segunda-feira, 6 de setembro de 2010

República Mafiosa do Brasil (18): a colaboracao da imprensa (ainda que involuntaria)

Muitos podem achar que, ao postar todo o material que vem sendo aqui transcrito sob a rubrica geral de "republica mafiososa do brasil" (tudo em minúsculas, comme il faut), eu apenas tenho implicância, ou horror, a certo partido que está aí, ou seus representantes no poder.
Longe disso: acredito que vitórias eleitorais, desde que legítimas -- ou seja, não manchadas por manipulações e fraudes, como se vê ainda muito perto do Brasil -- devem ser amplamente respeitadas. Ainda que eu possa não concordar com determinadas políticas -- e todos sabem que eu expresso claramente minhas opiniões quando não concordo com algo, até em tom veemente -- eu acredito que elas tenham legitimidade.
Por exemplo: esse horror todo que estão fazendo com a educação brasileira -- aulas obrigatórias de estudos afrobrasileiros e de espanhol, no fundamental, e disciplinas obrigatórias de sociologia e filosofia no médio --, esse racismo oficial que estão criando com as cotas do novo Apartheid, tudo isso eu acho um estupro indecente do ponto de vista da qualidade do ensino e de um Brasil democrático, mas não deixo de reconhecer que existe demanda, vinda de certos setores sociais, para esse tipo de besteirol. Os representantes políticos dos novos racistas, dos sindicalistas "professorais" e as pedagogas freireanas se apressam em satisfazer essas demandas, para atender sua clientela. Isso é legítimo, e compreendo. No dia em que eu for responsável por alguma área desse tipo, vou tentar desmantelar esse tipo de empreendimento que considero nefasto para o futuro do Brasil.
Mas, estamos assistindo, desde algum tempo no Brasil, a uma exacerbação de atos ilegais, eu até diria criminosos, que deixam qualquer um que tenha brios democráticos com os cabelos em pé.
Nunca antes neste país se assistiu a tamanha desfaçatez nos crimes políticos como agora, alguns até crimes comuns.
Essa é a única razão pela qual decidi registrar -- é a minha única forma de participação cidadã -- o que me parece relevante no cenário político-eleitoral do Brasil.
Como a nossa imprensa é muito ruim, mas muito ruim mesmo -- com raríssimas exceções entre os grandes jornais -- e como os jornalistas -- novamente com raríssima exceções -- são piores ainda, eu sou obrigado a me apoiar nos poucos exemplos que ainda possuem uma perspectiva crítica, como o conhecido jornalista que vai reproduzido abaixo.
Apenas para dar um exemplo de como eu considero a imprensa ruim.
Eu frequentemente me deparo com manchetes, de primeira página, ou nas páginas de política nacional, que levam mais ou menos um título similar a este:
"PRESIDENTE DISSE QUE FEZ ISSO E MAIS AQUILO"
"PRESIDENTE ACUSOU FULANO DISSO E MAIS AQUILO"
Isso e mais aquilo é obviamente algo que chamou a atenção e que vai além da conta de fatos normais, do contrário não receberia o destaque que se dá. Muitas vezes as afirmações não correspondem à verdade, ou são amplamente exageradas, quando não distorcidas, obviamente sempre em favor de quem as fez.
Pois bem, agora pergunto: o que impediria a uma imprensa correta, aquela que quer educar o cidadão, ou apenas que pretende informar corretamente, de agregar, imediatamente após, no mesmo padrão, algo do gênero?:
"AFIRMAÇÕES DO PRESIDENTE NÃO CONFEREM COM OS DADOS"
"FULANO NEGA DECLARAÇÕES DO PRESIDENTE"
O que impede uma imprensa de conferir imediatamente determinadas afirmações para verificar se elas correspondem à verdade, para logo em seguida confirmar ou desmentir quem as fez, independente de quem seja?
Deve ser estilo de trabalho, talvez, ou então sentido ético.
Esta é a única razão de porque eu transcrevo esse jornalista aqui.
Como sou amigo da verdade, procuro sempre uma explicação para as coisas. Raramente eu a encontro na "imprensa normal".
Paulo Roberto de Almeida

Chegou a hora de botar os pingos nos “is”. A máquina criminosa remonta à década de 80!
Reinaldo Azevedo, 6.09.2010

Não há um só jornalista trabalhando no Brasil — e isto que vou escrever e especialmente válido para os que têm a minha idade ou mais — que ignore que o PT sempre foi uma máquina de vazar dados sigilosos sobre a vida dos adversários. E isso faz muito, muito tempo! É raro, e os coleguinhas sabem que falo a verdade, haver um jornalista “investigativo” em Brasília que não tenha passado no gabinete de algum deputado petista para pegar dados protegidos por sigilo — e pouco importa a sua natureza: bancário, fiscal, de justiça, de investigação da PF… Escolham!

E, infelizmente, a imprensa tem feito uso da ilegalidade também. E não! Não estou defendendo que ela seja submetida, por isso, a censura de qualquer natureza. Mas não dá para ignorar que pau que bate em Chico também bate em Francisco, como se diz por aí. E, agora, cumpre caracterizar dois tempos: a da ingenuidade romântica e a do realismo cínico.

O PT passa dados sigilosos de adversários a jornalistas desde que existe como partido e desde que seus representantes começaram a ocupar a máquina do estado. Ah, houve um tempo em que as boas almas da “catchiguria” acreditavam mesmo no valor patriótico dessa gente. José Dirceu, por exemplo, era uma “fonte preciosa” desde quando era deputado estadual em São Paulo. Fez um milhão de amigos na imprensa. Outros tantos foram se sucedendo no trabalho sistemático de tentar destruir a reputação dos “inimigos”.

Alguns larápios se deram mal? Claro que sim! Mas muita gente boa — E INOCENTE — comeu o pão que o diabo amassou simplesmente porque “estava do lado de lá”. Eduardo Jorge Caldas Pereira, que teve agora o sigilo de novo invadido, é um caso emblemático da máquina de moer biografias. Ele se recuperou porque é uma pessoa determinada. Mas o PT, em associação com certos setores do Ministério Público, tentaram destruí-lo.

Na fase ingênuo-romântica, muitos acreditavam — e alguns bocós acreditam ainda hoje — que os crimes cometidos pelo partido ao vazar dados sigilosos para a imprensa eram compensados pelo bem que faziam: tirar de circulação algumas figuras detestáveis da política. Nem parecia que o PT o fazia como uma estratégia de poder. Não! Eram os patriotas, as pessoas que estavam do lado benigno da força. No arquivo, vocês encontram textos sobre o alinhamento imprensa-Ministério Público.

Acontece que…
Acontece que aquele “partidinho” de supostos guerreiros do bem se tornou essa máquina que aí está. E a prática criminosa de usar o acesso ao Estado para atingir adversários segue inalterada. Só que o PT é que é o partido da ordem, do continuísmo, do poder. E alguns só se dão conta agora — ao menos espero — de que não é a nossa avaliação do padrão moral de uma vítima que faz o crime. A invasão de dados protegidos pelo estado e seu vazamento são ações criminosas. Ponto.

Notem uma coisa curiosa. Até chegar ao poder, os petistas tinham no que agora chamam “mídia” uma aliada — era um partido “amigo” dos jornalistas e fazia uma crítica ou outra aos “patrões da comunicação”. Lula nunca foi besta. Sabia que a admiração que lhe devotava (e devota ainda, o que é fabuloso!) boa parte da “catchiguria” era importante para a sua causa. A animosidade com a imprensa começa com a chegada de Lula ao poder e atinge o ponto extremo na crise do mensalão.

Por quê? Porque uma parte do jornalismo considerou que os petistas passavam da condição de “investigadores” à de “investigados” — afinal, eram o novo poder. E isso lhes soou como coisa inaceitável. Com acesso pleno à máquina do Estado, queriam continuar na posição de atiradores, jamais de alvos. Começam, então, a chamar a imprensa — ao menos a que rejeita o servilismo — de “golpista”.

Quando o partido tentou, por exemplo, COM AMPLA COBERTURA DA IMPRENSA — BASTA PESQUISAR —, emplacar uma CPI com 45 (olhem que sutil!) denúncias de corrupção contra o governo FHC, tratava-se apenas de patriotismo e senso de justiça. Quando se tentou investigar o mensalão, aí já era golpe…

Volto ao ponto
Mas me desviei um pouco para explicar por que o partido mudou a sua relação com a “mídia”. Retomo o fio. Essa máquina de produzir dossiês e de escarafunchar ilegalmente a vida alheia remonta à década de 80 e vive seu apogeu na década de 90, especialmente durante a gestão FHC. Infelizmente, sucessivas ilegalidades tiveram como parceira a imprensa, sim, senhores! Se parecia moralizante — e até divertido — que o aguerrido partido de oposição denunciasse as “falcatruas” alheias (muitas não era; trava-se apenas de política), o expediente criminoso se mostra agora uma temeridade.

Quem, ilegalmente, quebra o sigilo bancário, fiscal ou de justiça par pegar A, B, ou C pode fazê-lo, se quiser, com o alfabeto inteiro. Vejamos o caso de Verônica Serra. Não é que ela devesse ter proteção especial, não! Não deve. O seu direito ao sigilo tem de ser tão assegurado como o de qualquer um de nós. Mas é evidente que, se até o dela, filha do candidato de oposição à Presidência, está na praça, quem está seguro?

Pois é… Alguns poderiam se sentir confortáveis pensando algo mais ou menos assim: “Já sei! Vou achar correta apenas a invasão do sigilo de algumas pessoas que considero suspeitas”. Bem, desnecessário dizer que isso é impossível. Quem atua ao arrepio da lei pratica bandidagem. E ela será sempre deletéria para as pessoas de bem.

Está posta a questão: “É possível condescender com o crime para ‘fazer o bem’? Sem hesitação, a minha resposta é esta: NÃO! Aqueles que antes se colocavam como os monopolistas da virtude contra os adversários da hora se colocam agora como donos das leis. E preparam uma investida contra a imprensa que ajudou a lhes dar o poder que têm. Antes, diziam proteger o bem público. Hoje, só pensam em se proteger, ainda que isso custe direitos fundamentais assegurados pela Constituição.

Um comentário:

  1. Mariana Brasil06/09/2010, 10:41

    "que o aguerrido partido de oposição denunciasse as “falcatruas” alheias (muitas não era; trava-se apenas de política)"

    ----- Absurdo, absurdo, absurdo, absurdo. Falcatrua que o PT faz é falcatrua, falcatrua que os outros fazem é política? Aliás, como pode ser aceitável que falcatrua e política tenham um fundo semântico comum, uma linha divisória entre si? E que autoridade tem o Reinaldo Azevedo pra poder dizer quando é um e o que é outro? Tem diploma em taxonomia política?


    E só mais um adendo: não vi ele dizer que a imprensa também tem que ter responsabilidade e sofrer consequências por ter participado das ilegalidades citadas.


    No mais, texto interessante, nem que seja para entender a história das relações do PT com a imprensa, e como essa, ao contrário do partido (espertão), sofre uma miopia crônica quando o assunto é a longo prazo.

    ResponderExcluir

Comentários são sempre bem-vindos, desde que se refiram ao objeto mesmo da postagem, de preferência identificados. Propagandas ou mensagens agressivas serão sumariamente eliminadas. Outras questões podem ser encaminhadas através de meu site (www.pralmeida.org). Formule seus comentários em linguagem concisa, objetiva, em um Português aceitável para os padrões da língua coloquial.
A confirmação manual dos comentários é necessária, tendo em vista o grande número de junks e spams recebidos.