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terça-feira, 16 de junho de 2020

Tradicionalismo: a extrema direita no poder - Venício A. de Lima (Carta Maior)

Tradicionalismo: a extrema direita no poder

Por Venício A. de Lima 

Carta Maior, 15/06/2020 
 
Valor Econômico noticiou no início de junho que Gerald Brant, executivo do mercado financeiro e diretor de uma empresa de investimentos nos Estados Unidos, deverá ser nomeado para assessor especial no Ministério das Relações Exteriores, uma espécie de conselheiro, ligado diretamente ao gabinete do chanceler Ernesto Araújo. (Cf. Daniel Rittner, “Amigo de Bannon, Gerald Brant pode quebrar tabu e ter cargo no Itamaraty”, 5/6/2020). A notícia causou estranheza, dentre outras razões, porque o indicado não é da carreira diplomática. Uma das reações indignadas veio do ex-ministro Celso Amorim. Se confirmada esta nomeação, afirmou, representaria “um estupro” na diplomacia brasileira; “uma coisa inexplicável, uma violência sem tamanho. Um tiro final no Itamaraty” (Cf. “Amorim: nomear aliado de Bannon no Itamaraty é um estupro” in https://www.brasil247.com/mundo/amorim-nomear-aliado-de-bannon-no-itamaraty-e-um-estupro ).

Quais são as credenciais de Gerald Brant e o que ele representa? Para simplificar a resposta, recorro a um episódio relatado pelo professor da University of Colorado Boulder, Benjamin Teitelbaum em seu recente War for Eternity – Inside Bannon’s Far-Right Circle of Global Power Brokers (Guerra pela Eternidade – Dentro do círculo de extrema direita dos poderosos globais de Bannon, Dey St./HarperCollins, 2020). 

Em janeiro de 2019, Teitelbaum foi convidado para um jantar na casa de Steve Bannon – ex-CEO do portal de extrema direita Breitbart News, ex vice-presidente da Cambridge Analytica, ex-coordenador da campanha de Donald Trump e ex-estrategista chefe na Casa Branca. O evento celebrava o encontro do anfitrião com Olavo de Carvalho, referência doutrinária do recém-eleito governo de Jair Bolsonaro no Brasil. Entre os seletos convidados americanos e brasileiros estava Gerald Brant. Depois do “Pai Nosso” de agradecimento pela refeição, o investidor propôs um brinde e saudou: “Isto é um sonho se realizando. Trump na Casa Branca, Bolsonaro em Brasília. E aqui em Washington, Bannon e Olavo de Carvalho, face-a-face. Este é um novo mundo, amigos” (pp. 164-165). Ao longo do jantar os presentes descreveram as perspectivas do governo Bolsonaro e, em resposta a uma pergunta de Bannon sobre qual a posição de seus partidários, declararam unânimes: “alinhamento com o Ocidente Judeu-Cristão”. (pp. 167).

Para os que já conhecem as relações entre a família Bolsonaro, Olavo de Carvalho, Ernesto Araújo e Steve Bannon, a eventual nomeação de Gerald Brant certamente não causaria qualquer estranheza. O que os une é a adesão a uma doutrina chamada Tradicionalismo.

O Tradicionalismo
War for Eternity é, de certa forma, uma introdução ao Tradicionalismo, com “T” maiúsculo para se diferenciar do simples tradicionalismo (conservadorismo), crítico do novo por acreditar que a vida era melhor no passado. Pesquisado e escrito, nas palavras do próprio autor, no espaço cinzento entre a etnografia e o jornalismo investigativo, o livro resulta de mais de 20 horas de entrevistas gravadas com Steve Bannon e muitas horas com outros adeptos do Tradicionalismo, direta ou indiretamente, a ele relacionados: extremistas radicais da AltRight, nacionalistas brancos (White Nationalists), membros da Ku Klux Klan e neonazistas. Gente como Daniel Friberg (Suécia) e Richard Spencer (EUA); Michael Bagley, Jason Reza Jorjani e John B. Morgan (EUA); Tibor Baranyi e Gabor Vona (Hungria). Somos também introduzidos a figuras como o místico armênio George Gurdjieff (1866-1949), o filósofo esotérico sufista suíço Frithjof Schouon (1907-1998) e a francesa defensora do nazismo Savitri Devi (1905-1982). Entre os mais proeminentes entrevistados, o russo Aleksandr Dugin e o brasileiro Olavo de Carvalho. O conjunto doutrinário que resulta e articula toda essa gente é, para dizer o mínimo, assustador. 

Não há no livro uma resposta organizada para a pergunta “o que é o Tradicionalismo? ”. Escrito primariamente para o público leitor estadunidense, War for Eternity está centrado em Steve Bannon, não só pelas posições que já ocupou no governo Trump, mas, sobretudo, pelo papel de articulador dos Tradicionalistas que busca exercer em nível mundial. O leitor (a) terá que garimpar os elementos que vão surgindo na narrativa para construir uma visão de conjunto desta bizarra forma de pensar. O que se segue é uma breve tentativa de síntese, parcial e seletiva, privilegiando o que se relaciona ao Brasil de Bolsonaro.

Embora haja importantes diferenças entre eles, os pais fundadores do Tradicionalismo são dois pensadores da primeira metade do século XX: o francês René Guénon (1886-1951) e o italiano Julius Evola (1898-1974). O primeiro, ex-católico, ex-maçom, convertido ao islamismo sufista. O segundo, racista, misógino e ligado ao fascismo de Mussolini. Teitelbaum registra: “René Guénon morreu paranoico e envolvido em conflitos com seus ex-seguidores em 1951, e Julius Evola passou seus últimos anos encafurnado no seu apartamento em Roma com um pequeno grupo de seguidores excepcionalmente radicais e perigosos – alguns deles, simples terroristas – e desprezado por muitos Tradicionalistas” (p. 133).

O Tradicionalismo é um “esoterismo religioso” que se “opõe à modernidade Ocidental e à ciência” (p.137). Uma de suas características básicas é a crença – que tem sua origem no Hinduísmo – de que o tempo histórico se desenvolve em ciclos: as idades de ouro, de prata, de bronze e das trevas. Cada um desses ciclos é representado por diferentes tipos de castas, ordenadas por uma hierarquia descendente: os padres, os guerreiros, os mercadores e os escravos. É uma visão fatalista e pessimista, de vez que esses ciclos se repetirão independentemente da agência humana. Apesar disso, Tradicionalistas militam para acelerar a passagem de um ciclo para outro. Eles acreditam que estamos vivendo uma era das trevas que deve ser implodida para que se retorne ao ciclo inicial, à idade de ouro. Nela viveremos numa sociedade não massificada, não homogeneizada materialmente, onde não existem valores universais – como democracia, comunismo e direitos humanos – mas sim diferentes espiritualidades sob a tutela de uma teocracia hierárquica. 

A modernidade é o oposto do Tradicionalismo. É ela que caracteriza a era das trevas. Ela promove o enfraquecimento da religião em favor da razão (Iluminismo), o declínio do que não pode ser quantificado matematicamente – espírito, emoções, o supranatural – em favor do que é material. A modernidade também envolve a organização de grandes massas de pessoas com fins políticos ou de consumo. Disso resulta a padronização e a homogeneização da vida social. A modernidade acredita no progresso, na criatividade humana que pode nos conduzir a um mundo melhor do que esse no qual vivemos. Tradicionalistas aspiram a tudo que a modernidade não é. Eles acreditam em verdades eternas, transcendentes e estilos de vida, não na busca do progresso.

A hierarquia é um dos sinais da sociedade sadia. Os inimigos da diferença são os universalismos, valores ou sistemas considerados verdadeiros para toda a humanidade e não para grupos específicos. Na modernidade, a democracia é frequentemente compreendida nestes termos, tratada até mesmo em documentos fundadores de estados-nações liberais como parte de um conjunto auto evidente de direitos emanados de Deus, simultâneos ao conceito de uma igualdade universal. 

Os Tradicionalistas adotam o que René Guénon chamou de “teoria da inversão” que é uma das características da era das trevas. “Tudo que você pensa que é bom, é ruim. Toda mudança que você considera progresso, na verdade, é regressão. Toda instância aparente de justiça, na verdade, é opressão” (p. 78). O sistema de valores do mundo moderno é, portanto, o oposto da verdade.

A este amplo quadro de crenças, se acrescentam, de acordo com diferentes matizes do Tradicionalismo, o racismo – a superioridade ariana – e a misogenia – os homens arianos constituem  a casta dominante da idade de ouro.

Os Tradicionalistas atuam através do que chamam de metapolitica, vale dizer, privilegiam o ativismo através da cultura – artes, entretenimento, espaços intelectuais, religião, educação – e não necessariamente através de instituições políticas tradicionais. “Se você consegue alterar a cultura de uma sociedade, você terá criado uma oportunidade política para você mesmo. Fracasse em conseguir isto e você não terá qualquer chance” (p. 61). 

Uma das manifestações concretas do Tradicionalismo – embora, por óbvio, ele não constitua sua única causa explicativa – é a ascenção ao poder de grupos políticos de extrema direita em diferentes partes do mundo, sobretudo a partir da eleição de Donald Trump nos Estados Unidos, em 2016.

O leitor (a) deve estar se perguntando: de onde sai o dinheiro? quem financia os Tradicionalistas? Teitelbaum não está exatamente preocupado em esclarecer esta questão. Todavia, pelo menos no caso de Steve Bannon, a fonte é publica e conhecida. Nos meses em que o livro estava sendo escrito ele recebia 1 milhão de dólares/ano do bilionário dissidente e exilado chinês, Guo Wengui (p. 94).

O guru Tradicionalista brasileiro
Em pelo menos quatro dos 22 capítulos do War for Eternity (10, 13,14 e 20), Olavo de Carvalho é o personagem principal ou merece destaque. Estudioso da extrema direita, Teitelbaum se interessou por ele quando, na primeira manifestação pública do presidente eleito Jair Bolsonaro, através de uma “live” caseira, viu que haviam quatro livros estrategicamente colocados na mesa à sua frente: a Bíblia, a Constituição Brasileira de 1988, Memórias da Segunda Guerra Mundial de Winston Churchill e O Mínimo que você precisa saber para não ser um idiota de Olavo de Carvalho. O vínculo com Olavo de Carvalho foi confirmado publicamente quando, em 1º de maio de 2019, o governo Bolsonaro concedeu-lhe o mais alto grau da Ordem de Rio Branco, criada para "distinguir serviços meritórios e virtudes cívicas, estimular a prática de ações e feitos dignos de honrosa menção” (Cf. https://www1.folha.uol.com.br/poder/2019/05/bolsonaro-concede-a-olavo-de-carvalho-condecoracao-igual-a-de-mourao-e-moro.shtml ).

Comunista nos tempos de estudante, passou a se interessar por alquimia e astrologia, frequentando círculos ocultistas em São Paulo. Para a revista Planeta, “entrevistou extraterrestres e pessoas mortas” (p.129). Nesta época deu aulas de astrologia em livrarias e na PUC-SP. “Esoterismo era sua grande paixão” (p. 129). Desde a década de 70 ele tem contato com a obra de René Guénon, a quem considera “crazy”, mas julga que “escreveu muita coisa verdadeira” (p.169). Nos anos 80 esteve envolvido numa estranhíssima celebração Maryamiyya tariqa (uma ordem sufista), liderada por Frithjof Schuon que se considerava o herdeiro de René Guenon (pp. 129-136), em Bloomington, Indiana. Nesta época havia se convertido ao sufismo e se tornou muqaddam (facilitador) de uma tariqa em São Paulo. 

Olavo de Carvalho é um Tradicionalista “excêntrico” (p.128) à sua própria maneira, embora compartilhe pontos fundamentais com os pilares da doutrina. “Despreza a mídia e as universidades” (p.128). Acredita que “esquerdistas se infiltraram no sistema educacional brasileiro em preparação para uma revolução comunista” (p.168). Afirma literalmente: “se eu fosse mostrar a você fotografias das universidades brasileiras, você veria somente pessoas nus fazendo sexo. Eles vão para a universidade para fazer sexo e se você tenta pará-los eles se revoltam, começam a chorar, te veem como um opressor” (pp. 254-255). 

Ele se alinha totalmente com Steve Bannon “na condenação da China e na urgência de resistir à sua influência global” (p.166). Perguntado se temia a China ou o Islã, respondeu: “Eu acredito que a China é mais perigosa. Eles não têm um senso real de humanidade. Eles pensam que pessoas são coisas (...). Eles pensam que você pode substituir uma pessoa por outra. Eles não são boas pessoas” (p. 257).

Ao concluir sua análise sobre o debate público que Olavo de Carvalho travou com o Tradicionalista russo Aleksandr Dugin em 2011, Teitelbaum afirma: “O que, afinal, Olavo apoia? Primeiro e acima de tudo, cristãos de todos os países, Israel e nacionalistas conservadores americanos. Os hábitos sociais rurais dos americanos, em particular, parecem capturar alguma coisa sacrossanta para ele. Ele viu coesão crescente, caridade e voluntarismo quando o Estado se retirou da sociedade americana” (p. 182).

Desde 2005 morando numa zona rural do estado de Virgínia, nos Estados Unidos, agora católico – uma forma de intensificar sua oposição ao comunismo (p. 176) – Olavo de Carvalho passou a oferecer cursos pela internet (Youtube, Facebook) e pelo rádio. Obteve sucesso e “formou” vários quadros que hoje ocupam posições fundamentais no governo de Jair Bolsonaro: Ernesto Araújo (Relações Exteriores) e Abraham Weintraub (Educação) são apenas os mais conhecidos.

Tradicionalismo no Brasil
No capítulo final de War for Eternity, Teitelbaum observa: “Tradicionalismo em sua forma original não estimula preocupações com desigualdades e injustiças. Quando seu comando de arregimentar populações em torno de uma essência espiritual arcaica é combinado com uma ideologia que preserva sua própria versão apocalíptica – como o messianismo de cristãos evangélicos com a crença adicional de que a destruição terrena é necessária para uma utopia terrena, e não celestial – pode existir razão para alarme. Na verdade, para vários dos Tradicionalistas, esta filosofia oferece o pretexto não para a apatia (...) mas para seu exato oposto: a ação transformadora temerária na crença de que o mundo está prestes a mudar e, portanto, medidas audaciosas são justificadas. Tradicionalismo não vê razão para se subordinar à política” (pp. 280-281).
É neste contexto que se deve buscar a compreensão do que ocorre no Brasil de Bolsonaro. No caso específico da nomeação de Gerald Brant – empresário americano de extrema direita ligado a Steve Bannon – para conselheiro da política externa brasileira, há de se lembrar que o chanceler Ernesto Araujo discute Guénon e Evola fluentemente e que “mais do que o próprio Olavo, é um Tradicionalista” (p.165). No seu blog “Metapolítica 17 – Contra o Globalismo” (Cf. https://www.metapoliticabrasil.com/blog/ ) ele se apresenta: “Sou Ernesto Araújo. Tenho 28 anos de serviço público e sou também escritor. Quero ajudar o Brasil e o mundo a se libertarem da ideologia globalista. Globalismo é a globalização econômica que passou a ser pilotada pelo marxismo cultural. Essencialmente é um sistema anti-humano e anti-cristão. A fé em Cristo significa, hoje, lutar contra o globalismo, cujo objetivo último é romper a conexão entre Deus e o homem, tornado o homem escravo e Deus irrelevante. O projeto metapolítico significa, essencialmente, abrir-se para a presença de Deus na política e na história”

O Tradicionalismo, vale dizer, a extrema direita, assumiu o poder no Brasil.

[Brasília, 15 de junho de 2020]
Venício A. de Lima é Professor Emérito da UnB e Pesquisador Sênior do CEBRAP-UFMG

terça-feira, 10 de maio de 2016

Quem quer ajudar Carta Capital? Eles estao precisando de dinheiro...

Caro contribuinte compulsório do governo,
Você sabia que uma parte dos seus impostos vai para veículos mercenários?
Você sabia que você financia aqueles que defendem os corruptos, ineptos, mafiosos?
Não? Pois fique sabendo que nos últimos 13 anos e meio você financiou mesmo aqueles órgãos sabujos da imprensa marron que sustentaram aqueles que roubaram o Brasil durante todo esse tempo.
Agora, eles estão ficando sem dinheiro, e por isso fazem um apelo desesperado, como este que acabo de receber.
Será que é uma "doação legal", estilo PT?
Será que a Receita permite dedução no IRPF de 2017-1016?
Será que os tetos de dedução (para essas coisas, para médicos, etc.) terão correção pela inflação real, ou o próximo governo vai fazer novamente uma correção de mentirinha, cortando a correção a menos da metade?
Não pretendo contribuir para e com quem defende corruptos, mas pode ser que alguma alma piedosa queira ajudar na preservação de espécies ameaçadas de extinção...
Paulo Roberto de Almeida
PS.: como sempre disse, eu leio de tudo: do bom, do mau e do feio...

São Paulo, 10 de Maio de 2016               

Prezado(a) leitor(a) Paulo Roberto de Almeida,

A Carta Maior, com muito esforço, construiu uma história de 15 anos no campo da comunicação progressista de nosso país.
No ano de 2015, as contribuições de nossas leitores e leitores foram fundamentais para que mantivéssemos nosso trabalho independente e combativo.
Diante dos atuais obstáculos que a democracia brasileira enfrenta, é indispensável a contribuição engajada daqueles que estão comprometidos com a defesa da legalidade democrática.
Enviamos abaixo três propostas para você fazer parte desse esforço:
R$ 29,90 ao mês, ou R$ 299,90 ao ano;
R$ 49,90 ao mês, ou R$ 499,90 ao ano;
R$ 99,90 ao mês, ou R$ 999,90 ao ano;

Caso tenha qualquer dúvida, divergência ou sugestão, por favor nos envie um e-mail para xxxxxxxxx@cartamaior.com.br. Se preferir, envie um telefone e o horário mais conveniente para que possamos encontrar em contato.
Desde já, todos nós da Carta Maior agradecemos.
Joaquim Palhares
Diretor da Carta Maior

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

O Hobbes companheiro prepara uma nova obra seminal - Samuel Pinheiro Guimaraes

A despeito de alguns simplismos e banalidades conceituais, aquele que sempre foi o guru ideológico dos companheiros, não apenas na política externa, mas em outras áreas também, perpetra aqui uma coisa que deve ser uma introdução a uma nova obra a ser publicada, saudada e incensada nas hostes companheiras. Não encontrei nada que justificasse a caracterização do título de que seu autor pudesse ser uma espécie de Hobbes tropical, mas nunca se perde por esperar. Pode ser que daí saia um novo tratado de ciência política companheira, aquela que vai justificar todas as patifarias cometidas ao longo desses doze anos (e mais quatro, presumivelmente, salvo incidente de percurso) de roubalheiras generalizadas em nome de causas populares.
Por enquanto só ficamos sabendo que Estado, Economia, Direito e Sociedade Civil só existem em função um dos outros, e vice versa e em todos os sentidos, o que não deixa de ser uma revelação importante para todos aqueles que estudam direito, sociologia, economia ou política. Caso alguém corra o risco de misturar todas essas coisas, não tem problema: o novo Hobbes avisa que está tudo misturado mesmo, mas o que garante a coerência de tudo é -- como não poderia deixar de ser -- o Estado. Imaginem como estaríamos sem Estado, minha gente: nem a sociedade civil existiria!
Existe uma certa "fragância", se ouso dizer, de um texto clássico, que poderia ser uma mistura de Ideologia Alemã (1845) com a Introdução à Crítica da Economia Política (1859), o que aparece de forma mais nítida até nesta linguagem meio antiquada dos "modos de produção", que a gente acreditava que não era mais usada pelos marxistas mais modernos:
"...agências do Estado, garantem a observação das relações entre trabalho e capital (lato sensu), qualquer que seja o sistema econômico de uma determinada sociedade: agrária primitiva, antiga, feudal, capitalista, socialista ou comunista."
[Acho que ele esqueceu o "modo asiático de produção", mas podemos deixar esse detalhe de lado.]

É isso aí minha gente: esperem, nos próximos números desse vibrante órgão do poder companheiro -- devidamente financiado por ele -- os capítulos sucessivos desta fabulosa novela hobbesiana-gramsciana, que vai nos revelar os segredos da ideologia companheira, na conquista e na manutenção do poder idem...
Paulo Roberto de Almeida

Carta Maior, 08/01/2015 - Copyleft

Do Estado, do Direito e da Política: reflexões

Os conceitos de Estado, de Direito e de Política se encontram tão profundamente interligados que não se pode com proveito analisá-los de forma separada.


Samuel Pinheiro Guimarães
Márcia Kalume/Agência Senado
Introdução

Os conceitos de Estado, de Direito e de Política muitas vezes, em teoria, são apresentados e discutidos de forma distinta. Em realidade, se encontram tão profundamente interligados que não se pode com proveito analisá-los de forma separada.

Não há Direito sem Estado, pois a aceitação e a observância das normas jurídicas e sua eventual sanção em caso de descumprimento dependem da existência e da força do Estado que se expressam através de suas agências, entre elas e muito em especial sua polícia. A afirmação de que não há Direito sem Estado não significa negar a existência de direitos humanos inalienáveis. Todavia, somente a luta política pela consagração desses direitos e pelo seu reconhecimento pela legislação e pelo Estado é que permite impor sua observância.

Não há Direito sem Política, pois as normas jurídicas não são elaboradas, executadas e interpretadas em gabinetes acadêmicos a partir de conceitos e de estruturas lógicas cartesianas, mas, sim, em processos conflituosos de disputa de interesses no seio da sociedade e dos organismos do Estado, ainda que cada grupo de interesses conte nestes processos com o auxílio precioso de seus juristas para melhor articular a defesa de seus pontos de vista.

Não há Estado sem Política, pois os dirigentes das distintas agências do Estado, isto é das múltiplas agencias que compõem os seus três Poderes -  Legislativo, Executivo e Judiciário - são escolhidos através de processos políticos, mesmo quando esses processos são disfarçados como procedimentos de aparência tecnocrática, de reduzida transparência e nenhuma participação popular, como ocorre em regimes ditatoriais.

Há uma tendência em certas áreas de estudos acadêmicos e de certos autores a se estabelecer uma distinção e uma separação entre Sociedade Civil e Estado, entre Economia e Estado. A Sociedade Civil é apresentada com uma aura e uma natureza inerentemente boa, um lugar ideal onde os cidadãos, iguais e livres, conviveriam em harmonia se não fora pela existência do Estado, ente maléfico e autoritário que perturba e impede o desabrochar da sociedade civil. A Economia é representada como um espaço livre, dinâmico e criativo, onde empresários, capitalistas e investidores são responsáveis pelo progresso e pela prosperidade de todos enquanto que o Estado aparece como uma entidade intervencionista, ineficiente, corrupta e corruptora.

Todavia, não existe Sociedade Civil sem Estado, mesmo quando este aparece como instrumento de um regime ditatorial ou autoritário, pois sem o Estado e sem normas jurídicas, a sociedade seria tão somente um emaranhado confuso de lutas violentas de interesses. A não ser nos territórios coloniais, onde as instituições do Estado colonial aparecem como criaturas da potência estrangeira, alheia e opressora da sociedade local, se pode falar de separação entre Sociedade Civil e Estado.

Por outro lado, não há Economia sem Estado, pois são as normas jurídicas que regulam as atividades econômicas e que, através das agências do Estado, garantem a observação das relações entre trabalho e capital (lato sensu), qualquer que seja o sistema econômico de uma determinada sociedade: agrária primitiva, antiga, feudal, capitalista, socialista ou comunista.

Hoje há uma tendência a considerar que a expressão mais moderna da Sociedade Civil seriam as organizações não governamentais, que representariam melhor os interesses do povo, principalmente em Estados em que as classes hegemônicas são conservadoras e opressoras. Todavia, em muitas circunstâncias, as organizações não governamentais que atuam em um país, em especial quando é ele subdesenvolvido, representam em realidade interesses particulares e estrangeiros e estão longe de representar a sociedade civil. De toda forma, não têm essas organizações representatividade e legitimidade já que seus integrantes se auto-escolheram, e assim é de estranhar e de preocupar a tendência atual de incorporar representantes de ONGs em organismos do Estado.

Ao tratar dos temas do Estado, do Direito, da Política, da Sociedade e da Economia há sempre uma certa repetição de ideias e de argumentos, devido à sua estreita interelação, pelo que me penitencio

domingo, 19 de outubro de 2014

Carta Maior: um instrumento companheiro censurado pelos proprios companheiros

Que feio companheiros! Fazendo censura totalitária a um instrumento dos próprios companheiros?
Isso acontece, sobretudo em regimes totalitários, aqueles que gostam de reescrever a história passada, alterando fotos e registros documentais, para se adequar às verdades do presente.
Os companheiros são os mais orwellianos dos atuantes na política brasileira.
Parabéns, mais um pouco vai dar para aplicar o Animal Farm inteiramente a vocês...
Paulo Roberto de Almeida

Estava assim (antes da tesoura companheira):

Editorial
18/10/2014
Destaques
Você abusou: crônica de um voto
Lamento, mas minha conclusão é inevitável: o PT é a esquerda que se extraviou. Minha atitude não pode ser outra: voto nulo. Suas alianças preferenciais não dão a menor garantia de que um eventual segundo governo Dilma avançará para uma agenda progressista. Nestas circunstâncias, fica impossível passar um cheque em branco. Fazê-lo, seria ofender a história de tantos combatentes por uma sociedade mais justa
Jacques Gruman
 Jacques Gruman
Jacques Gruman

Mas, surpresa: vamos buscar, e dá nisto: 
Desculpe-nos! Não foi possível encontrar a página solicitada
Conteúdo não Encontrado ou Inexistente.
Você pode ter clicado em um link quebrado, pode ter acessado este endereço a partir de uma busca desatualizada, ou pode ter ocorrido algum problema em nosso servidor.
Se você digitou uma URL, por favor, verifique de ela está correta, e com letras minúsculas.
Você pode entrar em contato conosco para reportando este erro (link para o formulário, na mesma página, abaixo) ou ler as últimas notícias da Carta Maior

Não seja por isso: eu (PRA), coloco aqui o que está faltando no site companheiro: 

  http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/10/eleicoes-2014-ate-esquerda-desistiu.html

Eleicoes 2014: ate a esquerda desistiu! Socialistas sinceros desistemdo PT e sua candidata

Carta Maior, como todos sabem, faz parte da máquina de propaganda alugada pelo PT e paga por todos nós, com publicidade oficial e dinheiro das estatais, que deveriam ser apartidárias, mas foram todas aparelhadas pelos neobolcheviques mafiosos.
Pois bem: até a revista já farejou a derrota, e abre seu espaço para um dissidente da malta de sabujos amestrados que escreve habitualmente naquele veículo da causa companheira.
Com todos os equívocos das posições de esquerda, ainda falando em projeto socialista -- que o PT teria abandonado -- e coisas do gênero, mas claramente contrário ao rumo que as coisas tomaram no outrora "partido da ética" (nunca foi), e declarando voto nulo.
Já é um sinal que muitos jogaram a toalha no campo dos fraudadores da verdade e dos mentirosos contumazes.
Apenas constato. Cada um que tire sua conclusão.
Paulo Roberto de Almeida 

Você abusou: crônica de um voto

Lamento, mas minha conclusão é inevitável: 

 o PT é a esquerda que se extraviou. 

Minha atitude não pode ser outra: voto nulo.


Jacques Gruman
reprodução
Você abusou/Tirou partido de mim, abusou (Antônio Carlos e Jocafi)

Não me lembro de eleições tão geladas. Desde o primeiro turno, o que se viu foi pouca ou nenhuma militância na rua, panfletagens terceirizadas, pessoas desmotivadas/revoltadas com as sucessivas denúncias de malfeitos públicos. Some-se a isso o nível medíocre da grande maioria das candidaturas, a despolitização metodicamente praticada pelos principais partidos da ordem, o descarado abuso do poder econômico e as diferenças cosméticas entre os cavalos vencedores, e se entenderá a enorme fatia de eleitores que preferiram não cravar partidos ou candidatos (votos brancos e nulos). Neste segundo turno, apesar da polarização entre PT e PSDB, a situação é basicamente a mesma. Candidatos reféns de marqueteiros e das pesquisas de opinião, baixíssima mobilização, intensa movimentação nos bastidores (inacessível ao público, embora decisiva para definir rumos e compromissos do próximo governo).

Em quem votarei agora? Parto de duas premissas. Sou contra o voto biliar, histérico, que se define pela agressividade, pelo preconceito, pelo rancor. No estilo do velho cacique Jorge Bornhausen, que disse, referindo-se ao PT, “vamos acabar com essa raça”. A falta de cultura política fortalece os iracundos, que não se restringem à burguesia e à classe média. Também não voto na direita, que, agora, orbita em torno de Aécio Neves. Seu partido e aliados ressurgem como opção conservadora, acenando com o recrudescimento das privatizações, o tratamento inflexível/policial das reivindicações dos trabalhadores, a política externa subserviente aos interesses do imperialismo.

Restaria, por acomodação ou osmose, votar em Dilma Rousseff, hipotética cabeça de uma alternativa progressista. Em outras ocasiões, influenciado pelo “voto útil”, pela escolha do “mal menor”, cravei PT em segundos turnos. O resultado, lamento informar, foi pior do que decepcionante. Daí que prefiro não agir mecanicamente, não ir a reboque de um voto que parece óbvio à primeira vista. Elaboro o raciocínio.

Começo pela candidata. Apesar de ter quadros qualificados, com densidade política e larga experiência eleitoral, o PT preferiu o poste sugerido por Lula. Ecos do maquiavelismo getulista com relação ao marechal Mascarenhas de Moraes? Dilma é, claramente, uma burocrata de maus bofes, sem o menor tesão pelo jogo político. Neste aspecto, o uso da foto dos tempos de luta armada pelos marqueteiros, a Dilma “coração valente”, não passa de demagogia. O passado de luta contra a ditadura foi soterrado por grossas camadas de pragmatismo. Tenho sempre a sensação de que ela faz campanha eleitoral com profundo tédio, contrariada mesmo. Seu desempenho em debates é sofrível. Comporta-se como piloto de data show, preferindo gráficos e estatísticas a argumentos políticos. Sua dificuldade de argumentação fora da bitola estreita dos marqueteiros chega a ser comovente, quando não constrangedora. Um outro detalhe chama a atenção. Jamais cita seu partido nos debates. Desserviço grave num ambiente em que se costuma personalizar o que deveria ser construção coletiva.

Agora, o partido. Respeito a origem do PT, que nasceu numa conjuntura de ascensão das lutas populares. Socialista na raiz, abandonou o barco quando a perspectiva de chegar à presidência tornou-se concreta. Na Carta ao Povo Brasileiro (erradamente lembrada como Carta aos Brasileiros), de 2002, o partido dobra a espinha aos mercados e, mais à frente, confirma a inclinação à direita mantendo os pilares econômicos do governo anterior. Henrique Meirelles, executivo da banca internacional, é nomeado por Lula para o Banco Central, acalmando de vez a burguesia. Daí por diante, o que se viu foi um deslizamento consistente rumo ao centro e à direita. Quando Fernando Henrique anunciou, em 1994, a aliança com o então PFL, foi uma surpresa. Como era possível que o Príncipe dos Sociólogos, que panfletou junto com Lula nas greves do ABC, em fins dos anos 70, estendesse a mão para Antônio Carlos Magalhães ? Em 2012, Paulo Maluf recebeu Lula e lideranças petistas para um almoço. Na sobremesa, um acordo garantiu um tempinho adicional na TV para a campanha à prefeitura de São Paulo. A falta de escrúpulos em nome da “governabilidade” é equivalente em ambos os casos. Renan Calheiros, Fernando Collor e José Sarney fazem parte da base aliada que governa o país junto com o PT. Delfim Neto, que jamais fez uma autocrítica por sua atuação durante a ditadura, é tido como homem “progressista” e ouvido com respeito por aves de alta plumagem do partido. A aliança com as ruas se decompôs e deu lugar a um pragmatismo descaracterizador, que joga os petistas nos braços do que há de mais atrasado e corrompido na política nacional. Os movimentos sociais, com raras exceções, foram cooptados, anestesiados, domesticados.  Lamento, mas a conclusão é inevitável: o PT é a esquerda que se extraviou. Não à toa, Tarso Genro, quadro histórico do partido, observou que “se o Lula não ficar na frente do movimento de renovação profunda, o PT pode se transformar numa espécie de PMDB pós-moderno”. Se o Messias não chegar, o mundo desaba ?

Não se trata de negar melhorias para as camadas mais pobres da população, nos doze anos petistas. Foram importantes, sem dúvida, mas são absolutamente insuficientes para caracterizar um projeto de esquerda. Antes de mais nada, um esclarecimento. As políticas compensatórias implementadas pelos governos Lula e Dilma não significaram uma diminuição real da desigualdade no Brasil. Cito o economista Reinaldo Gonçalves, da UFRJ, dificilmente rotulável como besta fera da direita: “Com raras exceções, essas políticas limitam-se a alterar a distribuição da renda na classe trabalhadora (salários, aposentadorias e benefícios), sem alterações substantivas na distribuição funcional da renda, que inclui, além do salário e das transferências, as rendas do capital (lucro, juro e aluguel)”. Como corolário, a desigualdade entre a renda do capital e do trabalho, indecente no nosso país, permanece intocada. Os banqueiros continuam rindo à toa. Como que a confirmar a bonança dos ricos em mares petistas, relatório recente sobre a riqueza global informa que o Brasil tem 296 mil pessoas entre o 1% mais rico do mundo, e mais de 5 milhões entre os 10 do topo. É mais do que os outros seis emergentes citados no relatório. O número de milionários não para de crescer.

Voltando à questão das políticas compensatórias. Transferir recursos para os pobres, sem educá-los para compreender a estrutura que alimenta e multiplica a pobreza, traz duas consequências: a) Consolida o conformismo (Mas doutor uma esmola/para um homem que é são/ou lhe mata de vergonha/ou vicia o cidadão – Luiz Gonzaga); e b) Abre as portas para o messianismo. Desorganizado e desorientado, o povo continuará à espera de políticos “sensíveis” para resolver seus problemas. Não tem condições de compreender, sozinho, seu papel de protagonista das transformações. Um partido de esquerda não deve, jamais, renunciar ao papel de educador político das massas. Isso não se faz sem confrontar interesses de classe. O PT não tem sido esse partido.

Em toda a campanha eleitoral, o PT jamais esboçou ao menos um programa mínimo de demandas identificadas com a esquerda. Em determinados momentos, acovardou-se com pressões reacionárias (como aconteceu, por exemplo, com as discussões sobre o aborto e a homofobia). Suas alianças preferenciais não dão a menor garantia de que um eventual segundo governo Dilma avançará para uma agenda progressista. Nestas circunstâncias, fica impossível passar um cheque em branco. Fazê-lo, seria ofender a minha história e a de tantos combatentes por uma sociedade mais justa e fraterna. Entre eles, muitos que ajudaram a fundar o PT. Minha atitude não pode ser outra: voto nulo. Com o compromisso de apoiar a construção de uma Frente de Esquerda, que, para além das eleições, formule e implemente uma estratégia socialista para o Brasil.

Em tempo: Não falei sobre o segundo turno das eleições para o governo do Rio. Não há muito o que falar. O Estado do Rio, que já foi caixa de ressonância cultural e política do país, vai escolher entre duas máfias: uma religiosa, escorada pelo trio Crivella, Garotinho & Lindbergh, outra clássica, patrocinada por Cabral e seus Blue Caps. Entre don Corleone e don Altobelo, prefiro ... chamar a polícia ! Nulo de novo.