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terça-feira, 2 de agosto de 2011
O Imperio hesita, fica em duvida, senta e comeca a pensar - Niall Ferguson
No resto ele apresenta mal o que seriam as virtudes do império americano, mas passa por uma resenha mal feita que serve apenas para chamar a atenção para este livro.
As traduções brasileiras são tardias, geralmente mal feitas, e as edições nacionais de livro não valem o papel em que são impressas: muito caras.
Recomendo comprar um exemplar em pocket book da Abebooks.com: vai sair por UM dólar, e mesmo pagando 10 ou 12 de frete, ainda assim sempre vai custar três a quatro vezes mais barato do que a edição brasileira (com a vantagem de estar no original).
Paulo Roberto de Almeida
Geopolítica:
Tarefas para um gigante liberal de pouca disposição
Oscar Pilagallo
Valor Econômico, 02/08/2011 – pág. D12
"Colosso - Ascensão e Queda do Império Americano"
Niall Ferguson. Trad. de Marcelo Musa Cavallari. Planeta. 444 págs., R$ 44,90
Se há algo que não falta a Niall Ferguson é a coragem da clareza. Enquanto intelectuais conservadores preferem chamar os EUA de líder, potência ou poder hegemônico, o autor britânico dispensa os eufemismos e usa o termo que considera historicamente mais correto: império.
A palavra tem forte conotação negativa. Quem a utiliza em geral quer criticar o país assim qualificado, e não é por outro motivo que ela não integra o léxico dos governantes americanos. A coragem de Ferguson está justamente em se referir a império como algo bom, e em defender, em "Colosso", que os EUA assumam de vez tal condição.
O historiador só não é transparente ao sugerir que ocupa uma posição equidistante dos polos ideológicos, afirmando ter sido criticado à direita e à esquerda. Muitos conservadores, de fato, não endossam sua tese, por preferirem uma política isolacionista para os EUA, o que é incompatível com o papel de poder imperial. Mas as maiores críticas vêm, naturalmente, da esquerda. Embora Ferguson talvez rejeitasse a etiqueta, ele ficaria mais à vontade na companhia dos neoconservadores.
Ferguson afeta uma candura que parece na medida para provocar os críticos dos EUA. "Minha tese", afirma o historiador, "é de que muitas partes do mundo se beneficiariam de um período de domínio americano." Ele não vê nada errado com a noção de "soberania limitada", e acha que o império propugnado deveria intervir em países irremediavelmente pobres ou politicamente instáveis, a exemplo do que aconteceu com a Alemanha e o Japão depois da Segunda Guerra Mundial.
Ação de tamanha envergadura não ficaria a cargo de um império qualquer, mas de um "império liberal". O que significa isso? "Um império que não apenas subscreva a livre troca internacional de mercadorias, trabalho e capital, mas também crie e mantenha as condições sem as quais os mercados não podem funcionar", como a paz e a ordem. Caberia também a esse império "prover bens públicos, como infraestrutura de transporte, hospitais e escolas, que não existiriam de outra maneira".
A defesa enfática de um império americano é contrabalançada pelo ceticismo de seu advogado. Ferguson não acha impossível que os EUA se pautem por seu prognóstico, mas admite que as dificuldades seriam grandes. Entre os obstáculos à frente, ele identifica o que chama de três déficits: econômico, pessoal e de atenção.
Os dois primeiros - o elevado custo de se manter um império nas bases propostas e a insuficiência de soldados - poderiam ser contornados, segundo o historiador. Os recursos econômicos existem; a questão, política, é como distribuí-los no orçamento. Quanto aos recursos humanos, também estariam disponíveis, desde que o país recorresse ao exército de desempregados, à enorme população carcerária ou instituísse o serviço militar obrigatório. O terceiro obstáculo, o déficit de atenção, seria ainda maior, segundo Ferguson. Trata-se da falta de disposição de investir pelo tempo que for necessário nos países sob intervenção. Para o autor, essa característica faz dos EUA um "império em negação".
Vencer tais barreiras significaria promover drásticas mudanças estruturais no comportamento, na cultura, na política e na economia dos EUA. É um esforço que não parece estar nos planos dos governos americanos nem no horizonte do país. Hoje, na metáfora de Ferguson, os EUA são um "colosso sedentário", "um gordo no sofá estratégico". A pergunta é: por que ele haveria de abandonar o conforto e se mexer? Porque, responde o autor, a alternativa seria aterradora.
Como o poder não admite o vácuo, diz ele, a relutância dos EUA em desempenhar seu papel de império permitiria a volta de um mundo multipolar, com a tensão militar que lhe é inerente, ou, pior ainda, criaria um universo apolar. Ferguson carrega nas tintas ao se referir à ameaça: "Apolaridade pode acabar se mostrando não a utopia pacifista conjeturada na chorosa 'Imagine', de John Lennon, mas uma nova Idade das Trevas anárquica".
Não se trata de recurso retórico. O historiador prevê mesmo que, sem o tal império liberal assumido, haveria uma volta ao ambiente dos séculos IX e X, com renascimentos religiosos e recuos para cidades fortificadas. A experiência seria potencializada pelas novas tecnologias, disponíveis a tiranos e terroristas.
Para evitar a materialização desse cenário, Ferguson sugere que os EUA aprendam com os erros dos impérios anteriores. Em sua contabilidade, houve, até hoje, 70 impérios. O americano, apesar de suas peculiaridades, tem algo em comum com vários deles. O Império Romano oferece um parâmetro recorrente, mas Ferguson prefere o exemplo do império britânico, do qual ironicamente os EUA se libertaram.
A maior vulnerabilidade do livro é a pouca importância que o autor dá ao papel da Organização das Nações Unidas e à legislação internacional. Ele afirma apenas que "o velho sistema pós-1945 de Estados soberanos, frouxamente ligados por um sistema em evolução de direito internacional, não pode lidar facilmente com essas ameaças porque há nações-Estados demais em que a escrita da 'comunidade internacional' simplesmente não vale". Se o diagnóstico está correto, isso não significa necessariamente que o melhor remédio seria um império. Redobrar o poder das instituições multilaterais poderia ser uma terapia menos polêmica e igualmente eficiente.
Escrito em 2004, o livro não vai além da primeira fase da invasão do Iraque, no ano anterior, que Ferguson apoia com críticas pontuais, ao mencionar, por exemplo, a invenção do pretexto da guerra, de que Saddam Hussein teria armas de destruição em massa. Embora a defasagem não altere a essência do argumento de "Colosso", a edição ganharia com a inclusão de notas que dessem conta dos principais desdobramentos desde então. Mas nada compromete a fluência da exposição; concebido para embasar um documentário de uma TV britânica, o livro mantém o leitor acordado.
Oscar Pilagallo, jornalista, é autor de "A Aventura do Dinheiro" (Publifolha).
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