O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

Mostrando postagens com marcador livro. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador livro. Mostrar todas as postagens

domingo, 8 de janeiro de 2017

Como os holandeses perderam o Brasil? Um livro do pesquisador Michiel van Groesen

Como os holandeses da Companhia das Índias Ocidentais perderam o Brasil? Bem, eles nunca o possuíram, de verdade. Conquistaram, pela força das armas, num momento em que a administração portuguesa tinha sido enfraquecida pela incorporação do reino de Portugal aos domínios da Casa espanhola (União Ibérica, 1580-1640), e depois tiveram dificuldades em manter, inclusive porque não pretendiam fazer nada de muito diferente do que os colonizadores portugueses já estavam fazendo. Esta exposição, e livro, jogam mais luz sobre a questão.

Paulo Roberto de Almeida

How Dutch Brazil was lost

The Amsterdam media played a major role in the rise and fall of Dutch Brazil, the colony held briefly by the Dutch West India Company in the 17th century. This is the conclusion reached by Professor of Maritime History Michiel van Groesen in his book ‘Amsterdam’s Atlantic’.
Amsterdam's Atlantic: Print Culture and the Making of Dutch Brazil 
Penn Press 272 blz. Hardcover | ISBN 978-0-8122-4866-1 | € 41,50 
Ebook | ISBN 978-0-8122-9345-6


Colony was front-page news

Few Dutch people know that from 1630 to 1654 Brazil was a Dutch colony even though in the Golden Age events in Brazil were for years front-page news for the period's many newspapers and pamphlets. This is the conclusion reached by Van Groesen based on his research on how contemporary media reported on the colony. 

Europe's media capital

Amsterdam at that time was Europe's media capital because of the city's relatively high level of press freedom. Newspapers were published weekly and there were also many pamphlets in circulation in the city. The Amsterdam media had significant influence on public opinion not only in the Netherlands but also in the rest of Europe where Dutch reports were translated into local languages.    
Andries van Eertvelt, The Dutch Conquest of  Salvador (Antwerp?, 1624?).
At that time it took seven to nine weeks before a ship brought news from Brazil to the Republic. 

Media initially enthusiastic

Initially, the papers wrote enthusiastically about the conflict in the New World. In the seventeenth century the Dutch Republic was at war with Spain, and in 1624 decided to launch a second front in Brazil, a Portuguese colony under Spanish rule. There were positive reports in the media about the many opportunities in the region: for the trade in sugar, for example, and as a means of expanding geopolitical influence. 

Lost battles and corruption

Opinion makers were under the influence of Amsterdam regents and merchants, who were originally positive, Van Groesen comments. But the newspapers quickly turned their attention to issues that the elite preferred to keep under wraps: battles lost and corruption in the colony being two such issues. Surprisingly enough, the slave trade was paid little attention by the media. The West India Company used African slaves for work in the colony.
A news report on the Dutch war fleet that was used in Brazil, Courante extraordinarij, 27 August 1624

Public opinion reversed

Brazil never came completely under Dutch control, which meant that money and troops had to be sent repeatedly to the colony. The media began to include critical reports of Amsterdam regents who were sceptical about the situation, unlike the regents in Zeeland who were more favourably disposed towards Brazil. Under the influence of the media, public opinion turned slowly but surely against the money-guzzling colony.   
Claes Jansz. Visscher, news print of the conquest of Olinda and Recife by the West India Company (Amsterdam, 1630)

WIC criticised

The propaganda bulletins from the WIC were ineffective in turning the tide of public opinion. Van Groesen also examined the correspondence of politicians and merchants of the period. Amsterdam merchants, too, began to oppose the monopoly enjoyed by the WIC, and consequently withdrew their support. 

‘Brazil was neglected’

When in 1645 the Portuguese were threatening to drive the Dutch out of Brazil, the Amsterdam regents blocked a proposal to send a fleet to the region. In 1654 the Portuguese managed to expel the Dutch completely and returned the colony to Portuguese rule. This loss was felt for a long time as a 'national disgrace', according to Van Groesen. Those who had wanted to retain Brazil talked about a 'Neglected Brazil'. 'People no longer wanted to talk about this scandal, which explains why so few Dutch people today know that Brazil was ever a Dutch colony.' 

(LvP)
Amsterdam's Atlantic: Print Culture and the Making of Dutch Brazil 
Penn Press 272 blz. Hardcover | ISBN 978-0-8122-4866-1 | € 41,50 
Ebook | ISBN 978-0-8122-9345-6

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Post-Western World: um livro e um debate com Oliver Stuenkel (IPRI, 13/12/2016)

Com a presença do autor, e uma audiência composta de diplomatas, professores e estudantes, o IPRI e a Funag realizaram nesta terça--feira 13/12/2016, no auditório do Anexo II do Itamaraty, um debate-apresentação em torno deste livro: 

Oliver Stuenkel
Post-Western World: How Emerging Powers Are Remaking Global Order
(Malden, MA: Polity Press, 2016, 252 p.; ISBN: 978-1-5095-0457-2)

Oliver Stuenkel é Professor de Relações Internacionais da Fundação Getulio Vargas (FGV) em São Paulo, onde coordena a Escola de Ciências Sociais e o MBA em Relações Internacionais. Tem graduação pela Universidade de Valência, na Espanha, Mestrado em Políticas Públicas pela Kennedy School of Government de Harvard University, e Doutorado em Ciência Política pela Universidade de Duisburg-Essen, na Alemanha. É colunista da revista Americas Quarterly e autor de outros livros, entre eles este anterior:


O índice do livro Post-Western World é o seguinte: 

Introduction, 1
1. The Birth of Western-Centrism, 29
2. Power Shifts and the Rise of the Rest, 63
3. The Future of Soft Power, 97
4. Toward a Parallel Order: Finance, Trade, and Investment, 120
5. Toward a Parallel  Order: Security, Diplomacy, and Infrastructure, 154
6. Post-Western World, 181
Conclusion, 195
Notes, 206

Sua apresentação, intitulada "Rumo ao mundo sinocêntrico?: as transformações globais e suas implicações para o Brasil", consistiu num resumo geral das principais teses do livro, entre elas a visão ainda enviesada, construída pelo mundo ocidental, da ordem global, que vem sendo transformada significativamente ao longo dos séculos, e especialmente nas últimas décadas de retomada do processo de globalização e de ascensão de novas potências emergentes, entre elas, com destaque, a China, que já foi a maior economia do planeta até o final do século 18. 

A ascensão da China não se faz apenas com soft power, mas também  com base em fatores reais de poder, ou seja, crescimento econômico, expansão comercial, domínio de finanças e construção de novos vetores de poder real, que conformam o que ele chamou de "ordem paralela" expressa em novas instituições nas financas (Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura, e Novo Banco de Desenvolvimento, dos Brics), comércio (explosão de acordos de liberalização e de livre comércio e de preferências em diversos esquemas regionais e mais além), investimentos (grandes obras e cooperação com um grande número de países, não só em desenvolvimento, mas também em países desenvolvidos), segurança (esquemas negociados com vizinhos e países selecionados, medidas de construção de confiança), diplomacia (ofensiva de charme e de realpolitik em formatos diversos, entre eles o Brics) e infraestrutura (nova rota da seda, grandes obras em outos continentes, como um canal na Nicarágua).
Essa "ordem paralela" não pretende substituir as instituições existentes, mas complementar os arranjos que resultaram da ordem anterior, com uma abordagem adaptada aos requerimentos dos emergenes, e com isso a ordem global se aproximaria do cenário do mundo pós-ocidental.  

Eis a apresentação sumária do livro "Post-Western World" e link na Amazon: 


With the United States’ superpower status rivalled by a rising China and emerging powers like India and Brazil playing a growing role in international affairs, the global balance of power is shifting. But what does this mean for the future of the international order? Will China dominate the 21st Century? Will the so–called BRICS prove to be a disruptive force in global affairs? Are we headed towards a world marked by frequent strife, or will the end of Western dominance make the world more peaceful?

In this provocative new book, Oliver Stuenkel argues that our understanding of global order and predictions about its future are limited because we seek to imagine the post–Western world from a parochial Western–centric perspective. Such a view is increasingly inadequate in a world where a billions of people regard Western rule as a temporary aberration, and the rise of Asia as a return to normalcy. In reality, China and other rising powers that elude the simplistic extremes of either confronting or joining existing order are quietly building a "parallel order" which complements today’s international institutions and increases rising powers′ autonomy. Combining accessibility with expert sensitivity to the complexities of the global shift of power, Stuenkel’s vision of a post–Western world will be core reading for students and scholars of contemporary international affairs, as well as anyone interested in the future of global politics.

Eu teria várias observações a fazer  às teses e argumentos do livro de Oliver Stuenkel, mas ainda tenho de ler o livro atentamente para comentar seus elementos mais importantes. Não que eu discorde do sentido geral da tese principal, ou seja, a de que estamos caminhando para uma ordem global, não só no terreno econômico, mas também no político, estratégico e militar, bastante diferente daquela ordem implementada na imediata sequência da Segunda Guerra Mundial, ou seja, Bretton Woods, Gatt-OMC, OCDE, e uma governança consolidada no G7 a partir dos anos 1970, mas que veio a termo nos anos 1990-2000, em especial com a ascensão da China e da Índia.
Existem vários desafios ao Brasil nesse novo cenário, e este é um debate que teremos de fazer novamente com Oliver Stuenkel, na primeira oportunidade que tivermos em 2017.

Creio que esse debate, que foi transmitido online e registrado em vídeo (que estará disponível no canal YouTube da Funag, dentro de algum tempo), constituiu uma excelente oportunidade para que Oliver Stuenkel apresentasse a um público seleto (e a todos os que assistiram, e os que ainda vão assistir, ao vídeo) suas principais teses sobre o mundo pós-ocidental. 

Na sequência, mantive um diálogo de 20 minutos aproximadamente com Oliver Stuenkel em torno dessas teses, e algumas outras questões, para a série "Relações Internacionais em Pauta", entrevistas em vídeo que vem sendo acumuladas no canal YouTube do site do IPRI, e que editaremos para fazer um próximo upload. Aguardem.
Nos agradecimentos prévios ao livro, Oliver agradece à sua esposa, Beatriz, em que reconhece trabalho extra, entre o ativismo político e a dedicação acadêmica, assim como a seus três filhos: Anna, Jan e Carlinha, que ele acredita crescerão num mundo pós-ocidental. 
Acredito que sim, mas seus filhos vão continuar bebendo Coca-Cola, mascando chiclete -- que são velhas contribuições da civilização ocidental, neste caso americana, ao mundo, assim como vão usar algum sucedâneo do iPhone e sucessores do iPad, até que os chineses ofereçam os seus equivalentes, provavelmente de performance maior, e custo menor, mais ainda assim baseados num conceito ocidental do mundo e das comunicações, que o mundo emergente ainda imita, sem verdadeiramente superar, até o momento. Vamos ver o que os pós-ocidentais oferecem de produtos e gadgets tão revolucionários quanto estes.
Vamos continuar esse debate de alto nível nos próximos meses, talvez anos, com a participação de todos os diplomatas e acadêmicos engajados em temas de política mundial e relações econômicas internacionais.

Os interessados em adquirir o livro de Oliver Stuenkel, podem encontrá-lo aqui:
https://www.amazon.com/Oliver-Stuenkel/e/B00P1ZSQP0

Paulo Roberto de Almeida 
Brasília, 13 de dezembro de 2016
(Fotos de  Carmen Lícia Palazzo, a quem agradeço a cessão)

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

San Tiago Dantas, antes de se tornar "diplomata" - Escritos Politicos, 1929-1945


O mesmo autor está escrevendo a biografia de San Tiago Dantas, e já publicou o primeiro volume, relativo à primeira fase de sua vida, como estudante, professor, advogado, antes de se tornar o tribuno, o político, e o "diplomata" que foi, numa segunda fase, infelizmente precocemente final, de sua vida, no final dos anos 1950 e início dos 60 (ele morreu em setembro de 1964, depois de ter sido chanceler e ministro da Fazenda).
 

Lançamento: ESCRITOS POLÍTICOS 1929-1945 de San Tiago Dantas
Organizado por Pedro Dutra
Data: 18 de novembro de 2016 (sexta-feira)
Horário: 19h
Local: Livraria da Travessa do Shopping Leblon,
           Av. Afrânio de Melo Franco, 290 – Rio de Janeiro



Editora Singular LtdaTel/Fax: 55 11 3862-1242

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

"Memorial Organico (Uma proposta para o Brasil em meados do seculo XIX)" - Francisco Varnhagen (novo livro Funag)

FUNAG reeditou Memorial Orgânico (Uma proposta para o Brasil em meados do século XIX)

FUNAG reeditou "Memorial Orgânico (uma proposta para o Brasil em meados do século XIX)", de Francisco Adolfo de Varnhagen, com ensaios introdutórios de Arno Wehling. A obra constitui uma reflexão sobre os desafios que o Império enfrentava e impressiona por sua atualidade. Trata-se da expressão mais eloquente do pensamento  geopolítico e estratégico do autor.

O livro já está disponível para download gratuito na Biblioteca Digital da FUNAG.