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terça-feira, 14 de março de 2017

Qualquer semelhanca seria mera coincidencia? Ou vice-versa? Um memo de 2004 - Paulo Roberto de Almeida

Não preciso mais observar nenhuma reserva, uma vez que o titular da pasta -- um dos membros da troika toda poderosa do governo companheiro -- já faleceu desde vários anos, e de toda forma deixou o governo dez anos atrás, quando eu também deixei de ser "assessor especial" do chefe do Núcleo de Assuntos Estratégicos no primeiro mandato do chefão mafioso, retornando ao MRE para enfrentar uma longa travessia do deserto por causa de minhas posições, digamos, iconoclastas.
Eis um Memo que eu dirigia ao membro do Comitê Central do Partido Totalitário (isto é posterior, claro), alertando para uma séria deterioração dos padrões éticos do primeiro governo, e isto ainda ANTES do escândalo do Mensalão, apenas depois do chamado escândalo Valdomiro Diniz, um assessor do Stalin Sem Gulag, o Grão-Vizir do Palácio do Planalto, que já tinha colocado em ação sua máquina de corromper tudo e todos.
Eu não tinha NADA A VER com o ministério da propaganda, ou seja, com a tal de comunição à la Goebbels, e trabalhava unicamente nessa tal de Gestão Estratégica, que deveria ser uma espécie de Policy Planning Staff, mas que virou mais um desses escritórios de sonhos utópicos, ou seja, absolutamente inúteis.
Vejamos o que eu dizia 13 anos atrás...
Paulo Roberto de Almeida 


Memorandum de: Paulo Roberto de Almeida em 28 de março de 2004
Para: Sr. Ministro-Chefe da Secretaria de Comunicação de Governo e de Gestão Estratégica
Assunto: Uma proposta modesta – a recriação do governo
Resumo: A presente conjuntura, de baixo crescimento econômico, de dificuldades organizacionais da administração e, de certa forma, de constrangimentos políticos e morais para o governo, que podem conduzir a uma possível crise institucional, recomendaria um esforço concentrado, por parte do poder central, de restauração da autoridade do Executivo e de tentativa de recriação de condições mínimas de governabilidade. Ainda que nem todos os problemas possam ser resolvidos por uma simples reforma ministerial, talvez seja o caso de pensar numa nova refundação da máquina governamental, com a definição de novas prioridades de governo e o engajamento de um diálogo construtivo com a oposição, assim como com o conjunto da Nação.

Senhor Ministro...,
Em nota redigida em Porto Alegre, em 26.10.03, ainda antes, portanto, de assumir minhas atuais responsabilidades de assessor em sua área de atuação, eu fazia uma análise da situação naquele momento, nos aspectos econômico, político e moral, sob o título de “Breve diagnóstico e propostas de ação: Nota sobre a conjuntura em outubro de 2003”. Eu fazia, ao mesmo tempo, algumas sugestões de atuação no futuro imediato, em torno de três dimensões da ação governativa: a econômica, a política e a moral (ou ética).
Em resumo, eu preconizava que se deveria manter a linha adotada no campo econômico, preservada de críticas internas, com sugestão de reuniões com a base parlamentar, objetivando aprofundar os esclarecimentos pertinentes e lograr coesão em torno daquela estratégia de ação. Na área política, reconhecia que as sugestões não eram simples, mas que talvez devessem passar por um enxugamento mais ou menos radical da máquina e pela definição de um conjunto de ações governativas centradas no atendimento das questões mais cruciais de interesse direto da população, que para mim estavam centradas no emprego (ou renda) e na segurança. Finalmente, no campo moral, alertava que ela tinha a ver com a credibilidade do governo, e esta me parecia estar seriamente no limite de um diagnóstico negativo por parte da população, com base em eventos registrados até aquele período. Escrevia, com efeito, que “uma vez operada a caracterização da ‘indiferença’ ou da ‘conivência’ por parte do governo, torna-se difícil reverter o grau de confiança antes disponível”, em relação a “uma grande massa que pode ter votado como o fez em outubro de 2002 não com base em considerações de natureza econômica ou política, mas essencialmente em função de preceitos éticos”. Minha sugestão era a de que o governo necessitava atuar pronta e radicalmente nessa frente, à margem e independentemente de qualquer processo futuro ou em curso de reforma ministerial.
Volto ao diagnóstico e prescrição então formulado, resumido como se segue: “A governabilidade exige que a economia funcione bem (ou que pelo menos ela não provoque desgastes adicionais), que a política seja eficiente (ou que pelo menos ela aparente ser) e que os padrões éticos do governo sejam inatacáveis (aqui sem qualquer compromisso). Estes critérios devem ser escolhas do estadista. Todo o resto é secundário.”
Ora, nos últimos meses, a situação agravou-se seriamente, sem que se vislumbre...

Retomo: 14/03/2017: 
Não preciso transcrever o resto do Memorando, pois isso é história.
Ou seja, antes que o Governo do grande chefão mafioso afundasse na maior operação de corrupção de toda a história do Brasil, eu alertava um dos três principais assessores daquele canalha que o governo precisa reverter suas ações, para não tombar no descrédito.
Não preciso dizer que meus alertas (esse foi um entre muitos, e acho que acumulei meia centena de memorandos diversos ao apparatchik em questão) foram totalmente ignorados.
Em 2006 eu me afastei do governo, não recuperei NENHUMA função no governo podre do lulopetismo durante toda a sua duração, e só fui reincorporado ao trabalho normal no MRE a partir do "governo golpista" (apud companheiros) que nos governa, mas ao qual sirvo como funcionário de Estado, como sou desde 1977. Vou continuar fazendo o que sempre fiz: fazendo o trabalho que tenho de fazer, mas jamais deixando de dizer as coisas como as coisas são...
Paulo Roberto de Almeida 
Brasília, 14 de março de 2017

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