O artigo abaixo é de um jornalista preocupado com os rumos para ele indesejáveis da diplomacia brasileira. Provavelmente, ele gostaria que o chanceler Patriota condenasse o gesto arrogante do Império em violar a soberania nacional do Paquistão e matar, sem possibilidade de defesa, um inimigo seu, cujo paradeiro foi obtido em função de torturas aplicadas contra prisioneiros capturados de diversas maneiras.
Segundo o jornalista Gilberto Maringoni:
Estamos diante de algo muito sério. Não se trata apenas de uma mudança na condução da política externa brasileira. Se a aprovação oficial se confirmar, haverá aqui uma mudança de qualidade.
Ele gostaria, ao que parece, que a diplomacia brasileira não se desviasse do rumo anterior, de sempre se colocar contra o Império, ou pelo menos de se colocar a favor do direito e da democracia, em qualquer hipótese.
Quem são os jornalistas que trabalham para o Carta Maior? São os mesmos que defendem as causas do Fórum Social Mundial, os antiglobalizadores e anti-imperialistas de carteirinha.
O ex-Secretário Geral do Itamaraty, Samuel Pinheiro Guimarães, antecessor, portanto, de Patriota nesse cargo, escrevia regularmente para o Carta Maior.
Quem disse que a política externa brasileira não mudou?
Só o fato dessa gente ficar preocupada, parece ser um bom sinal...
Paulo Roberto de Almeida
Internacional
Bin Laden e a diplomacia brasileira
Gilberto Maringoni
Carta Maior, 05 de Maio de 2011
O ministro de Relações Internacionais, embaixador Antonio Patriota, classificou como “positiva” a morte do terrorista Osama Bin Laden, ocorrida na noite de domingo. A avaliação embute um endosso indireto do Brasil à operação desfechada pela CIA para eliminar aquele que foi classificado por todas as mídias como o “homem mais procurado do mundo”.
Estamos diante de algo muito sério. Não se trata apenas de uma mudança na condução da política externa brasileira. Se a aprovação oficial se confirmar, haverá aqui uma mudança de qualidade.
É necessário atentar para a natureza dos fatos ocorridos em Abbottabad, na periferia de Islamabad, Paquistão, há poucos dias. Façamos duas ressalvas iniciais.
Primeiro – Osama Bin Laden é um terrorista. O atentado às torres do World Trade Center, em 11 de setembro de 2001, foi um assassinato coletivo e deve merecer a repulsa de qualquer pessoa de bom senso.
Segundo – Como dirigente principal da ação, Bin Laden deveria ser capturado e julgado por uma corte internacional, tendo garantidos todos os ritos e procedimentos do Direito internacional.
Não foi o que aconteceu. Bin Laden e, ao que parece, sua esposa e um filho, foram executados por um comando militar estadunidense, sem possibilidade de reação ou defesa.
Aqui valem três perguntas.
Como a informação sobre a localização do terrorista foi obtida?
Através da tortura de um membro da Al Qaeda, preso sem julgamento em Guantánamo. A informação é do diretor da CIA, Leon Panetta, em entrevista à revista Time.
Como a operação foi planejada?
Na mesma entrevista, Panetta revela: “Foi decidido que qualquer tentativa de trabalhar com os paquistaneses poderia colocar a missão em risco. Eles poderiam alertar os alvos”. Mais adiante, o chefe da CIA declara que o governo paquistanês "nunca soube nada sobre a missão", classificada pelos EUA como "unilateral".
Ou seja, a tarefa envolveu uma invasão territorial.
Como se deu a ação?
O diretor da CIA conta que as determinações do presidente Barack Obama exigiam a morte de Bin Laden, e não apenas sua captura. Assim se deu. O líder da Al Qaeda foi fuzilado junto com quem estava na casa.
São três as violações do Direito internacional: obtenção de informação sob tortura, invasão de território de um outro país e execução sumária.
Apesar dos ânimos exaltados dos estadunidenses que foram às ruas e do comportamento ufanista da mídia brasileira, não se fez “justiça” alguma. O que houve foi a vingança de um ato bárbaro com outro ato bárbaro. Olho por olho, dente por dente, como dos filmes de caubói.
Se a lógica for mantida, acaba qualquer legalidade ou civilidade nas relações internacionais. A pistolagem high-tech será a métrica da resolução de problemas nas próximas décadas. Já há uma caçada em curso visando Muamar Kadafi, apesar da resolução 1973 da ONU não autorizar medida desse tipo.
A diplomacia brasileira não pode, nem de maneira indireta, avalizar tal caminho. A conseqüência pode ser um enorme retrocesso na política externa “ativa e altiva” iniciada por Celso Amorim. Através dela, o Brasil ganhou relevância inédita na geopolítica mundial.
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PRA:
Esse jornalista provavelmente preferiria que os EUA prendessem Bin-Laden e que gentilmente o entregassem para a Corte da Haia (TPI) para ser julgado.
Enquanto isso as franquias da Al Qaeda ao redor do mundo se encarregariam de mater quantos ocidentais e americanos pudessem e sequestrariam outros tantos para pedir troca de refens.
Inteligente esse jornalista.
Ou idiota completo, vocês escolhem...
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
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2 comentários:
Como diria o Reinaldo Azevedo esses jornalistas são pessoas impróprias para o consumo humano.
Concordo que o Bin Laden deveria ser julgado por um tribunal internacional como o TPI, assim como tantos outro. Mas que infelizmente nao recebem julgamento adequado.
.
O que li e achei interessante foi o fato de que caso Bin LAden estivesse sobre custodia americana, provavelmente a Al Kaida sequestraria dezenas, ou mesmo centenas de cidadaos americanos para usarem como moeda de troca.
Aí queria ver o que esse jornalista escreveria...
..
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