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segunda-feira, 22 de abril de 2019

Comite de Tutela militar sobre o Itamaraty: como anda o assunto?

Leio novamente uma matéria publicada no Estadão de 12 de janeiro, sobre a criação de um comitê de tutela sobre o Itamaraty. Parece que sua ação já se exerceu algumas vezes.
Não sei se continua ativo.
A conferir.
Paulo Roberto de Almeida

Governo cogita criar conselho para assuntos internacionais
 O Estado de S. Paulo, 12/01/2019 - Manchete principal: 

Governo cogita conselho para área internacional”* - O desgaste que bateu à porta do Palácio do Planalto, desta vez provocado pela troca de comando na Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), impulsionou a ala do governo que quer blindar o Itamaraty de novos episódios negativos. A ideia, agora, é criar um conselho de ministros para assessorar o presidente Jair Bolsonaro em temas sensíveis da área internacional. À frente desse grupo estão dois generais: o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno Ribeiro, e o vice-presidente da República, Hamilton Mourão. Nos bastidores, tanto Heleno quanto Mourão têm feito contatos externos para tentar apaziguar os ânimos, contornar tropeços e até amenizar declarações dadas por Bolsonaro sobre assuntos controversos ainda não resolvidos, como a transferência da embaixada do Brasil de Tel-Aviv para Jerusalém. O risco de um estremecimento com a China é outra preocupação, uma vez que traz maior potencial de perdas para a economia.
Ao Estado, Mourão pregou a instalação de um conselho de ministros para avaliar temas estratégicos e evitar novas polêmicas. “Acho que, quando forem ser tomadas decisões relativas à área internacional, o presidente tem que reunir um conselho de ministros ligados ao tema em questão”, afirmou o vicepresidente. No seu diagnóstico, a composição desse colegiado pode variar conforme o assunto em pauta, mas, basicamente, o grupo seria formado por ele e pelos ministros Ernesto Araújo (Relações Exteriores), Paulo Guedes (Economia), Fernando Azevedo (Defesa) e Tereza Cristina (Agricultura). “O conselho teria a tarefa de espancar ideias junto com o presidente para ele tomar uma decisão, ouvindo todas as opiniões sobre o assunto”, disse Mourão. Questionado se estaria atuando como uma espécie de contraponto a Araújo, o vice negou. Argumentou, no entanto, que é o governo que fala pelo País em grandes questões internacionais. “Agora, toda vez que o presidente me convocar, eu vou emitir a minha opinião.”

Matéria completa:

O Estado de S. Paulo, 12/01/2019

BRASÍLIA - O desgaste que bateu à porta do Palácio do Planalto, desta vez provocado pela troca de comando na Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), impulsionou a ala do governo que quer blindar o Itamaraty de novos episódios negativos. A ideia, agora, é criar um conselho de ministros para assessorar o presidente Jair Bolsonaro em temas sensíveis da área internacional. À frente desse grupo estão dois generais: o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI)Augusto Heleno Ribeiro, e o vice-presidente da República, Hamilton Mourão
Nos bastidores, tanto Heleno quanto Mourão têm feito contatos externos para tentar apaziguar os ânimos, contornar tropeços e até amenizar declarações dadas por Bolsonaro sobre assuntos controversos ainda não resolvidos, como a transferência da embaixada do Brasil de Tel-Aviv para Jerusalém. O risco de um estremecimento com a China é outra preocupação, uma vez que traz maior potencial de perdas para a economia.
Ao Estado, Mourão pregou a instalação de um conselho de ministros para avaliar temas estratégicos e evitar novas polêmicas. “Acho que, quando forem ser tomadas decisões relativas à área internacional, o presidente tem que reunir um conselho de ministros ligados ao tema em questão”, afirmou o vice-presidente. No seu diagnóstico, a composição desse colegiado pode variar conforme o assunto em pauta, mas, basicamente, o grupo seria formado por ele e pelos ministros Ernesto Araújo (Relações Exteriores), Paulo Guedes (Economia), Fernando Azevedo (Defesa) e Tereza Cristina(Agricultura). 
“O conselho teria a tarefa de espancar ideias junto com o presidente para ele tomar uma decisão, ouvindo todas as opiniões sobre o assunto”, disse Mourão.
Questionado se estaria atuando como uma espécie de contraponto a Araújo, o vice negou. Argumentou, no entanto, que é o governo que fala pelo País em grandes questões internacionais. “Agora, toda vez que o presidente me convocar, eu vou emitir a minha opinião.” 
Baixa. No Palácio do Planalto, o impasse que levou à demissão de Alex Carreiro da presidência da Apex, agência subordinada ao Itamaraty e desde esta sexta-feira, 11, dirigida pelo embaixador Mario Vilalva, foi visto como o estopim das trapalhadas no setor internacional. A saída é a primeira baixa no Executivo em dez dias de governo. Em conversas reservadas, auxiliares de Bolsonaro disseram não entender como um assunto tão paroquial, que poderia ter sido resolvido com diplomacia, teve de parar no gabinete do presidente. 
Apesar das negativas oficiais, na prática o Planalto já acompanha de perto os passos do Itamaraty. Demandas de outras pastas, relacionadas ao comércio exterior, são levadas ao Gabinete de Segurança Institucional (GSI). O general Augusto Heleno, chefe do GSI, tem resolvido questões da área internacional, apresentadas por colegas de governo, diretamente com Bolsonaro, sem a participação de Araújo. Discreto, ele não fala sobre o assunto. “Sou o soldado do silêncio”, desconversou. 
Nesta quinta-feira, 9, por exemplo, Heleno recebeu o novo embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, como revelou a Coluna do Estadão. Na pauta, o estreitamento da relação entre os dois países. Quando ainda era candidato à Presidência, Bolsonaro acusou a China de estar “comprando o Brasil”. 
Antes de assumir o Itamaraty, Araújo escreveu em artigos e ensaios que o país asiático estava sob um sistema de dominação “disfarçado de pragmatismo e abertura econômica” e definiu o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, como um “raro líder” que decidiu reagir após identificar um processo de decadência do Ocidente. 
Mourão também já se reuniu com integrantes da Câmara de Comércio Árabe, além da chinesa. Em mais de uma ocasião, o vice disse que o Brasil não pode se descuidar do relacionamento com outros atores da arena internacional, como a China.
O Itamaraty é atualmente, na avaliação de militares de alta patente ouvidos pelo Estado, o principal núcleo de “vulnerabilidade” do novo governo. Assim como as Forças Armadas, o Ministério das Relações Exteriores se destaca por ser uma instituição com cultura própria arraigada, que agora passa por alterações de estrutura na nova gestão. 
Por decreto, Araújo extinguiu o departamento responsável por negociações de acordos comerciais e abriu espaço para contratar assessores de fora da carreira. Além disso, o chanceler permitiu que diplomatas de cargos mais baixos ocupem postos antes restritos àqueles com mais experiência. Em conversas reservadas, militares afirmaram que é como se um praça pudesse agora chefiar um oficial. Argumentaram, ainda, que Araújo dispensou a experiência de embaixadores que representam o País há anos no exterior e agora estão “sem emprego no próprio Itamaraty”.
Davos. A preparação da viagem de Bolsonaro, nos próximos dias, para o Fórum Econômico Mundial, em Davos, também tem contado com a orientação dos titulares da Economia e da Agricultura. Informalmente, a ministra Tereza Cristina tem aconselhado o presidente especialmente no discurso sobre a questão indígena, tema tratado pela imprensa internacional. Ela mostrou a Bolsonaro uma reportagem do jornal americano The New York Times com críticas à política indigenista e observou que o governo brasileiro está sendo mal compreendido no exterior. 

Procurado pela reportagem, o Itamaraty não se pronunciou.

domingo, 21 de abril de 2019

Carlos Malamud: nacionalismo europeu, confusão latino-americana (La Nacion)

Carlos Malamud nos visitou no começo de abril: ele deveria fazer uma palestra no IPRI, sobre justamente o tema da integração latino-americana, ou seja nada – já que demais temas poderiam suscitar reações da nova administração esquizofrênica –, mas não apenas fui proibido de fazer qualquer coisa desde janeiro, mas também fui defenestrado – a palavra correta é exonerado – numa manhã de Carnaval, porque o ministro acidental, servo da tropa de olavistas e bolsonaristas que ainda manda no governo, ficou amuado com certas verdades que eu disse sobre a sua lamentável política externa e sua patética diplomacia, ambas que ele apenas implementa, mas não conduz.
Fizemos o evento na UnB, e o tema mudou: "política externa brasileira: passado, presente e futuro". 
Sobre essa tal de integração latino-americana, reproduzo o único parágrafo no qual ele se pronuncia sobre o novo avatar desse infindável processo, sempre recomeçando: 

"¿Qué novedad aporta el Prosur?
Ninguna. El Prosur sigue la estela de lo que ha sido el proceso de integración regional en los últimos años, una permanente huida hacia adelante. Es decir, cuando algo no funciona, se pretende crear algo nuevo de la nada. El Prosur es un producto casi vacío de contenido, más vinculado a la intuición presidencial que a informes serios y razonados sobre por qué es mejor crear una cosa nueva que reconfigurar lo viejo, que sería la Unasur. La única ventaja que le veo al Prosur es que su proyecto no prevé la creación de un parlamento regional asociado a la institución. América Latina es la región del mundo que más parlamentos regionales tiene, lo cual es un absurdo total."

Paulo Roberto de Almeida 


Carlos Malamud: "La realidad es muy tozuda; la política ideologizada tiene límites concretos"



El historiador destaca el malestar con la política tradicional que rige las elecciones españolas del próximo domingo, fenómeno también presente en América Latina
El historiador destaca el malestar con la política tradicional que rige las elecciones españolas del próximo domingo, fenómeno también presente en América Latina  Crédito: PATRICIO PIDAL/AFV
A una semana de las elecciones generales en España, el historiador Carlos Malamud, investigador principal del Real Instituto Elcano, prestigioso think tank español, resalta el contexto de gran incertidumbre e inestabilidad política en el que se celebrarán esos comicios. Además, advierte sobre la irrupción de Vox, un partido de extrema derecha que "está capitalizando el descontento de buena parte de la sociedad española, incluidos los independentistas catalanes".
Catedrático de Historia de América Latina en la Universidad Nacional de Educación a Distancia (UNED), Malamud lleva décadas analizando la región desde la óptica europea. Respecto del proceso de integración en América Latina, considera que el Prosur es "un producto casi vacío de contenido", que "no aporta ninguna novedad". Según el catedrático, esta reciente iniciativa que busca reemplazar a la Unasur "sigue la estela de lo que ha sido el proceso de integración regional", al que define como una "permanente huida hacia adelante". En este sentido, y en relación a la dificultad de crear bloques regionales duraderos, asegura: "Siempre que algo no funciona, se pretende crear algo nuevo de la nada".
Por otra parte, el investigador no cree que aún se pueda hablar de un posible giro a la derecha en América Latina: "El panorama es mucho más matizable y variado", sostiene.
¿Qué es lo que está en juego en las elecciones generales del próximo domingo en España?
Lo que está en juego en estas elecciones, que se celebran en un contexto de gran incertidumbre e inestabilidad política, es la formación de un nuevo gobierno. Esto no será fácil, dado que ningún partido puede ya reunir por sí sólo una clara mayoría. La fragmentación del parlamento español es superior a lo normal, algo que se asocia a la crisis de los partidos tradicionales, es decir, el Partido Socialista Obrero Español (PSOE) y el Partido Popular (PP). El sistema bipartidista que imperó en España desde la transición se agotó en 2015, cuando aparecieron Ciudadanos y Podemos. Y hoy ese sistema devino en pentapartito, a partir de la irrupción de Vox y otros partidos regionales.
Un mes después de estos comicios habrá elecciones municipales, autonómicas y europeas. ¿Cómo puede impactar eso?
Dada la alta fragmentación del voto que se verá en las elecciones del próximo domingo, la formación del gobierno español seguramente se retrase hasta que se conozca el resultado de las elecciones de mayo, lo que evitará que los resultados se vean condicionados.
Las últimas encuestas dan cuenta de un alto porcentaje de indecisos. ¿Puede haber sorpresas?
Si bien un 76% de los españoles asegura que votará, el 42% aún no sabe por quién. La volatilidad es tan alta que muchos estudios de opinión dicen que, con una variación del 3%, puede haber mayorías que hoy no se contemplan.
¿Cuáles son las mayorías que hoy se contemplan?
Sabemos que el PSOE será el que obtendrá más votos. Ahora bien, hay tres escenarios posibles: una alianza con Ciudadanos o, más hacia la izquierda, con Podemos. Otra opción sería una coalición de derechas. Y un cuarto escenario sería repetir elecciones. Lo que está claro es que ningún partido podrá obtener una mayoría absoluta.
¿Qué factores explican la irrupción de Vox?
La irrupción de partidos nacionalistas y xenófobos se explica por una creciente insatisfacción con la democracia, en parte producto de la crisis económica de 2008, junto con el achicamiento de la clase media. En el caso español, también se ponen en juego cuestiones como la crisis migratoria que sufrió la Unión Europea tras la llegada masiva de refugiados sirios, donde no hubo respuestas coordinadas de los Estados miembros, pese a los esfuerzos de Bruselas. Al mismo tiempo, la globalización lleva a que ciertos sectores sociales insistan con determinadas formas de identidad. Todo eso en el contexto de una creciente polarización política y de deterioro de las instituciones, junto a un fuerte sentimiento antieuropeo que responsabiliza a la burocracia bruselense de buena parte de lo que está pasando hoy.
¿Cree que Vox pueda canalizar el descontento catalán?
Lo que hace Vox para crecer es capitalizar el descontento de buena parte de la sociedad española, incluidos los independentistas catalanes. Ese es uno de los factores de movilización de Vox, otro es la antiglobalización y antiinmigración. Lo curioso es que uno de los sectores más radicalizados del independentismo catalán está mirando cada vez más a una derecha populista. El discurso de Carles Puigdemont tiene un mensaje cada vez más antieuropeo, xenófobo y supremacista.
Días atrás, el líder de la Liga Norte italiana, Matteo Salvini, lanzó una suerte de 'internacional populista' en Europa. ¿Es factible algo así?
Es muy difícil, porque cada partido de extrema derecha tiene su propia agenda. Es verdad que uno de los que está detrás de todo esto es Steve Bannon, que con su movimiento dirigido desde Roma está intentando forjar una gran unión. Pero conciliar posturas tan diversas es complicado: algunos tienen un lenguaje mucho más nacionalista, otros son más eurófobos, algunos son laicos y otros ultrarreligiosos católicos.
¿Cómo se ubica América Latina ante los realineamientos globales que se vuelcan cada vez más hacia la ultraderecha?
En el caso de Brasil, el triunfo de Bolsonaro no se entiende sin el fuerte sentimiento antipetista existente, forjado en apenas cinco años. Pero claro, frente al descontento no hay una única respuesta social y popular. Mientras que el enojo con el sistema en Brasil dio lugar a Jair Bolsonaro, en México permitió la llegada de Andrés Manuel López Obrador (AMLO). Ambos llegaron presentándose como outsiders, planteando la necesidad de modificaciones profundas de los sistemas políticos de sus países. La matriz de la que surgen estos dos personajes, que están en las antípodas ideológicas, es la misma: desafección con la democracia, corrupción, crisis económica, falta de respuesta de los partidos tradicionales frente a las necesidades populares, deterioro de las clases medias. ¿Qué puede pasar mañana en un tercer país? Eso dependerá del nivel de descontento social, pero también de la experiencia política previa.
Mientras que en la primera década del siglo XXI se produjo un giro a la izquierda en la región, hoy estaríamos frente a un nuevo golpe de péndulo. ¿Está de acuerdo con esta lectura?
Es verdad que se eligió a Mauricio Macri, Bolsonaro y Piñera, entre otros. Pero también tenemos el caso de Carlos Alvarado en Costa Rica y AMLO en México. Este año tenemos elecciones en Uruguay, donde se desconoce cómo le irá al Frente Amplio; en Bolivia tampoco sabemos qué pasará con Evo Morales. Inclusive hay elecciones en la Argentina, donde no sabemos a ciencia cierta si Macri será reelegido o no. No creo que se pueda hablar de un giro a la derecha; el panorama es mucho más matizable y variado: coexisten diversos tipos de gobierno en función de la experiencia histórica de cada país.
¿Qué novedad aporta el Prosur?
Ninguna. El Prosur sigue la estela de lo que ha sido el proceso de integración regional en los últimos años, una permanente huida hacia adelante. Es decir, cuando algo no funciona, se pretende crear algo nuevo de la nada. El Prosur es un producto casi vacío de contenido, más vinculado a la intuición presidencial que a informes serios y razonados sobre por qué es mejor crear una cosa nueva que reconfigurar lo viejo, que sería la Unasur. La única ventaja que le veo al Prosur es que su proyecto no prevé la creación de un parlamento regional asociado a la institución. América Latina es la región del mundo que más parlamentos regionales tiene, lo cual es un absurdo total.
¿A qué se debe la dificultad de crear bloques duraderos de largo plazo en la región?
Generalizando, podríamos encontrar tres grandes causas que nos hablan de por qué la integración regional no avanza: dos excesos y un déficit. El exceso de retórica, es decir, ese realismo mágico de construir relatos que hablan de las grandes ventajas de la integración regional, aunque vacíos de contenido. El exceso de nacionalismo, muy presente en todas las fuerzas ideológicas de la región, que impide la cesión de cuotas de soberanía a instancias supranacionales, sin lo cual es imposible avanzar en un proceso de integración. Finalmente, un déficit de liderazgo, dado que ni Brasil ni México tienen vocación de liderazgo y no están dispuestos a invertir recursos para ejercerlo.
¿Cómo impacta este déficit a la hora de pensar la región como un actor con peso en el sistema internacional?
Para que América Latina sea considerada un actor relevante en la escena internacional debería estar mucho más interesada en lo que ocurre más allá de sus fronteras. El problema es que a los gobiernos y a las opiniones públicas de la región les preocupan solo aquellas cuestiones de la agenda internacional que les afectan directamente.
¿Qué implicancias tendría la creciente rivalidad entre Estados Unidos y China?
Al desembarcar en la región a comienzos del siglo XXI, los chinos partieron de la premisa de que no querían enfrentarse con Estados Unidos por América Latina, sino que venían a hacer negocios, a buscar fuentes de aprovisionamiento (materias primas) y mercados para sus exportaciones.
Sin embargo, la reciente cancelación de la Asamblea del BID en Chengdú fue una señal de mayor tensión en la relación.
Sí, pero no creo que vaya mucho más allá. No creo que China tenga interés en tensar más la cuerda.
¿Qué novedad aporta la actual crisis venezolana?
Sabemos que estamos al principio del fin del régimen de Nicolás Maduro; lo que se desconoce es cuándo será ese fin, y cómo se producirá.
¿Cómo se puede destrabar la situación?
Puede ser una salida negociada o violenta, que es lo más probable. Sin embargo, descarto la invasión extranjera, porque Estados Unidos no la está contemplando, y la región ni quiere ni puede. El otro escenario descartable es el de una guerra civil, dado que la oposición no dispone de armamento y, en el caso de tenerlo, no tendría quién empuñara las armas. Esto no excluye que una facción del Ejército busque desplazar a Maduro.
La reciente visita de Bolsonaro a Estados Unidos pareció abrir una nueva etapa en la relación bilateral. ¿Qué efectos tendrá sobre Sudamérica?
Bolsonaro se planteó una gran renovación de su política exterior, y su canciller Ernesto Araújo, va en la misma dirección. Pero la realidad es muy tozuda y la política ideologizada tiene límites concretos. Lo vimos con el intento de trasladar la embajada de Brasil de Tel Aviv a Jerusalén, que no prosperó ante la presión de los países árabes, principales compradores de la carne brasileña.
¿Cómo impactará sobre el Mercosur un mayor acercamiento de Brasil a Estados Unidos?
En este caso hubo también fuertes declaraciones iniciales de Bolsonaro y su ministro de Economía, Paulo Guedes, pero hoy las cosas van por otro camino. Se reivindica la existencia del bloque, aunque se plantea la necesidad de reformas. Creo que Brasil seguirá apostando por el Mercosur; su dirigencia es consciente de todo lo que supone para el país el bloque, incluso con sus limitaciones.
A casi 100 días de su asunción, ¿cómo se explica la brutal caída de la popularidad de Bolsonaro?
En primer lugar, no se han tomado muchas decisiones importantes, por lo que las grandes expectativas creadas no están siendo satisfechas. Por otra parte, hay una creciente sensación de que sigue en campaña, y se dedica más a intentar ganar a los suyos que a gobernar. Además, hay una imagen de gran fragmentación dentro de su gobierno, con varios grupos definibles, por un lado uno más ideológico, y por otro los militares, que paradójicamente representan el sector más pragmático, junto con el equipo económico de Paulo Guedes. Creo que el problema central es que Bolsonaro está convencido de que su triunfo se debió a que él encarna mejor que nadie los valores de la sociedad brasileña, y pierde de vista que en realidad fue elegido porque es quien mejor personificó, en un momento de escasos liderazgos, el gran sentimiento antipetista existente en el país.


Lula e PT, os grandes mafiosos do Brasil e a Previdência- J. R. Guzzo

"Os pobres e os ricos"


José Roberto Guzzo
21/04/2019

A situação fica definitivamente complicada para os pobres quando quem diz que está cuidando deles serve no exército do inimigo
Durante todo o período em que a esquerda mandou no governo o Brasil continuou sendo
um dos países de maior concentração de renda em todo o mundo (Ricardo Stuckert/Instituto Lula)
E então: depois de ouvir durante meses, ou anos, toda essa discussão sobre a “reforma da Previdência”, você está achando que ela é “contra os pobres”? Ou acha que é exatamente o contrário? Ou, ainda, não acha nem uma coisa nem outra, porque não tem mais paciência para continuar ouvindo essa conversa que não acaba mais? Anime-se. O professor gaúcho Fernando Schüler, conferencista e consultor de empresas, tem a solução definitiva para o seu problema. Se a reforma da previdência fosse contra os pobres, explicou Schüler dias atrás, já teria sido aprovada há muito tempo, e sem a menor dificuldade. Pela mais simples de todas as razões: tudo aquilo que prejudica o pobre diabo que está tentando não morrer de fome, e não tem tempo para fazer “articulação política”, passa como um foguete da NASA pelas duas casas do Congresso deste país. Passa tão depressa, na verdade, e com tanto silêncio, que ninguém nem fica sabendo que passou. A reforma proposta pelo governo só está encontrando essa resistência desesperada do PT, dos seus satélites e da massa da politicalha safada porque é, justamente, a favor dos pobres e contra os ricos. Cem por cento contra os ricos ─ no caso, algumas dezenas de milhares de funcionários públicos com salário-teto na casa dos 40.000 reais por mês, sobretudo nas camadas mais altas do Judiciário e do Legislativo. São esses os únicos que vão perder, e vão perder em favor dos que têm menos ou não têm nada.
Não parece possível, humanamente, eliminar de maneira mais clara as dúvidas sobre a reforma da previdência. Alguém já viu, em cerca de 200 anos de existência do Congresso Nacional, alguma coisa a favor de rico dar trabalho para ser aprovada? Ainda há pouco, só para ficar num dos exemplos mais degenerados do estilo de vida dessa gente, deputados e senadores aprovaram o pagamento de 1,7 bilhão de reais para a “campanha eleitoral de 2018” ─ dinheiro vivo, saído diretamente dos seus impostos e entregue diretamente no bolso dos congressistas. São os mesmos, em grande parte, que agora viram um bando de tigres para “salvar os pobres” da reforma. Poderiam ser mencionados, aí, uns outros 1.000 casos iguais, em benefício exclusivo da manada que tem força para arrancar dinheiro do Erário público. No caso da previdência a briga é para conservar os privilégios de ministros, desembargadores, procuradores, auditores, ouvidores, marajás da Câmara dos Deputados, sultões do Senado e toda a turma de magnatas que conseguem ganhar ainda mais que o teto e exigem, ao se aposentar, os mesmos salários que ganham na ativa ─ algo que nenhum outro brasileiro tem.
Não adianta nada, com certeza, apresentar números, fatos e provas materiais que liquidam qualquer dúvida sobre a injustiça rasteira de um sistema que se utiliza da lei para violar o princípio mais elementar das democracias ─ o de que todos os cidadãos são iguais em seus direitos e em seus deveres. A previdência brasileira determina, expressamente, que os cidadãos são desiguais; quem trabalha no setor privado, segundo as regras que se pretende mudar, vale menos que os funcionários do setor público e, portanto, tem de receber aposentadoria menor. Quando se demonstra essa aberração com a aritmética, a esquerda diz que as contas não valem, pois se baseiam em “números ilegais”. Não há, realmente, como continuar uma conversa a partir de um argumento desses ─ e nem há mesmo qualquer utilidade prática em conversar sobre o assunto. Os defensores dos privilégios não estão interessados em discutir número nenhum; estão interessados, apenas, em defender privilégios. Por que raios, então, iriam perder seu tempo se aborrecendo com fatos?
O que existe, no fundo, é uma questão que vai muito além da previdência social. É a guerra enfurecida que se trava no Brasil para manter exatamente como estão todas as desigualdades materiais em favor das castas que mandam no Estado ─ todas as desigualdades, sem exceção, e não apenas a aposentadoria com salário integral. Sua marca registrada é um prodigioso esforço de propaganda para fazer as pessoas acreditarem que o agressor está do lado dos agredidos ─ e que qualquer tentativa séria de defender o pobre é uma monstruosidade que precisa ser queimada em praça pública. Acabamos de viver, justo agora, um dos grandes momentos na história dessa mentira que faz do Brasil um dos países mais injustos do mundo ─ quando o ministro Paulo Guedes foi à Câmara para explicar, com paciência de monge beneditino e fatos da lógica elementar, a reforma da previdência. O PT fez o possível para impedir o ministro de falar. Ao fim, tentou ganhar pelo insulto. Um deputado de segunda linha faturou seus 15 minutos de fama dizendo que Guedes era bravo com “os aposentados”, mas “tchutchuca quando mexe com a turma mais privilegiada do nosso país”.
A grosseria serviu para três coisas. Em primeiro lugar, fez o deputado ouvir que “tchutchuca é a mãe”. Em segundo lugar, levou o ex-presidente Lula a dizer, da cadeia, que estava “orgulhoso” com a agressão ─ mais um sinal, entre tantos, do bem que ele fará pelo Brasil se for solto ou premiado com a “prisão domiciliar”. Em terceiro lugar, enfim, abriu mais uma avenida-gigante para se dizer quem é quem, mesmo, em matéria de “tchutchuca” com os ricos, parasitas e piratas neste país ─ “tchutchuca” na vida real, como ela é vivida na crueza do seu dia a dia, e não na conversa de deputado petista. Aí não tem jeito: os fatos, e puramente os fatos, mostram que Lula, guiando o bonde geral da esquerda verde-amarela, foi o maior “tchutchuca” de rico que o Brasil já teve em seus 500 anos de história; ninguém chegou perto dele, e nem de forma tão exposta à luz do sol do meio dia. Pior: o ex-presidente não foi só a grande mãe gentil dos ricos. Foi também a fada protetora dos empreiteiros de obras bandidos, dos empresários escroques e dos variados tipos de ladrão que tanto prosperam em países subdesenvolvidos ─ as “criaturas do pântano”, como se diz.
O desagradável desta afirmação é que ela tem teores mínimos de opinião; só incomoda, ao contrário, porque sua base é uma lista sem fim de realidades que há muito tempo estão acima de discussão. Vamos lá, então, coisa por coisa. Não há dúvida nenhuma, já que é preciso começar por algum lugar, que o maior corruptor da história do Brasil, o empreiteiro Marcelo Odebrecht, passou de mãos dadas com Lula os oito anos de seu governo ─ noves fora o paraíso que viveu com Dilma Rousseff. Quem diz que Odebrecht é um delinquente em modo extremo não é este artigo; é ele mesmo, que confessou seus crimes, delatou Deus e o mundo e por conta disso está preso até hoje ─ em prisão domiciliar, certo, mas preso. Também não foi o seu filho, nem qualquer cidadão que você conheça, quem conseguiu receber 10 milhões de reais da empreiteira Andrade Gutierrez como investimento numa empresa de vídeo games. Foi o filho de Lula. Os 10 milhões sumiram; a empresa faliu. A Andrade Gutierrez lamenta: o negócio não deu certo, dizem eles, e a gente perdeu todo o dinheiro que deu para o Lulinha. Uma pena, não é? Mas acontece com as melhores empresas do mundo. O empreiteiro Léo Pinheiro, da OAS, réu confesso, delator e hoje presidiário, foi o grande protetor e protegido de quem? De Lula ─ a quem, por sinal, denunciou no fatal triplex do Guarujá. Querem mais? É só chamar o Google.
Em dezesseis anos de Lula e Dilma, na verdade, não se conhece um único caso de rico prejudicado pelo governo ─ a não ser os produtores rurais roubados pelos “movimentos sociais” do PT e outras vítimas da criminalidade oficial. Os banqueiros, por exemplo, jamais ganharam tanto dinheiro na história da economia brasileira como durante o reinado da esquerda. Não apenas foram protegidos contra qualquer espécie de concorrência ─ liberdade econômica, no lulismo bancário, só vale na hora de deixar os bancos cobrarem os juros mais altos do mundo. Foram os maiores beneficiários da dívida pública alucinante que Lula e o PT tanto se orgulham de ter criado, pois na sua cabeça isso é sinal de que “o governo está se endividando para ajudar os pobres” ─ quando, na verdade, faz a população pagar 100 bilhões de dólares por ano em juros que vão para os bolso dos “rentistas”, a começar pelos banqueiros. Também não há precedentes de tanta caridade pública para empresários amigos quanto na era Lula-PT. Quem foi mais “tchutchuca” de Eike Baptista, Joesley Batista e outros abençoados do BNDES? Quem inventou a Sete Brasil, uma das aberrações mais espantosas jamais criadas pelo capitalismo de compadres do Brasil? Do começo ao fim, foi apenas uma arapuca para vender sondas imaginárias à Petrobras e “ressuscitar a indústria naval brasileira” ─ vigarice de terceira categoria que fez obras e empregos virarem fumaça quando a ladroagem toda veio abaixo.
A esses bem-aventurados da elite brasileira, de quem a esquerda se diz tão horrorizada, mas a quem serve com a devoção de moleque de senzala, juntam-se os ladrões puros e simples. Em que outra ocasião da história política do Brasil o roubo do Tesouro Nacional viveu dias de tanta glória como nos governos de Lula e seus subúrbios? Basta, provavelmente, citar um nome para se entender o processo inteiro: Sérgio Cabral. Precisa mais? O homem soma quase 200 anos de prisão, confessou um caminhão de crimes e tornou-se, possivelmente, o governador mais ladrão que a humanidade já conheceu. Mas foi um dos grandes heróis de Lula ─ não se esquecerá jamais o mandamento público do ex-presidente, dizendo que votar em Cabral era “um dever moral, ético e político”. E quem foi o grande inventor de Antônio Palocci? Nada mais típico do que Palocci, transformado por Lula em vice-rei da sua Presidência. O cidadão se apresentava como “trotskysta”, ou, tecnicamente, como militante da extrema esquerda. Roubou tanto, segundo suas próprias confissões, que jamais se saberá ao certo o prejuízo que deu. Só o apartamento em que mora em São Paulo, e onde cumpre hoje sua “prisão domiciliar” vale mais que o patrimônio que 99% dos brasileiros vão obter durante todas as suas vidas. Isso não é ser rico? E se Palocci não é uma criatura de Lula, de quem seria, então?
A verdade é que durante todo o período em que a esquerda mandou no governo o Brasil continuou sendo um dos países de maior concentração de renda em todo o mundo. Em dezesseis anos de lulismo, foi massacrado sem trégua o principal instrumento de melhoria social que pode existir num país ─ a educação pública. Pelos últimos dados do Banco Mundial, a média da população brasileira só vai atingir o mesmo índice de compreensão da matemática existente nos países desenvolvidos daqui a 75 anos. Essa é a boa notícia; em matéria de leitura, vamos precisar de mais 260 anos para chegar lá. É o resultado direto do abandono da edução dos pobres em benefício da educação dos ricos. Por conta dos programas de “democratização” da universidade de Lula e Dilma, o Brasil gasta quatro vezes mais por ano com um aluno da universidade pública, ou cerca de 21.000 reais, do que com um garoto que está no ensino básico. Queriam o que, com essa divisão do dinheiro público que se gasta na educação?
Em matéria de ação pró-pobre, houve muita propaganda, muito filminho milionário de João Santana ─ mais um réu confesso de corrupção ─ mostrando a clássica “família negra feliz-com mesa farta-carrinho na porta-tomando avião-etc., etc.”, mas essas fantasias quase só existiam na televisão. Dinheiro, que é bom, foi para o bolso dos nababos, dos Marcelos e Eikes e Geddels. Foi para ditadores da África ─ o filho de um deles, por sinal, é um fugitivo da polícia internacional. Foi para obras em Cuba e na Venezuela. Foi para os “prestadores de serviço”, ONGs amigas e artistas da Lei Rouanet. Foi, num país de 200 milhões de habitantes, para os barões mais bem pagos de um funcionalismo público que já soma quase 12 milhões de pessoas entre União, Estados e Municípios ─ 450.000 só nesse Ministério da Educação que produz a catástrofe descrita acima. Para a pobrada sobrou o programa oficial de esmolas do Bolsa Família, ideal para perpetuar a miséria, ou pior que isso ─ segundo o Banco Mundial, de novo, 7 milhões de brasileiros caíram abaixo da linha da pobreza apenas de 2014 para 2016. Quem gerou essa desgraça? Não foi o governo da Cochinchina, nem o ministro Paulo Guedes.
A situação fica definitivamente complicada para os pobres quando quem diz que está cuidando deles serve no exército do inimigo ─ aqueles que têm como principal razão de sua existência, talvez a única, defender direitos e princípios que são apenas presentes pagos com o dinheiro de todos.


José Roberto Guzzo, mais conhecido como J.R. Guzzo, é um jornalista brasileiro, diretor editorial do grupo EXAME e colunista das revistas EXAME e VEJA, integrando ainda o Conselho Editorial da Abril.

Sobre a incompetência do governo - Paulo Roberto de Almeida e Editorial do Estadão

Sobre a incompetência do governo 
Paulo Roberto de Almeida
(Seguido de Editorial do Estadão, 21/04/2019)

O governo não pode, não consegue ser melhor do que a “competência” relativa de seus dirigentes, entre os quais não existe qualquer um com capacidade de estadista, mas existem, coexistem e atuam elementos estranhos — a tal de família “simbiótica” e um guru esquizofrênico — que perturbam singularmente e significativamente qualquer exercício de governança racional. A dúvida agora é se caminharemos rapidamente para o caos da desgovernança política e um “salvamento” militar, ou se continuaremos por quatro anos no pântano da mediocridade crescente. Em educação e em relações exteriores este já é o quadro: resta ver como andará a economia (onde os sinais negativos podem nos levar para um cenário entre Grécia e Argentina) e a segurança, outro dilema da cidadania.
Faltam aos militares “racionais” um plano de governo. Quem poderá nos salvar da incompetência do governo?
Não adianta chamar o Chapolim Colorado...
Paulo Roberto de Almeida 
Brasília, 21 de abril de 2019

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Nova política, velha e inepta
Notas & Informações, O Estado de S. Paulo
21 de abril de 2019 | 03h00

Desorganizado e acuado, o governo do presidente Jair Bolsonaro falhou até hoje na execução de novas políticas de alguma relevância.
Desorganizado, acuado e forçado a negociar antes da hora detalhes da reforma da Previdência, o governo do presidente Jair Bolsonaro falhou até hoje na execução de novas políticas de alguma relevância. O ministro da Economia, Paulo Guedes, já admitiu antecipar a Estados até R$ 6 bilhões do leilão do pré-sal previsto para outubro. Objetivo: garantir apoio de governadores à mudança das aposentadorias. Seu chefe, encastelado no Palácio do Planalto, interveio na gestão da Petrobrás, forçou o adiamento de um reajuste do diesel e acabou conseguindo um aumento menor. Resumindo: 1) votos continuam sendo comprados, sem escândalos como o do mensalão, mas o troca-troca inegavelmente permanece em vigor; 2) ao mesmo tempo, o intervencionismo é reeditado e, pior que isso, praticado de forma voluntarista, numa ação de varejo, sem ser sequer disfarçado como parte de um projeto econômico. É isso a nova política?
As figuras mais sérias do Executivo nem mesmo tentam negar a confusão dominante no governo por mais de três meses. Tentam, no entanto, dar boas notícias. Apesar de ruídos políticos, tem melhorado o diálogo dentro do Executivo e entre o Executivo e o Legislativo, disse em São Paulo, num evento da Câmara de Comércio França-Brasil, o secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida. O secretário, remanescente da gestão do presidente Michel Temer, é, dentro da equipe, uma rara figura com experiência de governo.
Seu chefe, o ministro da Economia, com reputação formada como economista e como empresário do setor financeiro, foi chamado para comandar, com sua experiência acadêmica e profissional, uma área crucial para o sucesso do governo. Mas acabou forçado a entrar em negociações políticas, porque figuras do Executivo escaladas para a função falharam de forma indisfarçável.
Sem coordenação, o grupo apontado como base parlamentar fracassou desde os primeiros dias e foi incapaz de garantir sucesso na primeira e mais simples etapa de tramitação da reforma da Previdência, a passagem pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados. Não se conseguiu levar a voto o texto do relator antes da Páscoa nem evitar a discussão, nessa fase, de questões de mérito, próprias da etapa seguinte. O ministro da Economia atribuiu esses tropeços à inexperiência de parte da base. O distinto público deve aceitar essa explicação e achar tudo certo?
Mas a equipe do Executivo também falhou mais de uma vez, sem coordenação e sem clara definição de prioridades. O ministro Paulo Guedes poderia ter-se concentrado no encaminhamento e na defesa da reforma da Previdência, mas embaralhou o debate falando antes da hora sobre o projeto de um regime de capitalização. Ao mesmo tempo, a equipe abriu a discussão sobre a reforma tributária, sem explicar com clareza os objetivos e o significado econômico da proposta. A mudança, supõe-se, deve ter fins mais amplos que a simplificação, mas pouco se informou além desse ponto.
Enquanto o governo tomava um baile da oposição e do “Centrão” na Comissão de Constituição e Justiça, o presidente da República assustava o mercado forçando a suspensão de um reajuste de preço do diesel. Depois de anunciada, a mudança ficou suspensa por vários dias, enquanto o presidente discutia o assunto com ministros e dirigentes da estatal. Anunciado uma semana depois, o aumento foi revisto de 5,7% para 4,8%. 
O presidente da Petrobrás, Roberto Castello Branco, tentou explicar tecnicamente a decisão recauchutada e reafirmar a independência administrativa da empresa. Mas o recuo era um fato escancarado e, além disso, ele foi incapaz de dizer com clareza como ficaria a política de preços da empresa. Pessoas de muito boa vontade podem ter acreditado nas explicações – e ninguém mais.
Ao cuidar do diesel, o presidente Bolsonaro mostrou-se receptivo às pressões de caminhoneiros e à manutenção do cartel do frete, motivo de reclamações bem fundadas da ministra da Agricultura. Viva o cartel, dane-se a agricultura?
Passados quase quatro meses de governo, o quadro da nova política teria de incluir também os bem conhecidos desastres na educação e na diplomacia. Terá o presidente percebido esses fatos? Essa é a pergunta mais inquietante.

Marshall and the China Mission, 1945-47: book review

A resenha é excelente, mas meu ponto é diferente.
Ela revela, além e acima do trabalho propriamente historiográfico, como o establishment político e diplomático americano vê o mundo: puramente do ângulo americano-cêntrico, ou seja “the world according to Washington”.
Não há uma preocupação com a dinâmica própria das sociedades nacionais, em seus avanços e recuos, decisões certas ou erradas, forças ideologicamente motivadas para a construção de uma sociedade comunista ou interessadas na criação de uma democracia de mercado, quando talvez essas “escolhas” nem estivessem “disponíveis” ou fossem possíveis.
O fato é que sociedades não são maleáveis segundo concepções pré-determinadas, e certas dinâmicas conduzem a impasses e podem tanto resultar em saídas adequadas e positivas, quanto redundar em desastres, estagnação, fracassos nacionais. Brasil e sobretudo Argentina são dois exemplos de sociedades “frustradas” em seus desejos de desenvolvimento, basicamente por incompetência e corrupção das elites, da mesma forma como a incompetência e corrupção de Chiang Kai-tshek acabou resultando na vitória do comunismo chinês, em meio ao caos da inflação e do desespero de vários estratos sociais com a inoperância do governo: qualquer coisa valia para terminar com aquele inferno, até mesmo o desconhecido do governo comunista, que prometia ordem, segurança, terra para os camponeses, igualdade de condições para todas as classes e defesa da soberania do país contra intervenções estrangeiras, japonesas, soviéticas o americanas.
Paz e ordem eram o que pediam os chineses, e nisso nem mesmo Marshall podia alterar significativamente o jogo do poder ou a guerra civil naquela conjuntura.
Este é o meu julgamento não tanto sobre a resenha que agora transcrevo, mas sobre o “China problem” da diplomacia americana nos anos 1950 e sua dúvida existencial: Who lost China?
Ninguém perdeu a China, como pretendia responder o Macartismo, pela simples razão que a China se perdeu a si mesma, assim como Brasil e Argentina se frustraram sozinhos. Washington nunca pode determinar nada em qualquer continente, e suas tentativas de fazê-lo — Vietnã, Oriente Médio, Afeganistão, Iraque, Cuba — sempre redundaram em desastres políticos, diplomáticos e até tragédias nacionais; a Venezuela talvez confirme mais uma vez a dinâmica incontrolável da História: somos apenas peões em um jogo muito maior que as forças humanas; movimentos sociais são incontroláveis, até mesmo para elites revolucionárias.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 21 de abril de 2019

Resenha de:

Yin on Kurtz-Phelan, 'The China Mission: George Marshall's Unfinished War, 1945-1947' [review]

by H-Net Reviews
Daniel Kurtz-Phelan. The China Mission: George Marshall's Unfinished War, 1945-1947. New York: W. W. Norton and Company, 2018. 496 pp. $28.95 (cloth), ISBN 978-0-393-24095-5.
Reviewed by Qingfei Yin (Virginia Military Institute) Published on H-Diplo (April, 2019) Commissioned by Seth Offenbach (Bronx Community College, The City University of New York)
George C. Marshall has been lauded as an accomplished soldier-statesman and one of the most prominent figures of the mid-twentieth century. Marshall’s mission to China from December 1945 to January 1947, however, turned out to be an unfortunate episode in his otherwise exceptional role as the architect of the postwar world order. If Marshall failed to help create a “strong, peaceful, united and democratic China” as Washington expected, is his mission to China still important to historians and relevant to our understanding of US foreign relations today (p. 43)? Daniel Kurtz-Phelan’s The China Mission is a valuable recent addition to historians’ efforts to “rediscover” this neglected turning point of the early Cold War. The author argues that the collapse of Marshall’s endeavor to mediate the looming civil war between Chinese Nationalists and Communists would not only “define the rest of his career,” as noted on the cover page, but also shape the Cold War and US-China relations in the decades to come.
The China Mission joins an ongoing conversation that places US-China relations in the critical juncture of the mid-1940s against the broader historical context. The first debate centers on whether the unfolding US-Soviet global competition affected Marshall’s objectives and strategy in China. Steven I. Levine’s article “A New Look at American Mediation in the Chinese Civil War: The Marshall Mission and Manchuria,” on the Marshall mission and Manchuria, where head-on clashes between Nationalist and Communist forces after the end of World War II first began, published in 1979, marked the earliest effort by historians to challenge the old image of the mission as a futile diplomatic attempt. Levine believes that even before the mission, Marshall shared with American observers in Washington concerns that Soviet delay of its withdrawal from Manchuria fit in “an already familiar pattern of aggression.” “Although the Marshall mission failed to unify China,” Levine argues, “it succeeded in its basic purpose of thwarting Soviet expansionism.”[1] Illoyna Homeyard, by contrast, believes that internal contradictions in US policy and the danger of further deployment of American troops to China concerned Marshall more than Soviet expansion.[2] Such debate sheds important light on the relationship between the long-existing power struggles in China and the crystallization of the Cold War in Asia.
A second focus of existing literature on the Marshall mission is the obstacles that prevented Marshall from accomplishing his mandate. In the mid-1980s, Niu Jun, then among the first history PhD students trained by the restored Chinese higher-education system after the Cultural Revolution and later a leading historian of China’s foreign relations, in his dissertation chose to focus on the two missions led by Patrick J. Hurley and Marshall. In his 2009 book, which is based on his dissertation, Niu describes the United States’ frustrated attempts to mediate the Chinese Civil War as the product of a fundamental problem in American policy toward China—“the gap between capabilities and goals.”[3] Marshall was not able to “solve” the China problem, according to Odd Arne Westad, because US presence in China itself was part of the problem. Chiang Kai-shek never expected Marshall to be a true mediator who took a neutral stance between the Nationalists and the Communists. Communist leaders also distrusted US motives as the Americans continued buttressing Chiang’s position financially and militarily.[4] Scholarship on the contrast between ambitious US goals in China and Marshall’s limited leverage indicated that his China mission had very little chance to succeed from the very beginning.
Kurtz-Phelan’s book significantly contributes to these historiographical issues. With regard to US objectives of mediating the Chinese Civil War, Kurtz-Phelan argues that Washington wanted to build a strong and unified China to “take China off the table as both a source of US-Soviet tension and an easy target for Soviet subterfuge” (p. 37). Therefore, for American leaders, by late 1945, preventing conflicts with the Soviet Union in the Far East was as important as stopping Soviet expansion there. In analyzing US goals in China, Kurtz-Phelan reveals the divisions among top decision makers. For instance, before Marshall’s departure for China, whereas the State Department sought to build a “strong, peaceful, united and democratic” China, the War Department prioritized formulating a “strong, peaceful, united and effective” China, citing that the country was not ready for democratic procedures (p. 43). The China Mission does a particularly excellent job highlighting the gap between American capabilities and goals in China. Kurtz-Phelan tells a convincing story of how such a gap was widened after the end of World War II. The United States had assigned low priority to China in its war effort, yet its stakes in China became much higher after the war ended as US-Soviet strategic competition unfolded. However, it never attained enough leverage to achieve the ambitious goals of guaranteeing China’s unity and Chiang’s leadership while encouraging necessary reform to prevent a civil war. The China Mission demonstrates that Washington failed to make any concrete efforts to narrow the gap. Instead, the top decision makers resorted to “wishful thinking” and “optimistic evasions” (p. 44). None of President Harry Truman’s top aides answered Marshall’s fundamental question about what he should do if the Communists agreed to compromise but Chiang did not. Pressed by Marshall, Truman had to admit that eventually the United States had to support Chiang’s position. What further foreshadowed Marshall’s mediation efforts was the fact that this confidential deliberation was leaked to the Chinese ambassador to Washington, which partly explained Chiang’s uncompromising stance during the negotiations.
Besides addressing existing scholarly interests, The China Mission makes two additional contributions to studies of Cold War history. First, Kurtz-Phelan makes a convincing argument about the impact of the failed China mission on the rest of Marshall’s career, especially his role as the secretary of state, as well as US foreign relations during the early Cold War. After experiencing the chaos and political impasse in China, Marshall developed a more acute understanding that “America could achieve little on its own” and that helping European societies overcome the postwar desperation was a precondition to containing Communism (p. 335). Learning from the lesson in China, Marshall emphasized a “shared-commitment” between the United States and European recipients when he designed the Marshall Plan. With this healthy skepticism about American might, Marshall believed that “preliminary to the question of should was the question of would. If the answer to the latter was no, the former was academic” (p. 340). Second and methodologically, benefiting from Chiang’s diaries, T. V. Soong Papers, and secondary sources about the Chinese Communists’ foreign relations, The China Mission presents four interconnected storylines: Marshall’s thirteen months in China, strategic considerations in Washington, Chiang’s deliberations, and negotiation strategies of the Communists. The book gives agency to all key historical figures involved in this episode of history while at the same time analyzing the restraints on their actions.
To conclude, The China Mission sheds important light on the significance of the Marshall mission despite its failure, the interconnectedness of the Cold War in different parts of the world, and the limits to American power despite its ascendancy in the post-World War II world. The book will appeal to scholars and a non-academic audience who are interested in the Cold War in Asia, US-China relations, and twentieth-century China.
Notes
[1]. Steven I. Levine, “A New Look at American Mediation in the Chinese Civil War: The Marshall Mission and Manchuria,” Diplomatic History 3, no. 4 (Fall 1979): 349-50.
[2]. Illoyna Homeyard, “Another Look at the Marshall Mission to China,” The Journal of American-East Asian Relations 1, no. 2 (Summer 1992): 191-217.
[3]. Niu Jun, Cong He'erli dao Maxie'er: Meiguo tiaochu guogong maodun shimo [From Hurley to Marshall: US mediation of the conflicts between the Nationalists and the Communists] (Beijing: Dongfang chubanshe, 2009), 2.
[4]. Odd Arne Westad, Decisive Encounters: The Chinese Civil War, 1946-1950 (Stanford, CA: Stanford University Press, 2003), 44.
Qingfei Yin received her PhD in history from George Washington University. She is currently assistant professor at Virginia Military Institute.
Citation: Qingfei Yin. Review of Kurtz-Phelan, Daniel, The China Mission: George Marshall's Unfinished War, 1945-1947. H-Diplo, H-Net Reviews. April, 2019. URL:http://www.h-net.org/reviews/showrev.php?id=53461
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