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segunda-feira, 2 de novembro de 2009

1469) A profissao academica: do copiar-colar ao consumo de ideias

Uma leitora de meus textos escreveu pequena mensagem a propósito do velho problema da insuficiente reflexão e produção própria dos acadêmicos -- um problema que não é exclusivamente brasileiro, mas que aqui alcança proporções sem dúvida preocupantes -- e sua opção (deles, dos acadêmicos) em simplesmente glosar "argumentos de autoridade" para rechear seus textos.
Confesso não ter a solução para esse problema (e outros, que também afligem a academica, tampouco), mas talvez isso possa estimular alguém a escrever a respeito.
Em todo caso, antes de conseguir fazer uma elaboração mais reflexiva a respeito, transcrevo, como uma espécie de Aide-Mémoire, nosso exchange sobre o assunto.

A "reprodução" acadêmica

On 04/08/2009, at 16:52, Mxxxxxx Sxxxx wrote:

Boa tarde dr. Paulo Roberto , durante uma pesquisa me deparei com alguns textos de sua autoria , os quais me agradaram muito , principalmente na maneira de tecer sua opinião .Gostaria de saber se existe algum artigo que o senhor publicou a respeito do “consumo de idéias”, reprodução do conhecimento no lugar da produção deste.Refiro-me principalmente as universidades as quais deveriam propor a construção do conteúdo ao invés de apenas continuar COPIANDO e COLANDO o que algum ser superior declarou no passado.

Sou universitária e vivencio isso diariamente, não sei dizer se essa situação ocorre apenas na minha faculdade , no meu curso , mas observo que os universitários estão cada vez mais conformados, afinal é mais fácil decorar( ou usar o famoso ctrl C ctrl V) a ter que parar pra refletir , questionar , investigar.

Caso o senhor publicou algum material sobre esse assunto ou algo relacionado a isso , gostaria da indicação bibliográfica ,caso não fica esse e-mail como sugestão.

Agradeço muito a atenção e aguardo resposta

Mxxxxx

Minha resposta a ela, no mesmo dia:

Mxxxxx,

Grato pelo contato. Voce levanta um ponto interessante e passível de exame mais detido e discussão pública. Confesso que me senti motivado a escrever algo a respeito, mas infelizmente não tenho nada nessa linha que possa lhe servir neste momento.

Estou atualmente engajado na escritura de uma série de artigos sobre "falácias acadêmicas" e talvez o seu tema possa constituir o objeto de um próximo artigo meu. Até o momento tratei de questões econômicas, sociais e políticas, como você pode ver em meu site, no link "Falácias Acadêmicas".

Acredido que todos, atualmente, professores e alunos, vivenciamos esse tipo de problema, diariamente. Isso tem a ver com a honestidade intelectual, obviamente, mas as fronteiras são tenues, entre a pesquisa honesta, e referenciada, e a apropriação indébita, ou fraudulenta.

Veja que, em meu ultimo artigo (sobre o socialismo de mercado na China), eu aproveitei trechos de um trabalho antigo que tinha ficado incompleto, ou deasproveitado, como tal inédito. Neste caso, sou eu copiando a mim mesmo, o que nao é apropriacao, e sim apenas aproveitamento. Mas, por vezes tambem tem um pouco de Lavoisier, que é a pratica conhecida como transposicao: na Natureza nada se perde, nada se ganha, tudo se transforma, segundo a frase do famoso cientista frances do seculo 18.

Mas, tambem pesquisei no Google referências para meus ultimos trabalhos, livros publicados por economistas, frases que eles disseram, etc. Por vezes, essas fontes são referenciadas explicitamente, por vezes não.

A maior parte dos alunos, e alguns professores, por inércia, preguiça ou incapacidade própria, acaba transcrevendo trechos inteiros de trabalhos de terceiros para seus próprios trabalhos, o que constitui fraude, apropriação, desonestidade intelectual, e deve ser denunciado.

Mas a prática é mais comum do que se pensa.

Talvez eu escreva algo a respeito. Mas nao tenho nada especial no momento.

Em todo caso agradeço muito sua sugestão, que aproveitarei num próximo trabalho.

Cordialmente,

Paulo Roberto de Almeida

PS em 2.11.2009: Bem, até agora não tive tempo, oportunidade, lazer para escrever algo a respeito. Vou dedicar meu próximo ensaio da série Falácias ao problema da responsabilidade dos intelectuais, mas este tema permanece em meu "caderninho de próximos trabalhos".

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