas

29 de março de 2014
Editorial O Estado de S.Paulo
O governo poderá proclamar mais uma de suas vitórias imaginárias se a inflação deste ano ficar em 6,5%, limite da margem de tolerância. Será, novamente, uma das taxas mais altas do mundo, mas a administração federal tem ambições modestas quando se trata de conter a alta de preços. "Este ano a inflação não vai passar dos limites", disse o ministro da Fazenda, Guido Mantega, em aula magna, sexta-feira, na Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo. A desculpa, neste ano, estará associada à alta dos preços de alimentos, já tomados como vilões do custo de vida em anos anteriores. Esses vilões nem sempre estiveram presentes, mas o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), usado como referência para a política monetária, há muito tempo vem subindo mais que os 4,5% fixados como objetivo. "De 2003 em diante temos mantido a inflação dentro da meta", acrescentou o ministro. A informação é incorreta. Meta é uma coisa, margem de tolerância é outra. Só para ficar nos últimos três anos, os resultados foram: 6,5% em 2011, 5,84% em 2012 e 5,91% em 2013, sempre longe, portanto, do alvo oficial.
A promessa do ministro da Fazenda evidencia, mais uma vez, uma dupla complacência do governo - com a inflação e com as próprias falhas. Essas falhas, incluída a péssima administração do dinheiro público, são muito mais importantes que as cotações dos alimentos como fatores da alta geral e persistente dos preços. O ministro reafirmou a promessa de um superávit primário - o dinheiro usado para pagar os juros - equivalente a 1,9% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2014, igual ao de 2013. O País, segundo ele, apresentou no ano passado um dos melhores resultados primários dos países do Grupo dos 20 (G-20). "Não se pode questionar nossa seriedade fiscal", bravateou.
Nenhum público razoavelmente informado pode levar a sério qualquer dessas declarações. O resultado primário de 2013, assim como o do ano anterior, foi conseguido com receitas não recorrentes, como dividendos e bônus de concessões, e com truques contábeis prontamente desmascarados e conhecidos mundialmente como "contabilidade criativa". Neste ano, a meta de 1,9% está claramente vinculada à expectativa de receitas de ocasião, como já comentaram vários analistas.
Ao anunciar o rebaixamento da nota de crédito soberano do Brasil, na segunda-feira passada, a agência Standard & Poor's classificou como "desafiadora" a meta fiscal definida para 2014, lembrando o uso de expedientes nada ortodoxos no fechamento das contas públicas nos últimos anos. Será o governo capaz de apresentar o resultado prometido sem recorrer a truques e a receitas especiais? Esse ponto é fundamental, quando se trata de avaliar a política fiscal executada em qualquer país. Além disso, a comparação do Brasil com a maior parte dos países do G-20 serve mais para confundir do que para esclarecer.
A comparação adequada é com os emergentes. Muitos deles apresentam indicadores econômicos muito melhores que os do Brasil, quando tomados em conjunto. Isso inclui as contas públicas, a inflação, a expansão do PIB e o comércio exterior. Ao explicar a decisão de rebaixar a nota do Brasil, os dirigentes da Standard & Poor's mencionaram vários componentes do quadro econômico, incluídos o baixo crescimento do produto e a deterioração das contas externas. Se esses indicadores continuarem ruins, acabarão afetando seriamente as condições fiscais e a capacidade de pagamento do setor público.
O ministro mencionou ainda, entre outros aspectos positivos da economia nacional, a geração de empregos, num mercado onde "há disputa de trabalhadores qualificados" e salário real em alta. Mas ele novamente negligenciou detalhes de importância vital. A indústria, estagnada, vem demitindo e as contratações têm dependido principalmente dos serviços. São empregos de baixa produtividade. A procura de trabalhadores qualificados de fato ocorre. Mas, se existe alguma "disputa", é simplesmente porque essa mão de obra é escassa. É uma consequência dos erros cometidos na política educacional, muito mais voltada para a demagogia do que para a formação de trabalhadores capacitados.

Detroit arruinada: melhor leiloar todos os seus tesouros artisiticos...




Photo

The Wedding Dance,” by Pieter Bruegel the Elder, has long been part of the collection of the Detroit Institute of Arts. One estimate put the painting’s value at up to $200 million.CreditFabrizio Costantini for The New York Times

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Most of the paintings on my walls are by artists I know personally. And although some of these works are hauntingly beautiful, they wouldn’t command much on the open market.
But the prices fetched by famous artists have spiked sharply in recent decades. That is not because their paintings have become any better. Rather, it’s that these works have become trophies in bidding wars among the superrich.
That fact has implications for museum policies in general, and in particular for the valuable collection in the Detroit Institute of Arts. That collection includes canvases by van Gogh, Picasso, Rembrandt, Rivera, Gauguin, Degas and many others. The city of Detroit, which owns many of the paintings, filed for bankruptcy last year, citing its inability to service its many billions in debt. The presiding judge authorized the city to explore the possibility of selling assets, including those paintings.
Since then, worried creditors have been eyeing those treasures. Christie’s, the auction house, has estimated that the core of the collection would sell for $454 million to $867 million. But those figures cover only a fraction of the museum’s art; others have put the total value much higher. Foundations and individual donors have already pledged hundreds of millions to keep the collection off the auction block, but whether they will succeed remains uncertain.
With Detroit’s sense of history and civic pride on the line, how much should its boosters be willing to pony up? It’s an emotionally charged question, and few people would want the institute’s art to leave the city. Yet officials cannot responsibly ignore the costs and the benefits of the choices ahead.
One way to think about the decision is to imagine Detroit as a new municipality about to build a museum stocked and operated at taxpayer expense. Which paintings should it display?
Perhaps the most important principle of economics is that an action should be taken only if its benefit, broadly construed, exceeds its cost. This principle counsels that a painting should be displayed if the resulting gains — primarily, the pleasure that museum visitors take in seeing it, in addition to any indirect benefits, like those for civic pride and tourism — add up to more than the corresponding costs.
Some people say that because it’s so hard to put a dollar figure on such benefits, this principle is of little practical use in Detroit. But the benefits must be substantial — how else to explain the extraordinary efforts of private donors to save the collection?
Fortunately, costs are easier to estimate, and those for displaying a painting derive largely from its market value. Consider “The Wedding Dance,” a 16th-century work by the Flemish painter Pieter Bruegel the Elder. Detroit museum visitors have enjoyed this painting since 1930. How much would it cost to preserve that privilege for future generations?
A tidy sum, as it turns out. According to Christie’s, this canvas alone could fetch up to $200 million. Once interest rates return to normal levels — say, 6 percent — the forgone interest on that amount would be approximately $12 million a year.
If we assume that the museum would be open 2,000 hours a year, and ignore the cost of gallery space and other indirect expenses, the cost of keeping the painting on display would be more than $6,000 an hour. Assuming that an average of five people would view it per hour, all year long, it would still cost more than $1,200 an hour to provide the experience for each visitor.
Notwithstanding the crudeness of these approximations, we can say that even a very wealthy taxpayer would be reluctant to pay anything close to $1,200 an hour for the privilege of viewing this painting. And that suggests that most taxpayers think the same money could deliver much greater value if spent in other ways. Of course, the painting might still justify its cost if other indirect benefits were large enough.
Yet the point remains that prices affect the options we face. Relative to famous art, lesser-known works have become much cheaper in recent years, despite no evidence of any decline in their quality. In a rational world, this change would encourage curators to invest more heavily in emerging artists.
Many of these artists produce works that are deeply affecting, yet surprisingly affordable. Talented curators could assemble collections of their art that would delight visitors and draw fulsome praise from critics. And as those works became better known, their value would climb rapidly.
Ownership by public or nonprofit institutions is also not a prerequisite for public exhibition of prized art. The superrich pay so much for these works largely because they are already so famous. Yet being chosen for prominent display in public spaces was how many of these works became famous in the first place. If fewer museums owned them, the rich would have good reason to lend them more often for public display, as indeed many already do, thus preserving and enhancing their value. If sold, many of the institute’s famous works would return as loaners, along with such works from other collections.
If billionaires choose to bid up the prices of trophy art, that’s their privilege. And because most of them will die with large fortunes unspent, they can buy what they want without having to buy less of other things they value. But because money for worthy public purposes is chronically in short supply, city officials and true philanthropists must grapple with agonizing trade-offs.
Yes, communities benefit from famous paintings, but they also benefit from safer roads and better schools.