O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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domingo, 4 de janeiro de 2015

Academia.edu: minha ONU particular (e as agencias de informacao que me cercam...)

Acessando as estatísticas do Analytics do Academia.edu, reparei que, pela primeira vez as "origens desconhecidas" superam amplamente, em número de visitas, todos os demais visitantes de 117 países diferentes (e um ainda "desconhecido, na posição 86 na lista abaixo). Desses países, ainda me falta visitar uns 70, o que espero fazer, para alguns, nos próximos anos, e os demais apenas em programas do Discovery ou National Geogrpahic.
Em todo caso, os serviços de informação de sabe-se lá qual potência estrangeira (pode ser o Google, essa terrível potência do mal, que incomoda todas as ditaduras) anda atrás de mim ou de meus escritos.
Em todo caso, aqui vai a lista dos visitantes espalhados por esse planetinha redondo...
Paulo Roberto de Almeida

Academia.edu -- Countries Views em 4 de janeiro de 2015

Country
60-Day Views
All-Time Views
1)     Unknown
207
14,587
2)     Brazil
2,082
6,750
3)     United States
86
409
4)     France
70
240
5)     Portugal
53
185
6)     Mozambique
17
106
7)     Argentina
20
99
8)     United Kingdom
34
97
9)     Spain
7
86
10)   Angola
20
82
11)   Germany
11
68
12)   Italy
7
62
13)   Mexico
4
47
14)   Russian Federation
3
46
15)   Belgium
32
45
16)   Canada
7
37
17)   Ecuador
3
34
18)   Uruguay
7
31
19)   Australia
12
31
20)   India
5
28
21)   Netherlands
1
28
22)   Korea, Republic of
9
26
23)   Greece
0
26
24)   Switzerland
7
25
25)   Egypt
7
25
26)   Japan
4
24
27)   Indonesia
4
23
28)   Turkey
5
20
29)   Colombia
2
17
30)   Poland
3
17
31)   Romania
2
14
32)   Morocco
5
13
33)   Peru
6
12
34)   Thailand
1
12
35)   Senegal
0
12
36)   South Africa
0
12
37)   Slovakia
4
11
38)   Ukraine
1
11
39)   China
0
11
40)   Philippines
0
11
41)   Pakistan
4
10
42)   Chile
0
10
43)   Puerto Rico
0
9
44)   Cape Verde
2
8
45)   Algeria
1
8
46)   Guatemala
0
8
47)   Lebanon
0
8
48)   Malaysia
0
8
49)   Ireland
1
7
50)   Croatia
0
7
51)   Sweden
0
7
52)   Hungary
1
6
53)   Haiti
1
6
54)   Dominican Republic
1
6
55)   Côte D'Ivoire
0
6
56)   Finland
0
6
57)   Israel
0
6
58)   Czech Republic
2
5
59)   Austria
0
5
60)   Iran, Islamic Republic Of
0
5
61)   Kenya
0
5
62)   Tunisia
0
5
63)   Timor-Leste
2
4
64)   Madagascar
4
4
65)   Norway
2
4
66)   Bangladesh
0
4
67)   Ethiopia
0
4
68)   Ghana
0
4
69)   Hong Kong
0
4
70)   Iraq
0
4
71)   Serbia
0
4
72)   Viet Nam
0
4
73)   Zimbabwe
0
4
74)   Oman
3
3
75)   Belize
3
3
76)   Saudi Arabia
1
3
77)   Burundi
0
3
78)   Congo, The Democratic Republic Of The
0
3
79)   Cameroon
0
3
80)   Nigeria
0
3
81)   Paraguay
0
3
82)   Slovenia
0
3
83)   Bolivia
1
2
84)   Martinique
1
2
85)   Yemen
1
2
86)   Unknown
1
2
87)   Mongolia
1
2
88)   Bulgaria
0
2
89)   Bahrain
0
2
90)   Costa Rica
0
2
91)   Cuba
0
2
92)   Kyrgyzstan
0
2
93)   Kuwait
0
2
94)   Kazakhstan
0
2
95)   Luxembourg
0
2
96)   Macedonia, the Former Yugoslav Republic Of
0
2
97)   Malta
0
2
98)   New Zealand
0
2
99)   Singapore
0
2
100)Taiwan
0
2
101)Tanzania
0
2
102)Venezuela
0
2
103)Sao Tome and Principe
1
1
104)Armenia
1
1
105)Bosnia and Herzegovina
0
1
106)Denmark
0
1
107)Estonia
0
1
108)Fiji
0
1
109)Guinea
0
1
110)Sri Lanka
0
1
111)Mali
0
1
112)Namibia
0
1
113)Nepal
0
1
114)Réunion
0
1
115)Sudan
0
1
116)El Salvador
0
1
117)Togo
0
1
118)Trinidad and Tobago
0
1
119)Saint Vincent And The Grenedines
0
1

Esses economistas fajutos e suas previsoes equivocadas: erraram todas em 2014

Vejamos o que os praticantes da ciência lúgubre -- seria assim que se traduz dismal science? -- andaram errando em suas estimativas de um ano atrás para o comportamento dos principais indicadores econômicos.

Taxa de desemprego: média das previsões para dezembro de 2014: 6,3%; taxa real: 5,8%
Inflação: projetado para o índice ao consumidor: 1,9%; taxa real: 1,3%
Taxa de juros: estimada para os títulos a 10 anos do Tesouro: 3,52%; real: 2,17% (e aqui a diferença é realmente brutal, para os poupadores, coitados)
Preço do barril do petróleo: consenso para o final de 2014: US$ 94,65; preço real: $53,27 (para a desgraça de muitos produtores tradicionais, mas também para uns idiotas do pré-sal por aqui mesmo);
Crescimento do PIB: previsão: 2,8%; taxa real dentro de dois meses, mas pode ter sido melhor.

Bem, vocês já previram que eu estava falando dos EUA não é mesmo? Ali, os economisas ou foram muito pessimistas, ou realistas, mas o fato é que eles erraram feio, como reparou o Wall Street Journal (2/01/2015), esse grande jornalão do PIG americano, defensor dos especuladores da rua do mesmo nome.

No Brasil, os economistas acertaram todas, não é mesmo? Pelo menos, os que não são do governo...
Paulo Roberto de Almeida 


Atlas do Oriente Medio (sem Israel): Stalin baixou na Editora Harper Collins

L’Etat d’Israël rayé d’un atlas sur le Moyen-Orient

Carte extraite de l'ouvrage "Atlas : apprendre avec les cartes" de Harper Collins.
Carte extraite de l'ouvrage "Atlas : apprendre avec les cartes" de Harper Collins.
Proposer une lecture claire et « en profondeur » des enjeux du Moyen-Orient. Telle était l'ambition affichée d'un atlas publié par le géant de l'édition Harper Collins, raconte The Washington Post. Développé spécialement pour les écoles de la région, l'ouvrage souhaitait offrir aux enfants la possibilité de « comprendre la dynamique entre l'environnement physique et social, les défis de la région [et] son développement socio-économique ». Des objectifs on ne peut plus louables. Seulement voilà, si la Jordanie est mentionnée, de même que Gaza ou encore la Syrie, le livre omet un acteur majeur dans la dynamique de la zone : Israël. Comme l'explique la publication catholique The Tablet, qui a révélé l'information, l'atlas a été depuis retiré de la vente.
Harper Collins a également présenté ses excuses sur sa page Facebook pour une « omission » susceptible d'avoir offensé plusieurs personnes. Plus inquiétante est la justification donnée par Collins Bartholomew, une de ses filiales chargée de la cartographie : faire apparaître Israël aurait été « inacceptable » pour leurs clients. En d'autres termes, la non-mention de l'Etat hébreu relève donc d'un souci de « préférences locales ».
Alors que l'autorité palestinienne se bat pour la reconnaissance d'un Etat palestinien et que les tensions sont ravivées dans la région, cet « oubli volontaire » de la part d'une maison d’édition aussi installée, semble encore moins compréhensible...  Interrogée par The Tablet, Jane Clements, directrice d’une organisation britannique œuvrant pour le dialogue entre catholiques et juifs, rappelle à juste titre que « les cartes peuvent être un outil très puissant ».

Itamaraty: "diplomacia de resultados"? Deixa eu me lembrar onde e quando eu ouvi isso...

Já lembrei: foi quando o Dr. Olavo Setubal, banqueiro liberal, que apoiou a transição do regime militar para o governo democrático de Tancredo Neves, e que, em lugar de ganhar a Fazenda, como talvez fosse seu desejo -- ela foi dada de presente ao sobrinho de Tancredo, Fransciso Dornelles, que em seis meses conseguiu dobrar a inflação, a despeito do recado, do aviso, e da ordem do tio de que "era proibido gastar" -- acabou indo parar no Itamaraty, talvez um prêmio de consolação para sua personalidade de executivo.
Quando entrou deve ter achado tudo muito estranho, todo aquele pessoal cheio de boas maneiras, falando de forma elegante, mas sem muita noção de custo-oportunidade, e dos retornos à sociedade e ao país que deveria trazer a atividade diplomática dos "punhos de renda". Foi aí que ele proclamou a tal de "diplomacia de resultados", pensando que fosse mudar alguma coisa.
Logo que entrou, percebeu que não iria mudar nada, e foi assim que começou a forçar a barra. Na primeira reunião do sistema multilateral de comércio, então reduzido simplesmente ao GATT e alguns poucos acordos plurilaterais de adesão voluntária, acabou concordando, contra as posições do Itamaraty -- sempre unctadianas, sempre cepalianas, sempre protecionistas, sempre reticentes -- com a abertura de negociações em serviços, propriedade intelectual e investimentos, o que deixou mais de um diplomata de cabelo em pé (enfim, os que tinham).
Mas, o Dr. Setubal, picado pela mosca azul da política, saiu em pouco mais de onze meses, ou algo assim, para tentar ser eleito prefeito de São Paulo pelo que então era um partido "progressista", supostamente liberal, mas igual a todos os outros. Enganado pelos cardeais do partido, que tomaram o seu dinheiro e o deixaram falando sozinho, acabou sendo derrotado, e foi ganhar dinheiro contra o nosso bolso, enriquecendo com a sua Itautec e a lei de reserva de mercado para a informática.
Foi a última vez que se ouviu falar em diplomacia de resultados no Itamaraty.
Vamos ver se desta vez dá mais certo, mas para ter resultados é preciso primeiro ter metas...
Metas, é o que falta para o Itamaraty. E cobrança, claro, sem o que não há resultados.
Paulo Roberto de Almeida
   
Novo chanceler defende diplomacia de resultados
EBC, 2/01/2015

Novo chanceler, Mauro Vieira defende diplomacia de resultados

  • 02/01/2015 20h22
  • Brasília
Danilo Macedo - Repórter da Agência Brasil/EBC Edição: Stênio Ribeiro
O novo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, recebe o cargo de seu antecessor, Luiz Alberto Figueiredo Machado, em solenidade no Palácio Itamaraty (Valter Campanato/Agência Brasil)
Novo ministro das Relações Exteriores promete se empenhar por uma diplomacia de resultados, atuante em todos os mercados - Valter Campanato/Agência Brasil
O novo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, disse hoje (2) que a "linha mestra" de atuação do Itamaraty, no segundo mandato da presidenta Dilma Rousseff, será abrir e consolidar o acesso do Brasil a todos os mercados, ajudando a captar investimentos sempre que possível. Vieira disse que a presidenta deixou claro ontem (1º), em seu discurso de posse, que a diplomacia brasileira terá o papel de servir como instrumento de apoio e impulso das políticas públicas do governo, começando pela macroeconômica.
“Redobraremos esforços na área de comércio internacional, buscando desenvolver ou aprimorar as relações com todos os mercados externos. Assim, uma linha mestra da atuação do Itamaraty, no segundo mandato da presidenta Dilma Rousseff, será colaborar intensamente para abrir, ampliar, consolidar o acesso mais desimpedido possível do Brasil a todos os mercados, promovendo e defendendo o setor produtivo brasileiro, coadjuvando suas iniciativas e ajudando, onde for possível, a captar investimentos”, disse o ministro.
O novo chanceler disse que o discurso da presidenta valoriza a agenda internacional do Brasil, e a encara com sentido de pragmatismo e projeto nacional. Ele ressaltou a importância da diplomacia de resultados: “Terei sempre em mente que não basta estarmos presentes no mundo, é preciso sermos atuantes. O valioso simbolismo da presença não pode substituir uma diplomacia de resultados – de resultados que se medem com números, se obtêm com consciência da missão, com ação, com engajamento, com meios, enfim.”
Vieira reconheceu as dificuldades enfrentadas por representações do Estado brasileiro fora do país, e garantiu que estará atento às necessidades de cada posto no exterior e suas prioridades de atuação, assim como as instruções que precisarão receber em seu “papel insubstituível” na estratégia externa que o país deve seguir. “Ao olhar para o mundo, o Itamaraty vê antes de tudo os cidadãos brasileiros. Cabe a ele [Itamaraty] zelar pelo bem-estar de nossos nacionais que estão no exterior, em caráter permanente ou temporário. Vou empenhar-me para que a política consular brasileira receba recursos humanos e materiais para responder adequadamente à crescente demanda por serviços e assistência decorrente do aumento significativo do número de brasileiros que vivem no exterior ou circulam a turismo, trabalho, estudo ou tantas outras razões”, acrescentou.
O chanceler disse ainda que o Brasil continuará a exercer seu papel de ator global, mantendo relações com todos os países e blocos do mundo, pois esse papel corresponde à sua realidade e às aspirações profundas do seu povo. Ele agradeceu a oportunidades de ter trabalhado, em 40 anos de carreira, com alguns dos diplomatas mais destacados das últimas décadas, como Celso Amorim, Samuel Guimarães e Luiz Felipe de Seixas Corrêa, e disse esperar contar com os conselhos de seu antecessor, Luiz Alberto Figueiredo, que passará a ocupar o posto de embaixador do Brasil em Washington, ocupado até agora por Vieira.

sábado, 3 de janeiro de 2015

Aventuras diplomaticas com o Iran, livro de Luis Felipe Lampreia - resenha de Marcos Guterman

Aposta em Teerã
Luiz Felipe Lampreia
Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2014

MARCOS GUTERMAN
O Estado de S.Paulo, 3/01/2015

Úbris é o termo grego que designa "excesso de confiança", e suas principais características são a imoderação e a arrogância. É a tal conceito que recorre o diplomata Luiz Felipe Lampreia, em seu recém-lançado livro Aposta em Teerã (Editora Objetiva), para qualificar a tentativa da diplomacia brasileira, em 2010, de negociar um acordo nuclear com o Irã.

Não é exagero afirmar que teria sido um feito histórico se naquela oportunidade o Brasil conseguisse arrancar do governo iraniano o compromisso firme de interromper o desenvolvimento de um processo técnico que, a certa altura, garantiria ao Irã a capacidade de fazer armamentos nucleares. No entanto, acreditar que um acordo dessa envergadura pudesse ser costurado por um país com escasso poder diplomático no âmbito das grandes querelas internacionais e sem nenhum envolvimento político relevante com o Oriente Médio demanda um voluntarismo e uma ingenuidade raras vezes vistos em negociações com esse grau de complexidade. Mas o presidente brasileiro na época era Luiz Inácio Lula da Silva, e isso explica tudo.

Lampreia é um narrador privilegiado. Na carreira diplomática desde 1963, foi secretário-geral do Itamaraty entre 1992 e 1993 e ministro das Relações Exteriores entre 1995 e 2001, no governo de Fernando Henrique Cardoso. Portanto, conhece de perto os limites da diplomacia brasileira e os riscos, para os reais interesses do País, de embarcar em aventuras que possam comprometer a imagem do Brasil.

Pode-se argumentar que, ao fazer críticas à diplomacia de Lula, Lampreia move-se por divergências políticas - afinal, trabalhou com FHC e, segundo a lógica binária atualmente em vigor no Brasil, teria necessariamente de ser antagonista da diplomacia petista. Mas não é isso o que se encontra no ensaio de Lampreia. Ao contrário: o ex-chanceler reconhece que, sob Lula, "nunca em nossa história estivemos em posição tão elevada na escala de prestígio internacional". Nenhum outro país, diz Lampreia, conseguiu em tão pouco tempo "um aumento comparável de estatura".

Talvez tenha sido em razão desse êxito inicial que Lula se deixou seduzir pela ideia de que o Brasil teria, sob seu governo, reunido condições de interferir nos grandes contenciosos internacionais. O líder petista tinha a pretensão de se apresentar ao mundo como o mediador capaz de resolver os impasses que ameaçam a segurança do planeta, pois o que faltava às partes em litígio, em sua visão, era simplesmente a vontade de sentar e conversar. Tal ingenuidade mal escondia a soberba do ex-metalúrgico que se acreditava capaz de triunfar onde os gigantes - especialmente os Estados Unidos - fracassaram.

Dessa forma, como mostra Lampreia, a aventura do Itamaraty em Teerã não pode ser condenada em si mesma, pois havia um sincero desejo, por parte dos diplomatas brasileiros, de encontrar uma solução para aquele perigoso impasse internacional. No entanto, o mesmo não se pode dizer das intenções ególatras de Lula.

Lampreia demonstra, em detalhes que normalmente são conhecidos apenas pelos protagonistas das negociações, de que maneira Lula se deixou iludir pelas circunstâncias. "Nunca antes um presidente brasileiro tinha jogado seu prestígio pessoal em uma operação de tão alto risco e com tão poucas chances de êxito", escreveu o ex-chanceler.

O Irã sempre afirmou que seu programa nuclear é pacífico, mas, fiel ao estilo ambíguo, pouco se esforçou para provar o que dizia, criando um clima crescente de confronto. Por essa razão, a comunidade internacional vem aprovando várias rodadas de sanções com o objetivo de forçar o país a abandonar seus planos - para Lampreia, não resta mais a menor dúvida de que o Irã quer a bomba.

Em 2010, às vésperas da adoção de novas punições, Brasil e Turquia decidiram tentar articular uma nova negociação com o Irã. A confiança brasileira se acentuou quando o presidente americano, Barack Obama, enviou uma carta a Lula na qual disse que Washington via com bons olhos um acordo como o que estava sendo negociado - o Irã deveria aceitar que um terceiro país enriquecesse seu urânio o suficiente apenas para fins médicos. Na avaliação de Lampreia, porém, a mensagem de Obama era um incentivo, mas não uma autorização para negociar em nome dos Estados Unidos.

O erro de interpretação da diplomacia brasileira resultou em um acordo no qual o Irã não aceitou incluir garantias reais para convencer as grandes potências de que não construiria um arsenal nuclear. Resultou também na constrangedora cena de Lula erguendo o braço do então presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, "como um campeão de luta", conforme escreveu Lampreia, gerando repercussão negativa nos países que lutavam para enquadrar o Irã.

Pouco depois dessa cena em Teerã, que deveria servir como a imagem do triunfo pessoal de Lula, o Conselho de Segurança da ONU ignorou olimpicamente o acordo costurado por Brasil e Turquia e aprovou uma nova e dura rodada de sanções contra o Irã. O Itamaraty não podia dizer que não tinha sido avisado - o próprio governo da Rússia informara a Lula que a adoção de sanções era muito provável e teria o apoio de Moscou, que até então se alinhava a Teerã.

Para Lampreia, o "coração do problema" é que nenhum acordo como o oferecido pelo Brasil e a Turquia ao Irã seria suficiente para frear o programa nuclear - ao contrário, serviria apenas para que os iranianos ganhassem tempo. Os Estados Unidos, a Rússia e a China sabiam disso, e o Brasil deveria saber também, antes de embarcar nessa aventura embaraçosa, fruto de graves erros de percepção.

Lampreia considera que a principal lição desse caso é que a diplomacia brasileira deve considerar seus limites e buscar protagonismo somente nos setores em que o País é forte, como meio ambiente. Quando quer mostrar "que somos mais capazes do que as grandes potências de resolver importantes impasses internacionais", como escreve o ex-chanceler, a diplomacia lulopetista fracassa - e a úbris é punida com a nêmesis, castigo que recoloca o prepotente em seu devido lugar.

JORNALISTA E HISTORIADOR