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sábado, 11 de julho de 2015

Bacen sem qualquer credibilidade - Empiricus

 
O Banco Central criou para si uma armadilha, e há apenas uma forma de sair dela
 
Empiricus Research
 
 

Troquem o presidente do Banco Central

 
 
 

 
 
 

 

Em 24 de novembro de 2010, Alexandre Tombini foi escolhido pela presidente Dilma para chefiar o Banco Central do Brasil. Desde então, não houve um ano sequer em que foi cumprido o centro da meta de inflação, de 4,5%. Isso é bastante grave. 

 

Agora, na tentativa de recuperar a credibilidade perdida após a frustração com esse comportamento, o Banco Central vem reafirmando o compromisso de convergir a inflação para 4,5% até dezembro de 2016. 

 

Note que há um desafio bastante grande em levar a inflação de 9% neste ano para 4,5% em 2016. Ainda assim, a autoridade monetária mantém o discurso firme nesse sentido.

 

“Estamos com confiança total que conseguiremos fazer isso

 

Tony Volpon, diretor do BC,
12 de junho de 2015

 

 

Não se trata simplesmente de apenas mais uma meta potencialmente descumprida pelo atual governo...

 

O desrespeito à meta de inflação expõe uma crise de credibilidade na autoridade monetária não vista há décadas, que torna inviável a manutenção de seu quadro atual. 

 

Veja bem...

 

Levar a inflação de 9% para 4,5% num intervalo de 12 meses impõe um custo muito alto para a sociedade. O juro precisa ser colocado em níveis muito elevados, associados a uma recessão pronunciada, para garantir essa convergência em meio a um choque muito grande de preços administrados - lembre-se que tivemos liberação de preços represados de energia elétrica, gasolina e câmbio.

 

Num cenário como esse, seria natural estender o horizonte de convergência, potencialmente para o começo de 2017. Assim seria se tivéssemos condições para tanto.

 

O grande problema é que o Banco Central, depois de anos sucessivos de complacência com a inflação, não dispõe de credibilidade. Dessa forma, na tentativa de recuperar sua reputação, tenta fazer convergir ao centro da meta com celeridade.

 

Sob esse Banco Central, deixar para 2017 aumentaria ainda mais a inércia inflacionária e as expectativas continuariam desancoradas. 

 

E, agora, a situação se agrava. O BC prometeu tanto que entregaria o centro da meta em 2016 que postergar a convergência representaria o golpe de misericórdia em sua já combalida reputação.

 

A evidência empírica fala por si a respeito da dificuldade em curso. O gráfico abaixo mostra a persistência inflacionária, com ênfase no realinhamento de preços administrados:

 
 
 

 
 
 

 

Mediante realinhamento de preços relativos, demorar um pouco mais para convergir seria normal. Mas como não convergimos desde 2009, ninguém acredita se a promessa não vier acompanhada de esforço monetário além do que seria razoável. Assim, a inércia fica maior, dificultando a convergência. 

 

O economista Alexandre Schwartsman resumiu de forma brilhante a questão:

 

“Caso o BC mantenha a inflação flutuando ao redor da meta, de forma que, em média, as duas sejam bastante próximas, é claro que a melhor aposta para a inflação em um dado ano passa a ser a própria meta. É isto que chamamos de ancoragem de expectativas.

 

Imagine, contudo, que, em face de um desvio suficientemente grande, o BC anuncie para a sociedade que estendeu o período de convergência para dois anos. Neste caso, deixa de ser verdade que a melhor expectativa de inflação para o ano corrente seja a meta. Se metade do caminho for percorrida no primeiro ano, a melhor aposta para a inflação deste ano seria a média entre a inflação do ano anterior (9,0%) e a meta (4,5%), ou seja, 6,75%."

 

Quanto mais o BC demora para conseguir convergir a inflação à meta, de fato, maior a inércia inflacionária. 

 

Ou, cada vez mais os formadores de preços e salários atribuem peso crescente à inflação passada, tornando a convergência da inflação ainda mais distante - em um processo que se retroalimenta.

 

O que dizer de um Banco Central que não cumpriu a meta de inflação desde que assumiu o posto, há cinco anos? E estendeu o seu período de convergência? 

 

 

O que resta a Tombini

 

Ciente da necessidade de recuperar a credibilidade, o Banco Central brasileiro, paralelamente à afirmação da meta de 4,5% em 2017, com o compromisso de chegar à mesma em dezembro do ano que vem, reduziu o teto da meta...

 

Em 6,5% desde 2006, o limite superior da banda foi cortado para 6% em 2017.

 

Com a mudança, o Bacen tentou transmitir ao mercado uma mensagem de que confia na convergência para a meta. E ele será "duro" em sua missão.

 

Mas, ironicamente, no momento em que ele próprio reconhece que estourará o teto da meta de inflação pela primeira vez em 12 anos. 

 

O que resta ao Bacen?

 

     a) jogar a taxa de juros para 16% (ou alto em torno disso) - essa é, em linhas gerais, a Selic necessária para levar a inflação ao centro da meta em 2016;

 

     b) começar a focar no cumprimento da meta em 2017, que de fato é o que realmente lhe cabe neste momento.

 

O problema é: isso recai no problema de postergação de metas, de inércia inflacionária e ancoragem das expectativas. E o pior: dadas suas promessas de que cumprirá o centro da meta em 2016, postergar agora mata de vez sua credibilidade, o que é péssimo para a política monetária. 

 

Em outras palavras, recuperar a credibilidade de quem não é crível impõe um custo muito alto à sociedade. Sob um banqueiro central de alta reputação, poderíamos perfeitamente deixar a convergência ao centro da meta para o começo de 2017 - note que o modelo do próprio Banco Central, conforme demonstrado no Relatório Trimestral de Inflação, já aponta a convergência nesse horizonte temporal.

 

Essa assertiva, infelizmente, não vale para a atual gestão.

 

A situação é mais grave do que pode parecer em primeiro momento.

 

Sem um choque imediato de credibilidade, ela enseja a manutenção de inflação e juros elevados por período prolongado e terá impactos drásticos, sob profunda recessão, aumento do desemprego e pressão para baixo nos salários.

 

Conforme concluiu José Roberto Mendonça de Barros na Folha de S. Paulo:

 
“O Banco Central foi reconhecidamente leniente com a inflação por três anos consecutivos e de repente encasquetou - e a palavra é essa mesmo - que as estimativas para o IPCA têm que convergir para a meta de 4,5% no fim de 2016. A mensagem do BC é que não vai parar de aumentar os juros enquanto isso não acontecer. Forçar a mão nos juros é destruir a demanda, o que vai quebrar muita gente.”

 

Se o BC postergar novamente o atingimento da meta de inflação, acaba a última gota de credibilidade que lhe restou.

 

Qual a importância da credibilidade de um Banco Central? 

 

O estudo clássico de Alan Blinder, de 1999, aponta quatro motivos principais: “maior credibilidade faz (i) o processo de ‘desinflação’ menos oneroso, (ii) ajuda a manter a inflação baixa, uma vez que ela esteja baixa, (iii) faz com que seja mais fácil defender a moeda, e (iv) ajuda a angariar apoio público para a independência do banco central.”

 

E como um Banco Central torna-se crível? 

 

A mesma pesquisa aponta um fator consensual entre banqueiros centrais e economistas: com um histórico de “fazer o que diz que vai fazer”. Ter um bom track record no cumprimento do centro da meta - e é exatamente isso que nos falta! 

 

Agora, como prover um choque imediato de credibilidade ao Banco Central, sem que ele cumpra a meta de inflação por - pelo menos - os próximos dois anos?

 

Via choque de gestão. 

 

Não precisamos construir uma reputação necessariamente. Podemos adquiri-la instantaneamente nomeando um banqueiro central com credibilidade.

 

Tal como foi feito com a condução da política econômica pelo ministério da Fazenda, com a substituição de Guido Mantega por Joaquim Levy - que, mesmo sem resultados materiais efetivos no sentido de recuperação do superávit primário e equilíbrio das contas públicas, até então sustenta o rating brasileiro quase que unicamente com sua credibilidade.

 

Reitera-se: não há nada pessoal contra Alexandre Tombini, cuja capacidade técnica e esforços na condução do BC cansaram de ser elogiados em nossos relatórios. Pessoalmente, gosto e simpatizo com o Dr. Tombini. Entretanto, ele não tem mais como permanecer à frente do Banco Central.

 

Com ele, o custo dessa convergência à meta de inflação é demasiadamente elevado.

 

Enquanto tivermos Tombini no comando do BC, teremos inflação e juros altos.


 

 
 

 


  

 


 
 
 

 
 

 

Felipe Miranda

 
assinatura Felipe Miranda
 




 

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Empiricus Research
 


 

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