terça-feira, 1 de setembro de 2009

1333) Ipea: pegando um gatuno no ato...

Desculpe pela comparação, mas não encontrei algo melhor para classificar a tentativa canhestra de justificativa não justificada, em torno da inacreditável peça de ficção econômica, que foi servida a todos nós pela inacreditável (desculpem o excesso de adjetivos inacreditáveis, mas acho que são justificados) direção política daquilo que outrora foi uma séria instituição de pesquisa econômica (lamento pelos seus técnicos não tabajaras).

A arte de abater fraudes em pleno vôo
Refiro-me, obviamente à fantástica fábrica de chocolate econômico do atual presidente do Ipea, que em sua mais recente aventura pelo terreno pantanoso do surrealismo econômico, apresentou-nos uma verdadeira revolução científica na medição da produtividade do setor público brasileiro.
Eu pensei que depois de ter sido desmascarado por gente mais competente do que ele, o cidadão em questão -- que certamente não merece o título de economista, muito menos a função -- enfiaria a viola no saco e ficaria quieto, até passar a lembrança do triste episódio e ele não precisar pedir demissão por incompetência.
Pois não é que ele reagiu -- mal, como sempre -- e tentou vender nova versão de sua fraude continuada?
Eu comentei a carta (não assinada) mandada por um inefável Ipea à jornalista Miriam Leitão, que tinha transcrito uma nota técnica rebatendo o chocolate azedo do presidente do Ipea.

Os interessados em seguir o fio da meada até essa fase, podem se referir ao meu último post de uma série memorável (não pelas boas razões, obviamente), neste link, que remete aos posts anteriores:
1320) O Ipea persiste na enrolacao: deixa a substancia de lado e se refugia na tergiversacao

Agora os mesmos economistas que desmantelaram a fraude subeconômica do fantástico e inacreditável comandante dos tabajaras econômicos respondem com argumentos técnicos à canhestra carta justificatória. Segue abaixo o seu teor.

28/08/2009
Cara Miriam Leitão,
O objetivo do senador Tasso Jereissati é sempre contribuir para o bom debate técnico. Causou-nos surpresa a nota enviada elo IPEA ao seu blog, pois não há a mínima justificativa técnica para a nota da presidência de número 27 que é objeto da controversa.

Apenas para dar um exemplo, a réplica do IPEA enviada ao blog da jornalista Miriam Leitão afirma que:
"A consulta à literatura especializada ou à própria Assessoria de Comunicação do Instituto permitiria constatar que o método de aferição da produtividade na administração pública e privada no Brasil – utilizada no estudo – encontra-se em plena conformidade com aquele adotado por outras instituições de pesquisa aplicada, como, por exemplo, Centre for the Measurement of Government Activity (Inglaterra), Partnership and Productivity in the Public Sector (Nova Zelândia) e National Center for Public Productivity (Estados Unidos), entre outras. Todas de referência internacional. Como o Ipea."

Infelizmente, a assessoria do presidente do IPEA se enganou mais uma vez. Por exemplo, o Centre for the Measurement of Government Activity (Inglaterra) faz exatamente o oposto do que o IPEA fez. O Professor Atkinson coordenou um grupo de trabalho e escreveu um relatório final em 2005 justamente alertando sobre os problemas do calculo da produção do setor público como estava sendo feito pelo governo Britânico. Esse relatório deu origem a criação do Centre for the Measurement of Government Activity como um departamento do "the Office for National Statistics (ONS)" justamente para tentar modificar a forma de medida da produção do setor público pela metodologia das contas nacionais. As principias conclusões do relatório foram que:
(i) Era necessário melhorar a contabilidade pública para que se pudesse medir de fato o que está sendo produzido pelos gastos com os serviços públicos;
(ii) Não se deve continuar assumindo que os gastos são simplesmente iguais ao produto em uma parte tão importante da economia, que reponde por um quinto do PIB na Inglaterra; e
(iiii) O UK Office for National Statistics está no caminho correto de tentar introduzir medidas para mensurar diretamente a produção do governo, mas essas estatísticas governamentais precisam ainda ser melhor desenvolvidas.

A íntegra do citado relatório final está disponível no seguinte link:
http://www.statistics.gov.uk/about/data/methodology/specific/PublicSector/Atkinson/final_report.asp

Em resumo, o relatório traz propostas de como modificar o calculo do setor público nas contas públicas justamente por esse cálculo ser baseado na igualdade entre os custo do setor público e produção como acontece no Brasil e nos Estados Unidos, o que impede que se possa medir produtividade do setor público a partir das contas nacionais. O que o IPEA fez foi justamente o contrário das próprias instituições que o próprio instituto cita para se defender: utiliza a medida errada para calcular o crescimento de produtividade do setor público e ainda comparar com o setor privado. O IPEA deveria sim ter proposto medidas alternativas de mensurar a produtividade do setor público como fez Centre for the Measurement of Government Activity (Inglaterra).

Como podemos ver na justificativa do relatório assinado pelo Atkinson, em um resumo que fez do seu trabalho que deu origem ao The Measurement of Government Activity (Inglaterra), publicado no "Journal of the Statistical and Social Inquiry Society of Ireland, Vol. XXXIV (2005)" pp. 153:
"For many years, the contribution of the public sector to national income was measured by simply assuming that output = input. It was taken for granted that you get out what you put in. This assumption is clearly unsatisfactory, since it tells us nothing about how the productivity of the public sector is changing over time. Some countries, such as the US, still measure the output of the government by the inputs, but this is no longer regarded as good statistical practice. More than 10 years ago, in 1993, the UN System of National Accounts (SNA) was revised to recommend that countries drop the assumption that output = input and seek to measure directly the output of public services (United Nations, 1993). The SNA recommendations are not mandatory, and, as just noted, the US is not following them, but in the case of the European Union (EU), they were legally adopted. Under a decision of December 2002, EU Member States are required to introduce direct measures of public sector output in time for the 2006 national accounts (with the exception of Denmark, which secured a derogation until 2012)."
Disponível em: http://www.tara.tcd.ie/handle/2262/8840?mode=simple

Traduzindo a frase sublinhada acima: por muitos anos, a contribuição do setor público para as contas nacionais foi mensurada assumindo simplesmente que produto = insumos. Tomou-se como verdadeira a hipótese de que você produz o que você gasta. Essa hipótese é claramente insatisfatória pois nada informa sobre como a produtividade do setor público está se modificando ao longo do tempo".

Em resumo, a própria instituição britânica citada pela carta do IPEA enviada a este blog mostra porque não se pode calcular a produtividade do setor público pelas contas nacionais.
Atenciosamente,
Assessoria Econômica do Senador Tasso Jereissati

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PS PRA: Até quando os tabajaras vão continuar insistindo em comandar uma instituição séria? Quando eles decidirão se penitenciar por este enésimio petardo subeconômico?
Quando eles vão se mudar para Roraima, onde poderão desfrutar de salários elevados, mesmo sem nenhuma produtividade que os justifiquem?
Até quando, para parafrasear um desses antigos famosos da velha Roma, eles vão continuar a abusar da nossa paciência?

Um comentário:

  1. A politização e partidarização deste governo está saturada e ameaça seriamente a democracia - instituições representativas estão compradas (leia-se UNE, como um dos maiores exemplos), corrupção, falta de ética aceita em troca de apoio, dados oficiais são alterados, tudo em nome do pragmatismo e de continuidade do governo...

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