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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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quinta-feira, 12 de março de 2015

Eugênio Gudin - Inventário de Flores e Espinhos - Márcio Scalercio, Rodrigo de Almeida (GoodReads)


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Eugênio Gudin - Inventário de Flores e Espinhos

4.0 of 5 stars 4.00  ·  rating details  ·  1 rating  ·  0 reviews
O livro “Eugênio Gudin - Inventário de flores e espinhos”, do historiador Márcio Scalercio e do jornalista Rodrigo de Almeida, retrata a vida de um homem de dois séculos e apara uma aresta incompreensível: a ausência de uma biografia ampla do pai dos economistas brasileiros e de um dos mais influentes pensadores liberais da história da nação. As 316 páginas, elaboradas a partir da consulta de mais de mil documentos e enriquecidas com depoimentos de personalidades, revelam as facetas do sacerdote cujo evangelho tentava exorcizar demônios atrelados às entranhas dos males nacionais, como a inflação, o desperdício do dinheiro público e o gigantismo estatal. Não se trata de um livro para iniciados em Economia, até mesmo porque há uma extensa lista de publicações dedicadas ao pensamento de Gudin. A obra faz jus a uma das maiores preocupações de Gudin (1896-1986): tornar a economia um tema acessível a todos. (less)
ebook, 312 pages
Published 2012 by Insight
ISBN: 9788598831

Minhas cinco diretivas para o 15 de marco - Paulo Roberto de Almeida


Minhas cinco diretivas para o 15 de março de 2015

Paulo Roberto de Almeida

A sociedade brasileira participa neste domingo, dia 15 de março de 2015, de uma manifestação que pode ser histórica, não no sentido em que ela pode derrubar um governo, ou alterar o equilíbrio de forças no plano político, mas simplesmente porque ela pode começar a transformar um país, o que é hoje o Brasil, e desde 1822, numa verdadeira nação, o que ainda é uma promessa.
Sei que as pessoas estão confusas, e existem vários movimentos, ou grupos de ação, que estão chamando para essa grande manifestação popular apartidária: alguns são pelo impeachment, outros pela renúncia, vários se manifestam diretamente contra os corruptos e os totalitários no poder, todos estão insatisfeitos com os problemas econômicos e as cenas de imoralidade explícitas que emergem do mundo político. Não haverá consensos, e a confusão pode continuar e até aumentar. Não pretendo dar lições a ninguém, inclusive porque eu também não sei quais são os caminhos a serem tomados para superar o atual cenário de dificuldades práticas e de dúvidas políticas. Não parece haver, ainda, uma plataforma comum aos diferentes grupos que se empenharam no chamado à manifestação. Tudo bem, a diversidade sempre foi uma marca dos regimes democráticos, assim como a tolerância com caminhos alternativos para o bem comum.
De minha parte, creio ser útil alguma unidade em torno de objetivos simples, claros, compreensíveis para a maioria da população e, se também puder ser, consensuais para o maior número. Com base no meu entendimento de quais sejam os problemas brasileiros atuais, e as grandes dificuldades do país, proponho apenas cinco temas em torno dos quais a maioria poderia se unir nessa manifestação:
1) Contra a corrupção: restaurar a moralidade nos negócios públicos;
2) Contra o Estado extorsivo: menos impostos, mais liberdades econômicas;
3) Contra todos os privilégios: políticos são cidadãos como quaisquer outros;
4) Contra a censura: todas as comunicações são livres, sem controle do Estado;
5) Contra todas as ditaduras: o Brasil defende a democracia e os direitos humanos.

Prefiro assim: poucas palavras de ordem para tentar fazer deste país uma nação.

Hartford, 2789: 12 de março de 2015.

Venezuela: Parlamento do Mercosul tambem sai em socorro dos chavistas...

Assim são os nossos representantes no Mercosul: eles acham que a Venezuela está sendo atacada pelo imperialismo e precisa da defesa dos valentes anti-imperialistas.
Enfim, eles dividem o mundo. A gente observa...
Paulo Roberto de Almeida

Comunicado de Prensa de la Presidencia del PARLASUR

La Presidencia del Parlamento del MERCOSUR, ante la declaratoria de "emergencia Nacional" y el anuncio de aplicación de acciones y medidas injerencistas decretadas el pasado 09 de marzo de 2015, por el Presidente de los Estados Unidos, contra la República Bolivariana de Venezuela y sus funcionarios, por considerar que su situación política se constituye en una amenaza inusual y extraordinaria a la seguridad nacional y la política exterior de los Estados Unidos; expresa su más enérgico y categórico rechazo a dichas medidas, por representar una amenaza real de agresión a la soberanía, la paz y la estabilidad democrática de este país suramericano y por ende del MERCOSUR, y se constituyen en sí mismas en peligro de una intervención armada contra Venezuela, lo cual debe activar una alerta nacional e internacional.
En este contexto, hace un llamado respetuoso a los presidentes y jefes de Estado del MERCOSUR, a rechazar y condenar esta situación que es contraria y violatoria de los principios del derecho internacional y del derecho comunitario del bloque, en especial al Protocolo de Ushuaia I y II sobre el Compromiso Democrático en el MERCOSUR, así como a los principios, propósitos y competencias del Parlamento del MERCOSUR, establecidos en su Protocolo Constitutivo, como el de velar por la observancia de las normas del MERCOSUR y la preservación del régimen democrático en los Estados Parte.
Así mismo, la Presidencia del Parlamento del MERCOSUR, se une a los pronunciamientos de los distintos países y organismos internacionales, que han condenado esta nueva agresión y acciones intervencionistas contra el gobierno y pueblo bolivariano, entre ellos, China, Cuba, Ecuador y Bolivia, así como la Unión de Naciones Suramericanas (UNASUR) y la Alianza Bolivariana para los Pueblos de Nuestra América (ALBA). Igualmente, expresa que este hecho desmedido e injerencista se contrapone al reconocimiento que de manera pública y reiterada, la comunidad internacional ha otorgado a Venezuela, como un país amante de la paz, respetuoso de los acuerdos internacionales, de los Derechos Humanos y de la soberanía e independencia de los Estados.
Finalmente, se hace un llamado a la comunidad internacional en general, a los pueblos del mundo y a los parlamentos nacionales e internacionales de nuestra región, a condenar y rechazar estas prácticas imperialistas del gobierno norteamericano, que atentan contra la estabilidad democrática en la República Bolivariana de Venezuela, su integridad territorial y su soberanía como Estado libre e independiente, principios consagrados en la Carta de las Naciones Unidas, en las declaraciones políticas de la Comunidad de Estados Latinoamericanos y Caribeños(CELAC) y en la Unión de Naciones Suramericanas (UNASUR y en el Mercado Común del Sur (MERCOSUR), entre otros.
Montevideo, 11 de marzo de 2015.
Parlamentario Saúl Ortega Campos
Presidente Parlamento del MERCOSUR

De onde surgiu o conceito de "totalitarismo"? Nao, nao foram os americanos que inventaram...

Continuando em meu esforço didático de educação online, venho agora ao conceito de totalitarismo, que retiro também deste livro que estou terminando de ler:

Edmund Fawcett:
Liberalism: The Life of An Idea
(Princeton: Princeton University Press), p. 275

Em 1926, o ano em que os fascistas italianos encarceram Antonio Gramsci, esbirros do Mussolini massacraram na rua o jornalista Giovanni Amendola, um liberal antifascista. Era a terceira vez que ele apanhava dos fascistas.
Sua falta tinha sido atacar o ditador Mussolini nas páginas de Il Mondo, um jornal liberal que Amendola tinha fundado. Para descrever a política de Mussolini de controle total dos cidadãos pelo Estado ele cunhou a expressão "totalitário", ou seja, o uso do poder do Estado para suprimir partidos rivais, fechar jornais incômodos (como o dele), amedrontar jornalistas ou representantes da oposição e promover a doutrinação de toda a sociedade no novo credo de culto ao Estado e ao ditador.
Ah, sim, Giovanni Amendola morreu no terceiro massacre promovido pelos fascistas.

Isso lembra alguma coisa, alguém, algum país aqui por perto?
Pois é, quando os petralhas afirmarem que o bolivarianismo chavista é de esquerda, vocês podem dizer: não, não é. Ele é perfeitamente fascista.
Chávez, e seus macabros seguidores, inclusive os seus amos cubanos, são fascistas, perfeitamente totalitários.
Todas as medidas que Mussolini tomou, nos anos 1920, e que Hitler adotou prontamente chegou ao poder em 1933, foram seguidas, ipsis litteris, ipsis verbis, exatamente da mesma forma, pelos fascistas bolivarianos.
Os nossos petralhas gostariam de fazer igual.
Eles não fazem não porque não querem, mas porque não podem (pelo menos por enquanto).
Tem até um Stalin Sem Gulag treinado pelos cubanos para fazer exatamente o que fez: montar essa imensa máquina de corrupção no Brasil, já que eles não podem adotar aqui os métodos das mílicias fascistas usadas no entre-guerras.
Mas, pode ser que esteja ainda em curso.
Atenção, cidadãos: é precis derrotar os fascistas no berço.

Todos na manifestação do dia 15, contra o totalitarismo dos companheiros...

Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 12 de março de 2015
Retirei as informações sobre Walter Lippmann e seu colóquio do livro que estou lendo agora: Edmund Fawcett (ex-editor da Economist): Liberalism: The Life of An Idea (Princeton, NJ: Princeton University Press, 2014), p. 276 para ser mais exato. - See more at: http://diplomatizzando.blogspot.com/#sthash.5e5D2BpT.dpuf
Retirei as informações sobre Walter Lippmann e seu colóquio do livro que estou lendo agora: Edmund Fawcett (ex-editor da Economist): Liberalism: The Life of An Idea (Princeton, NJ: Princeton University Press, 2014), p. 276 para ser mais exato. - See more at: http://diplomatizzando.blogspot.com/#sthash.5e5D2BpT.dpuf
Retirei as informações sobre Walter Lippmann e seu colóquio do livro que estou lendo agora: Edmund Fawcett (ex-editor da Economist): Liberalism: The Life of An Idea (Princeton, NJ: Princeton University Press, 2014), p. 276 para ser mais exato. - See more at: http://diplomatizzando.blogspot.com/#sthash.5e5D2BpT.dpuf
Retirei as informações sobre Walter Lippmann e seu colóquio do livro que estou lendo agora: Edmund Fawcett (ex-editor da Economist): Liberalism: The Life of An Idea (Princeton, NJ: Princeton University Press, 2014), p. 276 para ser mais exato. - See more at: http://diplomatizzando.blogspot.com/#sthash.5e5D2BpT.dpuf

De onde surgiu o conceito de "neoliberalismo"? Nao, nao foi a esquerda que inventou nos anos 1980...

O substantivo neoliberal e o conceito de neoliberalismo têm um registro de nascimento, e ele é mais antigo do que supõem tanto os esquerdistas, que os usam como xingamento, quanto os liberais que preferem recusar esse conceito -- pela conotação negativa dada pelos esquerdistas justamente -- e usar simplesmente o de liberal, ou clássico, ou tout court.
Ele nasceu em 1938, por ocasião de um colóquio organizado em Paris em torno do livro do jornalista liberal americano (no sentido clássico, porque depois isso virou um xingamento também nos EUA) Walter Lippmann, que estava providenciando a tradução para o Francês de seu livro The Good Society (1937).
Nesse colóquio, os participantes reconheceram que, em face das transformações econômicas e políticas em curso -- crise do capitalismo, ascensão dos fascismos, dirigismo econômico, totalitarismo e várias outras coisas mais -- o velho liberalismo doutrinal precisava ser reforçado, ou adaptado aos novos tempos. Ninguém sabia bem o que propor, até que um alemão, refugiado do nazismo, Alexander Rüstow, sugeriu "neoliberalismo".
Ninguém sabia dizer muito bem o que era, mas pelo menos tinha uma conotação de novo.
De fato ficou meio esquecido até que no pós-guerra, Milton Friedman, um dos fundadores do Mount Pelerin Society, criada por Friedrich Hayek para estimular um retorno ao liberalismo clássico, escreveu, em 1952, um pequeno artigo tratando do "neoliberalismo", que depois foi integrado ao seu livro Essays in Positive Economics (Chicago: University of Chicago Press, 1953). O artigo deve estar disponível na internet, e eu o tenho guardado neste computador. Depois posto no Academia.edu e aviso.
Depois disso, o termo ficou meio esquecido, numa época de dominância praticamente absoluta do keynesianismo doutrinal e aplicado, ou seja teórico e prático, já que todos os governos eram keynesianos, inclusive os conservadores (os tories na Grã-Bretanha e os republicanos nos EUA).
Só quando a Margaret Thatcher desenterrou Hayek e começou a aplicar suas ideias na combalida economia britânica o termo foi recuperado pela esquerda já com uma conotação acusatória.
Ele inclusive passou a ser identificado com as chamadas regras do Consenso de Washington, quando estas não têm nada a ver, a não ser vagamento, com o espírito liberal, mas isso apenas por estupidez da esquerda, que repete slogans sem qualquer fundamentação e sem qualquer conhecimento de causa.

Retirei as informações sobre Walter Lippmann e seu colóquio do livro que estou lendo agora:
Edmund Fawcett (ex-editor da Economist): Liberalism: The Life of An Idea (Princeton, NJ: Princeton University Press, 2014), p. 276 para ser mais exato.

Divirtam-se, portanto, e ninguém mais tem o direito de se enganar sobre o conceito, ou pelo menos o seu nascimento.
O copyright pertence a Alexander Rüstow.
Aliás, a informação já está na Wikipedia (vejam aqui: http://en.wikipedia.org/wiki/Alexander_R%C3%BCstow), de onde retiro este parágrafo:

In the 1930s, the climate in Germany became too unfriendly for Rüstow, and he obtained a chair in economic geography and history at the University of Istanbul, Turkey, where he worked at his magnum opus, Ortsbestimmung der Gegenwart (in English published as Freedom and Domination), a critique of civilization. In 1938 at the Colloque Walter Lippmann, it was Rüstow who created the term 'neoliberalism' to separate new liberalism from classical liberalism. Rüstow promoted the concept of the social market economy, and this concept promotes a strong role for the state with respect to the market, which is in many ways different from the ideas who are nowadays connected with the term neoliberalism.

quarta-feira, 11 de março de 2015

Politica brasileira: vcs conhecem o "proxy gov"? Nao tem nada a ver com a modernidade...

É o nosso velho governo minha gente.  Épa, nosso não; dos companheiros, ou talvez de um só...
Ele, segundo um amigo da onça, envelheceu rápido demais, e virou -- acho que já era -- um governo por procuração, onde quem manda não é quem assina, e onde quem assina não manda...
Acho que não tem mais conserto daqui para a frente.
Acho melhor trocar de vez...
Olhem aí abaixo quem mexe os pauzinhos para o boneco dançar...
Paulo Roberto de Almeida



Presidência nega que Lula tenha sugerido saída de Mercadante da Casa Civil

RAFAEL MORAES MOURA - O ESTADO DE S. PAULO
O Estado de S. Paulo, 11 Março 2015 | 12h 52

Insatisfeito com desempenho de ministro à frente da pasta, ex-presidente teria recomendado troca em reunião com Dilma


Brasília - A Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom) divulgou nesta quarta-feira, 11, uma nota em que contesta o "rumor" de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenha sugerido à presidente Dilma Rousseff uma troca no comando da Casa Civil.
Lula e Dilma jantaram nessa terça, 10, no Palácio da Alvorada. Os ministros da Casa Civil, Aloizio Mercadante, da Secretaria-Geral da Presidência, Miguel Rossetto, e da Defesa, Jaques Wagner, e o presidente nacional do PT, Rui Falcão, participaram do encontro.
"Não corresponde à verdade o rumor de que a presidenta Dilma Rousseff tenha recebido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a sugestão de mudança na chefia da Casa Civil", diz a nota divulgada pela Secom. "O ministro Aloizio Mercadante tem total confiança da presidenta e seguirá cumprindo suas funções à frente da Casa Civil."
Críticas. Nos bastidores, o ex-presidente Lula não tem economizado nas críticas disparadas contra Mercadante. Uma fonte próxima de Lula disse à reportagem que, na avaliação do ex-presidente, Mercadante "já deu o que tinha que dar".
Segundo esse interlocutor, Lula teria dito em conversas reservadas que, se Mercadante "fosse bom mesmo, teria ocupado um cargo no meu governo".

Comercio exterior e a gloria do dia: governo CONSEGUE EVITAR o livre comercio - belo programa

Acho que as pessoas -- não sei se jornalistas, governistas, industrialistas, oportunistas e outros istas -- se dão conta do ridículo de certas situações: o governo se vangloria disto:
"Governo brasileiro conseguiu evitar que o livre-comércio entre os dois países no setor automotivo entrasse em vigor."
Não é uma maravilha?
Você paga, caro consumidor, mas pode tirar a primeira vírgula...
Paulo Roberto de Almeida

COMÉRCIO EXTERIOR
Brasil e México podem negociar até US$ 1,5 bi
Uol Notícias, 10/03/2015

Governo brasileiro conseguiu evitar que o livre-comércio entre os dois países no setor automotivo entrasse em vigor
Após várias rodadas de negociações, Brasil e México oficializaram, na manhã desta segunda-feira, no Rio de Janeiro, a renovação pelos próximos quatro anos do acordo automotivo entre os dois países, que venceria em 18 de março.

O anúncio foi feito no Palácio do Itamaraty pelos ministros brasileiros das Relações Exteriores, Mauro Vieira, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Armando Monteiro Neto, e pelo secretário de Economia do México, Ildefonso Guajardo Villareal.

O governo brasileiro conseguiu evitar que o livre-comércio entre os dois países entrasse em vigor após o dia 18 de março, como era previsto originalmente no acordo. Os mexicanos concordaram em manter o regime de cotas por pelo menos mais quatro anos.

Pelo acerto, cada país poderá exportar para o outro até US$ 1,56 bilhão nos próximos 12 meses, sem o pagamento do Imposto de Importação. A partir de março de 2016, a cota subirá gradualmente 3% ao ano. O que exceder o valor da cota anual será taxado à alíquota de 35% a título de Imposto de Importação.

O ministro Armando Monteiro disse que a preservação das cotas é uma forma de compensar a diminuição das vendas do setor no mercado doméstico brasileiro, que "vive uma certa retração".

"A meu ver, o sistema de cotas é o mais adequado levando em conta assimetrias no comércio Brasil-México", disse, mencionando a forte integração entre a indústria mexicana e a dos Estados Unidos.

A cota inicial estipulada na renovação é inferior àquela que estava valendo até agora, de US$ 1,64 bilhão, referente ao acordo assinado em 2012. O valor evoluirá dos US$ 1,56 bilhão acertados este ano para US$ 1,606 bilhão (2016-2017); US$ 1,655 bilhão (2017-2018); ?US$ 1,704 bilhão (2018-2019).

O novo acordo manterá em 35% o percentual de conteúdo nacional exigido na produção dos veículos. Entretanto, a novidade é que esse percentual se estenderá também para as autopeças. A partir de 2019, o índice passará a 40%.

O secretário de Economia do México, Ildefonso Guajardo Villareal, afirmou que a grande vantagem do acordo para o seu país é dar maior previsibilidade a um setor que responde por 46% do comércio bilateral entre as duas nações, que envolve cerca de US$ 10 bilhões por ano.

"É fundamental partir deste degrau para continuar construindo novas avenidas nas relações entre Brasil e México", disse Villareal. O secretário afirmou que a presidente Dilma Rousseff está sendo aguardada de braços abertos em seu país pelo presidente Enrique Peña Neto, que teria parabenizado o governo pelo acordo.

O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Moan, explicou que a indústria automobilística deverá utilizar um critério que mistura participação de mercado das montadoras e um outro critério linear, englobando todas as empresas associadas à Anfavea.

Moan comentou a mudança da associação, que até pouco tempo defendia a adoção do livre comércio. "Infelizmente perdemos competitividade e precisamos desse período para recuperá-la. Diante desse aspecto, apoiamos o governo brasileiro fortemente na prorrogação desse acordo, mesmo que no critério de cotas", disse Moan.

Impeachment: copy and paste, ou, um pouco de historia nao faz mal, de 1992 a 2015 - Reinaldo Azevedo

Eu já tinha pensado nisso, mas estava sem tempo para procurar. Os jornais da época, obviamente, devem ter transcrito a petição, basta agora procurar pela data: 3 ou 4 de setembro de 1992
Paulo Roberto de Almeida

Há, sim, algumas diferenças fundamentais entre 1992 e 2015; entre as circunstâncias que acompanharam  a denúncia apresentada à Câmara contra Fernando Collor, que resultou no seu afastamento, e as que estão presentes no debate sobre o impeachment de Dilma Rousseff. Em 1992, Barbosa Lima Sobrinho, então presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), era um dos signatários da petição. Em 2015, a ABI empresta a sua sede para Lula promover um ato de suposta defesa da Petrobras. À porta da entidade, milicianos desceram o braço em pessoas que protestavam contra Dilma. Em 1992, Marcelo Lavenère, então presidente da OAB, assinava a petição junto com Barbosa. Em 2015, Marcus Vinicius Furtado Coêlho, presidente da entidade, é candidato ao Supremo e espera contar com a boa vontade de Dilma. Entenderam o ponto? Em 1992, a esquerda queria chegar ao poder. Em 2015, os esquerdistas já estão no poder. E que fique claro: havia uma penca de motivos para denunciar Collor. Como acho que há uma penca de motivos para denunciar Dilma.

Trago uma peça nem tão fácil de encontrar. Se vocês clicarem aqui, encontrarão em PDF o Dário do Congresso Nacional de 3 de setembro de 1992 que traz a íntegra da denúncia formulada contra Collor com base na Lei 1.079, a Lei do Impeachment. Se e quando tiverem tempo, vale a pena dar uma lida.

Se a história aceitasse recall com base em algumas avaliações influentes no presente, seria o caso de devolver o mandato a Collor, que lhe teria sido tomado, então, injustamente. Se faltam motivos para pedir o impeachment de Dilma Rousseff — porque, segundo dizem, não há provas contra ela —, então cabe perguntar quais eram as provas que existiam contra o então ex-presidente. A pergunta seria absurda, dado tudo o que se sabia, e se sabe, da promiscuidade entre o agora senador e PC Farias? Seria, sim! Mas não menos do que essa história de que, até agora, nada pesa contra Dilma.

Collor foi denunciando com base no Inciso 7 do Artigo 8º e no Inciso 7 do Artigo 9º da Lei 1.079. Ele foi acusado de permitir infração de lei federal e de atentar contra o decoro do cargo. A lei exige que se se apresentem provas. A dupla alinhavou algumas evidências colhidas pela CPI — e não custa lembrar que o homem foi absolvido pelo Supremo —, mas deixava claro, desde o início, que a questão realmente relevante era a política. Lá estava escrito:

“O impeachment não é uma pena ordinária contra criminosos comuns. É a sanção extrema contra o abuso e a perversão do poder político. Por isso mesmo, pela condição eminente do cargo do denunciado e pela gravidade excepcional dos delitos ora imputados, o processo de impeachment deita raízes nas grandes exigências da ética política e da moral pública, à luz das quais hão ser interpretadas as normas do direito positivo”.

Petição anti-collor 1

A mim, então, me parece bem. Quando sei que existe uma cadeia de comando na Petrobras, que chega à presidente da República, e se sei que uma quadrilha lá está instalada com o intuito, entre outros, de arrecadar dinheiro para o partido do poder — dinheiro que, segundo consta, inundou a sua própria campanha —, parece-me que as raízes da ética na política e da moral pública foram desafiadas.

A petição contra Collor ensinava mais:
“Nos regimes democráticos, o grande juiz dos governantes é o próprio povo, é a consciência ética popular. O governante eleito que se assenhoreia do poder em seu próprio interesse, ou no de seus amigos e familiares, não pratica apenas atos de corrupção pessoal, de apropriação indébita ou desvio da coisa pública: mais do que isso, ele escarnece e vilipendia a soberania popular.”

Petição anti-collor 2-1

E o texto prossegue:
“É por essa razão que a melhor tradição política ocidental atribui competência, para o juízo de pronúncia dos acusados de crime de responsabilidade, precisamente ao órgão de representação popular. Representar o povo significa, nos processos de impeachment, interpretar e exprimir o sentido ético dominante, diante dos atos de abuso ou traição da confiança nacional.
A suprema prevaricação que podem cometer os representantes do povo, em processos de crime de responsabilidade, consiste em atuar sob pressão de influências espúrias ou para a satisfação de interesses pessoais ou partidários.”

Petiçao anti-Collor 3

Acho que está tudo aí. Se e quando alguém resolver apresentar uma denúncia contra Dilma na Câmara, sugiro que copiem os termos da petição apresentada por Barbosa Lima Sobrinho, no tempo em que a ABI não abrigava milicianos, e por Lavenère, no tempo em que a OAB não se comportava como esbirro de um projeto de poder e de um partido político.

Falei?


Brasil politica: protestos aumentam, em previsao do dia 15/03

Apenas transcrevendo:

Dilma é vaiada em SP e diz que crise no país é passageira
Daniela Lima e Natuza Nery – Folha de S. Paulo, quarta-feira, 11 de março de 2015

• Presidente foi recebida aos gritos de 'fora PT' em feira da construção civil
• Em discurso restrito a convidados do setor, ela voltou a pedir paciência e disse que problemas não são tão graves

SÃO PAULO, BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff foi recebida com vaias e gritos de "fora Dilma" e "fora PT" na abertura do Salão Internacional da Construção Civil, nesta terça-feira (10), em São Paulo. Como chegou ao local antes da abertura da feira, a petista não foi hostilizada por visitantes, mas por expositores e pessoas que trabalhavam na montagem e na limpeza dos estandes.

Na segunda parte de sua agenda, em discurso só para convidados dos organizadores da feira, a presidente voltou a pedir paciência. "Não deixem que as incertezas conjunturais determinem sua visão de futuro do Brasil", disse. Mais da metade das cadeiras da plateia estava vazia.

Foi a segunda vez em menos de três dias que a petista foi hostilizada. No domingo (8), houve panelaço e gritaria em 12 capitais durante pronunciamento de Dilma na TV, em que ela pediu paciência e defendeu o ajuste fiscal que tenta implementar.

A combinação dos dois eventos deu ao Palácio do Planalto a certeza de que os protestos previstos para o próximo dia 15 terão força. Se há um mês integrantes do governo chamavam de "piada" a manifestação pelo impeachment, agora temem uma reunião massiva em alguns locais do país.

Um levantamento feito a pedido do PT mostra que 1,4 milhão de internautas espalhados por 24 cidades já confirmaram presença no ato do dia 15. Outros 64 municípios ainda podem ampliar a lista.

Nesta terça, numa tentativa de minimizar os riscos de um constrangimento em São Paulo, a equipe presidencial mudou duas vezes o posicionamento de cinegrafistas e fotógrafos que acompanhavam a agenda de Dilma para afastar a presidente dos pontos onde as pessoas se aglomeravam.

Mas as tentativas falharam. Recepcionada pelos organizadores do evento, Dilma tentou passear por alguns estandes. Quando as pessoas a viram, as vaias se intensificaram. "Eu vou voltar", disse, dando as costas para o ato.

Os trabalhadores, então, cercaram a área onde o carro de Dilma estava estacionado. "Ladra" e "vagabunda" foram alguns dos termos que ela pôde ouvir no caminho até o automóvel. Sem reagir, Dilma fechou a porta e partiu para a solenidade de abertura do salão, fechada apenas para convidados.

Houve nervosismo entre os assessores da presidente. Segundo pessoas que acompanharam o curto périplo da presidente, o ministro Thomas Traumann, chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, disse, irritado, que eles haviam caído em uma "armadilha".

Após as vaias, interlocutores da presidente afirmaram que ela "sentiu o golpe". A petista já havia se mostrado abatida com a dimensão do panelaço do último domingo. Dilma, então, se dirigiu para o auditório onde houve a solenidade de abertura do Salão, restrita a convidados.

Sem citar diretamente a Operação Lava Jato, que investiga corrupção na Petrobras, o presidente da Associação Brasileira da Indústria dos Materiais de Construção, Wilson Cover, disse, em seu discurso, que é preciso punir quem merece ser punido, mas também buscar uma solução "institucional" para não paralisar pequenas e médias empresas.

Cover afirmou ainda que o empresariado do setor apoia o ajuste de contas, mas também considera "absolutamente necessário" adotar medidas que aumentem a competitividade do Brasil.

A resposta de Dilma veio em um discurso de mais de 30 minutos, na qual a presidente disse ver a crise como temporária e destacou que tem "trabalhado permanentemente" para que a economia se recupere até o fim do ano.

A petista voltou a dizer que a crise não é tão grande quando pregam "alguns". "É verdade que o Brasil passa por um momento difícil, mas nem de longe vivemos uma crise das dimensões que alguns estão dizendo", avaliou, acrescentando que a economia tem "fundamentos fortes".

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Após panelaço, Dilma é vaiada e ouve gritos de 'fora' em SP
Tatiana Farah – O Globo, 11/03/2015

• Atos de sexta-feira deverão defender Petrobras, mas criticarão ajuste fiscal

SÃO PAULO e BRASÍLIA - Apenas dois dias após ser alvo de um panelaço e um buzinaço em diversas capitais, durante seu pronunciamento na TV, a presidente Dilma Rousseff foi recebida ontem com vaias e gritos de "fora!" ao visitar o Salão Internacional da Construção (Feicon), em São Paulo. As vaias começaram antes que ela chegasse ao evento e partiram de pessoas que trabalhavam no local. Os manifestantes disseram que começaram a vaiar porque, quando viram a movimentação da imprensa, pensaram que a presidente já estava no pavilhão. Quando Dilma chegou, as vaias se multiplicaram.

A reação constrangeu a presidente, a ponto de levá-la a desistir de visitar os estandes e de usar o carro para chegar ao auditório da abertura oficial da Feicon. No auditório, Dilma encontrou uma plateia formada por poucas dezenas de empresários e ainda teve de ouvir críticas do setor sobre a crise econômica.

Dirigentes do PT atribuíram o panelaço de domingo à mobilização de partidos de oposição e às classes mais abastadas. Porém, boa parte do protesto de ontem partiu de trabalhadores.

"Dilma perdeu a classe média", diz analista
Para o cientista político Antônio Azevedo, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), é natural que o desgaste do governo se amplie para segmentos do eleitorado que também votaram em Dilma por haver três crises simultâneas em curso: econômica, política e ética.

- Dilma perdeu a classe média já no processo eleitoral. Neste momento, com o ajuste fiscal, também se afasta de sua base. O governo está totalmente isolado, porque perdeu ainda o controle do Congresso Nacional - lembrou.

Dilma não escondeu o incômodo com as vaias e a baixa presença de empresários no evento. Após ouvir pedidos de medidas protetivas para o setor de construção, Dilma pediu otimismo à plateia, mas admitiu que a situação é delicada:

- O Brasil passa por um momento difícil, mais difícil do que tivemos em anos recentes, mas, nem de longe, estamos vivendo uma crise das dimensões que alguns dizem que estamos vivendo - disse. -Não deixem que as incertezas conjunturais determinem sua visão de futuro do Brasil.

Dilma justificou os cortes previstos pelo ajuste fiscal: disse que o Orçamento da União absorveu "parte importante da crise", mas garantiu recursos para o Minha Casa Minha Vida e o Bolsa Família.

Dirigentes petistas ficaram irritados com a escolha de São Paulo como palco do primeiro compromisso de rua da presidente após o panelaço, por se tratar de cidade onde Dilma acumula alta rejeição e perdeu para o candidato tucano Aécio Neves, nas eleições do ano passado.

Na próxima sexta-feira, outros atos estão previstas no país, organizados por centrais sindicais e movimentos sociais que reivindicam direitos, defendem a Petrobras, a democracia e a realização de uma reforma política.

Esses atos foram pensados inicialmente como forma de se contrapor aos protestos do próximo domingo, que estão sendo organizados por movimentos contrários ao governo, alguns dos quais defendem o impeachment de Dilma. Porém, os atos de sexta-feira deverão criticar o ajuste econômico proposto pelo governo.

- Essa mobilização não é em defesa nem contra o governo - disse o presidente da Central Única dos Trabalhadores de São Paulo (CUT-SP), Adi Santos Lima.

Governo preocupado também com ato da CUT
O governo pediu à CUT para que cancele as manifestações, segundo revelou um ministro próximo a Dilma. Segundo essa fonte, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Miguel Rossetto, a pedido de Dilma, se reuniu com dirigentes da CUT e conversou por telefone pedindo a suspensão. A preocupação é evitar que os atos motivem mais manifestantes contra o governo no domingo Em nota, porém, Rosseto negou o pedido e disse que "a CUT é quem marca ou desmarca suas manifestações".

Teme-se o acirramento dos ânimos, que levem à violência e quebra-quebra, como nos protestos de 2013. Integrantes do governo monitoram redes sociais desde que os convites para as manifestações começaram a surgir na internet.

Dilma determinou uma força-tarefa de ministros para acompanhar os atos de sexta e de domingo. O Planalto orientou os ministros a não participar dos atos das centrais sindicais para evitar provocações. (Colaboraram Thiago Herdy, Julianna Grajeia, Fernanda Krakovics, Simone Iglesias e Luiza Damé) .

Roberto Campos: um profeta cuja hora ainda não chegou (quando chegara'?)

Como disse ainda Roberto Campos, o Brasil é um país que não perde oportunidade de perder oportunidades. É o que está acontecendo agora, e da pior forma, pois além de retrocedermos pelo menos 30 anos na desorganização econômica, avançamos, e muito, na desorganização política, na corrupção e no atraso mental...
Os mafiosos assaltaram o Estado e dele não pretendem sair.
Vamos ter de expulsá-los do poder.
Paulo Roberto de Almeida

Repetindo o óbvio (09/01/2000)

 

*Roberto de Oliveira Campos

 

 

Aceito o risco de parecer repetitivo. Diante das grandes questões que preocupam mais no nosso país, a originalidade do articulista fica em segundo lugar. Estamos atravessando dias pesados, um ambiente de insatisfações e sombras. Os mais jovens sentem-se angustiados diante das incertezas do futuro, da ameaça de desemprego, de falta de horizontes. Os mais velhos tentam lembrar-se daqueles períodos em que o Brasil não atravessava um estado de crise permanente. Salvo alguns breves anos do começo do Plano Real, parte da Era Kubitschek e o otimismo do "milagre econômico" do fim dos anos 60 - que, no entanto, foi tisnado pela situação política de exceção -, todo o resto de nossa História contemporânea é um confuso mosaico de problemas e condições institucionais instáveis.

 

Não chegamos felizmente ao extremo dos gulags, campos de extermínio, "limpezas étnicas" e coisas que tais. Nossos chamados "anos de chumbo", comparados às experiências de outras nações (e certamente aos "anos de aço" dos regimes comunistas), pareceriam antes de papel de cigarro metalizado. Se afundamos numa situação crítica injustificável, é por nossa própria culpa, por falta coletiva de bom senso e de responsabilidade.

 

O público exprime sua perplexidade naquela conhecida anedota de como Deus, tendo presenteado nossa geografia com uma abundância de vantagens materiais, colocou no Brasil, como contrapeso, um "povinho ruim". Essa autodepreciação está errada. O trabalhador brasileiro, ainda que subinstruído, é diligente e flexível, como as empresas estrangeiras são as primeiras a reconhecer. Os engenheiros e gerentes especializados têm em alguns casos nível bastante alto. Somos a oitava economia do mundo e temos conseguido adaptar-nos a mudanças tecnológicas complexas. Falta-nos reduzir os excessivos contrastes em matéria de educação, informação e saúde - demanda social justa, mas não um impedimento real ao nosso desenvolvimento tecnológico ou industrial.

 

A verdade é que nosso grave subdesenvolvimento não é só econômico ou tecnológico. É político. Somos um gigante preso por caguinchas dentro de estruturas disfuncionais. A máquina político-administrativa que rege hoje nossos destinos é uma fábrica de absurdas distorções cumulativas. O regime presidencialista e o voto puramente proporcional, cada um dos quais, já de si, dificilmente funcionam bem, transformam-se, quando combinados, numa crise quase ininterrupta. O presidencialismo americano, que nos serviu de modelo, é conjugado ao voto distrital, e a federação é autêntica, porque foram os Estados que a criaram, enquanto que no Brasil estes resultaram do desfazimento do império unitário.

 

Não é que os políticos só pensem em si ou sejam "corruptos" de nascença. Essa é uma visão popular deformada. A maioria é dedicada e séria. Mas o deputado, o senador, o prefeito, o governador e, obviamente, o presidente têm de ser eleitos, ponto de partida do qual não há escapatória. Nas eleições proporcionais de hoje, os deputados são obrigados a catar votos por todo o Estado, garimpando aqui e ali - um processo caro e tremendamente incerto, porque eleitor em geral não sabe como discriminar entre dezenas de representantes eleitos. Como é que o eleitor médio vai se lembrar de quem propôs medidas ou leis, para poder avaliar quem merece o seu voto? Um americano ou um inglês pode falar no "seu" deputado: sabe exatamente quem ele elegeu e tem como cobrar respostas ao representante do "seu" distrito. O alemão, com um sistema misto, tem o "seu" deputado distrital e também o da lista do seu partido. E, como o regime é parlamentarista, pode cobrar de ambos.

 

No Brasil, cobrar o quê? De quem? Mal acaba de ser eleito por um partido, o deputado ou senador se sente à vontade para mudar de partido. Não existe sanção. A eleição presidencial então é sempre um trauma violento, agravado pela percepção de que o vencedor passará a controlar a máquina pública, os mecanismos de dar ou negar favores. Gerir a coisa pública é, entre nós, um contínuo varejo. Dá para estranhar que, desde o início da República, raros tenham sido os governos que não se envolveram em conflitos com o Congresso, com riscos de descontinuidade institucional? Contra um sistema tão ruim, tanto faz se os políticos são santos ou bandidos. Num ônibus sem freios, o perigo de desastre é o mesmo para todos.Há perto de três séculos e meio, Colbert, o famoso ministro protecionista da França monárquica, assim se lamentava na Carta de Luís XIV aos funcionários e ao povo de Marselha (26 de agosto de 1764):

 

"Como desde a morte de Henrique IV temos tido só exemplos de carências e necessidades, precisamos determinar como aconteceu que, durante tão longo tempo, não tenhamos tido, se não abundância, pelo menos uma renda toleravelmente satisfatória..." Colbert põe a culpa no sistema fiscal e afirma que piores do que os muitos corruptos foram aqueles altos funcionários "cuja incompetência prejudicou mais o Estado e o povo do que os roubos pessoais". Entre os vícios da burocracia fiscal da época, Colbert lista os seguintes: "Consumir com despesas correntes as receitas ordinárias e extraordinárias dos dois próximos anos..." e "negligenciar as receitas gerais ordinárias afazendadas, dedicando-se ativamente à busca de fontes de renda extraordinárias..."

 

Colbert se revelou um reformista e desenvolvimentista avant la lettre. Mas a França já estava politicamente entalada, e ele não conseguiu realizar sua "reforma fiscal". O mundo está cansado de esperar pelas "reformas" brasileiras. E de ouvir lamentações sobre a nossa pobreza. Há muito, exceto em regiões desérticas da África ou gravemente sobrepovoadas da Ásia, a pobreza deixou de ser uma fatalidade. É um acidente histórico de povos que preferem externalizar a culpa em vez de fabricar seu próprio destino.

 

*Defensor apaixonado do liberalismo. Economista, diplomata e político também se revelou um intelectual brilhante. De sua intensa produção, resultaram inúmeros artigos e obras como o livro A Lanterna na Popa, uma autobiografia que logo se transformou em best-seller. Foi ministro do Planejamento, senador por Mato Grosso, deputado federal e embaixador em Washington e Londres. Sua carreira começou em 1939, quando prestou concurso para o Itamaraty. Logo foi servir na embaixada brasileira em Washington, e, cinco anos depois, participou da Conferência de Bretton Woods, responsável por desenhar o sistema monetário internacional do pós-guerra. 

A crise das universidades federais (de todas) e os reitores dilmistas: os idiotas uteis da reeleicao

Quem não se lembra do famoso manifesto de dezenas de reitores das IFES (praticamente todos, com duas honrosas exceções) que assinaram uma peça vergonhosa de adesismo anti-acadêmico, pouco antes das eleições, praticamente constrangendo todo o corpo docente e, provavelmente, metade da comunidade discente, a votar pelo poste, sempre sob a promessa de um futuro brilhante, feito de verbas, apoio federal para todos os seus projetos corporativos e mil mordomias prometidas pelos traficantes de votos do partido totalitário (ou seja, o preferido dos gramscianos de botequim das academias?
Eu me lembro perfeitamente, e estou certo de que vários leitores também se lembram das cenas explícitas de sabujismo político, quando esses reitores, não contentes de assinar um lixo partidário, foram em romaria submissa entregar a peça asquerosa para a candidata mentirosa.
Eles parecem ter se decepcionado um pouco agora, já que várias universidades sequer têm prazo para iniciar o ano acadêmico, já que se encontram totalmente paralisadas por falta de dinheiro.
Bem feito. Agora vão em romaria a Brasília para implorar verbas, e já constituem a bancada do setor, para roubar mais um pouco do orçamento em favor do terceiro ciclo, tirando preciosos, e mínguos, recursos que deveriam ir para os dois primeiros ciclos.
Bando de parasitas incompetentes.
Concordo com a sugestão de meu amigo Roque Callage, que me enviou a matéria abaixo, no sentido de se fazer "um projeto de lei, criando a verdadeira autonomia de fundações universitárias para gerirem seus proprios orçamentos, ao invés de ficarem encostados indecentemente no Governo Federal!"
Acrescenta ele: "Ficam apoiando o PT a cada eleição e fazendo manifestos ...são incompetentes e  corporativistas!"
Eu iria até mais longe: daria uma simples mesada para essas IFES e mandaria esses alfabetizados encostados ir buscar o resto do dinheiro no mercado. Sem a estabilidade vergonhosa a partir do primeiro ano (para mim, tenure, só depois de doze anos de produtividade), e selecionaria reitor por competição aberta, programa de metas, espírito administrativo, e não acadêmico, e cobrança de resultados, sempre.
As universidades privadas também estão em crise, algumas em estado terminal, já que sobrevivendo (algumas a altura de 60%) das bolsas federais, elas não estão admitindo alunos que não pagarem, e estes simplesmente não recebem nada.
Ninguém mandou votar em gente incompetente...

Paulo Roberto de Almeida

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Reitores de federais terão sua bancada no Congresso Nacional
Leandro Mazzini
Opinião e Notícia, 10/03/2015

Na semana em que as universidades federais anunciam aperto no orçamento e corte de gastos e investimentos, os reitores vão ganhar uma bancada parlamentar no Congresso Nacional para reivindicarem atenção e a usarem como uma ponte com o Palácio do Planalto.

A senadora Fátima Bezerra (PT-RN) e a deputada Margarida Salomão (PT-MG) vão lançar amanhã a Frente Parlamentar de Fortalecimento das Universidades Federais, com o apoio da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes).

terça-feira, 10 de março de 2015

A ideia do interesse nacional - Paulo Roberto de Almeida (Dom Total)

A revista Dom Total, assumidamente a "mais completa do Brasil", republicou meu artigo em torno de um livro, e um conceito, desenvolvido 80 anos atrás pelo grande historiador americano Charles Beard, o único americano a ter sido presidente de duas associações profissionais, a dos historiadores e a dos cientistas políticos.
Paulo Roberto de Almeida

Colunas Paulo Roberto de Almeida

26/02/2015  |  domtotal.com

A ideia do interesse nacional

 
The Idea of National Interest é o título de um livro que o historiador americano Charles Beard publicou em 1934, em plena crise econômica dos Estados Unidos e no início do New Deal, programa de recuperação impulsionado pelo presidente Roosevelt. O livro, porém, não é conjuntural; ele não trata exclusivamente da realidade imediata do país, e sim faz uma reflexão histórica de longo prazo sobre a construção do projeto nacional pela vertente das relações exteriores. O subtítulo do livro é An Analytical Study in American Foreign Policy, e o primeiro capítulo trata dos “pivôs da diplomacia”, analisando, nos demais capítulos, a expansão territorial da nação, o seu crescimento econômico e comercial, ademais do impacto externo dos assuntos internos; o apêndice traz um balanço dos interesses americanos no exterior (capitais e investimentos diretos), embora a edição que consultei, publicada em 1966 por seu filho e por um assistente de pesquisa, procedeu a alguns cortes nas estatísticas da edição original e fez atualizações sobre os dados que Beard havia consolidado até o final dos anos 1920.

Beard foi o único acadêmico americano a ter exercido a presidência de duas associações profissionais diferentes: a American Historical Association e a American Political Science Association. Ele abre o seu livro citando um discurso do Secretário de Estado Charles Hughes, que trabalhou sob os presidentes Harding e Coolidge na primeira metade dos anos 1920, e que se pronunciou sobre o interesse nacional na política externa nestes termos: “As políticas externas não são elaboradas sobre a base de abstrações. Elas são o resultado de concepções práticas do interesse nacional que emergem a partir de alguns requerimentos imediatos ou de fundamentos essenciais, em perspectiva histórica. Quando mantidas por bastante tempo, essas concepções expressam as esperanças e os temores, os objetivos de segurança e de engrandecimento, que se tornaram dominantes na consciência nacional, transcendendo, assim, divisões partidárias e fazendo com que se atenuem as oposições que poderiam advir de certos grupos” (discurso na Filadélfia, em 30/11/1923). Beard analisa então todas as facetas do interesse nacional americano em sua expressão diplomática e nas relações com o ambiente doméstico, sobretudo em sua dimensão econômica.

É bem possível que seus argumentos, e o seu próprio livro, tenham inspirado o célebre cientista político germano-americano Hans Morgenthau – autor do clássico Politics Among Nations, publicado em 1948, o mesmo ano da morte de Charles Beard – a elaborar um outro livro, chamado justamente In Defense of the National Interest (1951), seguido, no ano seguinte, de um artigo sobre o mesmo tema: “What Is the National Interest of the United States?” (The Annals of the American Academy of Political and Social Science, vol. 282, julho de 1952, p. 1-7). Morgenthau também serviu como consultor do Departamento de Estado no começo da Guerra Fria, quando um diplomata, também célebre, George Kennan, dirigia ali a divisão de planejamento político, o Policy Planning Staff, que trabalhou no Plano Marshall e na formulação das principais medidas da então nascente doutrina da contenção. O próprio Kennan, aliás, não cessava de alertar seus chefes quanto às fragilidades que poderiam emergir do ponto de vista do interesse nacional americano a partir da erosão da posição competitiva dos Estados Unidos no mundo e do aprofundamento dos déficits no balanço de pagamentos; ele expressou suas preocupações, entre outros escritos, no livro Realities of American Foreign Policy, publicado em 1954.

O livro de Morgenthau sobre o interesse nacional americano foi republicado em 1982, e talvez tenha animado o já então famoso jornalista Irving Kristol a dar início, em 1985, à revista The National Interest (http://nationalinterest.org/), apoiada nos mesmos princípios da escola realista, que está identificada com a expressão política, econômica e militar do poder americano em escala global, mas cujos fundamentos devem sempre ser construídos internamente. Pode ser também que a mesma revista e sua ideia central tenham inspirado o embaixador Rubens Barbosa a lançar, em 2008, a revista Interesse Nacional (http://interessenacional.uol.com.br/), fundada em concepções similares sobre as bases internas da expressão internacional do Brasil. Qual seria, então, o interesse nacional brasileiro, e que tipo de políticas e orientações econômicas melhor serviriam à sua defesa e consolidação? Difícil dizer, já que existem concepções muito diversas do que seja o interesse nacional, como já dizia o próprio Beard em 1934.

O editor da revista brasileira se encarrega, aliás, de expressar tal dificuldade em nota de apresentação: “Sendo necessariamente genérica, a noção de interesse nacional não tem uma definição precisa. De um lado, porque, sobre o que seja concreta e especificamente o interesse nacional, haverá sempre visões não coincidentes, apoiadas em valores e/ou interesses diferentes. De outro, porque a definição do interesse nacional requer um juízo informado, mas sempre político e não estritamente técnico, sobre riscos e oportunidades que se apresentam à realização dos valores e interesses de um país em cenários estratégicos de longo prazo. E estes serão, sempre, objeto de incerteza e controvérsia” (ver: http://interessenacional.uol.com.br/index.php/sobre-a-revista/). Mas o editorial acrescenta logo em seguida: “O interesse nacional é, pois, uma construção política”, o que pode ser uma constatação óbvia, mas que não nos ajuda muito na busca por uma definição mais precisa sobre qual seria o interesse nacional brasileiro.

Conceda-se, pois, que diferentes grupos políticos, e diferentes agregações de poder, representados pelas forças políticas temporariamente predominantes no sistema de governança, manifestem concepções diversas do chamado interesse nacional, e que eles defendam, portanto, suas orientações particulares, ou setoriais, com base numa legitimidade supostamente construída nas urnas, a cada escrutínio eleitoral. Esta é uma suposição arriscada, e provavelmente falsa, pois os eleitores não possuem, geralmente, no momento do voto, um grau suficiente de informação sobre os programas, ou sobre as consequências de determinadas políticas do ponto de vista de seus interesses imediatos e os de mais longo prazo, e menos ainda do ponto de vista dos interesses da nação.

Na impossibilidade de se chegar a uma definição consensual de quais seriam as expressões efetivas do interesse nacional, talvez seja o caso de investigar numa outra direção, ou seja, identificar aquelas políticas e orientações que se opõem, ou que podem contrariar, o interesse nacional. Nesse caso, é melhor trabalhar com exemplos concretos do que com definições abstratas, como afirmava em 1923 o secretário de Estado Charles Hughes, em pronunciamento recuperado pelo historiador Charles Beard uma década depois. E quais seriam, no nosso caso, os exemplos contrários ao interesse nacional que podem ser identificados numa perspectiva mais imediata ou de mais longo prazo, que podem ser prejudiciais ao nosso desenvolvimento e ao “engrandecimento” do país? Mas mesmo para identificar essas ações contrárias, seja no plano interno, seja no âmbito internacional, é preciso ter balizas mínimas sobre o que o país pretende ser como nação e como sociedade. É preciso saber o que se quer, para rejeitar o que não serve a tal fim.

O editorial da revista Interesse Nacional nos fornece, mais uma vez, alguns dos parâmetros que podem ser aplicados ao caso: “A democracia e a inserção internacional são parte do interesse nacional brasileiro, aquela como valor, esta como objetivo. Se a democracia é um valor que queremos preservar, e se a inserção internacional é hoje, mais do que nunca, uma condição do desenvolvimento, resta perguntar como se inserir no mundo para fortalecer a democracia e promover o desenvolvimento” (nota editorial de Interesse Nacional, loc. cit.). A pergunta traz, portanto, um começo de resposta.

Se concordarmos com essa “plataforma”, democracia e inserção internacional passam a ser as palavras chave do interesse nacional brasileiro. Então, qualquer ação nacional que vise a diminuir as bases da democracia representativa, que constitui a forma atual da governança política no Brasil, seria contrária e prejudicial ao interesse nacional brasileiro; como, por exemplo, um famoso decreto “bolivariano” que pretende instituir a intermediação de “conselhos populares” na definição e aprovação de políticas públicas, quando sabemos que eles constituem uma emanação de tipo bolchevique – e por isso mesmo foram chamados de “sovietes” – do partido gramsciano que tem a clara intenção de se eternizar no poder. No plano externo, o apoio acintoso a regimes pouco democráticos, ou ditatoriais de fato (e de direito), diminui a credibilidade de nossa política externa, ao nos identificar com sistemas políticos já devidamente denunciados em protocolos instituindo “cláusulas democráticas” a que aderimos voluntariamente, e por força de nossa adesão (inclusive constitucional) aos valores da democracia.

Da mesma forma, qualquer política ou medida que obstaculize a integração da economia nacional aos circuitos internacionais da interdependência econômica pode ser considerada como contrária ao interesse nacional, na medida em que diminui nossa capacidade de absorção de know-how e de tecnologias de ponta que são essenciais ao processo de desenvolvimento do país. O protecionismo comercial não é apenas estúpido no plano estritamente econômico; ele é também profundamente reacionário, no sentido marxista da expressão, já que pretende “fazer rodar para trás a roda da História”, como dito no Manifesto de 1848. Com efeito, ele representaria uma volta a um regime de autarquia econômica que estava na base da economia hitlerista – bastante admirada por militares brasileiros, naquela época e depois – e seria uma espécie de “stalinismo para os ricos”, um projeto de “capitalismo num só país” que talvez ainda encante alguns arautos da burguesia industrial tupiniquim e seus representantes acadêmicos.

Mais ainda, e com especial impacto na imagem e na confiabilidade do país no plano internacional, ao aderir a essas medidas de duvidosa eficácia competitiva – ao contrário, elas diminuem nossa capacidade de competir internacionalmente – o país não apenas deixa de cumprir obrigações contraídas ao abrigo do sistema multilateral de comércio, como também se mostra conivente com sócios do mesmo esquema regional de integração, o Mercosul, que reincidem nas mesmas transgressões, e aqui não só contra os próprios interesses comerciais do Brasil e contra regras do bloco comercial, mas igualmente contrárias às normas do Gatt, de seus protocolos setoriais e de acordos emanados da Rodada Uruguai de negociações comerciais. É, sob todos os aspectos, uma péssima demonstração de inadimplência no tocante ao respeito a princípios do direito internacional e, mais uma vez, de ação contrária ao interesse nacional.

Democracia e inserção internacional vêm sendo, assim, afastados de nosso horizonte de realizações históricas, em nome de uma concepção de política interna e de política externa que rompem com consensos nacionais laboriosamente mantidos ao longo de um itinerário diplomático de quase dois séculos de existência efetiva. Esses desvios de conduta – que representam, na verdade, concepções que não transcendem, ao contrário, alimentam as “divisões partidárias”, como a elas se referia o secretário de Estado Charles Hughes – se revelam não apenas em relação à substância mesma das políticas seguidas, mas igualmente no tocante ao próprio instrumento diplomático, ou seja, a ferramenta da política externa, que é o seu serviço exterior.

Charles Beard, no capítulo de seu livro dedicado à “interpretation, advancement, and enforcement of national interest”, dizia que “By far the most important means used to advance and enforce national interest is the ‘system’, or institution, of diplomacy” (p. 341). Ele se referia, exatamente, à administração e ao funcionamento das atividades diplomáticas, bem como à “multitude of services performed by diplomatic agents in behalf of the citizens” (p. 347), ou seja, a cobertura que um país é capaz de dar aos seus cidadãos e às empresas nacionais presentes nos mais diversos cantos do mundo. Nesse particular, a ferramenta da política externa brasileira tem custado muito pouco à nação durante a maior parte de sua história: menos de 1% do orçamento da União (que parece ter passado a menos de 0,5% atualmente). Ver essa dotação ainda mais diminuída, em detrimento da boa qualidade, do funcionamento e, sobretudo, da respeitabilidade desse instrumento, é a pior forma de promover o dito interesse nacional.

Os bolcheviques costumavam repetir, em seus tempos de hegemonia absoluta, e para justificar os incontáveis crimes cometidos contra os direitos humanos, a conhecida frase que pretende que “não se faz omelete sem quebrar os ovos”, querendo significar que sacrifícios são necessários para obter resultados em algum objetivo qualquer. Pode ser que seja verdade, mas no caso que nos é próximo, nem ovos, nem omelete parecem ter resultado dos sacrifícios impostos ao instrumento diplomático nacional. Não se pode, com efeito, fazer diplomacia, sem um mínimo de gastos com representação: o interesse nacional, nesse caso, vem sendo atingido em sua dignidade pelos seguidos exemplos de inadimplência no cumprimento de suas obrigações, da mesma forma como, no passado, se decretava “moratórias soberanas” sobre os compromissos financeiros externos. A insolvência pode até ter deixado de ser financeira, mas ela passou a ser de ordem moral.

Paulo Roberto de Almeida é doutor em Ciências Sociais pela Universidade de Bruxelas (1984). Diplomata de carreira desde 1977, exerceu diversos cargos na Secretaria de Estado das Relações Exteriores e em embaixadas e delegações do Brasil no exterior. Trabalhou entre 2003 e 2007 como Assessor Especial no Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República. Autor de vários trabalhos sobre relações internacionais e política externa do Brasil.

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