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sábado, 14 de novembro de 2009

1504) Genetica, selecao natural e cotas universitarias: continuacao de debate

A propósito deste meu post anterior:

1502) O maior show da Terra: a seleção natural
(sexta-feira, 13 de novembro de 2009),

que transcrevia um artigo de divulgação -- os franceses diriam de haute vulgarisation -- do geneticista Sergio Pena sobre as teses do "bulldog" darwinista Richard Dawkins, uma leitora, sempre atenta e comentarista habitual neste espaço , enviou-me uma referência importante de outro artigo científico do mesmo cientista brasileira, cujo teor, para que mais uma vez não se perca como nota de rodapé, vai aqui reproduzido:

1 comentários:
Glaucia disse...
Ótima a discussão. Gosto bastante do Sérgio Pena, é de coordenação dele um dos (até onde sei) poucos estudos sérios disponíveis publicamente sobre composição genética da população brasileira.
Não sei porque o movimento antirracialista "humanista" nunca usa, é bem bom. Segue aí de novo o link, já deixei uma vez aqui.

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142004000100004

(meu único reparo é que a conclusão é um non sequitur monumental; uma opinião pessoal do(s) pesquisador(es) atravessa toda a camada de ciência anterior e bizarramente se instaura ali, como num desses trabalhos de graduação que verificam que X é Y mas concluem não que X seja Y, mas que X deveria ser Z e devemos evitar dizer que X é Y porque é muito errado e feio. Você dá aula, deve saber como é, não?)
Sábado, Novembro 14, 2009 3:29:00 PM

Esse artigo é o seguinte:

Pode a genética definir quem deve se beneficiar das cotas universitárias e demais ações afirmativas?
Sérgio D.J. Pena; Maria Cátira Bortolini
Estudos Avançados
Print version ISSN 0103-4014
Estud. av. vol.18 no.50 São Paulo Jan./Apr. 2004
doi: 10.1590/S0103-40142004000100004
(existe um link para a versão em pdf)

RESUMO
NESTE TRABALHO nós usamos o instrumental da genética molecular e da genética de populações para estimar quantitativamente a contribuição africana para a formação do povo brasileiro. Examinamos dois compartimentos genômicos: o DNA mitocondrial, de herança matrilínea, e o DNA nuclear, de herança bi-parental. Os estudos mitocondriais revelaram que aproximadamente 30% dos brasileiros autoclassificados como brancos e 80% dos negros apresentam linhagens maternas características da áfrica subsaariana. A partir destes dados, estimamos que pelo menos 89 milhões de brasileiros são afro-descendentes, um número bem superior aos 76 milhões de pessoas que se declararam negros (pretos e pardos) no censo de 2000 do IBGE. As análises de polimorfismos nucleares com marcadores "informativos de ancestralidade" mostraram resultados mais expressivos ainda. Usando estudos de brasileiros autoclassificados como brancos de várias regiões do Brasil, estimamos que aproximadamente 146 milhões de brasileiros (86% da população) apresentam mais de 10% de contribuição africana em seu genoma. Estes números devem ser levados em conta nas discussões sobre ações afirmativas no Brasil, mas em um sentido descritivo e não prescritivo.

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Pois bem, volto para comentar. É óbvio que o Brasil não comporta raças no sentido corriqueiro do termo, mas uma imensa mistura humana que vem se consolidando ao longo do tempo e que diluirá os genomas ancestrais dos habitantes originários e, sobretudo, dos imigrantes (forçados) africanos e (semi-voluntários) europeus e asiáticos num povo absolutamente único e original, moldado no cadinho multirracial que constitui, legitimamente e com orgulho, a população brasileira.
A despeito disso, os militantes da causa racialista vem insistindo em apregoar políticas de corte racial, notoriamente difíceis de serem aplicadas em face dessa realidade.
Independentemente das injustiças cometidas contra a população negra, de origem africana, ou seja, afrodescendente (mas nem por isso afrobrasileira, e sim exclusivamente brasileira, ainda que negra, parda, mulata, seja lá o que for), o caminho a seguir, obviamente, é o da integração cada vez maior dessas "raças" e a ativa promoção educacional daqueles que ficaram para trás em nossa República oligárquica e aristocrática (e até hoje, mas isso ocorre com todos os pobres), em lugar desse Apartheid racial que pretendem criar.
Como se deduz da última PNAD, a MAIORIA da população brasileira é afrodescendente, negra (pequena parte) ou mulata (imensa maioria dos que assim se classificam).
Esse aumento significativo na autoclassificação dos afrodescendentes obviamente tem a ver com a oportunidade criada de benefícios advindos dessa política racialista (cotas, reservas, preferências, ajuda oficial, etc).
Considero isso uma descida ao inferno do Apartheid, uma destruição da sociedade multirracial que vinha sendo criada naturalmente ao longo dos séculos.
Os novos racistas pretendem fazer recuar a propensão natural da humanidade a se misturar.
São descendentes, no sentido inverso, do equivocado Gobineau e suas propostas de separação estrita das raças.
Recomendo a leitura do arigo científico de Sergio Pena e Maria C. Bortolini...
Paulo Roberto de Almeida
14.11.2009

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