O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

terça-feira, 24 de novembro de 2009

1541) A marolinha na pratica...

Da coluna do jornalista Polibio Braga (15.11.2009):

Eis os bastidores do pânico do governo Lula durante a crise financeira global

Sobre a marolinha que só Lula enxergou na crise financeira global desencadeada em setembro de 2010:

1) Entre setembro de 2008 e janeiro de 2009, enquanto Lula vacilava na decisão de dar carta branca ao seu czar da economia, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, o Banco do Brasil assumiu o papel de garantidor da liquidez do sistema financeiro (salvador dos bancos) e injetou, logo de cara, em outubro de 2008, R$ 5,9 bilhões nos bancos Votorantim (R$ 3 bi), Safra (R$ 1,7 bi) e Alfa (R$ 400 mi), porque eles não conseguiam resistir às corridas bancárias que sofreram.

- O Banco do Brasil também injetou R$ 900 milhões na Sadia, empresa da família do ministro de Lula, Luiz Furlan. Metida numa especulação com derivativos, a Sadia ia quebrar.

2) Dilma foi contra a compra da Nossa Caixa pelo BB. Ela não queria que o governo Lula desse o dinheiro para seu adversário, José Serra. Lula contrariou todo mundo, mas mandou pagar a conta em 18 meses.

. As revelações acima são do jornal Valor desta terça-feira.

. O jornal paulista já tinha produzido revelações igualmente relevantes na sexta-feira retrasada, quando publicou informações detalhadas sobre o pânico que se instalou no governo Lula durante a crise. A divulgação resultou na demissão do diretor do Banco Central que fez as inconfidências. Na crise, informou o diário

. Enquanto Lula fazia bravatas, dizendo que a crise era uma marolinha para o Brasil, o BB, o Banco Central e o ministério da Fazenda desesperavam-se para conter as hemorragias que levaram Meirelles a procurar Lula para pedir demissão (Meirelles entregou a carta) caso ele não o autorizasse a agir. Lula cedeu e o Banco Central fez o seguinte, dando seqüência ao que iniciou o BB em outubro, um mês de deflagrada a crise financeira global:

1) queimou reservas até conter a alta do dólar, que foi a R$ 2,62, inclusive em função de ataques especulativos de grandes proporções.

2) botou dinheiro a rodo (só numa tacada foram liberados R$ 12 bi de depósitos compulsórios) para impedir uma quebradeira generalizada de pequenos bancos.

. Por alto, o governo enfiou R$ 48 bilhões para ajudar os bancos. Tanto no caso do apagão como neste caso da crise financeira global, Lula não tem por que contar vantagem sobre seu antecessor, FHC.

CLIQUE AQUI para ler a análise sobre as condições dos enfrentamentos das crises globais nos governos FHC e Lula, elaborada neste domingo pelo editor, depois de consultas a suas fontes em Brasília, São Paulo, Nova Iorque e Washington (via Web).

CLIQUE AQUI para acompanhar o inteiro teor do clipping.

Análise - A verdade que o governo escondeu sobre a "marolinha" global
Análise do editor

domingo, 15 de novembro de 2009

O governo Lula, do PT, socorreu histericamente os bancos e os exportadores, abrindo completamente os cofres do Banco Central para suprir as ações de resolução dos desastres monetário e cambial, decorrentes da crise financeira global. Este vai ser o grande assunto político da semana. Ela mostrou que o rei estava nú há muito tempo, mas ninguém via. A marolinha pintada por Lula foi uma crise financeira de enormes proporções.

. Lula, diante da iminência da demissão do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e da atuação desastrada do seu ministro da Fazenda, Guido Mantega, mandou abrir os cofres. Os bancos pequenos foram socorridos com R$ 40 bilhões de um dia para o outro e o governo do PT mandou "queimar tantas reservas quanto fossem necessárias para conter a alta do dólar".

. Foi rendição total à política ortodoxa do Banco Central. Lula nada ficou a dever a FHC, que viu seu ex-presidente do Banco Central ser preso por ter ajudado os bancos Marka e Cindam em plena crise financeira global, e foi caluniado por ter feito o Proes.

. Na época do auxílio aos bancos, principalmente através do Proer, houve uma crise internacional que ainda pegava o Brasil com maior fragilidade, principalmente nas suas contas fiscais. Foi principalment a partir de 98 que o Brasil passou a melhorar as suas contas fiscais. Isto junto com a estabilida de preços obtida com o real, foi o que passou a dar mais credibilidade e resiliência à economia brasileira. E isto que com toda a dificuldade de saques do sistema bancário na época, o governo só emprestou dinheiro aos banco depois de muita negociação com o Congresso e com o Proer embalado junto com um grande programa de maior responsabilidade fiscal.

. Agora, no atual governo do PT, o que houve foi simplesmente despejar um monte de dinheiro, não só pelo BC, mas também pelo Ministério da Fazenda. E praticamente sem nenhuma conversa com o Congresso.

. Ninguém conhecia as proporções da ajuda aos bancos e o socorro aos exportadores até a reportagem desta sexta-feira no jornal Valor.

. Qual o grande problema hoje entre BC e ministério da Fazenda? O ministério da Fazenda ( que tinha um time muito bom na equipe do Palocci - Joaquim Levy, Marcos Lisboa, entre outros) foi todo transformado, aparelhado e partidarizado desde a chegada do ministro Guido Mantega. Ha pelo menos 12 anos era um minstério preservado do aparelhamento e agora desandou.

. Acontece que muita gente no Banco Central revoltam-se porque enquanto o Banco Central luta a muito custo para tentar preservar a estabilidade e a confiança obtida a muito custo pela economia brasileria, o ministério da Fazenda, como ressaltou corretamente o ex-ministro Mailson da Nóbrega, virou uma usina de más ideias. Pior do que isso: estão destruindo progressivamente a estabilidade fiscal, constituída a duras penas, durante muito tempo. E o pior: aumenta assutadoramente o gasto com pessoal e o custeio da máquina (partidariamente) que fará o País prisioneiro irremediável de uma alta carga tributária. Enquanto isso o pessoal do Banco Central se revolta, porque sabe que se houvesse uma maior responsabilidade fiscal por parte do ministério da Fazenda (não se trata de investimentos necessários, mas do crescimento irresponsável do gasto com pessoal e custeio), a taxa de juros poderia cair mais rapidamente, sem ameça à estabilidade da inflação. Esta tensão está há muito represada.

. A entrevista do diretor Toró (leia mais abaixo, em clipping completo) foi consciente. Foi uma espécie de recado para o ministério da Fazenda. Num momento onde muitos no Banco Central têm medo de que com a saída do Meirelles aquilo lá vá para o mesmo caminho do ministério da Fazenda após a saída do Palocci.

=========

Na crise, BB colocou R$ 6,7 bi para socorrer bancos e Sadia
Alex Ribeiro, de Brasília
Valor Econômico, 24/11/2009

O BB desempenhou o papel de emprestador de última instância para evitar uma crise de grandes proporções

O Banco do Brasil desempenhou o papel de emprestador de última instância para evitar uma crise bancária de grandes proporções entre setembro de 2008 e janeiro de 2009, enquanto o Banco Central relutava em assumir essa função, temendo riscos judiciais em operações de empréstimos aos bancos. O BB injetou R$ 5,8 bilhões nos bancos Votorantim, Safra e Alfa durante a crise, para ajudá-los a reforçar o caixa em meio a uma corrida bancária no mundo. Ele também socorreu a Sadia, que havia sofrido perdas em operações com derivativos, com um empréstimo de R$ 900 milhões.

Ao mesmo tempo em que ajudou a estancar a crise, o BB executou uma bem-sucedida estratégia que lhe permitiu recuperar a liderança em ativos no setor bancário, perdida com a compra do Unibanco pelo Itaú em 3 novembro de 2008. O acesso a informações sobre a carteira de crédito de bancos concorrentes abriu o caminho para a aquisição de 49,99% do controle acionário do Banco Votorantim, instituição que o BB ambicionava há muito tempo.

O Banco do Brasil também influiu diretamente em algumas decisões tomadas pelo governo para combater a crise. A medida provisória 443, que deu poderes aos bancos públicos para comprar instituições financeiras, foi sugerida pelo BB especialmente para viabilizar a compra da Nossa Caixa. O primeiro esboço da MP foi escrito pelo departamento jurídico do banco.

O Valor apurou que entre as exigências do governador José Serra para vender a Nossa Caixa o governo federal teria de conter a oposição de sindicalistas e do PT paulista ao negócio e pagar em dinheiro. Diante da oposição dos ministros da Fazenda e da Casa Civil, o presidente Lula arbitrou em favor da aquisição, mas determinou que o pagamento fosse feito em 18 parcelas.

3 comentários:

Glaucia disse...

Bem, professor, além de estranhar o editorial do Valor escrever "muita gente no Banco Central revoltam-se", aponto para a falta de lógica da coisa.

Noto que, tirado o escândalo wildeano da revelação "de dentro", não há novidade nenhuma. Lula atuou como sempre se diz que ele atua - com o Estado intervindo -, e de forma conservadora (como se sabe que atua desde 2002). Possivelmente, salvou duas das mais importantes empresas brasileiras de falirem por falta de caixa imediato, atitude que os EUA não tomaram com o Lehman Brothers e pela qual foram extremamente criticados pelo mercado. Sugiro voltar a fita a dezembro de 2008. Duvido que os mercadólogos não apoiassem a medida.

Sobre a "marolinha", sugiro comparar as medidas tomadas - aparentemente corretas, do ponto de vista do resultado - com o que ocorreu em outros países. Ficar falando em milhões e bilhões sem comparar com nada é puro sensacionalismo. Se tivessem sido injetados 3 milhões, em vez de 3 bilhões, no Votorantim, seria diferente a manchete? Quanto os EUA injetaram nos seus bancos? A Alemanha? O Reino Unido?

Ronda o bizarro culpar os bombeiros por apagar fogo.

Abraços fiscalizadores,

Glaucia

Paulo Roberto de Almeida disse...

Glaucia,
Agradeço pelos comentários, quase todos pertinentes, mas minha posição, puramente pragmática, e não ideológica, é a seguinte:
Empresas que podem (não que devem, por princípio) ser "salvas" pelo Governo são unicamente aquelas que podem representar risco sistêmico para a economia, ou seja, sua falência pode causar uma sucessão de outras falências -- no caso, quebras bancárias em cadeia, por exemplo -- o que aprofundaria a crise na economia.
Ou seja, dificilmente o Votorantim se enquadraria nessa categoria, pois sua quebra não colocaria em risco o sistema bancário do Brasil. O governo, portanto, agiu de forma totalmente irresponsável, ao colocar dinheiro do contribuinte num banco privado que poderia facilmente ser comprado por outro banco de maior peso no mercado, ou simplesmente quebrado, sem prejuizo para o sistema, a não ser para seus proprietários, acionistas e correntistas e aplicadores.
O Fed e o Tesouro julgaram que o Lehman Brothers se encaixava na mesma categoria, do não-risco sistêmico e por isso deixaram que ele fosse à lona (inclusive o Sec. do Tesouro era um antigo executivo e achou que o banco poderia ser salvo por outro, o que não foi o caso).
Existem outros casos nebulosos de ajuda irresponsável (e eu até diria criminosa) do governo a empresas que não deveriam e não poderiam ser ajudadas.
O governo Lula, como se sabe, adora capitalistas e tem por eles carinho especial, torrando o nosso dinheiro com os amigos do poder...
Não por acaso, gente promíscua assim (Votorantim, etc) figuram entre os maiores contribuintes clandestinos de todos os governos, qualquer governo. Sempre é um investimento, imoral, criminoso, mas investimento.
Quem se deixa prostituir é que deveria ser enquadrado pelo Ministério Público e ser submetido a exposição pública por conduta irregular...

Glaucia disse...

Entendo a crítica. No todo, faz sentido. Ela é válida em novembro de 2009, mas não estou certa se podemos aplicar o raciocínio ao verdadeiro estado de exceção (recorro a Agamben, hehe) que vivíamos em dezembro de 2008. Note que não foi uma exigência de algum dos ministro do capitalismo Amigos dos Amigos, mas do Henrique Meirelles, que aparentemente tinha sobretudo a própria reputação em mente.

Abraços,

Gláucia