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quarta-feira, 10 de março de 2010

1774) Cuba: o Brasil e os dissidentes cubanos - duas posicoes

Sem nenhum comentário, que acho totalmente dispensável, nas presentes circunstâncias, transcrevo dois materiais relativos à situação dos dissidentes em Cuba, numa interpretação equiparados a bandidos, em outra considerados vítimas do embargo americano à ilha caribenha, e também objeto de um post num blog conhecido. Ele parece ter sido transcrito no blog de uma autora equiparada a estes dissidentes (embora se possa considerar que os verdadeiros dissidentes, da democracia e das liberdades, sejam outros), que tinha sido convidada para vir ao Brasil, para lançar seu livro "De Cuba com carinho", mas que não conseguiu, provavelmente vítima do mesmo embargo.

POLÊMICA
Celso Amorim defende o fim do embargo a Cuba para acabar com greve de fome de dissidentes

Ângela Góes, Christine Lages, Eliane Oliveira e Mariana Timóteo
Agências internacionais
O Globo, 10/03/2010

(Foto) - Em Havana, dissidente cubano Felix Bonne anuncia que entrará em greve de fome caso Guillermo Fariñas morra - ele está sem comer há 13 dias / AFP

BRASÍLIA - O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, evitou comentar nesta quarta-feira a declaração em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva comparou dissidentes políticos de Cuba a bandidos em São Paulo . No entanto, ele afirmou que o fim do embargo comercial capitaneado pelos Estados Unidos é a forma de acabar com episódios como a greve fome dos dissidentes cubanos.

- A receita é muito simples: acabar com o embargo - afirmou Amorim.

O ministro afirmou que o Brasil está envolvido em melhorar a vida dos cubanos, principalmente, com comércio e investimento. Ele também lembrou que o presidente Lula teve suas razões em fazer tal comentário, mesmo porque Lula teve experiência em greve de fome no passado.

- Uma coisa é você defender a democracia, outra coisa é sair dando apoio a qualquer dissidente. Temos experiências que isso não tem efeito prático. O importante é darmos condições melhores ao povo cubano - disse o ministro.

Nesta quarta-feira, o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Ophir Cavalcante, foi duro e classificou as declarações de Lula como "uma comparação despropositada".

- A comparação é despropositada, pois tenta banalizar um recurso extremo que é, ao mesmo tempo, um símbolo de resistência a um regime autoritário que não admite contestações - afirmou Ophir, em nota, acrescentando que "mais razoável seria se o governo brasileiro se preocupasse com as péssimas condições carcerárias a que estão submetidos" os presos brasileiros. ( Clique e leia mais )

Javier Zuniga, diretor da Anistia Internacional para a América Latina, entidade de defesa dos direitos humanos, comentou que a afirmação de Lula pode ter sido feito por desconhecimento do presidente acerca da situação carcerária em Cuba.

- Acompanhamos a situação dos dissidentes em Cuba há anos. Acreditamos que o presidente Lula tem informações equivocadas e estamos prontos para informá-lo sobre os prisioneiros. Temos alguns documentos que mostram o motivo pelo qual essas pessoas estão presas, e o que acreditamos ser prisoneiros de consciência - disse.

Dissidentes decepcionados
O dissidente cubano Guillermo "Coco" Fariñas, que iniciou uma greve de fome no dia 24 de fevereiro para protestar contra a morte de Orlando Zapata, não pode comentar as declarações de Lula.

- Gulliermo está a par das declarações do líder brasileiro - disse ao GLOBO, por telefone, Liset Zamora, porta-voz do psicólogo e jornalista. - Mas ele está muito fraco para dar entrevistas.

Segundo ela, depois de 13 dias sem se alimentar, Fariñas está desidratado e com taquicardia.

- Não nos causa estranhamento que Lula compare presos politicos a bandidos comuns. Ele é um presidente que responde aos interesses do governo cubano - afirmou Liset. - Lula é um cúmplice de Raúl e Fidel Castro.

Manuel Cuesta Morúa, da organização Arco Progressista, disse que declarações como a do presidente Lula só deixam os dissidentes cubanos mais isolados. Segundo ele, como chefe de Estado, Lula cumpre o seu papel de manter boas relações com o governo de Cuba, se encontrando com os Castro.

- Mas ele poderia ouvir os dois lados, para ter uma ideia melhor do que acontece aqui. Chamamos Lula para o diálogo, enviamos cartas para ele, e ele nos ignora, acho isso uma atitude equivocada e que não condiz com o principal líder da América Latina. Um grande líder não vira as costas para violações aos direitos humanos como as que sofremos atualmente em Cuba - declarou o dissidente.

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Do blog Cubanet, 10.03.2010 (recebido originalmente por internet e não por acesso direto):

¿Miente el presidente de Brasil?
Aleaga Pesant

LA HABANA, Cuba, marzo (www.cubanet.org) - La embajada de Brasil en la Habana tiene instrucciones de su cancillería de no recibir a los demócratas cubanos, ni su correspondencia, según reportan varios demócratas, luego del incidente con el Presidente de Brasil, durante su reciente visita a la Habana.

Jorge Olivera Castillo, periodista independiente del grupo de los 75 presos políticos de la Primavera Negra, actualmente en licencia extrapenal, sin permiso para viajar al extranjero, asegura que durante los días 18 y 19 de febrero de 2010, los solicitantes establecieron constante comunicación telefónica con la secretaria del embajador brasilero, quien les comunicó que la legación no estaba autorizada a recibir a los demócratas cubanos o su correspondencia.

De todas maneras, el lunes 21, uno de los más de cincuenta firmantes de la carta se presentó en la embajada, en el municipio Habana Vieja, con la copia impresa de la misma que no fue aceptada por los funcionarios cubanos de la sede diplomática, argumentando órdenes del embajador. No obstante, la misiva fue enviada por correo electrónico a la legación.

La misiva de los demócratas cubanos pide al mandatario de Brasil que interceda por los presos políticos y de conciencia, en especial por Orlando Zapata Tamayo, quien ya agonizaba por esos días, tras 80 jornadas de la huelga de hambre que lo llevó a la muerte.

El mandatario brasileño fue cuestionado duramente por los medios de prensa de su país, luego de aparecer complaciente y sonriente junto a los tiranos de Cuba, el mismo día de la muerte de Zapata Tamayo. El Presidente de Brasil se defendió diciendo, según cita el diario O Estado de Sao Paulo, “Si hubiesen pedido audiencia para conversar conmigo yo habría conversado con ellos y cualquier presidente lo hubiera hecho. No nos rehusamos”. Refiriéndose a los demócratas cubanos concluyó: “Las personas debieran parar el hábito de hacer cartas, guardárselas para sí mismos y después decir que las enviaron”.

Para los círculos prodemocráticos en la isla, la visita del suramericano pone en evidencia el interés en sacar ventajas financieras en Cuba de las sub potencias suramericanas, y como éstas subordinan sus agendas de derechos humanos y libertad, a sus intereses económicos. Los más de 150 millones de dólares invertidos se convierten en crédito blando para su sostenimiento.

Al ascender a la presidencia de Brasil, muchos cubanos albergaron la esperanzad de que Lula, debido a su pasado de lucha anti dictatorial, sería un actor favorable para la construcción democrática en Cuba, pero al igual que la mandataria chilena, Michelle Bachelet, resultó ser un gran amante de la tiranía de los hermanos Castro Ruz.

aleagapesant@yahoo.es

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Fim de transcrições
Paulo Roberto de Almeida (10.03.2010)

3 comentários:

Vinícius Portella disse...

Não investiguei a questão a fundo, porém, num primeiro momento, não consigo achar alguma justificativa boa e calcada em um argumento racional para a manutenção do embargo a Cuba. Penso que os motivos originais para isso já não mais existem e esta proibição é um anacronismo. Talvez eliminando-o, os EUA aos poucos retomariam sua influência sobre a ilha, o que deve acontecer mais cedo ou mais tarde quando os Castros tiverem-se ido e seu regime implodir.

O que nos fala sobre o embargo?

Quanto às palavras de Celso Amorim, que nexo ele estabeleceu entre a morte de dissidentes e o embargo a Cuba? Não consegui acessar a sua lógica "parainconcistente".

Viste, Paulo, não só de jabuticabas vivemos, também de "amorinhas"...

Abraços!

Paulo Roberto de Almeida disse...

Vinicius,
O embargo deriva de leis americanas que não são arrogância imperial tradicional, e sim um processo absolutamente legal pelo qual o CONGRESSO americano -- ou seja, os representantes do povo, e não o EXECUTIVO, como se pensa habitualmente, embora este seja pressionado pelo lobby anti-Fidel de Miami, ou seja, os cubanos do exílio -- decidiu aprovar essas medidas impeditivas de comércio e intercâmbios em geral, em 1961, depois da expropriação sem compensações e da nacionalização (de fato estatização) de propriedades americanas em Cuba.
Todo Estado tem direito de expropriar particulares, propriedades, de cidadãos seus ou de estrangeiros; o problema é que Cuba se recusou a compensar, o que motivou o embargo, que hoje é (desde muitos anos aliás) uma medida que de fato sustenta a ditadura cubana.
Se o embargo tivesse sido suspendido nos anos 1980, ou 1990, depois do final da Guerra Fria e da implosão do socialismo mundial, talvez o regime cubano não tivesse sobrevivido, mas o embargo dá a justificativa nacionalista de que necessitam o regime para manter as medidas de controle e repressão contra a sua populacão, explicando a penúria pelo embargo, quando isso é absolutamente errado.
Não sei se você sabe, mas os EUA são hoje o principal fornecedor de alimentos para Cuba, milhões de toneladas por ano, pois o embargo não impede a venda de alimentos e remédios (e até outras coisas). As remessas de dólares tampouco são proibidas, embora o regime se aproprie dos mesmos e pague na taxa oficial que deve ser menos de 1/3 da real, o câmbio negro, existente e funcionando na ilha, inclusive para comprar produtos básicos, já que o abastecimento é precário.
Eu também não consigo ver nenhuma conexão entre o embargo e os dissidentes, ou a greve da fome, já que não existe relação entre repressão política e ausência de contatos comerciais. Como se Cuba não pudesse plantar seus alimentos ou como se não pudesse comprar de quer deseja lhe vender, que é todo o resto do mundo.
Trata-se de uma "lógica" (se o termo se aplica) desconhecida para mim, acho que para qualquer pessoa sensata...
Paulo Roberto de Almeida

Vinícius Portella disse...

Paulo,

Eu de fato não sabia dos dados por ti apresentados. Quanto ao embargo, pensava que seu motivo estava na adesão de Cuba ao socialismo e no seu alinhamento à URSS. Afinal, a ilha está demasiado perto da foz do Mississipi e pensei que essa retaliação seria o ramo econômico, tal como a invasão da Baía dos Porcos teria sido o ramo militar, de uma tentativa de precipitação do regime castrista e de eliminação do enclave soviético na área de influência dos EUA.
Quanto à iniciativa ter sido do congresso, eu nunca havia lido sobre isso, mas sempre imaginei que o fosse, dado o peso muito maior dessa instituição na política daquele país em comparação com o nosso em nossa política doméstica e de crer que o executivo ianque não teria poderes para isso. Realmente, é uma questão complicada, pois ainda não houve - nem haverá tão cedo - o ressarcimento dos bens expropriados. Nem creio que Cuba teria condições de fazê-lo. Bom, eu nem sei muito o que pensar a respeito; dentre nós, tu que és o diplomata apto a tratar de questões "cabeludas" como esta. Sou só alguém muito agradecido pela atenção e pela informação.

Um grande abraço!