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terça-feira, 10 de novembro de 2009
1493) Acabou a dependencia do gas da Bolivia
Sem a dependência de Evo
Editorial O Estado de S.Paulo, 7.11.2009
Com a entrada em operação, no próximo ano, do Gasduc III - o gigantesco gasoduto da Petrobrás que ligará a Bacia de Santos aos principais centros consumidores, o País estará livre da incômoda dependência do gás boliviano. Recorde-se que em 2006, quando o governo Evo Morales nacionalizou o setor de petróleo e gás, o fornecimento às indústrias brasileiras foi ameaçado. Com capacidade de transportar 40 milhões de m³/dia, o Gasduc III, construído ao custo de R$ 2 bilhões, ligará a Estação de Cabiúnas, em Macaé, a Duque de Caxias. Sua capacidade é maior que a do Gasoduto Bolívia-Brasil, que transporta até 30 milhões de m³/dia e não opera a plena carga.
A exploração do gás da plataforma continental altera a relação de forças com o governo boliviano. O embaixador em La Paz, Frederico Cezar de Araujo, por exemplo, precisou tranquilizar as autoridades bolivianas, declarando que as compras de gás não sofrerão corte depois do vencimento do contrato assinado entre os dois países em 1999, com prazo de 20 anos, para assegurar a oferta mínima de 24 milhões de m³/dia e máxima de 30 milhões de m³/dia. "Os volumes de exportação de gás da Bolívia para o Brasil não diminuirão", disse ele.
Só que, agora, comprar ou não será uma decisão exclusiva do Brasil. Mas o mercado de gás natural está superofertado - e esta situação tende a se agravar. A produção brasileira é de 57 milhões de m³/dia de gás natural, dos quais 12 milhões de m³ são reinjetados nos poços; 10 milhões de m³, queimados ou perdidos; e a Petrobrás consome ou absorve 14 milhões de m³, restando 21 milhões de m³ para oferecer ao mercado. Acrescentando os 23 milhões de m³/dia importados da Bolívia - bem abaixo dos quase 31 milhões de m³/dia adquiridos no ano passado -, o consumo local total é da ordem de 44 milhões de m³/dia, contra os quase 59 milhões de m³/dia consumidos em 2008. Com os investimentos previstos de US$ 39,9 bilhões, no período 2009/2013, os polos de Mexilhão, Uruguá, Merluza e Sul deverão assegurar o aumento da oferta de gás extraído da Bacia de Santos de 600 mil m³/dia, hoje, para 22,2 milhões de m³/dia.
Estão em fase avançada de construção 170 km de dutos submarinos que vão ligar Uruguá à plataforma MXL-1, e, desta, mais 145 km até Caraguatatuba, de onde serão distribuídos para o Sudeste, o Sul e o Nordeste - por intermédio do gasoduto Gasene. Outros 216 km de dutos vão unir a MXL-1 à área de Tupi. Já estão prontos 212 km do gasoduto marítimo de Merluza, entre a plataforma MLZ-1 e a unidade de tratamento RPBC, que receberá o gás dos Campos de Merluza e de Lagosta, também no litoral paulista. Os investimentos em gás natural foram acelerados com o Plano de Antecipação da Produção de Gás, anunciado em 2007. Além de levar o Brasil à autossuficiência, a execução do plano resultará num excesso de oferta de gás da ordem de 20 milhões de m³/dia - ou mais.
"Há uma conjugação de fatores contribuindo para a baixa da demanda", afirmou o diretor da consultoria Gas Energy, Marco Tavares. Além dos preços elevados do gás, que levam as indústrias a dar preferência ao óleo combustível, as usinas termoelétricas deixaram de ser acionadas, porque sobra energia hidráulica. Agora, em vez de economizar, será preciso estimular a produção e o consumo de veículos a gás. "Hoje temos nova oferta de gás e novo contrato de suprimento com a Petrobrás que permitem garantir o crescimento do mercado", declarou o gerente da Gás Natural, Marcelo Napolitano.
A empresa controla distribuidoras em São Paulo e no Rio. Como o consumo de gás natural veicular é pequeno, o maior desafio é estimular o consumo de gás em indústrias, comércio e na cogeração de energia. Um projeto da Companhia Brasileira de Alumínio (CBA) prevê o consumo de 1,5 milhão de m³/dia, capazes de gerar 150 a 200 MW de energia elétrica, além de vapor. Os contratos de curto prazo de venda de gás já mostram um recuo de preços entre 30% e 40%.
Com a autossuficiência em gás, ficarão afastados os riscos inerentes ao relacionamento político e comercial com o regime bolivariano de Evo Morales.
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