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sexta-feira, 27 de novembro de 2009

1549) Brasileiros gostam do Estado, querem mais Estado

Bem, podemos até dizer que os brasileiros amam o Estado e estão dispostos a fazer de tudo para estar no Estado, visto como uma mãe generosa (certamente para os seus funcionários).
Com base na nota abaixo, só posso prever que o Brasil vai se atrasar, relativamente a outros países, por uma razão muito simples: alguém pode me dizer quais são e quais os volumes representam as riquezas criadas pelo Estado?
Se o Estado, como acredito, não cria nenhuma riqueza, mas apenas retira da sociedade uma parte da riqueza criada por empresários e trabalhadores, então o que vai acontecer é frações maiores dessas riquezas estarão sendo transferidas da sociedade para as mãos do Estado (e para os bolsos de alguns dos seus funcionários). Sendo assim, não haverá investimento suficiente para sustentar o crescimento da economia, e o Brasil, portanto, vai crescer pouco.
A renda per capita dos brasileiros vai diminuir, relativamente à de outros nacionais de outros países,que não possuem um Estado tão grande e tão caro quanto o nosso. Os brasileiros vão ficar mais pobres, mas continuarão a amar o Estado, e pedir que o Estado corrija essas "desigualdades". O Estado vai corrigir, supostamente, mas como ele sempre cobra um pedágio, no caminho da "redistribuição", o que vai ocorrer é o exato oposto do pretendido...
Como vêem, sou pessimista...
Paulo Roberto de Almeida

Pesquisa mostra que 64% dos brasileiros querem maior controle do governo na economia
Informativo digital da Liderança do PT, Câmara dos Deputados
27.11.2009

Uma pesquisa feita a pedido da BBC em 27 países e divulgada nesta semana revelou que 64% dos brasileiros entrevistados defendem mais controle do governo sobre as principais indústrias do País. Não apenas isso: 87% dos entrevistados defenderam que o governo tenha um maior papel regulando os negócios no País, enquanto 89% defenderam que o Estado seja mais ativo promovendo a distribuição de riquezas.
O levantamento é divulgado em um momento em que o País discute a questão da presença estatal na economia. Definir para que caixa vai a receita levantada com a exploração de recursos naturais importantes, como o petróleo da camada pré-sal, divide opiniões entre os que defendem mais e menos presença do governo no setor econômico.
A insatisfação dos brasileiros com o capitalismo de livre mercado chamou a atenção dos pesquisadores, que qualificaram de “impressionante” os resultados do país. “Não é que as pessoas digam, sem pensar, 'sim, queremos que o governo regulamente mais a atividade das empresas'. No Brasil existe um clamor particular em relação a isso”, disse Steven Kull, o diretor do Programa sobre Atitudes em Políticas Internacionais (Pipa, na sigla em inglês), com sede em Washington.
O percentual de brasileiros que disseram que o capitalismo “tem muitos problemas e precisamos de um novo sistema econômico” (35%) foi maior que a média mundial (23%). Enquanto isso, apenas 8% dos brasileiros opinaram que o sistema “funciona bem e mais regulação o tornaria menos eficiente”, contra 11% na média mundial.
Para outros 43% dos entrevistados brasileiros, o livre mercado “tem alguns problemas, que podem ser resolvidos através de mais regulação ou controle”. A média mundial foi de 51%. “É uma expressão de grande insatisfação com o sistema e uma falta de confiança de que possa ser corrigido”, disse Kull.
Socialismo - “Ao mesmo tempo, não devemos entender que 35% dos brasileiros querem algum tipo de socialismo, esta pergunta não foi incluída. Mas os brasileiros estão tão insatisfeitos com o capitalismo que estão interessados em procurar alternativas.”
A pesquisa ouviu 835 entrevistados entre os dias 2 e 4 de julho, nas ruas de Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Goiânia, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo.
Steven Kull avaliou que esta discussão não é apenas brasileira, mas latino-americana. Para ele, o continente está “mais à esquerda” em relação a outras regiões do mundo. A pesquisa reflete o “giro para a esquerda” que o continente experimentou no fim da década de 1990, quando o modelo de abertura de mercado que se seguiu à queda do muro de Berlim e à dissolução da antiga União Soviética dava sinais de esgotamento.
Começando com a eleição de líderes como Hugo Chávez, na Venezuela, em 1998, o continente viu outros presidentes de esquerda chegarem ao poder, como o próprio Luiz Inácio Lula da Silva, Evo Morales (Bolívia) e Rafael Correa (Equador).

2 comentários:

Rafael disse...

"(...) o Estado, como acredito, não cria nenhuma riqueza, mas apenas retira da sociedade uma parte da riqueza criada por empresários e trabalhadores (...)"

O senhor se importaria de elaborar essa assertiva, que me incomoda desde as aulas de economia na faculdade? Ela parece ter como corolário a idéia de que a extinção do Estado permitiria à sociedade o usufruto mais completo das riquezas que ela produz. Eu, no entanto, organizo meu ceticismo a essa idéia em três passos:

1. Me parece que as sociedades mais avançadas do mundo, como a americana, a sueca e a alemã, têm Estados bem aparelhados e atuantes; os países com Estados falidos, por outro lado, se encontram entre os mais miseráveis: Somália, Sudão, Haiti. Desconheço qualquer economia avançada que prescinda do Estado. Sem ele, os mercados são menos eficientes, não mais.

2. Creio ser um equívoco atribuir a produção da riqueza de uma nação exclusivamente a determinados segmentos sociais como empresários, trabalhadores e/ ou iniciativa privada. A sociedade é um sistema de partes interdependentes: governo, ONG's e demais setores públicos também participam da produção da riqueza, ainda que não diretamente. Da mesma forma, o Conselho Administrativo de uma fábrica de carros não produz riqueza diretamente, mas sua existência é crucial para o aumento da produtividade da empresa. Não vejo como tirar o Estado da equação de produção da riqueza, como parecem pretender algumas cartilhas de macroeconomia.

3. o Estado é parte constitutiva das economias capitalistas -- não um corpo estranho a elas. Tanto isso é verdade que Marx, ao propor uma organização social pós-capitalista, tinha como meta exatamente a extinção do Estado (visto como ele como instrumento de dominação da burguesia, mas essa é outra história...), e não o seu fortalecimento.

Enfim, pretendo com esta mensagem apenas fazer uma boa provocação, ainda que um tanto ligeira. Ficaria muito feliz de ouvir seus comentários.

Abraço,
Rafael

Paulo Roberto de Almeida disse...

Rafael,
Estou em viagem internacional acessando desde um aeroporto, e portanto impossibilitado de elaborar mais detidamente sobre a questao, que é de fato importante e mereceria um artigo inteiro para responder (o que vou fazer assim que der).
1) Nenhuma sociedade civilizada, desde os sumérios, prescinde de Estado, que como sempre coleta impostos para fornecer bens coletivos.
2) O problema está quando esse Estado arranca da sociedade algo mais do que os recursos para esses bens coletivos, e os usa em seu proprio favor, ou melhor, dos que ocupam o Estado momentaneamente (pois o Estado é uma abstracao conceitual, existem instituicoes de governo e pessoas que ocupam esses nichos).
3) Por certo que o Estado cria as condicoes para que os agentes privados criem riqueza: garante propriedade, contratos, obras de infraestrutura, solucao de conflitos, etc. Ele permite e até amplia a criacao de riquezas, formando pessoas, por exemplo, mas sempre e exclusivamente com recursos tirandos da propria sociedade. Isso é tao evidente que eu nem preciso elaborar a respeito.
4) ONGs e Estado jamais criam riquezas, apenas podem viabilizar condicoes para que a riqueza criada se multiplique. Alguns Estados (ou melhor, governos) no entanto tem um especial atrativo pela riqueza criada no setor privado e seja por ideologia igualistarista ou distributiva, seja mesmo por cupidez dos dirigentes avança em demasia sobre a riqueza privada, e ai acontece o que sabemos: desinvestimento, fuga de capitais, evasao fiscal, etc...
Nao preciso elaborar, pois voce é suficientemente inteligente para compreender isso.
Por fim: esqueça Marx: ele era apenas um filosofo, que em lugar de transformar o mundo, encarregou-se de transforma-lo em algo muito confuso, com uma poderosa ideologia que ainda domina as mentes de milhoes de pessoas no mundo.
Paulo Roberto de Almeida