Como é meu hábito, comentários perfeitamente compatíveis com os propósitos deste blog são por vezes elevados à condição de postagem independente, em lugar de ficar como mera nota de rodapé, aliás escondida, nas dobras deste espaço.
Mas, por vezes, comentários perfeitamente contrários ao que penso e escrevo também recebem o mesmo tratamento, neste caso negativo, pois eles sempre têm a função didática de demonstrar o que pensam certas pessoas.
Os comentários simplesmente idiotas, inconvenientes, ou meramente ofensivos, eu elimino, apenas isto.
No caso abaixo, o autor -- eu sempre me pergunto por que certas pessoas têm medo de debater abertamente?; será porque têm vergonha dos próprios argumentos? -- pretende gozar com aqueles, como eu, que preferem o mérito à esmola do alto, que privilegia o esforço próprio, em lugar da concessão condescendente, enfim, que pautam pelo axioma constitucional da igualdade, como deveria ser, mas que foi conspurcado pelo próprios juízes supremos.
Ele se pretende irônico, mas creio que é apenas patético, ao interpretar erradamente -- seria falta de compreensão de leitura, como os 32% de analfabetos funcionais que existem em nível de graduação? -- uma postagem sobre cotas sociais (e não sobre as cotas raciais, ou racistas), em relação às quais eu sou resolutamente contrário.
Enfim, a postagem vai apenas para exemplificar como anda a mentalidade social no Brasil, o que é um bom exercício de psicanálise coletiva (se é que isso serve para algo de útil em nossa sociedade, que parece caminhar para uma divisão irremediável entre os que pensam como os companheiros e os simplesmente lógicos, não havendo, claro, qualquer conexão entre esses dois universos).
Em todo caso, como esse blog é dedicado a ideias, mesmo as erradas (que no caso servem de aula de pensamento crítico, aos que compreendem isto, obviamente).
Paulo Roberto de Almeida
3 comentários:
Que triste, algumas pessoas pensam que ser a favor da igualdade e ser contra essa ou aquela minoria.
Somos UMA espécie, quanto menos rótulos (religiosos, de classes, de raças, de bandeiras) houver para nos separar, melhor. Essa êh minha opinião.
Abraço,
RAA
O que nos causa espanto é que esta "criatura" não é uma única voz isolada; mas um "chorus":
" Come, listen, all you girls and boys, I'm just from Tuckahoe;
I'm going to sing a little song, My name's Jim Crow.
Chorus: Wheel about, and turn about, and do just so;
Every time I wheel about, I jump Jim Crow.
I went down to the river, I didn't mean to stay,
But there I saw so many girls, I couldn't get away.
I'm roaring on the fiddle, and down in old Virginia,
They say I play the scientific, like master Paganini,
I cut so many monkey shines, I dance the galoppade;
And when I'm done, I rest my head, on shovel, hoe or spade.
I met Miss Dina Scrub one day, I give her such a buss [kiss];
And then she turn and slap my face, and make a mighty fuss.
The other girls they begin to fight, I told them wait a bit;
I'd have them all, just one by one, as I thought fit.
I whip the lion of the west, I eat the alligator;
I put more water in my mouth, then boil ten loads of potatoes.
The way they bake the hoe cake, Virginia never tire;
They put the dough upon the foot, and stick them in the fire. "
*Jump' Jim Crow; american minstrelsy (racialist)song; ca. 1834
http://memory.loc.gov/cgi-bin/query/h?ammem/afcreed:@field%28NUMBER+@band%28afcreed+13035a39%29%29
Vale!
Nada obstante as opiniões em contrário, comungo com o pensamento de Paulo Ghiraldelli Jr, de que:
"Cota racial é política, cota social é esmola.
Cota racial advém de uma política contemporânea, em geral de cunho social-democrata ou, para usar a terminologia americana apropriada ao caso, liberal. A cota social é esmola, tem o mesmo cheiro da ação de reis e da padres da Idade Média, e aparece no estado moderno travestida de política.
O objetivo das cotas é o de colocar um grupo no interior de de um lugara em que ele não é vistopara que, de maneira mais rápida, , se dê o convívio social enetre os grupos nacionais, de modo a promover a integração o que passa necessariamente pelo convívio que pode levar ao conhecimento entre culturas, casamentos, troca de histórias, e criação de experiências comuns. A questão, neste caso, é de visibilidade do grupo por ele mesmo e da sociedade em em relação aos grupos.
No Brasil há miscigenação. E em grande escala. Ótimo. Mas não basta. Não é o suficiente porque há espaços físicos e institucionais, no Brasil, que não estão disponíveis para determinados grupos étnicos e isso promove uma má visibilidade da nossa população em relação a ela mesma. A população não vê o negro e o índios na universidade e, com isto, não formula o conceito correto de aluno universitário: universitário é o estudante brasileiro de ensiono superior.
Agora, para resolver o problema da diminuição do preconceito em qualquer lugar e, é claro, não só no campo universitário, uma das boas políticas é ter o mais rápido possível o negro e o índio em lugares onde esses brasileiros não estão; e é para isso que serve a cota racial. Isso evita a formação de uma mentalidade que se alimente de formulações aquém do conceito - há com isso a diminuição do formação do pré-conceito e, portanto, no conjunto da sociedade, menos ações prejudiciais contra negros e índios.
Não deveríamos estar debatendo sobre cotas. Afinal, já as usamos em tudo.Por exemplo, fizamos cotas de mulheres para partidos políticos e, com isso, diminuímos o preconceito contra a mulher na política. Por que agora há a celeuma em uma questão similar? Ah! É que a cota racial mexe com os brios do mais reacionários. No fundo, eles não querem mesmo e ver nenhum negro ou índio em espaços que reservaram para seus filhos.
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