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sábado, 27 de abril de 2019

A “turba ensandecida” e o fascismo ameaçador - Erick Silva (Instituto Liberal)

O mais preocupante, por vezes, não é tanto o lado patológico de certas personalidades autoritárias (pois isso é esperado nesse tipo de movimento salvacionista), é constatar o número impressionante de seguidores fanáticos do movimento, a tal “turba ensandecida” a que se refere o autor deste artigo, do Instituto Liberal. Esses seguidores pertencem ao mesmo estoque de “simples cidadãos” que se revelam capazes de apoiar os piores crimes contra as liberdades e os direitos humanos perpetrados no âmbito desse tipo de movimento.
Paulo Roberto de Almeida
S. Paulo, 27/04/2019

Quando se aplaudem atos autoritários, a próxima vítima pode ser você

Os eventos que se sucederam nos últimos dias ficarão marcados como um dos momentos mais asquerosos e perversos da história política brasileira. Carlos Bolsonaro, vereador da cidade do Rio de Janeiro e filho do presidente Jair Bolsonaro, utilizou-se das redes sociais e do uso da militância bolsonarista para desferir ataques pesados ao vice-presidente Hamilton Mourão, acusando-o de trair e conspirar contra o presidente. E o que se viu na sequência foram cenas extremamente lamentáveis.
A política brasileira já presenciou diversas cenas chocantes e surreais, como atentados políticos, tentativas de golpe de Estado e até mesmo um assassinato no plenário do senado. Mas nunca antes na história brasileira um vice-presidente, no exercício do mandato, sofrera ataques tão violentos e impiedosos vindos de pessoas que, teoricamente, deveriam ser seus aliados. Nem mesmo nos anos 1950 e 1960, em que os vices eram escolhidos separadamente, podendo ser eleitos junto com o presidente de oposição (vide Jânio-Jango em 1961), havia acontecido algo do tipo.
Mas o pior de tudo não são os ataques de Carlos a Mourão: o pior é o apoio que as redes sociais deram ao vereador, endossando e incentivando novos ataques. No dia 24/04/2019, a #CalaBocaMourão alcançou os trending topics do Twitter. Influenciadores de grande alcance abastecem a artilharia de ataques colocando mais munição, alimentando ainda mais a escalada autoritária.
Esse tipo de ataque escancara o quão autoritário e perigoso é o movimento bolsonarista. O padrão dos ataques desenha-se mais uma vez: quando uma pessoa, ou instituição, age de maneira independente, sem se curvar à tropa, a militância ataca ferozmente a pessoa com o intuito de silenciá-la. Isso já aconteceu com jornalistas, com influenciadores digitais, ou até mesmo com cidadãos comuns que ousaram fazer qualquer tipo de crítica. O próprio título da hashtag (“Cala a boca Mourão”) já demonstra os objetivos da militância em relação ao general: querem que ele seja cordato, subserviente a todo e qualquer ato que Jair Bolsonaro fizer.
Para a militância bolsonarista, as pessoas não podem ter pensamentos diversos, não podem cometer a ousadia de discordar. Para os radicais bolsonaristas, as pessoas devem se submeter ao pensamento de Jair e de seus asseclas. Podem reparar: todos nós conhecemos algum amigo ou conhecido nosso que foi vítima de ataques de uma turba ensandecida pelo fato de você ter feito críticas ao Bolsonaro. Talvez você, que lê esse artigo, possa ter sido vítima deles. O bolsonarismo, assim como todo movimento de massa com cunho messiânico, não permite o direito de crítica. Ou você abaixa a cabeça para os desmandos deles ou sofrerá as consequências.
E é exatamente isso que está em jogo na batalha entre Carlos-Mourão: o direito de nos expressarmos. Esclareço aqui que eu não compactuo com uma parcela da visão política de Mourão. Diferente do general, sou favorável à privatização dos Correios, sou contra a legalização do aborto e acredito que jogos violentos não tornam as pessoas violentas. Caso estivesse em uma eleição e ele fosse candidato, eu não votaria nele. Todavia, sinto-me no dever de defendê-lo desses ataques, pois o que aconteceu com ele pode acontecer com qualquer um de nós. Imagina viver em um país em que os cidadãos tenham medo de criticar seus governantes? No Brasil isso já acontece, as pessoas estão com medo de fazer qualquer tipo de comentário e sofrerem pesadas represálias por isso. Um dos sintomas para o fim da liberdade de expressão em uma sociedade surge quando o cidadão tem medo de dizer o que pensa do próprio governo.
O que me deixa temeroso com o futuro do país é o fato de a própria população aplaudir esses arroubos autoritários. Pessoas que condenaram os abusos do STF, mas hoje querem que uma pessoa (antes de ser vice-presidente, Hamilton Mourão é um ser humano) se cale por dar opiniões que não corroborem com as pautas defendidas pela militância. Esse tipo de autoritarismo barato nunca termina bem, a história comprova isso.
Deixo um aviso para aqueles que concordem em silenciar pensamentos dissonantes: hoje, você aplaude o monstro do autoritarismo. Amanhã, você corre o risco de ser devorado por ele.

sexta-feira, 26 de abril de 2019

Luis Nassif critica a derradeira coluna de Matias Spektor na FSP

Matias Spektor, o messianismo tuiteiro e a reinvenção da diplomacia

A unidade de medida do Spektor não são os ganhos comerciais ou diplomáticos para o país, mas os trunfos do presidente perante seus aliados internos.

Luis Nassif

Foi curiosa a despedida do colunista Matias Spektor de sua coluna na Folha. Primeiro, ele se atribuiu o fato de, graças a ele, a diplomacia ter se tornado um tema corriqueiro.
“Quando este jornal me convidou para escrever, há sete anos, a ideia era inusitada. Nenhum grande veículo tinha um colunista dedicado à política externa brasileira. Para minha sorte, muitos leitores fizeram da agenda internacional a sua pauta. 
Esses anos assistiram à expansão do debate público sobre temas internacionais. Hoje, dezenas de profissionais expressam opiniões sobre o assunto no Twitter e no Facebook. 
Isso é muito positivo. A velha redoma que limitava a conversa a um punhado de embaixadores aposentados se estraçalhou, aumentando a diversidade e a densidade do debate”. 
A diplomacia sempre teve uma boa cobertura, graças a fontes especiais, velhos embaixadores aposentados, mas com visão de Brasil e de mundo, como Jorio Dauster, Paulo Nogueira Batista, Rubens Ricúpero, Celso Amorim, especialistas em direito econômico internacional, como Vera Thorsten e, principalmente, o corpo diplomático permanente do Itamarati. 
Mas, enfim, Spektor se declara o especialista que levou a diplomacia para as redes sociais. Ótimo! Ótimo? Não.
“Acontece que essa transformação também trouxe coisas negativas. Nas redes sociais, a competição por “likes” premiou argumentos de apelo fácil, muitas vezes inverídicos ou incapazes de resistir ao mínimo escrutínio. O debate ficou menos qualificado”.
Oh, que surpresa! Spektor popularizou a discussão sobre política externa e constatou que a popularização banalizou a discussão, episódio no qual, obviamente, a culpa não é do meio: as analises de Spektor sobre a ida de Bolsonaro aos Estados Unidos e as reações suscitadas, que o levaram a se desencantar com o mundo maravilhoso das redes sociais..
Velhos diplomatas aposentados em on, diplomatas na ativa em off, colunistas, analistas consideraram um fracasso retumbante, um exemplo acabado da antidiplomacia. Bolsonaro se comportou de maneira subserviente, prometeu coisas sem exigir nenhuma contrapartida, veio com promessas vagas em cima de temas supérfluos.
Qual a leitura que o bravo Spektor fez da viagem, através do Twitter, o meio de comunicação preferido de Bolsonaro e seus ministros?.
Primeiro, por ser um analista sofisticado, ele define os parâmetros inovadores de analise;
Como saber se a visita do Bolsonaro a Washington foi exitosa ou fracassada? É fundamental achar algum critério objetivo porque, caso contrário, o debate público degringola: quem gosta do governo sempre vê vitória, quem desgosta sempre vê derrota.
Eu tento ganhar objetividade usando duas técnicas. Primeiro, descobrir quais benefícios o governante de plantão obteve no exterior para alimentar os grupos que, em seu país de origem, o sustentam no poder.
Segundo, comparar a visita em questão a outras visitas similares, avaliando qual permitiu ao governante acumular mais recursos para agradar ou consolidar a sua base em casa.
Critério fantástico! Melhor que isso, só o Twitter de José Roberto Guzzo garantindo que a visita do primeiro-ministro de Israel ao Brasil foi o feito diplomático mais relevante dos últimos 40 anos.
O critério dos velhos embaixadores aposentados, para analisar resultados de visitas presidenciais, costumava ser os ganhos que o país teria com negociações. A unidade de medida do Spektor não são os ganhos comerciais ou diplomáticos para o país, mas os trunfos do presidente perante seus aliados internos. Os velhos diplomatas aposentados jamais pensaram em metodologia tão criativa.
Definido o critério, Spektor enumera as vitórias de Bolsonaro:
Bolsonaro trouxe de Washington trunfos para os militares, o agronegócio e o mercado. Conseguiu porque, hoje, o Brasil importa para os EUA mais do que de costume, devido à crise na Venezuela. E pq Bolsonaro afaga o ego de Trump.
Por tudo o que foi divulgado, Bolsonaro abriu a possibilidade do Brasil importar carne e trigo dos Estados Unidos com isenção tarifária, sem nenhuma contrapartida. Ou seja, os trunfos são para o agronegócio americano, não para o brasileiro. Não conseguiu uma medida sequer que beneficiasse as exportações brasileiras.
Nada trouxe de objetivo para o país. Mas, segundo o douto Spektor:
“Em troca, os americanos demandaram alinhamento na Venezuela e abertura da economia. Bolsonaro entregou pq foi isso que ele prometeu na campanha que lhe rendeu quase 58 milhões de votos”.
A nova diplomacia, enaltecida por Spektor, é isso. 
Finalmente, a comparação com outros presidentes, para comprovar a extraordinária vitória diplomática de Bolsonaro:
“Que dizer da comparação com outras visitas inaugurais? Com Alcântara, o status de aliado extra-OTAN e o gesto de Trump sobre OCDE, Bolsonaro trouxe para sua base mais do que Sarney tirou de Reagan, Collor de Bush pai, FHC de Clinton, Lula de Bush filho e Dilma de Obama”.
Daí, esses chatos do Twitter resolveram tirar com a cara do mestre.
O debatedor que atende pelo nome de “cheio de perna” ousou enxergar o rei nu:
“A única coisa de concreto q Bolsonaro trouxe p o Brasil foi um acordo de SALVAGUARDAS com os EUA sobre o uso da Base de Alcântara que não implica em nenhum negócio concreto! O resto foi promessas vazias de Trump”.
E o tuiteiro Haroldo Júnior foi de uma objetividade cortante:
“Ruim retórica a q se sustenta em tantos argumentos”
Daí se entende a decepção  de Spektor comm o Twitter, na qual os participantes querem apenas ganhar likes.
Para comprovar que também gosta de likes, Spektor encerra sua coluna na Folha ligando o modo auto-exaltação: ele se propõe, nada mais, nada menos, a reconstruir a política externa brasileira pós-Bolsonaro.
O título do artigo já seria merecedor de todos os likes: “É hora de construir a política externa pós-Bolsonaro”.
E quem iria reconstruir? Os velhos diplomatas aposentados é que não. A saída para a diplomacia brasileira está, obviamente, em Mathias Spektor.
Primeiro, ele mostra que a banalização do debate diplomático ocorreu “ao mesmo tempo em que colapsa o que havia de consenso na política externa da Nova República. Quem termina ocupando o espaço é a turma que hoje comanda a agenda internacional do governo Bolsonaro”, aquela mesmo que conseguiu a mais expressiva vitória em uma visita presidencial aos Estados Unidos, segundo o próprio Spektor. Mas o objeto da vitória, o aval de Trump? Aparentemente as loas de Spektor à estrondosa vitória da nova diplomacia brasileira não sensibilizaram Jair, Ernesto ou Eduardo, deixando o pobre Spektor imerso em enorme melancolia:
“Eu admito a minha parcela de culpa: como tantos outros acadêmicos, não percebi que um dos efeitos da vitória de Donald Trump seria o nascimento do antiglobalismo messiânico à brasileira. 
Fantástico! A viagem de Bolsonaro foi a maior explicitação desse messianismo. Mas não consta que, àquela altura do campeonato, houvesse um só acadêmico racional que já não identificasse esse fenômeno. E porque Ernesto fez ouvidos moucos aos twitters-exaltação de Spektor, 
O resultado é nefasto porque a direita populista que hoje dá as cartas é perigosa. Não se trata de um bando tresloucado: em suas decisões, há método e projeto. A direção do que vem por aí é péssima para o país”.
Segundo ele, esgotou-se o modelo diplomático proposto por FHC e aquele proposto pelo PT. Restará, daqui para frente, o novo modelo que está sendo criado por… Matias Spektor, é claro.
Como sociedade, podemos e devemos fazer melhor. Deixo a coluna para pôr em prática aquilo que defendi durante todo esse tempo: um esforço coletivo para conceber uma política externa nova, capaz de ajudar a sociedade brasileira a sair do buraco em que se encontra.
Obrigado, leitor, por me acompanhar nesta jornada.
Ou seja, o messianismo de Olavo de Carvalho tornou-se um modelo de atuação pública para os intelectuais de rede social.

Magia (instituto Rio Branco) - Edgard Telles Ribeiro

Uma crônica extremamente elegante, sensível, até poética, do grande escritor Edgard Telles Ribeiro, sobre uma simples aula, que não foi magna ou mínima, mas que foi magnífica, no Instituto Rio Branco, nos tempos mais sombrios, e por vezes medíocres, da ditadura militar, quando um outro grande escritor, Guimarães Rosa, soube encantar jovens estudantes com sua magia em torno das fronteiras e das palavras. Nenhum tempo é tão sombrio que não permita leveza de espírito e elevação espiritual a propósito da verdadeira cultura a que aspiramos todos nós, mesmo nos tempos mais medíocres e ranzinzas.
Paulo Roberto de Almeida 
São Paulo, 26/04/2019



*Edgard Telles Ribeiro: Magia*
Folha de S. Paulo, 25/04/2019

Em passado recente, jovens colegas de Itamaraty foram submetidos, no Instituto Rio Branco —responsável pela formação de nossos futuros diplomatas—, a uma aula magna, cortesia do chanceler Ernesto Araújo.

Entre 1967 e 1968, em plena ditadura militar (às vésperas, portanto, da entrada em cena do AI-5), eu próprio fui aluno do instituto. Na época, recordo-me bem, fomos submetidos, minha turma e eu, a inúmeras doutrinações do gênero pelas autoridades de plantão, cujas mensagens também vinham embaladas em concepções afinadas às prioridades geopolíticas ou morais da época.

A diferença entre hoje e ontem, porém, é que, além das inevitáveis catilinárias oriundas de fontes conservadoras, também tivemos acesso, no próprio instituto, a figuras luminares de alguns humanistas, sejam como professores (Mário Henrique Simonsen, Bertha Becker, Marcílio Marques Moreira), sejam como conferencistas (José Luiz Werneck da Silva, Clara Alvim, Manoel Maurício de Albuquerque).

Graças à presença dessas personalidades, mantínhamos viva a esperança de que os cenários adversos com que nos confrontávamos cederiam espaço a dias melhores.

De todos esses personagens —cada qual dotado de uma visão estimulante e rica sobre nosso país—, o que mais me marcou, em uma luminosa tarde da qual jamais me esquecerei, foi João Guimarães Rosa. Suas palavras elevaram o patamar da grandeza a que, por vezes, tínhamos acesso no instituto. A força de sua magia relegou para longe o lodo que também nos era servido de forma mais rotineira.

Ao longo de sua fala, Guimarães Rosa discorreu sobre fronteiras, tema ao qual se dedicara com afinco em boa parte da carreira. E, ao final, respondeu a algumas perguntas sobre literatura. O tom de voz com que se expressava, a delicadeza com que injetava poesia em um tópico aparentemente árido, ou a modéstia com que se referia a seus textos literários —como se não pesassem tanto assim na ordem das coisas—, vieram-me à mente quando tomei conhecimento da aula magna de Ernesto Araújo.

Inevitavelmente, lembrei-me também do panteão dos grandes nomes que souberam dignificar o legado do Barão do Rio Branco e dos vários chanceleres que honraram o cargo em circunstâncias muitas vezes difíceis.

Mas pensei, especialmente, nas inúmeras gerações de profissionais que projetaram por gerações a fio, com dignidade e sem descanso, nossos valores no exterior. De lá colhendo ensinamentos que se revelariam valiosos nos mais diversos campos de nossa luta pelo desenvolvimento. A massa crítica que compõe uma carreira, em suma. Simbolizada aqui pelos jovens colegas que agora se juntam aos quadros do Ministério das Relações Exteriores. Porque a política externa não é feita apenas de sorrisos e afagos (e concessões arbitrárias). Interesses estão sempre em jogo —e é preciso saber lutar por eles.

E é pensando nesses jovens que evoco Guimarães Rosa. Porque foi a aula de nosso escritor maior, cujos pormenores hoje se perdem no tempo em comparação à emoção vivida naquele dia, que me permitiu ver, como por milagre, a força da luz que apesar de tudo brilhava por entre as trevas naqueles anos.

E é o que me leva a escrever estas linhas dedicadas, no fundo, a todos os estudantes brasileiros. Com o maior afeto. Sem as palavras de ódio que predominam hoje entre nós por razões que, de há muito, escapam o controle. Para reiterar, como tantos o fizeram antes de mim ao longo da história, que nosso país é maior do que os homens que o governam ocasionalmente, maior do que a falta de visão de que por vezes dão provas. Maior do que suas certezas mesquinhas, seus preconceitos perigosos ou suas melancólicas e estranhas obsessões.

E, por fim, para rogar que façam o que boa parte da minha geração fez por 20 anos: não abram mão de suas convicções. Não permitam que as certezas alheias, por sedutoras ou originais que pareçam, criem um nicho em sua imaginação. Pois, sem ela, não há magia.

E, sem magia, não há vida.

quinta-feira, 25 de abril de 2019

Catálogos do Arquivo Histórico do Itamaraty no Rio de Janeiro - Frederico Ferreira, Rogerio Farias

Prezados, 

O Arquivo Histórico do Itamaraty no Rio de Janeiro tem desempenhado, nos últimos anos, uma intensa atividade de confecção e revisão de seus catálogos. Esse esforço tem sido conduzido pelo nosso colega Frederico Ferreira, chefe do arquivo. Essa área agora está sob a direção do historiador e diplomata (ministro) Guilherme Conduru. Com o apoio do CHDD (embaixador Gelson Fonseca), esse material está finalmente na Internet. 

Gostaria de chamar a atenção da nossa pequena comunidade para o "lançamento do ano": "O índice de dossiês temáticos" referente ao período de 1890 a 1940. 

Os maços temáticos são, na minha opinião, uma das melhores coleções do acervo do Itamaraty. Infelizmente, tanto no Rio de Janeiro como em Brasília, não são muito utilizados pelos pesquisadores. Minha suspeita para essa reduzida atenção recai sobre a catalogação. No Rio, antes, era necessário primeiro examinar um pesado e complexo índice e, depois, ter acesso a pequenas fichas que identificavam a existência e a localização do maço; em Brasília, ainda está em processo de transposição o catálogo dos livros de registro para o Excel.

Não se desesperem caso não encontrem maços de interesse. No arquivo de antecedentes daqui de Brasília já encontrei documentos do período Rio Branco. O corte de 1940, portanto, não é uma regra geral. Muitos assuntos, inclusive, tem maços no Rio de Janeiro e em Brasília. A viagem do presidente eleito Júlio Prestes (430.42.00), por exemplo, tem documentos em maços temáticos nas duas cidades. Sem contar, obviamente, os maços temáticos confidenciais, sob a guarda da Seção de Correspondência Especial de Brasília -- um tesouro.

Por favor, circulem os links.



Um abraço,
-- 
Rogério de Souza Farias
Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental
Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais / Fundação Alexandre de Gusmão

quarta-feira, 24 de abril de 2019

Brasil tem indicadores de água e esgoto piores que os de 105 países

Brasil tem indicadores de água e esgoto piores que os de 105 países

Oitava economia do mundo, o Brasil está atrás de 105 países em relação aos indicadores de acesso a água e esgoto. Segundo o Panorama da Participação Privada no Saneamento 2019, com base em dados internacionais, o desempenho brasileiro é pior que o verificado nos países vizinhos, como Chile, México e Peru. A Bolívia chega a ter índice de atendimento de água maior que o do Brasil. 
Para mudar essa situação, o País precisaria investir cerca de R$ 20 bilhões por ano – montante que nunca foi alcançado. Em 2016, por exemplo, foram investidos R$ 11,33 bilhões em saneamento, ou seja, 0,18% do PIB nacional. Em 2017 esse montante caiu para R$ 10,05 bilhões. A questão é que, além de não alcançar a universalização, os serviços prestados também não são adequados. Para se ter ideia, a perda de água no País representa cerca de R$ 10 bilhões por ano – ou seja, todo o volume investido no setor. 
Importante indicador de desenvolvimento de um país, o saneamento básico também tem reflexos na saúde da população. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), compilados no Panorama 2019 da iniciativa privada, mostram que 1.933 municípios (34,7% do total) registraram ocorrência de epidemias ou endemias provocadas pela falta de saneamento básico em 2017. 
Dengue. A doença mais citada pelas prefeituras foi a dengue. No período, 1.501 municípios (26,9% do total) registraram ocorrência da doença – transmitida pela picada do mosquito Aedes Aegypti, que se reproduz em água parada. Outras doenças com grande incidência, provocadas pela falta de saneamento, foram a disenteria (23,1%) e verminoses (17,2%) – que têm efeito negativo na economia, seja por causa dos gastos com internação ou pelos afastamentos do trabalho. 
Segundo o Panorama, considerando o avanço gradativo do saneamento, em 20 anos (2016 a 2036), o valor da economia com gastos com a saúde – seja pelos afastamentos do trabalho ou pelas despesas com internação no Sistema Único de Saúde (SUS) – alcançaria R$ 5,9 bilhões no País.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo

Antologia do Humor Português: não é piada de português...

Vejam o tamanho do livro: e se trata de humor potuguês, não de piadas de portugueses... Neste caso, mais volumes seriam necessários...

ANTOLOGIA DO HUMOR PORTUGUÊS

ANTOLOGIA DO HUMOR PORTUGUÊS.
Selecção e notas: Vergílio Martinho, Ernesto Sampaio. Prefácio, Ernesto Sampaio. Edições Afrodite. Fernando Ribeiro de Melo. Lisboa. 1969. 14,5x21 cm. XXV-III-1004-III págs. B.
"A Antologia do Humor Português contém sessenta e dois autores. Inicia-se com Cantigas d'Escarnho e Mal Dizer e termina nos nossos dias. Incluí textos, entre outros de  Gil Vicente, Mendes Pinto, D. Francisco Manuel de Melo, Bernardes, Vieira, António José da Silva, Tolentino, Macedo, Bocage, Garrett, Camilo, Ramalho, Eça, Gomes Leal, Cesário Verde, Fialho, Teixeira-Gomes, Feijó, Sá-Carneiro, Pessoa, Almada, Miguéis, Branquinho da Fonseca, Manuel de Lima, Natália Correia, O'Neill, Cesariny, António Maria Lisboa (...)”. — retirado do texto da badana.
Edição curiosa, com muitos e originalíssimos desenhos de Carlos Ferreiro, Eduardo Batarda, João Machado e José Rodrigues. Uma das criteriosas edições Afrodite de Fernando Ribeiro de Melo.

terça-feira, 23 de abril de 2019

Palestra: A destruição da política externa brasileira, por Rubens Ricupero

Assista à palestra: 

A destruição da política externa brasileira

por Rubens Ricupero


Neste link do YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=O6IsaYiCfE0

Sumário da palestra neste link: 

https://diplomatizzando.blogspot.com/2019/04/um-alerta-sobre-os-rumos-da-politica.html

Palestra do embaixadoRubens Ricupero no CEBRI-Casa das Garças em 25 de fevereiro de 2019 neste link:
  http://midias.cebri.org/arquivo/BN28.pdf

CEBRI (RJ): extremamente ativo e bombando

Uma intensa programação cumprida e a cumprir


Neste período (primeiro trimestre de 2019), o CEBRI reuniu 750 pessoas em 15 eventos, dos quais participaram 22 palestrantes, que resultaram na publicação de seis Breaking News. Ainda nesse trimestre, lançamos duas edições do CEBRI Dossiê. Todas as publicações estão disponíveis na lista abaixo e no site do CEBRI: http://www.cebri.org/publicacoes/.
Na imprensa, tivemos cerca de 300 inserções, incluindo veículos importantes nacionais e internacionais como Bloomberg, Deutsche Welle, Valor Econômico, Estadão, Folha de São Paulo, Exame, Correio Braziliense e GloboNews. Clique aqui para acessar o relatório com as principais matérias veiculadas nesse período.
O CEBRI conectou, nestes meses, mais de 20 think tanks e instituições do Brasil e do exterior para visitas institucionais e participações em eventos, além de elaboração de projetos e iniciativas conjuntas. Entre estas entidades, estão Atlantic Council, Banco Mundial, BID, Brookings Institution, Columbia University, German Marshall Fund, Inter-American Dialogue e ONU Meio Ambiente. Destacamos que, em março, o CEBRI recebeu em sua sede Gerhard Wahlers, Diretor da Cooperação Internacional da Fundação Konrad Adenauer, nosso parceiro há 20 anos no Brasil.
Ao fim destes primeiros meses do ano, os núcleos temáticos do CEBRI passam a contar com a colaboração de sete novos senior fellows: André Soares, conselheiro da diretoria do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID); Benoni Belli, diretor do Departamento de Estados Unidos da América do Ministério das Relações Exteriores; Daniela Lerda, coordenadora da Aliança pelo Clima e Uso da Terra da Fundação Ford no Brasil; Ilona Szabó, especialista em segurança pública e políticas de drogas e cofundadora e diretora-executiva do Instituto Igarapé; Larissa Wachholz, especialista em mercado chinês e sócia da Vallya; Monica Herz, professora associada e vice-decana do Centro de Ciências Sociais da PUC-Rio; e Patricia Campos Mello, repórter especial e colunista da Folha de S.Paulo e comentarista das TVs Band e BandNews.
Os Conselheiros e equipe do CEBRI realizaram, nestes meses, reuniões com membros do novo governo, como o Chanceler Ernesto Araújo, o Ministro da Economia Paulo Guedes, a Ministra da Agricultura Tereza Cristina Corrêa da Costa Dias, o Presidente do BNDES Joaquim Levy, além do Secretário-Geral do Itamaraty Otávio Brandelli.
Por fim, temos a satisfação de dar as boas-vindas às empresas Lazard e Michelin, que se associaram ao CEBRI neste primeiro trimestre de 2019.
Agradeço o apoio fundamental de todos vocês na implementação da agenda de trabalho do CEBRI, que segue em expansão neste início de ano. Será um prazer receber suas sugestões e comentários sobre o trabalho realizado neste primeiro trimestre.
Abraços, 
Julia Dias Leite
Links para as publicações:
Breaking News #24 "Mulheres, Tecnologia e Segurança". Leia aqui.
Breaking News #25 “A China precisa mudar?”, Embaixador Marcos Caramuru. Leia aqui.
Breaking News #26, “Os limites do céu nas relações Brasil-Estados Unidos”, Paulo Sotero. Leia aqui.
Breaking News #27 “O agronegócio brasileiro no mundo”, Marcos Jank. Leia aqui.
Breaking News #28 “Política externa: desafios e contradições”, Embaixador Rubens Ricupero. Leia aqui.
Breaking News #29 “A crise na Venezuela”. Leia aqui.

Relatório da Mesa-Redonda "The role of cities in the energy transition". Leia aqui

CEBRI Dossiê 3. Leia aqui 
CEBRI Dossiê 4. Leia aqui


O CEBRI, em parceria com a Catavento Consultoria, tem a satisfação de convidá-los para o seminário "Brazil and China: fomenting a long-term partnership in the infrastructure sector – Opportunities in the Southeast region".

O evento ocorrerá no dia 6 de maio, segunda-feira, das 15:00 às 18:00, na sede do CEBRI (Rua Marquês de São Vicente, 336 – Gávea, Rio de Janeiro).

Esperando contar com a sua presença, pedimos a gentileza de confirmar a sua participação, pelo e-mail eventos@cebri.org.br ou pelo telefone (21) 2206-4402 (Danielle Batista).

Atenciosamente,

A batalha ridícula do momento: o Rasputin de subúrbio conta os militares - Estadão

Nem se deveria emprestar qualquer importância a esses enfrentamentos ridículos, mas tudo é motivo de divertimento...
Paulo Roberto de Almeida

Sob pressão de militares, Bolsonaro critica Olavo de Carvalho

Após ataque ao vice e representantes das Forças no Planalto, presidente afirma em nota que declarações de ‘guru’ ‘não contribuem’ com os objetivos do governo

Tânia Monteiro e Mariana Haubert, O Estado de S.Paulo 
22 de abril de 2019 | 18h57 
Atualizado 23 de abril de 2019 | 00h48

BRASÍLIA  – A constante troca de acusações e provocações entre o “guru” bolsonarista Olavo de Carvalho e o vice-presidente Hamilton Mourão levaram o presidente Jair Bolsonaro a se posicionar nesta segunda-feira, 22, pela primeira vez, contra as manifestações do escritor. Em nota lida pelo porta-voz, general Rêgo Barros, Bolsonaro reconheceu que as “recentes declarações” de Olavo “não contribuem para a unicidade de esforços e consequente atingimento de objetivos propostos” no “projeto de governo”. O comunicado do presidente tenta cessar os ataques do escritor que têm provocado divisões na base bolsonarista e no núcleo central do governo.  
O presidente, no entanto, não quis criticar seu filho, o vereador Carlos Bolsonaro (PSC), responsável pelas suas postagens em redes sociais e defensor fiel de Olavo. Nesta segunda-feira, o consenso no Planalto, a despeito das publicações do filho de Bolsonaro, é de que o escritor “passou do ponto”. Ele fez uma série de acusações aos militares por meio de um vídeo veiculado nas redes sociais. 
Já no fim de semana, a postagem incomodou o presidente, que passou parte do feriado no Guarujá (SP). Bolsonaro foi surpreendido com a mensagem que trazia ataques aos militares, publicada no canal do presidente no YouTube. Ele mandou apagar o post, mas a polêmica prosseguiu com o compartilhamento do vídeo por seu filho.  
O fato provocou reação da cúpula militar, que já havia alertado Bolsonaro da inconveniência de o guru ficar alimentando “polêmicas descabidas” em um momento em que todos os esforços estão voltados para a aprovação da reforma da Previdência no Congresso. 
Nesta segunda, desde cedo, o tema tomou conta das reuniões no Planalto, inclusive aquelas das quais participaram o próprio presidente. O primeiro a reagir publicamente foi Mourão, que já havia dito reservadamente estar “de saco cheio” das “agressões” e avisado que não aguentaria mais calado novos ataques. 
No vídeo, o escritor faz duras críticas aos militares e questiona: “Qual a última contribuição das escolas militares à alta cultura nacional? As obras do Euclides da Cunha. Depois de então, foi só cabelo pintado e voz impostada. E cagada, cagada”, disse, acrescentando que eles entregaram o País aos “comunistas”. 
Em resposta, Mourão afirmou que Olavo deveria se concentrar no exercício da “função de astrólogo”, por ser a que ele “desempenha bem”.  
Sabedor da personalidade explosiva de seu apoiador, Bolsonaro mediu as palavras ao se referir a ele na nota, fazendo questão de reconhecer sua contribuição para seu triunfo eleitoral.  
“O professor Olavo de Carvalho teve um papel considerável na exposição das ideias conservadoras que se contrapuseram à mensagem anacrônica cultuada pela esquerda e que tanto mal fez ao País”, afirmou o presidente, passando a se queixar dos ataques e citando a divisão provocada pela sua fala no seu governo. No mesmo comunicado, Bolsonaro afirmou que “tem convicção de que o professor, com seu espírito patriótico, está tentando contribuir com a mudança e com o futuro do Brasil”. 
O porta-voz do Planalto evitou responder se o presidente foi quem postou o vídeo no YouTube ou se sabia de seu conteúdo. Limitou-se a dizer que “o presidente entende que é muito importante ele assumir a responsabilidade por sua redes sociais”. De acordo com fontes ouvidas pelo Estado, Bolsonaro não sabia do conteúdo e, por isso, mandou retirá-lo do ar. 
Desde o início do governo, tem aumentado a tensão entre a ala olavista e os militares. Houve um enorme descontentamento quando, um dia após Olavo xingar Mourão de “idiota” e dizer que o seu governo ia mal, o presidente compareceu a um evento em Nova York no qual se sentou o lado do “guru”.  
A divisão entre olavistas e militares atingiu até a administração do Ministério da Educação, o que levou à demissão de Ricardo Vélez Rodríguez, alinhado com as ideias do escritor. Mesmo com a disputa, um outro seguidor de Olavo, Abraham Weintraub, acabou alçado ao cargo de ministro. Em inúmeras reuniões, Bolsonaro foi advertido dos problemas que a influência do escritor e as seguidas postagens de Carlos na internet têm causado ao Planalto.  
Bolsonaro já chegou a sinalizar que poderia limitar a ação de seu filho em suas redes sociais. No entanto, sempre que surgia algum novo problema, o presidente reiterava que só tinha vencido a eleição por causa da “expertise” de Carlos nessas mídias. 

Carlos Bolsonaro volta defender Olavo

Após as críticas de Mourão, Carlos voltou ao Twitter para dizer que Olavo “é uma gigantesca referência do que vem acontecendo há tempos no Brasil”. Segundo ele, desprezar isso significa “total desconhecimento, se lixando para os reais problemas do Brasil” ou achar “que o mundo gira em torno de seu umbigo por motivos que prefiro que reflitam”. 
. @opropriolavo é uma gigantesca referência do que vem acontecendo há tempos no Brasil. Desprezar isto só têm três motivos: total desconhecimento, se lixando para os reais problemas do Brasil ou acha que o mundo gira em torno de seu umbigo por motivos que prefiro que reflitam. — Carlos Bolsonaro (@CarlosBolsonaro) 22 de abril de 2019
Mais tarde, o vereador recorreu a um tuíte que Mourão curtiu e compartilhou no qual a jornalista Rachel Sheherazade elogia uma palestra do vice. Trata-se do mesmo tuíte que levou o deputado Marco Feliciano (Podemos-SP) a pedir o impeachment de Mourão. Carlos postou a curtida do general com a frase: “Tirem suas conclusões”. 
A mensagem de Rachel diz: “Finalmente um representante do governo que não nos causa vergonha. O vice mostrou como ele e o presidente são diferentes, um é o vinho, o outro vinagre”. 
Tirem suas conclusões: pic.twitter.com/48x9xRpWCX — Carlos Bolsonaro (@CarlosBolsonaro) 23 de abril de 2019

Carlos ainda demonstrou indignação com um convite para uma palestra de Mourão. O documento, em inglês, diz que o País vive uma crise generalizada, mas que o vice surge como “voz da razão e da moderação”. “Inacreditável!”, afirmou o vereador. 
Olavo também manteve o enfrentamento com o general. “Não estranho que a direita anti-Bolsonaro faça frente única com o general Mourão. O oposto disso é que seria espantoso”, postou o escritor na noite de ontem. / COLABORARAM FELIPE FRAZÃO E ANDRÉ BORGES

Um alerta sobre os rumos da política externa brasileira - Rubens Ricupero

No Dia do Diplomata, um alerta sobre os rumos da política externa brasileira

Ricupero é um dos mais respeitados diplomatas brasileiros, cuja carreira no Itamaraty se estendeu de 1961 a 2004, e alia à sólida formação intelectual a experiência da representação exterior do País, tendo ocupado os mais altos postos da carreira diplomática.

por Arnaldo Cardoso

Jornal GGN, 22/04/2019

Assista à palestra: 

A destruição da política externa brasileira

por Rubens Ricupero

Neste link do YouTube:
No último sábado (20), Dia do Diplomata, o Tapera, Taperá, espaço cultural inaugurado em 2016 na Galeria Metrópole, no centro de São Paulo, recebeu o embaixador Rubens Ricupero em evento que reuniu de jovens estudantes de relações internacionais a experientes observadores da política externa brasileira. Na data em que se celebra o nascimento do Barão do Rio Branco, patrono da diplomacia brasileira, os presentes que lotaram o espaço foram brindados com uma abrangente e consistente palestra sobre a função da política externa de um país, culminando com uma arguta análise do crítico momento vivido pelo Brasil no que tange à condução de suas relações exteriores.
Arnaldo Cardoso, Rubens Ricupero e Marcelo Fernandes no Tapera.
Ricupero que é um dos mais respeitados diplomatas brasileiros, cuja carreira no Itamaraty se estendeu de 1961 a 2004, alia a sólida formação intelectual a experiência da representação exterior do País, tendo ocupado os mais altos postos da carreira diplomática. Além disso, enfrentou também, por duas vezes, os desafios e dissabores da política, na condição de Ministro de Estado, nos governos Sarney e Itamar Franco. Em organismos internacionais, ocupou entre os anos de 1995 e 2004, o prestigioso cargo de Secretário Geral da Unctad, órgão da ONU sediado em Genebra, que tem por missão a promoção da integração de países em desenvolvimento na economia mundial.
Na palestra no Tapera, intitulada A destruição da política externa brasileira, Ricupero expôs mais uma vez sua contundente crítica ao discurso e às ações do atual governo brasileiro no campo das relações exteriores, consubstanciada em detalhado apontamento do descolamento da política externa do interesse nacional e dos reais problemas que afetam a sociedade brasileira, cujo necessário enfrentamento poderia ser potencializado por uma bem informada e responsável concepção e execução de política externa.
Logo no início de sua palestra, o embaixador citou o seguinte trecho de discurso do Presidente da República proferido em recente jantar em Washington “O Brasil é um terreno em que nós precisamos desconstruir muita coisa” como emblemático da mentalidade que orienta a ação do governo, não só em política externa, mas também em áreas como a do meio ambiente, educação, direitos humanos, entre outras. Ricupero manifestou sua perplexidade e grande preocupação com o fato de ser um discurso que fala em destruição e não em construção, contrastando com a história de todos os governos anteriores que se pautaram, mesmo situados em diferentes campos do espectro político, por projetos de construção do País e de fortalecimento de suas relações exteriores.
Lembrou que a política externa brasileira vinha se orientando desde muito pela busca da autonomia pela participação em diferentes fóruns onde se constroem as agendas internacionais.
No campo do meio ambiente, Ricupero que já foi Ministro do Meio Ambiente, apontou o equívoco das declarações do governo ameaçando sair do Acordo do Clima de Paris, quando já no governo anterior se tinha anunciado o cumprimento antecipado das metas de redução de desmatamento. O embaixador mencionou também a suposta perda de soberania do país refutando-a com o fato de que a delegação brasileira participou ativamente do processo de definição de diferentes obrigações e direitos para países desenvolvidos e em desenvolvimento. Citou ainda o risco de perda de linhas de financiamento internacional, em caso de abandono do Acordo, que são importantes para o País, e por fim a dilapidação do capital político do Brasil na área, acumulado ao longo das últimas décadas.
Quanto às escolhas dos primeiros países visitados, Ricupero manifestou preocupação com o fato de que o critério evidente foi o da ideologia. Ainda segundo o embaixador, a agenda das viagens revelou “prioridades erradas” estimulando antagonismos e criando constrangimentos com países que são importantes mercados para as exportações brasileiras.
Lembrando que em 1º de março do próximo ano o Brasil completará 150 anos de paz – data em que se celebra o fim da Guerra da Tríplice Aliança –, feito que ganha especial admiração por ter o Brasil fronteira com dez países. Ricupero expôs seu entendimento de que, num mundo marcado por instabilidade e conflitos, nosso País se fortalece ao reafirmar os valores da solução pacífica de conflitos e da não intervenção, valores que passaram a emoldurar a identidade internacional do País desde o fim do referido conflito. 
Consonante com a mensagem contida nas mais de 700 páginas de seu mais recente livro “A diplomacia na construção do Brasil – 1750-2016” e também com o conteúdo da extensa entrevista concedida recentemente à Jamil Chade da Folha de S. Paulo, donde extraio o parágrafo abaixo, a palestra de Rubens Ricupero no Dia do Diplomata repôs para o público presente a importância de a política externa ser entendida como parte indissociável da própria política do Estado para o desenvolvimento nacional, e da importância da diplomacia para o desenvolvimento das nações e para a construção de uma paz com justiça entre as nações. 
Como avalia Ricupero “Hoje em dia, o que caracteriza um governo admirado, merecedor de prestígio internacional, é seu comportamento nos domínios que integram o conjunto de aspirações da humanidade: direitos humanos, meio ambiente, promoção de igualdade entre mulheres e homens, tolerância e respeito pelas minorias, combate à desigualdade social e racial. Cada sociedade será julgada em última instância pela maneira como trata seus membros mais frágeis e vulneráveis.”
Arnaldo Cardoso é cientista político, pesquisador e professor universitário.